Comportamentos de risco e
vulnerabilidade entre estudantes
de Educação Física
Risk behavior and vulnerability
among Physical Education students
Alexandre Palma
1Raquel Azeredo Abreu
2Cristina de Almeida Cunha
31Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Universidade Gama
Filho, Universidade Estácio de Sá
2Curso de Educação Física, Universidade Gama Filho
3Curso de Educação Física, Universidade Estácio de Sá
Correspondência: Alexandre Palma. Rua José Veríssimo, 14 apto. 101 Méier – Rio de Janeiro, RJ -CEP 20720-180. E-mail: alexandrepalma@domain.com.br
Resumo
O objetivo do presente estudo foi identifi-car a prevalência de comportamentos as-sociados à ocorrência de doenças ou agra-vos à saúde em alunos de Educação Físi-ca. Para tanto, adotou-se uma pesquisa de levantamento (survey) com 448 estudan-tes de ambos os sexos. O instrumento en-volveu questões sobre prática de exercíci-os físicexercíci-os, uso de preservativexercíci-os, uso de dro-gas e horas de sono. Os principais resulta-dos foram: a) a taxa de indivíduos que não praticam exercícios regularmente é baixa quando comparada às taxas da população em geral; b) o valor médio para o esforço físico no trabalho é caracterizado como “um pouco intenso” na escala de Borg; c) do total de informantes que trabalhavam, 39,4% relataram dores associadas à ocu-pação profissional; d) 58,7% informaram não fazer uso regular de preservativos na relação sexual; e) o álcool é a droga mais utilizada e há um grande uso de cigarro e maconha; e f) 19,2% dos estudantes fazem ou já fizeram uso de anabolizantes na vida. Conclui-se, então, que um número impor-tante de alunos de educação física, a des-peito do discurso vigente na área, que re-força a importância de um estilo de vida considerado saudável, adota comporta-mentos que não necessariamente se coa-dunam com esta idéia.
Palavras-chave: Palavras-chave:Palavras-chave: Palavras-chave:
Introdução
Parte da literatura científica tem apon-tado para uma grande quantidade de hábi-tos que se relacionam à ocorrência de diver-sas doenças. Assim, tem sido sugerido que o sedentarismo está associado às doenças cardiovasculares, diabetes, osteoporose, obesidade, entre outros agravos1; que a
prá-tica de relação sexual sem o uso de preser-vativos aumenta o risco de infecção pelo ví-rus HIV e de contrair a AIDS2 ou outras
do-enças sexualmente transmitidas; que o uso abusivo de drogas pode causar diferentes problemas à saúde3,4; e que o excesso de
ho-ras e a intensidade do trabalho podem estar relacionados à fadiga, ao burnout, às doen-ças cardiovasculares, à ocorrência de aciden-tes, etc.5,6.
Deste modo, grande parte da literatu-ra científica advoga que a identificação e alteração de determinados comportamen-tos poderiam contribuir para a prevenção de algumas enfermidades ou, pelo menos, adiar seu aparecimento. Contudo, a noção de comportamento de risco estimula um envolvimento individual mais ativo com a prevenção e imputa ao próprio indivíduo a responsabilidade por seu adoecer. A ten-dência à culpabilização da vítima parece ser, portanto, uma conseqüência inevitá-vel desta perspectiva.
Neste entendimento, o risco se apre-sentaria como algo que surge no presente, com força para predizer o futuro e assim decidir sobre o que é (ou seria) desejável. Por outro lado, a construção do conceito de risco reduz as contradições imbricadas no cotidiano das pessoas, quando institui que seu gerenciamento só seria possível de
modo racional7. A opção de aceitabilidade
do risco, portanto, implicaria ao próprio portador da escolha uma auto-responsa-bilidade pela decisão de abrandá-lo ou, até mesmo, de eliminá-lo. As noções de “com-portamento de risco” ou de seu antônimo, cunhado pragmaticamente pelas ciências positivistas como “estilo de vida saudável” se inserem neste contexto. Assumir essa lógica racional simplista e impositiva de
Abstract
The aim of this study was to identify health-related behaviors of Physical Education stu-dents. Therefore, we surveyed 448 students of both genders. The instrument had ques-tions about the practice of regular exercise, the use of condoms during sexual inter-course, the use of both legal and illegal drugs, stress on the job, and hours of sleep. The main results are as follows: (a) The rate of physical inactivity is low in comparison with the general rates in the population; (b) The average values of physical exertion is classified as “somewhat intense” on the Borg scale; (c) 39.4% of the participants re-ported job-related pain; (d) 58.7% did not use condoms during sexual intercourse regularly; (e) Alcohol was the most fre-quently consumed drug; cigarettes and marijuana are also commonly used; and (f) 19.2 % of respondents admitted using or having already used anabolic steroids. One concludes, then, that physical education undergraduates, although they are students of a health-related area, adopt behaviors that do not necessarily suit a healthy lifestyle.
Key KeyKey
que o indivíduo poderia gerenciar seus próprios riscos, isto é, seu futuro, significa dizer, em última instância, que se está de-legando a ele a culpa por seu eventual adoecimento ou, em outras palavras, que o problema está em uma falha ou fraque-za individual8-10.
O campo da educação física, hegemo-nicamente, tem legitimado a moralidade destes discursos que defendem e reforçam a idéia de que a prática regular de exercíci-os físicexercíci-os deveria ser realizada por toda po-pulação, uma vez que poderia resguardá-la
contra doenças crônico-degenerativas1.
Entretanto, em que pese o discurso encon-trar ressonância no campo e ser utilizado para justificar sua inserção na área da saú-de, contraditoriamente, os professores po-dem não aderir integralmente a estes com-portamentos.
A questão, então, que suscita maior in-teresse no presente estudo diz respeito ao fato de estudantes de educação física po-derem se envolver mais ativamente com alguns hábitos considerados saudáveis e inclusive difundir a importância desta idéia, ao mesmo tempo em que podem desconsiderar outras atitudes igualmente dadas como associadas à saúde, em con-tradição com o discurso que representam. O objetivo do estudo é, portanto, iden-tificar a prevalência de comportamentos considerados de risco à saúde entre estu-dantes de educação física de duas univer-sidades particulares da cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil e, desta forma, apresen-tar uma situação contraditória entre o dis-curso propagado e assumido pelo campo da educação física e os comportamentos adotados por seus estudantes.
Materiais e Métodos
Foi realizado um estudo de levanta-mento (survey), cujo desenho seguiu o tipo interseccional (cross-sectional), segundo descreve Babbie11.
A população do estudo é estimada em 1.500 estudantes de educação física, do tur-no da manhã, de duas universidades
parti-culares da cidade do Rio de Janeiro. A amos-tra constou de 448 estudantes, entre 17 e 50 anos e de ambos os sexos. Para o cálculo da amostra adotou-se uma prevalência do evento de interesse igual a 50%, nível de con-fiança de 97% e margem de erro tolerável de 0,05, o que resultou em 359 sujeitos. Consi-derando uma possível perda de até 30%, a amostra foi estimada em 467 estudantes. A amostragem utilizada foi probabilística do tipo sistemática, e a seleção dos indivíduos se deu a partir da escolha dos números pa-res da pauta de ppa-resença dos professopa-res11.
Para levantamento dos dados utilizou-se um questionário anônimo com pergun-tas aberpergun-tas e fechadas. O instrumento en-volveu questões sobre prática de exercícios físicos regulares; uso de preservativos du-rante o ato sexual; uso de drogas lícitas e ilícitas; desgaste no trabalho; e horas de sono, tendo sido idealizado especificamen-te para o presenespecificamen-te estudo, embora especificamen-tenha seguido algumas referências para sua cons-trução12,13. Além disso, foi previamente
Foi realizada a estatística de proporção de todos os dados apresentados, bem como dos respectivos intervalos de confiança (IC). As análises foram realizadas mediante apli-cação do teste de qui-quadrado. O valor de significância para aceitação de diferenças entre os valores foi de p<0,05.
Resultados
O número de estudantes de educação fí-sica que relatou praticar exercícios físicos regularmente é elevado (n= 407; 90,8%). Ve-rifica-se, ainda, que os estudantes do sexo masculino (n= 260; 95,9%) fazem mais exer-cícios físicos do que as do sexo feminino (n= 147; 83,1%). A análise estatística revelou di-ferença muito significativa (p<0,005) para os valores encontrados para a prática de exer-cícios entre os sexos. A Tabela 1 apresenta estes valores, bem como os relativos ao ex-cesso de horas, intensidade e dores associa-das ao trabalho e horas de sono.
Os dados sobre o uso de preservativos e prevenção contra AIDS e doenças sexu-almente transmissíveis estão apresentados na Tabela 2. A maior parte dos estudantes (n= 259; 57,8%) informou que não faz uso ou apresenta uso irregular de preservati-vos. Não foram encontradas diferenças nificativas entre os sexos. Contudo, é sig-nificativa a diferença entre os estudantes do sexo masculino e feminino que não têm relações sexuais (p<0,01).
No que se refere à utilização de subs-tâncias químicas, a tabela 3 apresenta os dados relativos a esta situação pelos estu-dantes.
Discussão
De acordo com Lovisolo14, a adesão à
prática regular de exercícios físicos pode ocorrer em função de três aspectos: nor-ma, gosto e utilidade. A norma diz respei-to à obrigarespei-toriedade de realização de tal prática. Neste caso, o estudante poderia se sentir obrigado a realizar exercícios nas aulas práticas, pois do contrário sofreria algum tipo de sanção. É possível, também,
que os estudantes gostem de realizar exer-cícios físicos e esportes ou tenham maio-res cuidados com o corpo. Além disso, os estudantes podem, ainda, realizar exercí-cios em conseqüência da utilidade que es-tes poderiam proporcionar. O conheci-mento sobre os possíveis benefícios da prática regular de exercícios físicos à saú-de posaú-deria ser o aspecto central da procu-ra pelos exercícios. Contudo, ainda que este último fato possa ser verdadeiro, é preciso compreender que isso não deter-mina a realização de exercícios físicos.
Em pesquisa realizada com médicos pôde-se verificar que, embora eles tivessem conhecimento da importância que a ativi-dade física tinha para si e para os
pacien-tes, apenas 30% eram fisicamente ativo15.
No que se refere às diferenças por sexo, não se sabe ao certo o que pode ter gerado es-tas diferenças entre os estudantes, embora esteja de acordo com a literatura1.
Palma16 verificou, ao estudar
professo-res de educação física que atuavam em academias de ginástica, que 29,73% rela-taram não praticar exercícios físicos regu-larmente, embora o excesso de trabalho e a conseqüente falta de tempo justificassem tal condição. De fato, a prática regular de exercícios físicos não era realizada, segun-do o autor, porque o processo e a organi-zação do trabalho o impediam.
Neste sentido, outro aspecto que po-deria estar relacionado à ocorrência de agravos à saúde é o desgaste no trabalho. O excesso de horas e a intensificação do esforço físico no trabalho, que na maioria das vezes foge ao controle dos profissio-nais, são fatores considerados elementa-res nas análises sobre a carga de trabalho e suas relações com a fadiga, o burnout, as doenças cardiovasculares e a ocorrência de
acidentes5,6. A despeito da amostra
es-cala de Borg) expressa um esforço percebi-do como “um pouco intenso”, o que pode representar uma intensidade relativa entre 40 a 60%17. Pôde-se verificar também o
re-lato de dor associada ao trabalho. De todos os estudantes que trabalham, 129 (39,4%) referiram casos de dor relacionada à ocu-pação profissional. A exposição demasiada
Tabela 1 – Distribuição do número de casos sobre a prática de exercícios físicos e sobre a ocupação profissional
Table 1 – Distribution of cases according to practice of physical exercises and professional occupation
Sexo
Total Masculino Feminino
Variáveis n % IC n % IC n % IC
95% 95% 95%
Prática de exercícios *
Sim 407 90,8 2,7 260 95,9 2,3 147 83,1 5,5
Não 41 9,2 2,7 11 4,1 2,3 30 16,9 5,5
Freqüência semanal
1 vez 18 4,4 2,0 13 5,0 2,6 5 3,4 2,9
2 vezes 29 7,1 2,5 14 5,4 2,7 15 10,2 4,9
3 vezes 93 22,9 4,1 53 20,4 4,9 40 27,2 7,2
4 vezes 57 14,0 3,4 40 15,4 4,4 17 11,6 5,2
5 vezes 148 36,4 4,7 91 35,0 5,8 57 38,8 7,9
6 vezes 43 10,6 3,0 35 13,5 4,1 8 5,4 3,7
7 vezes 19 4,7 2,9 14 5,4 2,7 5 3,4 2,9
Duração
Até 30 minutos 19 4,7 2,0 13 5,0 2,6 6 4,1 3,2
De 31 à 60 min 97 23,8 4,1 63 24,2 5,2 34 23,1 6,8
De 61 à 90 min 116 28,5 4,4 81 31,2 5,6 35 23,8 6,9
De 91 à 120 min 86 21,1 4,0 51 19,6 4,8 35 23,8 6,9
De 121 à 150 min 33 8,1 2,7 12 4,6 2,6 21 14,3 5,7
De 151 à 180 min 22 5,4 2,2 15 5,8 2,8 7 4,8 3,4
Mais de 180 min 34 8,4 2,7 25 9,6 3,6 9 6,1 3,9
Horas de sono
Até 3 horas/dia 5 1,1 1,0 4 1,5 1,4 1 0,6 1,2
De 3,1 a 5 horas/dia 53 11,8 3,0 33 12,2 3,9 20 11,3 5,1
De 5,1 a 8 horas/dia 340 75,9 4,0 209 77,1 5,0 131 74,0 7,1
Acima de 8 horas 50 11,2 2,9 25 9,2 3,4 25 14,1 5,6
Ocupação profissional
Sim 327 73,0 4,1 205 75,6 5,1 122 68,9 6,8
Não 121 27,0 4,1 66 24,4 5,1 55 31,1 6,8
Horas de trabalho
Até 10 h/semana 101 30,9 5,0 55 26,8 6,1 46 37,7 8,6
De 10,1 a 15 h/sem 55 16,8 4,1 35 17,1 5,2 20 16,4 6,6
De 15,1 a 20 h/sem 54 16,5 4,0 39 19,0 5,4 15 12,3 5,8
De 20,1 a 25 h/sem 43 13,1 3,7 29 14,1 4,8 14 11,5 5,7
De 25,1 a 30 h/sem 36 11,0 3,4 23 11,2 4,3 13 10,7 5,5
Acima de 30 h/sem 38 11,6 3,5 24 11,7 4,4 14 11,5 5,7
Dor ligada ao trabalho
Sim 129 39,4 5,3 72 35,1 6,5 57 46,7 8,9
Não 198 60,6 5,3 133 64,9 6,5 65 53,3 8,9
* Diferença significativa entre os gêneros (p<0,005).
de carga de trabalho físico parece estar con-tribuindo para um aumento de problemas músculo-esqueléticos em professores de
educação física18, e o mesmo pode estar
ocorrendo com os estudantes que já enfren-tam o mercado de trabalho.
No que se refere à quantidade de horas de sono por dia, Dinges et al.19 mostram que
a restrição do sono diário, com a duração média em torno de 4,5 horas por noite, acu-mulada ao longo da semana, pode provo-car prejuízos ao desempenho, fadiga, con-fusão e aumento na probabilidade de ocor-rência de acidentes de trabalho, entre ou-tras conseqüências. Os resultados da pes-quisa mostram que a grande maioria (n= 340; 75,9%) dos alunos tem de 5,1 a 8 horas de sono por noite. Estes dados parecem es-tar de acordo com os encontrados por Pal-ma16. Este autor, entretanto, associa esta
situação ao excesso de horas de trabalho. Uma das doenças cuja informação sobre a prevenção é das mais difundidas, é a AIDS.
Mesmo assim, para Mann et al.2, uma das
grandes dificuldades ao se enfrentar a pandemia da AIDS é que muitos indivíduos distanciam-se do problema e acreditam que o risco de se tornar soropositivo é muito bai-xo. No nível biológico, até onde se sabe atu-almente, todas as pessoas são vulneráveis à infecção pelo vírus HIV. Para que haja a transmissão é preciso que ocorram ações es-pecíficas e identificáveis, isto é, o comporta-mento individual tem sido considerado um importante fator contribuinte à infecção pelo HIV. Neste sentido, o compartilhamento de
seringas e, principalmente por serem mais comuns, as relações sexuais sem uso de pre-servativos aumentam muito as chances de contágio2. Contudo, Ayres et al.20 indagam se
é lícito afirmar que os indivíduos têm um comportamento de risco quando não ado-tam o uso de preservativos e questiona, ain-da, qual o sentido prático de se reduzir a complexidade de influências e condições en-volvidas na situação. Neste sentido, o que Ayres et al.20 querem ponderar é que,
quan-do se analisa de moquan-do simplista a conduta de utilização ou não de preservativos, esque-ce-se de tudo o que a envolve, isto é, o dese-jo sexual, a confiança no(a) parceiro(a), os julgamentos no momento de adquirir o pre-servativo, o poder de compra, as informa-ções, entre outros aspectos.
As drogas também têm sido conside-radas um problema sério de saúde e têm suscitado um debate importante sobre sua relação com a violência urbana e diversos agravos à saúde. O álcool tem aparecido como uma das drogas mais consumidas pelos jovens no Brasil e no mundo. No pre-sente estudo, 405 (90,4%) estudantes de educação física informaram ter feito uso de álcool alguma vez na vida, enquanto cinco (1,1%) estudantes de educação físi-ca consomem álcool diariamente.
Em estudo apresentado por Baus et al.13,
86,8% dos escolares de primeiro e segundo graus, investigados na cidade de Florianópolis, relataram ter consumido ál-cool ao menos uma vez na vida, enquanto 24,2% declararam fazer uso freqüente (seis
Tabela 2 – Distribuição do número de casos sobre uso de preservativos Table 2 – Distribution of cases according to use of condom
Sexo
Total Masculino Feminino
Variáveis n % IC n % IC n % IC
95% 95% 95%
Não tem relações * 4 0,9 0,9 0 0,0 0,0 4 2,3 2,2
Nunca usa preservativo 82 18,3 3,6 43 15,9 4,4 39 22,0 6,1
Às vezes usa 177 39,5 4,5 108 39,9 5,8 69 39,0 7,2
Sempre usa 185 41,3 4,6 120 44,3 5,9 65 36,7 7,1
* Diferença significativa entre os gêneros (p<0,01)
Tabela 3 – Distribuição do número de casos sobre uso de drogas Table 3 – Distribution of the number of cases according to use of drugs
Sexo
Total Masculino Feminino
Variáveis n % IC n % IC n % IC
95% 95% 95%
Álcool
Nunca usou 43 9,6 2,7 24 8,9 3,4 19 10,7 4,6
Experimentou * 69 15,4 3,3 32 11,8 3,8 37 20,9 6,0
Uso no ano 56 12,5 3,1 33 12,2 3,9 23 13,0 5,0
Uso no mês 120 26,8 4,1 70 25,8 5,2 50 28,2 6,6
Uso semanal + 155 34,6 4,4 111 41,0 5,9 44 24,9 6,4
Uso diário 5 1,1 1,0 1 0,4 0,7 4 2,3 2,2
Cigarro
Nunca usou 230 51,3 4,6 149 55,0 5,9 81 45,8 7,3
Experimentou 120 26,8 4,1 69 25,5 5,2 51 28,8 6,7
Uso no ano 11 2,5 1,4 8 3,0 2,0 3 1,7 1,9
Uso no mês 28 6,3 2,2 17 6,3 2,9 11 6,2 3,6
Uso semanal 23 5,1 2,0 11 4,1 2,3 12 6,8 3,7
Uso diário 36 8,0 2,5 17 6,3 2,9 19 10,7 4,6
Medicamentos
Nunca usou 429 95,8 1,9 262 96,7 2,1 167 94,4 3,4
Experimentou 13 2,9 1,6 8 3,0 2,0 5 2,8 2,4
Uso no ano 5 1,1 1,0 1 0,4 0,7 4 2,3 2,2
Uso no mês 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso semanal 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso diário 1 0,2 0,4 0 0,0 0,0 1 0,6 1,1
Maconha
Nunca usou 293 65,4 4,4 171 63,1 5,7 122 68,9 6,8
Experimentou 95 21,2 3,8 58 21,4 4,9 37 20,9 6,0
Uso no ano 17 3,8 1,8 12 4,4 2,4 5 2,8 2,4
Uso no mês 17 3,8 1,8 11 4,1 2,3 6 3,4 2,7
Uso semanal 16 3,6 1,7 11 4,1 2,3 5 2,8 2,4
Uso diário 10 2,2 1,4 8 3,0 2,0 2 1,1 1,6
Cocaína
Nunca usou 422 94,2 2,2 253 93,4 3,0 169 95,5 3,1
Experimentou 25 5,6 2,1 17 6,3 2,9 8 4,5 3,1
Uso no ano 1 0,2 0,4 1 0,4 0,7 0 0,0 0,0
Uso no mês 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso semanal 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso diário 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Ácidos
Nunca usou 412 92,0 2,5 250 92,3 3,2 162 91,5 4,1
Experimentou 31 6,9 2,4 17 6,3 2,9 14 7,9 4,0
Uso no ano 4 0,9 0,9 3 1,1 1,2 1 0,6 1,1
Uso no mês 1 0,2 0,4 1 0,4 0,7 0 0,0 0,0
Uso semanal 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso diário 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
* Diferença significativa entre os gêneros (p<0,01); + Diferença significativa entre os gêneros (p<0,005); § Diferença significativa entre os gêneros (p<0,05).
Tabela 3 – Distribuição do número de casos sobre uso de drogas Table 3 – Distribution of the number of cases according to use of drugs
Sexo
Total Masculino Feminino
Variáveis n % IC n % IC n % IC
95% 95% 95%
Heroína
Nunca usou 446 99,6 0,6 271 100,0 0,0 175 98,9 1,6
Experimentou 1 0,2 0,4 0 0,0 0,0 1 0,6 1,1
Uso no ano 1 0,2 0,4 0 0,0 0,0 1 0,6 1,1
Uso no mês 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso semanal 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso diário 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Ecstasy
Nunca usou 414 92,4 2,5 249 91,9 3,3 165 93,2 3,7
Experimentou 23 5,1 2,0 12 4,4 2,4 11 6,2 3,6
Uso no ano § 6 1,3 1,1 6 2,2 1,8 0 0,0 0,0
Uso no mês 4 0,9 0,9 3 1,1 1,2 1 0,6 1,1
Uso semanal 1 0,2 0,4 1 0,4 0,7 0 0,0 0,0
Uso diário 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Solventes
Nunca usou + 286 63,8 4,4 156 57,6 5,9 130 73,4 6,5
Experimentou § 100 22,3 3,9 70 25,8 5,2 30 16,9 5,5
Uso no ano 44 9,8 2,8 31 11,4 3,8 13 7,3 3,8
Uso no mês 14 3,1 1,6 11 4,1 2,3 3 1,7 1,9
Uso semanal 4 0,9 0,9 3 1,1 1,2 1 0,6 1,1
Uso diário 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Aceleradores metabólicos (efedrina)
Nunca usou 333 74,3 4,0 200 73,8 5,2 133 75,1 6,4
Experimentou 88 19,6 3,7 54 19,9 4,8 34 19,2 5,8
Uso no ano 12 2,7 1,5 10 3,7 2,2 2 1,1 1,6
Uso no mês 2 0,4 0,6 2 0,7 1,0 0 0,0 0,0
Uso semanal 5 1,1 1,0 1 0,4 0,7 4 2,3 2,2
Uso diário 8 1,8 1,2 4 1,5 1,4 4 2,3 2,2
Anabolizantes
Nunca usou + 362 80,8 3,6 199 73,4 5,3 163 92,1 4,0
Experimentou + 63 14,1 3,2 51 18,8 4,7 12 6,8 3,7
Uso no ano + 19 4,2 1,9 18 6,6 3,0 1 0,6 1,1
Uso no mês 2 0,4 0,6 1 0,4 0,7 1 0,6 1,1
Uso semanal 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
Uso diário 2 0,4 0,6 2 0,7 1,0 0 0,0 0,0
* Diferença significativa entre os gêneros (p<0,01); + Diferença significativa entre os gêneros (p<0,005); § Diferença significativa entre os gêneros (p<0,05).
* Significant difference between genders (p<0.01); + Significant difference between genders (p<0.005); § Significant difference between genders (p<0.05).
ou mais vezes por mês). Os valores apresen-tados para o Brasil ficaram em 75,9% (uso na vida) e 15,0% (uso freqüente).
Em pesquisa conduzida com
re-latado pelos informantes12.
Outra droga amplamente utilizada é o cigarro. Os estudantes de educação física apresentaram valores de uso acima dos va-lores indicados nos outros estudos. 218 (48,7%) estudantes relataram ter feito uso na vida, enquanto 36 (8%) fazem uso diário.
No estudo apresentado por Baus et al.13
o valor para uso na vida para o Brasil é de 32,8%, enquanto o valor para uso freqüen-te é de 6,2%. Os dados referenfreqüen-tes aos
estu-dantes de medicina12, por outro lado, são
de 33% a 46% para uso na vida e 2% a 5% para uso diário, considerando todas as es-colas médicas pesquisadas.
O uso de maconha pelos estudantes de educação física apresentou valores de 34,6% para uso na vida e 2,2% para uso diário, va-lores estes maiores do que is apresentados em outras pesquisas12,13. A utilização de
co-caína foi de 5,8% na vida e 0% para uso diá-rio e, igualmente, foram supediá-riores ao da maioria das pesquisas12,13. O mesmo ocorreu
com o uso de solventes (36,2% para uso na vida e 0% para uso diário). A utilização de medicamentos fora do uso clínico foi de 4,2% para uso na vida e foi muito inferior àqueles apresentados em outras pesquisas12,13.
As substâncias chamadas “aceleradores metabólicos” (Xenadrine, Ripped Fuel e/ou Thermobuterol), com base em efedrina, têm sido utilizadas para aumentar o desempe-nho e favorecer a perda de peso21. No
pre-sente estudo, 115 (25,7%) estudantes relata-ram ter feito uso na vida e oito (1,8%) fazem uso diário. Foi verificado ainda que 86 (19,2%) estudantes fazem ou já fizeram uso de esteróides anabolizantes na vida. O uso destas drogas está associado aos seus efei-tos anabólicos e, como conseqüência, ao au-mento dos níveis de massa muscular e for-ça; por isso, são amplamente utilizadas para aumento do desempenho físico e para con-tribuir para o aumento da massa corporal. Em pesquisa conduzida por Palma et al.22 é
possível verificar que 118 (38,69%) dos pro-fessores de educação física estudados fize-ram uso na vida de aceleradores metabóli-cos, enquanto 78 (25,57%) fizeram uso na vida de esteróides anabolizantes. De acordo
com os autores, o relato dos professores per-mitiu concluir que o uso destas substâncias está associado à imagem corporal e ao des-gaste físico no trabalho, ambos considera-dos significativos para a profissão.
A noção de fator de risco significa, em última instância, as circunstâncias do am-biente ou as características pessoais que con-ferem a um dado indivíduo uma maior pro-babilidade matemática do desenvolvimen-to de determinada doença. Deste modo, as chances de adoecimento, segundo esta idéia, poderiam ser calculadas mediante aplicação da ferramenta epidemiológica.
Contudo, é possível empreender uma apreciação crítica, cujo foco não se con-centra nas análises biológicas, ou nas re-lações de causas e efeitos, mas, antes, na vulnerabilidade do coletivo e do indivíduo. As atitudes dos futuros professores de educação física são muitas vezes mediadas por situações onde a escolha é difícil. Isto pode estar provocando uma situação de vulnerabilidade, isto é, de enfraquecimen-to, de impossibilidade de reação.
Tratar os hábitos de vida simplesmente como “comportamentos de risco” é, em úl-tima instância, culpar o indivíduo por seu possível estado de “má saúde”. Quando de fato se observa com atenção e cuidado, tal-vez se possa apreender uma outra noção do que realmente leva a estas atitudes. O ex-cesso de trabalho, as cargas elevadas de tra-balho, o pequeno tempo dedicado ao sono e a necessidade de utilização de substânci-as químicsubstânci-as para se enquadrar nos ditames do trabalho, são alguns dos fatores que po-dem estar contribuindo para maior vulne-rabilidade deste grupo social.
Referências
1. US Department of Health and Human Services. Physical activity and health: a report of the surgeon general. Atlanta, GA: US Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion; 1996.
2. Mann J, Tarantola DJM, Netter TW. A AIDS no mundo. Rio de Janeiro: Relume Dumará/ABIA/IMS/UERJ; 1993.
3. O’Brien CP. Dependência e uso abusivo de drogas. In: Goodman-Gilman A (ed). As bases farmacológicas da terapêutica. São Paulo: McGraw-Hill; 1996. pp 405-20.
4. Wilson JD. Androgênios. In: Goodman-Gilman A (ed). As bases farmacológicas da terapêutica. São Paulo: McGraw-Hill; 1996. pp 1068-81.
5. Sokejima S, Kagamimori S. Working hours as a risk factor for acute myocardial infarction in Japan: case-control study. BMJ 1998; 317: 775-80.
6. Kivimäki M, Leino-Arjas P, Luukkonen R, Riihimäki H, Vahtera J, Kirjonen J. Work stress and risk of cardiovascular mortality: prospective cohort study of industrial
employees. BMJ 2002; 325: 857-61.
7. Castiel LD. A medida do possível ... saúde, risco e tecnobiociências. Rio de Janeiro: Contra Capa/Editora Fiocruz; 1999.
8. Gard M; Wright J. The obesity epidemic: science, morality and ideology. London: Routledge; 2005.
9. Palma A. Saúde e ciência em Nietzsche: uma interpretação para a educação física. Motus Corporis 2001; 8(1): 9-21.
10. Lupton D. Risk. London: Routledge, 1999.
11. Babbie E. Métodos de pesquisas de survey. Belo Horizonte: UFMG; 2001.
12. Kerr-Corrêa F, Andrade AG, Bassit AZ, Boccuto NMVF. Uso de álcool e drogas por estudantes de medicina da Unesp. Rev Bras Psiquiatr 1999; 21(2): 95-100.
13. Baus J, Kupek E, Pires M. Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. Rev Saúde Pública 2002; 36(1): 40-6.
14. Lovisolo L. Normas, utilidades e gostos na aprendizagem. In: Votre SJ; Costa VLM (org). Cultura, atividade corporal e esporte. Rio de Janeiro: Editoria Central da
Universidade Gama Filho; 1995. p. 213-231.
15. Gaertner PH, Firor WB, Edouard L. Physical inactivity among physicians. CMAJ 1991; 144(10): 1253-6.
16. Palma A. Vida de professores de educação física que atuam em academias de ginástica: comportamento de risco ou vulnerabilidade?. In: II Conferência do imaginário e das representações sociais em educação física, esporte e lazer, 2003, Rio de Janeiro. Anais (CD-Rom) da II Conferência do Imaginário e das Representações Sociais em Educação Física. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 2003. p 833.
17. American College of Sports Medicine Position Stand. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in health adults. Med Sci Sports Exerc 1998; 30(6): 975-91.
18. Sandmark H, Wiktorin C, Hogstedt C, Klenell-Hatschek E-K, Vingard E. Physical work load in physical education teachers. Appl Ergon 1999; 30: 435-42.
19. Dinges DF, Pack F, Williams K, Gillen KA, Powell JW, Ott GE, et al. Cumulative sleepiness, mood disturbance, and psychomotor vigilance performance decrements during a week of sleep restricted to 4-5 hours per night. Sleep 1997; 20(4): 267-77.
20. Ayres JRCM; França Junior I; Calazans GJ; Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D; Freitas CM (org). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editoria Fiocruz; 2003. pp 117-39.
21. Green GA, Uryasz FD, Petr TA, Bray CD. NCAA Study of substance use and abuse habits of college student-athletes. Clin J Sport Med 2001; 11: 51-6.
22. Palma A; Assis M. Uso de esteróides anabólico-androgênicos e aceleradores metabólicos entre professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Rev Bras Ciências Esporte 2005; 27(1): 75-92.