ESTRUTURADEGOVERNANÇAEMSISTEMAS
LOCAISDEPRODUÇÃOESUASRELAÇÕES
COMACADEIAGLOBAL
RenatoGarcia FláviaGutierrezMotta JoãoAmatoNeto
DepartamentodeEngenhariadeProduçãodaEscolaPolitécnica, UniversidadedeSãoPaulo,Av.AlmeidaPrado,128,CEP05508-900,SãoPaulo, e-mail:renato.garcia@poli.usp.br,fgmotta@yahoo.com,amato@usp.br
Recebidoem22/3/2004 Aceitoem29/11/2004
Resumo
Estetrabalhotemoobjetivodeanalisar,deformaintegrada,aproblemáticadagovernançaglobalelocalem sistemaslocaisdeprodução,comointuitodeverificaroscondicionantesparaacompetitividadedosprodutoreseo desenvolvimentolocal.Paraisso,sãoinvestigadasecomparadasduasexperiênciasdesistemaslocaisdeprodução noBrasil:aindústriadecalçadosdeFranca(SP)eademóveisemBentoGonçalves(RS).Asprincipaisevidências apontamqueodesenvolvimentodecapacitaçõesentreosprodutoreslocalizadosécondicionadopelasformasdego-vernança,globalelocal,sobreacadeiaprodutiva.
Palavras-chave:governançaglobal,sistemaslocaisdeprodução,aglomeraçõesindustriais.
v.11,n.3,p.343-354,set.-dez.2004
1.Introdução
Uma questão que vem recebendo atenção crescente, nodebatesobreaglomeraçõesdeempresas,dizrespeito àscaracterísticasdasformasdecoordenaçãodaatividade produtiva.Emoutraspalavras,essadiscussãoseremeteà governançadosistemalocal.Essapreocupaçãovempre- encherumalacunaimportantedasinvestigaçõesconcer- nentesàscaracterísticasdossistemaslocais,quenormal-mentetêmsidodirecionadas,quasequeexclusivamente, aosseuselementosendógenos.
Poucossãoosestudosquebuscaramanalisaraintera-çãoentreagovernançalocalesuasrelaçõescomacadeia global, ponto central da discussão deste trabalho. Nes-sesentido,oobjetivodotextoéanalisareapresentaros elementosbásicoscaracterísticosdossistemaslocaisde produçãoediscutircomoosvínculosexternosatuame condicionamodesenvolvimentolocal.Paraisso,éapre-sentadaumadiscussãodosprincipaisconceitosenvolvidos comessesargumentospara,emseguida,aplicá-losàsex- periênciasdeaglomeraçãodaindústriadecalçadosmas-culinosemFranca,noEstadodeSãoPaulo,edemóveisde
BentoGonçalves,noEstadodoRioGrandedoSul. Asaglomeraçõesdeempresasserãotratadas,nestees-tudo, como Sistemas Locais de Produção – SLPs, pois esteéotermoquemelhordescreveofenômenoanalisado, vistoqueotrabalhodescrevelocaisondeoperamvários subsistemas (produção, logística, distribuição, centros tecnológicos,etc.)queseentrelaçamporfatoressociais, econômicos,institucionaisegeográficos,quedificilmen-tepodemsertratadosdeformaseparada,equepossuem capacidadessistêmicasdeaprendizadoeinovação.
2.Característicasgeraisdossistemas
locaisdeprodução
uma estrutura produtiva completa, decorrente dos estí-mulosdemercadoquesãogeradosparaainstalaçãode negócioscorrelatosede apoio.A literaturaqueaborda aglomeraçõestemmostradoqueasempresaspertencen-tesaestessistemas,tantodepaísesdesenvolvidoscomo depaísesemdesenvolvimento,sãocapazesdeobtervan- tagenscompetitivasemrelaçãoàsempresasdispersasge-ograficamente(Suziganetal.,2001a;Lombardi,2003). Assim, os produtores desses sistemas conseguem com-petiremelhorarseudesempenhonomercadodoméstico etambémsuperamrestriçõesparaatuarememmercados distantes(SchmitzeNadvi,1999;Porter,1998).
Asvantagenscompetitivasdasempresasemaglome-rações industriais são de duas naturezas: as economias externaspuras,decaráterincidental,easaçõesconjuntas quesãoestabelecidaspelosagenteseconômicos.
As economias externas à firma são decorrentes do extenso processo de divisão do trabalho verificado nos sistemaslocaisdeproduçãoedaespecializaçãodospro-dutores,oqueestimulaamanutençãodeinteraçõesmais freqüentesentreosagentes,elevaaofomentodeumpro-cessolocaldeaprendizadopelainteração( learning-by-interacting). Tais benefícios são apropriados pelo con-juntodosprodutores,mesmoquedeformaassimétrica, deacordocomacapacidadedecomandodacadeialocal (eglobal)deprodução.
Essas externalidades são o que Marshall (1985), em suaanálisedosdistritosindustriaisnaInglaterranofinal doséculoXIX,chamouderetornoscrescentesdeescala, quesãoexternosàfirma,masinternosaosistemalocal. Osretornoscrescentesdeescalaemergemdascondições deespecializaçãodosagentesparticipantesdoprocesso dedivisãosocialdotrabalho,proporcionandoàsunida-desenvolvidasganhosdeescala.Assim,aaglomeração de produtores especializados é capaz de atrair outras empresas que atuam na mesma indústria ou de setores correlatosedeapoio.Krugman(1998)chamaaatenção paraaexistênciadeforçascentrípetas,decaráterexclusi-vamentedemercado,queatraemnovasatividadesparao sistemalocal.Eessacapacidadedeatraçãodenovasem-presasacabaconfigurandoumaestruturaprodutiva,em queosagentesexecutamtarefasespecializadas,intensifi- candooprocessodedivisãodotrabalhoentreosprodu-tores.Nessesentido,paraMarshall(1985),asvantagens derivadas da concentração geográfica estão associadas comosganhosdeorganizaçãodecorrentesdamaiorinte-graçãoentreosagentes.
Além das economias externas, deve ser ressaltada a importância das ações conjuntas deliberadas (Schmitz, 1997).A concentração das empresas em aglomerações industriais é capaz de proporcionar um maior escopo para o estabelecimento de ações conjuntas deliberadas,
quesetransformamemimportantesganhosdecompeti-tividadeparaasempresasesãoresultadodeconstruções sociaisespecificasdosagenteslocais.E,apartirdoreco- nhecimentodequeaseconomiasexternasnãosãopura-menteincidentais,masconstruídassocialmente,Schmitz (1997)apresentaoconceitodeeficiênciacoletiva,como intuitodereunirasfontesdasvantagenscompetitivasdos produtoresaglomerados.
Scott (1998) enfatiza ainda que os atores locais têm papelfundamentalnaarticulaçãocomopoderpúblico, nabuscadeauxílioparamelhoriadascondiçõescompe- titivasdosprodutoresaglomerados:infra-estruturaebus-cadesoluçõesparaproblemasespecíficos.Aformade atuaçãodopoderpúblicoéespecificaàscaracterísticas daestruturaprodutivalocaleàsrotinaseprocedimentos dosagentes.
Em muitos casos a competitividade dos produtores emSLPsestábaseadaemfatorescomoocustodamão-de-obraouoacessoprivilegiadoàmatéria-prima,típicas vantagenscompetitivasdecaráterestático.Todavia,es-ses fatores não são sustentáveis ao longo do tempo, já quetendemaseranuladoscomopassardosanos.Nesse sentido,asexperiênciasbrasileiraseinternacionaisbem-sucedidasdeSLPsmostramacapacidadedosprodutores emsustentarsuasvantagenscompetitivasemfatoresdi-nâmicos, relacionados fundamentalmente com a inova- çãoeainteraçãoentreosagenteslocais,incluindotam-bém organismos de apoio, e o setor público (Belussi e Gotardi,2000;Lombardi,2003).
Portantoasanálisessobresistemaslocaisdeprodução enfocam,commaioroumenorgrau,asduasprincipais vantagens que surgem da aglomeração: as economias externaseasformasdecooperação,privada(estabeleci-dasdeliberadamenteporempresaseinstituições)oupor meiodepolíticaspúblicasespecíficas.
3.Coordenaçãoemsistemaslocaisde
produção
Nas análises sobre os sistemas locais de produção, poucossãoosestudosqueincorporamosefeitosdosvín- culosnão-locaisquesãoestabelecidospelosagentes.Po-rémparecefundamentalanalisaresseponto,jáquepode condicionar a forma de atuação das empresas locais. Nessesentido,umaformadeanálisedessefenômenoé peloestudodoformatoedaorganizaçãodascadeiaspro-dutivasglobais,jáquesistemaslocaisdeproduçãosão capazesdeproporcionarvantagensnãoapenasàsempre- sasaglomeradas,mastambémagrandescompradoresin-ternacionais,quealiencontramprodutorescomelevada capacidade competitiva.A questão que se coloca nesse sentidoéacapacidadedeapropriaçãodessasvantagens competitivaspelosprodutoreslocais.
coman-do(governança)queseverificanacadeiaprodutiva,para identificarcomoosbenefíciosdaconcentraçãogeográ-fica são apropriados entre os produtores locais e agen-tesexógenosaosistema(comoosgrandescompradores globais).
Váriassãoasformasdecomandolocalquepodemser estabelecidasparaacoordenaçãodasatividadesprodu-tivasentrefirmas.Umaéosistemacentro-radial,quese configuraquandoháumclarocomandodeumagrande empresalocalcoordenadoradasatividadesdeváriospro-dutoresdepequenoemédioporte.Nestecaso,aempresa líderéquemseapropriadamaiorpartedosbenefíciosda cooperação(Markussen,1995).
Hátambémacooperaçãobilateralvertical,quesedá quandoempresasinovadorasbuscam,pormeiodacoo- peração,diminuirosciclosdeinovaçãoeassimconquis-tam vantagens competitivas preciosas para sua atuação nomercado.Jáacooperaçãohorizontalbilateralocorre quandoempresasconcorrentessejuntamparadesenvol-verumtrabalhoespecífico.
Verificam-seaindaformasdecooperaçãoeiniciativas coletivas que envolvem diversos agentes e organismos públicoseprivados.Entreelaspodemserverificadasas açõesmultilateraishorizontais,emqueorganismospúbli- cose/ouprivadoscoordenamprojetossetoriais,queen-volvemaparticipaçãodeváriasempresasconcorrentes, easmultilateraisverticais,emquecooperaminstituições eempresaspertencentesacadeiasprodutivasdiferentes, apartirdoestabelecimentodeinteraçõesmaisdensasdo queumasimplesrelaçãocomercial.
Emtodasasformas,ficaclaroopapeldeformasdego-vernançalocalparaoincrementodacompetitividadedos produtores.Asaçõesconjuntasdeliberadaseasformas de governança que as sustentam exercem papel funda-mental,paraainserçãoprodutivavirtuosadosprodutores localizados.Asformasdegovernançalocal,quelevamà maiorcooperaçãoentreosprodutoreseaoincrementoda competitividadedosistema,podemserestabelecidaspor entidadesprivadasoupúblicasou,ainda,pelacombina-çãodeambas.Porém,muitasvezes,verificam-seformas híbridasdegovernança.
Aexistênciadeformasdegovernançanasinterações entreosagenteslocaisnãoécapazdeeliminarasassi-metriasdepoderentreasempresas.Aocontrário,muitas vezes,reforçaalgumasdessasdiferenças,eaquelesque detém ativos estratégicos da cadeia produtiva local se apropriamdemaisvantagensqueoutrosintegrantes.
4.Governançadascadeiasprodutivas
globais
O processo de desverticalização das grandes empre-sas ensejou o aparecimento de uma nova configuração
daproduçãoindustrial.Tornou-sepossíveldescentralizar operações detendo apenas as funções corporativas su-periores,queproporcionamaapropriaçãodemontantes maisexpressivosdovalorgeradonosprocessosdepro-duçãoecomercializaçãodasmercadorias.Alémdisso,a possedessesativos-chavepermitequeasempresasexer-çamopapeldecoordenadoras(governadoras)dacadeia desuprimentos(Sturgeon,2002;Furtado,2003).
Paraaanálisedessasnovasformasdeorganizaçãoda cadeiaprodutivaglobal,umaparatoconceitual,bastante adequado,éaabordagemdeGereffi(1999)acercadasca-deiasprodutivasglobais(ouGlobalCommodityChains), que identifica a governança global da cadeia, ou seja, quemrealizaaintegraçãofuncionaleacoordenaçãode atividadesinternacionalmentedispersas,especificandoe monitorandoaperformancedosprodutores.Estereferen-cialpodeserutilizadoparacaracterizaraestruturaglobal dascadeiasprodutivasdeindústrias,comoadecalçados emóveis.Comessearcabouço,épossívelcompreender as possibilidades de desenvolvimento competitivo das empresaslocaisapartirdoseventuaisfomentosoures-trições,quesãocolocadospelosdetentoresdocomando dascadeiasglobais.
Os ativos-chave nestas cadeias são basicamente co-merciais.Acapacidadedecomandoestáligadaaofato daempresadeterocontatocomomercadoconsumidor, ouseja,determarcaforteeestabelecidaoucanaispró-priosdecomercializaçãoedistribuiçãodosprodutos.A essas capacitações, adicionam-se habilidades nas áreas deplanejamentoedesenvolvimentodeprodutosedesign enogerenciamentodeumarededeprodutoresgeografi-camentedispersa.
Vale observar que Lombardi (2003) apresenta uma soluçãodistintaparaoproblemadasinteraçõesentreos produtoreslocaiseosmercadosdistantes.Paraesseau-tor,aexistênciadeconcentraçãoentreosprodutoresnão eliminaanecessidadedeatoresquefazemaligaçãoentre ascapacitaçõesdosistemalocaleademanda–oqueele chamadefinalfirms.Essesatoressãoresponsáveispela buscadeinformaçõessobreademandaeasrepassamaos produtoresnossistemaslocais.Porématransmissãodas informaçõessedádeformahierarquizada,jáquesãore-passadasapenasinformaçõesparametrizadasdecaráter tecnoprodutivo,oquelhespermitecomandarosistema local,alémdebeneficiar-sedaconcentraçãodosprodu-tores.
,eto- dasasespecificações.Muitasvezesnãopossueminstala-çõesfabris,masfazemomarketingeacolocaçãodestes produtos nos mercados, e adquirem a produção em es-truturas produtivas globalmente dispersas. Porém, para que os grandes compradores estabeleçam este tipo de relaçãocomasfirmas,sãonecessáriosinvestimentosnas relaçõescomasempresaseatéfomentodeumproces-sodeaprendizadoentreosprodutoreslocais,nasáreas tecnoprodutivas.Nasestruturasprodutivas,nasquaisos grandescompradoresadquirem,oumelhor,encomendam asmercadorias,elesestabelecemestruturasdeapoio,no intuitodegarantirqueascondiçõesacordadasedetermi-nadassejamcumpridas.
Esse é um dos motivos que faz com que os grandes compradoresinternacionaisoptemporadquirirasmerca-doriasemsistemaslocaisdeprodução,ondeoscustosde estabelecimentoemanutençãodessasestruturaspodem sercompartilhadosentreumgrandenúmerodepequenas emédiasempresas,fornecedorasdegrandeslotesdepro-dutos(Garcia,2003).
Doladodosprodutores,aexistênciadessasestruturas deprestaçãodeserviçosécapazdefomentarumproces-sodeaprendizadolocal.Ainteraçãocomosresponsáveis pelomonitoramentodaproduçãofazcomqueasempre-saslocaisdesenvolvamcapacitaçõesimportantesnassuas funçõesprodutivas,oquecontribuiparaoincrementode suacapacidadecompetitiva.Gereffi(1999)afirmaainda queainteraçãoprodutoresecompradoresglobaisoferece formasparaqueosprodutoreslocaisalcancemprocessos dedesenvolvimentodefunçõesprodutivas(upgrading), inclusivenasáreasdedesenvolvimentodeproduto, de-sign,marketingemarca,quesãoosativosprincipaisdos compradores. Entretanto, não é isso que vem demons-trandoaexperiênciadeSLPsnoBrasil,jáquesãoraros os casos de estruturas produtivas inseridas nas cadeias globais,nasquaisosprodutoresforamcapazesdedesen-volvercapacitaçõesnasfunçõescorporativassuperiores. Odesenvolvimentodosprodutoresficarestritoàesfera tecnoprodutiva, com ganhos expressivos em termos de produtividadeemelhoriadeprocessosedaqualidadedos produtos,mascomreduzidosefeitosdinâmicosemter-mosdodesenvolvimentodeprodutose,principalmente, dacomercialização.
Assim,seosprodutoresbrasileirosalmejaremmaior qualificaçãoemfunçõescomerciais,paraseapropriarem demontantesmaisexpressivosdovalorgeradopelaca-deia,elesdevemseorganizarebuscaresteobjetivode formaestruturada,intencionaleaberta.Ouseja,deveser umametaaserperseguidapelosagenteslocaisconscien- temente,oupormeiododesenvolvimentodeaçõescon-juntas,oqueenvolveacriaçãodecentrosdetecnologia, formaçãodeassociaçõesdenegócios,etc.,oupelaação
deumaempresalíderquerealizeosinvestimentos,com-partilheoscustoserepasseosbenefíciosàsuaredede fornecedores.Destaforma,ageraçãodeaprendizadoe de melhorias em um SLP está diretamente associada à formadagovernançalocal,que,porvezes,devesuperar asbarreirasimpostaspelagovernançaglobalquenãotem interessequeosprodutoreslocalizadosdesenvolvamtais habilidades. Esta é a principal hipótese deste trabalho, e que é explorada por meio de dois estudos empíricos distintos,aindústriadecalçadosdeFrancaeademóveis emBentoGonçalves.
5.Procedimentosmetodológicos
Parasealcançarosobjetivospropostos,foramrealiza- dosestudosmulti-casosemdoissistemaslocaisdepro-dução,naindústriabrasileiradeduascadeiasprodutivas distintas,aindústriadecalçadosdeFranca,noEstadode SãoPaulo,eaindústriademóveisdeBentoGonçalves, noEstadodoRioGrandedoSul.
Ossistemaslocaisinvestigadosatuamemsetoresdife-rentes,porémaconfiguraçãodepoderdeambasascadeias éparecida,jáqueoelocoordenadorédoscompradores. Nesse sentido, o estudo realizado buscou compreender a forma de desenvolvimento da estrutura produtiva lo-cal,asestratégiasutilizadaspelasempresas,opapeleo pesodasinstituiçõeslocais,asformasdeinteraçãocom oscompradoreseosreflexosdestasrelaçõesinternase externas sobre o desenvolvimento local. Estas questões foramexploradasnãoapenasjuntoàempresasproduto-ras,mastambémainstituiçõesdeapoioaosprodutores.
A pesquisa de campo foi realizada por meio de en-trevistascomexecutivosdasempresas,ouempresários, ecomdirigentesdasinstituiçõesdeapoio,oqueperfez umtotalconsolidadode65entrevistasemempresas,sen- do30emFrancae35emBentoGonçalves.Procurou-se abarcar empresas de diversos tamanhos e formas de atuação,demodoaelevararepresentatividadedaamos-tra.Alémdisso,foramvisitadastodasasinstituiçõesde apoioaosprodutoresqueatuamemcadasistemalocal. Pormeiodessasvisitas,foipossívellevantarumconjunto dedadoseinformaçõesquesãoapresentadasediscutidas naspróximasseçõesesustentamasprincipaisconclusões destetrabalho.
Parainvestigarahipóteselevantada–eapresentadana seçãoanterior–,foramdefinidostrêsconjuntosdevari- áveisqueforamobjetodolevantamentoempírico,apon-tadasaseguir:
1.Formasdeinserçãodosprodutoresnomercado(domés-ticoeinternacional):mercadosemqueatuam,forma decomercialização,meiosdeprospecçãodemercado, comercialização;
repassadasaosprodutores(demanda,desenvolvimento deproduto,tecnoprodutivas);e
3. Interação e aprendizado entre os produtores locais: formasdeinteração,fluxosdeinformaçõeseconheci-mento,interaçõesusuário-produtor,papeldoscentros deapoioeprestaçãodeserviços.
Aaplicaçãodessasvariáveisnoscasosselecionados, queéapresentadanaspróximasseções,permitiuverificar aformadegovernançalocaleopapeldasinteraçõescom omercadodomésticonaimpressãodemaiordinamismo entreosprodutoreslocais.
6.AIndústriadecalçadosdeFranca
Aestruturaprodutivadaindústriadecalçadosbrasilei-ra,emconvergênciacomasexperiênciasinternacionais mais importantes, caracteriza-se pela conformação de sistemas produtivos locais como forma de organização daprodução.Nocasobrasileiro,diversasdessasaglome- raçõespodemserencontradas,masduasdelassedesta- cam:aregiãodoValedosSinos,noEstadodoRioGran-dedoSul,queconcentraumvastoconjuntodiversificado deprodutoresecomcertaespecializaçãonafabricação decalçadosfemininos;earegiãodeFranca,nointerior doEstadodeSãoPaulo,quepossuidimensõesmaismo-destaseconcentraprodutoresdecalçadosmasculinosde couro.
Emambasexperiências,verifica-seumaestruturapro-dutiva na indústria de calçados bastante completa, que conta com a presença de diversos segmentos ligados à cadeia coureiro – calçadista, assim como de indústrias correlatasedeapoio,comofornecedoresdemáquinas, equipamentosecomponentesparacalçados–comofa-bricaçãodeadesivoseselantes,deartefatosdeborracha edeacessóriosparacalçados.
NocasoespecíficodeFranca,estimativasdaassocia-ção local dos produtores indicam a existência de cerca de400empresasprodutorasdecalçados(dadosdoSin- difranca).DadosdaRAIS/MTEde2001mostram,toda-via,quehaviaumtotalde23.500pessoasformalmente empregadasem1.458estabelecimentosemtodaacadeia couro/calçados, o que representa algo em torno de 7% doempregototalnoBrasilecercade10%daprodução doméstica. Desse contingente total de trabalhadores, 16.500 estavam empregados na atividade de fabricação decalçadosdecouro,oquecomprovaaforteespeciali-zaçãolocal.Alémdisso,oreduzidotamanhomédiodas firmaslocaisdenotamapresençaexpressivadeempresas de pequeno e médio porte na estrutura produtiva local (Suziganetal.,2001b).
Comointuitodeinvestigarasformasdegovernança
existentesnosistemalocaleopapeldasinteraçõesglo-baisparaaconformaçãodoesquemadecoordenaçãoda cadeialocal,seráaplicadoaqueleconjuntodevariáveis definidonaseçãoanterior.
Em primeiro lugar, serão investigadas as interações endógenasaosistemalocal.Comoéamplamenteapon-tadonaliteratura,aaglomeraçãodosagentesécapazde proporcionar diversos benefícios aos produtores, dadas as externalidades, incidentais ou deliberadas, que da aglomeraçãosãogeradas.
NocasodeFranca,apesquisadecampomostroucla-ramenteaimportânciadaseconomiasexternasdecaráter incidental, como a presença de trabalhadores qualifica-dos e com habilidades específicas ao sistema local.As empresas têm custos muito reduzidos de recrutamento, seleção e treinamento de pessoal, já que há um amplo contingente de trabalhadores qualificados. Outro ponto notado diz respeito à presença de empresas fornecedo-ras de máquinas, equipamentos e de componentes para afabricaçãodecalçados,comojáfoiapontado.Acon-centração geográfica e setorial de produtores foi capaz deatrairindústriascorrelatasedeapoio,quetambémsão beneficiadas pela proximidade com seus usuários. Isso representa uma vantagem competitiva importante para os produtores locais, pois permite que as empresas te-nham acesso mais facilitado e custos mais reduzidos a insumoseserviçosdoqueseestivessemforadosistema local.Porfim,tambémpodemserverificadosexpressivos efreqüentestransbordamentos(spill-overs)tecnológicos edeconhecimento,quesemanifestampelafacilidadee pelavelocidadedecirculaçãodasinformaçõesentreos agenteslocais.
Porém,adespeitodaimportânciadaseconomiasex-ternas incidentais, os produtores de Franca pouco se aproveitam do elevado escopo para o estabelecimento deaçõesconjuntas,jáquesãoverificadaspoucasações coletivasdeliberadas,queteriamoefeitodeelevarainda maisacapacidadecompetitivadasempresas.
comosubcontratadosdasempresasdecalçados.
Essaestruturaprodutivaheterogêneaecomplexagera elevadasassimetrias,queresultamemumadesigualca-pacidadedeapropriaçãodosbenefíciosquesãogerados pelaaglomeraçãodosprodutores.Grandepartedaspe- quenasemédiasempresaslocaiséincapazdeapropriar-se de parcelas mais significativas do valor gerado ao longodosprocessosdeproduçãoedistribuiçãodasmer-cadorias,mesmoquandoatuamnomercadodoméstico. Suasestratégias,muitasvezes,sãosufocadaspelaação dasgrandesempresaslocaisepelosseusfornecedores.
Essacaracterísticadaestruturadegovernançadosis- temalocalestáassociadabasicamenteàformaderela-cionamentodosistemalocalcomomercado–outradas variáveisdefinidasnainvestigaçãodaestruturadegover-nança.Apenasalgumasdasempresaslocaissãocapazes defazeraligaçãoentreosprodutoreslocaiseademanda externae,assim,sãocapazesdehierarquizarasinforma- çõesquesãotransmitidaspelosprodutoreslocais.Nes-sesentido,essasfirmasrepassamaosprodutoresapenas informações parametrizadas de caráter tecnoprodutivo. Aspequenasempresas,porseuturno,nãoconseguemter acessoainformaçõesdemercado,quesãohierarquizadas pelosagentescoordenadores.Naverdade,essasinforma-çõesacabamsendocapturadaspelasempresasmenores, por causa da existência de efeitos de transbordamento muito poderosos. Porém, isso ocorre com uma defasa- gemtemporalrelevante,quegaranteasvantagenscom-petitivasdasgrandesempresas.
Outracaracterísticadanosadaestruturadegovernança paraodinamismodosistemalocaléadificuldadeencon-tradapelosagentesemestabeleceraçõesconjuntasentre si.Diversasiniciativasconjuntasdeempresasdepeque-noemédioporteforamrapidamentesufocadaspelaação dasgrandesempresaslocaisepelosseusfornecedores. Umainiciativainteressantefoiadeumgrupode30pe-quenasempresas,queficoulocalmenteconhecidocomo G30,quetentou,háalgunsanos,criarumconsórciopara compradeinsumosestratégicos,taiscomosoladoseade-sivos,emmelhorescondiçõesdenegociação.Oelevado poder de barganha dos fornecedores locais de adesivos e solados fazia com que os pequenos produtores tives- semumadesvantagemcompetitivanessaárea,jáquera-ramenteconseguiamcomprartaisinsumosnasmesmas condiçõesqueseusconcorrentesdegrandeporte.Entre-tanto,essainiciativacoletivadaspequenasempresasteve curtaduração,jáqueagrandeempresalocalfornecedora deadesivosdesestruturouoconsórciopormeiodeuma estratégiasimples:passouaprocurarcadaumadaspe-quenasempresasdoG30oferecendopreçosmaisbaixos doqueonegociadocomoconsórcio.Comisso,ospe-quenos produtores de calçados abandonaram o consór-cio,inviabilizando-orapidamente.
Casos como esse revelam a dificuldade que as pe-quenas e médias empresas encontram para estabelecer ações conjuntas, já que existem interesses contrários a taisaçõesentreagentesqueparticipamdosistemalocal. A ação das grandes empresas, muitas vezes, impede o estabelecimentodeiniciativascoletivasdasempresasde pequeno e médio porte com objetivo de melhorar suas condiçõescompetitivas.
Oprincipalmotivopeloqualasaçõesconjuntasnão sãocontinuadaspelasempresaslocaiséodequeasgran-desempresas,queassumemopapeldecoordenadoresdo sistema local, não têm interesse no estabelecimento de açõescoletivasquebeneficiemosistemaprodutivocomo umtodo,especialmentequandoosprincipaisbeneficiá-riosdessasaçõessãoasempresasdepequenoemédio porte.Essesprodutoressão,naverdade,seusconcorren-tesnomercadodoméstico,jáquedisputamamesmafatia dademandainterna.Alémdomais,dopontodevistadas pequenasempresas,ofracassodetentativaspassadasde estabelecimentodeaçõesconjuntasfazcomqueospro- dutoressetornemaindamaisresistentesaoutrasiniciati-vas,comofoidiversasvezesapontadopelosempresários entrevistados.
Outroelementoimportante,determinantedaestrutura decoordenaçãodosistemalocal,éomododainteração dasempresasdosistemalocalcomademandaexterna,o quesignificaobservaraformadeinserçãodasempresas locaisnomercadointernacional.Valeobservarqueaca-deiaglobaldeindústrias,comoadecalçados,ébastante semelhanteaoesquemaapresentadoporGereffi(1999) de uma cadeia comandada pelo comprador, cujo papel éassumidopelasgrandeslojasdevarejoestadunidenses eeuropéias,quepossuemacessoaosgrandesmercados mundiaise,porisso,sãocapazesdecomandaracadeia deproduçãoedistribuiçãodasmercadorias.
Osprodutoresbrasileirosdecalçadosvêmparticipan-dodessascadeiasinternacionaisdesdeoiníciodadécada de 70, quando as empresas assumiram o papel de for-necedores de sapatos masculinos (a partir de Franca) e femininosdecouro(apartirdaregiãodoValedosSinos) aessesgrandescompradores.Issorepresentouparaain-dústriabrasileiradecalçadoscomoumtodo,eparaade Francaemparticular,umfortedinamismo,inclusivecom avançossignificativosnaesferadaprodução.Ainteração comosgrandescompradoresmundiais,naverdadecom osescritóriosdecomércio(agentesexportadores)quefo- rammontadosnoBrasil,proporcionoumelhoriasimpor-tantes em termos de tecnologia de processo, qualidade dosprodutoseprazosdeentrega.
demandaeàstendênciasdomercado,ficamrestritasaos agentesglobais.Umaprovaclaradissoéque,emcon-trastecomosavançosnaesferaprodutiva,asempresasde Francainseridasnascadeiasinternacionaisapresentaram progressospoucosignificativosnasesferasdacomercia-lizaçãoedodesenvolvimentodeprodutoedesign,áreas quejustamentesãoasmaioresgeradorasdevalornaca-deia de produção e distribuição de calçados.A presen-çadosagentesexportadores,representantesdosgrandes compradoresmundiais,inibiu(ouimpediu)avançosmais substantivosnessasáreas.
No que se refere à comercialização, os produtores apenasfornecemocalçadoaoagenteexportador,quese ocupadetodooprocessodedistribuiçãodosprodutos. Raramenteamercadoriaévendidacomamarcadofa-bricante,eatéainscrição“MadeinBrazil”apareceem localpoucovisível.Jáemtermosdedesenvolvimentode produtoedesign ,osprodutorespraticamentenãoman-têmessaatividadeinternamente,jáqueaconcepção,o modeloe,muitasvezes,oprópriopreçodocalçadoaser produzidosãodefinidospelocomprador,querepassaas informaçõesaosprodutores.Assim,osdepartamentosde desenvolvimento de produto das grandes empresas ex-portadorasdeFrancaseresumem,namaioriadasvezes, aalgunspoucosprofissionais“modelistas”,queapenas adaptamosmodelosencomendadospelosgrandescom- pradoresaoprocessoprodutivo,conferindo-lhesmanufa-turabilidade.
Oresultadodissoéqueasempresasprodutorasdecal-çadosdeFrancasesujeitamaosinteressesdosgrandes compradores internacionais, que determinam todos os atributosdoproduto,inclusiveoseupreço.Asempresas locaissetornamassimincapazesdevenderseupróprio produto,jáquetêmdeatendertodasasespecificaçõesdo comprador.Issodecorredaformadeinserçãodaindús-triacalçadistalocalnacadeiaprodutivaglobaldosetor, emqueosprodutoresbrasileirosseencontramemuma posição de completa subordinação aos comandantes da cadeiaprodutiva,osgrandescompradoresinternacionais easempresasdecomércio(tradingcompanies)queos representam.
Esse ponto fica claro na análise comparativa entre empresasqueatuamnomercadoexternoeaquelasque atuam no mercado doméstico. Como foi verificado na pesquisadecampo,háumaclaraassociaçãoentreodes-tinodaprodução,mercadodomésticovs.internacional, easatividadesdedesenvolvimentodeprodutoedesign: as empresas que destinam seus produtos, predominan-temente, ao mercado doméstico possuem atividades de desenvolvimentomuitomaisdensasdoqueaquelasque vendem no mercado internacional. Isso revela que, em contrastecomosavançosnaesferaprodutiva,asempre-
sasdeFrancainseridasnascadeiasinternacionaisapre-sentaram progressos pouco significativos nas esferas do desenvolvimento de produto edesign, e também na comercialização, tarefas que são realizadas pelos com- pradores.Apresençadosagentesexportadores,represen-tantesdosgrandescompradoresmundiais,inibiuavanços maissubstantivosnessasáreas.
Portanto,nota-sequeaaglomeraçãodosprodutoresde calçadosnacidadedeFranca,edeindústriascorrelatase deapoio,tempapelimportantenageraçãodevantagens competitivas aos produtores locais. Todavia, existe um claroespaçoparaumamaiorinteraçãoentreosagentes,o quepossibilitariaaextraçãodebenefíciosaindamaiores paraoconjuntodosprodutoreslocais.
7.AIndústriademóveisdeBentoGon-çalves
AproduçãodemóveisnoBrasilestáconcentradanas regiões Sul e Sudeste e é voltada basicamente para o mercadodoméstico.Dentreasprincipaisregiõesprodu-toras,queseorganizamnaformadesistemaslocaisde produção, duas aglomerações de empresas destacam-se pelovolumedeproduçãoepelaparticipaçãonasvendas externas:SãoBentodoSul,noEstadodeSantaCatari-na,eBentoGonçalves,noEstadodoRioGrandedoSul. EsteestudoanalisouoSLPdeBentoGonçalves,especia-lizadonaproduçãodemóveisretilíneosfabricadoscom painéisdemadeirareconstituída,equedestinaemtorno de30%daproduçãoparaomercadoexternoe70%para omercadointerno(Sindmóveis,2003).
No SLP de Bento Gonçalves, assim como em São Bento do Sul, há diversas empresas produtoras de mó-veisetambémempresasdeoutrossegmentosindustriais, queseligamàcadeiamoveleirapormeiodofornecimen-to de componentes, acessórios, partes, equipamentos e prestaçãodeserviços.Portanto,sãoestruturasprodutivas expressivaseintegradas,capazesdeconferirvantagens competitivasparaosprodutoreslocais.
BentoGonçalveséumaregiãoquevemsededicandoà produçãodemóveisdesdeoséculoXIX,apartirdacolo- nizaçãoitaliana.Porém,ograndeimpulsofoidadoapar-tirdadécadade70,quandoosistemalocalestruturou-se eganhoufortedinamismo,oquepermitiuaosprodutores alcançaremníveistecnológicosedecompetitividadebas-tanteelevados(Coutinho,2000).Em2001,acidadede BentoGonçalvesrespondiaporaproximadamente9%da produçãobrasileirademóveisepertode6%dasexporta-çõestotais(Sindmoveis,2003).
iden-tificadas e descritas anteriormente (nos procedimentos metodológicos).
Destemodo,épossívelnotarque,aocontráriodosis- temalocaldecalçadosdeFranca,noSLPdeBentoGon-çalvesverificam-senãoapenasaseconomiasexternasde caráterincidental,jáquealgumasaçõesconjuntasimpor-tantestêmsidoestabelecidaspelosagenteslocais,oque contribuiparaoincrementodecompetitividadedospro-dutores. Estas ações foram governadas pelas entidades locaisdeapoioaosprodutores,queasarticulamcomas empresaseasdiferentesesferasdopoderpúblico,além deoutrasinstituiçõesdefomentodopaís.
Primeiramente serão analisadas as interações entre as empresas locais. Como já foi previamente descrito, o SLP é formado por empresas de distintas indústrias relacionadascomosetormoveleiro,oqueproporciona o surgimento de diversas economias externas de cará-terincidental.Apesquisadecampomostrouquetodas asempresasadmitemaimportânciadalocalizaçãopela proximidade com fornecedores, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, e ficou evidente a ocorrência freqüentedespill-overs tecnológicosedeconhecimen-to.Valeressaltaraquiquecincoempresasanalisadasna amostra nasceram de desdobramentos dos negócios de grandesempresasdolocal.Asempresasnascentessão, invariavelmente, resultados de especialização, visando suprirnecessidadesdefornecimentodemateriais,equi-pamentoseserviçosespecíficos.
Nos últimos cinco anos, além das vantagens ineren-tesàaglomeração,asassociaçõeslocaistêmarticuladoe viabilizadoprojetosdeaçõesconjuntasentreempresase instituições.Istoéresultado,porumlado,dainduçãode algunsprogramaseprojetosfederaiseestaduaisdeapoio às atividades produtivas que tinham como foco a coo-peraçãoe,poroutro,pelaatuaçãodogerenteexecutivo dasentidades,quevêmconcretizandoaarticulaçãolocal paraaimplementaçãodosprojetos.Umadasrazõesdo sucessodaimplementaçãodessasaçõeséaconfiguração daestruturaprodutivalocaleaformadegovernança.
AssimcomonocasodeFranca,aestruturaprodutiva dosistemalocaldeBentoGonçalvesécaracterizadapela heterogeneidadeentreosagentes.Noentanto,épossível observaralgumasdiferençasimportantesnasformasde açãodosagenteslocais.
AestruturaprodutivadosistemalocaldeBentoGon-çalvesécaracterizadaporalgumasempresasdegrande e médio porte. Essas empresas normalmente atuam no mercadoconsumidorcommarcasprópriasepontosex- clusivosdecomercialização.Emtermosdeprocessopro-dutivo, essas empresas realizam todas as fases interna-mente,eascomprasdepartesedeserviçosdeterceiros raramente atingem valores expressivos em relação aos custosdeprodução,oqueastornamuitopoucodepen-dentesdosfornecedoreslocais.
Emconjuntocomessasempresasmaiores,convivem diversaspequenasemédiasempresasqueproduzempro-dutos padrão e de baixo valor agregado – e com mar-gensderentabilidadeigualmentereduzidas.Aformade comercialização utilizada é normalmente o varejo con-vencional.Verifica-seaindaumcontingenterazoávelde microempresasqueatuamcomofornecedoresdecompo-nentesparaasempresasnãoverticalizadas.
Essaestruturaprodutivaheterogêneafazemergir,no sistema local, empresas com capacidade de comando dasinterações,queocorrementreosprodutores.Porém, diferentementedoqueocorreemFranca,apesquisade campo em Bento Gonçalves identificou algumas ações conjuntas importantes, coordenadas pelas entidades de apoioaosprodutoreslocais.
Amaioriadasaçõestrouxebenefíciosparaosistema comoumtodo,comoaimplementaçãodocursodeTec-nologia em Produção Moveleira na Universidade local (UCS/FERVI),quetemcomoobjetivoprincipalformar recursoshumanosemnívelsuperiorparaaindústria.A parceria entre a Universidade e empresas possibilitou melhores condições para a adequação entre a demanda daindústria,porforçadetrabalho,eamontagemdaes- truturadocursodeformação,inclusiveasuagradecur-ricular.
Hátambémumhistóricorecentedeaçõesdecoope-ração multilateral. Dois projetos específicos merecem destaque.
Oprimeirodeleséochamado“CentroGestordaIno- vação”(CGI),quetemointuitodeincrementaracom-petitividade dos produtores de Bento Gonçalves nas áreasdedesignedeserviçostecnológicos,pormeioda prestaçãodeserviçosdiferenciadosedacapacitaçãodos produtores. Este projeto foi desenvolvido pela SEDAI (SecretariadeDesenvolvimentoedosAssuntosInterna-cionaisdoEstadodoRS)juntamentecomasentidades Sindmóveis, Movergs (Associações de Classe), Senai/ CETEMO (Centro Tecnológico), UCS (Universidade). Algunsresultadosjáforamproduzidos,masoritmode atividadeaindarevela-sepoucodinâmico.
Além dessas ações, destaca-se ainda o SEBRAEX-PORT,umconsórciodeexportaçãoqueatendeadiversas empresasdetodooEstadodoRioGrandedoSul,sendo partedelasdaregiãodeBentoGonçalves,eaAFECOM (Associação dos Fabricantes de Estofados e Móveis Complementares),cujointuitoeraacoordenaçãodeini-ciativas coletivas voltadas aos produtores locais desses segmentos.
Depreende-se assim o papel importante das institui- çõesdeapoioaosprodutores,comdestaqueparaasini-ciativasdecoordenaçãodeaçõesconjuntas,voltadasao incrementodacompetitividadedasempresas.Éinteres-santenotarqueessasaçõesacabamsucedendo-seumas àsoutras,muitasvezes,complementandoseusobjetivos esuaabrangência.Tambémsedestacaaatuaçãoconjunta eintegradadasprópriasentidades,voltadasparaapro-moçãodemaiorintegraçãodacadeia,contribuindopara oincrementodaespecializaçãodosprodutoreslocaise para a intensificação das economias externas locais.A existênciadetaisaçõesconjuntasédecorrente,portanto, dacoordenaçãoexercidapelasentidadeslocais.
Outrofatorreveladopelainvestigaçãoempíricaéque asempresasmaioresdosistematambémtêmsebenefi-ciadodasaçõesconjuntasimplementadas.Porexemplo, oSEBRAEXPORTcontacomaparticipaçãodetodasas grandesempresaslocaise,dentreasempresasvisitadas, elasdeclararamquealcançaramalgumtipoderesultado pormeiodaparticipaçãonoprojeto,comoaumentodos contatos,expansãodasvendasexternas,compreensãoda formadefuncionamentodedeterminadosmercados,en-treoutros.Alémdisso,nãofoiidentificadoalgumtipode restriçãodecisivaàsiniciativasdessanatureza.Portanto as ações implementadas no local são governadas pelas instituiçõeslocais,queconseguemaadesãodediversas empresas de vários perfis, e cujos projetos têm gerado resultadosedinamismoentreosagentes.Aliás,valeres-saltarqueosucessodosprogramasnormalmenteenseja novas iniciativas, que vão abarcando um número cada vezmaiordeprodutores,oquerevelaoseuefeitoessen-cialmentedinâmico,voltadoaofomentodeumprocesso deaprendizadolocaleàconstruçãodenovascompetên-cias.
No que se refere à inserção dos produtores no mer-cado,observa-seapequenaparticipaçãodasexportações nasvendastotaisdasempresas.Issofazcomqueospro- dutorespoucoseutilizemdasoperaçõesdoscomprado-resglobais,natarefaderepassaraomercadoosprodutos locais.Aatuaçãodasempresasnomercado,nessesenti-do,vincula-secomodesenvolvimentodecanaispróprios decomercializaçãoedistribuiçãodoproduto,oquede-notaqueaconfiguraçãodaestruturaprodutivalocalesua reduzidainserçãonacadeiaglobaltêmefeitospositivos paraodinamismodosistema.
Detodomodo,percebe-sequetantoahierarquização
da circulação de informações, como o papel assumido pelos diferentes agentes, possui um caráter distinto na estruturadegovernançadosistemalocaldeBentoGon- çalves–emcomparaçãocomodeFranca.Acompreen-sãodessefenômenoébastanteimportante,poisacarreta diferençasimportantesnaformadeinserçãodosprodu-toresnacadeiadesuprimentosenasuacapacidadede apropriaçãodevaloraolongodoprocesso.Paratanto, foramidentificadosasformasdeaçãodasempresasno mercadointernoeexterno,osmercadosquesãoalcan- çadospelasempresaseoscanaisutilizadosparacomer-cialização.
Emtermosdacapacidadedeapropriaçãodovalor,a maior parte das empresas captura apenas uma pequena parte do valor gerado pela cadeia produtiva, por conta deduasrazõesprincipais.Deumlado,asempresaspro-dutorasnãoforamcapazesdeestabelecerligaçõesmais próximascomademandafinal,vistoqueosagentesco-ordenadores da cadeia, ou seja os compradores, é que desempenhamestepapel.Istosignificaqueasempresas moveleiras recebem instruções tecnoprodutivas prontas doqueproduzir,edesenvolvemsuashabilidadesquase queexclusivamenteemáreastécnicasrelacionadascom oprocessodemanufatura.Assim,asempresasnãocon-seguemterumavisãoclarasobreaceitaçãodosprodutos porpartedomercado,ocomportamentodosconsumido- reseastendênciasdemercado.Estasinformaçõesche-gamdesegunda-mãoparaosprodutores,ouviavarejo oupelosefeitosdetransbordamentodeinformaçõesdas empresas maiores, que têm este canal aberto. Nota-se que,emambososcasos,oscaminhossãoindiretos.Esta dependência do varejo leva as empresas a terem seus ganhos achatados, pois, de um lado, recebem pressão doscustosdamatéria-primadosgrandesfornecedores depainéise,poroutro,hápressãoporpreçosdovare- jo.Portantoéumaparticipaçãosubordinadaequede-pendedasestratégiasdefinidaspeloelocoordenadorda cadeia.
ambientes,dadasasdiversasevariadasopçõesdisponibi- lizadaspelaempresaprodutora.Estemercadofoidesen-volvidopelasempresasqueproduziammóveisseriados, mas que queriam atingir o consumidor final, que antes recorriaapequenosmarceneirosparadesenvolverproje-tospersonalizados.
Com esta forma de atuação, a indústria conseguiu atender a um segmento de mercado com maior poder aquisitivo, além de agregar uma gama de serviços aos produtos, o que aumentou as possibilidades de ganhos nomercado,aomesmotempoqueproporcionouredução decustoparaosprojetosdesenvolvidosparaosconsumi- dores–vistoqueproduzememescala,aplicandotecno-logiaavançada.Asempresasqueatuamdestaformasão asmaisrentáveisdosetor,aplicamrecursossubstanciais nodesenvolvimentodeprodutosedehabilidadescomer- ciaisenãocompetemcomasempresasprodutorasmeno-resqueatendemnichodebaixovaloragregado,portanto umperfildeconsumidordiferente.
Assim,asgrandesempresasnãosãoafetadascomo desenvolvimento do negócio das pequenas empresas, que,porseuturno,atuamcomlinhasdeprodutosmais padronizados.Asaçõesconjuntasestabelecidasegover-nadaspelasentidades,paraaumentaracompetitividade destasúltimas,nãorepresentamameaçaaonegóciodas empresasmaiores.
Outradistinçãoimportanteéaligaçãocomomercado externo,mesmoqueissoaindarepresenteparcelapouco significativadasvendastotais.Acomercializaçãosedá deduasformasmaisimportantes:asquesão“compra- das”,queatuamdemodoabsolutamentepassivonain-serçãonomercado;eaquelasquebuscamdiretamenteo mercado,procurandoestabelecerseuspróprioscanaisde comercializaçãoedistribuição.
As empresas que atuam com foco em exportação se aproximam da forma de atuação das empresas do SLP deFranca,poiselasnãoexportam,masosprodutos“são comprados”pelosagentesglobaisquedetêmasfunções corporativassuperiores,portantoestasempresasseapro-priam de pequena parte do valor gerado pela cadeia e, alémdisso,nãoconseguemterespaçoparabuscarmaio-rescompetênciascomerciais.
Comrelaçãoàoutraformadeatuação,ouseja,abusca do mercado externo diretamente, as empresas o fazem pormeiodealgunscanaisprincipais.Omaistradicional équandoasempresasrealizamprospecçõesembuscade clientes,mascomoresultadoestabelecemligaçõesindire-tascomomercadofinal.Istoocorrequandooimportador ficaassumearelaçãocomoconsumidorfinalcolocando suamarcanosmóveis,eosprodutossendoencomenda-dos com base nos desenvolvimentos suamarcanosmóveis,eosprodutossendoencomenda-dos importadores. Esta forma de relação acontece principalmente quando asempresasbuscammercadodeprodutospopularesede baixovaloragregado,quesãocomercializadospormeio
dasgrandesredesdevarejo.Nestecaso,arentabilidade daoperaçãovincula-seexclusivamentecomoseuvolu-me e a relação de subordinação ao comprador é muito expressiva.
Emoutroscasos,aligaçãocomomercadosedápor meiodeempresasdevarejomenores,emqueoprodutor écapazdeoperarcomprodutosqueforamdesenvolvidos internamente.Issoexige,noentantoodesenvolvimento decapacitaçãoemáreas“não-produtivas”,comoemter-mosdaconcepçãoedodesigndoproduto.
Aúltimaformadeligaçãoépormeioderepresentan-tes da empresa no mercado de destino. Nesse caso, os produtoresconseguemmaioresinformaçõessobreomer-cadoe,portanto,desenvolvemprodutosmaisadequados aosclientes.
Alémdestasformasdeligaçãocomomercadoexter-no,duasempresasdemédioporte,visitadasaolongoda pesquisaequetêmcomofocoomercadointerno,estão abrindolojasexclusivasnoexterior.Estaslojassãoaber- tascomabandeiradaempresa,oucomamarcadaem-presaassociadaàmarcadoparceiro.Estasexperiências ocorrembasicamentenaAméricaLatina,buscamadotar aestratégiadeligaçãocomomercadofinalquefoiado-tadanomercadodoméstico,equeconfereapropriaçãode maiorpartedovaloragregadogeradopelacadeia.Porém éumaexperiênciaaindatímidaesemmuitaagressivida-decomercial.
Portanto,oqueseverificouéqueasligaçõesquevisam elevadovolumeprodutivoenichodebaixovaloragrega- do,queseatingepormeiodosgrandescompradoresglo- bais,sãocanaisinibidoresdodesenvolvimentodehabi-lidadesquenãoestejamligadasàsatividadesprodutivas, já,quandoasligaçõesocorremcompequenovarejo,há umamaiordependênciadocompradoremrelaçãoàsha-bilidadesdedesenvolvimentodeprodutodomoveleiro, porémovolumeémenor,oquedemandamaioresforço comercialdaempresa,emaioréoriscodonegócio.
ouviaparceriascompontosdecomercializaçãonomer- cadodedestino,mas,nestecaso,osinvestimentosneces-sários,paradesenvolvertaiscompetências,eosriscosdo negóciotambémaumentamsubstancialmente.
8.Consideraçõesfinaiseimplicações
normativas
AanálisedossistemaslocaisdeproduçãodeFranca edeBentoGonçalvespodetrazeralgumasliçõesimpor-tantes,paraacompreensãodasformasdeconfiguração produtiva dos produtores localizados, dos esquemas de governançaedainserçãodosprodutoresemcadeiasglo- baisdeprodução,comercializaçãoedistribuiçãodemer-cadorias.
Emprimeirolugar,nota-sequeemambososcasoso padrãodecomercializaçãodosprodutosparaomercado domésticoébastanteparecida,jáqueemambososcasos asempresaslocaisassumemastarefasdedesenvolvimen-todeprodutoedesign edetêmcanaisprópriosdedistri- buiçãoecomercializaçãodesuasmercadorias.Essatare-faéassumidapelasgrandesempresaslocais,quemuitas vezesexercemopapeldecomandodeumaamplacadeia de suprimento dessas mercadorias. No SLP de Bento Gonçalves, essa característica torna-se mais evidente e importante, já que as empresas destinam sua produção quasequeintegralmenteaomercadodoméstico.
Porém,noqueserefereàinserçãonomercadoexter-no, a forma de atuação difere substancialmente, já que asempresas,especialmenteasprodutorasdecalçadosde Franca,sãoincapazesdeassumirastarefasdeconcepção, desenvolvimento e comercialização de seus produtos. Nessecaso,essasfunçõessãoassumidaspelosgrandes compradoresglobais.Oresultadodissoéqueasempre-sassão“compradas”pelosdemandantesinternacionais, jáquesãoincapazesdeexercerqualquerinfluênciasobre ostermosdenegociaçãocomoscompradores.Naverda-de,ocorrequeoscompradoresglobaisexercemopapel deligaçãodosprodutorescomademandaexternae,por isso,sãocapazesdehierarquizarasinformaçõesquesão transmitidasaosprodutores,restrigindo-asaoselementos tecnoprodutivosenvolvidosnoprocesso.
Oreconhecimentodequeessaformadeinserçãotem limites muito claramente delimitados tem implicações normativasmuitosignificativas,jáque,aoinserirem-se nos esquemas globais de produção, os produtores têm suaspossibilidadesdecrescimentoedeacumulaçãode capacitaçõesfortementelimitadasàsfunçõesprodutivas. Esseproblemaéparticularmenteimportantenaanáli-sedosistemalocaldeprodutoresdecalçadosdeFranca, emqueodesenvolvimentodasfirmasestevefortemente associadoaoincrementodaparticipaçãodasempresasno mercado internacional. Isso fez com que os produtores
desenvolvessemcapacitaçõesimportantesnaesferapro-dutiva, mas impediu que as firmas acumulassem novos conhecimentosemoutrasáreasdoseunegócio.Aexpe-riênciadaindústriadecalçadodeFrancamostraqueas firmasnãoestãomuitodispostasaestabeleceraçõescon-juntasrelevantes,oqueosimpededeseapropriardeuma dasfontesdasvantagenscompetitivasdasaglomerações deempresas.Porém,essaformadeatuaçãopossibilitou umrápidocrescimentodasempresas,dadopelodinamis-modasexportaçõesdeprodutos“encomendados”pelos compradores. Nesse sentido, a escolha pela forma de crescimentorápidodosprodutoreslocaistrouxeconsigo umadificuldadedemanutençãodessedinamismoalongo prazo, em virtude da baixa dependência do comprador emrelaçãoàscompetênciasdesenvolvidaspelasempre-saslocais.
JáosprodutoresdeBentoGonçalvestêmprocurado aproveitar-sedaproximidadegeográficaeculturalentre si,paraestabeleceralgunsprojetosconjuntosecomcus- toscompartilhados,comointuitoprincipaldesupriral-gumasinsuficiênciasdosistemalocal,quetêmimpedido umainserçãomaisvirtuosadosprodutores.Estaformade desenvolvimentomenosdependentedosagentesglobais representa,porumlado,umritmodecrescimentomenos aceleradoaosprodutoreslocais,mas,poroutro,podere- presentarumaformadedesenvolvimentomaissustentá-vel,capazdecriarvantagenscompetitivasdinâmicasaos produtores,pormeiodaacumulaçãodecompetênciase habilidadesentreosprodutoreslocaisnasdiversasáreas da operação da empresa. Exemplos disso são as ações voltadasàsfunçõessuperiores,comoaquelasnocampo datecnologia,dodesenvolvimentodeprodutoedesigne atentativadeestabelecercanaisprópriosecompartilha-dosdecomercializaçãoparaoexterior.
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ANANALYSISOFTHECHARACTERISTICSOFTHEGOVERNANCE
STRUCTUREINLOCALPRODUCTIONSYSTEMSANDITS
RELATIONSWITHTHEGLOBALCHAIN
Abstract
Thispaperanalyzesindustrialclusters,characterizingandintegratingtheviewofglobalandlocalgovernance andidentifyingtheconditioningfactorsofproducercompetitivenessandlocaldevelopment.Tothisend,thepaper investigatestwoBrazilianindustrialclusters:thefootwearindustryinFranca,SPandthefurnitureindustryinBento Gonçalves,RS.Themainfindingsshowthattheformsofglobalgovernanceoftheproductionchainarecrucialcondi-tioningfactorsofthedevelopmentofcapabilitiesamonglocalproducers.