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Artigo
Original
Prevenc¸ão
de
lesões
de
membros
inferiores
e
reduc¸ão
da
morbidade
em
pacientes
diabéticos
夽
Antônio
Homem
do
Amaral
Júnior
a,
Leonã
Aparecido
Homem
do
Amaral
a,∗,
Marcus
Gomes
Bastos
a,
Luciana
Campissi
do
Nascimento
a,
Marcio
José
Martins
Alves
ae
Marco
Antonio
Percope
de
Andrade
baUniversidadeFederaldeJuizdeFora(UFJF),JuizdeFora,MG,Brasil
bFaculdadedeMedicina,UniversidadeFederaldeMinasGerais(UFMG),BeloHorizonte,MG,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem20dejunhode2013 Aceitoem23deagostode2013 On-lineem19dejunhode2014
Palavras-chave: Diabetesmellitus Prevenc¸ãoprimária Pé
Neuropatiasdiabéticas Doenc¸asvascularesperiféricas Infecc¸ão
Úlcera Amputac¸ão
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Avaliaroimpactodeumambulatóriodepédiabéticonareduc¸ãodamorbidadeda doenc¸a,comênfasenaslesõesdosmembrosinferiores.
Métodos:Estudo prospectivo,observacional,compopulac¸ãoalvode30casosdototalde 77pacientesdoambulatóriodepédiabético.Ocritériodeinclusãofoiquetodosos pacien-testivessemexameslaboratoriais,exameclínico,testesneuropáticoevasculareíndice tornozelo-brac¸orepetidosapós18 mesesdeacompanhamento,oquepermitiuanalisar suaevoluc¸ão.Aanáliseestatísticafoifeitacomotestequi-quadradodeMacNemarpara amostrasdependentes.
Resultados:Amédiadeidadedospacientesfoide61anos,todosportadoresdediabetes mel-litus(DM)tipo2,iniciadaemmédiahavia14,5anos,e20%eramneuropatas.Após18meses, nãohouvemudanc¸anafrequênciadelesãoemórgãoalvodadiabetes(p=1,000)enoíndice deneuropatia(p=1,000).Obteve-se,noentanto,melhoriasignificativadossintomas neuro-páticosde70%para36,7%(p=0,035),bemcomodadoenc¸aarterialperiféricade73,3%para 46,7%(p=0,021).Foiobservadaaindadiminuic¸ãode13,3%para10%dasúlceras(p=1,000). Conclusões:A criac¸ão de ambulatórios especializados em prevenc¸ão do pé diabético é investimentoviável,debaixo custoquandocomparado aosaltoscustos geradospelas complicac¸õesdessadoenc¸a.Essaabordagemmelhorasensivelmenteaqualidadedevida dopaciente,comareduc¸ãodamorbidade.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
夽
TrabalhodesenvolvidonoInstitutoMineirodeEstudoePesquisaemNefrologia(Imepen),FaculdadedeMedicina,UniversidadeFederal deJuizdeFora(UFJF),JuizdeFora,MG,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:leonanamaral@yahoo.com.br(L.A.H.doAmaral). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2013.08.014
Prevention
of
lower-limb
lesions
and
reduction
of
morbidity
in
diabetic
patients
Keywords: Diabetesmellitus Primaryprevention Foot
Diabeticneuropathies Peripheralvasculardiseases Infection
Ulcer Amputation
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective:Toassesstheimpactofadiabeticfootoutpatientcliniconreducingthemorbidity ofthisdisease,withemphasisonlower-limblesions.
Methods: Thiswasaprospectiveobservationalstudywithatargetpopulationof30cases outofatotalof77patientsinthediabeticfootoutpatientclinic.Theinclusioncriterionwas thatdatarelatingtolaboratorytests,clinicalexaminations,neuropathicandvasculartests andtheelbow-armindexneededtobeavailablefromallthepatients,withrepetitionafter 18monthsoffollow-up,soastoanalyzetheirevolution.Thestatisticalanalysiswasdone usingtheMcNemarchi-squaretestfordependentsamples.
Results: Thepatients’meanagewas61years.Allofthemhadtype2diabetesmellitus (DM),whichhadstarted14.5yearspreviously,onaverage,and20%hadneuropathies.After 18 months,therewasno changeinthefrequency oflesionsindiabetestarget organs (p=1.000)orintheneuropathyrate(p=1.000).However,thereweresignificant improve-mentsinneuropathicsymptoms,from70%to36.7%(p=0.035),andinperipheralarterial disease,from73.3%to46.7%(p=0.021).Therewasalsoadecreaseinulcersfrom13.3%to 10%(p=1.000).
Conclusions: Creationofspecializedoutpatientclinicsforpreventionofdiabeticfootisa viableinvestment,whichhaslowcostcomparedwiththehighcostsgeneratedthroughthe complicationsfromthisdisease.Thisapproachnoticeablyimprovesthepatients’qualityof life,withreductionofmorbidity.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
A diabetes melitus (DM) ocasiona complicac¸ões
degenerati-vas, que geram repercussões humanas e socioeconômicas
e tornam-se um importante problema de saúde pública.1
Dentreascomplicac¸ões estãolesões emórgãos-alvo,como retinopatia,nefropatia,acelerac¸ãodaaterosclerose,com ris-cosacrescidosdeinfartodomiocárdioouacidentevascular cerebral,easqueafetamospés,quesãoasmaisfrequentes.2
Entende-secomopédiabético,segundodefinic¸ãodoConsenso InternacionalsobrePéDiabético,ainfecc¸ão,ulcerac¸ãoe/ou destruic¸ãodostecidosprofundosassociadasaanormalidades neurológicaseaváriosgrausde doenc¸avascularperiférica nosmembrosinferiores.2Aprevalênciadeúlceranospésda
populac¸ãodiabética éde 4%a10% e85% das amputac¸ões
das extremidades inferiores desses pacientes são precedi-dasdeulcerac¸ão.2Aproximadamente40%a60%detodasas
amputac¸õesnãotraumáticasdosmembrosinferioressão fei-tasempacientesdiabéticos.1,2Trêsanosapósaamputac¸ãode
ummembroinferiordoindivíduodiabético aporcentagem
desobrevidaéde50%,enquantoquenoprazodecincoanos ataxademortalidadevariade39%a68%.3
Fatormuitoimportanteparaodesenvolvimentodeúlcera nospés é apresenc¸ade neuropatia sensitivo-motora
peri-férica, que vem associada com a perda da sensibilidade
dolorosa, da percepc¸ão da pressão, da temperatura e da
propriocepc¸ão.4–8Issolevaàdiminuic¸ãodapercepc¸ãode
feri-mentosoutraumas.Quatroentrecincoúlcerasemindivíduos diabéticossãoprecipitadasportraumaexterno.2Alémdisso,
aneuropatiamotoraacarretaatrofiaeenfraquecimentodos músculosintrínsecosdopéegeradeformidades,comoflexão
dosdedoseumpadrãoanormaldamarcha,queevoluempara
calosidadeseúlcerasdepressão.Noscasosmaisseverosleva aopédeCharcot,umadoenc¸aprogressiva,caracterizadapelo deslocamentoarticular,porfraturaspatológicase deformida-desdebilitantes.8,9Aneuropatiaautonômicatambémconduz
àreduc¸ãoouàtotalausênciadasecrec¸ãosudoríparaelevaao ressecamentodapele,comrachadurasefissuras.8,10
A doenc¸a vascular periférica (DVP) é importante fator de riscoparaulcerac¸ão eamputac¸ão.6,11–13 Édecorrente da
aterosclerose das artérias periféricas, leva à obstruc¸ão das artériasearteríolasdistais,dificultaofluxosanguíneoepriva
os tecidosdeadequadofornecimentodeoxigênio,
nutrien-teseantibióticos,oqueprejudicaacicatrizac¸ãodasúlceras
epode, consequentemente,levar àgangrena,14 que é
qua-trovezesmaisfrequenteempessoascomdiabetesdoquena
populac¸ãoemgeralesuaincidênciaaumentagradualmente
comaidadeecomadurac¸ãodadoenc¸a.15
Asúlcerasgeralmentedecorremdetraumasbanais,leves e repetidos,como erros naacomodac¸ão euso decalc¸ados
ou mesmo da marcha com os pés descalc¸os.8,12
Aproxi-madamente 70% a 100% das úlceras apresentam sinais de
neuropatia periférica com vários graus de DVP. Raramente
a infecc¸ãoéconsiderada causadireta de umaúlcera.16 No
entanto,naúlcerainfectadaexistemaiorriscodeamputac¸ão subsequente.2
narelac¸ão custoebenefício.Jáficoudemonstrado queaté 50%dasamputac¸õeseulcerac¸õespodemserprevenidaspelo diagnósticoprecoceetratamentoadequado.1,17,18 Embusca
desseobjetivo,emjaneirode2006foiiniciado,peloServic¸o deControledeHipertensão,DiabeteseObesidadeda Secreta-riadeSaúdedaPrefeituradacidadeondeoestudofoifeito, oPrograma de Atenc¸ãoInterdisciplinar aoDiabético (Paid),
que promove acompanhamento multidisciplinar
especiali-zadodospacientesdiabéticosetemcomometasaeducac¸ão dopacienteeaprevenc¸ão,odiagnósticoeotratamento pre-cocesdelesõesemórgãoalvo.
Objetivo
AvaliaroimpactodoAmbulatóriodePéDiabéticodoPaidna reduc¸ãodamorbidadedopacientediabético,comênfasenas lesõesdosmembrosinferiores.
Material
e
métodos
O presente estudo foi aprovado por Comitê de Ética em
Pesquisa(protocolo:1437.128.2008).Contoucomoapoio do
ConselhoNacional deDesenvolvimento Científicoe
Tecno-lógico(CNPq)pormeio doProgramaInstitucionaldeBolsas de Iniciac¸ão Científica. Trata-se de um estudo observacio-nal,prospectivodecasos,cujapopulac¸ãoalvoforam30dos 77pacientesdoAmbulatóriodePéDiabéticodoPaid, recruta-dosdeformaespontânea,queatéabrilde2011,após18meses
deacompanhamento,tiveramexameslaboratoriaisetestes
clínicosiniciaiscompletamenterepetidos.
Oestudo tevea participac¸ão de pacientescom maisde 18anos,semdistinc¸ãodesexoeetnia.Elespuderamserecusar aparticiparaqualquermomento,semmodificac¸ãonaforma comqueforamatendidospelopesquisador.Foramgarantidos osigiloeaprivacidade.Umconsentimentolivreeesclarecido foiassinadoportodos.
Foram excluídos os que não concordaram com a
participac¸ãoeosquenãoparticiparamdetodaareavaliac¸ão clínicaelaboratorialfeitaapós18mesesdeacompanhamento. AequipemultiprofissionaldoPaidéconstituídapor cirur-giãovascular,endocrinologista,dermatologista,nefrologista, psicólogo e nutricionista. Todos os pacientes tiveram seu
seguimentomonitorado eforam encaminhadosa
cardiolo-gista,ortopedistaeoftalmologistadaPrefeiturasempreque necessário.
Descric¸ãodofuncionamentodoAmbulatóriodePé Diabé-ticodoPaid:
1. Avaliac¸ãomédicainicial,comtestesclínicosneurológicos periféricos(aneuropatiadiabéticafoiclassificadadeacordo comasversõesemportuguêsdoEscoredeSintomas
Neu-ropáticosedoEscoredeComprometimentoNeuropático
elaboradospor Dycket et al.19) e avaliac¸ão arterialpelo
índicetornozelo-brac¸o(ITB)(pressãoarterialsistólicado tornozelodivididapelapressãoarterialsistólicadobrac¸o, ambasmedidascomopacientenaposic¸ãosupina,como usodeDopplerportátil2).Repetic¸ãodostestesneurológicos
evascularescom18meses. 2. Exameslaboratoriais;
3. OsretornoseramprogramadosdeacordocomoConsenso
InternacionalsobrePéDiabéticoeasorientac¸õespráticas sobreagestãoeprevenc¸ãodopédiabético2007:anual,na ausência deneuropatia; semestral,napresenc¸ade neu-ropatia;trimestral,navigênciadeneuropatiaassociadaa sinaisdedoenc¸avascularperiféricae/oudeformidadesnos pés;eentreumetrêsmesesnoscasosdeamputac¸ãoou úlceraprévia;1
4. Ospacienteseramorientadosdeformasistemáticaquanto aoscuidadosparaevitarosurgimentodelesões.Paratanto, foramfeitaspalestrasperiódicas,distribuic¸ãodefolhetos eorientac¸ãoduranteasconsultas;
5. As feridas foram tratadas emregime ambulatorial.Nos
casosdeferidasinfectadas,acimade2cmdediâmetroou comsinaisclínicosdesepse,ospacientes eram encami-nhadosaohospitaldereferência.
Os dados foram digitadosno programa Epi Info (versão
3.5.1).Paraascomparac¸õesestatísticasfoiusadooteste
qui--quadradodeMacNemarparaamostrasdependentes,quando
asvariáveis eramdotipocategórico,eotestet deStudent paraamostrasdependentes,quandoasvariáveiseramdotipo numérico,eseconsideraramsignificantesvaloresdep<0,05. AanáliseestatísticafoifeitanoprogramaSPSS,versão15.
Resultados
Participaram da primeira avaliac¸ãodoestudo,feita no pri-meirodiaemquederamentradanoambulatório,77pacientes. Eram33(42,9%)dosexomasculinoe44(57,1%)dofeminino. Desses,30tiveramexameslaboratoriaisetestesneurológicos evascularesiniciaiscompletamenterepetidosapós18meses
deacompanhamento.
Treze(43,3%)eramdosexomasculinoe17(56,7%)do
femi-ninoetodoseram portadoresdeDMtipo 2,cominícioem
médiahavia14,5anos.Amédiadeidadefoide61anoseo desviopadrãode9,01.
Na primeira avaliac¸ão, quatro pacientes (13,3%) haviam
sido submetidos a amputac¸ão prévia. Foi verificada
amputac¸ãodoquartopododáctilodireitodeumpacientena segundaavaliac¸ão.
Havia algum tipo de lesão emórgão-alvo (corac¸ão, rim,
retina, microvasculatura dos pés) em 90% dos pacientes,
cujafrequêncianãosealterouapós18meses(p=1,000).As doenc¸ascardíacas,40%(n=12),erenal,23,3%(n=7),não alte-raram(p=1,000)earetinopatiateveaumentonãosignificativo de 53,3%(n=16)para63,3% (n=19)(p=0,453). Ospacientes
tambémnãoapresentaramnesseperíodoacidentevascular
cerebrale/ouinfartoagudodomiocárdio.
Astabelas1–6apresentamosresultadosdedadosavaliados napesquisa.
Os pacientes não apresentaram ao longo de 18 meses
alterac¸õessignificantesdapalpac¸ãodospulsosdosmembros inferiores(p=1,000).
Discussão
Tabela1–Percepc¸ãodacapacidadedeautocuidardospés(n=30)
Primeiraavaliac¸ão Segundaavaliac¸ão p
Fr.Ab: Fr.R: Fr.Ab: Fr.R:
Autocuidadototal 22 73,3% 12 40,0% 0,004
Autocuidadoparcial 7 23,3% 17 56,7%
Semcondic¸ãodeautocuidado 1 3,3% 1 3,3%
Tabela2–Exameclínicodospés(n=30)
Primeiraavaliac¸ão Segundaavaliac¸ão p
Fr.Ab: Fr.R: Fr.Ab: Fr.R:
Úlceraprévia 14 46,7% 15 50,0% 1,000
Amputac¸ão 4 13,3% 5 16,7% 1,000
Deformidadesnospés 6 20,0% 6 20,0% 1,000
Micoseungueal 19 63,3% 15 50,0% 0,125
Micoseinterdigital 14 46,7% 5 16,7% 0,012
Úlceraativa 4 13,3% 3 10,0% 1,000
Rachaduras 3 10,0% 3 10,0% 1,000
Usodecalc¸adosadequados 14 46,7% 25 83,3% 0,013
Tabela3–EscoredeSinaisNeuropáticos(ECN)19(n=30)
Primeiraavaliac¸ão Segundaavaliac¸ão p
Fr.Ab: Fr.R: Fr.Ab: Fr.R: p=0,102
Normal 24 80,0% 19 63,3%
Leve 3 10,0% 7 23,3%
Moderado 3 10,0% 4 13,3%
Tabela4–EscoredeSintomasdeComprometimentoNeuropáticos(ESN)19(n=30)
Primeiraavaliac¸ão Segundaavaliac¸ão p
Fr.Ab: Fr.R: Fr.Ab: Fr.R: p=0,035
Normal 3 10,0% 8 26,7%
Leve 6 20,0% 11 36,7%
Moderado 17 56,7% 7 23,3%
Severo 4 13,3% 4 13,3%
Tabela5–Diagnósticodeneuropatiadiabéticadeacordocomacombinac¸ãoindicadaporDycketal.19entreoEscorede
SintomasNeuropáticos(ESN)eoEscoredeComprometimentoNeuropático(ECN)(p=1,000)
Primeiraavaliac¸ão Segundaavaliac¸ão p
Fr.Ab: Fr.R: Fr.Ab: Fr.R: p=1,000
Neuropata 6 20,0% 6 20,0%
Nãoneuropata 24 80,0% 24 80,0%
Tabela6–Doenc¸aarterialperiféricabaseadanoITB(n=30)
Primeiraavaliac¸ão Segundaavaliac¸ão p
Fr.Ab: Fr.R: Fr.Ab: Fr.R:
Normal=0,91a1,30 8 26,7% 13 43,3% 0,129
Obstruc¸ãoleve=0,70a0,90 8 26,7% 6 20,0%
Obstruc¸ãomoderada=0,40a0,69 8 26,7% 5 16,7%
Pobrementereduzido>1,30 6 20,0% 6 20,0%
especializados2,7,8,12,20,21 e que até 50% das amputac¸ões
e ulcerac¸ões podem ser prevenidas pelo diagnóstico
precoce e tratamento adequado.1,17,18 A identificac¸ão e a
classificac¸ão do paciente de risco (como neuropatia diabé-tica,doenc¸aarterialperiféricaedeformidadesestruturais2),
o tratamento precoce, agressivo, e a educac¸ão individual,
familiarecomunitáriacompreendemasbasessólidaspara
aprevenc¸ãodaamputac¸ãodemembros22eforammetasno
AmbulatóriodePéDiabéticodoPaid.
Dos30pacientesqueparticiparamdoestudo,90% apresen-tavamalgumtipodelesãoemórgão-alvo(corac¸ão,rim,retina, microvasculaturadospés),cujafrequêncianãosealterouapós 18meses(p=1,000),oquemostraqueocuidadodopaciente comoumtododevefazerpartedaabordagem.23
Após 18 meses de acompanhamento no Ambulatório
de Pé Diabético do Paid, a percepc¸ão quanto às totais
condic¸õesdeautocuidadodospés(tabela1)varioude73,3% naprimeira avaliac¸ãopara 40% na segunda ea percepc¸ão quantoàcapacidadedeautocuidadoparcialvarioude23,3%
para 56,7%, o que indica que um número significativo de
pacientes(p=0,004)percebeuqueprecisariade
acompanha-mento especializado para receber o tratamento preventivo
e/oucurativo adequado.Pacientes diabéticos que não
ade-rem ao tratamento têm probabilidade 50 vezes maior de
ulcerar o pé e 20 vezes maior de ser amputados do que
aqueles que seguem corretamente as orientac¸ões.24 Um
estudo demonstrou que 22 de 23 amputac¸ões abaixo do
joelho foram feitas empacientes que nuncahaviam
rece-bido informac¸ões sobre cuidados terapêuticos ou medidas
preventivas.2
Noiníciodoacompanhamento,46,7%dospacientesfaziam ousodecalc¸adosadequados.Apósum18meses,83,3% usa-vam calc¸ados adequados (p=0,013) (tabela 2). Os calc¸ados
inadequados predispõem os pés a traumas extrínsecos e
sãoconsideradosfatorprecipitantedeulcerac¸õesnospés.25
Muitosestudostêmdemonstradoquequandoháa
disponi-bilidadedecalc¸ados protetores,aprevenc¸ãoda recorrência deúlceraséobtidaentre60%a85%dospacientes.2Calc¸ados
ideais são os que reduzem a pressão nos pés, abaixo
do limiar para ulcerac¸ão. Eles e as palmilhas devem ser
inspecionadosfrequentemente etrocadosquando
necessá-rio. Se os calc¸ados habituais não se adaptam por causa
das deformidades ortopédicas ou lesões poráreas de
con-tato exagerado, deve serindicada aconfecc¸ão de calc¸ados especiais.5,8,11,13,21
Apósos18meseshouvereduc¸ãodamicoseinterdigitalde 46,7%para 16,7%(p=0,012),amicoseungueal diminuiude 63,3%para50%(p=0,125)easrachadurasmantiveram-seem 10%(tabela2).Emumestudoamicoseinterdigitalfoi conside-radaresponsávelpor20,8%dasúlcerasnospés,aonicomicose por52,5%,caloserachaduraspor49,5%,peleressecadae des-camativapor63,4%ehigieneecortedeunhasimprópriospor 73,3%.26Medidasbásicasdehigiene,sistematicamentefeitas
noPaid,comolavaradequadamenteospéseenxugá-los cui-dadosamente,ousodecremeouóleohidratanteeocortede unhasretasnãomuitorentes,feitoporpodólogos,evitamo surgimentodessesfatoresdesencadeantesdopédiabético.27
Naavaliac¸ãoinicial,13,3%dospacientestinhamhistórico deamputac¸ãoe46,7%deúlcerapréviajácurada(tabela2),
oquerepresentaumelevadonúmerodepacientescom
his-tóricodealtoriscoparaamputac¸ãosegundoaClassificac¸ão deRiscodoConsensoInternacionalsobrePéDiabético.1Em
18 mesesdeacompanhamentohouvediminuic¸ão das
úlce-ras ativas de quatro (13,3%) para três pacientes (10,0%), o quedemonstraquefoialcanc¸adooobjetivodeprevenc¸ãodo
surgimento denovas úlceras. Após 18meses foiobservada
apenasumaamputac¸ãodoquartopododáctilodireitoemum
paciente(3,4%),naavaliac¸ãofinalforamcincopacientescom
história deamputac¸ão(16,7%), oque demonstraumótimo
resultado,quandocomparadoàliteratura,querelatataxasde
amputac¸ãoemtornode43%a85%empacientessubmetidos
aabordagemmultidisciplinar.1,2,12
Nodiagnósticodaneuropatia,queéfatorderisco impor-tanteparao desenvolvimentodaúlceranos pés,2,4–8 foram
usadososcritériosdeDycketal.19(tabelas3–5).NoPaid20%
dospacienteseramneuropatas(tabela5)eessenúmeronão
aumentou em 18 meses (p=1,000). Esse dado é relevante,
considerando-sequequandoaneuropatiaperiféricase ins-tala,elaéirreversível.28,29Portanto,éimportantequepessoas
com diagnóstico recente tenham o adequado controle dos
fatoresderiscoequetambémsefac¸a aprofilaxia nosque nãoostêm,comocontrolerigorosodaglicemia,orientac¸ão quantoaotabagismoeetilismo,controledahipertensão arte-rial,dislipidemiaevasculopatia.30
ComotratamentoadotadonoPaidobservou-seamelhoria significativadossintomasdeneuropatiaperiférica(p=0,035) (tabela4).Houvequedade70%depacientes comsintomas moderadosaseverospara36,7%em18meses.Jáossinaisde neuropatiadiabética tiveramumareduc¸ão nãosignificativa (p=0,102)(tabela3)nosníveisdenormalidadede80%para 63,3%,oquemostraquefoimaisfácilreverterossintomas, querefletemumquadromaisinicial,doqueossinais,que sãoumquadromaisavanc¸adodaneuropatia.19
Aperfusão distaléoutroimportante fatorde riscopara ulcerac¸ão e amputac¸ão.2,6,11–13 Os pacientes não
apresen-taram ao longo de 18 meses alterac¸ões com significância
estatística à palpac¸ão dos pulsos dos membros inferiores. No entanto,houve melhoria significativadoITB (p=0,021), pois a presenc¸ade doenc¸a arterialperiférica segundo esse índice (ITB<0,90 ou > 1,30) (tabela 6) caiu de 73,3% para 46,7%.Essamelhoriaéatribuídaaosurgimentodecirculac¸ão colateral,decorrenteprovavelmentedotratamentocom
cami-nhadas regulares, controle dos fatores de risco, como a
hipertensãoarterialsistêmicaeadislipidemia,alterac¸ãode hábitos,comoeliminac¸ãodotabagismoecontroledadieta,
e uso de estatinas, anti-agregantes plaquetários e drogas
hemorrealógicas.30
Conclusão
Acriac¸ãodeprogramasdeprevenc¸ãoecontroledopé diabé-ticonossetoresdaatenc¸ãoprimáriaesecundáriadasaúdeé investimentoviávelporserdebaixocusto,diantedas
impor-tantesrepercussõeshumanasesocioeconômicasdadoenc¸a.
Temimpacto positivo pormelhorar sensivelmentea
Fontes
de
pesquisa
Pró-ReitoriadePesquisada UniversidadeFederaldeJuizde Fora–Propesq.
Programa Institucional de Bolsas de Iniciac¸ão
Científica–PibicCNPq/UFJF.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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