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Serviço Social Audit Saúde no SUS/RN: projeto ético político profissional e de reforma sanitária

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MESTRADO

SERVIÇO SOCIAL AUDIT SAÚDE NO SUS/RN: PROJETO ÉTICO POLÍTICO

PROFISSIONAL E DE REFORMA SANITÁRIA

Aparecida Dantas de Almeida Medeiros

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MESTRADO

SERVIÇO SOCIAL AUDIT SAÚDE NO SUS/RN: PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL E DE REFORMA SANITÁRIA

Aparecida Dantas de Almeida Medeiros

Trabalho de dissertação apresentado pela Assistente Social Aparecida Dantas de Almeida Medeiros como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre em Serviço Social, no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Profª Drª. Márcia Maria de Sá Rocha

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FICHA CATALOGRÁFICA

Aparecida Dantas de Almeida Medeiros

Serviço Social Audit Saúde no SUS/RN: projeto ético político profissional e de reforma sanitária/ Aparecida Dantas de Almeida Medeiros – Natal/RN.115 fls 2011-10-23

115fls.

Dissertação de Pós Graduação Stricto Sensu em Serviço Social – Programa de Pós Graduação do Departamento de Serviço Social – Universidade Federa do Rio Grande do Norte – UFRN/ Natal/RN , 2011.

Orientador (a): Profª Drª Márcia Maria de Sá Rocha UFRN

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte.

MEDEIROS, A.D.A. Serviço Social Audit Saúde no SUS/RN: projeto ético político profissional e de reforma sanitária. 2011. 115 fls. Dissertação – Universidade

Federal do Rio Norte – UFRN/ Natal/RN

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Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem arbitrariamente, nas condições escolhidas por eles, mas nas condições diretamente herdadas do passado.

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AGRADECIMENTOS

O percurso foi longo e doloroso!

Muitas pessoas me ajudaram de diferentes maneiras. Foram tantas... Que seria humanamente impossível citá-las todas.

Mas algumas, devo lembrar com imensa gratidão. A Deus, que traçou meus caminhos até chegar aqui... Aos meus lindos filhos: Anne, Hércules e Maria Carolina, Pela bem-humorada e compreensão das minhas ausências.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS...10

LISTA DE QUADROS ...13

LISTA DE FLUXOGRAMAS...14

RESUMO...15

ABSTRACT...16

INTRODUÇÃO...17

2 O IMPÉRIO DO CAPITAL NA POLÍTICA NEOLIBERAL DO ESTADO...24

2.1 AS TRANSFORMAÇÕES NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E AS TENDÊNCIAS PÓS- MODERNAS...24

2.2 A CONFORMAÇÃO DO ESTADO NO CONTEXTO DA CRISE DO CAPITAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL...28

2.3 ESTADO E SERVIÇO SOCIAL: UMA HISTÓRIA DE LUTAS PELA MATERIALIZAÇÃO DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL...39

3 POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL: HISTÓRIA E HERANÇA DO CAPITALISMO TARDIO...46

3.1 O MOVIMENTO DE REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA E A APROPRIAÇÃO MARXISTA: CONSCIÊNCIA REVOLUCIONÁRIA E RESISTÊNCIA POLÍTICA AO PROJETO PRIVATISTA...46

3.2 AS INVESTIDAS DO ESTADO BURGUÊS EM DERRUIR O SUS: ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO...53

3.3 O GOLPE DO FUNDO PÚBLICO: PROJETOS EM DISPUTA PELA APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS...59

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4 SERVIÇO SOCIAL E AUDITORIAS PÚBLICAS DO SUS: PARA ALÉM DA

DIMENSÃO BUROCRÁTICA...74

4.1 AUDITORIAS PÚBLICAS DE SAÚDE – SUS: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL...74

4.2 AUDITORIAS DO SUS ENQUANTO ESPAÇO SÓCIO OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO RN: DEMANDAS E DESAFIOS...85

4.3 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS AUDITORIAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO RN: POSTURA CRÍTICA COMO PRESSUPOSTO DA DEMOCRACIA...93

CONSIDERAÇÕES FINAIS...98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...101

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social AIH – Autorização de Internação Hospitalar

AIS – Assistência Integral à Saúde

APACs – Autorização de Procedimentos Ambulatoriais de Alta Complexidade Audit – Auditoria

BIRD – Banco Internacional de Desenvolvimento

CSLL – Contribuição sobre o Lucro de Pessoas Jurídicas CEAD – Curso de Educação à Distância

CEO – Centro de Especialidades Odontológicas CF – Constituição Federal

CFC – Conselho Federal de Contabilidade CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CIB – Comissão Intergestora Bipartite

CIT – Comissão Intergestora Tripartite CLT – Código de Leis Trabalhistas CNS – Conselho Nacional de Saúde

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde

COSEMS – Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

DENASUS – Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde DESSO – Departamento de Serviço Social

DF – Distrito Federal

DRU – Desvinculação de Receita da União EAD – Educação à Distância

EC – Emenda Constitucional

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FCM – Faculdade de Ciências Médicas

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FHC – Fernando Henrique Cardoso

FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz FMI – Fundo Monetário Internacional FNS – Fundo Nacional de Saúde FSE – Fundo Nacional de Emergência

GAHP – Grupo de Auditoria dos Hospitais Psiquiátricos GIH – Guia de Internação Hospitalar

GM – Gabinete do Ministro

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social INCA – Instituto Nacional do Câncer

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LOS – Lei Orgânica da Saúde

MARE – Ministério da Administração e da Reforma do Estado MS – Ministério da Saúde

MST – Movimento Sem Terra

NOBSUS – Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde OMC – Organização Mundial do Comércio

ONGs – Organizações Não Governamentais

OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público PACs – Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PAS – Plano Anual de Saúde

PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidos Público PDI – Plano Diretor de Investimentos

PDR – Plano Diretor Regional PE – Pernambuco

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PIS – Programa de Integração Social PMS – Plano Municipal de Saúde PPA – Plano Plurianual

PPGSS – Programa de Pós Graduação em Serviço Social PPI – Programação Pactuada Integrada

PROUNI – Programa Universitário PUC – Pontifícia Universidade Católica RAG – Relatório Anual de Gestão REUNI – Reestruturação Universitária RN – Rio Grande do Norte

SAC-SUS – Serviço de Atendimento ao Cidadão usuário do SUS SAMU – Serviço de Atendimento Médico de Urgência

SEA – Sistema Estadual de Auditoria

SESAP – Secretaria Estadual de Saúde Pública SNA – Sistema Nacional de Auditoria

SUDS – Sistema Unificado da Saúde SUS – Sistema Único da Saúde

TCG – Termo de Compromisso de Gestão

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNB – Universidade de Brasília

UNICAMP – Universidade de Campinas UPAs – Unidades de Pronto Atendimento

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE FLUXOGRAMAS

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RESUMO

MEDEIROS, A.D.A. Serviço Social Audit Saúde no SUS RN: projeto ético político profissional e de reforma sanitária. 2011. 115 fls. Dissertação de Mestrado (PPGSS/DESSO/UFRN) 2011.

Nas políticas de saúde do Brasil, o processo de descentralização das responsabilidades da gestão do SUS para as três esferas de governo tem impulsionado a criação e regulamentação das auditorias em serviços de saúde no Sistema Nacional de Auditoria. Isso constitui uma tendência da política neoliberal imposta pelos organismos internacionais como Banco Mundial e FMI aos países periféricos caracterizado pela reestruturação produtiva e a reforma do Estado que incide na presença de dois projetos em disputa na área da saúde: o Projeto de Reforma Sanitária que tem como base o Estado Democrático de Direito com a premissa da saúde enquanto direito social e dever do Estado, na defesa da ampliação da conquista dos direitos e democratização do acesso aos serviços de saúde, garantido através das estratégias de financiamento público efetivo e da descentralização das decisões perpassadas pelo controle social; e o Projeto Privatista de Saúde que tem por base o Estado mínimo, com diminuição dos gastos sociais ou através de parcerias e privatizações, fortalecimento do terceiro setor, condicionado aos interesses capitalistas, efetiva-se através das estratégias de focalização das políticas de saúde e a re-filantropização das ações. Nesse contexto, o presente estudo consiste numa análise sobre o trabalho do assistente social nas auditorias públicas de saúde no RN a partir de uma abordagem quali-quantitativa, consubstanciada pelo método crítico dialético da teoria social marxista que nos permitiu desvelar a caracterização, as demandas, os desafios e traçar o perfil profissional do assistente social inserido nas equipes de auditorias do SUS no RN, como também forneceu elementos para demonstrar as perspectivas e possibilidades dessa área de atuação do assistente social. Constatou-se também que é através dos trabalhos de auditoria que o Estado cumpre seu papel burocrático e regulador dos serviços de saúde com eficácia, eficiência e economicidade. No entanto, paradoxalmente, as auditorias do SUS podem representar um instrumento de efetivação de direitos e garantia dos princípios fundamentais contidos no projeto de reforma sanitária, pois tanto pode se configurar num espaço de lutas políticas quanto representa um novo campo de produção de conhecimento que precisa ser apropriado por um referencial teórico crítico capaz de redirecionar os interesses sociais em favor do usuário. Nessa perspectiva, conclui-se também que o trabalho do assistente social nas auditorias públicas de saúde no RN apesar da relevância social que imprime, por se constituir uma atividade de estudo da realidade e proposição de sua transformação, requer uma ação política transformadora pautada no debate teórico marxista que sustenta o projeto ético político profissional do Serviço Social.

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ABSTRACT

MEDEIROS, A.D.A. Social Audit in Health SUS/RN: ethical project professional politician and health reform. 2011. 115 fls. Dissertation (PPGSS / DESSO / UFRN) 2011. Health policies in Brazil, the decentralization of SUS management responsibilities for the three spheres of government has driven the creation and regulation of the audits of health services in the National Audit Office, this is a trend of neoliberal policies imposed by international bodies like the World Bank and IMF to peripheral countries characterized by productive restructuring and reforming the state focuses on the presence of two competing projects in the area of health: Health Sector Reform Project which is based on the democratic rule of law with the assumption of health as social right and duty of the State in defending the extension of the conquest of rights and democratization of access to health care guaranteed through the public financing strategies and the effective decentralization of decisions pervaded by social control and privatized Health Project which is based on the state minimum, with a reduction in social spending or in partnerships and privatization, stronger nonprofit sector, subject to capitalist interests, is made effective through strategies targeting health policy and re-filantropização actions. In this context, the present study is an analysis on the work of social audits of public health in infants from a qualitative and quantitative approach, embodied by the critical method of dialectical Marxist social theory that enabled us to unveil the characterization, the demands, challenges and outline the profile of Social Work in teams inserted audits of SUS in RN, but also provided evidence to demonstrate the prospects and possibilities of this area of activity of social workers. It was also found that through the audit work that the state fulfill its role as bureaucratic and regulator of health services with efficiency, effectiveness and economy. Yet, paradoxically, the audits of SUS may provide a vehicle for enforcing rights and ensuring the fundamental principles contained in the project of health reform, because it can be configured in a space of political struggle as representing a new field of knowledge production that needs to be appropriate for a theoretical critic able to redirect the social interests in favor of the user. From this perspective, it is concluded that the work of social audits of public health in infants despite the social relevance that prints, as they constitute an activity study of reality and its transformation proposition requires a transformative political action guided the discussion Marxist theory holds that the ethical project professional

politician of Social Work.

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INTRODUÇÃO

O objeto desta pesquisa é o trabalho do assistente social nas atividades de auditorias do SUS no RN, e o interesse em realizar um estudo sobre essa temática surgiu durante a participação como discente num curso de pós graduação lato sensu no ano de 2007 intitulado Auditoria em Serviços de Saúde, do qual também participavam profissionais de diversas áreas como: médicos; contadores; farmacêuticos; nutricionistas; enfermeiros; pedagogos; psicólogos; administradores e outros assistentes sociais. A explícita dificuldade dos docentes e discentes desse curso em caracterizar as atribuições específicas do assistente social na equipe de auditoria em serviços de saúde e o escasso referencial teórico sobre a temática engessava o aprofundamento das discussões naquele momento.

A crescente participação dos assistentes sociais nos trabalhos de auditorias públicas dos SUS nos remeteu a necessidade de tentar desvelar: qual é o trabalho do assistente social nas equipes de auditorias em serviços de saúde no RN? Qual é o perfil profissional dos assistentes sociais que atuam nessa área? Quais são as demandas postas aos assistentes sociais na auditoria?

As respostas a esses questionamentos subsidiarão a produção de conhecimentos científicos capazes de conduzir uma reflexão teórica e critica sobre como a auditoria em serviços de saúde, enquanto espaço sócio ocupacional do Serviço Social vem contribuindo para a materialização dos projetos ético político da profissão e de reforma sanitária? E ainda, se a atuação do assistente social nesse campo de trabalho aumenta a possibilidade de destinação dos recursos do Fundo Público para a efetivação dos direitos sociais enquanto políticas públicas não mercantilizadas?

Nessa perspectiva o trabalho: “SERVIÇO SOCIAL AUDIT1 SAÚDE NO SUS/RN:

PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL E DE REFORMA SANITÁRIA2”

contribuiu para construção dialética de um marco referencial que aprofunda a discussão sobre o papel e a importância do assistente social nas equipes de auditorias em

1O conceito de Auditoria (audit) foi proposto por Lambeck (1956) que tinha como premissa a “avaliação

da qualidade da atenção com base na observação direta, registro e história clínica do cliente.”

2 Movimento que representou a luta pela democratização da saúde, num contexto de repressão e

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serviços de saúde na pós-modernidade enquanto profissional mediador da efetivação das políticas públicas e da ampliação e garantia de direitos.

Por isso, o presente estudo tem significado relevante para o Serviço Social, tendo em vista que diante da intensificação da proposta neoliberal de reforma estrutural do Estado numa perspectiva reguladora, condicionada à lógica do mercado capitalista, o Brasil vem favorecendo a valorização e internacionalização do capital financeiro em detrimento do capital produtivo. Isso acarreta, pois, a precarização das relações sociais de trabalho, um grave quadro de degradação social, a redução dos investimentos do Estado para o setor público, impondo a lógica privatista, a desarticulação dos movimentos sociais e consequentemente o aprofundamento das expressões da Questão Social.

Nesse sentido, as políticas sociais, em especial a política de saúde, também vêm sendo tensionada por dois projetos em disputa: o Projeto de Reforma Sanitária que tem como base o Estado Democrático de Direito com a premissa da saúde enquanto direito social e dever do Estado, na defesa da ampliação da conquista dos direitos e democratização do acesso aos serviços de saúde, garantido através das estratégias de financiamento público efetivo e da descentralização das decisões perpassadas pelo controle social; e o Projeto Privatista de Saúde que tem por base o Estado mínimo, com diminuição dos gastos sociais ou através de parcerias e privatizações, fortalecimento do terceiro setor, condicionado aos interesses capitalistas, se efetiva através das estratégias de focalização das Políticas de Saúde e a re-filantropização das ações.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, as ações e serviços de saúde são de responsabilidade das três esferas do governo (federal, estadual e municipal) sendo que a principal estratégia de descentralização adotada pelo SUS é a municipalização da saúde, na qual o município assume a totalidade da gestão, através da implantação, estruturação e funcionamento dos serviços de auditoria (Lei Federal n⁰ 8.689/93 e Decreto n⁰1.651/95) enquanto parte dos instrumentos de controle público.

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de conhecimento, por conseguinte, distante do projeto ético político profissional do Serviço Social remete a necessidade da construção do conhecimento nesse campo de trabalho.

Estando a auditoria presente nas dimensões da ação profissional do assistente social enquanto instrumentos de avaliação e assessoramento da aplicação dos recursos públicos e da qualidade3 dos serviços no campo da saúde, preservando o adequado cumprimento legal dos parâmetros regulamentares do SUS e legislações vigentes. Assim, esse estudo aponta como objetivo geral analisar o trabalho do assistente social nas Auditorias Públicas de Saúde no Rio Grande do Norte na perspectiva do projeto ético político profissional e do projeto de Reforma Sanitária, com objetos específicos de caracterizar o trabalho do assistente social nas equipes de Auditoria em Serviços de Saúde no RN; traçar o perfil profissional dos assistentes sociais que trabalham nas equipes de Auditorias Públicas da Saúde no RN e identificar os desafios, as possibilidades de atuação e respostas do assistente social nas Auditorias Públicas de Saúde face ao redimensionamento dos espaços ocupacionais e suas demandas no contexto neoliberal. E ainda, analisar em que medida os mecanismos internos de controle do Estado, nesse caso, as auditorias em serviços de saúde, podem contribuir para a ampliação e garantia de direitos sociais enquanto instrumento de controle democrático.

Por se tratar de uma pesquisa de natureza aplicada, possibilitou o desenvolvimento de uma reflexão sistemática e crítica sobre a dupla direção dos instrumentos de controle público do Estado, as auditorias públicas em serviços de saúde do SUS inseridas nesse contexto de disputas entre o projeto privatista e os projetos societários pela apropriação do fundo público, e como as auditorias do SUS podem contribuir para a ampliação e garantia de direitos sociais, enquanto mecanismo de avaliação da execução dos recursos do Fundo Público direcionados à operacionalização das políticas sociais, assim como as possibilidades de atuação do

3 Baseado nos Princípios Fundamentais da Resolução CFESS nº 290 e 293/94 do Código de Ética

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assistente social nesse campo de trabalho para materialização do projeto profissional ético político e o projeto de reforma sanitária.

Para isso utilizou o método científico dialético, a teoria do valor do trabalho e a perspectiva revolucionária como referencial teórico para realização do trabalho de pesquisa, tendo em vista que segundo NETTO (CFESS/ABEPSS, 2009, p 673) “A teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa.” Ou seja, a relação ativa: sujeito/objeto é a ultrapassagem da aparência para atingir a essência do objeto, que o sujeito reproduz no plano do pensamento, construindo assim o conhecimento teórico baseado na indissociabilidade entre elaboração teórica e formulações metodológicas presente no método em Marx que reafirma a perspectiva de totalidade, mediação e contradição contidas na teoria social.

Contudo, para se chegar a uma elaboração teórica científica, o sujeito precisa se aproximar; apoderar-se do objeto e suas múltiplas determinações que constituem o concreto real, partindo da utilização das técnicas de pesquisa.

Por isso, a pesquisa SERVIÇO SOCIAL AUDIT SAÚDE NO SUS/RN: PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL E DE REFORMA SANITÁRIA foi realizada na SESAP (Secretaria Estadual de Saúde Pública), especificamente no SEA (Sistema Estadual de Auditoria) e em algumas Auditorias Municipais de Saúde, especificamente em Natal e Caicó, municípios de grande porte. A primeira cidade é a capital do estado do RN e Caicó que fica situada no Seridó, interior do Rio Grande do Norte. Foram realizadas através do seguinte conjunto de princípios metodológicos: levantamento bibliográfico; estudo exploratório; observação sistemática; diário de campo; análise documental; entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo.

O levantamento bibliográfico esteve presente em todas as etapas do trabalho, objetivando deter informações científicas, documentais e eletrônicas relacionadas ao objeto pesquisado. O estudo exploratório foi de fundamental importância no planejamento de todas as fases da pesquisa, permitindo ao pesquisador um primeiro contato com o universo pesquisado e a construção do conhecimento científico, visto que existe a necessidade de “alargar e precisar os horizontes de leitura, tomar consciência das dimensões e dos aspectos de um dado problema (...)” 4. A observação

4

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sistemática, ou seja, planejada foi realizada em condições controladas para se responder aos propósitos, que foram anteriormente definidos. É considerada, portanto, ponto de partida para todo estudo científico e abrange de uma forma ou de outra, todos os procedimentos utilizados na pesquisa. RUDIO (1982. p 33) defende ainda que “No sentido mais simples, observar é aplicar os sentidos a fim de obter uma determinada informação sobre algum aspecto da realidade” e acrescenta que é fundamental limitar e definir com precisão o que se deseja observar. O diário de campo nos forneceu elementos importantes para reflexões críticas tanto do universo pesquisado, quanto das técnicas de pesquisa que foram utilizadas. Já na etapa de análise documental foi de suma importância o acesso aos documentos específicos do objeto de pesquisa, relatórios, Leis, Regulamentações, Orçamentos, Políticas etc. A realização das entrevistas com as assistentes sociais integrantes das equipes de auditorias públicas em saúde do Estado, selecionadas por amostragem não probabilística e tipificada, escolhidas intencionalmente. A entrevista de forma despadronizada e semi estruturada, com margens livres para coletar, de forma eficiente as informações importantes das experiências do cotidiano do trabalho profissional, possibilitando-nos a construção conhecimentos ainda não encontradas em fontes literárias. E por fim a análise dos dados, seguindo a lógica dialética da pesquisa, deu-se qualitativa e quantitativamente, reunindo resultados das aplicações dos instrumentos metodológicos, interpretados reflexivamente de acordo com a perspectiva teórica crítica marxista, respondendo ao problema da pesquisa.

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Serviço Social, desde sua gênese até a ruptura com o pensamento conservador no lastro da Igreja Católica e a consequente aproximação com a tradição social marxista, fundamento para a análise dos dilemas enfrentados no cerne da sociedade contemporânea, dentre os quais: a precarização da formação profissional determinante no processo de despolitização da categoria, do enfraquecimento das lutas contra o capital e a materialização do projeto ético político profissional de resistência a ordem hegemônica na sociedade burguesa.

O terceiro capítulo direciona o estudo para a Política de Saúde no Brasil, sua contextualização histórica e a presente herança do modelo econômico capitalista da época da ditadura militar. Aponta para a existência do embate de dois projetos distintos tencionando as políticas de saúde: um projeto médico assistencial privatista que impõe os interesses da classe burguesa e do capital em favor da mercantilização e privatização dos serviços de saúde, e o outro, o projeto de reforma sanitária, o SUS Constitucional, que prevê a “saúde como um direito de todos e dever do Estado”. Nessa perspectiva, o presente capítulo dá conta de uma breve discussão sobre o Fundo Público da Seguridade Social, enquanto objeto de disputa política da classe burguesa no interior do Estado Neoliberal, que produz o desfinanciamento das políticas públicas sociais e o consequente agravamento da Questão Social, o que exige dos assistentes sociais a necessidade de apropriação crítica do orçamento público. Nesse capítulo, defendemos a necessidade de recolocação do marxismo no âmbito da saúde, do fortalecimento dos mecanismos de controle democráticos, com a efetiva participação social no sentido de anular as investidas do poder do capital, através do Estado, em derruir o SUS.

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social nesse emergente espaço sócio ocupacional de atuação, seu perfil profissional, identificar demandas e desafios encontrados por esses profissionais nas atividades de auditorias, assim como analisar, diante das respostas dadas pelos assistentes sociais dessa área da saúde, sua postura crítica face ao contexto neoliberal.

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2 O IMPÉRIO DO CAPITAL NA POLÍTICA NEOLIBERAL DO ESTADO

2.1 AS TRANSFOMAÇÕES NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E AS TENDENCIAS PÓS MODERNAS

Durante a transição do século XX ao século XXI, o capitalismo financeiro dominou as esferas da vida social, afirmando-se como sistema hegemônico globalizado do pós-modernismo5, na qual através da ideologia neoliberal representa a superestrutura ideológica da contrarreforma.

No século XXI, os padrões econômicos e a reestruturação do capital impõem a socialização de valores e comportamentos de reprodução social. Ocorre a criação de novas formas de organização do trabalho e do capital, do modo de produção fordista para a acumulação flexível6, paralelo à implementação de novos pactos e consensos entre capitalistas e trabalhadores “(...) já que o controle do capital não incide somente na extração da mais-valia, mas ainda no consentimento e na adesão das classes à nova ideologia”. (SIMIONATTO, CFESS/ABEPSS 2009. p 94.)

Os avanços tecnológicos nos sistemas de comunicação na pós-modernidade contribuíram para a disseminação do conhecimento, o intercâmbio cultural e principalmente para a expansão das formas de alienação e ampliação do poder dos grupos manipuladores de informação e do capital. Essa expansão das redes de comunicação impregna na sociedade também uma cultura ideológica consumista e descartável, adequada à manutenção da racionalidade capitalista.

O neoliberalismo7 da pós-modernidade centraliza-se em ajuste econômicos, privatizações, supremacia do mercado e principalmente na construção do consenso sobre a ineficiência da gestão pública, da descentralização, da debilidade das instituições públicas e da negação das decisões políticas na regulação do mercado.

5

Ver a Condição pós moderna de David Harvey.

6 Momento de profundas transformações no mundo do trabalho propiciadas pela automação, a robótica e a

microeletrônica nas formas de produção do capital e a fexibilização dos processos de trabalho e dos direitos trabalhistas e sociais.

7Doutrina política- econômica que representa uma tentativa de adaptar os princípios do liberalismo econômico às

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A classe dominante, na tentativa de eliminar os interesses antagônicos, dissemina a ideia abstrata de que a crise é global e transclassista, desarticulando politicamente as classes subalternas.

As mudanças societárias são resultados das constantes transformações no modo de produção capitalista, historicamente marcadas por períodos de crise. Especificamente, desde os anos 70 do séc. XX instalou-se uma crise no sistema capitalista do modelo político neoliberal baseado na acumulação e reprodução social.

Como estratégia de enfrentamento da atual crise, o capital precisou reorganizar-se na utilização de mecanismos que garantam sua hegemonia política e econômica. A mundialização financeira, a reestruturação produtiva, as novas formas da gestão do trabalho, compuseram as estratégias de manutenção da hegemonia do grande capital, implicando significativamente o processo de exploração/alienação da classe trabalhadora, sua desarticulação e organização política. A reorganização do modo de produção capitalista, essencial para otimizar o aumento da produtividade e a redução dos custos com a produção, torna-se imprescindível para o processo de acumulação do capital.

Por outro lado, percebe-se, além da submissão e do enfraquecimento da organização política da classe trabalhadora, a agudização da pobreza e da diferença de classes e a acumulação das riquezas que são socialmente produzidas.

Sendo o Estado, a expressão da hegemonia do capital, acompanhando historicamente seu desenvolvimento, a expansão/estagnação desde seu surgimento, este precisou modificar-se para manter a hegemonia burguesa e o seu papel na reprodução social do trabalho e do capital, principalmente em tempos de crise. Segundo Saes (1998 p. 30) “(...) o Estado pode ser qualificado como burguês quando cria as condições ideológicas necessárias à reprodução das relações de produção capitalista.”

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Com isso, o Estado atua no sentido de redefinição dos seus mecanismos legais e institucionais de regulação, com objetivo de garantir a continuidade da acumulação capitalista, numa sociedade harmônica e pacificadora, instituem, assim, intervenções no sistema de proteção social, legislações trabalhistas e sindicais, articuladas à política econômica vigente.

Os modelos estruturais econômicos propostos pelo o Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional) e OMC (Organização Mundial do Comércio) aos países periféricos, interferem negativamente no desempenho das funções reguladoras do Estado sobre o capital, agudizando tendências antidemocráticas, tendo em vista que a hegemonia burguesa encontra-se no interior do Estado.

As contrarreformas neoliberais impostas à sociedade civil impactam negativamente no enfrentamento da Questão Social e comprometem a participação e organização política da classe trabalhadora, uma vez que a escassez de recursos e, conseqüentemente, o corte de gastos estatais com o social, na verdade, ocorre devido a um redimensionamento do fundo público para o pagamento do déficit público8. A renúncia fiscal, a reestruturação produtiva atinge a carga tributária, assim como o crescimento do mundo do trabalho informal e a proliferação das grandes indústrias dificulta a arrecadação das fontes da Seguridade Social. Aliado à inoperância do controle fiscal do Estado, esse prejuízo atinge prioritariamente as políticas sociais que, historicamente, no Brasil, apresentam caráter paternalista, focalizado e compensatório, e ainda, fortalece os processos de privatizações das estatais, a mercantilização dos serviços sociais e de infra-estrutura. Desconstroem direitos outrora conquistados, através de mobilizações sociais, desfinancia e desresponsabiliza o Estado para com a proteção social. Essa é a conjuntura atual e é nesse cenário que o Serviço Social deve trabalhar e responder as demandas que lhes são postas.

Para a autora Sara Graneman (CFESS/ABEPSS, 2009) a difusão do pensamento burguês da superação do trabalho enquanto instrumento político de lutas de classes e organização política, defendida inclusive por intelectuais em relatórios do Banco mundial, FMI e OMC, recomenda também a urgente reforma estrutural do

8Dívida do Estado contraída durante o período da Ditadura Militar, momento de abertura ao capital estrangeiro para

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Estado no que tange as políticas sociais, no sentido da redução dos direitos. Graneman também defende que existe uma diferença entre trabalho e emprego: a concepção de trabalho, enquanto fundador da sociabilidade humana implica o reconhecimento de que as relações sociais construídas pela humanidade, além da reprodução da vida, reproduzem os bens socialmente necessários para cada época.

(...) convertem a ação laborativa em atividade que produz uma sociedade alienada porque exercida com o fito da mercantilização, exclusivamente com o objetivo de auferir lucros para o capitalista e, por essa razão, no modo capitalista de reprodução impôs-se aos homens formas particular de efetivação do trabalho. (GRANEMAN, CFESS/ABEPSS, 2009, p. 226).

Nesse sentido, o homem diferencia-se dos outros seres pela capacidade de construir instrumentos de trabalho, planejar a execução de sua atividade e a transformação da matéria em outro objeto. O trabalho é o eixo fundamental da sociabilidade humana.

Já a concepção de emprego representa apenas postos de trabalho para o capital. Para Marx (1988, p. 187) “(...) o conjunto de faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda a vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie.”

O valor de cada mercadoria está relacionado ao desgaste da força humana, seja ela intelectual ou física, na dinâmica da produção capitalista. E assim, ao derruir a vida humana em mercadorias, edifica-se e fortalece a propriedade privada e o capital.

A sociedade capitalista, segundo os escritos de Marx, exige um processo de produção contínuo, sem interrupção. Produzir em larga escala, sempre novos produtos, criando novas necessidades de consumo, ou seja, produzir e reproduzir. Partindo desse pensamento, o processo imediato de reprodução do capital é a mais-valia, o tempo excedente do trabalho.

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Sendo assim, a reprodução das relações sociais do modo de produção capitalista fundada na mais-valia, na riqueza abstraída do trabalho não pago, torna-se imprescindível superar essa forma de sociabilidade, tendo como protagonista a própria classe operária, uma vez organizada.

Historicamente, as formas como se organiza a produção é determinada pelas relações sociais estabelecidas, fundadas nas desigualdades de classes desde a escravidão passando pelo feudalismo até o capitalismo. No entanto, nas formas de produção primitiva, a exploração estagnava no limite biológico do trabalhador, tendo em vista que o homem era um meio de produção. Já nas formas mais modernas de exploração esse fator não é considerado, pois o processo de automação substitui a força de trabalho humana.

Maria Augusta Tavares (CFESS/ABEPSS, 2009.) mostra que dependendo da orientação teórica, a análise da relação entre capital, trabalho e desigualdades sociais pode ser interpretada de diferentes formas. Seguindo a orientação da teoria marxista, cuja referência de análise é a totalidade e, contrapondo-se a pressuposição que as dificuldades sociais constituem-se fenômeno alheio ao capitalismo e sim decorrência do subdesenvolvimento. Tavares (CFESS/ABEPSS, 2009. p. 243) defende ainda que as desigualdades sociais são inerentes ao processo de acumulação capitalista “(...) acumulação e desigualdades são indissociáveis do desenvolvimento do capitalismo.”

A lógica da acumulação acontece no ciclo produção-circulação-consumo e a “(...) sociedade só se torna capitalista quando o capital domina a produção, ou seja, quando a força de trabalho torna-se mercadoria e o assalariamento passa a ser à base desta sociedade.” (TAVARES, CFESS/ABEPSS, 2009. p. 245).

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2.2 A CONFORMAÇÃO DO ESTADO NO CONTEXTO DA CRISE DO CAPITAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL

Instituído nos séculos XVII e XVIII pela burguesia, essa relação entre Estado e sociedade transformou-se em dominação através de aparatos burocráticos, legais, policiais e ideológicos do Estado absolutista monárquico. Emerge nesse contexto, distintas instâncias públicas (estabelecidas por lei e mantidas pelo Estado) e privadas (particulares).

Para PEREIRA (2001) a reflexão sobre o Estado permite traçar três principais evidências:

(...) de que o Estado não é um fenômeno unívoco, isto é, igual ou idêntico em todos os momentos históricos (...) não é o criador da sociedade, mas ao contrário, é criatura desta (ou de frações desta), embora nas diferentes formas com que tem se apresentado (oligárquica, liberal, social democrata etc.) sempre procure impor-se à sociedade e dominá-la; (...) existem diferentes e competitivas doutrinas, teorias ou concepções sobre o Estado e suas relações com a sociedade (...) (PEREIRA, 2001, p 25-26)

Fruto dos movimentos democráticos, os direitos civis, surgem como primeira categoria de direitos de cidadania que tinha por finalidade impor limite ao domínio do Estado, detentor de privilégios e repressor da liberdade individual. Segundo Potyara (CFESS/ABEPSS, 2009), ainda no século XVIII, o liberalismo clássico burguês inicia um processo de negação de qualquer interferência do Estado nos assuntos privados, no mercado.

No fim do século XIX, com o desenvolvimento do capitalismo, a socialização política na sociedade, o aumento das funções do Estado, surgem as liberdades positivas: a participação social com vistas ao controle social do Estado (liberdade, igualdade, equidade, e justiça social). Tais transformações incorreram na conquista democrática de direitos civis, políticos e sociais, mediados por políticas públicas a partir do século XX.

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políticas públicas requerem esferas públicas, “espaço de todos” 9 constituídos social e historicamente na relação Estado e sociedade.

Segundo a autora, existe uma complexidade de conceitos e definições sobre Estado, porém, é considerado um fenômeno com processo histórico e índole relacional10, servindo a uma única classe, a burguesa.

Na análise de IANNI (1986), o Estado é dotado de poder coercitivo e, quando pressionado e controlado pela sociedade tem o poder de realizar ações protetoras. Pois está vinculado à sociedade, apesar de ser um forte instrumento da classe dominante, ou seja, constituída por interesses e objetivos diversos, e ainda, sem neutralidade.

Nesse sentido, o Estado configura uma relação de dominação que exige o controle da sociedade.

(...) tanto o Estado como a sociedade são partes constitutivas e integrais de um todo contraditório que se publiciza à medida que se torna permeável aos conflitos e às diferenças, assim como à definição negociada de políticas públicas, isto é, de todos. (PEREIRA, CFESS/ABEPSS, 2009. p. 292).

Segundo Behring (CFESS/ABEPSS, 2009) do ponto de vista da totalidade, a política social é o resultado de contradições estruturais: lutas de classes e processo de valorização do capital, ou seja, configura-se como mediação entre economia e política.

As abordagens unilaterais, monocausais, idealistas, funcionalistas e a - históricas de políticas sociais, tendem a despolitização da “questão social”, levando-a para uma dimensão instrumental e técnica, vazias de tensões políticas e societárias. Para Behring (CFESS/ABEPSS, 2009) a análise das políticas sociais exige reconhecê-las como resultado de relações complexas e contraditórias entre o Estado e a sociedade civil.

Levando em consideração o pensamento de Marx (1988) que mostra que a mais-valia e a busca por lucros movem a dinâmica do capital, realizado na circulação das mercadorias, vem acompanhando as particularidades do modo de produção de cada época. Como o modo de produção e reprodução do capitalismo é caracterizado por períodos cíclicos de expansão e estagnação, o surgimento das políticas sociais vem à

9Termo utilizado pela autora Potyara para referir-se à Política Pública enquanto “de todos para todos” com o Estado

atendendo a demanda e as necessidades sociais e a sociedade no controle social democrático.

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esteira do contexto de acumulação capitalista e lutas de classes, a partir de ação do Estado, keynesianismo.

Na verdade, a implementação de sistemas nacionais de seguridade representa um empréstimo dos trabalhadores ao Estado em forma de poupança, para que este aplique em medidas anti crises: FGTS, política habitacional, seguro desemprego etc. Contudo, essas medidas não são capazes de prevenir os efeitos cíclicos da crise do capital. “(...) do arsenal das técnicas keynesianas, a política social tem sido a menos solicitada, a depender das opções políticas, econômicas e sociais de cada governo (...)” (BEHRING, CFESS/ABEPSS, 2009. p. 315).

Nos países desenvolvidos da Europa, em especial Portugal, as políticas sociais estão muito aquém das demandas sócio econômicas de sua população. RAMOS (2003; p. 86) analisa que o Estado Providência é fraco11, pois esses serviços de proteção social vem sendo compensado pela sociedade providência.

Portugal tem uma longa tradição de existência de instituições filantrópicas, como é o caso das Misericórdias. Nessa linha, enquadram-se as Instituições Privadas de Solidariedade (IPSS) que estão orientadas para a satisfação das necessidades sociais e que, embora privadas, recebem financiamento do Estado. Quando se fala na importância da sociedade-providência, deve ter-se em consideração que esta não substitui o Estado Providência. Os serviços propiciados por uma ou por outro não são os mesmos, pois, enquanto a sociedade-providência se baseia em relações concretas e não gerais, o Estado Providência assenta nos direitos de todos os cidadãos. (RAMOS; 2003, p. 86)

Nos países subdesenvolvidos como o Brasil, isso corresponde ao que denominamos de terceiro setor. Muito embora Portugal e Brasil apresentem economias totalmente diferentes, é patente o avanço do capital sobre as políticas públicas, tanto em países subdesenvolvidos quanto em países desenvolvidos da Europa.

A ideia de saúde no Brasil contida na Constituição Federal de 1988 é resultado da proposta do projeto de reforma sanitária, tendo o SUS como estratégia, foi conquistada com lutas sociais pela afirmação dos direitos sociais e em favor da democratização da

11Termo utilizado por Maria da Conceição Pereira Ramos ao comparar a quantidade e a qualidade dos serviços de

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saúde. Tendo como base um Estado Democrático de Direito. “Saúde um direito de todos e dever do Estado”. (CONSTITUIÇAO FEDERAL 1988).

Desde meados dos anos setenta do século XX, a consolidação dos princípios contidos no Projeto de Reforma Sanitária apresenta desafios fundamentais mediante as constantes investidas da corrente neoconservadora em derruir o SUS Constitucional, tencionada pela contrarreforma do Estado.

A saúde faz parte da seguridade social num conjunto integrado de ações e iniciativas dos poderes públicos e da sociedade (art. nº 194 da Constituição Federal.), tem seu financiamento proveniente do pagamento de contribuições sociais (art. nº 195 da Constituição Federal) garantindo o direito de todos e dever do Estado, através de políticas sociais e econômicas (art. nº 196 da Constituição Federal). De relevância pública, as ações e serviços de saúde podem ser terceirizados por pessoas físicas, jurídicas ou de direito privado, cabendo ao Estado, dentro da lei, regulamentar, fiscalizar e controlar a execução dos serviços oferecidos à população (art. nº e 198 da C.F.).

A sangria de recursos do fundo público, a maior parte originada do suor dos trabalhadores brasileiros em função de uma estrutura tributária regressiva fundada nos impostos sobre o consumo, apesar de ser maior nas situações de crise aguda do capital, na verdade tem sido uma marca da política econômica brasileira desde a implantação do Plano Real até os dias de hoje, com forte impacto sobre a política social, em especial a seguridade social. A alimentação de mecanismos como a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e o superávit primário, direcionados para pagar juros, encargos e amortizações da dívida pública com recursos da seguridade social, vem levando ao desfinanciamento da saúde... (CARTA DE BRASÍLIA Aprovada na Plenária Final do 37º. Encontro Nacional CFESS/CRESS Brasília, 28 de setembro de 2008)

Concebido pela Constituição Federal de 1988, o SUS, em seu artigo nº 43 reforça a questão da gratuidade das ações e serviços de Saúde em instituições públicas e privadas contratadas, sendo estas últimas em caráter complementar. (artigo nº 24 da lei 8080/90 do SUS).

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minimiza os recursos orçamentários para o trato das demandas sociais e se desresponsabiliza da implementação e fortalecimento dos direitos conquistados pela classe trabalhadora.

Nesse sentido as políticas sociais, historicamente construídas, ainda apresentam caráter conservador, paternalista, compensatório e focalizado, sofrendo constantemente uma ofensiva neoliberal transformando-as em mercadorias e serviços privados, desregulamentando, desresponsabilizando e desfinanciando os direitos sociais contidos no tripé da seguridade social, para garantir os privilégios do capital, contidos no ajuste estrutural propostos pelo FMI e Banco Mundial às economias periféricas, como é o caso do Brasil. Vivenciamos um retrocesso histórico, inspirado num clientelismo pós- moderno ou neocorporativista.

(...) a conjunção de políticas seletivas e focalizadas para a “horda” - (...) processos de assistencialização das políticas sociais – (...) transformando em mercadorias determinados serviços (...) ênfase ainda maior nas Organizações Nãogovernamentais, não lucrativas, empresariais “responsáveis” e no voluntariado, todos situado no campo da sociedade civil, suposto território da virtude (...) num contraponto ao Estado ineficiente (...) (BEHRING, 2008. p. 47-48)

Sob o padrão keynesiano e fordista, a seguridade social estruturou-se nos países capitalistas como política de Estado, levando em consideração a organização da classe trabalhadora e o grau de desenvolvimento do capitalismo. Atrelada a função de garantir direitos aos trabalhadores inseridos no processo de trabalho, enquanto condição básica ao acesso a seguridade social.

Os princípios estruturantes da seguridade social nos países capitalistas, inclusive no Brasil, datam de 1883, quando surge na Alemanha o modelo bismarkiano baseado em caixas de seguros e, logo em seguida do plano biveridgano, surgido em 1942 na Inglaterra durante a Segundo Guerra Mundial, que apresentava uma forte crítica ao modelo bismakiano, propondo a instituição do Welfare State.

Segundo BOSCHETTI (2009);

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Saúde desde a década de 1923 até a Constituição de 1988. (BOSCHETTI. CFESS/ABEPSS, 2009. p. 326).

Com a instituição da seguridade social pela Constituição Federal de 1988, restringiu-se a Previdência Social aos trabalhadores contribuintes; a saúde foi universalizada e a Assistência Social limitou-se aos necessitados.

Os avanços constitucionais no Brasil não se consolidaram em função de uma série de elementos estruturais e conjunturais que determinaram uma política econômica neoliberal de valorização do capital financeiro em detrimento dos avanços sociais.

O modelo de seguro e assistência, aplicado a uma sociedade com profundas desigualdades sociais, pobreza estrutural e crescente informalidade no mundo do trabalho, resultou em um grande contingente populacional excluído do acesso aos direitos da seguridade social. Nesse sentido, a seguridade social não avançou na lógica social, ao contrário permaneceu na lógica do contrato, do seguro, ou seja, a proposta constitucional inovadora de caráter universal, redistributiva, pública, com amplos direitos fundados na cidadania, "(...) ficou no meio do caminho, entre o seguro e a assistência." (BOSCHETTI, CFESS/ABEPSS, 2009, p.331).

Os limites estruturais da ordem capitalista impõem condições sócio-econômicas que coloca metade da população economicamente ativa fora do mercado formal do trabalho, agravando dramaticamente a desigualdade e pobreza no Brasil. Exclui do acesso aos direitos àqueles que podem trabalhar, compensando com políticas sociais baseadas em programas de transferência de renda, sem qualquer caráter de direito e valores.

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(...) a seguridade social brasileira, fruto das lutas e conquistas da classe trabalhadora, é espaço de fortes disputas de recursos e poder, constituindo-se em uma arena de conflitos. A defesa e ampliação dessas conquistas e o posicionamentos contrário às reformas neoliberais regressivas são desafios permanentes e condições para consolidação da seguridade social pública e universal. (BOSCHETTI, CFESS/ABEPSS 2009. p. 336)

As políticas de seguridade social representam a conquista de direitos sociais a partir de disputas políticas de interesses antagônicos. Por isso, MOTA (1995) analisa que para as classes dominantes é imprescindível difundir a existência de uma cultura de crise como condição necessária para a legitimação da contrarreforma do Estado e das políticas regressivas neoliberais, que formam um novo consenso e mantém as bases hegemônicas do capital. Com isso, observa-se uma cultura ofensiva do capital contra qualquer forma de regulação estatal através de mecanismos democráticos de controle social.

O processo de descentralização da gestão do sistema de saúde no Brasil como estratégia fundamental para redefinição do papel do Estado nas suas funções públicas de normatizar, regular e garantir o acesso da população aos serviços de Saúde com qualidade, equidade, integralidade e universalidade, configura-se um modelo de sistema contra hegemônico que constantemente vem sendo desfigurado com políticas nocivas e regressivas, descaracterizando os princípios que nortearam o projeto de reforma sanitária.

Mesmo com as garantias constitucionais e as normas jurídicas fundamentais ao exercício da cidadania, a efetivação das ações e serviços de saúde conforme os princípios da universalidade, integralidade, igualdade e equidade (art. nº 7 da lei 8080/90) ainda não se consolidaram, o que compromete a eficácia e qualidade em favor da lógica da lucratividade do mercado, conforme MONTAÑO analisa:

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Nessa perspectiva, MONTAÑO aponta ainda que tanto do terceiro setor, quanto das operadoras dos planos de saúde necessitam dos recursos públicos.

(...) o “terceiro setor” não tem condições de autofinanciamento e dependem particularmente da transferência de fundos públicos para o seu funcionamento mínimo. Essa transferência é chamada ideologicamente de “parceria” entre o Estado e a sociedade civil, com o Estado contribuindo financeiramente e legalmente, para propiciar a participação da sociedade civil. (MONTAÑO, 2003. p 199)

Já os planos suplementares de saúde imprimem uma marginalização comercial diante da estratégia competitiva do mercado de negócios. Na qual a preocupação essencial é o preço e não a qualidade e efetivação do tratamento da saúde.

A suplementação dos atendimentos, ações e serviços de saúde, ou seja, os planos privados de Saúde, além de serem baseados no modelo americano, focalizado na doença, contribuem também no fortalecimento da cidadania adquirida, pois as instituições públicas estão de tais formas viciadas pelas manipulações e abusos de poder, ausência de recursos financeiros e humanos, que os direitos dos cidadãos persistem cerceados, gerando, assim, a demanda reprimida, na qual uma minoria pode optar pelo sistema de saúde suplementar.

A expansão das redes de comunicação, suas formas de alienação e os avanços tecnológicos, impregnam na sociedade contemporânea além de uma cultura ideológica consumista e descartável adequada a manutenção da racionalidade capitalista, a formação do consenso da ineficiência da gestão pública, da debilidade das instituições de saúde e a total negação das decisões políticas na regulação do mercado.

(...) a conjunção “globalização” mais “neoliberalismo” veio para demonstrar aos ingênuos que o capital não tem nenhum “compromisso social” e seu esforço para romper com qualquer regulação política, extra-mercado, tem sido coroado com êxito. (NETTO, 2004. p 47).

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públicas, ações planejadas e transparentes para prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas.

Esse novo controle da administração pública, através da Lei de Responsabilidade Fiscal vai afetar negativa à gestão do trabalho em saúde, em seus diferentes aspectos, em especial à precarização da estrutura da força de trabalho do SUS, impondo como desafio a capacidade de articulação destes profissionais com os movimentos populares em defesa do projeto de reforma sanitária.

É nesse contexto, que o mercado de trabalho impõe ações profissionais multifacetadas, com eficiência técnica para resolução imediata das problemáticas sociais e de saúde, reduzindo a prática profissional à identificação das demandas e atendimentos focalizados. A superação dessa forma de abordagem pós-moderna requer a compreensão das expressões da vida cotidiana numa análise dialética da realidade, de seu movimento e de suas contradições.

Mesmo tendo o Serviço Social surgido no bojo da Igreja Católica, foi apenas após a Segunda Guerra Mundial e na implantação do processo de industrialização no Brasil, que o resultado da reprodução social das classes operárias, a intensificação da questão social, exigiu do Estado respostas a essas demandas através da implantação de um conjunto de instituições sociais, na qual o Serviço Social emergiu profissionalmente atuando nos processos de regulação e reprodução social do Estado, através das políticas públicas.

Com isso, o assistente social é inserido na divisão social e técnica do trabalho, no estatuto de assalariado, atribuindo-lhe uma caracterização de servidor público, sendo chamado a formular, implementar e avaliar políticas públicas de enfrentamento da questão social direcionadas à manutenção da ordem social vigente: o capitalismo monopolista.

No contexto de crise e reestruturação do capital internacional, as contrarreformas do Estado produziram um complexo processo de desmonte dos direitos até então conquistado através de lutas sociais históricas.

Behring (2003) analisa que:

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direitos como uma necessidade de governabilidade e governança nas contra-reformas do Estado. (BEHRING. 2003. p.47).

Essa reforma neoconservadora do Estado vem promovendo o sucateamento dos serviços públicos e a mercadorização dos direitos sociais, com acesso via instituições privadas. E ainda, financiadas com recursos públicos do Fundo Público da seguridade social. Nesse sentido, o Estado, campo majoritário de atuação do assistente social, que apesar de todas as reformas, ainda pode ser considerado a forma mais efetiva de promover a universalização dos direitos, deixa de prestar serviços diretos à população, o que despolitiza os conflitos sociais.

(...) “terceirização” (...) compra de serviços privados (...) gerou a quebra do vínculo daquele que executa o serviço público com o Estado e, sobretudo com a população beneficiária. (SOARES, 2003.p.29)

É acertada a análise de Raquel Raichelis (CFESS/ABEPSS, 2009) quando esta se refere à importância da criação dos espaços públicos deliberativos e da participação dos assistentes sociais nesses espaços, debatendo de forma crítica as políticas sociais, democratizando conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo num movimento em defesa da universalização da seguridade social conduzida pelo Estado e o controle social.

Nesse contexto, abrem-se novas alternativas e áreas de trabalho para o assistente social, que passam a não apenas formular e implementar políticas públicas, como também avaliar, planejar e gerir de forma crítica a elaboração de diagnósticos do tecido social, formulação de indicadores sociais, apropriação do orçamento público etc.

É nesse solo histórico movente que atribui novos contornos ao mercado profissional de trabalho, diversificando os espaços ocupacionais e fazendo emergir inéditas requisições e demandas a esse profissional, novas habilidades, competências e atribuições. Mas ele impõe também exigências de capacitação acadêmica (...) (IAMAMOTO. CFESS/ABEPSS, 2009. p. 343-344).

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que adensaram reflexões e conhecimentos para contribuições no campo das políticas sociais.

(...) para Marx, o capitalismo é a produção e a reprodução contínua e ampliada da “questão social”. Na ótica marxiana, a superação da “questão social”, demanda liminarmente, a ultrapassagem dos marcos do capitalismo. (NETTO, 1989. p 91).

2.3 ESTADO E SERVIÇO SOCIAL: UMA HISTÓRIA DE LUTAS PELA

MATERIALIZAÇAO DO PROJETO ÉTICO POLITICO PROFISSIONAL

Sendo o Serviço Social, originário dos pressupostos conservadores da doutrina social da Igreja Católica, teve seu processo sócio histórico marcado pela matriz da teoria positivista, perpassando, contudo, pelos desdobramentos das concepções funcionalistas, estrutural-funcionalista, sistêmica e o racionalismo moderno crítico dialético da teoria social marxista. Esse último representou um suporte teórico metodológico e qualificação técnico cientifica para os profissionais, tornando-os capazes de fazerem frente às exigências da modernização da sociedade capitalista e do Estado burguês.

Desse modo, o movimento de reconceituação, desencadeado na América Latina a partir dos anos 1960, propiciou uma aproximação do Serviço Social com a tradição marxista que possibilitou a crítica ao conservadorismo e a ruptura do compromisso social historicamente estabelecido com os interesses da classe burguesa.

Ao analisar o texto de Yazbec (CFESS/ABEPSS, 2009) numa perspectiva de reconstituição histórica da profissão, observamos que desde a sua gênese católica conservadora o Serviço Social permeia interesses contraditórios.

É uma profissão que surge na modernidade, no lastro conservador da Igreja Católica, contrário ao pensamento iluminista, na tentativa de manter e recuperar a hegemonia do pensamento católico, através do humanitarismo social cristão.

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O processo de reconceituação dos anos 1960 representa uma ruptura com o Serviço Social tradicional, diante de uma aproximação com marxismo, assumindo a construção de um projeto ético político profissional comprometido com as classes subalternas e os movimentos sociais.

Neste contexto, o Serviço Social dos anos 1990, tem como desafio compreender as lógicas do capitalismo e suas mudanças no mundo do trabalho, assim como o processo de desestruturação das políticas de proteção social, que provocam a precarização do trabalho, o desemprego, a informalidade, o aprofundamento da Questão Social e das desigualdades, num terreno denso de tensões e contradições.

A aproximação do Serviço Social com a tradição marxista, de modo hegemônico, permite visualizar a profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, envolvida na dinâmica do processo de produção e reprodução das relações sociais difundindo a ideologia da classe dominante, articulando projeto de profissão e trabalho assalariado.

No campo do conhecimento constroem-se novos referenciais teóricos metodológicos e interventivos baseados na teoria social Marxista, num espaço plural de debates, permitindo o confronto de tendências teórico metodológicas e posições ideopolíticas.

Mesmo com a hegemonia e legitimação do pensamento marxista na profissão, observa-se a interferência de tendências teóricas metodológicas conservadoras pós-neoliberais nestes tempos de pós- modernidade.

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Neste contexto, ocorre também a abertura dos espaços institucionais do Estado, empresas privadas capitalistas, ONGs, assessoria de organizações e movimentos sociais para a atuação do assistente social. Momento que marca o processo de ruptura teórico e política com o lastro conservador do Serviço Social, acentuando um debate contraditório, pois, se observou uma ação profissional inserida na dinâmica neoliberal, tendo em vista que as políticas públicas são formuladas sob recomendações de organismos internacionais, sob a ordem do capital. Com essa mudança nos referenciais teórico-metodológicos, ético-político e técnico-operativo, ocorre uma redefinição no projeto de formação profissional, adotando a teoria crítico dialética de totalidade social em suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade voltada à emancipação humana.

A efetivação do projeto ético político profissional do Serviço Social, pautada na defesa intransigente dos Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional12, torna-se ameaçado diante da diminuição de investimentos sociais, a subordinação das políticas sociais às dotações orçamentárias, das privatizações, das políticas sociais de caráter compensatório, focalizado e seletivo, da flexibilização dos contratos terceirizados e por tempo determinado de acordo com a lógica da acumulação capitalista neoliberal.

Com isso, percebem-se a dimensão contraditória das demandas, os interesses antagônicos, as requisições sociais postas ao Serviço Social. “Isso significa que o exercício profissional participa de um processo que tanto permite a continuidade da sociedade de classes quanto cria as possibilidades de sua transformação.”

12

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(IAMAMOTO, CFESS/ABEPSS, 2009 p. 24). No entanto, as estratégias do projeto político profissional do assistente social devem fortalecer os interesses das classes subalternas, impulsionando a participação política dos sujeitos na articulação e defesa de suas necessidades e interesses coletivos na cena pública. Tem-se na verdade, uma direção social de caráter ético-político de afirmação teleológica e de liberdade da práxis social.

Historicamente o capitalismo vem sendo marcado por crises, principalmente quando se refere à América Latina, pois apresenta um Estado forte no que diz respeito às medidas de ajustes financeiros e estruturais, repercutindo decisivamente nas políticas públicas, desenvolvidas de forma focalizada, descentralizada, desfinanciada e totalmente em favor dos desmontes dos direitos trabalhistas, ou seja, “A questão social é indissociável da sociabilidade capitalista” (IAMAMOTO, CFESS/ABEPSS, 2009, p. 27) tendo ainda o efetivo respaldo do Estado.

Entre os dilemas do Serviço Social na cena contemporânea se destaca a luta pela afirmação dos direitos sociais e da emancipação humana e contra a lógica do capital.

É exatamente nessa trama que o assistente social desenvolve seu trabalho, precarizado ainda mais com o processo de financeirização fetichizada “dinheiro que gera dinheiro”13 mantido com a decisão política do Estado e o suporte das políticas fiscais e monetárias, implicando na privatização do Estado, no desmonte das políticas públicas e na mercantilização dos serviços, na reestruturação produtiva, na regressão dos direitos do trabalho, seguindo sempre a ideologia neoliberal e concepção pós-moderna.

Daí a necessidade do projeto ético político profissional do assistente social ser indissociável dos projetos societários que propõem a produção e distribuição de forma igual das riquezas socialmente produzidas; a superação das desigualdades sociais e de classes; o fortalecimento dos direitos e da democracia.

No entanto, apesar do Serviço Social ser regularmente reconhecido como uma profissão liberal, com autonomia teórico-metodológica, técnica e ética política em seu

13 Expressão usada por Marilda Iamamoto em seu livro Serviço Social em tempo de Capital Fetiche, capital

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exercício, está inscrita como uma especialização do trabalho e depende também da compra e venda da força do trabalho, o que compromete a autonomia profissional.

“É nesse terreno denso de tensões e contradições sociais que se situa o protagonismo profissional.” (IAMAMOTO. CFESS/ABEPSS, 2009. p.44).

Aliado a esse contexto, ainda na perspectiva neoliberal e pós-moderna, a contrarreforma da educação, atinge a viabilidade do projeto ético-político do assistente social, pois atropela a graduação em sua tríade essencial: ensino; pesquisa e extensão, reduzindo o tempo da graduação e flexibilizando as formas de ensino, tornando-os “à distância”. Resultando assim, na “massificação e perda da qualidade da formação universitária” (IAMAMOTO, CFESS/ABEPSS, 2009 p.42) incorrendo na ideologia da submissão dos assistentes sociais aos ditames do mercado de trabalho, formação do exército de reserva e conseqüente despolitização da categoria14.

Tendo em vista que, na sociedade capitalista em que vivemos a objetivação histórica da ética é limitada e desigual, pois evidencia um processo de alienação na qual a classe burguesa, através de mediações complexas, produz e reproduz ideologicamente seus interesses, difundindo valores para os indivíduos das classes subalternas.

Ocorre dessa forma também na política, que se dá hegemonicamente pelos interesses do capital em detrimento aos valores éticos de interesses coletivos.

Como a moral é histórica e mutável, os homens criam as normas e os valores de acordo com cada contexto histórico. Por isso a sociedade burguesa tende a suprimir os valores éticos de emancipação humana em prol da ordem social capitalista, contrapondo-se ao pensamento hegemônico dominante. Quando vinculada a essa perspectiva o assistente social trabalha um projeto ético político com capacidade teleológico, histórico e crítico que dá materialidade a projeções profissionais e societárias numa práxis adversa ao neoconservadorismo.

A práxis profissional imprime uma direção social, norteada por interesses políticos, ideológicos, econômicos, contidos nos valores, diretrizes profissionais tendo por base os pressupostos ontológicos fundamentais de Marx, reconhecendo a liberdade

14A ausência das experiências estudantis coletivas: Centro Acadêmico de Estudantes de Serviço Social; DESSO etc.

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