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Elysio Carvalho.

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Academic year: 2017

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Cad. Nietzsche, São Paulo, v.36 n.1, p. 127-129, 2015. 127 Elysio Carvalho

Elysio Carvalho

*

Fábio Luz**

Resumo: Texto publicado em 1907, no anuário carioca Almanaque Garnier. Nele, o autor apresenta Elysio de Carvalho como o divulgador das obras de Nietzsche no Brasil. Em seguida, reage contra a iniciativa de Elysio, acusando a propaganda feita pelo vulgarizador dos símbolos niet-zschianos e seus novos valores morais de ser inútil e perniciosa aos jovens.

Palavras-Chave: Nietzsche – Elysio de Carvalho – super-homem

Dá-se fatalmente em um daqueles estados d’alma humilde de que fala Nietzsche, sempre que se enfrenta com assunto difícil, como este de darem traços rápidos e poucas palavras o perfil mo-ral de um ser complicado como é Elysio de Carvalho, de uma psi-cologia digna de estudo acurado, com suas virtudes, seus talentos, seus ódios que o fazem, na sua própria frase, um homem de ideias extremas e conclusões radicais, uma natureza impulsiva e espontâ-nea, um rebelde NATO, que não é um escritor brasileiro e sim um supranacional e pertence ao movimento intelectual europeu.

Ora, em se tratando de um ser à parte, inconfundível, único, su-perhomem, supranacional, não me podia furtar à obsessão de come-çar falando de Nietzsche, de me lembrar de Stirner e de me deixar levar na corrente de ideias que tanto preocupam Elysio, mais como coisas exóticas, como novidades literárias do que como condições filosóficas, pois que ele lê mais para satisfazer a vaidade de homem lido do que para encontrar alimento necessário para o cérebro.

* Publicado no Almanaque do Garnir. Rio de Janeiro, ano de 1907, p. 295-296.

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Cad. Nietzsche, São Paulo, v.36 n.1, p. 127-129, 2015.

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Luz, F.

Poucos no Brasil conhecem o autor de Zaratustra; ninguém

en-tendia as complicações do Único e sua Propriedade de Stirner. As nebulosidades de Nietzsche, a sua filosofia egoística e dionisíaca, os símbolos e infinitos parágrafos da Aurora, a Origem da Tragé-dia e o Anticristo precisavam, como livros santos, como alcorões de

novos credos, da interpretação dos textos, e Elysio de Carvalho ati-rou-se a esse trabalho insano de vulgarizar e popularizar as obras dos dois alemães, que a pedantearia nacional dos novos agora

com-preende e aprecia, deliciando-se com textos os mais complicados em que as palavras parecem terem sido colocadas a esmo. Se por um lado a propaganda feita pelo vulgarizador do naturismo em

fa-vor dos símbolos nietzschianos e dos novos valores morais, foi inútil

aos estudiosos e ávidos de saber e perniciosa a uns tantos mocinhos muito eruditos que espantam o burguês com os seus monóculos e os conhecimentos profundos de coisas da Extranja, por outro lado

o individualismo de Stirner não conseguiu fazer carreira apesar dos artigos, biografias e ensaios com que o fundador da primeira Universidade Popular no Brasil, enche e continua a encher colunas e colunas de revistas e jornais, artigos que colocados tem já quilô-metros de extensão, e de um me lembro que media cinco quilô-metros e trinta e três centímetros conscienciosamente medidos.

Irritado com a afirmativa de que os mais notáveis individua-listas têm aparecido em manicômios, tendo seu ídolo – Nietzsche – terminado os seus dias fora do uso da razão, atirou-se ao estudo da Psiquiatria e enfrentou o grande problema do – gênio. Um dia

quando pregava as suas ideias individualistas combatendo Vitor Basch e Marx Nordau, um amigo o encarou como quem procura os estigmas de um degenerado, e de tal modo o fixou que o Elysio compreendeu que havia ali uma alusão, e, cortando uma frase em começo, perguntou:

– Já me julgas louco também?

E não são raros nele esses disparos, que um conhecido costuma

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Cad. Nietzsche, São Paulo, v.36 n.1, p. 127-129, 2015. 129 Elysio Carvalho

queima frequentemente, ao menor sinal de desatenção às suas

pala-vras, à menor distração do ouvinte aos seus artigos que não primam pela síntese, e muito pelo contrário são sempre extensos, cortados de §§, à moda do mestre.

É entretanto um fraco tipo do superhomem, com sua adipo- entretanto um fraco tipo do superhomem, com sua adipo-sidade, e apesar ou por causa dela tem saúde fraca, nefralgias frequentes, irritabilidade neurastênica, enxaquecas que o tornam intratável quando o acometem. Será um representante man das

te-orias exóticas do individualismo, do egoísmo sublimado do anar-quismo transviado, mas não é um superhomem psiquicamente superior, capaz de vencer e esmagar.

Abstract: Text published in 1907, at Rio de Janeiro, in yearbook

Almanaque Garnier. In it, the author boasts Elysio de Carvalho as the publisher of the works of Nietzsche in Brazil. Then reacts against the initiative to Elysio, accusing the propaganda made by the popularizer of Nietzschean symbols and their new moral values to be useless and harm-ful to young people.

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