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Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo.

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Academic year: 2017

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Iramaia Campos Ribeiro FigueiredoI

Patricia Constante JaimeI,II

Carlos Augusto MonteiroI,II

I Departamento de Nutrição. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP, Brasil

II Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde. USP. São Paulo, SP, Brasil Correspondência | Correspondence: Iramaia Campos Ribeiro Figueiredo Departamento de Nutrição Faculdade de Saúde Pública USP Av. Dr. Arnaldo 715

01246-904 São Paulo, SP, Brasil E-mail: iramaiar@usp.br Recebido: 17/7/2007 Revisado: 23/3/2008 Aprovado: 22/4/2008

Fatores associados ao consumo

de frutas, legumes e verduras em

adultos da cidade de São Paulo

Factors associated with fruit and

vegetable intake among adults of the

city of São Paulo, Southeastern Brazil

RESUMO

OBJETIVO: Descrever a freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras por adultos e analisar os fatores associados ao seu consumo.

MÉTODOS: Estudo transversal realizado entre outubro e dezembro de 2003 no município de São Paulo (SP). Foram realizadas entrevistas telefônicas em amostra probabilística da população adulta (≥18 anos) residente em domicílios servidos por linhas fi xas de telefone, totalizando 1.267 mulheres e 855 homens. A freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras foi medida por meio de um roteiro com perguntas curtas e simples. Na avaliação dos fatores associados ao consumo, realizou-se análise de regressão linear multivariada e hierarquizada, com variáveis sociodemográfi cas no primeiro nível hierárquico, comportamentais no segundo e relacionadas ao padrão alimentar no terceiro nível.

RESULTADOS: A freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras foi maior entre as mulheres. Para ambos os sexos, verifi cou-se que a freqüência desse consumo aumentava de acordo com a idade e a escolaridade do indivíduo. Entre mulheres que relataram ter realizado dieta no ano anterior houve maior consumo de frutas, legumes e verduras. O consumo de alimentos que indicam um padrão de consumo não saudável como açúcares e gorduras se mostrou inversamente associado ao consumo de frutas, legumes e verduras em ambos os sexos.

CONCLUSÕES: O consumo de frutas, legumes e verduras da população adulta residente em São Paulo foi maior entre as mulheres, sendo infl uenciado pela idade, escolaridade e dieta.

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 60% do total de mortes relatadas no mundo e 46% da carga global de doenças foram atribuídas às doenças crônicas não transmissíveis em 2001. Projeções da OMS apontam que em 2020 essas doenças responderão por 58% da carga global de doença no mundo.14 Peritos sobre dieta, nutrição e prevenção

de doenças crônicas reconhecem que embora mais pesquisas sejam ainda necessárias para elucidar alguns mecanismos da relação entre componentes da dieta e desenvolvimento dessas doenças, a atual evidência científi ca disponível oferece forte comprovação do papel da dieta na prevenção e controle da morbidade atribuída às doenças crônicas não transmissíveis. Comportamentos alimentares podem não somente infl uenciar o estado de saúde presente, como também determinar se mais tarde em sua vida o indivíduo irá desenvolver ou não alguma doença como câncer, do-enças cardiovasculares e diabetes.14

O consumo insufi ciente de frutas, legumes e verduras está entre os dez principais fatores de risco para a carga total global de doença em todo o mundo.13 Esses

alimentos são importantes na composição de uma dieta saudável, pois são fontes de micronutrientes, fi bras e de outros componentes com propriedades funcionais.12

ABSTRACT

OBJECTIVE: To describe the frequency of fruit and vegetable intake by adults and to assess factors associated with this frequency.

METHODS: Cross-sectional study, carried out between October and December 2003 in the municipality of São Paulo, Southeastern Brazil. Telephone interviews were conducted on a probabilistic sample of the adult population (>18 years) living in the city of Sao Paulo and with access to land telephone lines, totaling 1,267 women and 855 men. Frequency of fruit and vegetable intake was obtained by means of a questionnaire containing short, simple questions. Association of different factors with fruit and vegetable intake was assessed by multivariate linear regression using a hierarchic model with sociodemographic variables in the fi rst hierarchical level, behavioral variables in the second, and diet-related variables in the third.

RESULTS: Frequency of fruit and vegetable intake was higher among women. For both sexes, frequency of intake increased with age and schooling. Intake was also higher among women who reported having been on a diet during the last year. Consumption of foods indicative of an unhealthy diet – such as sugars and fats – was inversely associated with fruit and vegetable intake among subjects of both sexes.

CONCLUSIONS: Fruit and vegetable intake in the adult population of Sao Paulo was higher among women, and was infl uenced by age, schooling, and diet.

DESCRIPTORS: Adult. Food Consumption. Feeding Behavior. Cross-Sectional Studies. Diet Surveys.

INTRODUÇÃO

a Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia Alimentar para a População Brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília; 2005. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

Ademais, frutas e hortaliças têm baixa densidade ener-gética, isto é, poucas calorias em relação ao volume do alimento consumido, o que favorece a manutenção saudável do peso corporal.9

Levy-Costa et al5 (2005) em estudo sobre a distribuição

e evolução da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil entre os anos de 1974 e 2003 verifi caram que frutas e hortaliças correspondiam a apenas 2,3% das calorias totais da dieta, ou seja, a aproximadamente um terço do recomendado pela OMS. Jaime & Monteiro4

(2005) constataram que menos da metade dos indivíduos no Brasil consome frutas diariamente e menos de um ter-ço da população relata o consumo diário de hortaliças.

No campo das políticas de alimentação e nutrição, a promoção do consumo de frutas, legumes e verduras ocupa posição de destaque dentre as diretrizes de pro-moção de alimentação saudável. A Estratégia Global sobre Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, elaborada pela OMS, recomenda o aumento do consu-mo de frutas, legumes e verduras dentre as recomenda-ções para prevenção de doenças crônicas.15 No cenário

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enfatizando a importância de variar o consumo desses alimentos nas refeições ao longo da semana.

Para orientar e encorajar a implementação de políticas públicas para o aumento da freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras, é preciso conhecer não somente a freqüência de consumo da população, mas também os fatores associados ao seu consumo. Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo descrever a freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras por adultos e analisar os fatores associados ao seu consumo.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo observacional, transversal, de base populacional. A população de estudo foi constituí-da de homens e mulheres com 18 anos ou mais de iconstituí-dade que em 2003 residiam em domicílios do município de São Paulo, servidos pelo sistema de telefonia fi xa. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas telefônicas realizadas pelo Sistema de Monitoramento de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis por entrevistas telefônicas (Simtel), presente no muni-cípio de São Paulo, em 2003.6 O Simtel baseia-se em

entrevistas telefônicas assistidas por computador ( com-puter assisted telephone interview – CATI), realizadas de modo contínuo e distribuídas ao longo dos 12 meses do ano em amostras probabilísticas da população com 18 ou mais anos de idade, residente em domicílios com linhas telefônicas fi xas. A primeira etapa da amostra-gem consistiu no sorteio de 7.000 linhas telefônicas do cadastro eletrônico das linhas residenciais fi xas existentes no município de São Paulo. O sorteio levou em consideração o cadastro correspondente às regiões centro, norte, sul, leste e oeste da cidade, chegando a um total de 3.150 linhas. A segunda etapa da amos-tragem consistia na escolha aleatória de um dos mo-radores da residência para realização da entrevista. As entrevistas telefônicas duraram cerca de sete minutos e envolveram questões sobre variáveis sociodemográfi -cas, características da alimentação, da atividade física, peso e altura recordados. A partir das respostas obtidas foram estimados indicadores nutricionais e de estilo de vida relacionados à ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis. Mais detalhes sobre a metodologia e o plano amostral do Simtel podem ser obtidos em Monteiro et al6 (2005).

A variável de desfecho foi a freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras, avaliado por meio de escore de freqüência construído a partir das seguintes perguntas da entrevista telefônica: “Quantos dias na semana o(a) sr.(a) come frutas?” “Quantos dias na semana o(a) sr.(a) come salada crua?”. “Quantos dias na semana o(a) sr.(a) come legumes e verduras cozi-dos, sem considerar batata e mandioca?”. O escore de freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras

foi composto pela somatória dos valores da freqüência de consumo. Para sua construção, atribuiu-se um peso para cada categoria de freqüência de consumo, sendo: 0,00 para alimentos nunca consumidos; 0,05 para ali-mentos quase nunca consumidos; 0,46 para aliali-mentos consumidos de três a quatro dias na semana; 0,73 para alimentos consumidos de cinco a seis dias na semana; e, 1,00 para alimentos consumidos todos os dias. A somatória dos pesos para consumo de frutas, consumo de verduras (saladas cruas) consumo de legumes (hor-taliças cozidas) constituiu o escore de freqüência total de frutas, legumes e verduras.

Para avaliar conjuntamente os fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras, as variáveis estudadas foram agrupadas em três blocos (Figura 1). No primeiro, foram incluídas características sociode-mográfi cas: sexo, idade, escolaridade, estado civil e realização de trabalho remunerado. No segundo bloco foram incluídas características comportamentais: hábito de fumar, prática de atividade física no lazer (escore criado a partir da freqüência semanal e duração diária em minutos), realizar refeições fora de casa, trocar refeições por lanche, e fazer dieta. No terceiro bloco foram incluídas variáveis que descrevem o consumo usual de alimentos, que não frutas, legumes e verduras, associados a padrões saudáveis de alimentação (feijão e peixes) e de alimentos ou preparações associados a padrões não saudáveis de alimentação (frituras, embuti-dos, refrigerantes, leite integral, manteiga ou margarina, açúcares [consumo habitual de doces como sobremesa e uso habitual de açúcar para adoçar bebidas], frango com pele e carne vermelha com gordura). Para essas variáveis, considerou-se consumo usual quando a fre-qüência informada pelo entrevistado era de pelo menos um dia por semana. No caso das variáveis realizar as refeições fora do lar e trocar as refeições por lanche, as categorias “quase nunca” e “nunca” correspondiam a “não” e as categorias de “todos os dias” a “5 a 6 dias por semana” correspondiam a “sim”.

A freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras foi descrita por meio de distribuição percentual para população total e segundo sexo. Aplicou-se teste qui-quadrado para proporções para avaliar a signifi cância das diferenças entre sexos.

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Em seguida, foram estimados modelos de regressão linear múltipla hierarquizada, baseados no modelo teórico estabelecido (Figura 1). Em cada bloco foi realizada uma análise múltipla interna para selecionar as variáveis que compuseram o modelo fi nal. Esta análise intrabloco consistiu de regressão linear entre a variável-desfecho e as demais variáveis do bloco, adotando-se nível de signifi cância de 0,20. Após essa análise preliminar em cada bloco, realizou-se mode-lagem hierarquizada propriamente dita, adotando-se nível de signifi cância de 0,05. As variáveis que apre-sentaram p-valor >0,05 e <0,20 foram mantidas no modelo multivariado fi nal para ajuste.

Para que os dados coletados fossem representativos da população do município, foi atribuído um peso fi nal a cada indivíduo, resultante de três fatores. O primeiro deles é o inverso do número de linhas telefônicas no domicílio do entrevistado, corrigindo a maior chance que indivíduos de domicílios com mais de uma linha telefônica tiveram de ser selecionados para a amostra. O segundo fator é o número de adultos no domicílio do entrevistado, o qual corrige a menor chance que indivíduos de domicílios habilitados por mais pessoas tiveram de ser selecionados para a amostra. O terceiro fator iguala a composição sociodemográfi ca da amostra

de adultos estudada à composição da população adulta total do município. Para isso, incorporaram-se os dois fatores de ponderação já mencionados à amostra de indivíduos estudada e em seguida fez-se a distribuição em 36 categorias sociodemográfi cas resultantes da estratifi cação da amostra segundo sexo, faixas etárias e níveis de escolaridade. A mesma distribuição foi realizada para a amostra de adultos estudada em cada cidade pelo Censo Demográfi co de 2000 – amostra correspondente a 10% do total de domicílios. O ter-ceiro fator de ponderação foi a razão observada, entre a freqüência relativa de indivíduos determinada para a amostra do Censo e a freqüência relativa determinada para a amostra da população estudada, em cada uma das 36 categorias sociodemográfi cas.a

A análise dos dados foi realizada utilizando-se o pro-grama SPSS, considerando-se intervalo de confi ança de 95% e nível de signifi cância de 5%.

Por se tratar de entrevista por telefone, o consentimento livre e esclarecido foi substituído pelo consentimento verbal obtido por ocasião do primeiro contato telefô-nico com o entrevistado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Figura 1. Marco teórico estruturado em blocos hierarquizados para análise do consumo de frutas, legumes e verduras em

adultos residentes no município de São Paulo.

1º nível: Sociodemográfico

Comportamental

3º nível:

Não saudável Saudável

Desfecho:

Socioeconômico

2º nível:

Consumo alimentar

- Realizar refeições fora de casa

- Trocar refeições por lanche

- Fazer dieta - Escolaridade

- Densidade domicílio - Estado civil

- Trabalho remunerado

- Atividade física lazer

- Frituras - Embutidos - Refrigerantes - Leite integral - Manteiga/margarina - Açúcares

- Frango com pele

- Carne vermelha com gordura - Tabagismo

- Peixe - Feijão

Consumo de Frutas, legumes e verduras - Idade

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RESULTADOS

Da amostra inicial de 3.150 linhas, 645 foram consi-deradas não elegíveis: linhas fora de serviço (235), de empresas (138), inexistentes (109) e de domicílios provavelmente fechados (163). Do total de 2.505 linhas telefônicas elegíveis, aproximadamente 80% do total inicialmente sorteado, ocorreram 157 recusas (6,3%). Outras 37 linhas de perdas (1,4%) ocorreram por sinal de ocupado, de fax ou secretária eletrônica, após dez tentativas.

A população de estudo foi composta por 2.122 pessoas, sendo 1.267 do sexo feminino e 855 do masculino. A idade média dos entrevistados foi de 40,55 anos (dp=16,41) para as mulheres e de 39 anos (dp=15,31) para os homens. As mulheres apresentaram em média 7,91 anos de estudo (dp=4,46) e os homens, 8,17 (dp=4,31) anos. Entre as mulheres, 48,6% afi rmaram não ter trabalho remunerado, e entre homens, 19,1%.

A distribuição numérica e percentual da população segundo a freqüência de consumo de consumo de frutas, legumes e verduras está na Tabela 1.

Observa-se que o consumo diário de frutas foi maior entre as mulheres (51,7%) e que o consumo diário de legumes foi duas vezes maior entre as mulheres do que entre os homens (p<0,001). O escore de freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras variou de zero a três, apresentando média de 1,67 (dp=0,78) para ambos os sexos, 1,82 (dp=0,78) para mulheres e 1,50 (dp=0,75) para homens.

Para a população feminina (Tabela 2), os fatores socio-demográfi cos que se mostraram positivamente e signifi -cativamente correlacionados à freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras foram idade (p<0,001) e maior escolaridade (p<0,001). A única variável do bloco com-portamental que se mostrou correlacionada de maneira positiva foi o fato de ter realizado dieta no último ano (p<0,001). Entre o consumo de outros alimentos, apenas o consumo de açúcares (p<0,001) mostrou-se correla-cionado signifi cativamente ao menor consumo de frutas, legumes e verduras entre as mulheres estudadas.

Para a população masculina (Tabela 3), os fatores sociodemográfi cos signifi cativamente correlaciona-dos ao consumo de frutas, legumes e verduras foram:

Tabela 1. Distribuição numérica e percentual da população estudada segundo sexo e freqüência de consumo de frutas, legumes

e verduras. São Paulo, SP, 2003.*

Freqüência de consumo

Sexo feminino (n=1.267)

Sexo masculino (n=855)

Total

(n=2.122) p**

n % n % n %

Frutas <0,001

Todos os dias 587 51,7 346 35,0 932 43,9 5 a 6 dias/semana 62 5,4 44 4,4 105 5,0 3 a 4 dias/semana 155 13,6 188 19,0 342 16,1 1 a 2 dias/semana 172 15,1 249 25,3 421 19,8 Quase nunca 121 10,7 138 14,0 259 12,2

Nunca 39 3,4 23 2,3 61 2,9

Verduras <0,001

Todos os dias 598 52,7 394 39,9 992 46,8 5 A 6 dias/semana 91 8,0 123 12,4 214 10,1 3 A 4 dias/semana 182 16,1 209 21,2 391 18,4 1 A 2 dias/semana 168 14,8 168 17,0 336 15,8

Quase nunca 65 5,7 71 7,2 136 6,4

Nunca 31 2,7 22 2,2 53 2,5

Legumes <0,001

Todos os dias 272 23,9 113 11,4 384 18,1 5 A 6 dias/semana 82 7,2 61 6,2 143 6,7 3 A 4 dias/semana 306 26,9 234 23,7 540 25,4 1 A 2 dias/semana 310 27,4 349 35,4 660 31,1

Quase nunca 111 9,8 156 15,8 267 12,6

Nunca 55 4,8 74 7,5 129 6,1

Total 100,0 100,0 100,0

* Valores ponderados pelo número de adultos no domicílio do entrevistado, multiplicado pelo inverso do número de linhas telefônicas e pelo Censo Demográfi co 2000

(6)

maior idade (p<0,001), maior escolaridade (p<0,001) e trabalho remunerado (p=0,016). No bloco compor-tamental, o fato de realizar as refeições fora de casa com freqüência(p=0,041) e de praticar atividade física no lazer (p=0,002) se associaram ao maior consumo desses alimentos. Entre as variáveis de consumo de outros alimentos, observou-se uma correlação positiva entre o consumo usual de peixe e o consumo de frutas, legumes e verduras (p<0,001).

Os diferentes fatores correlacionados à freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras para homens e mulheres estão representados na Figura 2.

DISCUSSÃO

As mulheres apresentaram maior freqüência de consu-mo de frutas, legumes e verduras do que os homens e a maior freqüência de consumo desses alimentos ocorreu entre os indivíduos mais velhos e entre aqueles que possuíam maior escolaridade, em ambos os sexos.

A correlação observada entre freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras com idade e escolaridade, tanto para homens quanto para mulheres, também foi observada em outros estudos. Pearson et al8 (2005), em

estudo transversal realizado em South Yorkshire, Reino Unido, verifi caram um discreto aumento no consumo de hortaliças com aumento da idade. Thompson et al11

(2005) observaram associação positiva entre escola-ridade e consumo de frutas, legumes e verduras na população norte-americana. Em estudo epidemiológico realizado no Brasil, Jaime & Monteiro4 (2005) também

verifi caram a infl uência positiva da idade e da escolari-dade sobre o consumo de frutas, legumes e verduras.

Entre as variáveis comportamentais, o fato de ter realizado dieta no último ano apresentou correlação positiva com a freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras somente entre as mulheres. Entre os homens, a prática de atividade física no lazer mos-trou-se correlacionada de maneira positiva à maior freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras.

Tabela 2. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras identifi cados em análise de regressão linear múltipla

hierarquizada para o sexo feminino.* São Paulo, SP, 2003.

Variável β IC 95% p r2 ajustado

(p modelo) Sociodemográfi ca

Idade 0,012 0,009;0,015 <0,001 0,081

Escolaridade 0,044 0,033;0,054 <0,001 (<0,001) Comportamental

Realizar refeições fora de casa 0,100 -0,013;0,213 0,083 0,096 Dieta último ano 0,194 0,097;0,291 <0,001 (<0,001) Consumo alimentar

Açúcares -0,281 -0,404;-0,157 <0,001 0,114 Embutidos -0,079 -0,167;-0,009 0,080 (<0,001) * Valores ponderados pelo número de adultos no domicílio do entrevistado, multiplicado pelo inverso do número de linhas telefônicas e pelo Censo Demográfi co 2000.

Tabela 3. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras identifi cados mediante análise de regressão linear

múltipla hierarquizada para o sexo masculino.* São Paulo, SP, 2003.

Variável β IC 95% p r2 ajustado

(p modelo) Sociodemográfi ca

Idade 0,012 0,009;0,016 <0,001 0,089

Escolaridade 0,040 0,030;0,051 <0,001 (<0,001) Trabalho remunerado 0,153 0,029;0,277 0,016

Comportamental

Atividade física no lazer 0,233 0,085;0,381 0,002 0,105 Realizar refeições fora de casa 0,109 0,004;0,214 0,041 (<0,001) Dieta no último ano 0,099 -0,027;0,224 0,122

Consumo alimentar

Frituras -0,084 -0,190;0,022 0,121 0,151

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Resultados semelhantes foram verifi cados em outros estudos, como o de Jago et al3 (2005) envolvendo

adultos da cidade de Bogalusa, nos Estados Unidos. Naquele estudo transversal, Jago et al3 veri caram que

o consumo de frutas, legumes e verduras era maior entre aqueles que praticavam atividade física. Thomp-son et al11 (2005), em estudo multicêntrico realizado

nos Estados Unidos, concluíram que a associação do hábito de comer fora de casa com freqüência com uma maior a freqüência de consumo de frutas, legumes e verduras entre os homens pode estar relacionada a maior variedade de alimentos encontrados em restau-rantes. Similarmente, estudo qualitativo1 realizado com

freqüentadores de diferentes praças de alimentação * Variáveis que permaneceram como controle

Variáveis destacadas em negrito apresentam correlação negativa com o consumo de frutas, legumes e verduras.

Figura 2. Modelo fi nal de fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos. São Paulo, SP, 2003

Feminino

Masculino

1º nível: Sociodemográfico

Comportamental

3º nível:

Não saudável

Desfecho:

Socioeconômico

2º nível:

Consumo alimentar

- Realizar refeições fora de casa* - Fazer dieta

- Escolaridade

- Embutidos* - Açúcares

Consumo de frutas, legumes e verduras

Consumo de frutas, legumes e verduras - Idade

1º nível: Sociodemográfico

Comportamental

3º nível:

Desfecho:

Socioeconômico

2º nível:

Consumo alimentar

- Realizar refeições fora de casa - Fazer dieta*

- Escolaridade - Trabalho remunerado

Não saudável

- Frituras*

Saudável

- Peixe - Atividade física lazer

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em São Paulo verifi cou que a variedade de alimentos oferecida pelos restaurantes possibilitava aos usuários uma maior diversifi cação da alimentação em relação às refeições realizadas no lar.

De forma geral, os resultados da relação entre o consu-mo de frutas, legumes e verduras e de outros alimentos no presente estudo são consistentes com a literatura. Nas análises realizadas é possível observar que os ali-mentos ricos em açúcares e gorduras estão inversamente relacionados ao consumo de frutas, legumes e verduras. Associação semelhante foi observada por Forshee & Storey2 (2001) em estudo realizado com crianças e

adolescentes. Levy-Costa et al5 (2005) alertam para o

preocupante aumento da disponibilidade de açúcares e a diminuição da disponibilidade de frutas, legumes e verduras no Brasil nos últimos anos.

O presente estudo difere da maioria dos estudos que buscaram avaliar os determinantes da freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras ao utilizar um questionário alimentar aplicado por telefone, o que o torna sujeito a algumas limitações. Não se pode descartar um possível viés de aferição, uma vez que o Simtel não incluiu adultos residentes em domicílios sem telefone fi xo. Visando atenuar este viés foram adotadas ponderações para igualar a composição sociodemográ-fi ca da amostra estudada àquela observada no Censo Demográfi co de 2000 no município de São Paulo. Também, o desenho transversal do estudo não permite avaliação adequada das suposições de causalidade. As diferenças entre os métodos para avaliar dieta, defi nir e categorizar as frutas e hortaliças podem ter prejudicado a comparação com outros estudos sobre consumo po-pulacional de frutas, legumes e verduras.

Investigações epidemiológicas realizadas por meio de ligações telefônicas têm sido utilizadas também em outros países. Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC)a desenvolveram um questionário

curto para avaliar o consumo de frutas, legumes e ver-duras por meio de entrevistas telefônicas, utilizado no Behavioral Risck Factor Surveillance System (BRFSS – Sistema de Monitoramento de Fatores de Risco), realizado periodicamente nos Estados Unidos.Serdula et al10 (1993) avaliaram esse questionário de consumo

de frutas, legumes e verduras realizado por telefone com outros métodos de investigação mais extensos, encontrando moderada correlação entre os métodos (coefi cientes de correlação de Spearman variando de 0,47 a 0,57). O Simtel é um sistema telefônico de mo-nitoramento de fatores de risco para doenças crônicas mais recente que o sistema norte-americano e o primeiro a ser desenvolvido na América Latina, sendo caracte-rizado pela sua praticidade, baixo custo e agilidade.6

Estudo sobre a validade dos indicadores de consumo de alimentos e bebidas foi identifi cada para consumo de frutas, legumes e verduras reprodutibilidade considera-da moderaconsidera-da (coefi ciente kappa=0,57), sensibilidade de 46,4% e especifi cidade de 71,6%, tendo como referência a classifi cação dos indivíduos estudados feita a partir de três recordatórios alimentares de 24 horas.7

Com base nos resultados obtidos é possível concluir que a freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras na população adulta residente no município de São Pau-lo está aquém das recomendações atuais, em especial entre os mais jovens e aqueles de baixa escolaridade. O conhecimento dos fatores associados à freqüência do consumo de frutas, legumes e verduras pode balizar iniciativas de promoção do consumo desses alimentos entre a população paulistana.

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REFERÊNCIAS

Pesquisa fi nanciada pelo Ministério da Saúde (Convênio MS/FUSP, Proc. Nº 1390/2002).

Referências

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