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Família e subjetividade: tendências e particularidades das classes trabalhadoras no capitalismo contemporâneo

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Academic year: 2017

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

MARIA ELINA CARVALHO MEDEIROS DOS SANTOS

FAMÍLIA E SUBJETIVIDADE: tendências e particularidades das classes trabalhadoras no capitalismo contemporâneo

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MARIA ELINA CARVALHO MEDEIROS DOS SANTOS

FAMÍLIA E SUBJETIVIDADE: tendências e particularidades das classes trabalhadoras no capitalismo contemporâneo.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª Draª Silvana Mara de Morais dos Santos

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Aos trabalhadores brasileiros, em especial a Dora, Vilma, João, Isabel, Helena, Joana, Francisco e Márcia...

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AGRADECIMENTOS

Os dias e noites à frente dos livros e do computador poderiam ser solitários se não fosse pelas providenciais interrupções de Leilinha e Mendes, me lembrando que eu também tenho uma família. Por isso, é a ele e a ela que quero agradecer em primeiro lugar. Por entender (e também não entender) os sacrifícios das saídas noturnas, das conversas com os amigos, de algumas brincadeiras que depois vamos brincar.

Não podemos escolher o lugar onde vamos nascer, nem os pais, os irmãos... Que bom, senão seria tudo muito simplista. Agradeço aos pais que tenho, pelo sacrifício de trabalhadores árduos que são, para manter os estudos das filhas. Apesar de desencontros, tristezas, incompreensões, temos aprendido muito nessa relação imposta pela natureza, mas ponderada pelos sentimentos.

Alguns podem dizer que quem escreve é um solitário. Pode ser. Mas, em tudo que lemos e falamos há as reticências produzidas pelo outro. Por isso como posso esquecer das minhas irmãs queridas: Luciana, Iara e Milena. Obrigada pela força, pelas palavras e pelo silêncio, pois que a concentração às vezes exige que todas as emoções se calem.

Assim, também agradeço à Érica, amiga, irmã escolhida na vida, colega de profissão... Tudo passa como um rio embaixo de nossos pés. A admiração e o carinho que tenho por você transcendem o tempo.

Agradeço também à Adalgisa, Ednara e Vanessa, colegas de profissão e pessoas que muito admiro por fazerem do cotidiano profissional uma defesa constante dos direitos sociais e humanos.

À equipe do Centro de Referência da Assistência Social de Currais Novos, pelas informações e acolhimento durante minha estadia e coleta de dados.

À Professora Silvana Mara por ter se dedicado à orientação desse trabalho, apesar das inúmeras atividades sob sua responsabilidade. A convivência compartilhada com ela me auxiliou a buscar referenciais teóricos e a reconhecer a fundamental importância da pesquisa em nossa vida.

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À Professora Regina Célia Tamaso Mioto, pelo exame atento a este trabalho desde a qualificação do projeto de pesquisa, atenção que foi renovada com sua participação na banca examinadora dessa dissertação.

À Secretaria do Programa de Pós Graduação da UFRN e à Lucinha, em especial, pela atenção e apoio prestados.

Às colegas da turma de 2006.1 deste Programa de Pós Graduação pelas contribuições teóricas. Agradeço em especial à Anny, Aluízia e Katiane por compartilhar idéias e pelo companheirismo demonstrado em muitos momentos.

À CAPES, pela bolsa de estudo, grande oportunidade de me dedicar à pesquisa tendo uma segurança material.

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RESUMO

Este estudo analisa as inflexões da ofensiva do capital sobre o trabalho tendo como contexto sócio-histórico a relação entre reestruturação produtiva e reprodução social das famílias das classes trabalhadoras. Parte do pressuposto de que a reprodução do capital, por alavancar profundas transformações na produção, organização do trabalho e nas relações sociais, produz também determinações nas condições de vida e de trabalho, nas relações afetivas e na convivência familiar expressando, assim, um modo de subjetividade. Assim, as condições de reprodução do trabalho no cenário objetivado pelo capitalismo contemporâneo têm demonstrado uma crescente pauperização dos (das) trabalhadores (as), a insegurança alimentar, a precarização do trabalho, o enfraquecimento de sua organização política e a regressão do Estado na condução das políticas públicas que caracterizam a violação cotidiana de direitos humanos e sociais. Nessa abordagem, buscamos contemplar as várias configurações de convivência afetivo-sexual expressas pela família, articulando-a a divisão do trabalho contemporânea, refletindo sobre as formas de satisfação das necessidades engendradas pelo grupo para preservação de seus vínculos, em face do cotidiano adverso e que se traduz em crescente responsabilização para atender demandas sociais e nos impedimentos ao enriquecimento da individualidade e diversidade humanas.

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ABSTRACT

This work problematizes the inflections of the offensive of the capital on the work, having as a social-historical context the relation between the productive restructuring and the social reproduction of the working families’ classes. Part of the presupposition that the reproduction of the capital, to raise deep transformations in the productions, organization of the work and in the social relationships, it also produces determinations in the life and work conditions, in the affectionate relationships and in the family coexistence expressing, so, a subjective way. Thereby, the conditions of reproductions of the work in the scenery aimed by the contemporary capitalism have been demonstrating the crescent impoverishment of the workers, the alimentary insecurity, the shortage of the work, the weakness of the political organization and the regression of the State in the conduction of public policy that characterize the daily violation of human and social rights. In this approach, we seek to contemplate the several configurations of affectionate-sexual coexistence expressed by the family, articulating it to the contemporary work division, pondering about the forms of satisfaction of the needs engendered by the group for preservation of their bonds, in face to the daily adversity which translates to the growing responsibility to assist social demands and in the impediments to the enrichment of the individuality and human diversity.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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LISTA DE SIGLAS

AABB: Associação Atlética Banco do Brasil

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAPS: Centro de Atenção Psicossocial

CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CONLUTAS: Coordenação Nacional de Lutas

CRAS: Centro de Referência da Assistência Social CSN: Companhia Siderúrgica Nacional

DNOCS: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DRU: Desvinculação das Receitas da União

FMI: Fundo Monetário Internacional

FUNDEB: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Ba´sica IAPS: Instituto de Aposentadorias e Pensões

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LBA: Legião Brasileira de Assistência

LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais

MDS: Ministério do Desenvolvimento Social MTE: Ministério do Trabalho e Emprego NAPS: Núcleo de Atenção Psicossocial OMC: Organização Mundial do Comércio

OPEP: Organização dos Países Exportadores de Petróleo PAIF: Programa de Atenção Integral à Família

PCB: Partido Comunista Brasileiro

PETI: Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAS: Política Nacional de Assistência Social

PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PSD: Partido Social Democrata

PTB: Partido Trabalhista Brasileiro SAM: Serviço de Assistência ao Menor

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SESC: Serviço Social do Comércio SESI: Serviço Social da Indústria

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO________________________________________________14 2 CRISE E REESTRUTURAÇÃO: CONFIGURAÇÕES ATUAIS DA RELAÇÃO

ENTRE ESTADO, CAPITAL E TRABALHO_________________________18 2.1-Tendências sócio-históricas da ofensiva do capital sobre o trabalho___18 2.2-A Contra-Reforma do Estado e as classes trabalhadoras no Brasil____39 3 A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE E DA FAMÍLIA NA

SOCIABILIDADE DO CAPITAL__________________________________60 3.1-A relação Trabalho e Subjetividade__________________________60

3.2-Contradições da sociabilidade capitalista e as inflexões à subjetividade da classe trabalhadora____________________________67 3.3-A família da classe trabalhadora como campo de expressão da subjetividade______________________________________________76 4 MARCOS CONTEMPORÂNEOS DE EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE NA

FAMÍLIA DA CLASSE TRABALHADORA__________________________85 4.1-Constituição sócio-histórica do lócus de pesquisa e a relação com o capitalismo contemporâneo___________________________________85 4.2-O perfil das famílias inseridas no Centro de Referência da Assistência Social em Currais Novos/RN__________________________________92 4.3-O percurso metodológico e o perfil dos sujeitos entrevistados: apreendendo aspectos estruturais e subjetivos das famílias__________98 4.4-A família da classe trabalhadora frente às demandas da sociabilidade contemporânea: trabalho, valores, necessidades e novos desafios_________________________________________________114 4.5-Família: violação de direitos e expressões da violência_________135 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS_____________________________________145 6 REFERÊNCIAS______________________________________________156

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1 INTRODUÇÃO

As determinações do capitalismo contemporâneo na subjetividade da família da classe trabalhadora é o objeto de estudo desta dissertação.

O interesse pela temática emerge da experiência de estágio curricular do Curso de Serviço Social da UFRN, realizado no período de 1999-2000, em que foi realizada uma análise sobre a participação familiar n

o tratamento dos portadores de transtornos mentais do NAPS/Oeste (Oliveira e Santos, 1999). Interesse que se renovou na atuação como assistente social no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), em Cerro Corá/RN, onde foi possível desenvolver uma abordagem integral da família. Entre 2005 e 2007, trabalhando no Programa de Habitação da Secretaria Municipal de Trabalho, Habitação e Assistência Social de Currais Novos/RN, outros elementos se somaram à reflexão sobre a família da classe trabalhadora, instigando a busca do aporte científico propiciado pelos estudos no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN.

A perspectiva de totalidade é adotada na presente pesquisa por nos permitir uma atitude investigativa sobre a realidade concreta dos sujeitos pesquisados, em relação com a sociabilidade em suas determinações históricas e contraditórias.

É relevante ressaltar que a categoria analítica família é concebida como complexo social expressivo da subjetividade, nos marcos de uma sociabilidade que alicerça os indivíduos, em seus valores e ações, e que se reproduz favorecendo a contínua produção de valores de troca. Partimos do pressuposto que a sociabilidade vigente tem se configurado como via de mão dupla para a subjetividade: por um lado as apropriações objetivas têm ampliado as capacidades cognitivas, produtivas, afetivas e valorativas dos sujeitos e, por outro, a funcionalidade dessas apropriações, no bojo de uma sociedade onde impera o valor de troca, aponta para a deterioração das condições concretas de vida e de trabalho. Na medida, então, que atrofia a subjetividade, pretere o sentido de “ser” ao de “ter”.

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subjugação da natureza e destruição das fontes e matérias-primas. Essa objetividade tem assumido, no mundo do trabalho, uma feição de crescente alienação em que a contradição de classe tem sido “mascarada” a favor da homogeneização e harmonização da sociabilidade controlada pelo capital. Assim, também analisamos a subjugação do trabalho pelo capital objetivando-se de forma ofensiva sobre a subjetividade, sobre o campo das particularidades, capacidades, aptidões e valores que diferenciam os indivíduos, amalgamando-os à condição de sujeitos únicos pela possibilidade de possuir objetos e singularidades personificadoras do valor de troca. São particularidades que compõem a subjetividade desenvolvida no âmbito da deterioração das relações sociais pela precariedade na inserção ao trabalho, pela violação dos direitos sociais e humanos, pela perda de referencial político e ideológico e pela insegurança na efetivação de projetos de vida.

Concebendo a família da classe trabalhadora como expressão das condições objetivas e subjetivas, entendemos que é portadora de funções específicas e contraditórias na reprodução social. Tem assumido as funções de procriar, cuidar e/ou socializar e construir condições para a formação dos indivíduos, mas que é inflexionada pelas condições objetivas dadas, expressando afetos, conflitos, solidariedade e violência, devendo ser, portanto, entendida como uma instância em que se reproduz, contraditoriamente, a ideologia dominante e também a ideologia da classe dominada. Tal contraditoriedade se refere à capacidade de socialização e constituição da individualidade humana, onde a reprodução e a crítica a valores e práticas próprios da sociabilidade capitalista se materializam nos modos de convivência.

A família da classe trabalhadora tem sido inflexionada pela ofensiva do capital, a mudar e adequar suas formas de convivência de modo a atender demandas próprias da responsabilidade estatal, quando não, são culpadas pelas expressões de violência, vícios e criminalidade. Em razão da deterioração do Estado na condução das políticas públicas efetivadoras de direitos, a família tem sido chamada a compor o pacto social, sendo injustamente responsabilizada, dentre outras, pelo cuidado com doentes, pessoas com deficiência, idosos, desempregados e toda ordem de doenças mentais.

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formas precárias e degradantes, desenvolvidas por crianças, adolescentes, mulheres, idosos, desprotegidos das leis trabalhistas e caracterizando um quadro de cruel violação de direitos.

A família, entendida nos parâmetros da dialética marxista como grupo social voltado à realização de vínculos sociais e afetivos se inscreve de forma contraditória na reprodução social, portando funções que estão vinculadas à subjetividade. Por isso elaboramos como questões de pesquisa nesta dissertação: como se expressa a subjetividade na família da classe trabalhadora em face do cenário de violação de direitos e degradação das condições de vida e de trabalho? Qual a função social da família, enquanto complexo social, diante das determinações das atuais transformações gestadas no mundo do trabalho? A família tem desempenhado sua função no processo de reprodução social numa perspectiva de alienação ou emancipação frente às mudanças impostas pelo capital para o trabalho?

No tocante à concepção de família, as abordagens sociológicas têm priorizado os estudos antropológicos e os economicistas, atentando para as relações de parentesco ou à perspectiva funcionalista, não havendo muitos trabalhos que analisem de forma crítica a vinculação da família à apropriação da subjetividade pelo capitalismo1

.

Num contexto em que a política da Assistência Social aponta para uma compreensão ampla das formas de convivência familiar e da integralidade das ações dirigidas à família, julgamos pertinente a tentativa de construir uma análise crítica da subjetividade e de um de seus campos de expressão - a família - numa perspectiva de totalidade, materializada nas relações de produção e reprodução da vida social.

Da realidade que compõe a ofensiva do capital sobre o trabalho, que afeta de forma particular as economias nacionais de acordo com a posição estabelecida no sistema de produção, julgamos relevante analisar as configurações da subjetividade considerando que as objetivações controladas pela sociabilidade capitalista são um fenômeno comum à totalidade social.

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Dessa forma, escolhemos o município de Currais Novos/RN2 como unidade de análise circunscrevendo nosso estudo às famílias da classe trabalhadora da zona urbana e que estão cadastradas no Centro de Referência da Assistência Social (Casa das Famílias), considerada como porta de entrada para os serviços sociais básicos de proteção às famílias. A escolha deste lócus de pesquisa se constrói pela inexistência de produção teórica-crítica acerca das categorias sociabilidade e subjetividade nessa realidade e pela viabilidade de coletar dados em razão do caráter exploratório realizado no período de intervenção (entre 2005-2007).

Pretendendo contribuir para o debate do Serviço Social acerca da família e da subjetividade nos marcos de uma sociabilidade que usurpa de sentido “o humano” nas relações sociais, objetivamos a produção de uma análise que possa instrumentalizar criticamente os profissionais dessa área e áreas afins a orientar suas práticas pelos princípios de universalidade de direitos, respeito às formas de convivência de modo a construir outra sociabilidade, pautada nos valores da emancipação humana. De forma específica, acreditamos, também, que o presente estudo poderá contribuir às intervenções profissionais no atual contexto de retomada da intervenção na família no âmbito do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e de implantação das “Casas das Famílias”.

Esperamos ainda, que esta pesquisa possa contribuir para os sujeitos pesquisados ao resgatar suas histórias de vida, possibilitando-os a reflexão sobre as condições objetivas e subjetivas concretizadas em seu cotidiano.

2 Currais Novos, cidade situada na Mesorregião Central Potiguar; microrregião do Seridó Oriental tem

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2 CRISE E REESTRUTURAÇÃO: CONFIGURAÇÕES ATUAIS DA RELAÇÃO ENTRE ESTADO, CAPITAL E TRABALHO.

2.1. TENDÊNCIAS SÓCIO-HISTÓRICAS DA OFENSIVA DO CAPITAL SOBRE O TRABALHO.

O amadurecimento do projeto burguês na transição do século XX para o XXI afirma o processo de mundialização do capital em que o cenário de contradições entre forças produtivas, relações de produção e a luta de classes concretiza a totalidade histórica.

A forma de acumulação materializada na contemporaneidade ingressa a sociabilidade numa “fase” de ofensiva do capital com profundas transformações na esfera da produção que incide, de forma perversa e destrutiva, no trabalho, no plano de sua concretização e na forma de ser da classe trabalhadora.

É importante ressaltar que, ao nos referir à categoria “classe trabalhadora”, remetemo-nos à perspectiva marxiana e, especificamente, a Antunes (1999) que amplia o conceito incluindo os homens e mulheres que vendem sua força de trabalho em troca de salários, seja no mercado formal, contratualista, do setor de serviços, o proletariado rural, o trabalhador precarizado, terceirizado, os assalariados da economia informal e, claro, os desempregados que formam o crescente exército de reserva na fase de crescimento do desemprego estrutural.

Considerando as respostas formuladas às crises cíclicas pelo Capital, em curso desde a década de 1970, temos que a atual forma de sua reprodução sinaliza a desigualdade social, a violação de direitos e a precarização que oprime a classe trabalhadora e que expõe homens, mulheres e suas famílias ao processo de desorganização classista e aviltamento das condições de reprodução.

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demarcam mudanças profundas no modo de pensar, agir, criar e valorar no mundo do trabalho.

A forma com que se desenham as transformações na sociabilidade vigente é depositária da demanda urgente pela expansão de lucros pela classe capitalista no ocaso da acumulação rígida e emersão da acumulação flexível, que possibilita ao capital inverter os efeitos da crise pela financeirização da economia, redução dos salários e do custo do trabalho, aumento exponencial do desemprego (desemprego estrutural) e pelas relações informais de trabalho.

O capital mundializado reitera o objetivo de seu projeto imperialista de obtenção máxima dos lucros através da funcionalidade das forças produtivas e do ataque ao poder organizativo da classe trabalhadora, em que o desemprego e o trabalho informal e precário revelam as limitações de a ofensiva capitalista renovar a totalidade histórica.

O capitalismo contemporâneo, que se materializa da década de 1970 até os dias atuais, constitui-se uma fase de intensas mudanças na economia, cultura, política e sociabilidade que nos permite referenciar o terceiro estágio do imperialismo como uma “nova” fase do capitalismo, segundo Chesnais (2003). Nesse sentido, remetemos à consideração de que a renovação do capitalismo representa uma resposta à crise configurada a partir da década de 1970 nos países centrais, que se espraia para as outras economias na década seguinte e que se concretiza na expansão dos lucros pela financeirização da economia. O fetiche do dinheiro constitui-se, no atual contexto, meio de recuperação da crise, em que fundos de pensão e de investimentos emergem como dominantes no processo de circulação.

Segundo Netto e Braz (2007, p:52), referenciados na análise de Chesnais:

(...) consumou-se, nesse período de cerca de trinta anos (entre 1940 e 1970), a mundialização do capital, entendida agora estritamente como ‘o quadro político e institucional que permitiu a emersão, sob a égide dos EUA, de um modo de funcionamento específico do capitalismo, predominantemente financeiro e rentista, situado no (...) prolongamento direto do estágio do imperialismo.

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Um relevante fator que contribuiu para a valorização do capital entre as décadas de 1940 e 1970, se refere à alteração no fluxo dos capitais, através da exportação de investimentos entre os países centrais, que matizou a obtenção de lucros em todos os Estados-nação, demarcando a subalternidade e dependência dos países periféricos às concessões de empréstimos e investimentos das instituições financeiras dominantes das economias centrais.

Nesse decurso, a manutenção da valorização do capital teve como causas o aprofundamento da financeirização da economia, os altos lucros resultados da indústria bélica da Segunda Guerra Mundial, os efeitos da Terceira Revolução Tecnológica e o emprego dos princípios fordistas-tayloristas3 na produção (esses dois últimos fatores representados pelo desenvolvimento das forças produtivas que permitiu novas formas deextração de mais valia).

Sobre uma base moderna, técnico-científica, a força de trabalho foi convertida em capital com muita agilidade com a implantação dos princípios tayloristas na produção fordista.

O paradigma administrativo taylorista administrativo possibilitou no mundo da produção a fragmentação do trabalho, o planejamento rigoroso dos tempos e movimentos e a ampliação da produtividade. Representou assim, uma ameaça clara ao saber-fazer do operário, na qual imperou a repetição dos gestos na atividade produtiva que contribuiu para a desidentidade entre o ser que trabalha e o seu trabalho.

A utilização da máquina na produção e a complexificação da relação entre indivíduo e os meios de trabalho resultou em formas de limitação e degradação das suas capacidades físicas e psíquicas onde o trabalhador é apenas supervisor e executor do plano gerencial.

3 Em Antunes (1995, p.17) encontramos uma apropriada definição de fordismo e taylorismo que nos

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O tempo de trabalho, mesmo que reduzido, foi mais intensificado para a extração de mais-valia relativa, distanciando o indivíduo da coletividade através de uma força contrária a individuação, que só permite o individualismo. Características das relações sociais no plano da produção em massa taylorista e fordista foi a democratização do acesso aos produtos industrializados e padronizados, o encantamento dos indivíduos no plano do consumo, o egoísmo e o utilitarismo.

A implantação do keynesianismo foi intencional nessa fase para fortalecer a capacidade de consumo da classe trabalhadora, contribuindo para abafar as potencialidades contestatórias através da elevação de salários, redução da jornada de trabalho, direito à aposentadoria e pensões, seguros acidente e de saúde, melhorias no ambiente físico de trabalho, sendo que esse quadro prevaleceu apenas em países de capitalismo desenvolvido, notadamente na Europa até 1970.

Aliou-se, no contexto de crescimento dos lucros capitalistas sob a regência do modo de fazer e pensar taylorista-fordista, a “quebra” na identidade da classe trabalhadora pela denúncia das ações autoritárias do socialismo stalinista, a cooptação de lideranças sindicais em virtude da possível transformação das condições de vida e de trabalho do proletariado via implantação dos princípios keynesianos e das políticas sociais.

A melhoria no acesso ao crédito, articulado à racionalidade da produção em massa, mesmo com o controle dos salários, até os anos de 1970, propiciou produtividade ao capital de maneira a potencializar a extração de mais-valia relativa. O incremento da técnica, o emprego massivo da máquina e a economia de trabalho vivo transformaram o processo de extração de mais-valia nesse período, auxiliado pelo crescimento do setor de serviços incorporando excedentes de mão de obra da indústria.

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realizando o que Marx denominou como subsunção real do trabalho ao capital4 . A acumulação acelerada do capital no pós-segunda guerra, na fase de amadurecimento do fordismo, teve como núcleo de legitimação a refuncionalização do Estado (NETTO e BRAZ, 2007)de forma a atender os lucros do monopólio, a estabilidade das empresas através da renúncia fiscal, os investimentos em infra-estrutura e, principalmente, a responsabilização pela reprodução da força de trabalho, “financiados agora pelos tributos recolhidos da massa da população – financiamento que assegura prestação de uma série de serviços públicos (educação, transporte, saúde, habitação, etc.)” (idem, p. 205).

A sedimentação ideológica da fase industrial sob a hegemonia do saber-fazer americano e a bem sucedida experiência do Welfare State nos países centrais estimulou a formação de um “novo ethos consumista de massas” (BEHRING e BOSCHETTI, 2007) a partir da intensa industrialização, urbanização e expansão dos meios de comunicação dos valores burgueses vinculados à economia “com forte expansão da demanda efetiva, altas taxas de lucros, elevação do padrão de vida das massas no capitalismo central, e um alto grau de internacionalização do capital, sob o comando da economia norte-americana...” (idem, p. 88).

A intervenção estatal na economia, além de ter legitimado o aumento da produtividade do capital serviu para legitimar o poder das classes dirigentes através da instituição de direitos sociais e políticos, sob a orientação de partidos social-democratas cristalizando as garantias do Welfare State nos países centrais.

A dialética entre forças produtivas e relações de produção, permeada pela luta entre os projetos de classe, expuseram, no entanto, os limites da fase de expansão do capitalismo nos “anos de ouro” por meio da constituição do desemprego estrutural, desvalorização da força de trabalho e crescimento das dívidas públicas e privadas. Tal processo, iniciado entre fins da década de 1960 e início de 1970, sinalizou a estagnação do ciclo econômico do capitalismo e

4 Esse processo, iniciado na segunda metade do século XVIII e consolidado no século XIX com a

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apresentou como características: a incapacidade de consumo das classes trabalhadoras, em razão do quadro de desemprego e a correlata intensificação na aplicação de tecnologias e flexibilidade na produção e no consumo; a pressão política dos sindicatos por melhorias salariais, contrastando o período anterior da acumulação capitalista em que se identificava melhor distribuição de rendimentos; queda da inflação, o que contribui para diminuir as taxas de juros reais; a lenta expressividade da produtividade do trabalho e a progressiva queda nos salários.

Analisando as causas e funções das crises estruturais do capitalismo, Netto e Braz (2007, p. 161) expõem como determinantes:

a) a anarquia da produção: (...) o mercado é inundado por mercadorias cuja destinação é incerta, uma vez que a sua produção é comandada exclusivamente por cada capitalista, tendo em vista apenas a obtenção do lucro (...);

b) a queda da taxa de lucro;

c) o subconsumo da classe trabalhadora: (...) esse descompasso entre a magnitude da produção de mercadorias e a possibilidade de sua realização deve-se ao fato de as massas trabalhadoras não disporem de meios para comprá-las.

Mais que causas da crise, tais fatores apontam os mesmos autores, possibilitaram as condições para que a lei do valor se impusesse através do investimento, por parte dos capitalistas, em inovações de métodos produtivos e tecnológicos capazes de reduzir o tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorias e elevar a produtividade do trabalho. Tal movimento constituiu a base para o desenvolvimento da tendência de queda da taxa de lucro, pois a partir da generalização na aplicação desses novos métodos e técnicas pelas classes dominantes, tornou-se limitada a obtenção de lucros por parte do capitalista tomado individualmente como produtor.

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investimentos nas políticas sociais herdeiras das lutas dos trabalhadores e a emergência de movimentos sociais que colocaram no cenário político e cultural a luta pela igualdade de direitos entre os sexos, os direitos dos negros, dentre outros.

O período de acumulação imperialista, com o redesenho geopolítico que fez ascender a hegemonia norte-americana, trouxe em seu bojo a luta entre os projetos burguês e proletário na década de 1970. Nesse processo tiveram destaque as reivindicações do operariado, da juventude, e dos movimentos sociais em geral, inspirados nos princípios comunistas, denunciando a superexploração dos trabalhadores e trabalhadoras, a irracionalidade das guerras para manutenção do poderio americano e a falência do american way of life.

Para Antunes (1999, p. 31) a crise registrada na década de 1970 representou uma das crises do capital que se materializou como crise do fordismo enquanto tendência decrescente da taxa de lucro e dos mecanismos de regulação e de incontrolabilidade do sistema de metabolismo social do Capital. Como resposta a essa crise emergiu a reestruturação do capital e do trabalho, “cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal...” (idem, p. 31).

Na rica análise de Netto e Braz5 encontramos um referencial que nos permite analisar a crise no processo de acumulação de lucros e de queda nas taxas de crescimento materializada no início da década de 1970 como “crise de subprodução

5 Apoiados na perspectiva crítica de análise do capitalismo, suas crises, superações e limites, Netto e

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dos valores de uso6”, que resultou em sérios danos à composição do trabalho pelo desemprego estrutural inerente a esse movimento de estagnação da economia.

Se o que ocorre na crise é a “subprodução de valores de uso”, é fundamental observar que anterior a esse processo ocorre a “superprodução de valores de uso” que, impossibilitados da entrada no circuito do valor de troca7, em que o capitalista investe dinheiro para produção de mercadorias com o único fim de lucrar o investimento anterior,torna incompatível a demanda e o valor investido na produção.

Um dos principais entraves à transformação do dinheiro em mercadoria e a conseqüente capitalização é o desemprego que interrompe o processo de realização da acumulação de mais-valia, afetando o modo de reprodução do sistema que passa a demandar respostas para sua manutenção.

É relevante frisar nesse período de estagnação do ciclo econômico experenciada a partir da década de 1970 o aumento exponencial da “onda do desemprego” em economias centrais. No caso de países como os Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido, “essa onda se formou por volta de 1975 – 1985, levando as taxas de desemprego próximas a 10%, que se estabilizaram durante a segunda metade dos anos 1980, e tardaram a desaparecer na Europa” (DUMÉNIL e LÉVY, 2003, p. 18).

Para os autores, a causa do desemprego nesse período foi a “diminuição da acumulação do capital e do crescimento da produção”, impossibilitando a rentabilidade do capital, em que as taxas de lucro caíram de 20% em 1960 para 12% no início da década de 1980.

Entendemos que a reprodução do ciclo do capitalismo na derrocada da era de intensa acumulação configurada entre as décadas de 1940 e 1970 demandou respostas incisivas no quadro econômico e político e, de forma específica na

6

Como exemplo concreto demarcando a detonação da crise na década de 1970 podemos citar a superprodução do petróleo, induzindo a queda no preço do produto e impossibilitando a extração de lucros para os países e empresas exploradoras da atividade petrolífera.

7 Valor de troca pode ser definido como “a proporção quantitativa pela qual valores de uso de um tipo

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produção. Nesse sentido concordamos com Netto e Braz (2007, p. 214) ao referir que tais respostas se consolidaram a partir da década de 1990 (conformando a referência “capitalismo contemporâneo”) através da síntese de estratégias: “reestruturação produtiva, financeirização do capital e ideologia neoliberal”.

Tais respostas incidiram de forma diferenciada para os dois pólos da estrutura de classes e, de forma particular para a classe trabalhadora que, no ascenso da revitalização do capitalismo, nas últimas décadas do século XX para o século XXI, teve sua identidade seriamente abalada pela nova organização da produção, condições de organização política e aprofundamento da desigualdade expressa no empobrecimento e “barbárie” das relações sociais.

No plano da produção, a reestruturação produtiva emergiu como expressão da ofensiva capitalista estabelecendo um conjunto de inovações tecnológicas e de gestão do trabalho que impulsionaram uma nova funcionalidade às forças produtivas a partir da racionalização da produção, da intensa cooptação e desidentidade da classe trabalhadora e da flexibilização na produção e no consumo.

Para Alves (2000) a intencional ofensiva do capital contra o trabalho segue a lógica da valorização que culmina no momento predominante do novo complexo de reestruturação produtiva: o toyotismo. Para o autor, a expressão “novo complexo de reestruturação produtiva” não pode ser reduzida apenas à dimensão tecnológica, mas é necessário frisar principalmente as transformação na organização do trabalho e a conformação da subjetividade da classe trabalhadora:

A princípio, o toyotismo pode aparecer como mera operação organizacional, entretanto, é por meio dele, da nova racionalização organizacional da produção (e do trabalho) capitalista, que é reposto, num grau superior, um novo modo de captura da subjetividade operária, ‘uma subordinação formal-intelectual’ (no bojo da subsunção real do trabalho ao capital) adequada à época da pós-grande indústria. Na passagem para a nova etapa da acumulação capitalista, busca-se constituir um novo padrão de hegemonia do capital na produção (idem, p. 12).

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O sistema Toyota é um método que tem por características um sistema de produção diversificado, plástico, em comparação à rigidez fordista, adaptado à produção em séries restritas de produtos diferentes, variados e a preços baratos, com um sistema de contratos institucionalizado que prevê a tensão constante entre inovações a serem oferecidas pelas empresas subcontratadas e uma relação de envolvimento dos sindicatos aos interesses da empresa principal.

Como condicionante para o surgimento de tal processo de trabalho no Japão e que podemos relacionar às demandas na produção também do Ocidente, temos a imperiosa necessidade de aumentar a produtividade sem aumentar a quantidade de produtos e a demanda por diversificação, num contexto de não adequação dos métodos dominantes no país pelos custos representados pela grande indústria. A recomendação do método toyotista nessa fase é reduzir pessoal; abolir estoques e excesso de equipamento, representando o que Ohno8

refere como “fábrica mínima” ou “magra”.

Essa é considerada como a primeira descoberta de Ohno: o estoque é um instrumento metodológico para identificar excessos de pessoal, equipamentos e produção, fazendo com que o método kan-ban (importado dos Estados Unidos) seja um eficiente meio de controle. A segunda descoberta de Ohno se refere à necessidade de tornar visíveis os excessos através de mecanismos como um sistema de luzes e um plano visual (andon) de onde é possível identificar os problemas no fluxo da produção.

Um dos condicionantes estruturais do método toyotista que mais se aplica à necessidade de reversão da estagnação do ciclo econômico do capitalismo é a possibilidade de aumento da produtividade do capital garantida pela diminuição do preço de custo e produção das mercadorias, diversificadas e em pequena quantidade, adaptando-se à dinâmica do mercado consumidor e a inovação na gestão organizacional a partir da diminuição da utilização de trabalho vivo,

8 Taiichi Ohno (1912-1990) foi o engenheiro mecânico responsável pela criação do Sistema Toyota

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estabelecimento de parcerias com empresas subcontratadas e a ideológica colaboração mútua entre empresa e operário materializada no sindicato-empresa.

A crise do padrão rígido de produção inaugurada em 1970 demandou intensificação da produção frente a um mercado consumidor abalado com os resultados da estagnação econômica e desemprego dessa fase. Abolir estoques e produzir bens personalizados, para um mercado externo altamente concorrido demandava o enfrentamento do sindicalismo, forte em tempos de Estado Social formulador de políticas sociais garantidoras da reprodução da força de trabalho. Nesse sentido, é importante ressaltar que as inovações do toyotismo ao mesmo tempo que possibilitaram a transparência e a flexibilidade da produção e da gestão, tiveram uma forte resistência dos trabalhadores qualificados no Japão.

Sendo assim, foi no bojo da produção taylorista-fordista que nasceram as bases para uma flexibilização da produção, enquanto expressão da busca incessante do capital por lucros após um período de estagnação como foi a que se configurou a partir da década de 1970.

A partir da década de 1980 o conjunto de respostas do capitalismo para sua própria crise afetou sobremaneira a sociabilidade tanto no plano da produção quanto da subjetividade. A flexibilidade na produção, inspirado no modelo toyotista, embora não suprimindo princípios fordistas e tayloristas, passou a empregar cada vez menos o trabalho vivo dando espaço para a profusão de ocupações temporárias, precárias, por tempo determinado, subcontratações e terceirizações possibilitando assim a plasticidade do tempo e vinculação ao trabalho tais que dão sensação de rompimento com a opressão capitalista:

Aparentemente, o capital está democratizando as relações sociais: em lugar do emprego, que submete o trabalhador ao infalível e odiado relógio de ponto, admite outras modalidades de trabalho. Pressupõe-se que, afrouxadas as rédeas do controle e do compromisso em tempo integral, o indivíduo pode pensar em arte, lazer, pode cuidar de sua formação (PALANGANA, 1998, p. 110).

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A complexificação das forças produtivas, no contexto atual da reestruturação produtiva, faz o indivíduo vislumbrar a libertação do trabalho opressor e fragmentado porém, no cotidiano, o ata ainda mais ao laço da subjugação através da desorganização da classe trabalhadora, do desmonte das políticas sociais, do desemprego estrutural e do aprofundamento da desigualdade social.

No mundo da produção a reestruturação produtiva e a generalização da adoção dos princípios toyotistas possibilitam o ingresso das economias nacionais na lógica competitiva da economia mundial ou globalizada da contemporaneidade. No outro pólo, no mundo do trabalho, a extração da mais-valia relativa faz crescer o exército de reserva, o trabalho precário, desregulamentado e a imposição ao indivíduo da crescente capacitação profissional como discurso ideológico da possibilidade de inclusão no trabalho.

No capitalismo contemporâneo concretiza-se, então, a intensificação do estranhamento do trabalhador que resulta em “metamorfoses no ser do trabalho” referentes tanto às suas condições materiais quanto subjetivas.

Conferir sentido à resposta do capitalismo para sua reprodução no atual período se faz possível pela flexibilização do processo de trabalho, do mercado, produtos, padrões de consumo e de desenvolvimento desigual. A acumulação flexível se expressa nesse contexto como um conjunto de transformações caracterizado pelo desemprego estrutural; subcontratações; submissão a trabalhos precarizados e insalubres; crescente incorporação da força de trabalho feminina; redução quantitativa do trabalhador fabril e ampliação das contratações pelo setor de serviços.

Antunes (1995) traz essa discussão analisando como características intrínsecas ao processo de reestruturação produtiva: a desproletarização do trabalho industrial, a ampliação do assalariamento no setor de serviços, tendo como um perverso resultado o desemprego estrutural que atinge globalmente a classe trabalhadora, degradando cada vez mais suas condições de vida e de trabalho.

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A legitimação no processo produtivo dessa forma de produção se baseia na aparente eliminação da oposição elaboração/execução evidente no fordismo, que propiciou um envolvimento engajado da classe trabalhadora na produção e criação de um consenso entre classes mediatizado não pelas políticas sociais em retração, mas por privilégios individuais, benesses, ações solidárias da sociedade civil.

No quadro de crise e queda da rentabilidade do capital a resposta demandada para reversão do período de estagnação passou a ser permeada também pelo desenvolvimento do monetarismo, tendo como principal tendência o favorecimento ao capital financeiro, a pressão sobre o assalariamento e o desemprego registrado tanto nas economias periféricas quanto centrais a partir da década de 1980.

Podemos entender esse processo de financeirização da economia como um dos dispositivos intrínsecos à valorização do capital num período de crise, proporcionado por uma super acumulação advinda do investimento na esfera da circulação, investimentos externos das corporações imperialistas e a propagação da fusão de capitais, afastando fronteiras geográficas e se valendo do financiamento das dívidas públicas, fortalecimento e expansão do setor de serviços e a correlata diminuição do investimento de capitais na produção. Nesse sentido, o período de crise gestado a partir dos anos de 1970 criou as condições para o fortalecimento do movimento de concentração de capital pelo sistema bancário e financeiro na medida em que pode se favorecer da queda nas taxas de lucros no plano da produção industrial.

O capital financeiro se favorece também pelo reordenamento do Estado no neoliberalismo através do financiamento dos déficits públicos, obtendo com isso aumento crescente nas taxas de lucro (devido aos altos juros impostos para financiamento). É paralelo ao desenrolar das dívidas públicas a ampliação da concentração de capital financeiro pela classe de investidores, capital esse que não entra no ciclo de criação de mais-valia, embora se alimente dos lucros exclusivamente gerados no plano da produção.

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dependentes de seu financiamento. Tal movimento de valorização do capital não retorna para a produção, se concretiza e está delimitado no plano da circulação, embora tenham sido criados originariamente a partir da mais-valia sugada pelas grandes corporações do capital financeiro.

Tal movimento favorece, assim, ao parasitismo financeiro dos especuladores e das corporações financeiras (bancos, corretoras de ações nas bolsas de valores e títulos de dívidas públicas, agências responsáveis por fundos de pensão) representando uma massa de capitais fictícios que cresce vertiginosamente desde o fim do século XX, proporcionando a formação de núcleos de poder político das finanças sobre governos e sobre empresas, levando a dependência econômica e política e ameaçando soberanias nacionais.

O capital financeiro e industrial interligados e a supremacia do primeiro sobre este último se impõe inclusive na fiscalização das ações das indústrias por parte dos gestores de fundos de investimentos; na remuneração de dirigentes das indústrias em stock options9 e a imposição crescente da economia no uso do capital constante

e o aumento da extração de mais-valia (CHESNAIS, idem).

Este conjunto de mudanças no processo de valorização do capital determina sérios prejuízos às classes trabalhadoras uma vez que a produtividade do trabalho é elevada com a economia do trabalho vivo e implementação de técnicas e tecnologias que exigem cada vez mais operações e atenção do trabalhador, assim como essa imposição tem correlação com a pressão das empresas sobre a organização sindical, a cooptação de dirigentes, flexibilização nos direitos trabalhistas, diminuição do valor da força do trabalho e a precarização nas condições de realização do trabalho.

A atividade especulativa, contudo, é instável, embora altamente lucrativa, e dessa característica se valem as corporações e os especuladores, reforçando o caráter capitalista de produção na contemporaneidade. Os ajustes cíclicos das economias nacionais, especificamente de países periféricos como o Brasil,

9 Stock Options: “‘opções de ações’ são uma forma muito coerente de remuneração de executivos

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representada pela imposição do Fundo Monetário Internacional das adaptações, mudanças e reformas na economia servem para permitir um clima de segurança à extração de lucros do capital financeiro investido. Tal processo se reverte em: garantia de ampliação da propriedade capitalista à classe dirigente que pode se satisfazer da mais-valia criada na produção valorizando seu capital principalmente no período de crise; controle político das corporações impondo o desvio de investimentos públicos para infra-estrutura e atendimento das necessidades básicas da população (educação, saúde, habitação, saneamento básico, etc.)10 e a concentração de poder nas mãos da oligarquia financeira:

As finanças passaram a constituir, nos últimos trinta anos, o sistema nervoso do capitalismo – nelas se espelham, particularmente, a instabilidade e os desequilíbrios da economia dessa fase do estágio imperialista. Envolvendo interesses monumentais e instituições tentaculares, a oligarquia que as controla (não mais que 500 ‘investidores’) dispõe de um poder que desafia a soberania dos Estados nacionais e a autoridade dos seus bancos centrais; deve-se a esse poder a livre mobilidade (itálico do autor) de que os capitais puramente especulativos

(‘capitais voláteis’) passaram a desfrutar e, com ela, a sua capacidade de arruinar inteiras economias nacionais – especialmente através da sua ação sobre o mercado de divisas. (NETTO e BRAZ, idem, p. 233).

Para Duménil e Levy (2003) a transformação no movimento do capital pela financeirização da economia e o equivalente ajuste estrutural voltado à manutenção de níveis de estabilidade deve ser entendida como transformação nas relações de produção. Nesse âmbito combinam-se dispositivos econômicos, políticos e sociais capazes de fazer frente a iminente instabilidade econômica através da pressão sobre o assalariamento, com suas correspondentes formas de desregulamentação, imposição de empréstimos a altos juros para sustentar o ajuste estrutural das economias dependentes e aumento exponencial da dívida externa nos países periféricos, favorecendo a classe dirigente – dentre ela a oligarquia financeira. Nesse sentido, não é por acaso que as grandes corporações financeiras, combinadas em sua composição de capital interno com o capital industrial, apoiaram

10 A matéria do jornal Brasil de Fato (São Paulo, ano 5, nº 241, outubro de 2007) fala do mecanismo

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regimes totalitários em países europeus como é o caso da Alemanha nazista e a Itália fascista, construindo a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento dessas economias assim como financiando empréstimos para pagamentos de dívidas externas ou construindo grandes obras de infra-estrutura na América Latina das ditaduras da Nicarágua, Chile e Brasil, etc.

A instabilidade intrínseca ao movimento do capital sob a égide da financeirização, mesmo com tais dispositivos de segurança leva, no entanto, a pensar sobre a sustentabilidade da hegemonia financeira que tem a frente a hegemonia imperialista dos Estados Unidos. Esse movimento, alimentado pelas crises instauradas nas economias centrais e principalmente periféricas, sob a baliza da criação de créditos, expressa desequilíbrios através do endividamento externo, “endividamento privado muito elevado, tanto dos lares quanto das empresas e um déficit da balança externa” (CHESNAIS, idem, p. 66) que favorece a continuação da especulação e acumulação de capital para os rentistas.

Além de se favorecer dessas crises os especuladores (sob a máscara asséptica e despersonalizada das corporações e favorecida pelo papel do Estado refuncionalizado para favorecimento do grande capital) impõem, para manutenção do superávit e dentro das políticas de ajuste estrutural, a privatização de empresas estatais em plena atividade e terceirização de serviços públicos essenciais à população. Constata-se, nesses processos de venda e licitação, escândalos políticos e jurídicos e favorecimento do grande capital através do que já se tornou corriqueiro o suborno de políticos em diversos países para facilitação das aprovações das privatizações e licitações como é o caso da venda da Companhia Vale do Rio Doce, no Brasil, ocorrida em 199711.

Contudo, deve ser considerado que à hegemonia financeira é atribuída uma autonomia resultada do seu forte caráter fetichizante (“dinheiro criando dinheiro”)

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auxiliado pela função social da mídia, dos jornais televisivos e do poder atribuído à classe dirigente em suas reuniões de cúpula como as promovidas pela Câmara Internacional do Comércio, Encontro de Davos, dentre outros, nas quais são reforçadas as bases de sustentação ideológica e política da classe dirigente.

É relevante frisar que, mesmo que a hegemonia financeira tenha se mantido forte entre os séculos XX e XXI, ela deve ser considerada como uma das faces da resposta organizada e global do capitalismo às suas crises e busca incessante por lucros e centralização de poder. Nesse processo de autonomia há a efetivação de uma prerrogativa do projeto burguês que é o obscurecimento da luta de classes em que participa também a fetichização da vida social, moldada para o atendimento das “necessidades não-necessárias” e a propagação de valores e ideais que promovem o “fim da história”.

É no caminho aberto pelo capital à concentração de poder econômico e político nas mãos da classe capitalista que se articula a instrumentação política e ideológica neoliberal.

A prática do compromisso entre capital e trabalho firmado no auge da produção fordista nos países centrais do capitalismo (Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental), embora contendo em si a demanda do capital por desvencilhar-se dos conflitos com os sindicatos e movimentos sociais, asdesvencilhar-segurou boa parte da estrutura de atendimento às necessidades dos trabalhadores (as) enquanto direito social tendo por contraponto o fortalecimento de sua identidade de classe.

O trabalhador coletivo protagonizou o cenário de lutas e crítica à acumulação rígida do capital, tendo como mediadores as organizações sindicais e partidos políticos, questionando o trabalho parcelar e fragmentado e a exploração intensa da força de trabalho promovida pelo padrão taylorista e fordista; as limitações do compromisso entre Estado e capital na implementação de políticas sociais tendo por contrapartida o abandono do projeto socialista por parte da classe trabalhadora e as limitações da cidadania fetichizada nos limites do consumo de bens que, na verdade, propiciou o acúmulo de lucros pela grande indústria (ANTUNES, idem, p. 41).

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necessidade de afastar as possibilidades de ampliação dos domínios do Estado Socialista em plena vigência da política da Guerra Fria.

A regulação estatal da economia se constituiu, no período fordista, um dos dispositivos históricos de enfrentamento das crises cíclicas do capitalismo, dentre os quais o keynesianismo emergiu como umas das políticas de garantia de pleno emprego, acompanhado pelo estabelecimento de políticas sociais voltadas a ampliação do mercado de consumo e a estruturação do acordo entre classes sob a prerrogativa do abandono e possíveis ofensivas do trabalho sobre o capital.

A socialização dos resultados da produtividade do trabalho que vigiu sob o complexo taylorista-fordista-keynesiano até os anos de 1950 possibilitou o incremento praticamente hegemônico das políticas sociais contributivas de inspiração bismarckiana12 concretizadas em “coberturas de acidentes de trabalho, seguro doença e invalidez, pensões a idosos, seguro desemprego e, por último, auxílio maternidade (...)” (PIERSON apud BEHRING e BOSCHETTI, 2007, p. 92):

O modelo bismarckiano é identificado como sistema de seguros sociais, pois suas características assemelham-se à de seguro privados. Em relação aos direitos, os benefícios cobrem principalmente (e às vezes exclusivamente) os trabalhadores contribuintes e suas famílias; o acesso é condicionado a uma contribuição direta anterior e o montante das prestações é proporcional à contribuição efetuada. Quanto ao financiamento, os recursos provêm fundamentalmente das contribuições diretas de empregados e empregadores, baseadas na folha de salários. Quanto à gestão, os seguros eram originalmente organizados em caixas estruturadas por tipos de risco social: caixas de aposentadorias, caixas de seguro-saúde, e assim por diante, e eram geridos pelos contribuintes, ou seja, por empregadores e empregados (BEHRING e BOSCHETTI, idem, p. 66).

O modelo bismarckiano, de inspiração liberal, contributivo-compulsório, não universalizou direitos sociais. É com a implementação do Plano Beveridge na Inglaterra em 194213 que é ampliada a noção de seguridade social e que se

12A partir de 1883 a Alemanha, sob a direção do chanceler Otto Von Bismarck, e tomando como modelo a iniciativa autônoma dos trabalhadores organizados institui a formação de estratégias compulsórias de seguro social em que os trabalhadores eram obrigados a contribuir, assim como os empregadores, para a substituição de renda em caso de perda de capacidade de trabalho em decorrência de acidente de trabalho, doença ou velhice.

13 Durante a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra, que compõe o grupo dos Aliados juntamente com

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conjugou à estruturação do Welfare State nesse país. Tal modelo passou a influenciar na constituição de políticas sociais, de cunho universal, em que os mínimos sociais devem ser garantidos pelo Estado para cidadãos com necessidades sociais, financiados pelos impostos colhidos das contribuições indiretas e caracterizada pelos seguintes princípios:

(...) 1) responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio de um conjunto de ações em três direções: regulação da economia de mercado a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública de serviços sociais universais, como educação, segurança social, assistência médica e habitação; e um conjunto de serviços sociais pessoais; 2) universalidade dos serviços sociais e 3) implantação de uma “rede de segurança” de serviços de assistência social (idem, p. 94).

A composição das políticas sociais na Europa, combinando princípios liberais e democráticos, expressos no Plano Beveridge e nas orientações de Keynes, constituiu-se um dispositivo de prevenção e enfrentamento às crises cíclicas do capitalismo. Estabeleceu um compromisso entre burguesia e classe trabalhadora, mediado pelo Estado, enquanto agente regulador na dinâmica da economia, de forma a controlar suas flutuações através de investimentos públicos capazes de conter estagnação, estimulando o crédito, o pleno emprego, o controle de preços e a manutenção de política tributária condizente com a formação de superávit (idem, p. 86).

A intervenção estatal na regulação da economia a partir do pós Segunda Guerra combinou-se à produção em massa fordista através da superexploração da força de trabalho, em contraponto a uma melhoria nas condições de vida da classe trabalhadora que tiveram acesso ao crédito para consumo de bens, lazer e estabilidade dos empregos. A cooptação de lideranças trabalhistas em meio a garantias de estabilidade foi emblemático no processo de consolidação de seus lucros nos anos de ouro, onde registrou-se a experiência da social-democracia européia.

A defesa do capitalismo com reformas sociais para promoção da justiça social, tendo como centro de poder o Estado Democrático vigorou como prerrogativa

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de manutenção da exploração dos trabalhadores, considerando-se ainda que os “anos de ouro” se firmaram sobre a busca incessante por rendas tecnológicas propiciadas pela introdução da microeletrônica e reprodução ampla do capital fixo. Nesse aspecto, vislumbrou-se a extração massiva de mais-valia relativa e a constituição do desemprego estrutural, dando indícios do estancamento do processo de valorização do capital entre o fim da década de 1960 e 1970.

Como já explicitado, dois relevantes fatores históricos concorreram para determinar a expressividade da crise do capitalismo da década de 1970 e que condicionou a emergência de uma nova relação entre Estado e economia: a crise do petróleo14 e a desvinculação do dólar ao ouro15, no período compreendido entre 1971 e 1973.

Os dois fatores modificaram a composição das rendas e das relações de produção nos países centrais do capitalismo por significar uma tentativa de reação do sistema à crise de superprodução configurada no período e a necessidade da potência imperialista norte-americana reagir ao crescimento econômico da Europa Ocidental e do Japão que, desde a década de 1960 produziam mercadorias bem aceitas no mercado consumidor terceiro-mundista e também nos EUA.

A perda de competitividade dos EUA no mercado mundial (de produção de mercadorias) e os efeitos da desvinculação do dólar ao ouro fizeram com que investidores deslocassem seus capitais da esfera produtiva para a financeira. Esse processo foi combinado pelo grande capital à pressão por empréstimos aos países

14 O setor petrolífero, liderado por países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Irã, Líbia e Argélia,

constituindo a Organização dos Países Exportadores do Petróleo (OPEP) desencadeiam um processo de crise no mercado mundial entre 1972/1973 após a decisão do grupo em elevar os preços do produto (essencial para a movimentação da grande indústria), o que levou ao aumento de preços de quase todas as mercadorias e a diminuição da produção. Tal processo foi favorável para conter os efeitos da superprodução e o desemprego do período. Os países dependentes da exportação de matérias-primas sofriam os efeitos do desequilíbrio na sua balança externa, tendo que se endividar com importações mais caras. Esse movimento favoreceu ao acúmulo de rendas para países exportadores, sendo uma parte dos lucros destinada a importação de produtos dos países do Norte, entre eles os Estados Unidos, e a outra parte serviu para alimentar o capital financeiro nesse mesmo país assim como na Alemanha. As corporações bancáriasfavorecidas pelo acréscimo desses lucros passaram a pressionar países dependentes por empréstimos em face das crises econômicas vigentes nas diferentes realidades nacionais (e que gerou crise da dívida em vários países); o desemprego estrutural e o clima de contestação política. É relevante ressaltar que a decisão de aumentar os preços do petróleo, que desencadeou a crise mundial, encabeçada por países como a Líbia e a Argélia foi reiterada pela Arábia Saudita e Irã, apoiados integralmente pelos Estados Unidos (WALLERSTEIN, I. 2003), que muito ganharam com as exportações e o crescimento do endividamento dos países dependentes (itálico meu).

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dependentes, colaborando para produzir uma conjuntura desfavorável ao capital monopolista que enfrentava um período de recessão (em razão da crise do petróleo) com quedas nas taxas de lucro, crescimento do endividamento privado, desemprego maciço e deslocamento de fábricas para áreas de subvalorização da força de trabalho (como os países em vias de industrialização) (WALLERSTEIN, idem).

As forças produtivas, conduzidas para o aprofundamento da extração de mais-valia relativa, também concorreu nesse período de recessão para o desemprego estrutural nos países desenvolvidos seguidos por uma forte crítica dos segmentos operários comprometidos com o projeto proletário e os outros movimentos sociais que passam a expressar anseios até então sem expressividade política como as mulheres, os homossexuais, os negros, os idosos, os portadores de transtorno mental, o meio-ambiente, revelando as limitações do capitalismo.

Às mudanças na condução dos rumos da economia mundial seguiu-se a expressividade da luta de classes através da crítica ao poderio hegemônico estadunidense concretizado nos movimentos revolucionários latino-americanos, inspirados na Revolução Cubana (1959), a eleição de Allende no Chile (1970), os movimentos políticos contra a ditadura do grande capital no Brasil entre as décadas de 1960/70, a Frente Sandinista na Nicarágua (1979), sendo esses movimentos expressões do proletariado rural e urbano, combinando em seu processo insurreições populares e sangrenta repressão das burguesias nacionais, quase sempre vinculadas às grandes corporações mundiais que adentram em nosso território com toda força após a Segunda Guerra Mundial.

Os movimentos revolucionários latino-americanos colaboraram nesse período para pressionar o Estado por reformas sociais, distribuição de terras, aumento de salários, estatização de empresas nacionais, diminuição do analfabetismo (e até erradicação como em Cuba, que realizou a revolução socialista em 1959) e a diminuição da mortalidade infantil, etc. Claro que tais movimentos devem ser analisados em suas particularidades históricas, pois na década de 1970 diversas ditaduras foram instauradas na América Latina e que reagiram violentamente às contestações políticas aos seus regimes, como é o caso do Brasil.

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Kahlo, Diego Rivera e Pablo Neruda, por exemplo, constituindo reações de uma “consciência e identidade latino-americana” à situação de pobreza, dependência, endividamento e injustiça, constituindo uma práxis própria e comprometida com o desenvolvimento histórico e cultural.

O processo político latino-americano condiz, então, com a crítica às contradições do capitalismo experenciados pelos movimentos sociais e de juventude da Europa, Estados Unidos e China da Revolução Cultural, incorporando à retórica da esquerda a consciência de que a exploração capitalista não se restringia apenas ao âmbito das relações econômicas, mas também à constituição da subjetividade e da individualidade.

2.2. A CONTRA-REFORMA DO ESTADO E AS CLASSES TRABALHADORAS NO BRASIL.

O Estado, no ocaso da acumulação e quedas nos lucros analisada acima, passou a expressar contradições em sua organicidade em face da dialética entre as forças produtivas e as relações de produção inaugurada na década de 1970, sendo interpretado pelos pensadores da classe hegemônica do capital como o responsável pela crise devido as “benesses” promovidas a classe trabalhadora (atribui-se ao gasto social o endividamento do Estado pelas altas cargas tributárias dispendidas). Nesse contexto o principal ataque aos gastos governamentais se referiu aos direitos dos trabalhadores configurados nas políticas sociais, propriedade pública da infra-estrutura, instituições e empresas.

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A política de privatização de empresas estatais também foi empregada na Inglaterra a partir do governo de Margaret Thatcher (1979/1990), seguida por Tony Blair, efetivando assim a busca de reversão da crise e de seu baixo crescimento. O desemprego, a retração salarial e a forte repressão aos movimentos grevistas, combinado ao combate empreendido ao sistema de emprego permanente (ANTUNES, idem) passou a constituir um conjunto de iniciativas gerais que norteiam a implementação do projeto neoliberal nesse país assim como nos outros países de capitalismo avançado que anteriormente estruturou seu crescimento econômico vinculado a instituição de um forte Estado Social.

A condução ideológica do sistema político neoliberal combina-se ao processo de mundialização do capital através da reformulação da economia com desregulamentação das finanças e das trocas comerciais, constituindo um regime de dominância global:

Um processo de construção institucional internacional, tanto de fato quanto de direito, conduzido pelos Estados Unidos, o G7, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (os elaboradores do suposto “Consenso de Washington”) formalizado na Europa pelo Tratado de Maastricht e apoiado em seguida pela Organização Mundial do Comércio (OMC), tornou a ‘adesão’ dos países obrigatória e reduziu sua margem de escolha quanto às formas de sua ‘inserção internacional’ a sua mais simples expressão (CHESNAIS, idem, p. 52).

A desregulamentação das finanças e das trocas se torna funcional à mundialização do capital, enquanto uma das premissas neoliberais a necessidade de garantir “liberdade” para a apropriação de rendas, tanto financeiras como industriais enquanto capitais que se interpenetram na busca por áreas de “abastecimento, de produção e de comercialização” (idem, p. 53).

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