FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
(
il
HAMILTON NOBRE RABELO
ORÇAMENTO - PROGRAMA.
UMA ANÁLISE DA
EXPERI~NCIAMINEIRA
197811 2343 T/BBAP R1140
I11IIII1III
1000002817MONOGRAFIA APRESEN
TADA
ÀESCOLA BRASILEIRA DE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA
A OBTENÇÃO DO GRAU DE MES
-TRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ORÇAMENTO - PROGRAMA
UMA ANÁLISE DA EXPERltNCIA MINEIRA
MONOGRAFIA DE MESTRADO APRESENTADA POR
HAMILTON NOBRE RABELO
E
APROVADA EM
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t.{.O
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PELA COMISSÃO JULGADORA
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L-IL
ÚLIO PEREIRA DE CARVALHO - Ph.D. em
Ci~nciaPolJtica e
Administraç~o P~blica.~
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LUIZ
AU~ÃNO
GA~DE
ANDRADE - Mestre em Po
Adminis-Rabe lo, Ham i I ton Nobre,
1944-Orçamento-Programa: Uma an~1 ise da exp~
ri~ncia mineira. Rio de Janeiro, Escola
Brasi leira de Administraç~o P~bl ica,
Fun-daç~o Get~1 io Vargas, 1978.
105 p. dato
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
TtCNICA ORÇAMENTÁRIA E FUNÇOES DO ORÇAMENTO
TtCNICAS ORÇAMENTÁRIAS MODERNAS
UMA TtCNICA ADMINISTRATIVA
TOMANDO AS DECISOES DE PLANEJAMENTO
O QUADRO ATUAL
GLOBALISMO VERSUS INCREMENTALISMO
CONCLUSOES
E PERSPECTIVAS
BIBLIOGRAFIA CITADA
~
fNDICE
INTHODUÇÃO
Os dois alentados volumes do orçamento do governo do Estado
de Minas Gerais para
1970
traziam uma novidade em relação aos exercicios anteriores: minuciosas tabelas contendo dados reais e estimados·
acerca de metas, volume de trabalho, recursos humanos e materiais
,
'distribuídos por unidades de serviço denominadQS projetos, ativida
-des e programas. Ao lado -desses elementos quantitativos, o docunento 1 ,
estampava descrições, análises e organogramas. Na capa, o título
cava indicar a mudança: "Orçamento por Programas". Esse estilo
í
bus I
- t
\ - I nao í
f
mais abandonaria os documentos orçamentários mineiros, mesmo após a
f
" í~
entrada em vigor, cinco anos mais tarde, de uma classificação progra
I
- I.
mática nacional que impedia a utilização dos critérios anteriores de f
r
identificação de programas.
O orçamento de
1970,
pelo menos em seu aspecto formal, re-sultara da ação de um grupo de trabalho criado pelo antigo Conselho
t
Estadual do Desenvolvimento, com a assessoria do Instituto Latino
-
\Americano de Planificación Econolllica y Social, órgão das Nações
Uni-das sediado no Cllile. Sua configuração geral refletia experiências
iniciadas nos .EUA e que se voltavam para um aprofundamento das poten
cialidades gerenciais do orçamento. Um marco geralmente aiJontado no
desenvolvimento desse tipo de técnica orçamentária são os relatórios
de um comissão do congresso norteamericano, que, e . .n
1949,
recomen-dou ao governo dos EUA a substituição do or~amento tradicional por
outro baseado em funções, projetos e atividades: a Comissão Hoover •
Um manual, posteriormente, foi preparado pelas l":ações Unidas, rece
bendo, na versão em língua espanhola, o título de "J.':anual de Presu
-I
,
puesto por Programas y Actividades". Conheciàa entre nos pelo nome f
t
de orçamento-programa, essa técnica tem sido intentada no Brasil mel!' f
mo antes do advento da Lei nº 4320, de 1964, que unificou o sistema
orçamentário brasileiro e estabeleceu os primeiros dispositivos paraI
uma explicitação dos elemelltos programáticos através do orçamento
ef
para o acompanhamento de sua execução. Introduzida parcialmente
nol
I
orçamento mineiro a partir de 1970, teve de cor,viver, desde 1975,coml
uma classificação que não tinha por base preocupaçre s adminis tra ti _.
.... . . . . , i
vas, mas a obtenção de informaçoes e de coordenaçao a nlve1 nacionaL
r
, - f '
O objetivo do trabalho e fazer uma apreciaçao crltica do conf
junto de procedimentos utilizados em Minas Gerais sob a rubrica der ,
I
orçamento-programa. Em face desse objetivo, surge como primeirli taj'~
ta a
identificação do orçamento-programa, enquanto técnica, e a esp'~. N A
d1ficaç.o da
modalidade adotada na experiencia mineira, supondoar
I
ê~ist~hcia de mais de uma, o que é feito através do exame de manuai~
a partir do Qladro de referência desenvolvido nos dois primeiros ca-f
P!tulos. No primeiro capítulo, procura-se fixar um esquema de fun
_I
f
ções ou objetivos do orçamento público, dividindo a história orçame!!f
tár1a,
não em
orçamento tradicional e orçamento-programa - ou qualJ
quer outro estilo particular
detécnica orçamentária, mas
emorçame!!1
to tradioional e orçamento moderno.
°
segundo capítulo procura esboJt . t ' "
i
çar a raJe ~ria das tecnicas orçamentar~as surgidas nos Esta~os un~ ..
dos desde o orçamento-programa da Comissao Roover, as quais tem in
_I
fluenciado e servido de modelo para as nossas próprias experiências t
• f
CUlHpre lembrar que Robert Anthony já propusera um quadro de;
funções destinado a servir de referência aos estudos de planejamento
e orçamento: controle operacional,' controle administrativo e 1 '
P aneJ~,
r
f
f
menta estratégico.l Allen ';;chick, tor.1ando-as de empréstimo a AnthonJ4
mas chamando-as sirflplesmente de função de controle; de ad:ninistraçãol
e de planejamento, pretendeu que elas correspondessem, pelo menos
nosl
.l:WA, a fases consecutivas da evolução do orçamento público. 2 A pri
-meira fase teria tido lugar de 1920 a
1935.
A segunda, surgindo como New Deal, alcançaria seu ápice com o orça;nento-progra~Ja da
Comis-são Hoover, no final da década de
4u.
Finalmente, o terceiro estigiocorresponderia aos dias atuais, com o sistema integrado de planeja
-mento, programação e orçamento (planning, programming and budgeting
\
systern- PPBG) e a "emergência dos ecoI1o;Ilistas nos quadros decisórioS:
I
!
~ de se considerar que são mui to cllrtos os seg::Jentos te ::ll;orais esco-
I
I
lbidos para a J.\eriodização. Co:no si tuar no esquema o orçamento'- antes
i
,
de 1 Sr20 e após o PPBS '( O próprio te u,po se encarregaria de friOS trar l
- - " - I,.".
que o
PPBS
nao era o ultimo estagio, pois a recomendaçao para a uti- !lização desse conjunto de técnicas foi oficialmente retirada pelo gQ
verno dos
EUA,
em1969.
No esquema que desenvolvemos no primeirocapítulo, o segundo e o terceiro períodos de Gcbicl{ correspondern ape
-nas a variações acidentais da técnica orçamentária dentro de um orç~
mento moderno, isto
é,
um
orçamento voltado para funções que não po.§.suia antes do New Deal.
A par do exar::e das colocações norma ti vas da técnica,
consi-deramos necessirio perquirir até que ponto os procedimentos em uso
A r'ramework for
of Business Admi
5
correspondem às no::,mas expre s sas 110S I:laDUai s, bem como aos seus pre.§.
supostos te6ricos. Wildavsky,3 fazenJo uma
an~lise
do processo orç.ê;mentário nos .óstados Unidos , pátria do orçamento-programa, não só con
clui que os procedifllentos reais não têm ,liui to a ver com as recomenda
f
ÇÕ~S
dessa técnica, comoCOt~S~cier:
q~e
0dmelhorC~~.inhO
para se ape.ri
e.J..çoar o processo orçamen arlO nao e mu ar as }.iraL.lCaS em uso proc.1!
I
rando enquadrá-las nas prescrições do orçamento-pI'ogra!:a. No mesmo
sentido, e num contexto mais amplo, Charles Lindblom,4 em estudo
an-terior ao de Hildavsky, conclui pela impossibilidade de que o proce.§.
so de tomada de decisões se enquadre em modelos rac:::"onais-dedutivos,
entre os quais se classificaria o orçamento-programa, dado o requer.!.
mento de pressupostos llUrlanamente inatingíveis, e igualmente indica
que a tentativa de utilização do tipo de abordagem requerido por
essas técnicas dificulta, ao invés de auxiliar, o solucionamento dos
problemas. Embora não se inclua no escopo do IJre3ente trabalho inve.§.
tigar a factibilidade ou n~o, em geral, de enfoques globais e
racio-nais-dedutivos, cabe }.ierquirir, no quadro da experi~ncia em questão, como os procediJJentos reais encoLtrados se si tllam em face dessas fof.
1 ' " , t . mUl..açoe s crl ,,]. cas •
Diferen telaente do yroces so ocorrido nos ...:;s t:::...J.o s Unido s, a
-
,
-tentativa de introduçao do orçaroonto-programa nos palses nao
desen-volvidos esteve ligado
à
institucioEalização do ylanejameEto r;cvern.§:mental.
5
Verificou-se que aelabora~~o
de rQanosn~o
teria sentido3\HLDAVSKY, Aaron. 1'1;.e l'oli tics
ol~tJ.~
J3\-lif.etar.z Ps_oce_?s. 13ostol1 Li t tle Brown and Company,1974.
yg. lT+$í.O.4LINDBLON, Charles :2:. & .JlulYl3.dOOK-E, David. U;na estratégia de D.eci são Social. Trad. de Angela li.osenburg. lUo de Janeiro, 2a1:ar,
1972~ pg. 120.
5
para o caso do brasil,ve~a-sc,
:;or cxem.f-lo: (;U..:ilA, .101'[;e Gus.;avo· sem uma adequação dos instrumentos relativos ao orçamento do setor py
blico, considerado o mais i;nyOrtár.tL: jnstrumento do
.planu~a;nento.6
Aexyeriência com o orçaíflcnto-pro(;raíW 8::1 Hinas Gerais ir.icl.ou-se a par
tir do órgão de !üaneja:~lento do governo estadual, no final dos anos 60
No início da década seguint;e, operou-se uma alteração na estrurura de
gas tos do governo, com aurrlento sit;nifica ti vo dos inves timen tos. No me.ê.
mo período, e, sem dúvida, associada de algu:Ila for:na a essa
reorien-tação dos recursos públicos, iniciou-se uma fase de retomada do
cres-cimento econômico em ivlinas Gerais, a tingindo taxas s IJIJcriores
à
mé -dia nacional. Segundo relatórios de técnicos do Instituto Latino-A:nericano de Planificación ~conomica y Social - ILP~3, órgão respons~ -vel pela modalidade de reforlfla orçarrlentária intentada em ;ünas, a e,!
periência mineira com o orça::lento-r;rograma foi ber.! sucedida.7 Se
as-sim
é,
deve-se supor, em face da exVressa intenção de utilização daté cnica num con tex to de plane j arnen to global, que os procedi:nen tos p~ conizados e utilizados tenham contribuído para a mudança de
orienta
-çao na estrutura de gastos do governo. Cabe examinar, portanto, se e
em que medida foi realmente bem sucedida a experiência r.rJineira com o
orçamento-programa e qual teria sido a influência da referida
técni-ca no processo de tomada de decisões. Na verdade, a recente transferên
cia do órgão central de orçamento l)ara a Jecretal'ia ue Flaneja:nento
também se assenta na importância atritJuída ar) orçéd:lt:nto CO;;;Ü
ir.stra-mento de jJlanejair.stra-mento. '-liualquer que seJa o estágio alcançado pela
da. t'lane ",amento Governamental. A óxveriência .Grasi.1eira. Hio
de Janeiro'~ Yundação Getúlio V,irgas, 1971. p. -~súI75.
6veja-se, por exemplo: :::ll:lül'TI, LUcardq & 13AHD..:CCI, Oscar J. Um .c,;n fogue Crítico do Planejamento na A~nerica Latir:a. :3ant.iago, lns ti tu to La tino Americano de F laEifi cación l.:;conomica .y ÜociaJ. p.
te
7";f. 00DOY, Ha::!ón Oviedo. ..:..sçUl.eI~~{ de ldeas a Con.siderar en e1 Ev-8n
7
técnica do orçamento-programa, cuja implantação se deu ainda com o
orçamento na área fazendária, é razoável admitir-se a hipótese de qUE\;
após a transferência, estando o orçamento mais próximo dos planejadQ!
res, tenha havido um aperfeiçoamento dos procedimentos, no sentido de j
!
afastarem-se cada vez mais dos comportamentos tradicionais, rumo a 1
processos analíticos considerados mais racionais. O trabalho preten-
t
de igualmente verificar, portanto, se houve mudança nos procedimen
-tos reais, após o mencionado arranjo institucional, e qual a sua
ex-tensão.
,
O fato de se procurar identificar, para determinados
propo-sitos do trabalho, as funções do orçamento público, poderia sugerir
o alinhamento do autor a algum tipo de "abordagem funcionalisbalt • En
tretanto, a idéia de função também está presa
à
concepção de que asinstituições são explicáveis por alguma necessidade social,8 isto é,
são necessárias em determinado sentido. Tal concepção, por outro
la-do, também se relaciona com discussões acerca do Significado da
His-tória, ou da existência de uma racionalidade ob.ietiva. 9 O estudo da "
racionalidade histórica, portanto, poderia nos levar a discussões
acerca das relações entre esta e a racionalidade subjetiva, ou a
ra-cionalidade tout court, obrigando-nos a tentativas de nos situar
fa-ce a esses confa-ceitos, inclusive o de racionalização. lO Estamos fa-
cer-tos de que uma tal incursão pelos terrenos da filosofia da himéria e
Bveja-se, por exemplo: MALINOVSKY, Bronislav. liA Teoria FUncional'
In: -. BIRNBAUM, Pierre e CHAZEL, François. Teoria sociológic~
Trad. de Gisela Stock e Hélio de Souza. são Paulo, HUCITEC,Ed.
da Universidade de são Paulo,
1977,
p.154/6.
9
para uma discussão acerca da racionalidade objetiva,vejase:VAZQUES, Adolfo Sanchez. Filosofia da Praxis. Trad. de Luiz Fer
-nando Cardoso. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1977.
p.333/48.
da teoria do conhecimento extravasaria de íI1Ui to o âmbi to das preocu.-.
paqões imediatas do presente trabalho, e o seu tratalwnto aqui,
su-pondo que isso estivesse ao alcance do autor, ~rejudicaria a unidade
exposi tiva do ensaio. Por outro lado, palavras como .ê..:h.S_t_BJX:.ª e proc..?s:
so serão utilizadas no trabalho se::1 nenhu:na intenção de vinculá-las·
a 'conceitos desposados por autores ou corpos te6ricos esvec{ficos.S~
rão empregadas sempre em algum dos -;cÍrios sentidos dicionarizados ,f.§;:
cilmente identificáveis ~elo contexto.
Este estudo foi realizado a ~artir de observa~~o direta e
de exame de docu:1Jentos junto
à
oUl,c;riLterJdência de QrçéuLe:,to do [0-verno do Lstado de i:;inas Gerais, onde o autor veul trabal~lando desdesetembro de 197~. ramb~m foram realjzadas entrevistas com ~essoas de outros 6rgãos envolvidas no proces 80 orçament<:irio. O interesse do au
tor por essa área foi despertado atrav6s das aulas do Prof. Fernando
Bessa de Almeida, na .óscola brasileira de Administração Pública, da
Fundação GetÚlio \rar/jas, a quern não poder{a:l1os deixar de registrar o
nosso reconhecimento. Getúlio Carvalho, nosso diretor de estudos jUD
to
à
EBAP, se esforçou lJara que i;qJrim.Lssemos unidade e coerência aos esboços que lhes apresentávamos. Em 13elo Horizonte, fomos assistidopor Luiz Aureliano Gama de li.ndrade, que nos cua:nou a atenção para
alguns aspectos críticos do lüaneja:r:ento e do orç2 .. rnento, ezercendono
espírito do autor um papel decisivo no sentido da del~stificaç~o de
cionalidade, no p1ano subjetivo, veja-se: SD10N, EerbertA. T~o
ria das Organizaçoes. Trad. de liugo Wahrlich. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, lSi72. p. 193/8. Vejam:.se ta:r.bém, num contexto mais amplo: DlUI'l'Z0L, llans-Feter. "Açao Hacional e Ori
entaç~o políticatl In: -. 'l'eçnos:_:r.?:.çi~e Ig...?_oJ:gz...La.:. Seleçãoetrad
de Gustavo Bayer. rlio de Janeiro1 re~po Brasileiro, 1975.~ 17 e HABERl-iAS, J13-rgen~ Té(~.!ü~_Cj:s.::'1Cia..s.2~ IdE'.:9lQ..Kia. Trado_de Zeljko Loparic. Sao Paulo, ~:':d. Abril, 1975. p. 303. (Coleçao
certas abordagens formais nessa área de atuação social. Finalmente ,
no plano ainda da orientação global, devemos uma contribuição das
mais importantes a Armando Horeira da Cunha, pelas preciosas observ'ªt
ções sobre a primeira versão do trabalho. A nenhum desses estudioso~
entretanto, podem ser atribuídas as interpretações aqui contidas, e}
A ,
nem lhes cabe responder pelas deficiencias metodologicas ou conceitQ
ais porventura encontradas. Todavia, será jus to partilhar com ele 5 05
eventuais méritos do trabalho. Cumpre reconhecer, ainda, que este e~
tudo não teria sido possível sem a compreensão e o apoio de Harneu
Ferreira Starling e de Estevam Parenti Filho, diretores do órgão cenl
!
traI de Orçamento do governo do Estado de Minas Gerais, sucessivamenl
i
te, desde
1975.
O autoré
agradecido ainda a PedroL~cio
Gome~
Gil,t
João Batista Vieira e Dalmo Barros Silva, que, de múltiplas formas
,i
;
auxiliaram no desenvolvimento deste estudo.
~ueremos
agradecer ta:rJ-I
, t, ..
bem a Maria Coeli Machado, pela zelosa datilografia dos originais,e, I
finalmente, a todas as pessoas entrevistadas.
B. Horizonte, março de
1978
H. N. Habelo
I
!I
, I
!
ii
I
!
10
I
T~CNI CA ORÇAí ... .ENl'ÁRIA E FUNÇÕES DO ORÇAMENTO
O orçamento costuma ser examinado sob vários enfoques dis
-tintos, tais como o jurídiCO, o econômico e o administrativo. Também
pode ser encarado como uma luta cotidiana, entre instituições e
gru-pos de interesses específicos, pela obtenção ou manutenção de gru-posi - i
ções imediatas. Se bem que todos esses aspectos, dependendo dos
pro-pósitos em vista, sejam merecedores de atenção particular, este tra- i
balho não pretende examiná-los todos e em cada uma de suas implica - ;
ções. Buscar-se-á, antes, identificar as funções básicas e gerais do
orçamento tradicional e do orçamento moderno.
,g
razoável indagar-se,de início, o que
é
o orçamento, neste contexto mais amplo, e o queconstitui a técnica orçamentária.
T~NICA E ORÇAMENTO
IITécn~calt, de acordo com os dicionários, sao "preceitos pa-ra a perfeita execução de alguma coisa". Se tomarmos a palavpa-ra IIpre_
cei to", corno sinônimo de "normas", "regras de proceder", como realmen
te
é,
não lhe acrescentando qualquer qualificação, o termo abrangeráuma gama tão variada de condicionamentos do comportamento humano, que
não nos será de nenhuma utilidade. ~ conveniente, portanto, que en
-tendamos a técnica como um conjunto de normas explícitas,
reconheci-damente voltadas para a perfeita execução de alguma coisa. Por outro
• lado, numa caracterização bastante geral, o orçamento, pode ser
vis-to como o processo pelo qual o governo vis-toma decisões relativas
à
ob-tenção e utilização de recursos, registrando-as, de alguma for;na, em
um documento normativo anual e em documentos adicionais. Desse modo,
ex-11
plícita, é orientar a maneira de obtenção e utilização de fundos
pe-lo governo. Tal conjunto de preceitos
é
encarado aqui como um instr~mental auxiliar do processo de decisões orçamentárias. Ele não dete!
mina essas decisões e nem
é,
necessariamente, o seu condicionante demaior peso. Os preceitos da técnica orçamentária se referem a supri-:
mento de informações e a regras para a decisão. Mas as decisões
se-rão condicionadas também, e principalmente, por normas e valores im-;
plícitos e por informações não fornecidas pela técnica orçamentária •.
... :g importante fris..ar, entretanto, que a técnica orçamentária não é de§.;
tituída de valores: está embebida deles, tanto nos critérios ou re- i
gras de decisão, como no conteúdo das informações que fornece. Opini
ão divergente, e, portanto, a nosso ver, incorreta, é a de Simon,l
quando supõe, referindo-se ao orçamento, que apenas a definição do,
nível dos serviços a oferecer se assenta em considerações de valor,'
sendo elementos factuais (não valorativos) a identificação dos pro-·
blemas a enfrentar e a programação dos meios físicos e financeiros;
que irão atender os serviços definidrn. Tal concepção
é
falsa porquea identificação de problemas é, obviamente, um ,juízo de valor (o que ~
é problema para o indivíduo, grupo ou classe A, pode não sê-lo para
o indivíduo, grupo ou classe B) e a programação, basicamente
consis-tindo na adequação dos meios aos fins, está condicionada
i
l6gica~s :efeitos finais esperados (quem pode o mais, pode o menos).
Caracterizada de maneira genérica como elemento auxiliar das •
decisões que dizem respeito ao orçamento, cabe verificar o que impul,
siona a técnica orçamentária no sentido de modificações. Isto impli- ,
lSIMON, Herbert. Com20rtamento adminis~~a~ivo. ~rad. de Aluízio
Loureiro Pinto. Rio de Janeiro, }'undaçao Getulio Vargas, 1971 •
12
ca examinar a evolução do próprio orçamento e de suas funções. O
or-çamento público tem sofrido modificações substanciais em sua configg
ração relativa no contexto social, a ponto de podermos falar num
or-çamento tradioional e num oror-çamento moderno. Não considerando as pri
meiras contestações ao poder real de tributar, caso em que a
preocu-paçao se restringia
à
receita, o orçamento somente passa a existircQmo tal a partir do momento em que o poder legislativo, nos palses
..
constitucionais e soberanos, começa a impor controle também sobre a
despesa pública, o que se dá em princípios do século passado.
ORC;AMENTO THADICIONAL
O orça~ento tradicional
é
um processo de natureza jurídica,contábil e política, pelo qual o Legislativo autoriza a Administra
-ção Pública a efetuar despesas e dentro de cujo esquema de contas
I
i
os gastos são apropriados, ensejando uma revisão legislativa poster1"
t
\ 1
ore As autorizações (créditos orçamentários) são discriminadas por i
I
unidades administrativas e por objetos de gastos. ~ão se identificam'
os propósi tos ou programas de ação do governo, :r.as somente os :neios r atrav~s dos quais esses propósitos serão perseguidos: as unidades
I
adminis tra ti vas e os bens e serviços que serão adquiridos. Há
pmpri~
f
dade, portanto, na antiga denominação do documento orçamentário e que ~ ,
, r
ainda permanece para designar o diploma legal que ~ncabeça toda a s~
!
rie de anexos e subanexos que compoem o orçamento: Lei de ;';eios.
Na origem e evolução anterior do orçamento teve preeminên
-cia o seu papel como instrumento político no sistema de organização
do poder que caracterizou o nascimento do Estado Liberal.2 O
contro-2para um estudo mais detalhado do orçamento tradicional vejam-se
VIANA, Arízio de. Orçamento ~rasileiro. Rio de Janeiro, Edi
13
lLs_01:>Fe a despesa pública, tratando-se do orçamento tradicional, e ,
apenas um corolário do controle sobre a receita: evitando-se a "rnal- .
versação do erário", isto
é,
impedindo-se a expansão da despesa, manitêm-se os tributos, fonte, em última análise, do financiamento dos •
gastos, dentro dos limites aceitáveis.
3
Hesse caso, a despesa deve - ,ria ser controlada por cada item de compra e o orçamento deveria ser
equilibrado, isto é, comportar-se exatamente nos lilcttes da receita.
~ claro que a função do orçamento não era apenas esta, ele deveria~
nanciar alguns serviços considerados essenciais e cuja carga era
le-ve: as chamadas funções tradicionais do Estado, como Justiça; segu - ,
rança interna e externa; relações exteriores; administração geral;al;
guma coisa nas áreas de educação e saúde e algumas obras de
infraes-4
, .
-
-
,
trutura. Assegurado o exerClClO dessas funçoes, a administraçao
pu-blica deveria se limitar a elas. Era o período do Estado Gendarme
porque era também o do capitalismo liberal: o sistema econômico
pre-cisa~a de toda a liberdade para se expandir. A preocupação principa~
quanto ao orçamento, era impedir a expansão dos gastos. Df2sse modo,
a ênfase da técnica orçamentária era na fiscalização do uso honesto
do dinheiro público; no rigoroso cumprimento dos preceitos legais; e
na parcimônia. A classificação orçamentária, por exemplo, era uma
.rni
nuciosa relação dos objetos de gastos e dos responsáveis pela sua ffi.ê:
nipulação. Criaram-se os Tribunais de Contas, como apêndices aos
ór-ções Financeiras S/A,
1950.
p.43/55;
DUHKHEAD, Jesse.Orçamen-to EÚblic~. Trad. de Hargaret Hanson Costa. Rio de Janeiro,Fun
daçao Getúlio Vargas,
1971.
p.3/41
e GENIERE, Renaud de la. LeBudget. PariS, Presses de La Fondation Nationale de Sciences
Poli tiques ,
1976.
p.15/20.
3Cf • BURKHEAD, Jesse.
op. cit., p.20.
..,
gaos legislativos, com a finalidade de examinar os gastos efetuados
pelos administradores, sujeitando-se, ainda, ao registro prévio nos
tribunais, um número considerável de itens de gasto.
ORÇAMENTO MODERNO
A partir de determinado momento, que pode ser situado -gros
so modo - nas primeiras décadas deste século, a função predominante
do orçamento mudou: passou a ser, embora não a única, a de mediati
-zar decisões voltadas para a manutenção do equilíbrio do sistema eCQ
nômico e social ou para provocar-lhe mudanças dirlgidas.
5
~sse
orça-mento moderno, assim o chamaremos doravante, realiza sua função pri-;
mordial, no que se refere
à
alocação de recursos, através da produ-ção de bens e serviços e, principalmente, através da própria
nature-za e composição geral dos gastos, quer tendo em vista suas
categori-as econômiccategori-as (custeio; investimento; etc.), quer considerando a di~
tribuição dessas alocações pelos diversos setores econômicos e
soci-ais. ~ importante salientar que esse Último aspecto condiciona o pri,
meiro, isto
é,
as decisões sobre o volume, natu.reza e destinaçãoge-ral dos gastos condicionam as decisões sobre a natureza e quantidade
especificas dos bens e serviços a serem oferecidos, assim como defi-'
nem, em linhas gerais, a composição dos insumos a serem utilizados.
A Grande Depressão da década de 30 costuma ser indicada co-· 6
mo o marco universal dessa mudança: ela veio mostrar que o siste~a1
5
A esse respeito veja-se: SHONFIELD, Andrew. Capitalismo moderno.Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, Zahar,
1968.
p. 2f.7Ç2.6A respeito da divisão da história do orçamento em dois grandes pe· ríodos, com as características que assinalamos aqui, e tendo cQ
mo ponto divisor o New Deal, vej~-se ,também "v/ALDO, Dwigüt. Pro
blemas e as"pectos da adrninistr~'Lª-o publica. Trad. de AI tino
econômico nao é auto-regulável, tornando necessária a intervenção do
Estado. O New Deal trouxe para o Estado tarefas modernas, como
auxí-t
lia direto ao emprego;
à
estabilidade monetária eà
alocar;ão de fatQ1
!
res. Além disso, problemas relacionados com a concentração industri-
l
aI e a urbanização já vinham acarretando aumentos significativos nas
despesas com educação e saúde, como complemento dos gastos do setor
privado destinados
à
reprodução de força de trabalho. John MaynardKeynes veio dar um embasamento teórico ao intervencionismo, e seu IIlQ
dela confirmaria posteriormente as classificações econômicas do orç~
mento.
7
No Brasil, embora já houvesse uma tradição intervencionis
-ta, em setores isolados, cujos indicadores mais importantes re .. nontam
ao início do sécUlo, como o Convênio de Taubaté, foi igualmente na
década de
30
que se definiram os contornos de uma crescente responsª, A
8
bilidade do Estado perante o equillbrio do sistema economico.
Enquanto o orçamento tradicional, como nos referimos acima,
7
BURKHEAD, Jesse. op. cito pg.103
e277/321.
BvENÂNCIO FILHO, Alberto. A Intervenção do Estado no domínio
eco-nômico. Rio de Janeiro, Fundação GetÚlio Vargas,
1968.
p.32.
Veja-se também VIEIRA, R. A. Amaral. Intervencionismo e auto
-ritarismo no Brasil. são Paulo, Difel,
1975.
p.36.
O Convênio de Taubaté, em
1906,
foi um acordo entre os princ1pais produtores de café - Minas, Rio e são Paulo - estabelecen-do medidas em comum de controle de produção e de manutenção de
preços mínimos! Co:uo medidas intervencionis tas nos anos
30,
po-demos citar, além do fato do governo federal assu~ir a responsª
bilidade pela sustentação do café, o surgimento das autarquias
vol tadas para setores importantes, além do café, tais como o aç~
car, o mate, o sal, o pinho, a pesca, a marin~a merc~nte.
Ou-tras medidas que cons ti tuem indicadore:j da açao economica do gQ
verno: controle das tarifas de eletricidade, a criação da Car -te ira Agrícola e Industrial do Banco do brasil\ da Companhia S1
derúrgica Nacional, do Conselno Federal de Comercio ~xterior
(Cuja missão era também fomentar a instal~ção de ~ndústrias col}
sideradas prioritárias) e o impulso dado a forrnaçao da marinha
\
16(
visava principalmente assegurar a deterlninados grupos sociais, que'
s-e faziam representar nos órgãos legislativos, o controle sobre a
tributação e a despesa do governo, o orçamento moderno tem como fun-:
ção principal, portanto, juntamente com outros instru~entos de
poli-tica governamental, assegurar o equilíbrio dinâmico do sistema econQ
mico e social como um todo, promovendo os ajustes e mudanças consid.§.
rados necessários.
9
As decisões governamentais dirigidas para esse i~
1
objetivo é que consideramos neste trabalho como sendo a caracteriza- .
ção essencial da função de planejamento. Essa acepção de
planejamen-to foge às conceituações mais usuais, mas
é
a que se nos afigura maisadequada para uma distinção entre as decisões de planeja:nento e
ou-tros tipos de decisão. A existência de prognósticos e metas nao con~
ti tui um diferenciador útil porque qualquer decisão i:nplica em previ
sões e objetivos. O argumento de que os prognósticos e metas têm que
ser explícitos e formalizados não :l1uda a situação, uma vez, que por
,
esse critério, o planejamento governamental não seria distinto do e~
I
presarial, a não ser pelo aspecto de que os planejadores são diferen
I
teso Igualmente insuficiente,
é
a noção do planejamento como decisão ianteci.pada, no sentido de expressan:ente vol tada para o conciicionamen
to de decisões futuras - único sentido, aliás, em que uma decisão DO
de ser antecipada - porque, de acordo com ela, qualquer nor:~,
esta-belecida por alguém com poder para fazê-lo, seria planejamento. ~
oportuno lembrar aqui também as palavras de Charles Schultze, dire
-..
,tor de orçamento a epoca em que se tentou implantar, nos ~UA, o
sis-I
~
9lvíUSGRAVE, em seu conhecido lv1anual de finanças públicas, considera três objetivos para a politica orçamentária: 1) assegurar
ajus-tamentos n~ alocação de recursos; 2) conseguir ajustamentos na 1
distrib~içao
da renda e da riqueza; e 3) garantir a esta9ilida- {de econornica. UiUSG.HAVE, Richard. Teori_a das Finanças Publica~
I
17
-tema integrado de plane jamento, programaçao e orçamento - PPBS: " .•• o
planejamento a longo prazo é um meio de avaliar decisões correntes'
no contexto de uma análise abrangente, de problemas e soluções alte~'
nativas.
lS,
em outras palavras, um instrumento auxiliar para atoma-da de decisões correntes, jamais um comprometimento prematuro com d~'
• cisões futuras'~ 10 Julgamos que o cri tério mais apropriado para dis-'
tinguir as decisões de planejamento de outros tipos de decisões,
é
o·que se baseia, portanto, na sua amplitude de propósito, tendo em vis ·
ta dois pontos de referência: o aparelho público e o sistema econômi'
co e social regido pelo Estado. Com base nesse critério entendemos
---por decisão de planejamento aquela que persegue objetivos estabeleci'
---_
. . - -~--- -
""-dos tendo em vista o sistema econômico e social como um todo. Do mes
.--
---mo ---modo, as decisões, que têm co---mo -. re-ferencia o próprio aparelho
pú-blico, como fornecedor de bens e serviços, denominaremos decisões aQ
ministrativas. ll Tal distinção é relevante para a análise que
pre-tendemos fazer, porquanto estes dois tipos de decisão correspondem
às funções caracterizadoras do orçamento moderno, e é tendo em vista
10"A Importância da Análise de CustoBenefício" In: . Orçamento -programa'·e Análise de Custo-Benefício, org. por Harley H.
Hin-richs e Graeme M. Taylor. Trad. de Carlos Kronauer. Rio de Ja
neiro, Funda~ão GetÚlio Vargas, 1974. p. 11. A diferença,no c~
so, em relaçao ao autor, é que consideramos como planejamento
a própria tomada dessas decisões. Jorge Vianna I-ionteiro e Luiz
Roberto Cunha, em seu trabalho nA Organização do Planejamento
Econômico: o Caso Brasileiro", adotam uma conceituação de
pla-nejamento ~elo menos próxima da que usamos aqui, emb2ra de
ma-neira impllcita (In: -. Pesquisa e Planejamento Economico.vQL3 dez. 1973. n. 4. p. 1045 e segs.).
110 critério de distinção que usamos aqui guarda ~umasimilitude,
mas não se confunde, com o que permite distinguir entre efeito do processo e efeito-produto do dispêndio público (o primeiro
entendido como consequências sobre a renda e o emprego, e o s~
gundo, como produtos finais do governo, em termos de estradas, educação, etc.). O que aqui entendemos como decisões de
Elane-jamento tem um caráter mais amplo, incluindo uma definiçao, em linhas gerais, dos produtos a serem oferecidos, antesAaproxi
-mando-se, portanto, do ~e é chamado de política economica do
18~
o grau de utilidade em relaçio a cada uma delas que examinaremos as
t~cnicas
orçamentirias modernas. 12Hi
urna mudança qualitativa na t~cnica orçamentiria moderna:as normas, que antes se voltavam para regular a utilizaçio dos recur
sos tendo em vista evitar gastos excessivos e, consequentemente,
au-mento da carga tributiria, t~m em vista agora relacionar recursOSoom
produtos (funçio administrativa) e recursos com a configuraçio
glo-bal do sistema social (funç~o de planejamento).
Pode-se argumentar que a função administrativa ji existia
no orçamento tradicional. Sustentamos, entretanto, que o caráter
mo-derno dessa funçio ~ inteiramente diverso do de uma função
semelhan-•
te vinculada ao orçamento tradicional. No orçamento tradicional, a
eventual poupança oriunda de uma otimizaçio da relação entre
recur-sos e serviços estaria sempre servindo ao propósito maior de
conten-çio dos gastos, embutido no instituto orçamentirio.
Já
no orçamentomoderno, os recursos liberados por uma administração baseada em
cri-t~rios de eficiência, ou serão alocados em finalidades alternativas,
tendo em vista consideraç3es globais, ou serão retirados de
circula-ção, dentro de uma política de estabilização econômica, ou mesmo ef.'l
seguimento a urna estrat~gia que determine um certo papel para o
se-tor público na economia.
l2As duas funç3es estão bem destacadas e expressas, embora com ou-tra terminologia, na mensagem orçamentária do governo federal para o exercício de 1967: "o orçamento deve traduzir o
progra-ma administrativo e financeiro do governo, tornando-se dia-a~
mais relevante sua função como instrumento d~ (1) programação
da atividade overnamental e de (2) orientaçao e controle da
economia nacional os grifos e a numeração são nossos)". Tran.§.
crito de: CORE, Fabiano Garcia. "O Exercício da Função Orça
Entretanto, há uma relação de subordinação entre as funçõest
que estamos considerando. A tendência é que, alocados os recursos aj
,
r
nivel global, tendo em vista objetivos relacionados com o sistema\ ,
!
econ5mico e social, as unidades administrativas da máquina p~blicai
buscarão otimizar a utilização dos recursos colocados
à
sua diSPosi-t(
ção, em relação aos bens e serviços a serem produzidos, dentro de uma~
linha de produção também já definida. Isto, não quer dizer que nao; - t
f
haja conflito entre as duas funções. Enquanto, por exemplo, a
otimi-zação da relação insumo-produto exige descentraliotimi-zação, as decisões
que se referem ao sistema global poderão demandar centralização. A
técnica orçamentária refletirá essa situação.
consíderada \ Por outro lado, a técnica orçamentária, mesmo
r
no contexto do orçamento moderno, não tem permanecido a ;nes;na. Sua f
configuração tem variado não só em conformidade com a maior ou menor \
.... ~ , ~~
enfase em cada uma das funçoes assinaladas, corno tarnbem de acordo com f
as variações em torno do conteúdo das decisões de planejamento, de-
t
correntes de situações conjunturais da economia. A ênfase na função
t
~
administrativa ou de planejamento também dependerá de outros fatores,!
t
20
/
11
TÉCNICAS OHÇAMENTÁHIAS MODBHNAS
Este capítulo se destina a uma apresentação crítica, ainda
que sumária, das principais técnicas orçamentárias desenvolvidas nos'
Estados Unidos, a partir dos anos
30,
e que influenciaram e serviramde modelo a reformas ~emelhàntes intentadas no Brasil, como, de
res-to, praticamente, em todo o mundo. Referimo-nos ao orçamento de de-'
sempenho, ou orçamento-programa estilo Comissão Hoover; ao sistema
integrado de planejamento, programação e orçamento (PPBS) e ao
orça
-mento base zero. A expressa0 orça-mento-programa popularizou-se no,
Brasil a partir da década de
60,
quando o governo federal e -alguns :estados, entre eles Minas Gerais, iniciaram tentativas de reforma da ~
técnica orçamentária, embora nem sempre com as mesmas
característi-caso
°
sistema integrado de planejamento, programação e orçamento,(PPBS) foi certamente o mais decantado conjunto de procedimentos téc
nicos no período
1965-69.
O orçamento base zero representa uma téc-nica experimentada no Estado de Georgia (EUA) e espera-se que o atum
Presidente a transporte para o governo federal norte-americano.l
ORÇAHENTO DE DESEMPENHO
A utilização de um orçamento de emergência, nos EUA,
para-,leIo ao orçamento corrente, com a finalidade de evidenciar que os em
préstimos contraídos pelo governo se destinavam ao financiamento dos
gastos para o combate à depressão, e que vigorou de
1933
a1932,
jáé,
sem dúvida, uma aplicação da técnica orçamentária às necessidades1TAYLOR, Graeme M. "Introduction to Zero-Base Budge ting. The Bure
21
dos novos tempos.2 Mas o desenvolvimento da técnica orçamentária
mo-derna nos EUA tem sua origem em esforços voltados para a funçio
ad-ministrativa, e, na esfera municipal de governo, essa funçio adquire
o caráter principal, uma vez que a missão básica do governo munici-,
i
r
paI
é
realizar obras e prestar serviços. Assimé
que, segundo Burk-lhead,3 a primeira experiência de um orçamento voltado para mensura-(
ção de custos e de desempenho se deu no Burgo de Hichmond, uma das
cinco partes em que se divide a cidade de Nova York. Uma técnica
or-çamentária com finalidades gerenciais também foi utilizada no
Depar-tamento de Agricultura, em 1934, e no DeparDepar-tamento de Defesa, em
...
1946. Em 1947 foi constituída no Congresso norte-americano uma
co-missão para tratar da reorganização do serviço
p~blico
federal: Essacomissão ficou conhecida pelo nome de Primeira Comissão iíoover 4 e re- :
cebeu influência direta da experiência do Departamento de Defesa pa- .
ra suas formulações na área orçamentária. Em seus relatórios
publi-cados em 1949, a Comissão recomendou ao Poder ~xecutivo que
substi-tuísse o tipo de orçamento em uso, por outro baseado em
funções,atividades e projetos, que chamou de orçamento de desempenho ( perfor
-2BURKHEAD, Jesse. op. cito p. 240.
3Ibidem, p. 175.
4A composiçio da primeira Comissio Hoover, como também da segunda
era a seguinte: quatro membros indicados pelo Pre~idente dos EUA;
quatro pelo Presidente do Senado; e quatro pela Camara dos De-putados (pelo Speaker of the House of Representatives).Seis mem bros deveriam ser cidadãos sem vinculação com o governo;dois dõ Poder Executivo; dois do Senado; e dois da Câmara. Esta fórmula
foi instituída presumivelmente porque trazia,participação p~bli
ca e parlamentar, o que era particularmente util para assegurar
a aceitação das recomendações. (DIVINE, William R. "The Second
Hoover Comission Heports: An Analysis". In: -. Administrative
~uestions and Political Answers. Organizado por ClaUde E.
Hew-ley e Ruth G. Weintraub. Princeton, New Jersey: D. Ivan Nostrani .
22'
mance bUdget).5
Tamb~m
foi recomendado, por outro lado, embora esse·aspecto nem sempre seja lembrado, que tias estimativas orçamentárias
de todos os departamentos e agências operantes do governo fossem
di-vididas em duas categorias primordiais: gastos correntes de
opera-ções e desembolsos de capitalll•
6
~m
1950,
a Lei de Processo doOrçamento e da Contabilidade determinou que os registros contábeis fos
-sem efetuados de acordo com a classificação orçamentária. Em
1951,
oorçamento do governo federal foi reformulado para indicar os
progra-mas e as atividades de acordo com cada pedido de cr~dito e
apresen-t ar os a os re alVOS ao vo ume d d
1
t "1
d e t ra a b Ih o e a ou ras re lzaçoes. t alo -7
A t~cnica preconizada pela Comissão Hoover tamb~m foi clla:na.da de
or-çamento-programa por A.E. Buck, um dos mais destacados membros do
, 8
grupo de trabalho criado para a area do orçamento. Burkhead,
entre-tanto, faz uma distinção entre orçamento-programa e orçamento de
de-sempenho, que conv~m examinar.
Os procedimentos recomendados pela Comissão Hoover
revela-vam uma preocupação mais administrativa do que de planejamento.
En-tretanto, a visão que Burkhead tinha de orçamento-programa já se
aproximava do que podemos chamar de uma t~cnica para o planejat11ento:
rrum orçamento-programa pode limi tar-se a custos em ter:nos gerais; não
há necessidade de estendê-lo
à
unidade de desempenho, detalhe que emalguns casos não tem utilidade algumall • 9 Por outro lado, considera o
5 BUHKHEAD, Jesse. op. cit., p.
176/7.
6WALDO, Dwight. op. cit., p. l+03.
7HOOJ1~N,
Guilherme. Orçamento Público. is tudo teórico e orá ti codos Or amentos Estaduais do Brasil e dos istados Unidos. Hio
de Janeiro, nd. Financeiras,
1959.
p.1 1.
8UURKllliAD, Jesse. op. cit., p.
177.
- , . !
orçamento-programa uma agregaçao, em nlvelS superiores, dos ele:nen-l
tos componentes das unidades de dese;npenho: "Para os objetivos
pre-sentes, o programa será definido em relação a um nível mais elevado
da organização do que o desempenho. Um programa compreende v~rias
unidades de desempenho" .10
~rnbora
.burl'.head não cl1egue a concei tuarmais precisamente o seu orçamento-programa, o certo é que já tinha
. t 11 t ' . l ' t "O t
em VlS a uma ecnlca para o p aneJamen o: orçamen o-programa e ,
útil para a revisão e a tomada de decisões no nível
departamentalsu-perior. Adapta-se aos requisitos do planejamento orçamentário geral:
I
l
A
revisão pelo 6rgão central de orçamento, pelo chefe do ~xecutivo epelo Legislativo", ao que acrescenta, em nota de rOdapé, que Roland
N. McNean, da Hand Corporation, lhe sugerira em correspond&nci& que
lia revisão dos programas em termos de custos e benefícios, mesmo,
quando estes" fossem difíceis de medir,
é
a :naior vantagem que pode, . ' . 12
advir desse tipo de tecnlca orça:nentarla".
De qualquer modo, ao verformance budget chamaremos orça
-mento de desempenho, ou orça-mento-programa estilo Comissão lioover,
para diferençá-lo de outros tipos de orçamento-programa.
O orçamento de desempenho, segundo um manual das Nações Uni
das,13 é caracterizado por tr&s tipos de considerações:
10DURKHEAD, Jesse. op. cit., p. 183.
110 livro de L3U.HhJiliAD, Government Budgeting, é de 195ó e o orça-mento-programa integrado a um sistema de planejamento (PPBs)s6 foi adotado pelo governo federal em 19ó5, embora já,viesse sen
do estudado na Hand Corporation desde o início da decada de 5~
e tenha sido adotado no Departa;:Jento de Defesa antes de sua ex
tensão à toda a administração federal.
121" b' d l em, p. 1 ( ( . 3
13NAÇÕES üiHDAS. Hanual de Orça:nento por Programas e l-i.ealizaçÕes.
'I'rad. de José Teixeira Hacflado Júnior. ..:Uo de J ane iro,
>iinis-tério do Planejamento e Coordenação Geral, 1~ó9. p. 27.
lº) programas e atividades significativos para cada funç~o
confiada a uma organizaç~o ou entidade;
2º) siste:na de contas e de gestão financeira correlacionado
I
com essa classificaç~o; !
I
3º)
medidas de trabalho que rerrnitam avaliar o rendirnentoemrrelação a cada programa e suas subdivisões operacionais. I
Em linhas bastante amplas, mas contendo o essencial, temos.
,
-
!
a1 caracterizado o orçamento de desempenho. Sua formulaçao geral,co-
I
i
mo se vê, é bastante simples: o orçamento deve exyressar claramente I ,
as intenções do governo, de acordo com uma classificação baseada em
programas. Além disso, ele~é visto como um proces~o, irlcluindo para
cada categoria program~tica ou cada conjunto de prop6sitos, o ~egis
tro e avaliação dos gastos e realizações, ou seja: o controle
geren-cial por objetivos.
Burkhead,14 citando um trabalho
n~o
publicado do antigoBu-reau de Orçamento dos EUA, alinha os seguintes elementos do
orçamen-to de desempenho:
1) explicitação dos prop6sitos e objetivos relacionados com
cada crédito orçamentário;
2) os custos dos programas propostos;
3) medidas de trabalho e de realizações.
A ~ffiDIÇÃO DE CUSTOS
Examinemos primeiramente a quest~o dos custos. Há quatro mQ
mentos que podem ser considerados lIa aquisiç~o ou utilizaç~o de bens
e serviços: o momento em que s~o solicitados ou autorizados; o
ins-14BUiUJIEAD, Jesse. Opa cit., p. 187.
-tante em que sao recebidos e se incorporam aos meios disyoníveis;
aquele em que são pagos, e ainda o momento em que os bens são
efeti-vamente utilizados. A cada um desses "momentos" corresponde um regime
de apropriação contábil, a saber: o de empenho prévio; o de
compe-tência de exercício, como nas empresas; o regime de caixa, e,
final-mente, o da contabilidade de custos. Uma dessas modalidades de
re-eistro é realmente indispensável: a das entradas e saídas de caixa.
Entretanto, nenhum desses sistemas exclui ou torna desnecessários os
demais, porque correspondem a realidades distintas e atendem a
dife-rentes necessidades gerenciais. O uso exclusivo do regime de caixa,
,
porem, acarreta um problema que precisa ser resolvido: ao encerrar
-se o exercício, muitos compromissos assumidos ainda não foram 'Pagos,
os quais não estão previstos no orçamento para o exercício seguinte.
Além disso é necessário que haja um controle sobre o valor dos
fun-dos já comprometifun-dos, a fim de que não se ultrapasse as quantias
es-tipuladas no orçamento. Atualmente no Brasil esses problemas são
re-solvidos através do empenho, que abate dos créditos orçamentários as
despesas autorizadas no exercício. As despesas empenhadas e não
pa-gas até o final do período terão o seu pagamento normalmente
proces-sado, mas são consideradas despesas do exercício em que foram
empe-nhadas. O regime do empenho, portanto, já
é
uma sofisticação emre-lação ao regime de caixa, que ainda é usado na Inglaterra, por
exem-pIo.
O sistema de competência de exercíCiO, também chamado de
"despesas agregadas por exercíCiO", é o que indica o período em que
os bens e serviços foram colocados
à
disposição da administração. ~obrigatoriamente utilizado pelas empresas, porque é através dele que
do imposto de renda. Mas o sisterra não fornece ao empresário a noçao
da rentabilidade de cada produto ou cada linha de produtos, embora,
aproprie ao exercício também a parcela que lhe corresponde dos
gas-tos de capital. A distribuição dos gasgas-tos a cada produto ou serviço
no momento de sua, vtilização é feita pela contabilidade de custos.
!~uanto maior for, em cada ramo de atividade, a distância entre a aqui. sição do bem e a sua efetiva utilização maior será a necessidade de
uma contabilidade de custos. Indicadores dessa distância são a
exis-tência de grandes estoques de materiais a serem utilizados e de
sig-nifica ti vos valores imobili zados em a ti vo fixo. Em mui tíssimas a ti vi •
dades governamentais não decorre ~uito tempo entre as várias fases a
que nos referimos acima. Além disso, o item mais pesado nas despesas'
do governo é o de pessoal, fator cuja remuneração, quase sempre, é '
algo posterior ao seu uso. Por outro lado, o governo também não
pos-sui, normalmente, grandes estoques de material. Segundo o manual de
elaboração orçamentária preparado pelas Nações Unidas, a contabili
-dade de custos, se bem que represente um aperfeiçoa~ento precioso no
sis tema de gestão, nao é um requisito indispensável para que seja im-....
plantado o orçamento de desempenho.
15
Ainda que setores importantesdo governo, notadamente no que se refere às atividades empresariais,
não possam absolutamente dispensar a contabilidade de custos, o
sis-tema não precisa ser implantado em toda a extensão da máquina
públi-ca, o que pode ser inconveniente até mesmo por considerações
relati-vas ao seu próprio custo, em confronto com o benefício que traria.
Por outro lado, poder-se-ia argumentar que, tratando-se de
um orçamento administrativo, a mensuração de custos é importante,
brando-se, inclusive, a conceituaç~o apresentada por Burkhead.
Real-mente, Burkhead inclui a palavra "custos" no conceito de orçamento de.
desempenho, conforme já referimos anteriormente, e esse fato é
bas-tante enfatizado por Teixeira Hachado.16 Sem dúvida, é importante
identificar os custos dos programas governamentais e, nesse sentido
amplo, custo é elemento integrante do orçamento de desempenho. Has o;
que se discute aqui é a necessidade da implantaç~o de uma
contabili-~ dade de custos, pois a identificaç~o a que nos referimos pode ser fel.
ta através da contabilidade financeira, ou mesmo da contabilidade , a.
base de empenho. O próprio Burkhead assinala que "o conflito entre o;
tipo tradicional de contabilidade de caixa e as mensurações de custo:
requeridas para um orçamento de desempenho eficaz n~o é sempre· muito
acentuado",17 acrescentando que "quando o grosso da despesa de um
ór-g~o se compõe de pagamento de salários e ordenados, a diferença
en-tre a mensuraç~o
A
base de caixaea de exercicio n~o será deimpor-tância suficiente para invalidar o critério de caixa para os fins do
orçamento de' desempenho" .18 Além disso, 13urkhead lembra que a
compa-raç~o de custos nem sempre
é
relevante no serviço público, devido ainterferências tais como custos indiretos e alterações na qualidade
do produto. Enfim, salienta 13urkhead19 que "se a necessidade de
men-surar custos é suficientemente importante para forçar uma
reorgani-1611ACHADO JH., J. Teixeira. "Programação
or~amentária:
Algumas nQtas sobre o Caso Brasileiro". In: -. Polltica Fiscal e
Progra-mação dos Gastos do Governo. O~g. por Fernando Rezende et alil
Instituto de Planejamento Economico e Social - IPEAjInstituto de Pesquisas - INPES, 1976. p. 136.
17 BURKHEAD, Jesse. op. cit., p. 201.
18Ibidem.
zaçao da contabilidade do governo e se vale a pena tentar urna especi
flcação precisa dos custos de desempenho, são perguntas que devem ser
respondidas em função das necessidades de unidades governamentais d&,
t
!
terminadas e, em particular, em função das necessidades dos adminis- I
tradores, cujos interesses devem ser atendidos pelo orçamento de de- {
sempenho. ,,20
I
í t
o
CARÁTER ADHINISTRATIVO DO ORÇAHENTO DE DESEHPENHOI
Apesar da relativa extensão da digressão aciffia sobre a medi
t
ção de custos, os demais elementos não são menos importantes, e ig~t
mente caracterizam o orçamento de dese:;lpenho como urna técnica que, ng
I
ma primeira instância, serve mais
à
função administrativa do governaO critério de classificação dos programas pelos produtos finais, 21
por exer.1plo, embora permi tisse já U,,'ja aGregação de produtos homo
-gêneos em diferentes departamentos,22 trazia a tendência,
con-20 No que se refere as deClsoes ' . - d~ planeJamen o, como as cons dera-. t i
IDOS aqui, parecem ter importancia secundária os dados
proveni-entes de uma contabilidade de custos. O procedimento utilizad~
por exem~lo, na análise de custo-benefício, quando se conside-ra urna serie de benefícios e custos futuros, é o cha;nado
méto-do méto-do valor,atual ou méto-do fluxo de cai3a descontaméto-do, no qual ta~
to os beneflciosL quanto os custos sao medidos em ter~osde flu
xo de caixa, e nao em termos de despesas imputáveis ao
exercí-cio (PREST, A.R. e TURVEY, R. "Análise Custo-Benefício: Uma
visão Panorâmica". In: -. pOlítica Fiscal e Programação dos Gas tos do Governo. Org. por Fernando Rezende et alii. Instituto de Planejamento Econômico e Social - IPEA/Instituto de Pesquisas INPES, 1976. p. 147). Igualmente a maioria dos especia listas em análise de projetos sob o enfoque empresarial reco -:nenda que se trabalhe seiTlpre com o fluxo de caixa. (Vejam-se ,
por exemplo: I10HNE, James C. Van. política e Administração
Financeira. Trad. de Alfredo Fideline. Rio de Janeiro, Livros ~~cnicos e Científicos 2ditora S.A./Editora da Universidade de são Paulo, 1974. p. 37; e, entre nós, LIMA NETO, Roberto Pro -cópio de. Curso Básico d~ Finan~as. são Paulo, ~dição Sarai-va, 1976. p. 18).
21BURKHEAD, Jesse. op. cit., p. 184/5.
22i,~ALDO, D\{ight. Problemas e ~si2e~tos da Adininistra(~ão Pública.
Trad. de Albertino Pinheiro Jr. Sao Paulo, Livraria Pionei.rn.,1966. p.399
..
29
cretizada depois no manual das Nações Unidas,2 3 de identificar o
pro-duto final dos órgãos, o que dificulta a visualização da alocação se 24
torial dos recursos. Do mesmo modo, as medidas de trabalho e de
realizações enfatizam o lado administrativo da t~cnica.
Esse caráter administrativo, com ênfase nos crit~rios de
eficiência,25 parece estar ligado a um movimento no sentido de con
-tenção da expansão governamental. O Wall Street JOurnal,26 embora se
referindo
à
segunda Comissão Hoover, que teve seus relatórios publi-·cados em 1955, mas cujos objetivos básicos eram, pelo menos de
maneira explícita, idênticos aos da primeira,27 incluindo lia elimina
-ção de serviços, funções e atividades, que competem com a iniciativa·
....
privada", afir:nava que "o que o novo Grupo lioover propos, quando se
somam todos os relatórios dos grupos de trabalho, resulta numa
revolução na maneira de governar em Washington ou numa contrarevo
-lução em relação ao New Deal e as medidas que lhe sucederam". ü
evi-dente exagero dessas palavras poderia nos levar a pensar que se
re-comendava, na prática, um abandono da função moderna do orçamento.
Mas esta ~, certamente, uma estrada sem retorno. Entretanto, isto
nao significa que a intervenção estatal oriunda das decisões de
pla-23NAÇÕES UNIDAS. op. cit., p. 28 e 203.
24A esse respeito cabe lembrar que a classificação acabará se iden
tificando com os critérios de departamentalização, e estes re~
fletem, em ~ltima análise, opções pOlíticas. Para uma análise
das implicações políticas dos crit~rios de departamentalizaçãq
com base na experiencia norte-americana, veja-se: DIVIl~E,
Wi1-liam. op. cit., p. 258.
25parauma discussão em torno do conceito de eficiência no
~mbito
do orçamento, veja-se: SIMON, Herbert. O Comportamento Admi
-nistrativo. Trad. de Aluízio Loureiro Pinto. Rio de Janeiro,
Fundação det~lio Vargas, 1971. p. 202/7.
26Citado por DIVINE, Wi11iam R. op. cit., p. 257.
30
nejamento acarrete sempre e necessariamente o aumento da participa _.
ção estatal na produção de bens e serviços. Há inúmeras foruas de di
. i - . 1 " - 28
rlg smo que nao lnc uem essa partlclpaçao.
o
~stado intervencionista moderno procura aparelhar-se para~aperfeiçoar as decisões de planejamento, as quais exigem não só
in-formações oportunas e apropriadas, como a sistematização de padrões
de decisão, visando obter coerência entre um número cada vez maior
de decisões dispersas pela máquina pública e lIlesmo fora dela.
Basi-camente, no que se refere aos gastos públicos, requerem-se inforrna- •.
ções quanto ao efei to esperado, sobre a economia, segundo os modelos;
econômicos explicativos disponíveis. A utilização desses modelos
de-manda informações não só quanto às chamadas "categorias econômicas 11
dos gastos, mas também quanto à sua distribuição por setores econô
-micos e sociais. Por outro lado, a implementação das decisões de~
nejamento exige coordenação entre os diversos segmentos do aparelho
público. Desse modo, aperfeiçoamentos se impõem na classificação das
informações, no desenvolvimento de padrões de decisão, e nos
instru-mentos de obtenção de coordenação.
A CLASSIFICAÇÃO DE COHTE THANSVEl1.SAL
~uanto à classificação das informações, o arranjo evoluiudo
or.:;amento de desempenho para um novo tipo que chamaremos de
orçamen-28A respeito do controle sobre a
econo~a
agrícola nos~stados
Unidos, SHONFIELD chega a afirmar que e difícil admitir que "os
2,5
milhões de agricult.ores independentes que trabalham porsuaconta nos ~stados Unidos desfrutam grande liberdade
empresari-al, comparada, por exemplo, com a maioria das pessoas que tra-balham a terra na Europa ocidental", acrescentando que "os a:n.§. ricanos devem receber os créditos por seu pioneirismo nas