11/11/2015 O STF e o financiamento eleitoral: Messianismo ou Sinceridade?
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SUPREMO EM PAUTA
12 maio 2014 | 15:55
O STF retomou o julgamento que discute a constitucionalidade do financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas. O resultado até o momento é de seis votos a favor da proibição, contra o voto, por enquanto isolado, do ministro do Teori Zavascki. Apesar de maioria já formada, o julgamento não foi concluído pelo pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.
O voto dissidente se baseou na ideia de que não haveria norma expressa na Constituição que vedasse a doação por pessoa jurídica às campanhas eleitorais e aos partidos políticos. A simples mudança normativa, ainda segundo o ministro, não solucionaria as mazelas do atual sistema eleitoral. Tal modificação consubstanciaria um caso de “messianismo judicial”: a ideia de que a simples alteração normativa produziria efeitos na realidade.
Esse raciocínio propõe diferentes reflexões. A declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos questionados solucionaria
efetivamente o problema da forte e indevida influência do poder econômico no processo eleitoral? Para Zavascki, não. O problema estaria na não aplicação das normas eleitorais existentes, bem como na ausência de outras que evitem o abuso.
Essa linha argumentativa, porém, obscurece o ponto central: a efetiva influência que poder econômico exerce sobre as eleições, propiciada pela possibilidade de doações por pessoas jurídicas.Além disso, outro debate paralelo surgiu na votação. Foi colocada uma dúvida a respeito do papel que o STF deveria exercer sobre o desenho específico dos modelos de financiamento eleitoral. Para Zavascki, qualquer passo nesse sentido seria “Messianismo Jurídico”, na medida em que tais escolhas incumbiriam ao Legislativo.
A alternativa, defendida por Luiz Fux, clamou por uma “sinceridade institucional” do Supremo para apreciar a questão: como confiar apenas nos agentes políticos do Congresso, eleitos pelo sistema ora questionado, para modificarem a legislação que os beneficia? A inércia do Supremo Tribunal Federal no caso concreto, segundo essa linha, chancelaria a inércia de todo o sistema.O debate entre essas duas posições antagônicas diz respeito a algo que vai além da decisão sobre o modelo do sistema eleitoral.
Estão em jogo visões sobre o papel institucional do Supremo na dinâmica de Separação de Poderes. A imediata reação da Câmara dos Deputados, demonstrando a intenção de aprovar uma reforma política com o objetivo de autorizar constitucionalmente o financiamento eleitoral por pessoas jurídicas, demonstra um efeito concreto de uma decisão do Supremo (que sequer foi tomada): mobilizar os congressistas. Independente de qual seja o posicionamento dos congressistas sobre o tema em questão, o resultado é de vitória da “sinceridade institucional”.
Milena Ginjo, Nikolay Bispo, Ivan de Franco, Luís Augusto e Rubens Glezer, coordenador e Pesquisadores do Supremo em Pauta da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.
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