SAMANTHA MUCCI
Questionário para Avaliação de Qualidade de Vida em Portadores de Doença Hepática Crônica: Tradução e Validação do CLDQ – Chronic Liver
Disease Questionnaire.
Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências
SAMANTHA MUCCI
Questionário para Avaliação de Qualidade de Vida em Portadores de Doença Hepática Crônica: Tradução e Validação do CLDQ – Chronic Liver
Disease Questionnaire.
Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências
Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Nogueira Martins Co-orientadora: Profª. Drª. Vanessa de Albuquerque Citero
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA E PSICOLOGIA MÉDICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Questionário para Avaliação de Qualidade de Vida em Portadores de Doença Hepática Crônica: Tradução e Validação do CLDQ – Chronic Liver
Disease Questionnaire.
Coordenador da Pós-Graduação em Psiquiatria e Psicologia Médica
Prof. Dr. Jair de Jesus Mari
Professor Titular do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina
Chefe do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica
Prof. Dr. José Cássio do Nascimento Pitta
SAMANTHA MUCCI
Questionário para Avaliação de Qualidade de Vida em Portadores de Doença Hepática Crônica: Tradução e Validação do CLDQ – Chronic Liver
Disease Questionnaire.
Banca Examinadora
Titulares:
Profa. Dra. Wilze Bruscato, Doutora em ciências da saúde pela Universidade Federal de São Paulo
Prof. Dr. Mauricio Tostes, Professor Doutor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Medicina do Rio de Janeiro
Profa. Dra Paola Bruno de Araujo Andreoli, Doutora em Psiquiatria e Psicologia Médica pela Universidade Federal de São Paulo
Suplente:
Prof. Dr Sergio Luis Blay, Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo
FICHA CATALOGRÁFICA MUCCI, S
Questionário para Avaliação de Qualidade de Vida em Portadores de Doença Hepática Crônica: Tradução e Validação do CLDQ – Chronic Liver Disease Questionnaire.
Questionnaire for health related quality of life avaliation em patients with chronic liver disease: Translation and validation of CLDQ – Chronic Liver Disease Questionnaire
São Paulo, 2009
Tese (mestrado) – Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina
Descritores:
1. Qualidade de Vida relacionada a saúde 2. Doença hepática Crônica
3. Tradução
DEDICATÓRIA
“Ao meu pai, quem me ensinou o significado do amor” - In memorian “A Lú e ao Didi, amores incondicionais de minha vida”
“A minha mãe, com quem tive extraordinários ensinamentos sobre a vida” “Ao Beto e meus amados sobrinhos, Luan e Kaena, que mesmo distante se fazem sempre presentes em minha vida”
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Luiz Antonio Nogueira Martins pela atenção, disponibilidade e exemplo a ser seguido.
A Profa. Dra. Vanessa de Albuquerque Citero pelos ensinamentos, constante apoio, competência, incentivo e, principalmente por ter aguçado minha curiosidade e auxiliado o meu aprendizado no campo do conhecimento científico. Muito Obrigada!
Ao Prof. Dr. Adriano Miziara Gonzalez pelo incentivo e apoio ao desenvolvimento do trabalho multidisciplinar no serviço de transplante de fígado.
Ao Prof. Dr. Mario Alfredo De Marco por sua sabedoria e reconhecimento.
Ao Prof José Cassio do Nascimento Pitta pelos ensinamentos e contribuições fundamentais para meu crescimento profissional.
À Cinthia Souza, Camila Casaletti, Simone Kaup e Teca pelo auxílio na coleta de dados e viabilização do protocolo.
À Claudia Mosca pelo estímulo e apoio nos momentos iniciais do estudo. À Adriana de Fátima Vigato pela atenção, suporte e disponibilidade constante.
À Tereza Succi pelo apoio e carinho nos momentos finais desta pesquisa.
À toda equipe de transplante de fígado da UNIFESP pelo acolhimento e parceria ao longo desses anos de trabalho conjunto.
Ao amigo Gilberto Acácio de Oliveira Filho que pode contribuir muito nos momentos iniciais desta pesquisa. Saudades!
Aos colegas, alunos e professores da psiquiatria da UNIFESP, pelo respeito, incentivo e reciprocidade que me enriquecem no âmbito profissional e pessoal, especialmente, Flávia Mariano, Simone Pereira Bomfim e Zuleika Mariano, pela amizade e socorro quando necessário.
Ao Prof. Dr. Stephan Geocze pela contribuição especial.
Aos pacientes que sem a colaboração não poderia ter realizado este estudo.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Aos meus pais, Salvador Mucci (in memorian) e Dagmar Mucci, pelo amor e ensinamentos da vida.
Ao meu amado irmão sempre presente nesta trajetória, Sidney Marcos Mucci, fonte de admiração e estímulo em todos os meus passos.
Ao meu querido irmão, Roberto Marcio Mucci, pelo carinho e amor durante todo esse processo.
Aos meus amados sobrinhos, Luan e Kaena Mesquita Mucci, contínua fonte de inspiração e motivação pela vida, que me acompanharam durante esse processo de aprendizado.
À amiga Ana Vilma de Freitas Nascimento pelo auxílio na organização do campo, coleta de dados, viabilização da pesquisa, e especialmente pelo carinho, amizade e suporte.
À Sônia Geocze, minha segunda mãe, pelo carinho e incentivo dedicado durante esse projeto.
À minha querida Tia Zilda, pelo estímulo e apoio ao meu crescimento profissional e pessoal, além das rezas constantes. Deus lhe pague. Amém!
À minha querida Tia Dercy, pelo suporte nos momentos de faltas e perdas de minha vida.
À Eliana Pacheco pelo incentivo, carinho e suporte nos momentos finais e decisivos deste processo.
APRESENTAÇÃO
Este trabalho consiste na dissertação de mestrado intitulada
“Questionário para Avaliação de Qualidade de Vida em Portadores de Doença Hepática Crônica: Tradução e Validação do CLDQ – Chronic Liver Disease Questionnaire”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciências pela Universidade Federal de São Paulo.
A tese está estruturada da seguinte forma: introdução, dois artigos e
conclusões finais.
A introdução contém a revisão de literatura, a justificativa e os objetivos.
O primeiro artigo, intitulado “Adaptação cultural do chronic liver disease
questionnaire (CLDQ) para população brasileira”, foi submetido à publicação
nos cadernos de saúde pública, como notas. Nele é apresentado as etapas de
tradução e adaptação transcultural do instrumento específico de qualidade de
vida de pacientes portadores de hepatopatia crônica.
No segundo artigo, “Validation of the Chronic Liver Disease
Questionnaire for Brazilian Portuguese language (CLDQ-BR)”, é descrito todo o
processo de tradução e validação do CLDQ, assim como a correlação da
qualidade de vida dos pacientes com hepatopatia crônica e a gravidade de sua
doença.
Após os artigos, encontram-se as conclusões do estudo, as referências
RESUMO
Ao pensar em doenças hepáticas graves e terminais acabamos nos
preocupando com o bem estar dos pacientes e a qualidade da sobrevivência
destas pessoas passa a ser um objetivo a ser alcançado pela equipe de saúde.
Com isso, tem sido observada a importância de desenvolvimento de estudos a
respeito da qualidade de vida destes pacientes. Os estudos encontrados na
literatura utilizando instrumentos genéricos de qualidade de vida comparam
doenças crônicas diferentes, porém não conseguem detectar pequenas mas
significativas mudanças clínicas decorrentes da evolução da doença ou do
tratamento. Já os instrumentos específicos são mais sensíveis para detectar
essas mudanças e úteis para realização de estudos como ensaio clínico. O
CLDQ (Chronic Liver Disease Questionnaire) é um instrumento específico para
portadores de doença hepática crônica que discrimina melhor a diferença entre
os estágios da doença assim como facilita à associação a dados clínicos. O
objetivo deste estudo foi traduzir e validar o CLDQ (Chronic Liver Disease
Questionnaire) para a população brasileira. Esse estudo possibilita a realização
de uma avaliação mais precisa da qualidade de vida dos hepatopatas crônicos
e futuramente, facilitar o desenvolvimento de formas de intervenção mais
efetivas para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes. Foi
desenvolvido um estudo de corte transversal com 196 pacientes
acompanhados ambulatorialmente no serviço de transplante de fígado e de
hepatite da UNIFESP-EPM. Os instrumentos utilizados serão: dados
sócio-demográficos e clínicos, CLDQ (Chronic Liver Disease Questionnaire), SF-36
(Medical Outcomes study 36 – item short form health survey), Hospital Anxiety
qualidade de vida do paciente, comparando os resultados do CLDQ por
domínio e total, em função do sexo, idade, gravidade de doença, tempo de
SUMMARY
When we think of serious and fatal hepatic diseases, we end up worrying
about the well being of the patients and the quality of survival of these
people becomes an objective to be reached by the health team. We've noticed
the importance of developing studies regarding the quality of life of these
patients. The studies found in literature using generic instruments of
quality of life compared different chronic diseases however they cannot
detect small but significant clinical changes resulting from the evolution
of the disease or from the treatment. The specific instruments are more
sensitive in detecting these changes and useful in carrying out studies like
clinical test. The CLDQ (Chronic Liver Disease Questionnaire)
describes better the differences between the phases of the disease as well
as facilitates the association to clinical data. The objective of this study
is to translate and validate the CLDQ (Chronic Liver Disease Questionnaire) for
the brazilian population. The present study
makes possible to carry out a more precise evaluation of the
quality of life of the chronic hepatitis patients and in the future, to
facilitate the development of more effective ways of intervention for the
improvement of the quality of life of these patients. A crossectional study with
196 patients will be developed accompanied clinically to the service of
liver transplant and UNIFESP-EPM hepatitis. The instruments used will be:
clinical and socio-demographic data, CLDQ (Chronic Liver Disease
Questionnaire), SF-36 (Medical Outcomes study 36 - item short form health
survey), Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS). The data was
results of the CLDQ per command and total, as a result of the sex, age,
phase of the disease, and duration of the disease.
SUMÁRIO 1. Introdução
1.1 Revisão da Literatura---1
1.2 Aspectos Clínicos---3
1.3 Conceito de Qualidade de Vida---4
1.4 Avaliação de Qualidade de Vida em hepatopatas---8
1.5 O instrumento: CLDQ – Chronic Liver Disease Questionnaire---11
1.6 Propriedades Psicométricas---12
1.7 Justificativa---13
1.8 Objetivo---13
2. Artigo 1---14
2.1 Carta de recebimento do Editor da Revista: Cadernos de Saúde Pública---14
2.2 Notas: “Adaptação cultural do chronic liver disease questionnaire (CLDQ) para população brasileira”---15
3. Artigo 2---29
3.1 “Validation of the Chronic Liver Disease Questionnaire for Brazilian Portuguese language (CLDQ-BR)”---29
4. Conclusões finais---54
5. Referências Bibliográficas---55
6. Anexos---64
6.1 Cópia da Autorização pelo Comitê de Ética---64
6. 3 Termo de consentimento---66
6.4 Questionário sócio-demográfico e clínico do paciente---67
6.5 SF-36---68
1 Introdução
Revisão de Literatura
Atualmente grande parcela da população mundial sobrevive com
doenças crônicas, algumas das quais se associam à perda de capacidades
físicas. Nessas circunstâncias, torna-se premente a adaptação do paciente às
contingências do tratamento e às limitações que a doença ou a incapacidade
impõem. Este é o custo da prorrogação da vida, e não raro, fonte importante de
estresse. (FONSECA, 2001)
A doença hepática crônica é a 9ª causa de morte no mundo e é
responsável pela incapacitação de uma parcela economicamente ativa da
população, visto que tem alta prevalência na faixa etária de 30 a 40 anos,
período considerado o mais produtivo para a população geral. (YOUNOSSI &
GUYATT, 1998) Suas complicações, em seu estágio terminal, tem um profundo
impacto na qualidade de vida dos pacientes. Segundo as estimativas da
Organização Mundial de Saúde, existem 2 bilhões de pessoas infectadas pelo
vírus da hepatite B no mundo (sendo que 350 milhões têm a infecção crônica),
e 170 milhões de pessoas estão contaminadas cronicamente pelo vírus da
hepatite C no mundo. No Brasil, o número de pessoas portadoras do vírus da
hepatite C é de aproximadamente 3,4 milhões, além de hepatite B, doenças
hepatocelulares crônicas e doenças hepáticas colestáticas crônicas. (WHO,
2003)
Com o desenvolvimento de novas técnicas e o avanço da medicina as
enfermidades letais passaram a ser consideradas crônicas. Passa-se, então, a
pensar não mais em cuidados paliativos, mas na qualidade de sobrevida
2
característicos de sua doença que prejudicam sua qualidade de vida e
bem-estar, limitações físicas, restrições do tratamento, alteração no desempenho de
papéis sociais e os aspectos emocionais decorrentes do adoecer passando a
conviver com a perda de capacidades que irão repercutir em seu prognóstico.
(YOUNOSSI & GUYATT, 1998; YOUNOSSI, 1999; YOUNOSSI, 2001;
YOUNOSSI et al, 2001; MARCHESINI et al, 2001; CASTRO-E-SILVA et al,
2002)
Ao pensarmos nos indivíduos com hepatopatias crônicas e nos que se
submetem ao transplante hepático devemos considerar o bem estar desses
pacientes. Por isso, tem sido destacada a importância de desenvolvimento de
estudos a respeito da qualidade de vida destes pacientes. A utilização de
instrumentos que possam mensurar tanto aspectos físicos, emocionais, quanto
familiares, sociais e ocupacionais pode favorecer uma avaliação mais global
(biopsicossocial) do paciente. (KIM, 2000; YOUNOSSI et al, 2000; YOUNOSSI
et al, 2001)
No caso de pessoas que se encontram com doenças hepáticas graves
e terminais, a qualidade de vida passa a ser um objetivo alcançado pela equipe
de saúde e seu paciente, estudando a qualidade da sobrevivência destas
3 Aspectos Clínicos:
As principais doenças que acometem o fígado são: as doenças
hepáticas colestáticas crônicas, as doenças hepatocelulares crônicas, as
doenças hepáticas metabólicas, as doenças hepáticas vasculares e tumor
maligno primário do fígado
A doença hepática crônica é decorrente da degeneração das células
hepáticas, a presença de fibrose e a formação nodular. Sua evolução é
incidiosa, inicialmente assintomática ou com sintomas inespecíficos e na fase
mais avançada da doença os sintomas mais comuns são: ascite, episódios de
hemorragia digestiva alta, encefalopatia, eritema palmar, fadiga, desânimo,
ansiedade, perda de peso, dor nas articulações e região do fígado, náuseas,
prurido, icterícia, insônia, irritabilidade, sintomas depressivos, baixa
auto-estima, incapacidade de trabalhar. (YOUNOSSI, 1999; YOUNOSSI et al, 2001;
MARCHESINI et al, 2001; WIESINGER et al, 2001; LIDA et al, 2005) O
tratamento baseia-se nos sintomas que o paciente apresenta, como por
exemplo ministrar antiácidos para reduzir o mal estar abdominal, pomadas para
diminuição do prurido, cauterização das varizes esofágicas para evitar
sangramento e diuréticos para reduzir a ascite. Nos casos mais avançados da
doença hepática, nos quais o tratamento clínico dos sintomas mostra-se
ineficaz, conseqüentemente, há um aumento da gravidade clínica, prejuízo do
bem estar e aumento da mortalidade, o único tratamento possível passa a ser o
transplante. (LIDA et al, 2005; FERRAZ-NETO & AFONSO, 2007)
Nas últimas décadas, o transplante de fígado tem sido a forma de
tratamento mais eficaz de pacientes portadores de uma série de doenças
4
realizados, até 2001, cerca de 5000 transplantes hepáticos. (YOUNOSSI et al,
2000)
Os programas de transplante no Brasil iniciaram suas atividades na
década de 60, mas devido à baixa eficácia da medicação imunossupressora
houve um alto número de perdas dos enxertos nos transplantes de coração,
fígado, pâncreas e intestino e os programas foram suspensos no início da
década de 70 em todo o mundo. Mas no início da década de 80 com o avanço
farmacológico da terapia imunossupressora e com o aprimoramento de
técnicas cirúrgicas e de terapia intensiva, a atividade dos programas de
transplante no Brasil e no mundo foi reiniciada. (ABTO, 2002; FERRAZ-NETO,
2007)
O sistema nacional de transplantes relata um aumento de 12,8% no
número de transplantes realizados no país. Houve um importante aumento de
15,8% no número de transplantes de fígados realizados anualmente de 2000 a
2008 (Em 2000 – 488, 2001 – 564, 2002 – 678, 2003 – 815, 2004 – 951, 2005
– 956, 2006 – 1025, 2007 – 997 e 2008 - 1175) sendo a maioria dos
transplantes realizadas no estado de São Paulo. (SISTEMA NACIONAL DE
TRANSPLANTES, 2003; ABTO, 2006; ABTO, 2008)
Conceito de Qualidade de vida:
Qualidade de vida é um conceito que incorpora muitos aspectos de
experiências de vida, bem-estar, satisfação, funções sociais e físicas. É um
conceito subjetivo e multidimensional que é influenciado por fatores físicos
(capacidade de realizar atividades diárias), fatores socioeconômicos
5
(aspectos emocionais, bem estar), percepção do estado de saúde (presença ou
não de doença e tratamento, dor, vivência do processo saúde-doença) e
satisfação geral com a vida. (BOWLING et al, 1995; DANTAS et al, 2003; SEID
& ZANNON, 2004; RAZERA F, 2007; SARRIA EE, 2007)
Como ressaltam Bowling et al (1995), os primeiros trabalhos sobre a
temática surgiram na década de 50 e desde então já se falava na dificuldade
de tal avaliação, em função de seu caráter subjetivo, assim como na dificuldade
de se definir qualidade de vida. Werner & Campbell (1976) a respeito dessa
dificuldade comentam que “qualidade de vida é uma vaga e etérea entidade,
algo sobre a qual muita gente fala, mas que ninguém sabe claramente o que
é”.
Farquhar (1995) descreve a mudança do conceito de qualidade de vida
ao longo do tempo. Refere que as primeiras definições surgiram na literatura na
década de 80 e centravam-se apenas na avaliação de satisfação ou
insatisfação com a vida. No final dos anos 80 começou a aparecer na literatura
o fracionamento do conceito de qualidade de vida em dimensões. Na década
de 90 mantém-se a multidimensionalidade do conceito e passa-se a pensar no
conceito mais voltado para habilidades funcionais e saúde. Em meados dos
anos 90 instrumentos de avaliação foram desenvolvidos, levando em conta o
caráter global e fatorial do conceito.
O conceito de qualidade de vida utilizado freqüentemente na literatura
médico-científica, que será utilizado nesse estudo, trata-se da qualidade de
vida relacionada à saúde (Health-related quality of life), que mede o impacto de
uma doença e de seus tratamentos na qualidade de vida de um indivíduo.
6
paciente faz de diferentes aspectos de sua vida, em relação ao seu estado de
saúde”. Cleary et al (1995)consideram que “refere-se aos vários aspectos da
vida de uma pessoa que são afetados por mudanças no seu estado de saúde,
e que são significativos para sua qualidade de vida”. Ebrahim (1995) como “o
valor atribuído à duração da vida, modificado pelos prejuízos, estados
funcionais e oportunidades sociais que são influenciados por doença, dano,
tratamento ou políticas de saúde”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida é: “a
percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e do
sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações”. (WHO, 2002)
Qualidade de vida relacionada com a saúde é um conceito centrado na
avaliação subjetiva do paciente, mas relacionado ao impacto da saúde sobre a
capacidade do indivíduo viver plenamente. (CICONELLI et al, 1999; TEIXEIRA
et al, 2005)
Houve na última década uma proliferação de instrumentos de
mensuração de qualidade de vida, genéricos (tem uma visão mais abrangente
e pode ser utilizado na população geral) e específicos (identifica melhor as
características relacionadas a uma determinada doença), a maioria nos EUA
com um crescente interesse em traduzi-los para aplicação em outras culturas.
Nesse período surgiram na literatura cerca de 332 instrumentos. Os
instrumentos costumam abordar os seguintes aspectos: físico, psicológico,
ocupacional, relações sociais, ambientais e espirituais (crenças pessoais e
7
percepção geral da qualidade de vida enfatizando os sintomas ou limitações
decorrentes de uma doença. (SEID & ZANNON, 2004)
Garrat et al (2002) constataram um aumento significativo no número de
publicações utilizando instrumentos de qualidade de vida relacionada à saúde
na última década. Destacaram um aumento mais expressivo na utilização de
instrumentos específicos do que genéricos nos últimos anos. Dentro dos
artigos levantados 46% utilizaram instrumentos específicos de qualidade de
vida e 22% medidas genéricas de qualidade de vida.
A qualidade de vida é avaliada por questionários, a maioria
auto-aplicável ou entrevistas.(SEID & ZANNON, 2004)Há uma extensa discussão a
respeito da utilização de instrumentos de mensuração específicos de qualidade
de vida relacionada à saúde. Alguns autores e pesquisadores consideram que
medidas específicas podem ser incapazes de mensurar uma visão mais
abrangente da qualidade de vida do indivíduo se detendo apenas a sintomas e
limitações da doença. Outros defendem sua utilização apontando que estes
instrumentos podem avaliar com melhor precisão o impacto da doença na
qualidade de vida global do indivíduo. (TESTA & SIMONSON, 1996;
YOUNOSSI et al, 1999)
Segundo Younossi (2001) os instrumentos genéricos podem ser
utilizados para comparar doenças crônicas diferentes, porém podem não
conseguir detectar pequenas, mas significativas mudanças clínicas decorrentes
da evolução da doença ou do tratamento. Já os instrumentos específicos são
mais sensíveis para detectar essas mudanças e úteis para realização de
8 Avaliação da qualidade de vida em hepatopatas
Podemos encontrar muitos estudos sobre qualidade de vida em
hepatopatas crônicos, especialmente, em pacientes com hepatite C e B e
pacientes candidatos ao transplante de fígado. Esses estudos têm interesse de
pesquisar o impacto da doença sobre as atividades diárias, identificar
problemas específicos, avaliar o impacto dos tratamentos e outros
determinantes, como a não adesão do paciente e comparar diferentes
tratamentos. A maioria destes estudos utiliza instrumentos genéricos de
avaliação da qualidade de vida como o Short Form-36 (SF-36), Sickness
Impact Profile e Nothingham Health Profile; e instrumentos específicos como
Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ), Liver Disease Quality of life Instrument (LDQOL 1.0) e o instrumento desenvolvido pelo National Institute of
Diabetes and Digestive and Kidney Disease NIDDK – QA.
Entre os instrumentos específicos para avaliação de pacientes com
hepatopatia crônica, o Liver Disease Quality of Life Instrument (LDQOL 1.0) já
foi traduzido e validado para população brasileira. (TEIXEIRA & STRAUSS,
2004; TEIXEIRA et al, 2005) O LDQOL é constituído pelo SF-36 e mais 12
escalas específicas para hepatopatia crônica. Demonstrou ser muito longo e
tem sido utilizado apenas em pacientes em estágio avançado de cirrose.
(GRALNEK et al, 2000) Já o Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ) é o
único instrumento desenvolvido e validado para todas as etiologias e graus de
gravidade da doença hepática. Tem como base para o seu desenvolvimento o
SF-36, mas modificado para a população específica. (YOUNOSSI et al, 1999)
Alguns estudos realizados por Younossi et al (2000; 2001) utilizando o
9
qualidade de vida inferior à população geral e similar aos pacientes com
doença crônica obstrutiva pulmonar e pacientes com insuficiência cardíaca
congestiva, assim como baixo índice de produtividade e esses escores pioram
de acordo com a severidade da doença. Segundo os autores, pacientes com
cirrose avançada e/ou descompensados clinicamente (CHILD B e C)
apresentam maiores prejuízos da qualidade de vida e produtividade. Pode-se
observar também que o impacto da qualidade de vida não difere quanto à
etiologia da doença e que o CLDQ discrimina melhor as diferenças entre os
estágios da doença assim como facilita à associação a dados clínicos. O SF-36
demonstrou diferença estatisticamente significante apenas no domínio físico,
comprovando ter baixa sensibilidade quando comparado a um instrumento
específico de qualidade de vida.
Bonkovsky et al (1999), McHutchison et al (2001) realizaram estudos
para avaliar o impacto do tratamento anti-viral (interferon ou interferon
associado a ribaverina) na qualidade de vida de pacientes com hepatite C e
puderam constatar que durante o tratamento há uma diminuição da qualidade
de vida destes pacientes provavelmente associada aos efeitos colaterais da
medicação (fadiga, oscilação de humor, ansiedade, irritabilidade, diminuição da
libido, anemia, febre, etc.) e uma melhora da qualidade de vida dos pacientes
que responderam positivamente ao tratamento, principalmente nos domínios de
funcionamento social, vitalidade, saúde mental e produtividade.
Ware et al (1999) realizaram um estudo multicêntrico internacional
randomizado com 324 pacientes para avaliar a eficácia da terapia anti-viral e o
impacto da qualidade de vida dos pacientes com hepatite C utilizando o SF-36
10
grupo placebo e os pacientes que não apresentaram resposta ao tratamento
apresentaram escore de qualidade de vida inferior a população geral e não
apresentaram mudança na qualidade de vida. Já os pacientes que
apresentaram uma boa resposta ao tratamento anti-viral tiveram melhora na
qualidade de vida seis meses após o término do tratamento, principalmente nos
domínios de vitalidade e funcionamento social do SF-36 e aspectos
emocionais do HQLQ.
Diversos estudos (TARTER et al, 1991; LEVY et al, 1995; HOLZNER,
1999; YOUNOSSI et al, 2000; BONA et al, 2000; MOORE et al, 2000; UNAL et
al, 2001; MARTIN et al, 2002; O’CARROL et al, 2003; RODRIGUES et al,
2008) apontam que o transplante de fígado está associado a uma melhor
qualidade de vida do hepatopata crônico porém os pacientes
pós-transplantados ainda apresentam um prejuízo na qualidade de vida quando
comparados a indivíduos saudáveis.
Segundo o estudo de meta análise sobre qualidade de vida depois do
transplante hepático realizado por Bravata et al (1999) o transplante hepático
resulta em uma melhora de 32% do escore da escala de Karnofsky, 11% do
Sickness Impact Profile e 20% a 50% nos domínios da Nottingham Health
Profile. Em geral, os pacientes apresentam melhora significativa nos domínios
relacionados à saúde física e uma melhora discreta nas funções psicológicas.
No entanto, de acordo com um estudo realizado por Younossi et al (2001), há uma melhora significativa em todos os domínios do CLDQ principalmente nos
11 O instrumento: CLDQ – Chronic Liver Disease Questionnaire
Alguns pesquisadores desenvolveram instrumentos específicos para a
avaliação de pacientes com uma determinada patologia. Foi pensando assim
que Younossi et al (1999) (Cleveland Clinic Foundation), desenvolveram o
CLDQ, destinado a avaliar a qualidade de vida e os sintomas físicos e
psicológicos específicos de pacientes hepatopatas crônicos.
O CLDQ foi sistematicamente projetado para ser respondido com
facilidade e em curto espaço de tempo pelos pacientes. O conteúdo dos itens
aborda questões relacionadas aos sintomas específicos da doença hepática
crônica. (YOUNOSSI et al, 1999)
O questionário é constituído por 29 itens distribuídos nos seguintes
domínios: fadiga, atividade, função emocional, sintomas abdominais, sintomas
sistêmicos e preocupação.
Kim (2000) relata a necessidade e eficácia da utilização do CLDQ em
estudos com pacientes portadores de doenças crônicas do fígado, pacientes
candidatos ao transplante e pacientes já transplantados.
Atualmente o Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ) é o
instrumento específico mais utilizado para avaliação da qualidade de vida em
doença hepática crônica. (YOUNOSSI, 2001; CASTRO-E-SILVA et al, 2002)
Ele pode ser utilizado em diferentes tipos de etiologia e graus de gravidade da
doença hepática e já foi validado em diversos países Alemanha (HÄUSER et
al, 2004), Thailândia (SOBHONSLIDSUK et al, 2004), Itália (RUCCI et al, 2005)
12 Propriedades Psicométricas
Os instrumentos de mensuração da qualidade de vida medem aspectos
subjetivos e multidimensionais, e para serem considerados válidos para a
medição da qualidade de vida, faz-se necessário a realização de algumas
propriedades psicométricas importantes: a validade e a confiabilidade.
(FLETCHER et al, 1996; RAZERA, 2007; SARRIA, 2007) A validade é a
capacidade do instrumento medir o parâmetro que ele pretende medir e a
confiabilidade avalia a estabilidade da medição, ou seja, há concordância de
resultados quando o exame se repete em condições similares e se interpreta
sem conhecimento prévio dos resultados. (FLETCHER et al, 1996; MENEZES,
1998; RAZERA, 2007; SARRIA, 2007)
Há diferentes tipos de validade, sendo esses os mais utilizados: validade
de conteúdo que indica se o teste mede o que se pretende medir; e a validade
de critério que representa o grau com que o teste se correlaciona com outra
medida de referência; validade de construção que avalia a correlação entre o
constructo e outras variáveis, para tanto é preciso realizar a validade
discriminante, examina se as variáveis de um constructo estão relacionadas
entre si, e a validade convergente, examina se as variáveis de um constructo
estão relacionadas a outros constructos.
Existem alguns métodos básicos para estimar a confiabilidade de um
instrumento sendo os mais utilizados: a confiabilidade de teste/re-teste, onde a
amostra de pacientes é avaliada em dois momentos diferentes e verifica-se o
grau com que o instrumento pode reproduzir os resultados, e a confiabilidade
entre diferentes entrevistadores, em que a amostra de pacientes é avaliada por
13
aplicação e/ou de interpretação entre os entrevistadores. (SECHREST et al,
1972; FLETCHER et al, 1996; MENEZES, 1998; RAZERA, 2007; SARRIA,
2007)
Justificativa:
O interesse em desenvolver o presente estudo está relacionado ao
pequeno número de questionários ou escalas equivalentes no Brasil, o que
impossibilita a realização de uma avaliação mais precisa da qualidade de vida
dos pacientes portadores de hepatopatia crônica.
Objetivos:
Os objetivos do presente estudo são:
• traduzir, realizar a adaptação transcultural, validar e obter índices de confiabilidade do Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ) para uso
14 ARTIGO 1
Artigo submetido aos Cadernos de Saúde Pública: Confirmação de Submissão
CSP_0303/09
Arquivos Versão 1 [Resumo]
Seção Nota de Pesquisa
Título
Adaptação cultural do chronic liver disease questionnaire (CLDQ) para população brasileira.
Cross-cultural adaptation of the chronic liver disease questionnaire (CLDQ) for the brazilian population.
Título corrido Adaptação cultural do CLDQ
Área de
Concentração Ciências Sociais em Saúde
Palavras-chave chronic liver desease, Quality of life, Cross-Cultural Comparison, questionnaires
Fonte de
Financiamento FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), auxílio pesquisa, processo 05/50814-8
Sugestão de consultores
Marcelo Linhares <marbet@uol.com.br> Rosana Trindade <rosana-trindade@uol.com.br> Mauricio de Assis Tostes <mtostes@uol.com.br>
Autores
Samantha Mucci (UNIFESP) <sammucci@gmail.com>
Vanessa de Albuquerque Citero (UNIFESP) <vcitero@uol.com.br> Adriano Miziara Gonzalez (UNIFESP) <amgonzalez@uol.com.br> Mario Alfredo De Marco (UNIFESP) <demarcom@uol.com.br>
Luiz Antonio Nogueira Martins (UNIFESP) <nogmart2004@yahoo.com.br>
STATUS Com Editor
DECISÕES EDITORIAIS: [Exibir histórico]
Versão Recomendação Decisão Pareceres Data de Submissão
1 Em avaliação. Artigo enviado em 15 de Março de 2009.
Prezado(a) Dr(a). Samantha Mucci:
Confirmamos a submissão do seu artigo "Adaptação cultural do chronic liver disease questionnaire (CLDQ) para
população brasileira." (CSP_0303/09) para Cadernos de Saúde Pública. Agora será possível acompanhar o progresso
de seu manuscrito dentro do processo editorial, bastando clicar no link "Sistema de Avaliação e Gerenciamento de
Artigos", localizado em nossa página http://www.ensp.fiocruz.br/csp.
Em caso de dúvidas, envie suas questões através do nosso sistema, utilizando sempre o ID do manuscrito informado
acima. Agradecemos por considerar nossa revista para a submissão de seu trabalho.
Atenciosamente,
15
Prof. Mario Vianna Vettore
Editores
NOTAS
Título: Adaptação cultural do chronic liver disease questionnaire (CLDQ) para população brasileira.
Cross-cultural adaptation of the chronic liver disease questionnaire (CLDQ) for the brazilian population.
Título Resumido: Adaptação cultural do CLDQ
Autores:
Samantha Mucci1 - Mucci, S.
Vanessa de Albuquerque Citero2 - Citero, VA.
Adriano Miziara Gonzalez3 - Gonzalez, AM.
Mario Alfredo De Marco4 – De Marco, MA.
Luiz Antonio Nogueira Martins5 – Nogueira-Martins, LA.
1. Psicóloga do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP/EPM. Rua Borges
Lagoa, 570 - Vila Clementino - São Paulo, Brasil CEP 04038-000 fone:
5579-2828
2. Professora Afiliada do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP/EPM. Rua
Borges Lagoa, 570 - Vila Clementino - São Paulo, Brasil CEP 04038-000 fone:
5579-2828
3. Professor Afiliado da Disciplina de Gastroenterologia Cirúrgica do
Departamento de Cirurgia da UNIFESP/EPM responsável pelo serviço de
16
4. Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP/EPM.
Rua Borges Lagoa, 570 - Vila Clementino - São Paulo, Brasil CEP 04038-000
fone: 5579-2828
5. Professor Associado do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP/EPM.
Rua Borges Lagoa, 570 - Vila Clementino - São Paulo, Brasil CEP 04038-000
fone: 5579-2828
Instituição e Endereço:
Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Autor responsável: Samantha Mucci
Rua Borges Lagoa, 570 – 3º andar – Departamento de Psiquiatria
Vila Clementino - São Paulo/SP
CEP 04038-000
Telefone/fax: 5579 2828
Subsídios:
Esse projeto foi subsidiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo), como auxílio pesquisa, processo no
05/50814-8.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) por
subsidiar esse projeto (processo no 05/50814-8).
RESUMO: Nesse estudo objetivou-se realizar a tradução para o português e a adaptação cultural do instrumento Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ)
17
a língua portuguesa pelos autores e, posteriormente, revisado e avaliado
quanto ao grau de dificuldade das traduções e equivalência por tradutores
bilíngües. O instrumento foi, então, aplicado em 20 pacientes com hepatopatia
crônica selecionados aleatoriamente. Não houve dificuldade na compreensão
do instrumento, todas as questões foram consideradas aplicáveis pelos
pacientes, e a equivalência cultural do CLDQ foi demonstrada sem que
mudanças na tradução original precisassem ser feitas. A tradução e a
adaptação cultural do CLDQ para o português, no Brasil, foram realizadas,
tendo sido cumprida esta importante etapa para sua validação e utilização em
nosso meio.
Descritores: Qualidade de vida. Hepatopatia crônica. Tradução e adaptação transcultural.
ABSTRACT: The aim of this study was to carry out the translation from English into Portuguese and the transcultural adaptation of the Chronic Liver Disease
Questionnaire to use in Brazil. The instrument was translated from the original
version (English) into Portuguese language by the authors and then, it was
revised. The degree of difficulty of the translations and equivalence for bilingual
translators were evaluated. The instrument was, then, applied in 20 patients
with chronic liver disease randomly selected. It was easy to the patients
understand the instrument, all the questions had been considered applicable by
the patients, and the cultural equivalence of the CLDQ was demonstrated
without changes in the original translation. The translation and the transcultural
adaptation of CLDQ into Portuguese, in Brazil, had been carried out, having
18 Keywords: Health related quality of life. Chronic Liver Disease. Translation and cross-cultural adaptation.
INTRODUÇÃO
A doença hepática crônica é a 9ª causa de morte no mundo e é
responsável pela incapacitação de uma parcela economicamente ativa da
população, visto que tem alta prevalência na faixa etária de 30 a 40 anos,
período considerado o mais produtivo para a população geral1. Segundo as
estimativas da Organização Mundial de Saúde2, existem 350 milhões de
pessoas portadoras de doença hepática crônica pelo vírus da hepatite (B e C)
no mundo. Diante deste contingente de portadores crônicos de hepatopatia
torna-se fundamental cuidar da qualidade de vida destes pacientes1.
O Conceito de Qualidade de vida definido pelo Grupo de Qualidade de
Vida da Organização Mundial da Saúde é "a percepção do indivíduo de sua
posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive
e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".3
Qualidade de vida relacionada à saúde é um conceito subjetivo e
multidimensional, influenciado por fatores socioeconômicos, idade, sexo,
presença de doença e tratamento, medindo o impacto de uma doença na vida
de um indivíduo4.
A qualidade de vida dos pacientes com doença hepática crônica varia de
acordo com as mudanças em seu estado clínico5 visto que, com a piora da
hepatopatia, muitos pacientes perdem sua autonomia, sente-se cansados até
mesmo ao realizarem tarefas diárias básicas, com desconfortos abdominais,
19
rotina profissional ativa e ficam ansiosos diante da possibilidade de realização
do transplante de fígado.
Houve, na última década, uma proliferação de instrumentos de
mensuração de qualidade de vida6, tanto genéricos (para uso na população
geral, pois proporcionam uma visão abrangente e podem comparar doenças
crônicas diferentes) quanto específicos (para uso em populações
caracterizadas por uma determinada doença, pois identificam as
particularidades da situação)5.
São três os instrumentos específicos normalmente utilizados em
hepatologia na avaliação de qualidade de vida de pacientes portadores de
hepatopatia crônica:
1. Hepatitis Quality of Life Questionnaire (HQOLQ): é constituído pelo Medical
Outcome Study – Short Form 36 (SF-36) mais duas escalas específicas
para hepatite. Este instrumento tem sido criticado por não ser aplicável em
pacientes em um estágio de cirrose avançado e por ter sido validado
somente para uso em pacientes com hepatite tipo C7.
2. Liver Disease Quality of Life Instrument (LDQOL 1.0): é constituído pelo
SF-36 mais 12 escalas específicas para hepatite. O LDQOL demonstrou ser
muito longo e tem sido utilizado apenas em pacientes em estágio avançado
de cirrose8. Este instrumento já foi traduzido e validado para população
brasileira.9
3. Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ): é constituído por 29 questões
divididas em seis domínios e é o único instrumento desenvolvido e validado
20
como base para o seu desenvolvimento o SF-36, mas modificado para a
população específica5.
O presente estudo realizou a tradução para a língua portuguesa e a
adaptação transcultural no Brasil do CLDQ, para posteriormente, ser realizada
a validação do instrumento.
MÉTODOS
A autorização para a tradução foi concedida pelos autores do
instrumento e o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIFESP, onde foi realizado.
Pacientes
Na literatura, a maioria dos estudos de tradução e adaptação
transcultural utiliza uma amostra de 10 pacientes, porém alguns estudos
utilizam uma amostra de 20 pacientes, abrangendo uma diversidade maior de
pessoas, aumentando a possibilidade de compreensão ou não do
instrumento.9-14
Nesse estudo, a amostra foi composta de 20 pacientes portadores de
doença hepática crônica do Serviço de Transplante de Fígado do Hospital São
Paulo (UNIFESP), selecionados de acordo com o agendamento de consultas
dos ambulatórios, no período de janeiro a fevereiro de 2005. Os pacientes
eram todos maiores de 18 anos, com a doença diagnosticada por exames
clínicos e laboratoriais.
Os critérios de exclusão se referiam ao paciente ter incapacidade
cognitiva e estar em tratamento anti-retroviral. Nenhum paciente foi excluído e
todos foram informados sobre os objetivos da pesquisa, assinando o termo de
21 Instrumentos
Foi aplicado um questionário sócio-demográfico (sexo, idade,
escolaridade, estado civil, atividade de trabalho) e clínico (tempo de doença
hepática, sintomas que apresenta: ascite, hemorragia digestiva alta, fadiga,
icterícia, eritema palmar, spider - vasculite). Para avaliação da gravidade da
doença foi utilizada a escala Child-Turcotte- Pugh15.
O CLDQ5 é um instrumento projetado para ser respondido em curto
espaço de tempo pelos pacientes, sendo auto-aplicável e com questões
relacionadas aos sintomas específicos da doença hepática crônica.Constituído
por 29 questões distribuídas em 6 domínios, cada questão apresenta 7 níveis
de resposta (de 0= todo tempo a 6= nunca). O CLDQ apresenta um escore por
cada domínio e um escore total. O escore em cada domínio é obtido pela soma
das respostas e dividido pelo número de questões compreendidas. O escore
total do CLDQ é obtido pela soma dos domínios e dividido por 6. Os 6 domínios
(sintomas abdominais, fadiga, sintomas sistêmicos, atividade, função
emocional e preocupação) foram identificados pela análise de principais
componentes, com proporção de variação explicada de 0,056 a 0,2245.
Procedimentos
A tradução e adaptação transcultural foi realizada de forma
padronizada9-14, de acordo com a seguinte sequência:
1. Tradução inicial: Os itens da versão em inglês do CLDQ foram traduzidos
para a língua portuguesa por dois profissionais da saúde bilíngües,
independentes, brasileiros e cientes do objetivo desta pesquisa. Estes
22
traduções foram comparadas pelos tradutores e por um dos autores (SM),
sendo constituída uma tradução consensual.
2. Avaliação da tradução por retro-tradução: a tradução inicial foi vertida para
o inglês por dois tradutores bilíngües independentes, cientes do objetivo da
pesquisa e diferentes dos dois anteriores. Posteriormente, foi realizada a
comparação dessas duas versões com o instrumento original em inglês e as
avaliações da tradução indicaram equivalência e reconciliação dos itens
traduzidos, com equivalência semântica (equivalência entre as palavras)
entre as traduções. Para a realização da equivalência idiomática
(expressões equivalentes não encontradas ou itens que precisam ser
substituídos) e equivalência conceitual (validade do conceito explorado e os
eventos experimentados pelo paciente), alguns termos foram substituídos
por outros similares, pelo fato dos itens originais não se enquadrarem no
linguajar habitual da população brasileira e o comitê de especialistas (2
gastrocirurgiões, 1 enfermeira e 1 psicóloga) sugeriu a inclusão de
explicação em um item (colocadas entre parênteses) para melhor
compreensão.
3. Avaliação da equivalência cultural (piloto/pré-teste): esta etapa teve a
finalidade de identificar as questões não compreendidas ou não executadas
regularmente por nossa população, para isso foi colocada ao lado de cada
questão a opção “não aplicável”. A aplicação foi realizada por dois
entrevistadores treinados anteriormente. Os dados obtidos foram
submetidos à análise exploratória, com descrição das freqüências de
23 RESULTADOS
Os pacientes entrevistados eram predominantemente do sexo feminino
(65%), viviam com companheiro/a (45%), com idade média de 48 anos (DP =
11 anos, variação de 18 a 65 anos), e escolaridade média de 8 anos (DP = 4,
variação de 1 a 15 anos de estudo), 25% estavam desempregados e 35% eram
aposentados pela doença. A distribuição por diagnóstico e sintomatologia
hepática é apresentada na tabela 1.
Nenhuma das 29 questões foi considerada “não aplicável” pelos
pacientes, sendo a equivalência cultural do CLDQ para o português, no Brasil,
realizada sem que uma segunda etapa de aplicação do instrumento fosse
necessária.
A maior parte dos pacientes (80%) necessitou de auxílio do entrevistador
para ler as perguntas e as possibilidades de respostas, porém, não foi
observada dificuldade dos pacientes em escolher as respostas e todas as
questões foram facilmente compreendidas. O tempo médio de aplicação do
CLDQ foi de 15 minutos (±5).
DISCUSSÃO
No presente estudo, pudemos verificar que as etapas de tradução da
versão original do inglês para o português e a retro-tradução da versão
traduzida para o português para o inglês não apresentaram dificuldades e a
equivalência semântica e conceitual foi facilmente obtida. O comitê de
especialistas colaborou para a obtenção da equivalência cultural com a
sugestão da inserção de uma explicação entre parênteses pelo fato dos itens
originais não se enquadrarem no linguajar habitual da população brasileira. Na
24
como empachamento abdominal e a equipe de especialistas sugeriu a inserção
ao lado: (estufamento).
O CLDQ foi traduzido, adaptado e validado em outros países
(Alemanha16, Tailândia17, Espanha18, Itália19) e apresentou boas propriedades
psicométricas em todas as versões. Estes dados corroboram com a
possibilidade do instrumento ser adequado para validação na população
brasileira. A utilização de um mesmo instrumento em vários países contribui
para a comparação da problemática apresentada por estes pacientes em
diferentes culturas.14-16
CONCLUSÃO
A tradução e adaptação transcultural do CLDQ para a população
brasileira foi concluída de acordo com a metodologia adequada. A etapa de
validação do CLDQ no Brasil está sendo concluída e em breve o instrumento
estará disponível para utilização por clínicos e pesquisadores. Desta forma,
avaliações poderão ser facilmente realizadas e os pacientes que apresentarem
piores escores de qualidade de vida poderão ser identificados e receberem
suporte adequado e futuramente terapêuticas preventivas poderão serão
25
Tabela 1: Distribuição das características clínicas da população.
Diagnóstico de doença hepática Freqüência
Viral tipo C 25%
Alcoólica 25%
Viral tipo C + alcoólica 20%
Auto-imune 5%
Outros (viral tipo B/ hipertensão portal/ colangite esclerosante/
doença de Wilson)
25%
Sintomas Freqüência
Ascite 65%
Icterícia 65%
Hemorragia digestiva alta 65%
Fadiga 50%
Spiders 25%
Eritema palmar 10%
Gravidade de doença (escala de Child-Pugh) Freqüência
A 30%
B 65%
C 5%
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28
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19. Rucci P, Taliani G, Cirrincione L, Alberti A, Bartolozzi D, Caporaso N,
Colombo M, Coppola R, Chiaramonte M, Craxi A, De Sio I, Floreani AR,
Gaeta GB, Persico M, Secchi G, Versace I, Mele A Validity and reliability of
the Italian version of the Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ-I) for
the assessment of health-related quality of life. Dig Liver Dis
29 ARTIGO 2
Artigo Original
Título: Validação da versão brasileira do Chronic Liver Disease Questionnaire (CLDQ-BR)
Título Resumido: Validação do CLDQ-BR
Autores: MUCCI S, CITERO VA, GONZALEZ A, PARISE ER, GEOCZE S, DE MARCO MA, NOGUEIRA-MARTINS LA
Remetente:
Samantha Mucci
Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP)/ Escola Paulista de Medicina(EPM).
Rua Borges Lagoa, 570 - Vila Clementino
São Paulo/SP
Brasil
CEP 04023-900
Telefones: (011) 5579 2828/ 5084 7060
Email: sammucci@gmail.com
Subsidiado pela: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), auxílio pesquisa, processo no. 05/50814-8.
Resumo:
Objetivos: O objetivo deste estudo foi validar o Chronic Liver Disease
30
Método: Duzentos pacientes com doença hepática crônica (26.5% viral, 26%
alcoolica, e 47.9% outros diagnósticos), e diferentes gravidades de doença
(20.9% não cirrótico, 30.1% CHILD A, 29.5% CHILD B, e 23.5% CHILD C)
responderam ao questionário sócio-demográfico, ao CLDQ, e ao SF-36.
Gravidade da doença foi também classificada pelo critério do MELD (78.7%
MELD<15, e 21.3% MELD 15), e depois de 1 a 15 dias os pacientes
retornaram para responder ao CLDQ novamente.
Resultados: O alfa de Cronbach do escore total do CLDQ foi de 0.95, e variou
entre 0.69 e 0.83. A correlação intra-classe entre o escore total do CLDQ nas
duas avaliações foi de 0,97 e em todos os domínios acima de 0,93. O CLDQ
apresentou correlações moderadas com o SF-36: entre CLDQ total e o domínio
Vitalidade do 36 (0.63), entre CLDQ total e o domínio Saúde Mental do
SF-36 (0.62), entre os domínios preocupação do CLDQ e Estado Geral de Saúde
do SF-36 (0.62), entre os domínios fadiga do CLDQ e Vitalidade do SF-36
(0.59), entre os domínios atividade do CLDQ e Vitalidade do SF-36 (0.59) e
entre os domínios fadiga do CLDQ e Saúde Mental do SF-36 (0.59). E algumas
correlações bastante fracas como: o domínio aspecto físico do SF-36 (de 0.27
a 0.44), o domínio aspectos emocionais do SF-36 (de 0.31 a 0.49), o domínio
abdominal do CLDQ (de 0.41 a 0.54 ) e o domínio sistêmico do CLDQ (de 0.30
a 0.46).Encontramos os escores mais altos do CLDQ no grupo de pacientes
não cirróticos. O grupo de pacientes CHILD A apresentou médias superiores
aos grupos CHILD B e CHILD C em todos os domínios; e os pacientes com
MELD <15 apresentaram médias superiores às dos pacientes com MELD 15.
Conclusão: A versão do CLDQ-BR validada para a população brasileira
31
portadores de doença hepática crônica em diferentes etiologias e graus de
gravidade da doença.
Palavras-chave: Qualidade de vida; doença hepática crônica; adaptação trascultural; validação;CLDQ; CHILD; MELD.
INTRODUÇÃO:
A doença hepática crônica é a 9ª causa de morte no mundo e é
responsável pela incapacitação de uma importante parcela da população
economicamente ativa visto que tem alta prevalência na faixa etária de 30 a 40
anos, período considerado o mais produtivo para a população geral[1]. Segundo
estimativas da Organização Mundial de Saúde[2], existem dois bilhões de
pessoas infectadas pelo vírus da hepatite B no mundo (3,4 milhões no Brasil),
sendo 350 milhões com a forma crônica. Neste contexto, avaliar, a qualidade
de vida de pacientes portadores de doenças hepáticas crônicas torna-se
aspecto socialmente importante[1].
Estudos têm demonstrado que a doença hepática crônica apresenta um
impacto negativo na qualidade de vida de seus portadores, cursando com piora
em função do aumento da gravidade da doença[3-7]. Sabe-se também [8-16] que,
embora o transplante de fígado produza melhoria na qualidade de vida, os
pacientes transplantados ainda apresentam prejuízo da qualidade de vida
quando comparados a indivíduos saudáveis e pacientes em lista de espera.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida é: “a
percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e do
sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
32
são utilizados instrumentos genéricos (tem uma visão mais abrangente e pode
ser utilizado na população geral) e específicos (identificam melhor as
características relacionadas a uma determinada doença)[1,4,14,17-26]. Os
instrumentos costumam abordar os seguintes aspectos: físico, psicológico,
ocupacional, relações sociais, ambientais e espirituais (crenças pessoais e
religião) mantendo sempre um caráter multidimensional e avaliando a
percepção geral da qualidade de vida enfatizando os sintomas ou limitações
decorrentes de uma doença.[17-19]
Pacientes portadores de hepatopatia crônica apresentam uma série de
sintomas característicos da doença que prejudicam sua qualidade de vida,
sendo necessária a utilização de um instrumento específico para avaliar a
qualidade de vida, que seja sensível às pequenas, mas significativas mudanças
clínicas decorrentes da evolução da doença ou do tratamento. O instrumento
específico mais utilizado em doença hepática crônica atualmente é o Chronic
Liver Disease Questionnaire (CLDQ)[1,27], o qual foi desenvolvido[22,23] nos EUA
para ser utilizado em diferentes tipos de etiologia e graus de gravidade da
doença hepática e já foi validado em diversos países (Alemanha[28],
Thailândia[29], Espanha[30] e Itália[31]).
Especialistas no tratamento de doenças hepáticas crônicas têm discutido
os critérios para melhor definir a gravidade, e conseqüentemente, a urgência
do transplante hepático. A classificação Child-Turcotte-Pugh (CHILD)[32] é
usada para acessar o prognóstico das doenças hepáticas crônicas,
principalmente a cirrose, considerando aspectos clínicos e exames
laboratoriais, a ascite e encefalopatia hepática. Em contrapartida, model for the
33
da doença hepática crônica, baseado em aspectos dinâmicos como
International Normalized Ratio (RNI), creatinina sérica e bilirrubina sérica. Em
julho de 2006, o MELD foi adotado como critério de alocação de enxertos
hepáticos no Brasil. [33] O fato da ascite e da encefalopatia hepática serem
fatores determinantes da qualidade de vida destes [36], e o MELD ser melhor
preditor de sobrevivência a curto prazo escore que o CHILD[37], ambas as
medidas devem ser estudadas e correlacionadas com parâmetros de qualidade
de vida.
O objetivo deste estudo foi realizar a validação da versão brasileira do
CLDQ em pacientes portadores de hepatopatias crônicas, de diferentes
etiologias e gravidade de doença. Uma vez validado, foi realizada a
comparação dos dados brasileiros com os da versão original, para avaliarmos a
equivalência cultural do instrumento.
MÉTODOS:
O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da
Universidade Federal de São Paulo, onde os pacientes foram alocados para
participar do estudo. Todos os pacientes eram participantes dos ambulatórios
de hepatites virais e de transplante de fígado. A autorização para a tradução foi
concedida pelos autores do instrumento.
Tradução e adaptação transcultural do CLDQ
Os itens da versão em inglês do CLDQ foram traduzidos
conceitualmente para a língua portuguesa por dois profissionais da saúde
bilíngües, independentes, brasileiros e cientes do objetivo desta pesquisa. As
duas traduções foram comparadas pelos tradutores e por um dos autores (SM),
34
o inglês por dois tradutores bilíngües independentes, cientes do objetivo da
pesquisa e diferentes dos dois anteriores. Posteriormente, foi realizada a
comparação dessas duas versões com o instrumento original em inglês e as
avaliações da tradução indicaram equivalência e reconciliação dos itens
traduzidos, com equivalência semântica entre as traduções. Alguns termos
foram substituídos por outros similares, pelo fato dos itens originais não se
enquadrarem no linguajar habitual da população brasileira, de acordo com um
comitê de especialistas (2 gastrocirurgiões, 1 enfermeira e 1 psicóloga).
A avaliação da equivalência cultural tem por finalidade identificar as
questões não compreendidas ou não executadas regularmente por nossa
população, para isso foi colocada ao lado de cada questão a opção “não
aplicável”. A amostra foi composta por 20 pacientes com hepatopatia crônica,
selecionados de acordo com o agendamento de consultas dos ambulatórios.
Os pacientes eram todos maiores de 18 anos, com doença hepática crônica
diagnosticada por exames clínicos e laboratoriais, que não estavam em
tratamento anti-retroviral, e que não apresentavam encefalopatia. Todos os
pacientes foram informados sobre os objetivos da pesquisa, assinando o termo
de consentimento. Nenhuma das 29 questões foi considerada “não aplicável”
pelos pacientes, sendo a equivalência cultural do CLDQ realizada sem que
uma segunda etapa de aplicação do instrumento fosse necessária.
Validação
Entre agosto de 2005 e agosto de 2006, 200 pacientes foram
convidados a participar do estudo. O cálculo amostral considerou dois
aspectos: a gravidade de doença, garantindo em média 50 pacientes por grupo