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Cisticercose espinhal leptomeníngea pura.

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Academic year: 2017

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CISTICERCOSE ESPINHAL LEPTOMENÍNGEA PURA

S. L. ROSSITTI * —A.A. ROTH-VARGAS ** — A. R. 8. MOREIRA *** A. SPERLESCU **** — J. F. M. ARAÚJO * — R. J. BALBO *****

R E S U M O — Relata d e um caso com verificação cirúrgica de cisticercose espinhal, forma leptomeníngea restrita à cauda eqüina, em paciente adulto. É discutido o papel do sistema venoso vertebral na infestação dos espaços subaracnóideos na neurocisticercose, originando formas clínicas primariamente espinhais.

Observations concerning: a purely spinal form of leptomeningeal cysticercosls.

S U M M A R Y — A n adult female patient presented with an exclusively spinal leptomeningeal infestation b y cysticercosis (restricted to the cauda equina), verified in surgery. T h e rôle of the vertebral vein system in the spread of cysticercotic larvae is discussed. A commentary on the possibility that cysticercosis of the batal cisterns may be due to ascending migration of primarily spinal cysticerci, as originally proposed b y Isamat d e la Riva, is stated.

A cisticercose é a doença parasitária mais comum envolvendo o sistema nervoso central ( S N C ) em nosso meio. Sua forma espinhal, porém, é de observação relati-vamente rara. Em comunicações anteriores, revimos os prontuários de 205 pacientes internados em nosso Serviço de janeiro-1961 a julho-1987 com o diagnóstico de neuro-cisticercose, o que correspondeu a 0,9% dos pacientes internados no período 3

. Desses, três pacientes apresentavam acometimento espinhal leptomeníngeo pela forma race-mosa da cisticercose, verificado em cirurgia, correspondendo a 1,4% da série 4

- 6 ; em dois desses casos constatou-se cisticercose espinhal leptomeníngea ( C E L ) primária, um deles apresentando infestação leptomeníngea basal no seguimento; outros 9 pacientes apresentaram quadro radículo-álgico, parestesias e paresia de grau v a r i a d o nos membros inferiores, não se constatando lesão de interesse cirúrgico, o que eleva a p r o -porção do acometimento espinhal a 5,6% da série 3.

A análise crítica deste material e da literatura, por Sperlescu e col.6, mostrou ser a C E L pura ou demonstradamente primária, incompatível à teoria vigente sobre a patogenia da C E L (que postula a m i g r a ç ã o das larvas do espaço subaracnóideo intracraniano, invadido através de presumida embolia v i a artéria vertebral, para o espaço subaracnóideo espinhal). A o se considerar outras possibilidades de invasão do espaço subaracnóideo pelo embrião, tendo este partido da mucosa do trato gastro-intestinal, foram descartadas de início a via linfática e a p r o p a g a ç ã o por continuidade por serem incompatíveis à anatomia; a embolia arterial é reconhecidamente causadora da forma intramedular da cisticercose, sendo improvável a emersão do embrião ou cisticerco do parênquima medular para o espaço subaracnóideo. A via hematogênica

Departamento de Neuro-Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas ( P U C C A M P ) e Departamentos de Neurocirurgia ( D N C ) e Radiologia d o Hospital V e r a Cruz ( H V C ) , Campinas: * Médico Residente; ** Neurocirur¬ gião do H V C ; *** Radiologista do H V C e Centro Radiológico d e Campinas; **** Professor Assistente ( P U C C A M P ) e Neurocirurgião d o H V C ; ***** Professor A d j u n t o ( P U C C A M P ) e Diretor d o D N C d o H V C .

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que na C E L o embrião pode invadir o espaço subaracnóideo espinhal através das conexões não valvuladas do plexo venoso vertebral interno, originando formas clínicas primariamente espinhais, e que a cisticercose das cisternas basais pode ser devida a migração ascendente de cisticercos primariamente espinhais 6. A hipótese de que, na cisticercose racemosa das cisternas basais, a invasão primária se dá nos espaços subaracnóideos espinhais, foi primeiro formulada por Isamat de la R i v a2

, há três décadas; esse autor, porém, não propôs mecanismo para a infestação espinhal e não observou qualquer caso de C E L pura. A ocorrência de casos de C E L pura ou de C E L demonstradamente primária seguida de infestação das cisternas basais constitui, a nosso ver, objeto corroborativo da tese em pauta, a despeito da objeção que se expressa a seguir: pode-se afirmar que nesses casos de C E L pura os embriões podem ter atingido primariamente as cisternas basais, daí migrando todos para os espaços espinhais do líquido cefalorraquiadiano ( L C R ) ; esse argumento é por ora irrespondível, visto não se ter observado diretamente o momento da invasão do S N C na cisticercose.

O presente relato permite, mais uma v e z , submeter a prova nossas conclusões.

O B S E R V A Ç Ã O

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colunia vertebral (de L 4 a S2) em 16-08-88, considerada normal; gamacintilografia do corpo inteiro em 11-10-88, considerada normal; eletroneuromiografia, em dezembro-1988, revelou sinais agudos (predominantes) e crônicos de comprometimento radicular L 5 e S l à E . A t e n -dida em nosso Serviço em dezembro-1988, apresentava-se alerta e orientada, com b o a memó-ria, atenção e linguagem; sem paralisias ou incoordenação motora; sem p e r d a sensitiva; com sinais irritativos radiculares n o membro inferior E ; exame clínico dos nervos cranianos e fundoscopia óptica normais. E m 28-12-88, tentativa de mielografia por punçâo lombar foi prejudicada, tendo o contraste sido injetado no espaço subdural espinhal. E m 03-01-89 repe-timos estudo por C T d a coluna lombossacra e realizamos C T do encéfalo, que foi considerado normal ( F i g . 2 ) . E m 09-01-89 realizamos mielografia lombar, por injeção suboccipital de contraste, que revelou bloqueio com preenchimento d o espaço subaracnóideo ao nível do corpo vertebral IA e, abaixo, por processo expansivo intradural ( F i g . 3 ) ; o estudo foi complementado p o r C T , que demonstrou o processo expansivo estendendo-se de IA a S l ( F i g . 4). Proposta exploração cirúrgica d a lesão, que foi realizada em 02-02-89: laminectomia de L 3 a L5, sendo encontrados no espaço subaracnóideo (em IA e abaixo) duas vesículas cisticercóticas com escólex em degeneração, medindo ambas respectivamente 3 e 9 cm em sua maior extensão; observamos tecido esbranquiçado de consistência gelatinosa envolvendo difusamente toda a cauda eqüina, de que foi feita, biópsia (estudo histológico revelou tecido conjuntivo frouxo permeado com infiltrado inflamatório crônico). N o pós-operatório ime-diato empregamos corticoterapia, sendo j á evidente a melhora dos sintomas radículo-álgicos. A paciente encontrava-se assintomática decorridos 6 meses.

C O M E N T Á R I O S

N o presente caso, os achados clínicos limitavam-se a sinais e sintomas radi-culares irritativos lombossacrais e a propedêutica armada ( m i e l o g r a f i a , m i e l o - C T , C T do e n c é f a l o ) acusou lesão intradural restrita à cauda eqüina. N a C T do encéfalo observou-se parênquima nervoso de aspecto normal, não se encontrando cisticercos ativos, calcificações ou áreas cicatricials; sinais sugestivos de cisticercose subarac-nóidea encefálica ( i . e . hidrocefalia, lesões hipodensas nas cisternas basais, áreas de infarto por arterite e sinais de aracnoidite e de e p e n d i m i t e ) foram cuidadosamente procurados e não encontrados. T r a t a - s e , portanto, de caso de cisticercose espinhal leptomehíngea pura, cuja acorrência vem corroborar as observações de Isamat de la Kiva 2 e de Sperlescu e col.6 sobre a patogenia da cisticercose dos espaços do L C R .

R E F E R Ê N C I A S

1. Batson O V — T h e vertebral vein system (Caldwell Lecture 1956). A m J Roentgenol Radiother Nucl M e d 78:195, 1957.

2. Isamat de la R i v a F — Cisticercosis Cerebral. V e r g a r a , Barcelona, 1957.

3. Santos JC, B a l b o R J , Sarian L , Sperlescu A — Neurocisticercose: aspectos clínicos e cirúrgicos. Estudo de 205 casos. A r q B r a s Neurocir (São P a u l o ) 7:203, 1988.

4. Schweller O G , Sperlescu A , B a l b o R J , Rossitti S L — Compressão mielorradicular por cisticercose. R e v B r a s Reumatol 28:203, 1988.

5. Spalteholz W , Spanner R •— A t l a s de Anatomia Humana, Vol 2. Roca, São Paulo, 1988.

6. Sperlescu A , B a l b o R J , Rossitti S L — Breve comentário sobre & patogenia da cisticercose espinhal. A r q N e u r o - P s i q u i a t (São P a u l o ) 47:105, 1989

R E F E R Ê N C I A S

1. Batson O V — T h e vertebral vein system (Caldwell Lecture 1956). A m J Roentgenol Radiother Nucl M e d 78:195, 1957.

2. Isamat de la R i v a F — Cisticercosis Cerebral. V e r g a r a , Barcelona, 1957.

3. Santos JC, B a l b o R J , Sarian L , Sperlescu A — Neurocisticercose: aspectos clínicos e cirúrgicos. Estudo de 205 casos. A r q B r a s Neurocir (São P a u l o ) 7:203, 1988.

4. Schweller O G , Sperlescu A , B a l b o R J , Rossitti S L — Compressão mielorradicular por cisticercose. R e v B r a s Reumatol 28:203, 1988.

5. Spalteholz W , Spanner R — A t l a s de Anatomia Humana, Vol 2. Roca, São Paulo, 1988.

Referências

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