FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQIDSA
CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO
IMPACTOS CAUSADOS PELA
PRIV ATIZAÇÃO NO AMBIENTE DE
TRABALHO, RELAÇÕES INTERPESSOAIS E
PERFIL PROFISSIONAL:
O CASO EMBRA TEL
.,
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE i.:)
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO
TÍTULO
IMP ACTOS CAUSADOS PELA PRN ATIZAÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO, RELAÇÕES INTERPESSOAIS E PERFIL PROFISSIONAL: O CASO EMBRATEL
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR: ROSA MARIA DE PAULA VILHENA
E
APROVADO EM 23 /03 /2001 PELA COMISSÃO EXAMINADORA
PAULO REIS VIEIRA
AGRADECIMENTOS
Aos professores, pelo interesse e empenho em compartilhar o saber, provocar
a dúvida, estimular a pesquisa e a busca de constante aprendizado.
Aos queridos colegas de turma cuja diversidade de formações e experiências
foram fatores fundamentais para a ampliação do meu olhar.
À
Juarez da secretaria da FGV/EBAPE, meu primeiro e decisivo contato
nessa viagem, pela solicitude e apoio durante todo o período do curso.
Agradeço
à
Embratel através dos senhores Joaquim de Sousa Correia ,
Diretor de Recursos Humanos, Ana Rosa Chopard Bonilauri, Gerente Geral
de Desenvolvimento de Recursos Humanos, Ruy Barbosa, Gerente de Relações
de Trabalho,Luis Edmundo Nascentes da Silva, analista de Relações
Trabalhistas da DH,Fabio Coelho dos Santos, Gerente de Registros e
Pagamentos de RH e Regina Berenger, Coordenadora de Projetos
Estratégicos
de
Capacitação
da
Embratel,
pela autorização
da
pesquisa,disponibilidade e boa vontade no fornecimento de importantes
subsídios sem os quais não teria sido possível realizar este trabalho.
Finalmente agradeço a Roberto e Juliana, amigos, incentivadores,
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi verificar o impacto da privatização no
ambiente de trabalho, relações interpessoais e perfil profissional dos empregados
da Embratel. Para tanto, estudou-se a trajetória da empresa no contexto de
estatal, a transição e processo de consolidação como empresa privada de um
segmento altamente competitivo.
O pnmelro capítulo apresenta a história das comunicações no Brasil, as
implicações político-econômicas, o surgimento e desenvolvimento da Embratel.
O segundo capítulo estuda cultura organizacional e sua importância na
viabilização da gestão de recursos humanos. O terceiro capítulo analisa as
formações grupais e as relações interpessoais no ambiente de trabalho. O quarto
capítulo investiga as novas políticas de recursos humanos e os elementos que
constituem o perfil profissional demandado pelo mercado. O capítulo cinco
estuda clima organizacional e interfaces com a motivação e satisfação no
trabalho. O sexto capítulo analisa a gestão de recursos humanos na Embratel ao
longo de sua existência como estatal e a partir da privatização. O sétimo
capítulo apresenta e analisa a pesquisa de clima organizacional realizada na
empresa em 2000.
Dentre os principais aspectos estudados verifica-se: a Embratel iniciou seu
processo de modernização antes da privatização e essa veio acelerar e apresentar
novos rumos para a empresa. Sua gestão era até então prejudicada pelo excesso
de normas e atendimento a interesses políticos, o que lhe conferia pouca
agilidade. A relação do empregado com a empresa se modificou. A nova visão
e as modernas políticas de recursos humanos hoje oferecem suporte para a
efetivação das mudanças desejadas e necessárias, mas também exige alto grau
ABSTRACT
The goal of work present was to verify the impact of the privatization in the
working environrnent, interpersonal relations and professional pro file of the
employees of Embratel. So much, it studies the trajectory of the company in the
state owned company context, the consolidation transition and process as c10set
company of a higly competitive segment.
The first chapter introduces the history of the communications in Brazil, the
politican-economic implications, the appearance and EmbrateI. The chapter
second studies the corporative culture and your importance in feasible of the
human resources. The third chapter analyses the pertaining to a group
formations and the relationship in the working environrnent. The chapter four
investigates the new human resources policies and the element that constitute
the professional profile demanded by market. Chapter five studies c1imate
organizacional and interfaces with the motivation and the sarisfaction in work.
The chapter six analyses the human resources management in Embratel along
his existence as state owned company and the privatization.
The seventh chapter introduces and analyses the c1imate organizacional research
accomplished by the company in 2000.
Sumário
Introdução
Capítulo I - Comunicólção no Brasil - aspectos políticos-econômicos
1 Comunicação no Brasil - até a década de 1960 1.1 Panorama político econômico 1964-1972 1.2 Telecomunicações: de 1965 a 1972 1.3 Embratel de 1965 a 1972
2 Comunicação no Brasil - década de 1970
2.1 Panorama político-econômico
2.2 O setor de telecomunicações e a Embratel 2.3 Panorama internacional
3 Comunicação no Brasil - década de 1980 3.1 Panorama político-econômico 3.2 O setor de telecomunicações 3.3 Embratel
4 Comunicação no Brasil - década de 1990 4.1 Panorama político-econômico 4.2 O setor de telecomunicações 4.3 Embratel
5 Pri vatização da Embratel
5.1 O processo de privatização 5.2 Atribuições da Embratel hoje
Capítulo 11 - Cultura Organizacional
o
contexto cultural das organizações2 A cultura da empresa - gênese c conceitos
3 Referências familiares da cultura das organizações
4 Elementos da identidade cultural
4.1 Cultura na organização do futuro por tendências atuais
5 Cultura, imaginário social e organizações 5.1 O imaginário organizacional moderno
6 O processo cultural da mudança
Capítulo 111 - O ambiente organizacional e as relações interpessoais 1 O indivíduo e o ambiente organizacional
2 Transição de agrupamento para grupo
3
4
5
2.1 Enquadramento do grupo 2.2 Projeto do grupo
2.3 Vínculos do grupo
2.4 Interação tarefa-processo de grupo
2.4.1 Trajetórias dos processos de grupo
A organização: espaço e continente do grupo 3.1 A base institucional
3.2 Discurso organizacional
A organização como um sistema 4.1 Tarefas
4.2 4.3
Indivíduos Grupos
Estrutura interna dos grupos
5.1 Padrões grupais de comportamento 5.2 Sistema de status
5.3 Normas grupais 5.4
5.5
Processos interpessoais As redes de poder
Visão ConLí!mporâní!a Sobrí! Equipes e Relações InLerpessoais
Capítulo IV - Gestão de RI-I e Perfil Profissionall-loje
2 3 4 5 6 7
A mudança do contexto organizacional
Alinhamento de RH com a estratégica do negócio
o
novo perfil profissionalo
papel RHLearning Organization Ca organização que aprende) 5.1 As "disciplinas" fundamentais
5.2 Características da organização que aprende 5.3 O papel do líder
5.4
o
gestor da "learning organization"Gestão de competências 6.1 Competência
6.2 Avaliação de desempenho
Atração e retenção de talentos 7.1 Atração de talentos 7.2
7.3
Desenvolvimento de talentos 7.2.1 Aprendizagem responsável
7.2.2 Componentes do processo de aprendiLllgem Retenção de talentos
Desafios dos profissional de telecomunicações 8.1 Novas tecnologias
8.2 O novo papel dos profissionais de Telecom do Brasil
~apítulo V - Clima Organizacional
101 104 104 105 106 107 108 109 110 111 111 112 113 115 115 116 117 118 118 119 119 120
2 Teorias motivacionais
2.1 Teoria das necessidades de Maslow
2.2 Teoria dos fatores motivacionais de Herzberg 2.2.1 Fatores motivacionais e fatores higiênicos
2.2.2 As situações possíveis dentro da abordagem de Herzberg 2.3 Comparação dos modelos de motivação de Maslow e Herzberg 2.4 Outras visões
3 Pesquisa de clima organizacional
Capítulo VI - Gestão de Recursos Humanos da Embratel
1 Período de 1965 a 1979
1.1 Evolução do efetivo da Embrate1 de 1973 a 1979 1.2 Treinamento e relações com a comunidade
1.3 TELOS - Fundação Embratel de Seguridade Social 1.4 Saúde e bem-estar social
2 Década de 1980
2.1 Evolução do efetivo da Embratel na década de 1980
3 Década de 1990-A PRlVATlZAÇÃO
3.1 Programa de desligamento incentivado 3.1.1 Primeiro plano
3.1.2 Segundo plano
4 Gestão de Recursos Humanos a partir de 2000 4.1 Metas empresariais
4.2 Programa de gestão de desempenho e reconhecimento
4.2.1 Primeiro ciclo - avaliação de resultados 4.2.2 Segundo ciclo - análise de desenyolvimento
4.3 Programa de retenção de talentos
Capítulo VII - Clima Organizacional da Embratel
Pesquisa de clima organizacional 1.1 Metodologia
1.2
1.3
A pesquisa
Análise da pesquisa
CONCLUSÃO
142 142 144 150
162
INTRODUÇÃO
o
processo de transformação global, em curso na atualidade, vem provocando, a partir da década de 1970, importantes e definitivas modificações na estrutura econômica, social, política e cultural das sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento. As intensas e profundas mudanças de natureza científica e tecnológica, concomitantes e interativas, que ocorrem em todos os campos de conhecimento e atuação humana constituem os fatores básicos e determinantes capazes de acelerar e potencializar essa ação transformadora da realidade. Os impactos desses resultados fazem-se sentir nos níveis local, nacional e internacional com tal intensidade que além de interferir nos respectivos processos de desenvolvimento, alteram significativamente a dinâmica do mercado e dos indivíduos. Assim, a natureza e intensidade desse processo de transformação se apresentam de forma ampla e profunda, com grande alcance mundial, tendo possibilidade de modificar a natureza e estrutura das organizações.Através da intensificação e aprofundamento desse processo, nos anos 90 ocorreram diversas modificações substantivas que alteraram sensivelmente a estrutura e dinâmica do capitalismo internacional. As transformações estruturais ocorridas, tais como: a mundialização e crescente integração de mercado, deslocalização da produção para outros mercados; a amplitude e diversidade dos produtos e serviços; a tendência à aglomeração e fusão de empresas; o surgimento de novas formas de concorrência e cooperação inter-industrial, tendo como base as alianças estratégicas entre empresas, amplas redes de subcontratação, fusões e aquisições e a busca permanente de elevação da competitividade empresarial, através da intensificação do uso de tecnologias informacionais e de novas formas de gestão do trabalho: podem ser consideradas como indicativos da efetivação e consolidação de uma reestruturação econômica, que vem ocorrendo, a partir dos países desenvolvidos como conseqüência de uma transição paradigmática desencadeada pela busca permanente de novas soluções para antigos e novos problemas.
detenninante da amplitude de sua ação, a sua efetivação transcende essa dimensão e invade as
demais, como as políticas, sociais e culturais. Como conseqüências do avanço sistemático
desse processo, tem-se as mudanças no tamanho e nas atribuições do Estado; a
desregulamentação das economias nacionais e a reestruturação do mercado de trabalho.
No Brasil, o Programa Nacional de Desestatização - PND, teve início em 1981, mas somente
a partir de 1989 foi efetivamente incrementado. As empresas públicas ou estatais foram
criadas com características próprias, regidas pelo direito privado, mas com o capital e controle
públicos, o que lhes atribui uma dupla e contraditória dimensão. Assim, é bastante distinto
gerir uma empresa privada e uma estatal. Tal fato por si só, já possibilita antever os diversos
impactos causados nas organizações privatizadas. Além e independentemente desse dado, o
acirramento da competição intercapitalista tem provocado uma busca pennanente de
estratégias com a finalidade de alcançar ganhos de produtividade. Para tanto, as empresas
tem sido obrigadas por um lado, a inovar na racionalização dos processos produtivos, através
da incorporação do uso intensivo da micro eletrônica e da flexibilização dos processos de
trabalho e de produção, e por outro lado, a uma generalizada ampliação da capacidade
produtiva da força de trabalho. Em decorrência disso, os impactos dessas mudanças são
sentidos tanto no sistema de unidades produtivas, como nos indivíduos que integram as
organizações.
o
instigante momento de mudanças nas empresas em geral e das privatizadas em particular e o interesse de compatibilizar a área de estudo com a fonnação da mestranda (Educação eAdministração) contribuíram para escolha do tema.
Acredita-se, também, que este estudo poderá oferecer subsídios a pesquisas futuras e também
orientação àquelas empresas que futuramente venham a passar pelo processo de privatização,
além de, possivelmente, contribuir na reflexão sobre a gestão de recursos humanos da
empresa estudada.
Dentre o universo das empresas estatais brasileiras privatizadas, foi selecionada uma empresa
de telecomunicações, privatizada em 1998 A Empresa Brasileira de Telecomunicações
o
presente estudo teve como objetivo estudar impacto da privatização e mudança de foco da empresa, no ambiente organizacional, relações interpessoais e perfil profissional requeridopela EMBRATEL. Para tanto, foi analisada a trajetória da empresa antes e após a
privatização em 1998, nos aspectos citados. As fases selecionadas foram as seguintes:
• fase histórica ou estatal, que compreende desde a criação da empresa em 1965 até o
início da preparação da empresa para a privatização em 1996;
• fase de transição e atual que se confundem em alguns aspectos e separam-se em
outros, que teve início em 1996 e culminou com a privatização.
Facilidades e dificuldades foram encontradas no decorrer do estudo. Como fatores
facilitadores destaca-se a receptividade imediata da EMBRA TEL tão logo foi feito contato
solicitando apoio para a pesquisa. Certamente o nome da Fundação Getúlio Vargas em muito
contribuiu, emprestando credibilidade ao pedido.
o
apoio e orientação dos professores da FGV foram fundamentais para a realização desta dissertação.Dentre as dificuldades encontradas, destaca-se o fato de a empresa estar passando por
diferentes momentos de mudança e de alguns aspectos do estudo estarem exatamente sob a
efervescência de mudanças paradigmáticas. Assim, não foi possível viabilizar a pesquisa
quantitativa que consistiria na aplicação direta de questionários a uma amostra de 100
empregados. Optou-se então pelo estudo da pesquisa de clima realizada pela empresa em
2000 e entrevistas com profissionais-chave da área de recursos humanos da Embratel.
Ganhou-se, portanto, uma amostragem mais representativa na medida em que 5.118
empregados responderam à pesquisa.
O estudo foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A
pesquisa bibliográfica consistiu no levantamento de literatura específica sobre Estatização,
Privatização, Telecomunicações, Gestão Organizacional e Gestão de Recursos Humanos, em
livros, revistas especializadas, dissertações, teses, artigos, decretos, leis, Internet, que
A pesquisa documental consistiu de levantamento de documentos como: livro institucional, pesquisas, manuais, relatórios, revistas, folhetos, que foram obtidos junto à EMBRA TEL e a análise da pesquisa de clima realizada com 5118 empregados.
Finalmente a pesquisa de campo consistiu em investigação empírica realizada com a Gerente Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos,o Gerente de Relações de Trabalho, o Gerente de Registros e Pagamentos e RH, e a Coordenadora de Projetos Estratégicos de Capacitação da Embratel.
O material coletado recebeu tratamento qualitativo. A dissertação está estruturada em sete capítulos.
o
Capítulo I apresenta a evolução histórica das comunicações no Brasil e o panorama político-econômico que faz interface com essa trajetória. Está dividido em 5 itens: O item 1 retrata a comunicação no Brasil na década de 1960 com o surgimento da EMBRA TEL em 1965. O item 2 aborda a década de 1970. O item 3 analisa a década de 1980. O item 4 relata a década de 1990 e o item 5 mostra a privatização e a nova visão da empresa a partir de 1998.O Capítulo U estuda a cultura e sua importância na dinâmica organizacional. Está dividido em 5 itens: Os itens 1,2 e 3 analisam o contexto cultural das organizações. Os itens 4 e 5 abordam os elementos da identidade cultural. O item 6 trata do processo cultural da mudança.
O Capítulo lU compreende o estudo do ambiente organizacional e as relações interpessoais dentro do contexto grupal. Está dividido em 5 itens:
Os itens 1 e 2 abordam a constituição e organização dos grupos. Os itens 3 e 4 tratam da organização como sistema e a estrutura interna dos grupos. O item 4 verifica a importância c o papel do indivíduo nas organizações. O item 5estuda sobre a visão contemporânea sobre as formações grupais.
O Capítulo IV investiga as mudanças na gestão de recursos humanos e no perfil profissional demandado pela organização atual. Está dividido em 8 itens:
"learning organization " e suas características. O item 6 apresenta os componentes e desafios da gestão de competências. O item 7 mostra estratégias adotadas para a atração e retenção de talentos e o item 8 reflete sobre os desafios a serem enfrentados pelos profissionais de telecomunicações.
o
Capítulo V compreende estudo sobre clima organizacional e investigações sobre a motivação e satisfação dos empregados. Está apresentado em 3 itens: Os itens 1 e 2 apresentam teorias motivacionais. O item 3 mostra os pressupostos de pesquisa de clima organizacional.O Capítulo VI trata da gestão de recursos humanos na Embratel ao longo de sua história. Estú organizado em 4 itens: O item 1 mostra o período compreendido entre a sua criação e a década de 1970.0 item 2 descreve a década de 1980. O item 3 aborda a década de 1990 e o processo de privatização iniciado em 1996 e concluído em 1998. O item 4 apresenta a gestão de recursos humanos a partir de 2000 e os novos programas implementados.
CAl)ÍTULO I
COMUNICAÇÃO NO BRASIL -ASPECTOS POLÍTICOS E
ECONÔMICOS
COMUNICAÇÃO NO BRASIL ATÉ A DÉCADA DE 1960
Embora desde o final do século XVII se buscasse transmitir sinais elétricos à distância, apenas
em 1844, graças ao fisico norte-americano Samuel Morse, o telégrafo elétrico entrou em
operação comercial (Embratel - 1998).
A primeira linha de telégrafo a funcionar no Brasil foi inaugurada em 11 de maio de 1852,
ligando a Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, ao Quartel de Polícia, na rua dos Barbeiros
(atual Evaristo da Veiga). Na ocasião, foram trocados telegramas entre o imperador D. Pedro
II e o ministro da Justiça, Eusébio Matoso Câmara e o Dr. Guilherme Schuch de Capanema,
professor de Física da Escola Central e responsável pelo projeto. Até aquela data só existiam
no país telégrafos de tipo ótico, empregados, sobretudo, na sinalização do serviço marítimo
(os faróis) (Embratel - 1998).
Em 1854, foi baixado o pnmelro ato governamental referente aos telégrafos elétricos,
confiando ao Ministério da Justiça a responsabilidade pelos serviços. A administração dos
Telégrafos seria transferida em 1860 para o Ministétio da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas.
A Guerra do Paraguai (1865-1870) foi responsável pela priorização do estabelecimento de
comunicação telegráficas com o sul do país, inauguradas, em 1866, mediante a ligação do Rio
de Janeiro com Porto Alegre. Em 1868, na rede telegráfica ultrapassava 2.00km de linhas
aéreas e postes na direção sul e em 1870 já contava com 51 estações.
A instalação das pnmelras linhas telegráficas submarinas de longo alcance no país foi
autorizada, em março de 1870, por decreto imperial que concedeu ao inglês Charles Bright o
autorização foi transferida em 1873 para a empresa inglesa Telegraph Construction and
Maintcnancc Co. Ltd ..
No que diz respeito às ligações com o exterior, em 1872 o barão de Mauá foi autorizado a
estabelecer e explorar um cabo submarino transatlântico entre o Brasil e a Europa. Em 1873,
Mauá transferiu sua concessão à firma Brazilian Submarine Telegraph Company. Planejado e
projetado por Mauá, o cabo submarino transatlântico foi inaugurado em junho de 1874 e sua
construção ficou a cargo da Telegraph Construction and Maintenance.
Resultado de um processo que contou com a intervenção de diversos pesquisadores, o
telefone foi inventado em março de 1876 pelo escocês Alexander Graham Bel!. Nesse mesmo
ano, visitando a exposição comemorativa do centenário da independência dos Estados Unidos,
realizados em Filadélfia, o imperador D. Pedro 11 foi convidado por Bell a examinar sua
"máquina falante". A visita e, sobretudo, a admiração do imperador brasileiro contribuíram
para atrair a atenção da imprensa para o telefone, até então considerado um simples brinquedo
(Ruiz, 1973).
A primeira concessão para construir e operar linhas telefônicas no Rio de Janeiro foi dada, em
novembro de 1870, a Charles Paul Mackie, representante da Bel Te1ephone Co. no Brasil.
Um grupo de empresários norte-americanos ligados a Mackie organizou a Brasilian
Tclcphonc Company em outubro dc 1880 c em maio do ano seguinte estavam instalados os
três primeiros telefones comerciais públicos do Brasil. A concessão, decretada em abril de
1881, dava permissão à firma para instalar e operar linhas telefônicas na cidade do Rio e seus
subúrbios e em Niterói. Em 1883, havia 800 assinantes no Rio e 200 na capital fluminense e
já se encontrava em funcionamento a primeira linha interurbana do país, ligando a capital do
Império a Petrópolis. No início de 1884, a Companhia de Telégrafos Urbanos instalou os
primeiros onze telefones de assinantes comerciais e residenciais de São Paulo.
Apesar de sua importância econômica e comercial, a instalação e a exploração de uma rede de
telecomunicações não despertaram grande interesse no governo imperial. No caso dos
serviços telegráficos terrestres (por linhas aéreas) já era reconhecido o monopólio do Estado
como proprietário das instalações, sendo a Direção Geral dos Telégrafos Elétricos
telegráficos por cabo submarino, a poder concedente ficava centralizado nas mãos do
governo, que fixava, por decretos os direitos e deveres dos usuários e as condições de
execução do serviço prestado pelas empresas concessionárias, em sua grande maioria
estrangeiras. Em relação à rede telefônica, a legislação, escassa e de pouco alcance, continha
um princípio único: o Estado era proprietário da rede, mas a exploração pertencia à iniciativa privada, através de concessões. A intervenção do poder público era, portanto, unicamente
normativa (Ruiz, 1973).
Em maio de 1881, o Conselho de Ministros do Império adotou o ponto de vista do governo
inglês, segundo o qual o telefone, por se considerado da mesma natureza do telégrafo, deveria
ser também um monopólio do Estado. Ficou estabelecido, contudo, que o governo imperial
poderia dar concessões para a construção de linhas telefônicas a particulares. Em março de
1882, decreto imperial estabeleceu as bases gerais para a concessão de linhas telefônicas em
todo o país. As redes deveriam restringir-se aos limites das cidades, as tarifas seriam
submetidas à aprovação do governo, que também fiscalizaria a qualidade da prestação desses
serviços. O prazo de concessão foi estabelecido em 15 anos, ao longo dos quais nenhuma
outra empresa seria autorizada a prestar os mesmos serviços. Em abril do ano seguinte, novo
decreto tornou mais rigorosa a fiscalização das redes e dos serviços telefônicos e ampliou o
prazo de concessão de 15 para 25 anos. Ao término das concessões as linhas e instalações
deveriam voltar para o Estado, sem ônus nenhum. Na realidade, porém, as concessões foram
renovadas e tal disposição nunca mais foi aplicada (Embratel - 1980).
o
princípio de descentralização político-administrativa, presente na Constituição de 1891, foi o principal responsável pela emergência de um conjunto de medidas referentes à área detelecomunicações, cujo traço comum era a atuação do setor privado em mercados
fragmentados. Sob a égide da nova Carta, as unidades da federação passaram a dispor de
políticas próprias para as telecomunicações e muitos estados reproduziram este espírito
descentralizador para os municípios. O parágrafo 4° do artigo nove da primeira Constituição
Republicana concedeu aos Estados o direito de construírem linhas telegráficas entre pontos
dos seus territórios e entre pontos de outros estados ainda não servidos por linhas federais,
ficando esse direito extensivo às linhas telefônica, em virtude de identidade de sua natureza,
A Repartição Geral dos Telégrafos - denominação atribuída à Diretoria Geral dos Telégrafos Elétricos desde 1890 - continuou com as prerrogativas de defesa das linhas federais telegráficas e telefônicas, tendo inclusive a faculdade de eliminar as linhas particulares que prejudicasse, de algum modo, as federais. O órgão foi autorizado a continuar a estender o serviço telefônico, quer urbano quer interurbano, sem prejudicar, porém, os direitos já adquiridos por companhias particulares, e a construir linhas especiais de telefone para a coleta e a distribuição de mensagens e a instalar estações separadas de serviço telefônico interurbano para uso público.
A expansão da rede telegráfica nacional prosseguiu em ritmo acelerado nas primeiras décadas republicanas.
O oficial de Exército Cândido Rondon, o patrono das comunicações nacionais, foi o principal agente da interiorização do serviço de telegrafia no Brasil.Foi membro da comissão construtora de Linhas Telegráficas, responsável pela ligação entre Cuiabá e a margem esquerda do rio Araguaia de 1890-1891e chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso e diretor da Comissão Construtora entre 1892 e 1898. Em 1900 Rondon recebeu a incumbência de estender a ligação telegráfica do Rio de Janeiro até as fronteiras com o Paraguai e a Bolívia, concluída em 1906.
Os servIços de telefonia não apresentaram o mesmo ritmo de expansão da telegrafia, concentrando-se no eixo Rio-São Paulo. Em 1897, a Prefeitura do Rio firmou contrato com a firma Siemens und Halske Aktien Gesellschaft e no ano seguinte com a Theodor Willie, relativamente à prestação de serviços telefônicos. Em 1899, a Brasilianische Elektricitats Gesellschaft adquiriu as concessões daquelas duas empresas. Em 1907, a Brasilianische foi incorporada pelo Rio de Janeiro Telephone Company, subsidiária do Rio de Janeiro Tramway Light. Em 1916, foi constituída a Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company, do grupo Light, que absorveu cinco companhias que operavam no Distrito Federal, Estado do Rio, São Paulo e em parte de Minas Gerais (CTB, 1973).
Moura pode ser considerado o pioneiro mundial na rádio-comunicação, já que, em 1893, transmitiu pela primeira vez sinais de telégrafo a longa distância, sem o uso de fios.
A exemplo do que ocorrera com o telégrafo, o interesse militar pela radiotelegrafia em pouco tempo se manifestou. Em 1907, foi criado o Serviço de Radiofonia da Marinha, que até então dependia das comunicações óticas (sinal e farol) e sonoras e, em 1911 foi organizado o Serviço Radiotelegráfico Nacional. Após um período de indefinição entre o setor público e o privado sobre quem deveria gerir o novo serviço, a idéia do monopólio estatal da radiotelegrafia prevaleceu através de decreto baixado em julho de 1917, que reservava ao governo federal o direito de operar exclusivamente os serviços de radiotelegrafia e radiotelefonia em todo o território brasileiro.
Revogado em 1921, o monopólio foi revalidado meses depois. Nesse curto intervalo, a Companhia Radiográfica Brasileira - Radiobrás, consórcio que contava com forte participação de capitais norte-americanos, conseguiu licença para operar no país. Mais tarde, a utilização do rádio seria estendida à prestação do serviço de telefonia a longa distância, que até então dependia exclusivamente dos cabos (Telebrasil, 1990).
o
movimento revolucionário de 1930, liderado por Getúlio Vargas, pôs fim à estrutura descentralizada da República Velha, transformou as relações entre o poder federal e estadual expandiu a intervenção do Estado no domínio econômico e social. Esse período, que se estende até 1945, também foi especialmente importante na definição de um novo modelo de desenvolvimento econômico baseado na industrialização.A queda do Estado Novo, no final de 1945, com a conseqüente redemocratização do país e o término da Segunda Guerra Mundial, ocorrida em maio, que acarretou o fim das restrições de ordem econômica impostas pelos conflitos, abriu um novo espaço para a discussão dos rumos do desenvolvimento brasileiro. Um aspecto fundamental dizia respeito ao papel que seria reservado à iniciativa privada, nacional e estrangeira, e ao Estado no quadro de transformações estruturais que deveriam ser introduzidas no sistema produtivo do país.
conseqüentemente, a baixa qualidade dos serviços somava-se à dificuldade de modernizar os
equipamentos - em quase sua totalidade importados e em alguns casos montados em território
nacional - dado que as indústrias fabricantes, quase todas sediadas na Europa, estavam
empenhadas na reconstrução das economias de seus países de origem. Outra característica
básica desses equipamentos era a heterogeneidade: cada concessionária utilizava o que
melhor lhe aprouvesse. A ação do poder público era basicamente normativa e
regulamentadora (Embratel - 1998).
O setor era amplamente dominado pela iniciativa privada. No final da década de 1940, havia
mais de 500 concessionárias, estrangeiras e nacionais, em funcionamento no país. As duas
maiores eram a Companhia Telefônica Brasileira - CTB, do grupo canadense Light, que
reunia aproximadamente 70% dos telefones instalados no país e atendia às áreas mais
desenvolvidas (eixo Rio-São Paulo, parte de Minas Gerais, Espírito Santo e Estado do Rio,
interior paulista) e a Companhia Telefônica Nacional - CTN, subsidiária da empresa
norte-americana International Telegraph Telephone - ITT, que operava no Rio Grande do Sul e no
Paraná.
Na verdade, as empresas estrangeiras só demonstravam interesse em se estabelecer nas áreas
de maior densidade demográfica e com maior renda, garantindo, assim, a rentabilidade de
seus empreendimentos, enquanto as regiões do interior permaneciam fora da rede de
telecomunicações. As concessionárias mumcIpais, por sua vez, não tinham recursos
financeiros suficientes para sustentar a expansão das redes locais.
As telecomunicações constituíam - segundo diagnóstico do Plano Salte (Saúde Alimentação
Transporte Energia), plano de desenvolvimento econômico elaborado pelo governo Dutra em
1948 - um dos pontos de estrangulamento do desenvolvimento econômico nacional. No ano
seguinte, foi criada uma comissão mista, integrada por civis e militares, que recebeu a
incumbência de elaborar o projeto da Lei Básica de Telecomunicação. De acordo com a
orientação que norteou os trabalhos, era necessário rever a legislação vigente - baixada no
início dos anos 30 e que, além de esparsa, tratava as telecomunicações de forma fragmentada,
sem necessariamente monopolizar a execução dos serviços (Telebrasil, 1990).
Em 1959, o EMFA cnou um grupo de estudos para elaborar um Plano Nacionais de
Telecomunicações, integrados por cinco membros, civis e militares (Ministério das
Comunicações, 1978). O relatório final recomendava a centralização do poder regulador num
órgão federal, ao qual caberia também fixar as tarefas, a constituição de um sistema nacional
de telecomunicações, formado pela integração da rede federal e das redes estaduais e a criação
de uma empresa para a execução da rede federal (troncos principais do sistema nacional).
Nessa época já fora introduzido no país o serviço de telex, modalidade de serviço telegráfico
que permite a um usuário qualquer a transmissão e a recepção, normalmente não simultâneas,
de mensagens escritas através de um equipamento terminal. Em outubro de 1958, a
Radiobrás inaugurou o serviço de comunicação por telex entre o Brasil e os Estados Unidos,
estendido entre 1959 e 1961 à Argentina, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Japão.
Com a ascensão de Jânio Quadros à presidência, o movimento em prol de mudanças no setor das telecomunicações ganhou força. Através do Decreto n° 50.666, de 30 de maio de 1961,
foi criado o Conselho Nacional de Telecomunicações. Em virtude da renúncia de Quadros,
em agosto de 1961, e a instabilidade que então se instalou no país, o anteproj eto de Código só
foi retomado meses mais tarde, já no governo João Goulart, desta feita por uma comissão
parlamentar mista, à qual se juntaram assessores do governo e militares das três forças.
Em 1960, foi fundada a Companhia Riograndense de Telecomunicações, sociedade de
economia mista que recebeu a concessão do governo estadual para explorar os serviços
telefônicos locais.
Na mesma época o governo do estado da Guanabara apresentou projeto de reformulação dos
serviços telefônicos que previa a criação de uma empresa de economia mista estadual - a
Companhia Telefônica da Guanabara (que seria a futura Companhia de Telefones da
Guanabara - CETEL) - e a encampação da CTB pelos mesmos conhecidos motivos de
ineficiência, obsoletismo e incapacidade em se modernizar. O governo federal, que desde
dezembro de 1961 mantinha contatos com a direção da CTB tendo em vista a compra da
um período de seIS meses. O prazo da intervenção serIa sucessivamente renovado,
estendendo-se até 1966 (CTB, 1973).
A medida estava intimamente relacionada a dois decretos - baixados em março de 1962, dias
antes do decreto de intervenção -que estabeleciam, na prática, novas diretrizes para as
telecomunicações no país. O primeiro decreto considerava os serviços de telecomunicações
como indústria básica para o desenvolvimento econômico e para a segurança nacional,
encarregando o BNDE a incluir entre as suas prioridades as operações que visavam o
reaparelhamento do setor.
O segundo decreto obrigava toda medida de desmembramento dos bens ou patrimônio de
qualquer concessionária de serviços de telecomunicações que funcionasse em mais de um
estado (era essa a condições necessária para a competência federal) a obter prévia audiência
do Ministério da Viação e Obras Públicas e parecer do Conselho de Segurança Nacional.
Apesar desses avanços, a situação do setor de telecomunicações em seu conjunto era bastante
precária. Os sistemas de longa distância praticamente não existiam. Apenas no trecho Rio
-São Paulo os padrões técnicos eram razoáveis, embora insuficiente para atender à demanda.
Os circuitos instalados não atendiam às normas internacionais, desobedecendo às
recomendações do Comitê consultivo Internacional de Telegrafia e Telefonia e do Comitê
Consultivo Internacional de rádio, órgãos da União Internacional de Telecomunicações.
No resto do Brasil, existiam apenas algumas instalações de baixa capacidade.
Essa situação quase caótica era determinada por um conjunto de fatores, entre os qUaiS
destacavam: a diluição da competência entre a União, os estados e os municípios, impedindo
o planejamento em nível nacional, o controle de padrões e a fiscalização
técnico-administrativa dos serviços; a sobreposição de interesses político-partidários às questões de
natureza técnica; as sucessivas restrições à importação de equipamentos por falta de recursos,
particularmente grave após a Segunda Guerra Mundial; a compressão das tarifas e a espiral
inflacionária, acarretando um crescente desinteresse das empresas privadas, que detinham quase 90% das concessões por novos investimentos no setor; a carência de mão-de-obra
especializada tanto na área industrial quanto nas companhias operadoras; e finalmente a falta
o
pnmelro passo para a superação dessas dificuldades foi a aprovação, pelo Congresso Nacional, de projeto que instituía o Código Brasileiro de Telecomunicações, transformando na Lei n° 4.117, de 27 de agosto de 1962. Para os efeitos da lei, os serviços de telecomunicações eram constituídos pela transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por fio, rádio, eletricidade, meios óticos ou qualquer outro processo eletromagnético. Telegrafia e telefonia eram definidas como os processos de telecomunicações destinados, respectivamente, à transmissão de escritos pelo uso de um código de sinais e à transmissão da palavra falada ou de sons.o
código previa a criação do Conselho Nacional de Telecomunicações (CONTEL) e de uma empresa pública destinada a explorar os troncos principais de telecomunicações no país, e a constituição de uma fonte de recursos financeiros extra-orçamentários para o setor. Diretamente vinculado à Presidência da República, o CONTEL exerceria atribuições reguladoras (regulamentação dos serviços e supervisão da qualidade dos equipamentos) e normativas (análise dos sistemas e pela proposição de procedimentos técnicos).Caberia também ao órgão federal orientar e coordenar o desenvolvimento dos serviços de telecomunicações no país, mediante a elaboração de um Plano N acionaI de Telecomunicações, cujas finalidades básicas seriam dotar o Brasil de um sistema integrado, capaz de satisfazer às necessidades de desenvolvimento e segurança nacionais, e estimular a indústria de equipamentos de telecomunicações, dando preferência às empresas cujo capital social fosse controlado majoritariamente por acionistas brasileiros (Embratel, 1998).
Órgão colegiado composto por 14 membros de diversas procedências, o que refletia o contexto político do momento e os interesses dominantes, o ConteI era presidido por elemento nomeado diretamente pelo presidente da República.
o
Código estabeleceu o princípio de um sistema Nacional de Telecomunicações - SNT, conjunto de meios técnicos pelos quais seriam prestados os serviços, visando a unificação darede em todo território nacional. A competência da União para explorar diretamente os
troncos do SNT - os serviços interestaduais - seria exercida através da criação de uma
empresa pública, autônoma, organizada sob a forma de sociedade por ações, e de cujo capital
só poderiam participar pessoas jurídicas de direito público interno, bancos e empresas
governamentais.
Os recursos da nova empresa - que vma a se denominar Empresa Brasileira de
Telecomunicações - EMBRATEL - seriam constituídos das tarifas cobradas pela prestação
de seus serviços, das dotações consignadas no Orçamento Geral da União, do produto de
operações de crédito, juros de depósitos bancários, rendas de bens patrimoniais e, sobretudo
dos recursos advindos do Fundo Nacional de Telecomunicações.
As atribuições da entidade seriam progressivamente ampliadas de acordo com as diretrizes
elaboradas pelo CONTEL, mediante a transferência de serviços então executados pelo
Departamento dos Correios e Telégrafos e a incorporação dos serviços à época explorados
quer por concessão, quer por autorização, à medida que estes fossem sendo extintos
(Embratel - 1980).
Desta forma a EMBRATEL é criada em 1965, com o objetivo de implantar e operar um
sistema de telecomunicações capaz de integrar rapidamente todo o país.
Com a aprovação do Código Nacional de Telecomunicações, pela primeira vez na história do
país eram definidas as linhas-mestras de uma política nacional para o setor, atribuindo-se
tarefas e responsabilidades às partes.
A criação da EMBRA TEL marcou o ingresso do Estado na esfera da prestação de serviços e o
fim progressivo do sistema de concessões dos serviços de telefonia interestadual e internacional. O Estado intervinha pela primeira vez de forma direta no setor, ao lado dos
tradicionais órgãos normativos, embrião de uma rede de telecomunicações homogênea e
1.l Panorama Político-Econômico: 1964 - 1972
Nos pnmelros anos da década de 1960, o Brasil atravessava uma grave cnse, na qual
conjugavam-se problemas econômicos, políticos e sociais resultantes de uma série de
contradições acumuladas no decorre dos anos precedentes.
As distorções acumuladas impediram a economia brasileira de encontrar novas fontes de
dinamismo que garantisse a continuidade do desenvolvimento (Lago, 1990). A primeira e
mais evidente distorção foi o processo inflacionário que permeou a industrialização, muito
embora, inicialmente, tenha atuado como um mecanismo de poupança forçada, permitindo a
complementação do financiamento dos investimentos industriais e viabilizando a ação do
governo em setores fundamentais da economia, que não interessavam à iniciativa privada.
A segunda distorção foi o próprio sentido da industrialização substitutiva de importações, que
consistiu, basicamente, na assimilação de técnicas que refletiam a disponibilidades dos fatores
de produção das economias centrais. Como nessas economias a disponibilidade do fator
trabalho é substancialmente diferente das registradas em economias periféricas, a utilização
de técnicas intensivas em capital (baixo nível de absorção de mão de obra) acarretou o
estreitamento do mercado consumidor de bens industriais e o inchamento do setor terciário e,
conseqüentemente, reduzidos níveis de eficiência.
Coube ao setor público absorver parte da mão-de-obra que a indústria não conseguia
incorporar ao processo produtivo, dando origem a uma terceira distorção no processo de
desenvolvimento econômico. Essa incorporação ocorreu com uma produtividade inferior ao
do restante da economia, provocando um aumento na participação do governo no produto
nacional.
À essa época, o Estado já desempenhava papel fundamental no processo de desenvolvimento. Além de haver se tomado um investidor produtivo direto, atuava como agenciador do capital
privado e fixador de salários. Considerando que as despesas governamentais superavam a
arrecadação, o financiamento de novos investimentos só poderia realizar-se mediante
internacionais. A primeira opção implicava no recrudescimento da espiral inflacionária e a segunda, na adoção de fórmulas contencionistas, posto que o capital estrangeiro, temendo a desestabilização política do governo, passou a evitar inversões no país.
Foi nesse quadro recessivo da economia nacional, agravado pela crise política e por uma crescente insatisfação social, que teve lugar, em abril de 1964, a mudança de regime político.
o
movimento militar que destituiu João Goulart da chefia do governo e conduziu à Presidência da República o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco não definiu, em essência, um novo modelo de desenvolvimento. Ao contrário, buscou-se, justamente, viabilizar, através de esquemas alternativos de financiamento, o modelo implantado nos anos 1950 (Lago, 1990). Nesse sentido, a política econômica adotada a partir de 1964 valeu-se do acentuado fortalecimento do Executivo Federal, que conferiu condições favoráveis à fonnulação e à execução das novas diretrizes econômicas.No período de 1964-1966, as ações do governo visando à superação da cnse e ao estabelecimento de um novo ciclo de desenvolvimento foram orientadas pelo Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG que definia como objetivos principais:
Em primeiro lugar, era imprescindível acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico do país, de moda a alcançar a marca de 6% ao ano. Sob esse aspecto, o Plano limitava-se a fonnular alguns objetivos gerais para o fortalecimento da taxa de investimento do país, deixando entrever a crença de que, contida ou eliminada a inflação, o crescimento econômico seria uma decorrência natural. Como conseqüência do objetivo anterior, o PAEG estabeleceu para o triênio uma política de combate gradual ao processo inflacionário, fixando como meta um crescimento dos preços da ordem de 80% em 1964,25% em 1965 e 10% em 1966, último ano do Plano.
As empresas estatais assumIram, nesse período, um papel estratégico na expansão da economia, concentrando sua atuação na produção de insumos básicos para a indústria e na implantação de infra-estrutura de energia e comunicações. Em 1968, o país começou a explorar petróleo em sua plataforma continental. Entre 1966 e 1972, a capacidade instalada para a produção de energia elétrica mais que dobrou; também nesse último ano foi concluída a implantação da rede básica de telecomunicações. Todos esse empreendimentos foram capitaneados por empresas públicas, como a Petrobrás, a Eletrobrás e a recém-construída Embratel.
1.2 Telecomunicações: De 1965 a 1972
A grave situação das telecomunicações no Brasil em meados da década de 1960 tomava inadiável a execução do Plano Nacional de Telecomunicações sob pena de serem comprometidos alguns dos principais projetos do governo militar recém-instalado.
Dentre as principais realizações desse período, merecem destaque à criação da Embratel, responsável pela implantação da rede básica de telecomunicações, a nacionalização das duas maiores operadoras estrangeiras - Companhia Telefônica Brasileira - CTB e a Companhia Telefônica Nacional- CTN - a criação do Ministério das Comunicações e a constituição da empresa holding do setor, a Telecomunicações Brasileira S. A - Telebrás. Foi também nessa época que o poder concedente passou à jurisdição federal e que foram aprovadas normas jurídicas, técnica e contábeis para a execução dos serviços de telecomunicações. Além disso, o csqucma dc financiamcnto do sctor sofrcu importantcs transfornlaçõcs: foram cstabclccidas normas para a participação do usuário na expansão dos serviços telefônicos, sob a forma de autofinanciamento, a política tarifária foi reformulada, instituindo o Fundo Nacional de Telecomunicações.
Em 26 de março de 1966, foi finnado o contrato de compra da CTB, pela Embratel, no valor de US$ 92 milhões, a serem pagos em vinte anos. Essa medida significou a estatização de cerca de dois terços do sistema telefônico brasileiro, ampliando de maneira notável a participação estatal na operação do setor.
A Constituição Federal, aprovada pelo Congresso em 24 de janeiro de 1967, anunciou, em seu artigo 8°, a competência da União para "explorar diretamente ou mediante autorização ou concessão, os serviços de telecomunicações". Esse dispositivo constitucional [oi confirmado pelo Decreto-lei n° 162, de 13 de fevereiro de 1967, estabelecendo que a União substituiria automaticamente os poderes concedentes estaduais ou municipais em todos os serviços telefônicos, respeitando, contudo, a vigência dos contratos celebrados pelas autoridades estaduais e municipais com as empresas operadoras.
A implantação do sistema Nacional de Telecomunicações esbarrava na diversidade de situação das concessionárias, sério empecilho ao desenvolvimento de todos os serviços, uma vez que os sistemas de tronco que a Embratel planejava implantar não podiam funcionar se não houvesse sistemas locais em condições de serem ligados entre si. Esse condicionamento técnico teve bastante peso na decisão de criar uma estrutura operacional centralizada e controlada em nível federal.
Assim, na esfera da refonna administrativa instituída pelo Decreto-Lei nO 200, de 25 de fevereiro de 1967, foi criado o Ministério das Comunicações, ao qual ficaram vinculados o Conselho Nacional de Telecomunicações - Dentel, o Departamento de Correios e Telégrafos - DCT (até então subordinado ao Ministério de Viação e Obras Públicas) e a própria Embratel, à qual foi facultado o direito de adquirir ações das empresas com as quais mantivesse tráfego mútuo.
No campo da telefonia, uma das prioridades delinidas pelo Ministério das COll1unicações roi a unificação dos equipamentos de todo o país, de modo a superar as dificuldades de comunicação interurbana. Para isso era necessária a fusão das concessionárias existentes, cujo elevado número e a falta de estrutura gerencial, financeira e técnica, impediam o atendimento às exigências de modernização e expansão das redes. Nesse sentido, em 11 de maio de 1972, através da portaria n° 329, o Ministério das Comunicações inaugurou a política de agregação das concessionárias municipais, em tomo de uma única empresa de cada estado, a ser escolhida pela Secretaria Geral do próprio Ministério. No entanto, a fusão só seria efetivada com o assentimento das concessionárias ou pela não renovação dos contratos de concessão (Embratel - 1998).
o
último passo para a reestruturação institucional do setor de telecomunicações iniciado em 1962 foi dado pela Lei n° 5.792, de 11 de julho de 1972, que autorizou o Executivo a constituir a empresa Telecomunicações Brasileiras S.A - Telebrás. A criação de uma empresa pública que assumisse a coordenação das cercas de 800 pequenas concessionárias privadas de âmbito municipal tomara-se uma exigência para a superação de enorme déficit de telefones do país. Além disso, sem capacidade financeira nem estrutura operacional, essas empresas representavam um obstáculo à ampliação e à modernização dos serviços de telecomunicações interurbanas e internacionais que a Embratel esforçava-se em implementar.Passaram a ser da competência da Telebrás as seguintes atribuições:
Planejamento e integração dos serviços de telecomunicações; gestão de recursos emitida pela União nas empresas de serviços públicos de Telecom coordenação técnica e administrativa dessas empresas; responsabilidade pela promoção de medidas que viabilizassem a expansão das telecomunicações do país com o exterior estimulassem pesquisas e a produção industrial e incentivasse a formação e o treinamento de pessoal qualificado para o setor. Os recursos do Fundo Nacional de Telecomunicações, até então geridos pela Embrate1, foram postos à disposição de nova empresa e autorizada a transformação da Embratel em sociedade de economia mista subsidiária da Telebrás (Telebrás, 1973).
Os sucessivos planos de expansão para a telefonia - preparados pelo ConteI em 1963 e 1965, pela Embratel a partir de 1967 e pelo Ministério das Comunicações, entre 1969 e 1971 -forneceram os primeiros subsídios para a reordenação da atividade produtiva das firmas estrangeiras instaladas no país. Até meados dos anos 1960, as empresas, que até então não passavam de simples montadoras de equipamentos importados das matrizes, no começa da década seguinte já operavam, embora em escala bastante reduzida, suas atividades produtivas.
A criação da Telebrás, em 1972, trouxe um novo enfoque à questão da compra e da normalização dos equipamentos. A unificação e a homogeneização técnica das redes, objetivo prioritário da administração da holding, permitiram a normalização dos
equipamentos, enquanto a concentração de recursos, a centralização e a coordenação da gestão dos serviços telefônicos passaram a assegurar oportunidades de rápido crescimento das indústrias de equipamentos, em face do volume previsível de encomendas. A empresa estatal, ao tornar-se o único comprador do setor, possibilitou a implantação de bases concretas para a formulação de uma política industrial de longo prazo.
1.3 Embratel De 1965 a 1972
Os primeiros anos da Embratel (1965-1972) foram caracterizados pela implantação de um sistema nacional e de um sistema internacional de telecomunicações no país. Entre 1969 e 1972, a Embratel estruturou a rede nacional de telecomunicações, com a implantação do sistema de microondas de visibilidade, interligando as regiões Sudeste, Sul e Nordeste (1969-1970), e do sistema de microondas em tropodifusão, para atender a região amazônica e pern1itiu a interligação das principais cidades do país (Ministério das Comunicações, 1978).
Em seus sete pnmelros anos, a Embratel implantou a Rede Nacional de Televisão e a
Discagem Direta à Distância (DDD), além de ampliar e garantir a confiabilidade aos serviços
de telefonia, telegrafia e, a partir de 1969, de telex.
A estrutura administrativa era integrada por um sistema deliberativo e um sistema executivo.
O primeiro era composto pela Assembléia Geral, pela Diretoria e pelo Conselho Fiscal. As
principais atribuições da assembléia Geral eram resolver os negócios relativos ao objeto de
exploração da Empresa, tomar decisões que julgasse conveniente à defesa e ao
desenvolvimento de suas operações, em conformidade com as normas estabelecidas pelo
CONTEL, e alterar o Estatuto da empresa.
Em 21 de setembro de 1965, o presidente Castelo Branco nomeou a primeira diretoria, tendo
como presidente Dirceu de Lacerda Coutinho.
Com a criação do Ministério das Comunicações, a Embratel, por determinação do Decreto n°
60.900, de 26 de junho de 1967, passou a vincular-se àquela pasta.
Em 1971, a Embratel passou por um processo de reestruturação administrativa.
Com o Decreto n° 70.913, de 2 de agosto de 1972, a Embratel, que até então pertencera
à
categoria de empresa pública, foi transformada em sociedade de economia mista, sob a
denominação de Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A Pouco depois, tomou-se
subsidiária da Telebrás, empresa holding do setor, cuja constituição formal ocorreu em
novembro seguinte. A Telebrás passou a deter 50,21 % das ações da Embratel, a União
48,24% e o restante das ações distribuídas entre o Banco do Brasil (0,54%), o BNDE (0,34%),
a CVRD (0,22%), a Petrobrás (0,22%), a CSN (0,12%) e a Eletrobrás (0,11 %) (Ministério
das Comunicações, 1978).
Embora o Estatuto estabelecesse que deveria ter sede o foro em Brasília, a Embratel foi
instalada inicialmente, em caráter provisório, numa sala cedida pela Companhia Vale do Rio
Doce, no centro do Rio de Janeiro. Transferiu-se depois para sua sede social, na mesma
Em 1965, o setor de telecomunicações no Brasil estava dividido em dois sistemas distintos: o sistema nacional e o sistema internacional. O sistema internacional era constituído de 39 circuitos de voz em ondas curtas, de baixa confiabilidade, que permitia a ligação do Brasil com vários países de continentes americano e europeu, possuindo também alguns canais telegráficos que ligavam o país com a Europa e os Estados Unidos, por meio de cabo submarino. Este serviço era operado por empresas privadas estrangeiras que detinham a concessão para sua exploração (Embratel, 1980).
O sistema nacional compreendia o servIço urbano e o servIço interurbano que, embora ineficiente com relação à demanda do país, possuía maior complexidade em função de sua própria natureza.
o
período 1969-1972 constitui um marco na história da Embratel. Começou uma expressiva expansão do sistema nacional e do sistema internacional de telecomunicações no Brasil.Em 1966, a Embratel empreendeu um dos primeiros atos para a formação do sistema Nacional de Telecomunicações, com a aquisição do controle acionário da Companhia Telefônica Brasileira (Lobo, 1976).
Paralelamente à implantação da telefonia no Brasil, a Embratel passou a investir num sub-produto da infra-estrutura posta em operação para atendê-la - a televisão - empenhando-se na criação da Rede Nacional de Televisão. Para atingir este objetivo, o início de 1968, a empresa iniciou a compra de Centros de TV - CTV s - a serem instalados nas principais cidades do país.
Em fevereiro de 1972, a Embratel assumiu o Serviço Telegráfico de Boletim de Imprensa Internacional. Em setembro do mesmo ano, foi inaugurada a Central de Telex Internacional, que criou novas rotas automáticas de telex, permitindo a conexão do Brasil com mais de 20 países.
2. COMUNICAÇÃO NO BRASIL - DÉCADA DE 1970
2.1 Panorama Político-Econômico
No período compreendido entre 1973 e 1979, a economia brasileira caracterizou-se pela redução das taxas de crescimento, decorrente das mudanças que afetaram a economIa mundial, e pelas tentativas do governo, especialmente após o lançamento do II Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico - II PND (1975-1979), de ajustar a estrutura econômica do país ao novo contexto internacional.
o
primeiro choque do petróleo, anunciado em dezembro de 1973, provocou um grande abalo na economia e repercutiu fortemente sobre o Brasil (Carneiro, 1990). As fontes externas de financiamento, sobre as quais o processo de crescimento se havia apoiado durante o "milagre", sofreram uma súbita retração. Com isso, as taxas de juros elevaram-se dificultando a captação dos recursos necessários à reposição de máquinas e equipamentos, desgastados e obsoletos, do parque industrial.o
fato de as empresas estrangeiras ocuparem lugar de destaque na estrutura econômica do país contribuiu para o desencadeamento da "crise do milagre", na medida em que a importação de insumos básicos e bens de capital e a remessa para o exterior dos lucros aqui realizados comprometiam sensivelmente o balanço de pagamentos (Carneiro, 1989). Além disso, como o Brasil em 1973 era extremamente dependente do petróleo importado, o aumento do preço desse insumo representava um empobrecimento do país. Ao se desvalorizarem as exportações vis-à-vis as importações, uma quantidade maior de bens precisaria ser enviada ao exterior em contrapartida à importação.Para viabilizar a produção doméstica de bens de capital e insumos básicos, o II PND elegeu
como área prioritária para investimentos o setor de infra-estrutura - energia (elétrica e
petrolífera), transportes (ferroviário e marítimo) e comunicações (Carneiro, 1990). O
aumento da capacidade de produção correspondia ao objetivo de ampliar a oferta desses bens,
visando a substituição de importações e a promoção das exportações.
As modificações nas orientações econômicas proposta pelo II PND encontram forte oposição
nas indústrias de bens de consumo durável, basicamente controladas pelo capital estrangeiro
e, até então, responsáveis pela tônica do processo de desenvolvimento do país.
A alternativa encontrada foi levar as empresas estatais a assumirem a liderança da nova fase
de desenvolvimento.Por isso, os investimentos no setor de telecomunicações deveriam apoiar o crescimento industrial, considerando o aumento da demanda por meios de comunicação
rápidos e eficazes inerentes às economias de mercado, industrializadas e diversificadas. À
proporção que cresce a industrialização e se diversificam os setores da economia, os agentes
econômicos passam a trocar quantidades cada vez maiores de informação e as
telecomunicações assumem, nesse contexto, importância fundamental.
As dívidas externa e interna cada vez maIOres, o déficit no balanço de pagamentos, a
tendência à queda na taxa de crescimento do PIB e o retorno da inflação a níveis inéditos
desde 1964 foram os principais problemas enfrentados pelo governo, iniciado em 15 de março
de 1979 (Carneiro, 1990).
A situação agravou-se em agosto de 1979, com a duplicação do preço do petróleo no mercado
mundial, que determinou novas e profundas mudanças na ordem econômica internacional,
condicionadas pela elevação das taxas de juros praticadas pelos grandes bancos.
2.2 O Setor de Telecomunicações e a Embratel
o
setor de telecomunicações teve um notável desenvolvimento entre 1973 e 1979, resultante, em grande medida, da consolidação do Sistema Telebrás (Telebrás, 1990). Ao organizar asempresas-pólo em praticamente todos os estados da Federação - a Telebrás promoveu a
unificação e a modernização não só dos sistemas que operavam em todo o país, mas também
Esse período foi marcado também pelas primeiras iniciativas governamentais no sentido de
estabelecer uma política industrial para o setor. Esses esforços, que visavam fortalecer a
indústria doméstica e adequar a produção de equipamentos de telecomunicações às
necessidades definidas nos planos de desenvolvimento setorial, inseria-se no contexto maior
da política de reorganização industrial, propugnada pelo II Plano Nacional de
Desenvolvimento - II PND.
A Telebrás deu início a uma série de gestões junto às concessionárias e às agências
governamentais, visando a fortalecer e a ampliar suas competências.
Na fase inicial de funcionamento da holding, também foi dada ênfase especial às atividades de
planejamento. Para tanto, foram centralizados na Telebrás os diferentes planos e projetos de
operação das concessionárias e cadastradas todas as empresas de telefonia em operação no
país, criando-se o primeiro Plano Diretor de Telecomunicações, relativo ao período de
1975-1979 (Telebrás, 1992).
Dois fatores contribuíram para a consolidação do controle da Telebrás sobre suas subsidiárias:
a centralização administrativa e normatizadora e a utilização de recursos provenientes do FNT
(Fundo Nacional de Telecomunicações). Para firmar-se como instância de controle e
orientação das empresas-pólo, a Telebrás definiu normas e pareceres unificando as regras de
gestão das empresas e estabelecendo os objetivos do grupo.
o
notável crescimento da demanda por comunicações internacionais conferiu prioridades à realização de novos investimentos nos serviços e nos sistemas internacionais de comunicação.Nesse sentido, merecem destaque a inauguração do cabo submarino Bracan, em maio de
1972; a ampliação do sistema de comunicações por satélite, com a inauguração da antena de
Tanguá lI, em setembro de 1975, e da Estação de Monitoração de Satélites, em julho de 1976;
e ainda a implementação de ligações terrestres por microondas em visibilidade com a
Argentina e o Paraguai (Embratel, 1998).
Em 1977, o déficit na balança de pagamento levou o governo a suspender o projeto, sob o
argumento de que seu custo, agravaria, ainda mais, a situação do país e de que o valor