FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO
PAULO DINIS DE BRITO GOMES
UMA ANÁLISE SOBRE IDH, AJUDA EXTERNA, CRESCIMENTO ECONÔMICO E VOLATILIDADE
SÃO PAULO
PAULO DINIS DE BRITO GOMES
UMA ANÁLISE SOBRE IDH, AJUDA EXTERNA, CRESCIMENTO ECONÔMICO E VOLATILIDADE
Dissertação apresentada à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas como requisito para obtenção do título de Mestre Profissional em Economia.
Campo de conhecimento:
Crescimento Econômico
Orientador: Prof. Dr. Vladimir Pinheiro Ponczek
SÃO PAULO
Gomes, Paulo Dinis de Brito
Uma análise sobre IDH, Ajuda Externa, Crescimento Econômico e Volatilidade / Paulo Dinis de Brito Gomes. - 2013.
43 f.
Orientador: Vladimir Pinheiro Ponczek.
Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo.
1. Desenvolvimento econômico. 2. Índice de Desenvolvimento Humano. 3. Assistência econômica. 4. Risco (Economia). I. Ponczek, Vladimir Pinheiro. II. Dissertação (MPFE) - Escola de Economia de São Paulo. III. Título.
PAULO DINIS DE BRITO GOMES
UMA ANÁLISE SOBRE IDH, AJUDA EXTERNA, CRESCIMENTO ECONÔMICO E VOLATILIDADE
Dissertação apresentada à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre Profissional em Economia.
Campo de conhecimento: Crescimento Econômico
Data de aprovação: ___/___/_____
Banca examinadora:
___________________________________
Prof. Dr. Vladimir P. Ponczek (Orientador)
FGV-EESP
___________________________________
Prof. Dr. Vladimir Kuhl Teles
FGV-EESP
___________________________________
Prof. Dr. Fernando Botelho
AGRADECIMENTOS
Pode parecer um dever agradecer àqueles que de alguma maneira me acompanharam
durante esses três anos trabalhosos de mestrado. Não o é, pois dever carrega algo de
involuntário, um pouco até de contra vontade, coisa que definitivamente os agradecimentos
abaixo não são, ainda que absolutamente necessários e insuficientes.
Agradeço aos meus pais, primeiro por incentivar (inclusive incisivamente) meus estudos
desde meus primeiros anos de vida até hoje e segundo por aturar o mau-humor em
decorrência desta dissertação que não acabava nunca. De forma semelhante, agradeço minha
bela namorada, que conheci no mestrado (mas só consegui conquistá-la já na parte final do
curso), que conhece bem as dificuldades para adquirir este título e que além de me dar todo o
conforto e a tranquilidade necessários para terminar esse trabalho, ajudou-me na prática em
diversos momentos.
Um muito obrigado a todos os meus amigos e colegas, que sempre me perguntavam
como andava o mestrado, o que me dava mais incentivos pra finalmente terminá-lo e
conseguir mudar de assunto. Agradeço especialmente àqueles que compartilharam esses três
anos de curso junto comigo. Não foram anos fáceis, sem essas pessoas seriam ainda mais
difíceis.
Agradeço a todos os professores e funcionários da EESP, especialmente ao meu
orientador Vladimir Ponczek e ao coordenador do curso Ricardo Rochman que me auxiliaram
muito na conclusão desta dissertação.
Não poderia deixar de mencionar nesses agradecimentos o São Paulo F. C., clube pelo
qual sou torcedor fanático e durante esse período sempre foi uma ótima opção para me
desvencilhar da vida acadêmica. Um muito obrigado ao Rogério Ceni pelo conjunto dos
serviços prestados.
Por fim, gostaria de agradecer a oportunidade de cursar este mestrado na Fundação
Getúlio Vargas. Continuo acreditando que o aprimoramento educacional é uma das chaves do
RESUMO
O propósito deste trabalho é examinar os impactos de ajuda externa no crescimento
econômico de médio e longo prazo e sua volatilidade nos países recebedores, uma vez que
recursos dessa natureza visam acelerar a melhora do nível de bem-estar nas economias de
baixa renda. Adicionalmente, também é objetivo deste trabalho avaliar os possíveis efeitos do
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) em uma mudança de nível do influxo de ajuda,
por meio da escala qualitativa do IDH. A partir dos dados de ajuda externa entre 1999 e 2003
e crescimento econômico entre 1999 e 2008 do Banco Mundial, do IDH apresentado pelo
Relatório de Desenvolvimento Humano de 1998 e de algumas varáveis de controle, este
estudo se utiliza da técnica de Regressões Descontínuas (RDD) com Variável Instrumental
(VI) e do Método de Mínimo Quadrados Dois Estágios (MQ2E) para inferir tanto o impacto
do IDH sobre ajuda externa, como deste no crescimento econômico e sua volatilidade.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to examine the impact of foreign aid on economic growth in
the medium and long term and its volatility in the recipient countries, since such resources are
aimed at accelerating the improvement of welfare in low-income economies. Additionally, it
is also an objective of this study to evaluate the possible effects of the HDI (Human
Development Index) in a change in the level of aid inflow, through qualitative scale of HDI.
From the data of foreign aid between 1999 and 2003 and economic growth between 1999 and
2008 (by World Bank), the HDI data presented by the Human Development Report 1998 and
some control variables, this study uses the technique of discontinuous regressions (RDD) with
Instrumental Variable (IV) and the Minimum Squares Method Two-stage (2SLS) to infer both
the impact of HDI on foreign aid, as the latter on the economic growth and its volatility.
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Evolução de ajuda, crescimento econômico e seu desvio-padrão (médio
e longo prazo) nos anos posteriores, comércio, instituições públicas e
crescimento econômico anterior por faixa de IDH e continente ... 20
Tabela 2 – Indicador por continente ... 21
Tabela 3 – Primeiro estágio de Mínimos Quadrados – Impactos sobre a Média da
Ajuda (% do PNB) nos cinco anos posteriores a divulgação do IDH
(1999-2003) ... 22
Tabela 4 – Segundo estágio de Mínimos Quadrados – Impacto sobre o Crescimento
Econômico médio (PIB) nos CINCO anos posteriores a divulgação do
IDH (1999-2003) ... 24
Tabela 5 – Segundo estágio de Mínimos Quadrados – Impacto sobre o Crescimento
Econômico médio (PIB) nos DEZ anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2003) ... 25
Tabela 6 – Segundo estágio de Mínimos Quadrados – Impacto sobre o desvio
padrão do Crescimento Econômico (PIB) nos CINCO anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2003) ... 26
Tabela 7 – Segundo estágio de Mínimos Quadrados – Impacto sobre o desvio
padrão do Crescimento Econômico (PIB) nos DEZ anos posteriores a
divulgação do IDH (1999-2003) ... 27
Tabela 8 – Teste de Robustez – Primeiro estágio de Mínimos Quadrados – Impacto
sobre a Média de Ajuda (% do PNB) nos cinco anos posteriores a
divulgação do IDH (1999-2003) com outras dummies ... 29
Tabela 9 – Dados de IDH, ajuda externa, crescimento econômico, desvio-padrão,
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ... 8
2 METODOLOGIA E DADOS ... 14
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 20 3. 1 Análise do relacionamento entre os dados e sua distribuição ao longo do globo ... 20 3.2 Regressões e os impactos das variáveis no influxo de ajuda, crescimento econômico e volatilidade do crescimento ... 21 3.3 Testes de Robustez da descontinuidade do IDH qualitativo ... 28
4 CONCLUSÃO ... 30
REFERÊNCIAS ... 32
APÊNDICE – METODOLOGIA DE CÁLCULO E DIVULGAÇÃO DO IDH ... 34 Medida Contínua do IDH... 34 Classificação qualitativa do IDH ... 36
1 INTRODUÇÃO
O influxo de ajuda externa para desenvolvimento e crescimento econômico de países,
principalmente àqueles que historicamente se encontram na linha de pobreza ou que passaram
por algum tipo de desastre (naturais ou guerras), é uma ferramenta comumente utilizada na
tentativa de alavancar o desenvolvimento econômico e social dessas nações. Entretanto, os
estudos da literatura não são consensuais a respeito da eficácia da ajuda externa no
desenvolvimento dos países de baixa renda.
É particularmente importante considerar as implicações macroeconômicas destes fluxos na medida em que eles podem apoiar ou impedir os esforços dos países pobres para promover suas próprias fontes de crescimento econômico. (ARELLANO, 2005, p. 3)
Nesse sentido, um dos aspectos usualmente suscitados é de que a entrada de recursos
externos por meio de ajuda pode impactar a balança comercial dos países que recebem esses
montantes. Arellano et al (2005) investigou os impactos dos influxos de ajuda nos países,
como alterações nos níveis de consumo, importações, produção doméstica e investimentos,
com foco em uma possível evidência de Doença Holandesa1. Por exemplo, o incentivo às
importações de produtos industrializados, resultante da apreciação cambial, prejudicaria os
investimentos e a indústria doméstica. Os autores sugerem2 que o impacto principal do nível
de ajuda externa se dá nos gastos com consumo das economias receptoras dos montantes, o
que, a princípio, atende aos objetivos dos países doadores, preocupados com a redução da
pobreza ao menos no curto prazo. Entretanto, há um impacto negativo da ajuda externa no
nível das exportações de bens manufaturados. Somados, estes fatores podem indicar que ajuda
externa não está diretamente ligada a investimentos produtivos e ao crescimento econômico
de longo prazo. Além da análise dos fluxos de ajuda externa no nível, o estudo apresenta
resultados sobre o forte impacto negativo da ajuda na volatilidade da exportação de bens
industriais e do nível de consumo nestes países, principalmente em locais com acesso ao
mercado de capitais restrito.
1
De acordo com Corden (1984): “O Termo Doença Holandesa refere-se aos efeitos adversos na indústria de extração de gás natural na Holanda nos anos 1960, essencialmente através de subsequente apreciação da taxa de câmbio real holandesa”.
2
Por outro lado, em estudo do IMF3 (2005) que analisa a volatilidade dos fluxos, não
foram encontradas evidências de Doença Holandesa causada pela entrada de ajuda nos países.
Os autores argumentam que as oscilações nas entradas dos recursos, causadas por reações
pontuais a choques exógenos, como no caso de desastres naturais, podem reduzir a eficácia da
ajuda no médio prazo. Isso pode ocorrer uma vez que os governos recebedores, ao trabalhar
num ambiente mais incerto, tendem a direcionar apenas uma parcela da ajuda, criando uma
reserva com a parcela restante a ser usada quando o nível de recursos cair. Assim, uma baixa
volatilidade de entradas de recursos é benéfica para a efetiva injeção de uma maior parcela
desses recursos na economia dos países, pois os governos têm menor incerteza quanto à
manutenção destes influxos.
Para Bevan (2005), a questão da apreciação da taxa real de câmbio devida à entrada de
ajuda e a alta consequente das importações ante as exportações pode ser atenuada com o
direcionamento destes recursos para investimentos na expansão da oferta doméstica, o que
seria benéfico para o crescimento econômico de longo prazo, a despeito do crescimento das
importações devido à elevação no consumo. Ao analisar a volatilidade dos recursos, o autor
entende que os países tendem a ser conservadores nas aplicações diante de possíveis
oscilações dos fluxos:
O argumento é que muito custoso ser forçado a reduzir um programa uma vez que ele foi feito, logo esses programas devem ser planejados contando apenas com recursos seguramente comprometidos. Se, como algumas vezes pode ocorrer, mais recursos são disponibilizados do que o planejado, os governos podem usá-los ou para reduzir a dívida pública interna, ou para complementar as despesas dos programas em andamento. (BEVAN, 2005, p. 19-20)
Neste sentido, os governos podem trabalhar com orçamentos de ajuda subestimados e,
portanto, uma alocação futura dos recursos adicionais pode não ser a mais eficiente.
A preocupação em relação à volatilidade de ajuda é potencializada por se tratar de um
tema chave para economias em desenvolvimento e/ou de baixa renda, que têm maior
dificuldade em lidar com oscilações de suas receitas, conforme Bulir e Hamann (2003):
“Países em desenvolvimento tendem a estar mais sujeitos a choques externos mais frequentes
e fortes e a serem menos capazes de lidar com eles, devido a restrições de liquidez e a falta de
instrumentos anticíclicos eficazes” (BULIR; HAMANN, 2003, p. 64-65). Os autores
encontraram robustas evidências empíricas que a ajuda é mais volátil que as receitas
3
domésticas e que os influxos de ajuda são pró-cíclicos, ou seja, os recursos oriundos de ajuda
tendem a cair nos mesmos períodos em que as receitas domésticas caem, possivelmente por
ambos estarem relacionados a oscilações das políticas econômicas desses países. Essa
conclusão alarma os governos, tendo em vista que quedas do nível de ajuda seriam
simultâneas às quedas de receitas domésticas, justamente em nações que têm ainda mais
dificuldade em lidar com alterações dos níveis de suas receitas.
Levin e Dollar (2003) chamam atenção ao fato que os impactos da volatilidade de
ajuda são ainda maiores para os países classificados por eles de “países de difícil parceria”
(PPD)4 dentro do grupo de recebedores. Para essas economias, os programas financiados por
recursos de ajuda tendem a demorar períodos maiores para sua conclusão, evidenciando a
necessidade de adoção de uma maior padronização na alocação de ajuda por parte dos países
doadores para que os programas possam alcançar seus objetivos. Em linha com este trabalho,
Fielding e Mavrotas (2008) concluem que países com piores instituições e políticas
econômicas tendem a apresentar maior volatilidade no influxo de ajuda: “A volatilidade tanto
da ajuda total, como da setorizada depende da qualidade das instituições políticas
[...]”(FIELDING; MAVROTAS, 2008, p. 491)5.
Markandya, Ponczek and Yi (2010), além de analisar a relação entre volatilidade de ajuda
e crescimento econômico6, diferenciando por tipo de ajuda recebida e características entre os
países, também concluem que no longo prazo a oscilação dos fluxos é negativamente
correlacionada com crescimento econômico das nações recebedoras. Contudo, no médio
prazo, não foram encontrados resultados robustos que indiquem relação negativa com o
crescimento econômico. Da forma similar aos trabalhos mencionados anteriormente, os
efeitos da volatilidade não são verificados de forma homogênea entre os países e há
características que potencializam os impactos das oscilações dos recursos. Os autores
identificaram que determinados fatores podem amplificar os efeitos negativos da volatilidade
de ajuda externa no crescimento de longo prazo dos países:
Em termos de política econômica, os resultados sugerem que países de baixa renda com instituições fracas, especialmente na África Subsaariana, poderiam se beneficiar
4
“Países de parceria difícil (PPD) são países com fracas instituições e políticas econômicas – um dos mais difíceis ambientes para aplicação de programa de ajuda, também costumam ser os países mais pobres”. LEVIN e DOLLAR (2005).
5
Fielding e Mavrotas (2008) desenvolvem um modelo com análise dos fluxos de ajuda desagregada.
6
de uma volatilidade de ajuda externa mais baixa ou de estarem mais bem preparados para esta volatilidade. (MARKANDYA; PONCZEK; YI, 2010, p. 17)
A partir da discussão exposta acima, é um dos objetivos deste trabalho analisar o
impacto do influxo de ajuda externa recebida pelos países em suas trajetórias de crescimento
econômico e da volatilidade deste crescimento.
Além da situação econômica vigente nas potenciais nações recebedoras de recursos,
fatores relativos ao bem-estar social podem influenciar a tomada de decisão dos países e
entidades doadoras na alocação de recursos para ajuda internacional. Componentes mais
amplos de bem-estar social, como acesso e qualidade da educação, expectativa de vida,
qualidade das políticas públicas e abertura comercial impactam diretamente no nível de
desenvolvimento social das sociedades. Uma alternativa para aferição do desenvolvimento
social é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelo departamento de
Desenvolvimento Humano da ONU7 com intuito de mensurar e comparar a evolução do
desenvolvimento humano nos diferentes países ao longo do tempo.
No ano de 1990, em meio a uma nova estrutura de economias e instituições devido à
queda do Muro de Berlin e o enfraquecimento do Comunismo, que resultaria na dissociação
da União Soviética em 1991, o Programa de Desenvolvimento da ONU divulgou seu primeiro
Relatório de Desenvolvimento Humano8:
A mensagem central deste Relatório de Desenvolvimento Humano é que, enquanto o crescimento da produção dos países (PIB) é absolutamente necessário para alcançar todos os objetivos humanos essenciais, o que é importante é estudar como isso tudo se traduz – ou deixa de se traduzir – em desenvolvimento humano em várias sociedades. (HUMAN DEVELOPMENT REPORT, 1990, p. iii)
O IDH é calculado a partir da atribuição de pesos idênticos para três variáveis,
expectativa de vida, qualidade da educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas nos
diferentes níveis de ensino) e renda per capita ponderada pela paridade do poder de compra9.
(1.1)
Sendo que:
- Índice de expectativa de vida do país (Life Index)
7
Organização das Nações Unidas.
8
Desde então, a publicação se tornou anual, exceção feita ao biênio de 2007-08, quando a ONU divulgou apenas um relatório.
9
- Índice de educação do país (Education Index)
- Índice de bem-estar do país (Income Index)
Além da métrica contínua quantitativa, o Relatório da ONU também divulgava uma
escala qualitativa separando os países em três grupos, nações com alto desenvolvimento
humano (aqueles cujo IDH fora maior ou igual a 0,8), médio desenvolvimento humano (IDH
entre 0,5 e 0,8) e baixo desenvolvimento humano (IDH menor que 0,5).
A metodologia de cálculo do IDH é objeto de crítica por diversos analistas tendo em
vista as possíveis distorções geradas. Neumayer (2001) reuniu os principais apontamentos
contra o índice, em que se destacaram a suavização do impacto de altas rendas per capita no
índice devido à utilização de seu logaritmo no cálculo do parâmetro de padrão de vida, e o
forte viés para a alfabetização dos adultos no componente educacional, para a qual é atribuído
o peso de dois terços, sendo o restante para a parcela da população matriculada nas escolas10.
A possibilidade de um parâmetro do índice ser compensado por outro com peso idêntico é
criticado por Desai (1991).
Sagar e Najam (1998) apontam a importância da criação do IDH para
acompanhamento do desenvolvimento das nações de uma forma não unidimensional, como
eram feitas as análises anteriormente a sua criação, via renda per capita, por exemplo. No
entanto, os autores ressaltam a estagnação dos Relatórios de Desenvolvimento Humano em
torno da divulgação do IDH, sem aprofundar suas análises para além dos dados consolidados
por países e as classificações dessas nações em detrimento de outras. Entretanto, mesmo sob
críticas, o IDH é uma medida de desenvolvimento aceita pela comunidade internacional, que
o utiliza como balizador de efetividade de políticas econômicas nos diversos países.
Finalmente, quanto à relação do IDH com a ajuda externa, Gillanders (2010) avaliou o
impacto que tais recursos causam em um dos parâmetros do índice, a expectativa de vida, para
nações situadas na África Sub-Saariana. Seu estudo indicou que os resultados são geralmente
ambíguos, porém asseguram uma pequena correlação positiva entre ajuda externa e a
expectativa de vida.
É objetivo deste trabalho a mensuração da correlação entre o IDH e o influxo de ajuda
externa recebido pelos países, uma vez que é intuitivo imaginar que os recursos de ajuda
tendem a ser direcionados às nações com maiores deficiências em desenvolvimento humano.
10
Este estudo, além de investigar a existência dessa correlação, tem como objetivo avaliar a
existência de um impacto adicional da classificação qualitativa divulgada conjuntamente com
o valor do IDH sobre a entrada de ajuda nos países. Para isso, são realizadas inferências entre
o influxo de ajuda recebida pelos países no período escopo desta análise11 e as informações
quantitativas e qualitativas divulgadas pela ONU.
Ademais, conforme já mencionado anteriormente, os impactos no crescimento
econômico de médio e longo prazo acarretados pela entrada de ajuda externa nos países e as
oscilações deste crescimento para avaliar a eficácia da aplicação destes recursos também são
escopo deste estudo.
Devido a potencial endogeneidade do recebimento de ajuda externa, este trabalho
explorará a descontinuidade na série de doações classificadas pelo Banco Mundial por meio
de variável instrumental, método dos mínimos quadrados dois estágios e regressão de
descontinuidade. No primeiro estágio, estima-se a existência da quebra no montante de ajuda
recebida pelos países com a dummy qualitativa do IDH (usando RDD). No segundo estágio,
com a ajuda externa calculada (variável instrumental), verificam-se os efeitos desta sobre o
crescimento econômico e volatilidade.
Este trabalho está segmentado em quatro seções, a iniciar por esta introdução, que
inclui a revisão bibliográfica sobre a discussão dos impactos da ajuda externa sobre o
crescimento econômico e volatilidade de crescimento dos países recebedores, além de críticas
acerca do Índice de Desenvolvimento Humano criado pela ONU. Na segunda seção, há o
detalhamento da metodologia a ser utilizada para cálculo dos impactos de IDH sobre ajuda e
dos recursos de ajuda sobre crescimento econômico e sua volatilidade. Na seção seguinte, são
apresentados os resultados obtidos por meio das regressões estimadas, com suas respectivas
análises. A última seção apresenta a conclusão deste trabalho com a discussão de suas
limitações e possíveis extensões.
11
2 METODOLOGIA E DADOS
Os dados históricos do IDH são divulgados anualmente pelo Relatório de
Desenvolvimento Humano da ONU, podendo ser posteriormente recalculados com
informações revisadas das agências internacionais, que disponibilizam informações acerca
dos parâmetros do índice como dados sobre educação, expectativa de vida e renda per capita,
ou devido a alterações de metodologia do cálculo do próprio IDH12. Dessa forma, em todo
novo relatório é realizada uma correção nas informações históricas de IDH, sendo que
usualmente são divulgados os índices recalculados a partir de 1980, com intervalo de 5 anos.
Dessa maneira, este trabalho não pôde utilizar as informações atuais disponíveis no banco de
dados da ONU para o IDH de 1995, umas vez que estas informações sofreram correções ao
longo do tempo e não refletem mais os primeiros números divulgados. O relatório de 1998 foi
o primeiro a divulgar os dados relativos a 1995, e sendo assim as regressões deste estudo
utilizaram estas informações. Deste relatório, dois tipos de informação são utilizados: a
medida numérica do IDH e sua medida qualitativa segmentada em faixas de baixo, médio e
alto desenvolvimento humano.
Para as informações acerca do influxo de ajuda externa nos países, foram utilizados os
dados divulgados pelo Banco Mundial, que tratam dos recursos líquidos recebidos pelos
países por meio de Assistência Oficial ao Desenvolvimento (AOD) como proporção do PNB.
O Banco Mundial denomina os recursos AOD da seguinte forma:
Assistência líquida Oficial ao Desenvolvimento (AOD) consiste em empréstimos feitos por meio de concessões (líquidos de pagamentos do principal) e doados por agências oficiais dos membros do Comitê de Assistência ao Desenvolvimento (CAD), por instituições multilaterais, por países não-membros do CAD para promover desenvolvimento econômico e do bem estar em países e territórios na lista de recebedores de AOD do CAD. Inclui empréstimos com um elemento de doação de ao menos 25 por cento (com um desconto de 10 por cento). (BANCO MUNDIAL, 2013)
Adicionalmente, os dados referentes ao histórico de crescimento econômico anual
(PIB) dos países, assim como o parâmetro de abertura comercial, têm como fonte o Banco
Mundial. A abertura comercial é uma medida de quanto as economias se utilizam do comércio
internacional ao longo do tempo, e é calculada pela soma de importações e exportações dos
países sobre o tamanho de sua economia (PIB).
12
Já a variável de abertura política baseia-se nas informações acerca das instituições
públicas medidas pelo Índice de Competitividade Global, calculado pelo Fórum Econômico
Mundial. O índice de instituições públicas consiste no agrupamento de informações sobre 17
variáveis pesquisadas em torno do ambiente dos direitos de propriedade, intelectual,
credibilidade do governo, medidas de segurança pública, entre outros13. O valor deste
parâmetro varia entre o mínimo de 1 e o máximo de 7.
Tendo em vista a potencial endogeneidade da ajuda externa recebida pelos países de
baixa renda e a mudança de nível na série a ser estudada em decorrência do impacto da
divulgação de um critério qualitativo em conjunto com a escala numérica do IDH, este
trabalho adota do método de Regressões de Design Descontínuo (RDD), que se utiliza
variável instrumental para o cálculo da variável explicada e modela saltos de descontinuidade
das séries por meio da inserção de dummies no modelo.
Os primeiros a utilizar RDD em estudos foram Thistlethwaite e Campbell (1960), ao
analisar o impacto dos prêmios de mérito nas carreiras dos estudantes, tendo em vista que os
prêmios usavam a nota em teste como critério de seleção. Uma vez que existia uma amostra
de alunos cujos resultados circulavam entorno da nota definida para seleção, a questão que os
autores tratavam era qual o impacto causado nas carreiras dos alunos em decorrência da
premiação. Como também existia uma amostra de controle com indivíduos com nota
semelhante no teste, porém sem o prêmio, foi possível isolar o efeito descontínuo da
premiação do desempenho escolar usando o método RDD.
Lee e Leumiux (2010), em sua pesquisa sobre as Regressões de Design Descontínuo,
destacam que o uso deste método em dados que possam ser manipulados pelos indivíduos da
amostra não é o mais indicado, haja vista que nestes casos poderia haver a escolha entre estar
ou não dentro do valor crítico limite em estudo. No caso deste trabalho, tendo em vista que o
IDH é calculado pela média de dados padronizados de agências internacionais, o RDD
mantém-se válido para análise proposta aqui. Adicionalmente, os autores chamam a atenção
para o estudo gráfico da série, que apesar de transmitir uma boa intuição para existência ou
não de descontinuidade, não pode por si só determinar a análise da descontinuidade. O gráfico
1é um bom ilustrativo desse ponto, dispondo o IDH de 1995 divulgado em 1998 no eixo X
13
contra a média de ajuda recebida como proporção do PNB nos cinco anos seguintes (no eixo
Y). Ao destacar a tendência da série para países classificados como Baixo Desenvolvimento
Humano (IDH menor do 0,5) e a tendência da série composta pelos demais países, é possível
verificar a presença de uma descontinuidade nas séries, porém não fornece mais informações
necessárias para uma análise aprofundada.
Gráfico 1 – Relação entre Ajuda como % do PNB e IDH de 1995
Fonte: Elaboração própria
Por fim, como já exposto, este trabalho pretende analisar o impacto da classificação
qualitativa do IDH por meio de RDD com Variáveis Instrumentais (VI) e o método de
Mínimos Quadrados Dois Estágios (MQ2E), denominado como Fuzzy RD por Angrist e
Pischke na obra “Mostly Harmless Econometrics – Na Empiricist’s Companion”. Este método
permite a existência de mais de uma descontinuidade na série, como é o caso do IDH de 1995,
no qual existem 3 classificações qualitativas.
Através do método de Mínimos Quadrados com Dois Estágios (MQ2E) e utilizando o
montante de ajuda externa recebida pelos países como variável instrumental, este trabalho
avalia - no primeiro estágio - o impacto da divulgação do IDH na média de ajuda externa
recebida pelos países. No segundo estágio, verifica-se o impacto da ajuda externa no
crescimento econômico dos países.
Neste sentido, este trabalho utilizará o sistema de equações e suas variações, conforme
segue: -5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1
Ajuda
co
mo
% do P
N
B (mé
dia
de
99-03)
IDH de 1995 (divulgado em 1998)
IDH 95 x Aid (%GNI)
(2.1)
Onde:
= Média algébrica da proporção de ajuda externa14 recebida pelo país i sobre seu
PNB15 entre 1999 e 2003 – período de 5 anos posterior a divulgação do IDH
= IDH do país i em 1995 (divulgado pelo relatório de 1998)
= Dummy para o país i, onde , ,
, ,
= Média do valor da Proxy de Abertura Comercial do país i entre o período de
1999 a 2003
= Proxy de instituições públicas do país i no ano de 2006 (primeiro ano disponível
da amostra)
= Crescimento econômico (PIB) médio do período de 1993 a 1997 (anterior a
divulgação do IDH)
= Erro da regressão, ∼ ,
= parâmetros de correlação das variáveis exógenas com a variável endógena
(sendo j = {0, 1, ... , 8})
A equação (2.1) do primeiro estágio busca identificar através dos parâmetros a
correlação da divulgação do IDH de 1995 com o influxo de ajuda externa recebida pelos
países no período posterior a divulgação do IDH (média dos cinco anos posteriores a 1998). O
parâmetro de correlação associado à dummy tenta capturar uma relação de
descontinuidade nos recursos recebidos pelos países, uma vez que o IDH foi criado com duas
escalas16: a primeira delas contínua a partir de zero com valor máximo atingindo um (com o
índice sendo divulgado com três casas decimais), a segunda qualitativa, classificando o país
com baixo nível de desenvolvimento humano se o IDH é menor que 0,5, médio
14
Dados do Banco Mundial.
15
PNB: Produto Nacional Bruto.
16
desenvolvimento caso o país tenha IDH maior ou igual a 0,5 e menor que 0,8 e alto nível de
desenvolvimento para índices a partir de 0,8.
A hipótese é que, além de levar em conta o atual nível de desenvolvimento humano
em uma medida numérica e contínua dos países que potencialmente receberiam ajuda, os
países doadores também incorporam a medida qualitativa divulgada pelo relatório da ONU.
Intuitivamente, é de se esperar que países com menor desenvolvimento humano recebam mais
ajuda. No entanto, quando as regressões incluem os dados de IDH e a dummy para IDH maior
que 0,5 ( e , respectivamente) – este último sendo o limítrofe entre baixo e médio
desenvolvimento humano – não seria racional esperar que, a princípio, a dummy apresente
impacto relevante no montante de ajuda externa recebida pelos países, uma vez que todo este
efeito deveria se concentrar na medida numérica do IDH.
Ainda incluso nos testes do primeiro estágio, estão as possíveis relações não-lineares
que tanto o IDH, quanto a dummy do limítrofe, possam ter na proporção de ajuda recebida
pelos países.
Cada regressão calculada no primeiro estágio – neste estudo foram doze variações da
equação (2.1) – temos um conjunto diferente, que reúne as proporções de ajuda em relação
ao PNB dos países, de acordo com os parâmetros definidos na regressão
, , … , .
É a partir dos diferentes oriundos das regressões do primeiro estágio, que se calcula
o segundo estágio conforme segue:
(2.2)
Onde:
= Média do crescimento econômico de médio prazo (PIB de 1999 a 2003) do país i
= Erro da regressão, ∼ ,
= parâmetros de correlação das variáveis exógenas com a variável endógena
Também serão analisados os impactos de ajuda sobre o crescimento econômico de
longo prazo (10 anos), no desvio padrão do crescimento no médio prazo (5 anos) e no longo
prazo (10 anos), com estrutura semelhante. Onde teremos:
Para crescimento econômico de longo prazo (média do crescimento do PIB de 1999
até 2008), como variável exógena, como erro da regressão e como a matriz de
parâmetros de correlação com a variável exógena.
Para os impactos no desvio-padrão do crescimento de médio prazo (desvio padrão do
crescimento do PIB de 1999 até 2003), como variável exógena, como erro da
regressão e como a matriz de parâmetros de correlação com a variável exógena.
Finalmente, o desvio-padrão do crescimento de longo prazo (desvio padrão do
crescimento do PIB de 1999 até 2008), onde será a variável exógena, o erro da
regressão e a matriz de parâmetros de correlação com a variável exógena.
Espera-se encontrar no segundo estágio correlação significante entre os parâmetros de
ajuda externa calculada, valor do IDH e variáveis de controle (abertura comercial, instituições
públicas e crescimento econômico anterior) com as variáveis explicadas, crescimento
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
3. 1 Análise do relacionamento entre os dados e sua distribuição ao longo do globo
Antes de apresentar os resultados das regressões, conforme definidas no capítulo
anterior, apresenta-se na tabela 1 a composição dos dados por continente e por faixa de IDH,
relacionando assim suas respectivas médias para ajuda como proporção do PNB, crescimento
econômico e seu desvio-padrão no médio e longo prazo, além das variáveis de controle:
abertura comercial, instituições públicas e crescimento econômico antes da divulgação do
IDH (1993-97).
Ao se analisar as informações dispostas na tabela 1 antes dos resultados das
regressões, tem-se a impressão que o valor de IDH de 1995 tem uma relação inversa com o
recebimento de ajuda relativa, com crescimento econômico e seu desvio-padrão, tanto no
médio como no longo prazo. Todavia, o IDH segue a mesma tendência da abertura comercial
e da percepção acerca das instituições públicas. Em relação ao desempenho econômico de
1993-97, não apresenta tendência clara.
Conforme exposto na tabela 2, os países africanos na média apresentaram o pior
desenvolvimento humano, o maior influxo de ajuda relativo ao PNB e as maiores oscilações Faixa Continente # Países IDH 1995 Ajuda
1999-2003 PIB (%) 1999-2003
DP PIB (%) 1999-2003
PIB (%) 1999-2008
DP PIB (%) 1999-2008 Abert. Comer. Instit. Públicas PIB (%) 1993-1997
TOTAL DA FAIXA 1 0.185 32.3 10.1 13.6 8.5 9.2 53.1 nd -4.1
Africa 1 0.185 32.3 10.1 13.6 8.5 9.2 53.1 nd -4.1
TOTAL DA FAIXA 32 0.324 12.6 3.6 3.4 4.7 3.7 60.3 3.2 3.4
Africa 27 0.319 14.0 3.5 3.8 4.7 4.0 60.9 3.3 3.3
América do Norte e Central 1 0.340 0.0 0.5 1.4 0.7 2.0 49.7 nd -0.1
Asia 4 0.356 6.7 5.3 1.2 5.6 1.7 58.8 2.8 5.0
TOTAL DA FAIXA 27 0.517 8.2 4.2 4.0 5.1 4.2 88.7 3.2 4.4
Africa 13 0.513 8.3 4.9 4.1 4.6 3.8 100.4 3.1 5.0
América do Norte e Central 2 0.560 11.3 3.2 2.6 4.1 2.1 94.3 2.8 3.7
América do Sul 1 0.593 8.7 2.0 0.9 3.4 1.7 47.3 2.7 4.6
Asia 8 0.493 6.0 5.6 4.3 7.4 5.4 72.6 3.5 3.6
Oceania 3 0.542 11.2 -1.0 4.7 2.4 5.0 89.6 nd 4.3
TOTAL DA FAIXA 50 0.709 2.9 4.6 2.5 5.6 3.0 83.7 3.3 1.8
Africa 6 0.690 1.3 4.2 1.5 4.6 1.8 69.5 4.0 3.5
América do Norte e Central 5 0.681 0.7 3.1 1.6 3.9 2.2 58.7 3.1 3.5
América do Sul 5 0.734 4.1 1.7 2.9 3.5 3.2 88.8 2.5 4.2
Asia 19 0.717 2.9 5.3 2.6 6.3 3.0 80.7 3.3 2.3
Europa 14 0.709 3.3 5.5 3.0 6.8 3.6 98.1 3.3 -1.1
Oceania 1 0.694 12.9 5.1 2.0 3.9 3.2 99.3 nd 3.2
TOTAL DA FAIXA 64 0.891 0.5 2.9 2.5 3.6 2.8 100.5 4.6 3.7
Africa 3 0.828 1.4 2.2 4.8 3.7 4.3 119.2 4.0 4.6
América do Norte e Central 15 0.878 1.4 3.3 2.9 3.6 3.4 95.3 4.0 3.1
América do Sul 6 0.864 0.1 -0.3 3.9 3.2 4.8 39.6 3.3 4.3
Asia 12 0.877 0.1 4.2 2.9 5.2 3.0 138.5 4.8 6.0
Europa 25 0.916 0.0 2.9 1.5 3.0 1.7 100.5 4.9 2.8
Oceania 3 0.913 0.6 3.5 2.0 2.9 2.0 77.4 5.5 3.6
TOTAL - 174 0.672 4.8 3.8 3.0 4.7 3.3 86.2 3.9 3.2
Fonte: HDR (1998), Banco M undial, Fórum Econômico M undial Nota: Elaboração própria
Tabela 1 - Evolução de ajuda, cresc. econômico e seu desvio-pradrão (médio e longo prazo) nos anos posteriores, comércio, instituições públicas e crescimento econômico anterior por faixa de IDH e continente
0,6 - 0,8 0,0 - 0,2
0,2 - 0,4
0,4 - 0,6
de crescimento econômico (tanto de médio, como de longo prazo). Por outro lado, os
europeus apresentam os melhores níveis de IDH com o menor recebimento de recursos de
ajuda, além disso, destacam-se por apresentar mais estabilidade econômica no médio e no
longo prazo, menor crescimento econômico entre 1993 e 1997 e maior exploração do
comércio internacional. A Ásia é o continente cujos países mais cresceram no período de
cinco e dez anos posteriores a divulgação do IDH. Enquanto os sul-americanos foram os
países que mais cresceram entre 1993 e 1997, obtiveram o pior desempenho médio nos cincos
anos a partir de 1999, além de apresentarem a maior instabilidade de crescimento no longo
prazo, a menor utilização do comércio internacional (abertura comercial) e a pior percepção
sobre as instituições públicas. A Oceania se destacou como pior crescimento médio de longo
prazo e melhor índice de instituições públicas. A média dos países da América do Norte e
Central esteve entre os valores mínimos e máximos em todos as variáveis em análise neste
estudo.
3.2 Regressões e os impactos das variáveis no influxo de ajuda, crescimento econômico e volatilidade do crescimento
As relações lineares e não-lineares da dummy (IDH > 0,5) e do próprio valor do IDH,
além dos impactos com a inclusão das variáveis de controle foram separadas em três grupos.
No primeiro, a interação da dummy isoladamente, sem o valor do IDH nas regressões (quatro
primeiras). Nas quatro regressões seguintes, a relação linear da dummy, do IDH e das
variáveis de controle. No terceiro grupo, são acrescidas as relações não-lineares. Os resultados
são apresentados na Tabela 3 a seguir:
Continente # Países IDH 1995 Ajuda
1999-2003 PIB (%) 1999-2003
DP PIB (%) 1999-2003
PIB (%) 1999-2008
DP PIB (%) 1999-2008
Abert. Comer.
Instit. Públicas
PIB (%) 1993-1997
Africa 50 0.442 10.6 4.0 3.9 4.7 3.8 75.1 3.4 3.7
América do Norte e Central 23 0.784 2.0 3.1 2.5 3.6 2.9 86.5 3.6 3.1
América do Sul 12 0.787 2.5 0.7 3.3 3.3 3.9 60.8 3.0 4.3
Asia 43 0.686 3.0 5.0 2.9 6.1 3.3 94.1 3.9 3.8
Europa 39 0.842 1.2 3.8 2.0 4.4 2.4 99.6 4.4 1.3
Oceania 7 0.723 6.9 1.8 3.2 2.8 3.5 85.7 5.5 3.8
TOTAL 174 0.672 4.8 3.8 3.0 4.7 3.3 86.2 3.9 3.2
Fonte: HDR (1998), Banco M undial, Fórum Econômico M undial Nota: Elaboração própria
Como era de se esperar, verifica-se que o grupo de regressões de 1 a 4, que possui
apenas a dummy de IDH maior que 0,5 e as variáveis de controle (abertura comercial,
instituições públicas e crescimento econômico anterior a divulgação do IDH) como
regressores, apresentou correlação negativa significante (rejeita a hipótese nula com mais
99% de confiança) de recebimento de ajuda contra a dummy, ou seja, países que tem pior IDH
recebem mais ajuda do que aqueles com IDH melhor. Ademais, abertura comercial não se
mostrou significante e o resultado do impacto de instituições públicas é negativo no
recebimento de ajuda pelos países. Por fim, crescimento econômico anterior a divulgação é
levemente negativamente correlacionado com ajuda (a 10% de significância).
Nas regressões com as inclusões do IDH e da dummy multiplicada pelo próprio IDH
(de 5 a 8), o valor do IDH mostrou-se negativamente correlacionado com ajuda nas quatro
regressões, ou seja, países com menor IDH recebem um maior volume de ajuda, como
proporção do PNB. Das variáveis de controle, apenas abertura comercial apresentou valor
crítico diferente de zero – positivo - com 10% de significância. Objeto de estudo neste
estágio, a dummy continua apresentando impacto negativo significante mesmo após a inclusão
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12)
Constante (α0) 11.48 10.97 15.32 12.22 32.07 31.66 29.56 31.99 40.49 40.40 11.35 40.62
(0.97) (1.06) (1.72) (0.96) (3.94) (3.45) (4.17) (3.49) (14.23) (12.48) (16.27) (12.66)
*** *** *** *** *** *** *** *** *** *** ***
Dummy (IDH>0.5) -8.96 -9.45 -7.30 -9.37 -12.34 -15.36 -13.05 -14.69 9.51 -4.32 37.33 -2.30 (1.12) (1.05) (1.11) (1.02) (4.97) (4.41) (4.98) (4.46) (23.55) (21.22) (24.05) (21.57)
*** *** *** *** ** *** *** ***
Abertura Comercial 0.008 0.014 0.014
(0.01) (0.008) (0.008)
* *
Instiuições Públicas -1.56 -0.18 -0.53
(0.45) (0.51) (0.55)
***
Cresc. % do PIB (1993-1997) -0.19 -0.05 -0.05
(0.11) (0.09) (0.09)
*
IDH 1995 (divulgado em 1998) -58.10 -59.46 -52.33 -57.33 -108.90 -112.15 63.35 -109.38
(10.85) (9.51) (10.45) (9.73) (83.24) (72.98) (94.19) (74.04)
*** *** *** ***
IDH 1995 * Dummy (IDH>0.5) 36.03 39.88 34.79 38.33 3.80 38.56 -165.64 32.97
(11.51) (10.1) (11.31) (10.29) (97.58) (86.48) (105.53) (87.81)
*** *** *** ***
(IDH 1995)² 72.84 75.56 -164.44 74.72
(118.34) (103.74) (133) (105.3)
[IDH 1995 * Dummy (IDH>0.5)]² -17.62 -39.77 220.96 -36.65
(123.07) (108.18) (136.47) (109.81)
R-quadrado Ajustado 0.265 0.326 0.396 0.334 0.455 0.524 0.555 0.512 0.458 0.523 0.566 0.512
Número de Observações 174 170 116 168 174 170 116 168 174 170 116 168
Tabela 3 - Primeiro estágio de Mínimos Quadrados - Impacto sobre a Média de Ajuda (% do PNB) nos cinco anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2003)
Impacto da Dummy isolada Linear com IDH e Dummy Não-Linear com IDH e Dummy
Nota: Os valores entre os parêntesis representam o desvio-padrão do parâmetro calculado (α(j)). *** significante com 1%; ** significante com 5%; e significante com
do valor do IDH, o que significa que países classificados como de “baixo desenvolvimento
econômico” tendem a receber mais ajuda do que países com valor de IDH semelhante, porém
classificados como “médio desenvolvimento econômico”. Já a relação da dummy multiplicada
pelo valor do IDH é positiva e significante.
Com inclusões de relações não-lineares – quadrado do valor do IDH e quadrado da
dummy multiplicada pelo IDH – os regressores perderam a significância no impacto em ajuda,
indicando que não há relações não-lineares entre o IDH e o montante de ajuda recebida por
esses países.
Assim, o resultado das regressões no primeiro estágio apresentou fortes evidências que
existem correlações lineares não só entre o valor do IDH divulgado, mas também relação com
a classificação qualitativa informada pelo Relatório de Desenvolvimento Humano. Os
doadores de ajuda supervalorizam a classificação qualitativa do IDH, ao invés de utilizarem
apenas a escala quantitativa do índice para suas análises e alocações, gerando distorções em
países com desenvolvimento humano semelhante, porém classificados em limites diferentes.
Para o segundo estágio, parte-se das evidências encontradas no primeiro estágio da
regressão geral (equação 2.1), centralizando a análise apenas nas regressões do segundo grupo
de regressões do primeiro estágio, que incluía a relação linear da dummy e do valor do IDH.
Uma vez que a interação de ajuda com a dummy de forma isolada não é objeto de estudo e o
grupo de regressões com relações não-lineares não apresentou resultados relevantes, tais
dimensões podem excluídas. Dessa forma, a equação do segundo estágio sofre uma redução
em relação à apresentada na seção de metodologia (equação 2.2):
(3.1)
Sendo , , , - onde crescimento médio do PIB entre 1999 a 2003, entre 1999
a 2008, desvio-padrão do crescimento entre 1999 a 2003 e desvio entre 1999 a 2008 são as
variáveis endógenas quando , , e respectivamente.
Na tabela 4 temos os impactos do valor do IDH, da média de ajuda calculada pelas
O IDH de 1995 divulgado em 1998 apresentou correlação negativa com o crescimento
econômico médio dos cinco anos seguintes. A exceção é a regressão com inclusão de
instituições públicas, onde não é possível rejeitar a hipótese nula para IDH. O resultado geral
sugere que países com melhores IDH apresentaram pior desempenho econômico. Pode-se
justificar este fato por meio do efeito tamanho das economias, uma vez que dentre os países
com melhores IDH estão as maiores economias, que tendem a crescer sua economia
relativamente em velocidade menor, uma vez que o denominador para a taxa de crescimento é
maior. Outro fato que pode ter influenciado esse resultado é o crescimento econômico
apresentado pelos países sul-americanos no período, uma vez que, apesar de apresentarem
IDH acima de 0,5, suas economias passaram por crises no fim da década de 90 e início dos
anos 2000 – em 1999, por exemplo, oito dos doze países do continente apresentaram retração
econômica.
A média de ajuda calculada também apresentou relação negativa significante (a 5%)
com crescimento econômico, ou seja, países que receberam mais ajuda cresceram em média
menos do que aqueles que receberam proporções menores de ajuda. Tal fato pode ser
explicado por aumento das importações nas economias que receberam mais ajuda, pelo uso
dos recursos para redução da dívida dos países (que deveria impactar em alguma medida o
(5) (6) (7) (8)
13.48 11.60 6.87 12.61
(3.82) (3.36) (3.47) (3.73)
*** *** ** ***
0.020 (0.006)
***
0.47 (0.27)
*
0.07 (0.06)
-11.55 -11.67 -6.49 -10.84
(4.37) (4.09) (4.07) (4.23)
*** *** **
-0.41 -0.36 -0.10 -0.38
(0.19) (0.17) (0.19) (0.18)
** ** **
R-quadrado Ajustado 0.037 0.078 0.079 0.048
Número de Observações 173 170 116 168
IDH 1995
Nota: Os valores entre os parêntesis representam o desvio-padrão do parâmetro calculado (β1(g)). *** significante com 1%;
** significante com 5%; e significante com 10%
Média Ajuda (% do PNB) 1999-2003 - Resultado do 1º Estágio
Tabela 4 - Segundo estágio de Mínimos Quadrados - Impacto sobre o Crescimento Econômico médio (PIB) nos CINCO anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2003)
1º estágio - Linear (IDH e Dummy)
Constante (β10)
Abertura Comercial
Instiuições Públicas
crescimento de longo prazo) ou pela má utilização dos montantes. Aqui, novamente a
regressão com instituições públicas é exceção, onde não se pode rejeitar a hipótese nula.
Das variáveis de controle, apenas abertura comercial apresentou significância, com
relação positiva com crescimento econômico – países que se utilizam mais do comércio
exterior têm melhores resultados na média.
Ao se analisar os impactos das mesmas variáveis sob o crescimento econômico de
longo prazo (1999-2008), obtiveram-se resultados semelhantes à regressão anterior, conforme
na Tabela 5:
Novamente, o desenvolvimento humano apresenta correlação negativa com
crescimento econômico, e o efeito tamanho pode ser válido para esta análise também. Como
pode ser observado nas tabelas 1 e 2 apresentadas anteriormente, o crescimento médio dos
países é maior no período de dez anos do que no período anteriormente analisado, contudo os
países com menor IDH permaneceram apresentando desempenho relativo melhor,
principalmente contra os países classificados com “alto desenvolvimento humano” – faixa de
IDH entre 0,8 e 1,0.
A média da ajuda calculada permanece com impacto negativo no crescimento
econômico, sugerindo que dos países com perfis de desenvolvimento humano semelhante,
(5) (6) (7) (8)
13.11 12.25 7.62 13.63
(3.22) (2.93) (3.65) (3.2)
*** *** ** ***
0.016 (0.005)
***
-0.04 (0.29)
0.00 (0.06)
-10.23 -11.08 -3.89 -10.95
(3.69) (3.57) (4.28) (3.62)
*** *** ***
-0.33 -0.33 -0.02 -0.36
(0.16) (0.15) (0.2) (0.16)
** ** **
R-quadrado Ajustado 0.055 0.088 0.064 0.064
Número de Observações 173 170 116 168
Constante (β20)
Abertura Comercial
Tabela 5 - Segundo estágio de Mínimos Quadrados - Impacto sobre o Crescimento Econômico médio (PIB) nos DEZ anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2008)
1º estágio - Linear (IDH e Dummy)
Média Ajuda (% do PNB) 1999-2003 - Resultado do 1º Estágio
Nota: Os valores entre os parêntesis representam o desvio-padrão do parâmetro calculado (β2(g)). *** significante com 1%;
** significante com 5%; e significante com 10%
Instiuições Públicas
Cresc. % do PIB (1993-1997)
aqueles que recebem maior parcela de ajuda (como proporção do PNB) cresceram de forma
mais lenta do que aqueles que receberam menos ajuda relativa. Mais uma vez, o crescimento
das importações (inclusive via apreciação cambial em decorrência do influxo de ajuda) que
poderia deteriorar a situação da oferta doméstica e a má utilização dos recursos poderiam ser
as causas deste efeito.
Quanto as variáveis de controle, somente a abertura comercial, como na regressão
anterior, apresentou valor significativo diferente de zero, positivo no caso. As demais
variáveis não indicaram impacto.
Nas duas regressões seguintes, avaliam-se os impactos das variáveis sobre a
volatilidade do crescimento de médio e de longo prazo. Na tabela 6, são apresentados os
resultados sobre o desvio-padrão do crescimento econômico entre (1999-2003).
O influxo de ajuda calculado no primeiro estágio se mostrou positivamente
correlacionado com a volatilidade de crescimento no mesmo período em três das quatro
regressões (com ao menos 5% de confiança), excetuando somente a regressão sem variáveis
de controle. Os países que possuíam maior parcela de ajuda como proporção do PNB tiveram,
na média, maiores oscilações em seu desempenho econômico entre 1999 e 2003, em relação a
países menos dependentes desses recursos. Os países africanos, por exemplo, maiores
(5) (6) (7) (8)
0.00 -0.50 -1.71 -1.74
(3.12) (2.41) (2.3) (2.54)
0.005 (0.004)
-0.44 (0.18) **
0.16 (0.04)
***
2.67 2.62 6.64 3.99
(3.58) (2.94) (2.7) (2.88)
**
0.24 0.24 0.34 0.29
(0.15) (0.12) (0.13) (0.12)
** *** **
R-quadrado Ajustado 0.048 0.077 0.101 0.118
Número de Observações 173 170 116 168
Tabela 6 - Segundo estágio de Mínimos Quadrados - Impacto sobre o Desvio-Padrão do Crescimento Econômico (PIB) nos CINCO anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2003)
1º estágio - Linear (IDH e Dummy)
Média Ajuda (% do PNB) 1999-2003 - Resultado do 1º Estágio
Nota: Os valores entre os parêntesis representam o desvio-padrão do parâmetro calculado (β3(g)). *** significante com 1%;
** significante com 5%; e significante com 10%
Constante (β30)
Abertura Comercial
Instiuições Públicas
Cresc. % do PIB (1993-1997)
recebedores de ajuda no período, apresentaram também maior volatilidade em suas
economias.
No que diz respeito ao efeito das variáveis de controle, países com melhores
instituições públicas apresentaram maior estabilidade em seu crescimento econômico no
período, enquanto aqueles que mais cresceram entre 1993 e 1997 apresentaram maior
volatilidade em seu desenvolvimento econômico no período entre 1999-2003. Já a abertura
comercial não apresentou correlação significante diferente de zero.
Por fim, o valor do IDH apenas indicou impactos relevantes sobre o desvio-padrão do
crescimento do PIB no médio prazo na regressão que incluiu a percepção de instituições
públicas, onde o IDH se apresentava positivamente correlacionado com a volatilidade. Nas
outras 3 regressões, o índice não apresentou valor significativo.
Na tabela 7, os resultados da regressão com desvio-padrão de longo prazo:
Com a volatilidade de dez anos (entre 1999-2008), tanto o volume médio de ajuda
recebida pelos países como o IDH não são significantes em nenhum dos casos. Instituições
públicas continuaram negativamente correlacionadas com as oscilações de longo prazo do
crescimento econômico, enquanto abertura comercial apresentou leve impacto positivo
(5) (6) (7) (8)
1.01 0.84 0.40 0.92
(3) (2.31) (2.79) (2.53)
0.007 (0.004)
*
-0.53 (0.22) **
0.06 (0.04)
1.91 1.26 4.95 1.67
(3.43) (2.82) (3.27) (2.86)
0.20 0.18 0.25 0.19
(0.15) (0.12) (0.15) (0.12)
R-quadrado Ajustado 0.043 0.078 0.055 0.055
Número de Observações 173 170 116 168
Nota: Os valores entre os parêntesis representam o desvio-padrão do parâmetro calculado (β4(g)). *** significante com 1%;
** significante com 5%; e significante com 10%
Tabela 7 - Segundo estágio de Mínimos Quadrados - Impacto sobre o Desvio-Padrão do Crescimento Econômico (PIB) nos DEZ anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2008)
1º estágio - Linear (IDH e Dummy)
Média Ajuda (% do PNB) 1999-2003 - Resultado do 1º Estágio
Constante (β40)
Abertura Comercial
Instiuições Públicas
Cresc. % do PIB (1993-1997)
(intervalo de confiança em 10%). O crescimento econômico do período anterior (1993-1997)
também não apresentou relevância.
3.3 Testes de Robustez da descontinuidade do IDH qualitativo
Conforme visto, este trabalho encontrou efeito significativo no parâmetro de
descontinuidade do IDH (dummy de IDH maior que 0,5) nas regressões com as variáveis
lineares. Para uma análise mais detalhada desta descontinuidade, apresenta-se a seguir a
tabela 8, com o intuito de verificar se o valor de IDH igual 0,5 – limítrofe entre a classificação
de baixo e médio desenvolvimento humano – é a única descontinuidade relevante na amostra.
Dessa maneira, repetiu-se para duas novas dummies – uma para IDH maiores que 0,4 e
outra para IDH maiores que 0,6 – o grupo de regressões com os limites isolados e as relações
lineares do IDH e do IDH multiplicado pelas dummies, assim como a inclusão das variáveis
de controle, de forma análoga a utilizada no primeiro estágio das regressões da seção anterior.
Não foram necessárias regressões que relacionam as variáveis de forma não-linear, uma vez
que não foram encontrados resultados significativos nessas regressões com a dummy objeto de
estudo (IDH maior que 0,5).
A tabela 8 apresentada a seguir, indica que a dummy com IDH maior que 0,4 apresenta
efeitos semelhantes à descontinuidade imposta pela classificação qualitativa do IDH. Já a
dummy de IDH maior que 0,6 apresenta impacto apenas nas regressões que incluem abertura
comercial e o crescimento econômico do período anterior, ainda assim com uma significância
menor do que as dummies anteriores.
Dessa forma, ainda que muito significativos os resultados da dummy com IDH maior
que 0,5, os resultados apresentados nos testes de robustez indicam uma maior prudência na
29
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13) (14) (15) (16)
Constante (α0) 13.24 12.76 17.63 12.54 10.96 10.43 13.53 10.44 35.11 34.67 27.39 35.24 21.19 23.08 21.50 23.55
(1.1) (1.13) (1.69) (36.34) (0.78) (0.98) (1.64) (0.94) (5.73) (4.99) (5.87) (5.06) (2.78) (2.48) (3.32) (2.52)
*** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** ***
Dummy (IDH>0.4) -10.44 -10.92 -9.30 -10.41 -18.29 -20.31 -13.34 -19.67
(1.22) (1.13) (1.17) (1.22) (6.22) (5.44) (6.18) (5.51)
*** *** *** *** *** *** ** ***
Dummy (IDH>0.6) -9.43 -9.12 -7.28 -9.37 -6.90 -9.31 -7.15 -9.58
(0.96) (0.92) (1.01) (0.97) (5.1) (4.53) (4.9) (4.62)
*** *** *** *** ** **
Abertura Comercial 0.008 0.003 0.015 0.014
(0.009) (0.009) (0.008) (0.008)
* *
Instiuições Públicas -1.61 -1.21 -0.40 -0.28
(0.41) (0.45) (0.5) (0.54)
*** ***
Cresc. % do PIB (1993-1997) 0.18 0.13 -0.08 -0.11
(0.14) (0.13) (0.09) (0.1)
IDH 1995 (divulgado em 1998) -68.32 -69.69 -42.69 -67.94 -25.03 -33.47 -26.96 -31.00
(17.64) (15.37) (17.3) (15.57) (6.56) (6.05) (6.64) (6)
*** *** ** *** *** *** *** ***
IDH 1995 * Dummy (IDH>0.4) 49.75 52.37 29.18 51.14
(17.92) (15.61) (17.7) (15.83)
*** *** ***
IDH 1995 * Dummy (IDH>0.6) 9.30 16.77 12.42 16.11
(8.39) (7.55) (8.52) (7.62)
** **
R-quadrado Ajustado 0.294 0.357 0.465 0.334 0.354 0.369 0.429 0.352 0.447 0.521 0.544 0.510 0.426 0.493 0.525 0.485
Número de Observações 174 170 116 168 174 170 116 168 174 170 116 168 174 170 116 168
Dummy IDH > 0.4 Dummy IDH > 0.6
Linear com IDH e Dummy
Nota: Os valores entre os parêntesis representam o desvio-padrão do parâmetro calculado (α(j)). *** significante com 1%; ** significante com 5%; e significante com 10%
Dummy IDH > 0.6
Tabela 8 - Teste de Robustez - Primeiro estágio de Mínimos Quadrados - Impacto sobre a Média de Ajuda (% do PNB) nos cinco anos posteriores a divulgação do IDH (1999-2003) com outras dummies
Impacto da Dummy isolada
4 CONCLUSÃO
Os resultados apresentados neste trabalho indicam que o valor do Índice de
Desenvolvimento Humano calculado pela ONU está, como era de se esperar, negativamente
correlacionado com o influxo de ajuda externa para os países, nações com piores níveis de
desenvolvimento humano recebem maior atenção dos doadores. Além disso, a medida
qualitativa divulgada pela ONU, no limítrofe entre baixo e médio desenvolvimento humano,
apresenta impacto significativo na alocação de ajuda dos países – países classificados como
de baixo de desenvolvimento recebem parcelas maiores de ajuda em relação a países similares
com classificação de médio desenvolvimento humano – o que pode significar uma distorção
nas alocações dos doadores, uma vez que a métrica quantitativa incorpora todas as
informações da classificação qualitativa. Este resultado deve ser analisado com algum
cuidado tendo em vista que foram encontradas relações significativas, embora não em mesma
medida, com outras faixas.
Variáveis como a percepção sobre as instituições públicas, crescimento econômico
médio do período anterior e abertura comercial não apresentaram relevância na tomada
decisão acerca da alocação de ajuda, uma vez que apenas a abertura comercial mostrou
parâmetro positivo e significante estatisticamente, porém com intervalo de confiança a dez
por cento.
Na avaliação dos impactos do valor do IDH no crescimento econômico e sua
volatilidade, obteve-se correlação negativa entre o Índice divulgado em 1998 (referente a
1995) e crescimento econômico médio tanto nos cinco anos como nos dez anos posteriores
(1999 a 2003 e 1999 a 2008 respectivamente), indicando que os países com melhor
desenvolvimento humano no período cresceram de forma mais lenta. Tal resultado se deve, ao
menos parcialmente, aos países sul-americanos, que se situam na faixa de IDH acima de 0,5 e
apresentaram crescimento econômico abaixo do restante do mundo no período,
principalmente entre 1999 e 2003. Em relação à volatilidade do crescimento econômico, não
houve evidências de impactos causados pelo IDH com a volatilidade de crescimento tanto
para o médio, quanto para o longo prazo.
Já o montante relativo de ajuda externa apresentou impactos negativos na média do
crescimento econômico apresentado pelos países recebedores de recursos. Conforme visto,
longo prazo. Estes resultados indicam que o direcionamento da ajuda recebida nestas
economias pode não ter sido o melhor possível para essas nações - possivelmente com
aumento de importações ou má utilização dos recursos por parte da máquina pública. Além
disso, houve também um aumento de volatilidade do crescimento de médio prazo nestas
nações, denotando a baixa eficácia da entrada desses recursos neste período em busca de uma
maior estabilidade econômica.
Adicionalmente, é possível inferir que países que exploraram mais o comércio
internacional apresentaram maior crescimento econômico, enquanto as instituições públicas
tiveram impactos benéficos de menor volatilidade.
Uma vez que o período de análise deste estudo limitou-se aos dados de IDH
divulgados pela ONU em 1998, essa amostra restrita de tempo pode representar desvio de
trajetória do índice. Dessa maneira, potenciais extensões deste estudo poderiam ampliar o
período de tempo dos dados de IDH a serem estudados, levando em consideração que as
informações do índice a se considerar devem ser aquelas divulgadas pelos relatórios na época
exata da publicação e não os valores recalculados por revisões e novas metodologias. Vale
ressaltar que o período sob análise das variáveis de crescimento econômico, abertura
comercial e instituições públicas também apresentam choques exógenos devido a momentos
de crise nos países da América do Sul e instabilidade econômica na Ásia. Sendo assim, a
utilização de um período maior para uma análise mais ampla dos efeitos verificados neste
trabalho pode contribuir significativamente para o entendimento das evidências indicadas
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APÊNDICE – METODOLOGIA DE CÁLCULO E DIVULGAÇÃO DO IDH
Medida Contínua do IDH
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o ano de 1995 foi inicialmente
divulgado em 1998 no Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. O índice é
uma medida continua com valor mínimo de 0 e valor máximo de 1, calculado por meio de
média algébrica de três índices, conforme abaixo:
Sendo que:
- Índice de expectativa de vida do país (Life Index)
- Índice de educação do país (Education Index)
- Índice de bem-estar do país (Income Index)
Todos os três índices são calculados por uma fórmula geral:
Í
- Valor da variável de acordo com cada índice
- Valor mínimo determinado para a variável do índice
– Valor máximo determinado para a variável do índice
No caso do índice de expectativa de vida (IL), ; e
í
O componente educacional (IE) é composto por dois índices. O primeiro deles, com
peso de dois terços, é o percentual de adultos alfabetizados no país (IA). O segundo com peso