• Nenhum resultado encontrado

Calcário na forma de micropartículas aplicado no sulco de semeadura aumenta produtividade do feijoeiro.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Calcário na forma de micropartículas aplicado no sulco de semeadura aumenta produtividade do feijoeiro."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

RESUMO

ABSTRACT

Submetido em 09/09/2014 e aprovado em 08/10/2015.

1 Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás, Goiás, Brasil. adriano.nascente@embrapa.br 4 Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás, Goiás, Brasil. tarcisio.cobucci@embrapa.br

Autor para correspondência: adriano.nascente@embrapa.br

Calcário na forma de micropartículas aplicado no sulco

de semeadura aumenta produtividade do feijoeiro

A aplicação de solução de micropartículas de calcário (CaCO3) no sulco de semeadura pode alterar rapidamente os atributos químicos do solo, na zona de emissão de raízes, e aumentar a produtividade do feijoeiro-comum. O objetivo deste estudo foi o de testar essa hipótese em solos com diferentes características químicas. Foram reali-zados dois experimentos. No primeiro, avaliaram-se doses de soluções de CaCO3(0, 1050, 2100, 4200, 8400 e 12600 g ha-1), aplicadas no sulco de semeadura, em dois anos agrícolas consecutivos. No segundo, o CaCO

3 (1050

g ha-1) foi aplicado, ou não, no sulco de semeadura, em quatro ambientes. Os delineamentos experimentais foram

em blocos ao acaso. A aplicação de solução de micropartículas de CaCO3, no sulco de semeadura do feijoeiro, aumentou os valores de pH e reduziu a saturação por Al+3 no solo. Os teores de Ca, K e a saturação por bases no solo

não foram influenciadas pela adição de CaCO3 no sulco. O uso de micropartículas de CaCO3 no sulco de semeadura aumentou a produtividade de grãos do feijoeiro-comum. Os resultados sugerem que a aplicação de micropartículas de CaCO3 no sulco de semeadura foi eficiente para alterar os atributos químicos do solo no leito de semeadura e proporcionar incrementos significativos de produtividade de grãos do feijoeiro-comum.

Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L., desenvolvimento inicial, correção do solo, carbonato de cálcio, Cerrado.

Adriano Stephan Nascente1 e Tarcísio Cobucci2

http://dx.doi.org/10.1590/0034-737X201562060013

Lime in microparticulate form applied to the sowing furrow increases common bean yield

The application of a solution of lime (CaCO3) microparticles in the sowing furrow may accelerate the reaction of this corrective in the soil, alter soil chemical attributes and increase common bean (Phaseolus vulgaris L.)

yield. The aim of this study was to test this hypothesis in soils with different chemical characteristics. Two experiments were carried out. In the first, it was evaluated solutions with different CaCO3 rates (0, 1050, 2100, 4200, 8400 e 12600 g ha-1) applied to the sowing furrow during two growing seasons. In the second, the solution of

CaCO3 (1050 g ha-1) was applied or not in the sowing furrow in four environments. Both experiments were arranged

in a completely randomized block design. The application of a solution of CaCO3 microparticles increased pH values and reduced the Al+3 saturation in the soil. The concentrations of Ca, K and base saturation of the soil were

not affected by the addition of CaCO3 solution. The application of CaCO3 microparticles in solution to the sowing furrow increased the common bean yield. Our results suggest that the application of CaCO3 microparticles to the sowing furrow was efficient to change soil chemical properties in the furrow soil and provided significant increases in the common bean yield.

(2)

INTRODUÇÃO

A acidez do solo limita a produção agrícola em di-versas áreas do mundo, em decorrência da toxidez cau-sada por alumínio, pela baixa saturação por bases e pela menor disponibilidade de fósforo (P) (Fageria & Baligar, 2008). No Brasil, o material mais utilizado como cor-retivo de acidez é o calcário, que é eficaz para elevar o pH, os teores de cálcio e de magnésio, a saturação por bases e para reduzir os teores de alumínio trocáveis no solo (Caires et al., 2005). Uma das formas de calcular a

quantidade de calcário a ser aplicada no solo é o método que se baseia na elevação da saturação por bases a valo-res considerados adequados para uma dada cultura (Fageria et al., 2011; Pagani & Mallarino, 2012).

Na maioria das áreas produtoras de grãos em sistema plantio direto (SPD), a correção da acidez do solo tem sido realizada mediante aplicação de calcário na superfí-cie, sem incorporação (Soratto & Crusciol, 2008; Alleoni

et al., 2010). Entretanto, a reação do calcário é mais

rápi-da no local de sua aplicação e incorporação, uma vez que o corretivo apresenta baixa mobilidade no solo e sua rea-ção, dentre outros fatores, depende do seu contato com a solução do solo. Ou seja, para que ocorra a reação em profundidade é necessário que o calcário se mova para camadas mais profundas, o que acarreta demora na rea-ção do corretivo no solo maior do que a da aplicarea-ção con-vencional com preparo do solo (Fageria & Baligar, 2008; Soratto & Crusciol, 2008; Caires et al., 2008).

Resulta-dos em campo mostram que o movimento do calcário em profundidade varia de acordo com o tempo e quantidade aplicada, tipo de solo, condições climáticas, utilização de fertilizantes ácidos e o sistema de cultivo (Caires et al.,

2008; Churka Blum et al., 2013). De acordo com Caires et al. (2005), a calagem, com ou sem incorporação,

pro-porciona maior controle da acidez do solo na camada de 0-5 cm, um ano após sua aplicação, e pode chegar a 10-20 cm, após dois anos e meio. Entretanto, quando o calcário é incorporado, ocorre maior reação no solo entre 5-10 e 10-20 cm. Logo, essa demora para o calcário reagir com o solo em profundidade, por causa de sua baixa mobilida-de, pode prejudicar o desenvolvimento das culturas agrí-colas (Fageria & Baligar, 2008).

Tecnologias que melhorem o ambiente radicular, para que ocorra o desenvolvimento das culturas, mais rapida-mente, podem ser complemento da aplicação do calcário a lanço, sem incorporação. Portanto, a aplicação de so-lução de micropartículas de carbonato de cálcio no sul-co de semeadura pode proporcionar a reação do calcário com o solo, de modo mais rápido, nesse sulco de seme-adura, onde serão emitidas as raízes, aumentar-lhe o pH e a disponibilidade de fósforo no sulco de plantio, com consequentes incrementos na produtividade da cultura.

Enquanto o calcário convencional tem o tamanho das partículas variando de 50% < 0,3 mm e 50% > 0,3 mm, as micropartículas têm entre 0,0001 e 0,0002 mm. As-sim, quando se usa o calcário aplicado na superfície do solo, sem incorporação, considerando-se 1 ha, tem-se a intenção de corrigir todo o solo de uma superfície de 10 000 m2 até 20 cm de profundidade. Por outro lado,

quando se utiliza calcário na forma de micropartículas, tem-se a intenção de influenciar somente o solo no sul-co de semeadura, o que pode melhorar as sul-condições para o desenvolvimento inicial da cultura.

Considerando-se o espaçamento utilizado para o feijoeiro-comum, com o uso da correção à base de calcário em micropartículas localizadas no sulco, cor-rige-se, em 1 ha, o volume de solo localizado sob 1.000 m² de área (20.000 m de sulcos x 0,05m), ou seja, dez vezes menos do que quando se aplica o calcário pelo método convencional. Por causa do tamanho reduzido das micropartículas de calcário, é provável que a aplica-ção desse tipo de corretivo possa proporcionar a reaaplica-ção mais rápida e localizada no sulco de semeadura, em re-lação à aplicação tradicional. Porém, não foram encon-trados estudos que avaliassem essa prática. Por esta ra-zão, o objetivo deste trabalho foi o de testar a hipótese de que a aplicação localizada de solução de micropar-tículas de calcário (CaCO3) no sulco de semeadura pode acelerar o contato do corretivo com o solo, em torno das raízes, e sua reação no solo, alterando momentanea-mente os atributos químicos do solo e aumentando a pro-dutividade do feijoeiro-comum.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização dos ambientes

Os experimentos foram conduzidos em dois locais: 1. Fazenda Guaribas, no município de Unaí, MG. Neste local, foram conduzidos os ensaios do experimento 1, em 2009 e 2010, e os ensaios do experimento 2, em 2010 e 2011. O local encontra-se nas coordenadas 16º 21' 27" S e 46º 54' 22" O, em altitude de 575 m. A preci-pitação média anual do município é de aproximadamen-te 1.200 mm. Segundo a classificação de Köppen, o cli-ma é do tipo Aw, tropical de savana, megatérmico, com temperatura média anual do ar de 27 ºC. Durante a con-dução dos experimentos (maio-agosto), as médias das precipitações dos dois anos foram: maio, 22 mm; ju-nho, 7 mm; julho, 10 mm; e agosto, 12 mm.

(3)

Segundo a classificação de Köppen, o clima é do tipo Aw, tropical de savana, megatérmico, com temperatura média anual do ar de 24,4 ºC. Durante a condução dos experimentos (maio-agosto), as médias das precipita-ções dos dois anos foram: maio, 25 mm; junho, 3 mm; julho, 8 mm; e agosto, 9 mm.

As áreas experimentais, localizadas sob pivô-central, haviam sido cultivadas por três (experimento 1), cinco (experimento 2, Unaí) e quatro (experimento 2, Paracatu) anos no sistema plantio direto (SPD), com milho no ve-rão e feijão no inverno. Os solos foram classificados como Latossolo Vermelho- Escuro com textura argilo-sa. No primeiro ano de condução, antes da instalação dos experimentos, foram feitas amostragens para a ca-racterização química (Tabela 1) e a análise de solo foi realizada de acordo com os métodos descritos em Embrapa (1997).

Experimento 1

Esse experimento, conduzido na Fazenda Guaribas, foi repetido nas safras de inverno de 2009 e 2010. Nele se estudaram doses de CaCO3,-. O delineamento

experimen-tal foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos constituíram-se de seis doses de solução, contendo CaCO3- (0, 1.050, 2.100, 4.200, 8.400 e 12.600

g ha-1), aplicadas no sulco, no dia da semeadura da cultura

A necessidade de calcário, calculada para elevar a saturação por bases para 60%, resultou na dose de 7,1 kg ha-1. Considerando-se que o volume de solo a ser

cor-rigido com a utilização de micropartículas de calcário no sulco de semeadura é dez vezes menor do que o cor-rigido, quando o calcário é aplicado em área total, a quan-tidade de calcário que deveria ser aplicada no sulco se-ria de 710 g ha-1. Entretanto, com os produtos

disponí-veis no mercado, não foi possível estabelecer doses me-nores que 1.050 g ha-1, que foram usados como limite

inferior das doses crescentes, empregadas neste estu-do, e que variaram entre 0 e 12.600 g ha-1.

Experimento 2

Nesse experimento, conduzido nas safras 2010 e 2011, avaliou-se a dose de 1.050 g ha-1 de CaCO

3, na

Fazenda Guaribas e na Fazenda Chimarrão. Foi escolhi-da a dose de 1.050 g ha-1, menor dose possível,

conside-rando-se os produtos disponíveis no mercado, dado o fato da necessidade de a calagem, calculada a partir dos dados de análise do solo e ajustada conforme o descrito anteriormente, resultar em doses baixas, menores que esse valor. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com oito repetições, num esquema fatorial 2 (com ou sem solução com CaCO3) x 4 (ambientes). Os tratamentos foram a ausência e presença de solução com

Tabela 1: Características químicas iniciais dos solos das áreas onde foram conduzidos os experimentos na profundidade de 0-20 cm

Unaí – MG 2009 (experimento 1)

pH M.O. Ca Mg Al H+Al V m

(cm) (água) g dm-3 mmol

c dm-3 %

0 - 20 5,0 1,5 2,4 0,9 0,3 2,6 59,1 3

K P B Cu Fe Mn Zn Argila Silte Areia mg dm-3 mg dm-³ g kg-1

19,8 12,1 0,8 1,2 17,3 21,5 9,7 500 300 200

Unaí – MG 2010 (experimento 2)

pH M.O. Ca Mg Al H+Al V m

(cm) (água) g dm-³ mmol

c dm-3 %

0 - 20 5,6 3,6 2,5 1 0,1 5,0 44 2

K P B Cu Fe Mn Zn Argila Silte Areia mg dm-3 mg dm-³ g kg-1

19,4 16,8 1 1,4 21,2 25,3 10,3 510 310 180

Paracatu – MG 2010 (experimento 2)

pH M.O. Ca Mg Al H+Al V m

(cm) (água) g dm-³ mmol

c dm-3 %

0 - 20 5,5 1,9 4,1 2,1 0,0 5,0 71,6 0

K P B Cu Fe Mn Zn Argila Silte Areia mg dm-3 mg dm-³ g kg-1

22,0 26,8 0,8 2,6 18 44,5 11,5 652 193 180

(4)

CaCO3, na dose de 1.050 g ha-1 , aplicados no sulco no

dia da semeadura. As parcelas tinham 4,0 x 10 m e a área útil constou das duas linhas centrais, desprezando-se 0,50 m de cada extremidade das fileiras.

Implantação da cultura

A semeadura do feijoeiro-comum, cultivar Pérola, foi realizada mecanicamente na primeira quinzena de maio, nos dois experimentos, no espaçamento de 0,50 m entrelinhas e densidade de oito sementes por metro. A adubação no sulco de semeadura foi de 30 kg ha-1 de N

(ureia); 39,3 kg ha-1 de P + 10 kg ha-1 de N (MAP,

monoamônio fosfato) e de 50 kg ha-1 de K (cloreto de

potássio). Em cobertura, usaram-se 60 kg ha-1 de N

(ureia), aos 18 DAE (dias após a emergência). O manejo fitossanitário da cultura foi realizado de acordo com as necessidades (Vieira et al., 2006). Na média, a

emer-gência das plantas ocorreu aos sete dias após a semea-dura e, o florescimento, aos 33 dias após a emergência (DAE). A colheita foi efetuada manualmente, após a maturação fisiológica da cultura. O feijoeiro-comum apresentou média de ciclo de 103 DAE.

Quanto à irrigação, utilizou-se o sistema por asper-são convencional. No manejo de água, foram utiliza-dos três coeficientes de cultura (Kc), distribuíutiliza-dos em quatro períodos compreendidos entre a emergência e a colheita. Para a fase vegetativa, foi utilizado o valor de 0,4; para a fase reprodutiva foram dois os valores de Kc, o inicial de 0,7 e o final de 1,0 e, para a fase de maturação, esses valores foram invertidos, ou seja, o inicial de 1,0 e o final de 0,7. Assim, o controle da irrigação, considerando-se a profundidade de explora-ção do sistema radicular, de 0,2 m, foi iniciado com a capacidade de água disponível (CAD) no seu máximo, subtraindo-se, sucessivamente, o valor da evapotrans-piração da cultura, até que o total de água atingisse li-mite mínimo de 40% da CAD (Doorenbos & Pruitt, 1976).

A solução de calcário foi adquirida de empresa pri-vada. Essa solução havia sido preparada pela mistura de partículas finas (entre 0,0001 e 0,0002 mm) de calcário com água. A aplicação da solução de CaCO3 foi feita di-retamente no sulco de plantio, com aplicador StandMax Hunter CS, acoplado à semeadora. O aplicador possui sistema automático de comando por sensor indutivo, que liga e desliga a injeção quando a semeadora é levantada ou baixada. Utilizou-se volume de calda de 60 L ha-1. Na

dose zero, aplicou-se apenas água. A composição quí-mica das partículas de calcário é a mesma do calcário tradicional, tendo como única diferença o tamanho das partículas. O equipamento de aplicação do calcário lí-quido tem dispositivo para manter a solução em suspen-são durante o período de aplicação.

Avaliações

No experimento 1, foram realizadas amostragens do solo aos 15 e 30 dias após a aplicação da solução com CaCO3, na camada de 0-0,20 m de profundidade, na li-nha e na entrelili-nha (0,25 cm da lili-nha). Foram retiradas, aleatoriamente, com trado de rosca, oito amostras sim-ples, por parcela, para constituir uma amostra composta. As amostras compostas foram secadas ao ar e peneira-das (malha 2 mm). Posteriormente, elas foram analisa-das quanto a pH (CaCl2 0,01 mol L-1), P, Al, Ca e K

trocáveis. Também foi calculada a saturação por bases (V%), conforme metodologia proposta por Embrapa (1997).

Nos dois experimentos, foram determinadas as seguin-tes variáveis: a) número de vagens por planta: contagem do número de vagens de dez plantas, coletada, ao acaso, em cada unidade experimental, durante a colheita; b) nú-mero de grãos por vagem: contagem do núnú-mero de grãos das dez plantas, coletada, ao acaso, durante a colheita; c) massa de 100 grãos: determinada pela coleta, ao acaso, e pesagem de quatro amostras de 100 grãos de cada unida-de experimental, com posterior correção do teor unida-de água dos grãos para 130 g kg-1; d) produtividade de grãos:

de-terminada após o arranquio manual das plantas da área útil de cada unidade experimental, trilha mecânica e pesagem dos grãos. Foi determinado o peso dos grãos colhidos e calculada a produtividade de grãos (kg ha-1), após o teor

de água ser corrigido para 130 g kg-1.

Análise estatística

Os dados obtidos noexperimento 1, doses de CaCO3, foram submetidos à análise de variância e regressão, considerando-se doses, anos e interação doses x anos como fontes de variação. No experimento 2, os dados foram submetidos à análise de variância, considerando-se blocos, ambientes e interação blocos x ambientes como causas da variação. Utilizou-se o pacote estatísti-co SAS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Experimento 1 (doses de CaCO3)

Não houve interação entre os fatores anos e doses de calcário, em todas as variáveis (Tabela 2). Logo, apre-sentaram-se os dados da média dos anos (Figuras 1 a 4). Na entrelinha do feijoeiro (0,25 m da linha), não foram verificados efeitos da aplicação de CaCO3 na concentra-ção dos nutrientes no solo. Assim, esses resultados po-dem ser indicativos de que a aplicação do corretivo tem ação pontual, próxima à área de aplicação, e não afeta a área total do solo.

(5)

adi-ção da soluadi-ção com CaCO3. Com relação ao pH do solo no sulco de plantio, houve efeito significativo da aplica-ção da soluaplica-ção com micropartículas de calcário, nas duas épocas (Tabela 2); os dados foram ajustados a equações lineares (Figura 1). Segundo Caires et al. (2008), um

dos efeitos do calcário é aumentar o pH do solo. Os va-lores de pH obtidos aos 30 dias foram numericamente superiores aos obtidos aos 15 dias, o que pode indicar que o calcário reagiu com o solo entre 15 e 30 dias. O efeito do calcário aplicado de forma tradicional varia de acordo com o tempo e a quantidade aplicada, o tipo de solo, as condições climáticas, a utilização de fertilizan-tes ácidos e o sistema de cultivo (Caires et al., 2008;

Churka Blum et al., 2013); logo, espera-se que a

aplica-ção de soluaplica-ção de calcário no sulco de semeadura tam-bém seja influenciada por esses fatores.

A aplicação do corretivo no sulco também propor-cionou alteração significativa dos teores de P no solo, na linha de semeadura, nas duas épocas (Tabela 2), com ajuste dos dados a equações quadráticas (Figura 2). Em relação à saturação por Al+3 do solo, os dados foram

ajustados a equação linear, com valores decrescentes à medida que se aumentaram os teores de CaCO3 aplica-dos (Figura 3).

Houve maior disponibilidade de P no sulco de se-meadura, nas duas épocas, por causa da aplicação da solução com CaCO3 no sulco de semeadura. Essa mai-or disponibilidade de P pode ter ocmai-orrido pmai-or libera-ção do P fixado ao Al ou Fe. Bair & Davenport (2012) também verificaram aumento da disponibilidade de fósforo com o aumento do pH. Segundo Souza et al.

(2006), os solos tropicais são altamente intempe-rizados e neles predominam os minerais de argila 1:1, como a caulinita e os óxidos de Fe (hematita e goethita) e Al (gibbsita), que apresentam alta capaci-dade de adsorção de P. Souza et al. (2010)

acrescen-tam que o processo de adsorção de P pelos óxidos, hidróxidos e oxiidróxidos de ferro e alumínio é um dos principais fatores envolvidos na insolubilização desse nutriente, em solos tropicais. Assim, é prová-vel que a aplicação de solução de calcário no sulco de semeadura tenha proporcionado maior disponibilida-de disponibilida-de P, no início do disponibilida-desenvolvimento da cultura. A elevação do pH do solo pela calagem aumenta a con-centração e a atividade dos íons OH- em solução,

au-menta a precipitação de Fe e a de Al, reduz a precipi-tação de P-Fe e P-Al (Mendez & Kamprath, 1978; Alleoni et al., 2010).

Tabela 2: Análise de variância dos teores de nutrientes no solo da linha de cultivo, na profundidade de 0-20 cm, aos 15 e 30 dias após a semeadura do feijoeiro-comum, componentes de produção e produtividade da cultura, em função das doses de CaCO3 aplicados no sulco de semeadura (experimento 1)

15 dias após a semeadura Fatores Variáveis

pH P K Ca Al V

Probabilidade do teste F

Blocos 0,084 0,507 0,389 0,375 0,064 0,205

Ano (A) 0,171 0,210 0,462 0,236 0,376 0,387

Tratamento (T) 0,002 0,001 0,824 0,052 0,005 0,284

A x T 0,264 0,387 0,997 0,201 0,148 0,775

30 dias após a semeadura Fatores Variáveis

pH P K Ca Al V

Probabilidade do teste F

Blocos 0,329 0,838 0,059 0,736 0,363 0,082

Ano (A) 0,225 0,178 0,112 0,229 0,119 0,071

Tratamento (T) 0,001 0,001 0,388 0,847 0,003 0,437

A x T 0,051 0,051 0,739 0,997 0,578 0,773

Variáveis

Fatores N. vagens Grãos vagens-1 Massa de 100 sementes Produtividade

Probabilidade do teste F

Blocos 0,314 0,359 0,999 0,999

Ano (A) 0,104 0,247 0,245 0,114

Tratamento (T) 0,002 0,999 0,999 0,001

(6)

Figura 1: Valores de pH do solo, na profundidade de 0-20 cm, em função das doses de CaCO3 aplicadas no sulco de semeadura do feijoeiro-comum, aos 15 (A) e 30 (B) dias após a semeadura da cultura. Média de duas safras agrícolas.

(7)

Entretanto, vale ressaltar que a aplicação de calcário líquido aumentou os teores de P no solo até determina-do ponto (4.700 g de CaCO3, aos 15 dias, e 2.900 g de CaCO3, aos 30 dias) (Figura 2). A partir desses pontos os teores de P no solo decresceram. A calagem, ao alte-rar o pH do solo, neutraliza as cargas positivas na super-fície de argilas não silicatadas de óxidos e hidróxidos de Fe e Al, podendo revertê-las em cargas residuais ne-gativas. Isso “bloqueia” sítios de adsorção de P no solo e pode reduzir a “adsorção específica de P”. Também é conhecido o fenômeno de fixação de P de forma tempo-rária, em função da formação de hidróxidos de Al amorfos intermediários [Al(OH)2+, Al(OH)

2+], muito

reativos, quando da aplicação de calcário. Esse fenôme-no é temporário, pois é revertido com o avanço da rea-ção do calcário no solo, e a fixarea-ção de P pelo Al fica novamente insignificante, quando a elevação do pH pro-porciona predominância de formas precipitadas de Al(OH)3 (Fageria & Baligar, 2008; Souza et al., 2010;

Fageria et al., 2011). Esse fenômeno pode ser uma das

explicações para a redução do P com o aumento da dose de solução de calcário no sulco. Outra possível explica-ção seria a abundância de cálcio, que normalmente ocorre em pH alto, o que pode formar compostos de P e precipitá-lo, tornando-o indisponível para as plantas (Malavolta et al., 1997).

No entanto, os resultados apresentados permitem inferir que a aplicação localizada de micropartículas de calcário em solução pode reagir mais rápido, no sulco de semeadura que na aplicação convencional, e proporcionar maior disponibilidade de P no sulco de plantio, nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta. Os valores de pH, P e Al, observados na avalia-ção aos 30 dias, indicam que o calcário ainda estava reagindo no solo, em comparação com os valores ob-tidos aos 15 dias, o que pode sugerir que as reações vão além de 30 dias. Portanto, estudos futuros pode-riam ser realizados para verificar por quanto tempo essas pequenas quantidades de calcário líquido apli-cadas no sulco de semeadura, alteram essas caracte-rísticas do solo. Além disso, a aplicação de calcário líquido, aliada à calagem tradicional, pode proporci-onar resultados mais promissores do que somente a calagem tradicional. Esta, no sistema plantio direto, demora ainda mais a reagir com o solo (Caires et al.,

2008; Briedis et al., 2012).

Com relação aos componentes de produção e produ-tividade, verificaram-se efeitos significativos das doses de CaCO3 no número de vagens por planta e na produti-vidade (Tabela 2), sendo os dados ajustados à equações quadráticas (Figura 4). Esse aumento de produtividade pode ter ocorrido por aumento da disponibilidade de P

(8)

no sulco de semeadura, que afeta significativamente essa variável no feijoeiro-comum (Miranda et al., 2005; Pelá et al., 2009; Silva et al., 2001; Valderrama et al., 2009;

Zucareli et al., 2011).

Outros fatores, além da disponibilidade de fósforo, contribuíram para o aumento da produtividade de grãos do feijoeiro-comum, uma vez que a dose da solução com calcário que proporcionou a maior produtividade da cul-tura foi bem maior do que a dose que acarretou os mai-ores temai-ores de P no solo. Esses fatmai-ores podem ser a re-dução da solubilidade do Al, ou o aumento da disponibi-lidade de Ca, Mg e K no solo, ou outros fatores que não foram avaliados neste estudo.

Os resultados sugerem que a aplicação de pequena quantidade de solução com calcário na forma de micropartículas aumentou a disponibilidade de P, até de-terminado ponto, elevou o pH do solo e reduziu a satura-ção de Al no sulco de semeadura e aumentou a produtivi-dade de grãos. Entretanto, o aumento dos teores de nutri-entes foi limitado ao sulco de semeadura, uma vez que não houve efeito nas entrelinhas da cultura. Portanto, não deve ser prática utilizada visando à correção total do solo, ao aumento da saturação de bases e ao fornecimento de Ca para a cultura. Necessário se faz desenvolver estudos para avaliar o efeito combinado das calagens, no sulco e em superfície, na fertilidade do solo, no longo prazo.

Além disso, com base nos resultados obtidos, veri-fica-se que mesmo em solos já corrigidos e com altos valores de saturação por bases (Tabela 1), ocorreram incrementos nos teores de P no solo e na produtivida-de da cultura. Estudos produtivida-devem ser produtivida-desenvolvidos para se verificar até quais valores de saturação por bases e de pH justifica-se a aplicação de calcário na linha de se-meadura.

Experimento 2. (Efeito da aplicação da dose de 1.050 g ha-1 de CaCO

3 em 4 ambientes)

Quando se avaliou a menor dose de calcário (1.050 g ha-1), visando a reduzir custos para o produtor e verificar

se causava efeito no feijoeiro, constatou-se que não hou-ve interação entre a aplicação de calcário e os locais (Tabela 3). Por isso, apresentaram-se as médias dos lo-cais. O efeito do calcário foi significativo no número de vagens m-2 e na produtividade de grãos. O maior número

de vagens m-2 pode explicar a maior produtividade de

grãos, obtida no tratamento com a utilização da solução com calcário, uma vez que esse componente de produ-ção é o que mais afeta a produtividade de grãos na cultu-ra do feijoeiro-comum (Fageria et al., 2011; Zucareli et al., 2011).

Por ser um trabalho inicial, muitas indagações ainda precisam ser elucidadas, como o critério para o

agricul-Figura 4: Número de vagens m-2 (A) e produtividade de grãos (B) do feijoeiro-comum, em função das doses de CaCO

3 aplicadas no

(9)

tor escolher a dose a ser aplicada com base na saturação por bases, uma vez que em Paracatu e Unaí foram de 72 e de 44%, respectivamente. O objetivo do trabalho não foi de elevar a saturação por bases nem de fazer a corre-ção da área total, mas de melhorar as características quí-micas do sulco de semeadura, para proporcionar melhor desenvolvimento das plantas do feijoeiro-comum, o que foi observado nos resultados.

Infere-se que a aplicação de solução com calcário no sulco de semeadura foi eficiente para aumentar a pro-dutividade de grãos do feijoeiro-comum, em parte pela maior disponibilidade de P, conforme discutido no ex-perimento 1, mas podendo também ser influenciada por outros fatores (elevação de pH, maior disponibilidade de bases Ca, Mg e K), ocasionados pela ação da solução com calcário no sulco de semeadura. Este trabalho é pi-oneiro no estudo da aplicação de solução com calcário no sulco de semeadura e servirá de ponto de partida para futuras pesquisas sobre esse tema.

CONCLUSÕES

A aplicação de solução de micropartículas de CaCO3 no sulco de semeadura do feijoeiro-comum causa ligei-ro aumento localizado, dos valores de pH, e redução da saturação de Al no solo;

Nas condições em que foram realizados os experi-mentos, os teores de Ca, K e a saturação de bases no solo do sulco de semeadura não são afetados pela solu-ção de micropartículas de CaCO3;

O uso da solução de micropartículas de CaCO3 no sulco de semeadura proporciona incrementos significa-tivos do número de vagens por área e da produtividade de grãos do feijoeiro-comum.

Tabela 3: Componentes de produção e produtividade de grãos do feijoeiro-comum, afetados pela ausência e presença de CaCO3 (1.050 g ha-1) e análise de variância (experimento 2)

Unaí 2010 Unaí 2011 Paracatu 2010 Paracatu 2011 Média Número vagens m-2

1 - Testemunha 259 241 289 241 258

2 - CaCO3 276 274 307 283 283*

Número grãos vagens-1

1 - Testemunha 4,5 4,9 4,8 4,9 4,8

2 - CaCO3 5,0 4,8 5,0 4,8 4,9

Massa de 100 grãos

1 - Testemunha 25,0 24,5 25,0 24,5 25,2

2 - CaCO3 26,0 25,9 26,5 25,9 26,5

Produtividade kg ha-1

1 - Testemunha 2948 2943 3522 2937 3087

2 - CaCO3 3600 3373 4080 3447 3624*

Médias seguidas por *, diferem significativamente (p < 0,05) da testemunha.

Tratamentos

REFERÊNCIAS

Alleoni LRF, Cambri MA, Caires EF & Garbuio FJ (2010) Acidity and aluminum speciation as affected by surface liming in tropical no-till soils. Soil Science Society of America Journal 74:1010-1017.

Bair KE & Davenport JR (2012) Influence of recent acidification on available phosphorus indices and sorption in Washington State soils. Soil Science Society of America Journal 76:515-521.

Briedis C, Sá JCM, Caires EF, Navarro JF, Inagaki TM, Boer A, Ferreira AO, Quadros Neto C, Canalli LB & Santos JB (2012) Changes in organic matter pools and increases in carbon sequestration in response to surface liming in an oxisol under long-term-no-till. Soil Science Society of America Journal 76:151-160.

Caires EF, Alleoni LRF, Cambri MA & Barth G (2005) Surface application of lime for crop grain production under a no-till system. Agronomy Journal, 97:791-798.

Caires EF, Garbuio FJ, Churka S, Barth G & Correa JCL (2008) Effect of soil acidity amelioration by surface liming on no-till corn, soybean and wheat root growth and yield. European Journal of Agronomy, 28:57-64.

Churka Blum S, Caires EF & Alleoni LRF (2013) Lime and phosphogypsum application and sulfate retention in subtropical soils under no-till system. Journal of Soil Science and Plant Nutrition, 13:279-300.

Doorenbos J & Pruitt WO (1976) Crop and water requirements. Rome, FAO. 179p. (FAO Irrigation and Drainage Paper, 24).

Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (1997) Manual de métodos de análise de solo. 2ª ed. Rio de Janeiro, Embrapa Solos. 212p. (Documentos, 1).

Fageria NK & Baligar VC (2008) Ameliorating soil acidity of tropical Oxisols by liming for sustainable crop production. Advances in Agronomy, 99:345-399.

Fageria NL, Baligar VC & Jones CA (2011) Growth and mineral nutrition of field crops. Boca Raton, CRC Press. 586p.

Malavolta E, Vitti GC & Oliveira SA (1997) Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2nd ed. Piracicaba, Potafos. 319p.

(10)

Miranda LN, Miranda JCC, Rein TA & Gomes AC (2005) Lime under no-tillage and conventional planting systems for soybean and corn in Red Latosol (Oxisol). Pesquisa Agropecuária Brasileira, 40:563-572. Pagani A & Mallarino AP (2012) Soil pH and crop grain yield as affected by the source and rate of lime. Soil Science Society of America Journal, 76:1877-1886.

Pelá A, Rodrigues MS, Santana JS & Teixeira IR (2009) Fontes de fósfo-ro para adubação foliar na cultura do feijoeifósfo-ro. Scientia Agraria, 10:313-318.

Silva EB, Resende JCF & Cintra WBR (2001) Response of common bean to phosphorus doses in sandy soil. Ciência Rural 31:973-977. Soratto RP & Crusciol CAC (2008) Dolomite and phosphogypsum

surface application effects on annual crops nutrition and yield. Agronomy Journal 100:261-270.

Souza FS, Faquin V, Torres PRF & Baliza DP (2006) Liming and organic fertilizer: influence on phosphorus adsorption in soils. Revista Bra-sileira de Ciência do Solo, 30:975-983.

Souza RF, Faquin V, Lima Sobrinho RR & Oliveira EAB (2010) Influência de esterco bovino e calcário sobre o efeito residual da adubação fosfatada para a Brachiaria brizantha cultivada após o feijoeiro. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 34:143-150.

Valderrama M, Buzetti S, Benett CGS, Andreotti M, Arf O & Sá ME (2009) Fontes e doses de nitrogênio e fósfor em feijoeiro no sistema plantio direto. Pesquisa Agropecuária Tropical, 39:191-196.

Vieira C, Paula Júnior TJ & Borém A (2006) Feijão. 2ª ed. Viçosa, UFV. 500p.

Referências

Documentos relacionados

O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é um estágio profissionalizante (EP) que inclui os estágios parcelares de Medicina Interna, Cirurgia Geral,

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

Contemplando 6 estágios com índole profissionalizante, assentes num modelo de ensino tutelado, visando a aquisição progressiva de competências e autonomia no que concerne

A recorrência do Milagre de Ourique não faz, obviamente, supô-lo como o único mito dectectável no imaginário sócio-político, mas impõe-no, de facto, como referente mítico

Também foram realizados inquéritos de opinião a alunos e docentes da escola portuguesa parceira do projeto Euro4Science, a Escola José Estevão em Aveiro e também à Escola Básica

to values observed in mussels exposed to contaminated seawater (conditions A, B, C) (Figure 426.. 4B,

Sobre os dados reforçarem a ideia teórica até agora não comprovada empiricamente, mas presente na literatura, de que a motivação intrínseca é um antecedente da