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Corpo e saúde: reflexões sobre o quadro "Medida Certa"

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Academic year: 2017

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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

DEF

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

PPGEF

ORIENTADORA: Dra. MARIA ISABEL BRANDÃO DE SOUZA MENDES

CORPO E SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE O

QUADRO “MEDIDA CERTA”

NATAL

RN

2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – DEF

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA – PPGEF ORIENTADORA: PROFª. Dra. MARIA ISABEL BRANDÃO DE SOUZA MENDES

HUDSON PABLO DE OLIVEIRA BEZERRA

CORPO E SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE O QUADRO

“MEDIDA CERTA”

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HUDSON PABLO DE OLIVEIRA BEZERRA

CORPO E SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE O QUADRO “MEDIDA CERTA”

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física – PPGEF,

linha de pesquisa “Estudos Sócio-Filosóficos

sobre o Corpo e o Movimento Humano”, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

– UFRN, como requisito para obtenção do título de Mestre em Educação Física.

Orientadora: Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes.

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Bezerra, Hudson Pablo de Oliveira.

Corpo e saúde: reflexões sobre o quadro “medida certa”. / Hudson Pablo de Oliveira Bezerra. – Natal, RN, 2012.

206 f.; il.

Orientadora: Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Educação Física.

1. Educação física – Dissertação. 2. Corpo – Dissertação. 3. Saúde- Dissertação. 4. Mídia – Dissertação. 5. Medida Certa – Dissertação. I. Mendes, Maria Isabel Brandão de Souza. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, entidade maior de minha fé, ponto de confiança e reconciliação para os problemas enfrentados durante toda a trajetória de formação e demais experiências da vida.

A minha mãe Maria Dolores e a minha irmã Poliana Nara, mulheres de minha vida, pelo incentivo, apoio, paciência e por tudo que sempre fizeram e fazem por mim. Não saberei expressar com palavras a admiração e o carinho que sinto por vocês.

Aos avós, tios, primos e demais familiares que sempre estiveram na torcida incentivando e apoiando, especialmente nos momentos mais difíceis em que minhas bases de sustentação passaram por abalos.

A minha orientadora, Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes, que me acompanhou de forma intensa durante todo esse processo, apontando sempre os direcionamentos necessários para a construção de um bom trabalho e de uma formação de qualidade.

Aos professores do Mestrado em Educação Física da UFRN que compartilharam seus conhecimentos e produções nas aulas, seminários, eventos, reuniões, entre outros momentos da formação.

Ao Departamento de Educação Física da UFRN ao qual agradeço em nome dos professores: Dr. José Pereira de Melo e Dra. Maria Aparecida Dias.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFRN ao qual agradeço em nome da professora Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega.

A CAPES pela concessão da bolsa.

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estiveram acompanhando o processo de formação no Mestrado incentivando e se disponibilizando a me ajudar no que fosse preciso.

Aos amigos, aqueles com quem compartilhei os bons e os maus momentos. Agradeço a paciência e a força demandada nos momentos em que foram solicitados. Agradeço a todos em nome de dois que se fizeram presentes de forma mais intensa nesse processo de formação: Márcia e Aedson.

Aos companheiros da primeira turma do Mestrado em Educação Física da UFRN: Gertrudes, André Igor, André Osvaldo, Radamés, Christiane, Richardson, e de forma bem especial à Rodolfo Pio, Thays Macêdo e Jefferson Eufrásio com os quais convivi de forma mais próxima. Quero guardá-los para sempre!

Aos colegas e amigos proporcionados por intermédio do Mestrado: Rayane Nóbrega, Hellyson Ribeiro, Moaldecir, Judson, Aline Prezotto, Hosana, Ingridh, Dianne, Valdemar, Fátima, Mackson, Patrícia, Paula Nunes, Dandara entre outros que no momento posso não ter lembrado.

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RESUMO

O cenário atual encontra-se permeado por diversas compreensões a respeito do corpo e da saúde. Estas são frutos de um processo histórico vivenciado pelos homens em diferentes épocas e contextos sociais através dos quais foram sendo construídas. Diante deste cenário, destacamos a mídia como um poderoso meio de informação e formação de ideias no que concerne ao corpo e à saúde. A mídia também, enquanto meio de mediação de informações nos apresenta características do cenário social em que está inserida. Em nossa pesquisa trazemos como objetivo refletir sobre as compreensões, saberes e práticas propagadas a

propósito do corpo e da saúde no quadro “Medida Certa” do programa Fantástico da emissora

Rede Globo de Telecomunicações, no sentido de identificar como a Educação Física, tem contribuído com a construção dos conhecimentos divulgados. Para tanto, direcionamos nossas

análises ao quadro “Medida Certa” exibido pelo Fantástico nos meses de abril, maio e junho de 2011. Os dados para análise foram coletados através dos vídeos exibidos ao vivo no Fantástico e das informações disponibilizadas no blog do referido quadro. Assim, tivemos 14 vídeos exibidos ao vivo, 16 vídeos postados no blog e 97 postagens no blog. Como técnica de análise dos dados utilizamos da análise de conteúdo de Bardin (2011). Sobre o corpo obtivemos como categorias de análise: corpo como sistema operacional; corpo biológico; corpo fragmentado e exterior ao sujeito; corpo quantificado e atrelado a padrões; e, corpo sujeito. Quanto à saúde analisamos as categorias de: saúde baseada em índices de normalidade biológica; saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos; saúde associada à atividade física e ao controle alimentar; e, por fim propomos uma compreensão de saúde existencial. Portanto, a partir das análises dos dados evidenciamos uma predominância de compreensões, saberes e práticas sobre o corpo e a saúde pautadas nos constituintes biológicos do corpo, na quantificação e classificação em médias e padrões de normalidade, na generalização de formas de cuidado, na associação linear entre atividade física e controle alimentar com a saúde, e evidenciamos que a Educação Física tem contribuído com essas construções, por meio de alguns de seus discursos com ênfase nos aspectos biológicos. Dessa forma, defendemos em nosso estudo uma compreensão de corpo não somente objeto, mas também, enquanto sujeito recortado pelos elementos orgânicos, culturais, históricos e sociais, um corpo vivo, que sente, deseja e antes de tudo se expressa, e a saúde perspectivada como algo do corpo, entrelaçada através dos aspectos biológicos, culturais, históricos e emocionais deste corpo que coexiste em sociedade.

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ABSTRACT

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 01 - Zeca Camargo, Renata Ceribelli e Márcio Atalla (Página 15) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 02 – Abertura do Quadro Medida Certa (Página 27) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 03 – Márcio Atalla (Página 31) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 04 – Renata Ceribelli (Página 34) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 05 – Zeca Camargo (Página 36) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 06 – Consulta ao Cardiologista Alexandre Carvalho (Página 53) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 07 – O antes e o depois dos apresentadores (Página 56) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 08 – Caminhada Medida Certa (Página 58) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 09 – Livro do Medida Certa (Página 60) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 10 – Aplicativo Medida Certa (Página 61) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 11 – Medidinha Certa (Página 63) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 12 – Medida Certa - O Fenômeno (Página 64) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 13 – Renata Ceribelli e Zeca Camargo se medindo (Página 71) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 14 - Renata Ceribelli em jantar de casamento (Página 82) Fonte: Medida Certa, 2011.

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Imagem 16 – Renata Ceribelli no controle alimentar e na prática de atividade física (Página 89)

Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 17 – Na prática do Remo (Página 97) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 18 – Renata Ceribelli pedala junto ao esposo (Página 123) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 19 – Cardápio do almoço: carne com legumes (Página 126) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 20 – Renata Ceribelli realiza teste de esforço (Página 131) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 21 – Renata Ceribelli enfrenta o desafio de pular corda (Página 142) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 22 – Renata Ceribelli estreia bicicleta presente de aniversário (Página 147) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 23 – Zeca Camargo almoça na casa da mãe Maria Inês (Página 148) Fonte: Medida Certa, 2011.

Imagem 24 – Zeca Camargo e Renata Ceribelli antes da realização dos exames bioquímicos no consultório médico (Página 160)

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

CAPÍTULO 01 – O QUADRO MEDIDA CERTA ... 27

CAPÍTULO 02 – EM BUSCA DO CORPO REPROGRAMADO ... 71

Corpo como sistema operacional ... 75

Corpo biológico ... 84

Corpo fragmentado e exterior ao sujeito ... 94

Corpo quantificado e padronizado ... 104

Corpo como sujeito ... 117

CAPÍTULO 03 – EM BUSCA DA SAÚDE IDEAL ... 126

Saúde baseada em índices de normalidade biológica ... 130

Saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos ... 138

Saúde associada à atividade física e ao controle alimentar ... 144

Por uma compreensão de saúde existencial ... 155

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 160

REFERÊNCIAS ... 173

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INTRODUÇÃO

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No contexto social contemporâneo, os espaços de comunicação de massa oportunizam constantemente a veiculação de ideias, informações, compreensões, valores, comportamentos, modos de viver, entre outros, sobre os diferentes temas que estão imbrincados nas relações sociais cotidianas. Esta veiculação acontece através da mediação exercida pelos espaços midiáticos, sejam eles revistas, televisão, jornais, rádio e internet, alcançando assim um público numeroso e variado.

Diante este cenário, percebemos que as informações difundidas por estes meios possuem grande influência na forma como as pessoas compreendem os diferentes temas abordados, tais como: educação, segurança, saúde, esporte, economia, política dentre outros. Entretanto, focaremos neste estudo dois temas que se configuram como centrais no debate da Educação Física atual: Corpo e Saúde.

Partimos do entendimento de que as diferentes compreensões de corpo e saúde subsidiam reflexões e práticas em diferentes áreas do conhecimento: anatomia, fisiologia, filosofia, sociologia, pedagogia, psicologia, antropologia, dentre outras. Todavia, são as reflexões promovidas sobre estes temas que oportunizam uma evolução para compreensões que permitam o uso diferenciado do corpo e da saúde nos espaços profissionais de diferentes áreas do conhecimento, bem como, nas experiências da vida cotidiana.

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consolidar um campo de conhecimento que reconheça os sujeitos, antes de tudo, a partir de suas experiências vividas no mundo.

No que concerne às compreensões de corpo e saúde é necessário pensá-las como fenômenos situados que emergem de diferentes espaços e tempos e que são constantemente reconstruídas e ressignificadas de acordo com as características do contexto social em que se desenvolvem. Neste contínuo, percebemos a interferência de diversas instituições na construção de novos sentidos e significados para o corpo, bem como para a saúde, dentre as quais destacamos a mídia.

Segundo Gastaldo (2009, p. 353):

Entende-se por “mídia” os “meios de comunicação de massa” [...], ou seja,

os veículos de comunicação, tomadas como dimensão tecnológica, que, a partir da produção centralizada, veiculam seus produtos de modo

“massificado”, isto é, a um público numeroso e indistinto, sem levar em

conta a individualidade de cada um dos participantes deste público.

No cenário contemporâneo, percebemos que as instituições midiáticas têm atuado como catalizadoras na construção de novos valores e significados para os acontecimentos das relações sociais. Dentre esses, têm possibilitado através dos seus meios de veiculação de informações, a disseminação e a construção de novos sentidos para as compreensões sobre o corpo e sobre a saúde.

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Dessa forma, nosso estudo busca avançar nas reflexões e análises sobre as compreensões de corpo e saúde veiculadas pela mídia que incitam a adoção de hábitos ditos saudáveis, a busca por padrões corporais, estilos de vida ativo e padronizados, o consumo de bens e serviços associados à aquisição de saúde, entre outros. Portanto, este estudo contribuirá

para a aquisição de “novas” compreensões de corpo e saúde, bem como para pensarmos como estas são veiculadas pela mídia.

Diante essas considerações, discutimos as compreensões de corpo e saúde veiculadas pela mídia, especialmente a mídia televisiva e a internet. Assim, questionamo-nos como e quais compreensões, saberes e práticas de corpo e saúde são veiculadas nos espaços midiáticos, e como a Educação Física tem contribuído com a construção dos conhecimentos divulgados?

Frente a estes questionamentos, o objetivo desta pesquisa foi analisar as compreensões, saberes e práticas propagadas a propósito do corpo e da saúde no quadro

“Medida Certa” do programa Fantástico da emissora Rede Globo de Telecomunicações, no sentido de identificar como a Educação Física tem contribuído com a construção dos conhecimentos divulgados.

As motivações para a presente pesquisa partem do envolvimento pessoal ao longo da trajetória acadêmica como pesquisador voluntário de iniciação científica e da construção da monografia de conclusão no curso de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado “Profª. Maria Elisa de Albuquerque Maia” –

CAMEAM, onde traçamos diálogo com a temática da mídia e do esporte. Entretanto, a partir do contato com o Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento – GEPEC, através programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em nível de Mestrado em Educação Física da

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das discussões que envolvem a mídia para o campo das pesquisas sobre o corpo e a saúde, temas esses discutidos pelo grupo de pesquisa citado.

Este trabalho faz parte também da pesquisa “Saberes e práticas educativas sobre corpo e saúde” coordenada pela Professora Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes e que tem por objetivo analisar, catalogar e arquivar documentos e imagens relacionadas aos cuidados com o corpo em busca de saúde, seja por meio de programas televisivos e da internet, outdoors, panfletos de propagandas, revistas, filmes e periódicos científicos ou espaços das cidades, buscando-se tecer reflexões sobre saberes e práticas educativas sobre corpo e saúde presentes nos materiais analisados, relacionando-os à ideologia do ser saudável e ao cuidado de si.

Dentre as pesquisas do GEPEC que oportunizam um debate sobre temas relacionados à mídia destacamos a dissertação de Mestrado de Allyson Carvalho de Araújo (2006)

intitulada “Um olhar estético sobre o telespetáculo esportivo: contribuições para o ensino do

esporte na escola”, onde o autor citado promove reflexões a partir de uma análise de conteúdo a luz de Bardin (1977) sobre o espetáculo esportivo nos telejornais esportivos. Outra pesquisa de destaque em uma linha mais próxima de discussões com a que aqui apresentamos é a tese de Doutorado de Eduardo Ribeiro Dantas (2007), com o título “A produção biopolítica do corpo saudável: mídia e subjetividade na cultura do excesso e da moderação”. O referido autor promove através da análise de conteúdo de Bardin (1977) reflexões sobre a revista

“Saúde!” para pensar a subjetivação de práticas corporais na construção do corpo perfeito, oportunizando debates a respeito dos temas corpo e saúde.

Para atingir o objetivo deste estudo, direcionamos os focos de análise da pesquisa

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do acompanhamento do profissional de Educação Física Márcio Atalla e de outros profissionais especializados (médicos, nutricionistas etc.) com vista a reprogramar o corpo dos apresentadores para obtenção da medida certa. O período de intervenção profissional sobre os apresentadores foi de 90 dias.

Vale ressaltar que no estado da arte1 realizado durante a estruturação da pesquisa não localizamos nenhum estudo semelhante com as temáticas abordadas no espaço indicado para a pesquisa, ou seja, o quadro Medida Certa. Como hipótese para esta ausência visualizamos o fato do quadro em questão ser recente e até o momento da realização do estado da arte não apresentar desdobramentos para sua continuidade. Entretanto durante a construção dos capítulos da dissertação localizamos alguns trabalhos que analisaram o quadro a partir de outros olhares e em área do conhecimento distinta da Educação Física, especificamente da área da comunicação, os quais foram utilizados como referências em nossa dissertação.

A escolha do Medida Certa como espaço para realização da pesquisa deve-se ao alcance e a grande representatividade atribuída pelos telespectadores e pela crítica midiática ao programa Fantástico. E o quadro em questão, por oportunizar um diálogo com nossas temáticas de estudo, ou seja, as temáticas de corpo e saúde. Outra característica que contribuiu para a escolha desse espaço de investigação deve-se a oportunidade de articulação existente entre a mídia televisiva e a internet, fato que oportuniza uma interatividade com o público que consome suas informações e a manifestações de opiniões a respeito do que foi recebido.

O quadro Medida Certa contou com dois espaços de veiculação, são eles: a mídia televisiva e internet, ambas com grande alcance nos domicílios brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, 95% dos domicílios

1

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brasileiros possuíam televisão e 38,3% possuíam microcomputadores, sendo que 30,7% deste total estão conectados a internet (IBGE, 2010).

Na Televisão, o quadro foi veiculado nos domingos a noite durante a exibição do Fantástico. Foram apresentadas reportagens a propósito do processo de intervenção realizada pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla sobre os apresentadores e as mudanças efetivadas ao longo dos três meses. Destacam-se dentre outros assuntos: a rotina e o estado emocional dos apresentadores, as avaliações físicas e médicas realizadas, as dicas de atividade física e alimentação, a receptividade do público ao quadro, os objetivos alcançados, os desafios, entre outros.

A internet serviu de um segundo espaço ao quadro, não menos importante, para veiculação de suas informações. Através de um blog, Blog Medida Certa, a internet contribuiu apresentando informações e vídeos que foram exibidos ao vivo no Fantástico, bem como oportunizando a veiculação de informações mais detalhadas sobre a rotina dos apresentadores, dicas alimentares e de exercícios, desafios e resultados alcançados, entre outros, através de textos, imagens e vídeos. Todavia, destacamos que o blog oportunizou um novo olhar sobre as informações veiculadas, especialmente ao trazer em sua configuração a ferramenta de

“comentário” onde as pessoas que acessam suas informações puderam expor suas opiniões

sobre as informações veiculadas através de comentários realizados sobre as postagens do blog.

Com relação aos aspectos metodológicos, nossa pesquisa configura-se a partir de uma abordagem qualitativa. Seabra (2001, p. 55) resume o papel da abordagem qualitativa

argumentando que esta “aprofunda-se no mundo dos significados, das ações e relações

humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”.

Trata-se de uma pesquisa documental, visto que segundo Gil (2007, p.164) “os

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de rádio e televisão, constituem importante fonte de dados para a pesquisa social. Possibilitam ao pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual”. O referido autor ainda

destaca que “os documentos de comunicação de massa são muito valiosos. Entretanto por terem sido elaborados com objetivos outros que não a pesquisa científica, devem ser tratados

com muito cuidado pelo pesquisador”.

Ainda sobre a pesquisa documental é importante que tenhamos claro que esta “permite

a investigação de determinada problemática não em sua interação imediata, mas de forma indireta, por meio do estudo dos documentos que são produzidos pelo homem e por isso

revelam seu modo de ser, viver e compreender um fato social” (SILVA et al, 2009, p. 4557).

Dessa forma, investigamos o espaço do quadro Medida Certa no meio televisivo através das reportagens apresentadas semanalmente no Fantástico e na internet através do blog Medida Certa. Os dados do meio televisivo foram coletados através de downloads das reportagens exibidas ao vivo durante o Fantástico no site do referido programa, sendo 14 vídeos no total.

Os dados da internet foram coletados através do blog Medida Certa. Nele coletamos as postagens realizadas sobre o quadro durante os três meses de desenvolvimento2. Coletamos textos, imagens e vídeos e organizamos todas as postagens separando-as de acordo com a data de postagem. Nessa investigação obtivemos um total de 16 vídeos publicados no blog, além de 97 postagens. Além disso, coletamos também os comentários realizados pelos internautas sobre cada postagem, fato que totalizou 4804 comentários. Estes comentários não constituíram o corpus de análise deste trabalho, no entanto serão arquivados para análise e construção de trabalhos posteriores.

Destacamos que toda coleta de dados para arquivamento foi realizada uma semana posterior ao término do quadro, ou seja, 03 de julho de 2011. Utilizamos dessa demarcação

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temporal de uma semana, em virtude da rotatividade dos arquivos virtuais. Posteriormente realizamos a análise dos dados.

Segundo Silva et al (2009, p. 4557) “todo esse trabalho com os documentos é

compreendido em dois momentos distintos: o primeiro de coleta e o outro de análise do

conteúdo”. Assim, realizado o primeiro momento, ou seja, a coleta de dados, passamos aos encaminhamentos para a análise do material coletado.

Optamos em nosso estudo pela técnica de análise de conteúdo de Bardin (2011). De acordo com Bardin (2011, p. 37) a análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações”. Ainda segundo a autora “não se trata de um instrumento, mas de um

leque de apetrechos; ou com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as

comunicações” (BARDIN, 2011, p. 37).

Continuando as argumentações sobre a análise de conteúdo, Bardin (2011, p. 44) diz

que esta “aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza de

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Entretanto,

a referida autora esclarece que somente a descrição não é suficiente para oportunizar a especificidade da análise de conteúdo.

Dessa forma, “a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção (ou eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN, 2011, p. 44). Foi isto que almejamos ao oportunizar um espaço para dialogar com as questões referentes à produção de informações do meio midiático.

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Seguindo as orientações apresentadas acima realizamos após a coleta dos dados a pré-análise do material. Organizamos os dados separando cada uma das postagens e, os comentários realizados sobre elas, de acordo com o mês e a semana em que foi realizada a postagem dentro de pastas. O mesmo procedimento foi adotado na organização dos vídeos.

Após essa organização prévia dos dados, realizamos a leitura exploratória de todo o material coletado para podermos ter uma noção mais ampliada do que havíamos coletado. Essa etapa pode também ser caracterizada segundo Bardin (2011) por leitura flutuante. Nesta etapa foi essencial estabelecer contato e conhecer os dados a analisar, deixando ser invadido por impressões e orientações.

Depois a exploração realizada sobre os dados, passamos a seleção dos documentos a serem analisados, que em nosso estudo foram selecionados os vídeos e as postagens do blog, excluindo para este momento os comentários realizados nas postagens. A leitura e a seleção dos dados oportunizaram também o levantamento de algumas hipóteses, como a predominância dos conhecimentos biológicos e das informações generalizadas, que nos embasaram durante a construção das categorias de conteúdo e da análise dos dados. Nessa fase foram realizadas as transcrições na íntegra de todos os vídeos, conforme pode ser visualizado exemplos em anexo.

Ainda na fase de pré-análise dos dados, realizamos a referenciação dos índices. Neste momento destacamos alguns pontos que se sobressaíam quanto aos conceitos de corpo e saúde, e que posteriormente contribuíram para a elaboração de indicadores sobre os conceitos estudados. Nesta fase realizamos também a formatação de todo material de forma padronizada visando facilitar a análise dos dados nas etapas posteriores.

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rígido, mas como uma orientação que delimita ações e permite o reconhecimento de características específicas de nossa pesquisa.

O segundo momento da análise dos dados caracterizou-se pela exploração do material. Segundo Bardin (2011), esta fase torna-se longa e fastidiosa, consistindo essencialmente de operações para codificação dos dados. Realizamos nessa fase através de fichas de análises a codificação dos dados, sendo que, para isso criamos duas fichas: uma para as reportagens exibidas ao vivo durante o Fantástico e os demais vídeos disponibilizados no blog e, outra para as postagens realizadas no blog3.

Na construção das fichas de análise, estipulamos previamente algumas unidades temáticas visando compreender como o quadro se manifesta sobre determinados assuntos: saberes e práticas sobre corpo e saúde; compreensão de corpo; compreensão de saúde; e informações para o público. Além disso, deixamos o espaço em cada ficha para realizar a transcrição do vídeo, uma síntese do vídeo/postagem, e um espaço para outras informações relevantes. Todavia, estas categorias prévias ou unidades temáticas, como são denominadas por Bardin (2011) não encerram as categorias de conteúdo utilizadas neste estudo, outras categorias foram construídas a partir da análise dos dados.

É essencial que as categorias de conteúdos mantenham-se articuladas com os objetivos da pesquisa, no entanto, elas “podem ser definidas previamente quando o pesquisador elege antes da análise as informações a serem procuradas no documento ou ao longo do processo de

leitura, seguindo uma perspectiva compreensiva, hermenêutica” (SILVA et al, 2009, p. 4561).

Em nosso estudo procedemos desta forma, com unidades temáticas prévias e com unidades construídas a partir da análise dos dados.

O próximo passo que foi dado se refere ao tratamento dos dados e a interpretação. Esta etapa da pesquisa foi realizada durante a construção dos capítulos da dissertação, onde foram

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firmados os temas centrais de discussão, corpo e saúde, e as unidades temáticas para delimitar de forma mais específica às discussões sobre cada tema. Direcionamos nosso olhar na busca por compreender de forma mais clara como os conceitos de corpo e saúde se difundem.

O principal referencial teórico para nossa pesquisa foi advindo do campo epistemológico das ciências humanas: da Filosofia, da Sociologia e da própria Educação Física. Dentre estes destacamos os estudos de Michel Foucault (1985, 1997, 2001, 2004, 2011, 2012), porém, além destes dialogamos com Merleau Ponty (2004, 2006, 2007), Le Breton (2010), Baudrillard (1990), Canguilhem (2011), dentre outros.

Nossa dissertação está organizada em três capítulos: o primeiro capítulo abre espaço para apresentação do local de realização da pesquisa, ou seja, o quadro Medida Certa. Neste capítulo aprofundamos nossas discussões teóricas sobre a mídia e as estratégias adotadas para veiculação de informações, especialmente da mídia televisiva e do blog, bem como apresentamos o panorama social no qual estes elementos midiáticos e suas informações estão inseridos. No segundo capítulo analisamos as compreensões, saberes e práticas apresentados durante o quadro sobre o corpo a partir de algumas categorias de análises: corpo como sistema operacional; corpo biológico; corpo fragmentado e exterior ao sujeito; corpo quantificado e atrelado à padrões; e, corpo sujeito. O terceiro capítulo foi utilizado para as discussões concernentes à saúde, também evidenciando as compreensões, saberes e práticas divulgadas durante o quadro e discutimos com base nas seguintes categorias: saúde baseada em índices de normalidade biológica; saúde associada ao emagrecimento e à padrões estéticos; saúde associada à atividade física e ao controle alimentar; e, por fim propomos uma compreensão de saúde existencial. Culminando nosso trabalho apresentamos nossas “conclusões” sobre o que

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CAPÍTULO 01

O QUADRO MEDIDA CERTA

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Apresentamos neste capítulo o espaço utilizado para realização de nossa pesquisa bem como o contexto social em que este está inserido. Expomos a seguir algumas das características principais do quadro Medida Certa, especialmente dos seus personagens e das estratégias adotadas para veiculação dos seus objetivos, seja através dos programas exibidos pela televisão ou pelas informações disponibilizadas na internet através do blog Medida Certa4. Sobre o contexto social, refletimos sobre a influência da virtualidade, da valorização da aparência, do consumo e dos conhecimentos técnico-científicos.

Antes de adentrar nas especificidades do quadro em análise, apresentamos algumas características do programa que o sustenta, ou seja, o Fantástico. Também denominado de Revista Eletrônica Semanal, o Fantástico estreou no dia 05 de agosto de 1973 e possui como característica importante à união entre a informação e o entretenimento. De acordo com Gomes (2011, p. 278) “o Fantástico estabelece um pacto hibridizado tanto para a conversação social quanto para o entretenimento”. Além disso, “seu caráter informativo de relatar

acontecimentos é confrontado com o objetivo de alimentar a conversação cotidiana com vistas

à formação da opinião pública sobre a realidade social”. O Fantástico é assim, um programa de grande destaque no cenário televisivo brasileiro, sendo reconhecido pela credibilidade e pelo diferencial no trato das informações.

O Fantástico se apresenta como o mais completo meio de informação jornalística da Rede Globo. Ele sintetiza os acontecimentos semanais e mostra detalhes novos sobre esses.

No entanto, “em função da variedade de formatos trazidos e da variedade do conteúdo

apresentado, dentro de um contexto comunicativo dialógico, marcado pela descontração e leveza, o compromisso com o entretenimento é constantemente verificado” (GOMES, 2011, p. 278).

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Ainda sobre o Fantástico, compreendemos que este vai além do entretenimento e apresenta uma forte predominância dos aspectos científicos e tecnológicos. De acordo com Barata (2006, p. 18) o Fantástico “se destacou na divulgação de temas de Ciência e

Tecnologia desde a década de 70 quando mostrava os avanços dos países desenvolvidos e

sempre reservou amplas reportagens à questão da saúde”. Através de diferentes reportagens, a saúde foi sempre ponto de pauta das edições do Fantástico, “confirmando também a

preferência pelo tema na divulgação científica de jornais e revistas”. Característica essa, que oportuniza espaço para as discussões sobre a saúde no quadro Medida Certa.

Quanto ao Medida Certa apresentado pelo programa Fantástico, este desenvolveu suas atividades entre os meses de abril, maio e junho de 2011. O mesmo foi idealizado e comandado pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla e para tanto, teve como personagens centrais dessa história, os jornalistas e apresentadores do Fantástico Zeca Camargo e Renata Ceribelli.

Para pensarmos de forma mais precisa sobre este duplo papel desempenhado pelos apresentadores no quadro Medida Certa, trazemos as contribuições de Mendes (2011, p. 7) quando fala que:

Os jornalistas Zeca Camargo e Renata Ceribelli ora são personagens do

quadro ‘Medida Certa’, quando são flagrados em suas atividades físicas, nas

horas das refeições e na rotina de trabalho, sendo interpelados pelo educador físico; ora atuam como jornalistas, reportando a sequencia de fatos, organizando a narrativa e convocando o público à ação.

(31)

Sobre o quadro, o profissional de Educação Física Márcio Atalla argumenta no

episódio inicial que “vai ser um reality, nós vamos acompanhar a vida deles e eu vou tentar

incorporar bons hábitos, principalmente através da atividade física regular” (MÁRCIO

ATALLA, VÍDEO BLOG 01). Além do profissional de Educação Física, o quadro também contou com as contribuições profissionais de médicos, nutricionistas, dentre outros.

Para o profissional de Educação Física, o quadro Medida Certa teve como objetivo principal incorporar atividade física de maneira regular e melhorar alguns hábitos de vida. Ao fazer uso da palavra, o profissional expressa: “eu vou entrar com atividade física regular, que eles não tem, a gente entra sem medicação, melhorando um pouquinho na alimentação”. Continuando sua argumentação, ele ainda expõe que: “não é uma questão apenas de

emagrecimento, a gente vai mostrar o poder que o movimento tem, que a atividade física tem,

para ajudar na vida das pessoas” (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 03). Para tanto, os apresentadores Renata Ceribelli e Zeca Camargo foram submetidos a 90 dias de intervenção com exercícios físicos e controle alimentar.

A jornalista do Fantástico Sônia Bridi argumenta sobre a importância do papel desempenhado pelo profissional de Educação Física Márcio Atalla no quadro auxiliando os

apresentadores. Segundo ela, “ele está sempre ali ao lado, mantendo acesa a chama nos dois”

(32)

Quanto ao tempo estipulado para a realização das intervenções, Márcio Atalla diz que 90 dias é o tempo mínimo necessário para a obtenção das mudanças esperadas, ou seja, reprogramar o corpo e entrar na medida certa. Segundo ele:

Você fazer atividade física e ter boas escolhas na alimentação é para a vida inteira. Os três meses que o Zeca e a Renata vão passar é o tempo mínimo para o corpo se reprogramar, para ele entender que existe uma nova realidade. Os três meses é o tempo que eu consigo colocar no Zeca a consciência da atividade física regular, é o tempo que eu consigo que ele passe a fazer boas escolhas na alimentação e isso vai refletir no corpo, não só para o corpo perceber uma nova realidade, mas como para mostrar os resultados que os dois vão alcançar (MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 01).

Perante essa justificativa, utilizou-se do período de três meses para a realização das intervenções. A jornalista Renata Ceribelli comenta: “nossa copa dura 90 dias, este é o tempo de entrar na medida certa” (RENATA CERIBELLI, VÍDEO FANTÁSTICO 11). Quanto ao

desenvolvimento do quadro e sua consequente exposição na mídia, evidenciamos que inicialmente foram apresentados os três integrantes principais (Márcio Atalla, Renata Ceribelli e Zeca Camargo).

(33)

Começando por Márcio Atalla (imagem 03): “Sou professor de Educação Física, já tem mais de 10 anos que eu venho desenvolvendo esse trabalho com pessoas, que é

basicamente incorporar atividade física de maneira regular e melhorar alguns hábitos de vida”

(MÁRCIO ATALLA, VÍDEO BLOG 02).

Ao analisarmos a imagem 03 do profissional de Educação Física Márcio Atalla, evidenciamos que esta compõem-se de elementos que alimentam ainda mais o imaginário social sobre o professor de Educação Física, especialmente pelos equipamentos e vestimentas. O halter posicionado em sua mão, assim como toda postura corporal, reforçam a imagem de um profissional preocupado com o trabalho muscular estético e de força, como demonstram as veias que saltam sobre o braço e o antebraço direito. As roupas aparentemente leves acentuam o indicativo da prática de atividade física. Ao mesmo tempo em que seriam mais confortáveis para a realização de movimentos e a transpiração do corpo, elas também colocam a mostra as marcas de um corpo definido e trabalhado esteticamente. O leve sorriso e o olhar convidam os expectadores a também realizarem a prática do levantamento de peso como sendo algo fácil e prazeroso.

No site de Márcio Atalla (2012) na internet, ele abre espaço para uma apresentação profissional mais detalhada, segundo ele:

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para os Estados Unidos, onde trabalhei com atletas profissionais de tênis, entre eles a brasileira Miriam D´Agostini, a grega Christina Papadaki, a holandesa Seda Noorlander. No início de 1999 aceitei o desafio de preparar o campeão olímpico de vôlei, o capitão Carlão, ao lado do parceiro Paulo Emílio, no vôlei de praia. Trabalhei com essa modalidade até o final das Olimpíadas de 2000, em Sydney, quando decidi que era hora de iniciar um novo projeto: de conscientizar as pessoas da importância de adotarem um novo jeito de viver. Em agosto de 2000 criei a marca BemStar, com o portal www.bemstar.com.br, que evoluiu ao longo dos anos para outras mídias, como a revista de bordo BemStar e o livro Segredos do Gnt para o seu BemStar, lançado em dezembro de 2007, e na televisão o programa BemStar do canal Gnt, no ar desde 2006, atualmente reapresentado pelo canal Viva, Globosat. Em 2010 desenvolvi um projeto com a editora Globo, um reality show, chamado Época Saúde, que durante 3 meses se propôs a mudar a vida de 6 pessoas sedentárias que queriam ganhar mais saúde. Foram 13 DVD´s encartados semanalmente pela revista Época. Logo depois, tive o prazer de levar esse mesmo desafio para o programa Fantástico, e trazer mais qualidade para às vidas de Zeca Camargo e Renata Ceribelli, pelo quadro Medida Certa. Esse ano, o desafio Medida certa foi especialmente para crianças, e virou o Medidinha Certa, um serviço excelente para auxiliar pais e filhos, enfim, as famílias brasileiras, a viver melhor, com mais qualidade. Lancei recentemente o livro Sua Vida em Movimento, pela editora Paralela, e o DVD Vida Saudável com Marcio Atalla, pela Sony Music Brasil. Dois ótimos guias para quem quer mudar de vida e não sabe por onde começar. Atualmente, sou colunista da revista Época e da Rádio CBN, diariamente às 7h40 da manhã. Também ministro palestras em diversos eventos. Estou de volta ao Fantástico com o novo Medida Certa, e agora o desafio será ainda maior: Ronaldo Fenômeno. Nos próximos meses você poderá acompanhar e aprender, com dicas eficientes, como ser saudável e viver bem! Até breve, e bons treinos! (MÁRCIO ATALLA, 2011).

(35)

Sobre o profissional, não localizamos o seu currículo lattes, nem vínculo com nenhuma instituição de ensino superior e pesquisa.

Com relação à apresentação dos jornalistas no quadro, identificamos que foram descritos diante suas condições corporais. Ambos voltam ao passado para mostrar através de imagens o quanto eram magros e que, com o passar do tempo e as mudanças de hábitos obtiveram alterações na constituição corporal com consequente aumento de peso. Inicialmente, Renata comenta que engordou após a sua gravidez de gêmeos, passando a ter mais de 30 quilos do seu peso anterior, e daí em diante foi sempre uma luta constante para reduzir e manter o peso. Como pode ser visto na imagem 04, o gesto do braço flexionado e de punho fechado reforça o discurso da jornalista de guerra constante contra o peso. A posição descrita, bem como a expressão facial, simbolizam a preparação para a guerra contra a balança. Nessa luta será necessária determinação, conforme evidencia seu o olhar e o lábio ligeiramente mordido.

(36)

No intuito de sabermos mais informações sobre essa apresentadora e jornalista, encontramos no site do Fantástico a seguinte descrição que mostra a sua inserção na Televisão e outros elementos sobre a sua formação profissional.

Em 1986, a passagem do cometa Halley causou sensação. A TV de Campinas preparou um programa especial para registrar o evento, mas, na última hora, o apresentador escalado não pôde ir. Foi então que a jovem repórter Renata Ceribelli encarou pela primeira vez as câmeras. Dali para a frente, não parou mais. Coincidência ou não, podemos dividir a carreira de

Renata em “antes do cometa” e “depois do cometa”! Mas a história começou bem antes de cometas e afins. Começou em São José do Rio Preto, cidade de São Paulo onde Renata nasceu. Cursou jornalismo na PUC-Campinas e se formou em 1985, quando foi trabalhar como rádio escuta na TV Campinas.

“Eu lia todos os jornais, revistas, assistia a todos os noticiários e passava as informações para o pauteiro, na redação”, conta Renata.

Depois da grande estreia, passou a fazer reportagens nas ruas. Nessa temporada, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog por uma matéria sobre um abrigo para deficientes mentais e uma menção honrosa por outra, sobre o cotidiano dos meninos de rua, viciados em cheirar cola. Esteve por dois anos no SBT e entrou para substituir Leonor Corrêa, irmã do Faustão, no programa Vitrine, da TV Cultura. Agradou tanto que foi parar no Vídeo Show e lá ficou por seis anos. Até que, no início de 1999, entrou para a equipe do Fantástico, em São Paulo (FANTÁSTICO, 2012).

O quadro Medida Certa apresentou também as características de Zeca Camargo (imagem 05). O mesmo destaca que sempre foi magro, porém com o passar dos anos foi obtendo um acúmulo de peso, principalmente em decorrência da rotina agitada de trabalho,

como podemos perceber durante sua fala no primeiro episódio da série: “então essa é mais ou

menos a nossa rotina, comer entre as gravações, sem horários e exercícios só quando o tempo

(37)

A imagem 05 do jornalista Zeca Camargo evidencia através da expressão facial, de sobrancelhas arqueadas e leve sorriso no canto da boca, a sua resistência sobre as práticas a serem realizadas durante o desenvolvimento do quadro. Na imagem vemos também um dos grandes aliados do apresentador na realização do desafio, os fones, representantes das músicas que segundo o jornalista são estímulos à sua prática.

Torna-se importante destacarmos que tanto na imagem 04 quanto na 05 os corpos dos apresentadores estão refletidos em espelhos. Estes estão presentes nos espaços de avaliação na imagem 04 e nos espaços de realização da atividade física como na imagem 05. Entendemos esses espelhos como um reforço à necessidade da visualização do corpo a partir de suas aparências, funcionando como uma voz da verdade sobre a situação do corpo. Além disso, os espelhos apresentam-se como um reforço a valorização da imagem no contexto de uma

sociedade virtualizada e “presa” as aparências. Portanto, eles representam a valorização da

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percepção visual exterior como negação da percepção corporal mais ampla de cada indivíduo através dos diferentes sentidos.

No site do Fantástico também há a descrição do apresentador e jornalista Zeca Camargo, como pode ser observado na citação abaixo:

Zeca Camargo é apresentador e repórter do Fantástico. No programa desde 1996, já fez entrevistas com grandes nomes do “showbizz”, como Madonna,

Lady Gaga e Gisele Bündchen. Também é conhecido pelas reportagens

sobre assuntos ligados ao público jovem, como no quadro “Altos Papos”.

Desde 1998, Zeca Camargo desenvolve projetos especiais para o Show da Vida. O primeiro deles foi “Aqui se Fala Português”, uma série sobre os

lugares do mundo onde é possível ouvir a nossa língua. O projeto foi realizado para marcar os 500 anos do descobrimento do Brasil.

Em 2004, foi a vez de “A Fantástica Volta ao Mundo”, uma viagem de quatro meses, onde o público escolhia por interatividade os lugares que seriam visitados nas reportagens. Em 2009, completou mais uma volta ao mundo, desta vez explorando alguns dos mais interessantes Patrimônios da Humanidade da Unesco. As duas aventuras tornaram-se livros, que estão entre os mais vendidos da coleção Fantástico. Outros projetos especiais

incluem “Passado Presente” (2008), série de reportagens pelo Japão para marcar os 100 anos da imigração japonesa; e “Novos Olhares” (2007), uma

investigação sobre pensadores da vida moderna. Em 2010, Zeca Camargo

realizou a série “MegaCidades”. Para as reportagens, ele visitou algumas das

maiores aglomerações humanas do mundo. Com suas reportagens, Zeca Camargo já colecionou visitas a mais de 90 países pelo mundo (FANTÁSTICO, 2012).

Conforme apresentamos, os jornalistas possuem uma formação profissional adequada à função que exercem, com experiência no trabalho com uma diversidade de assuntos e situações. No entanto, vale ressaltar que estes estão a serviço de uma empresa que além de objetivar a mediação de informação objetiva também a obtenção de lucros, mantendo forte relação com a comercialização de produtos e marcas, e, desta forma, suas atuações ficam limitadas aos interesses da empresa que estão vinculados.

(39)

Frente a este cenário inicial, compreendemos que uma das principais características da mídia televisiva para obter visibilidade entre a população é agregar dentro de sua programação a vida cotidiana de pessoas públicas, especialmente aquelas consideradas famosas diante o cenário social, ou mesmo de acontecimentos que provoquem impactos sobre a vida dessas pessoas (MENEZES, 2007). Essa característica pode ser percebia ao utilizar dos apresentadores acima citados para participarem do quadro em questão.

Ainda sobre os “personagens”, Márcio Atalla argumenta que todo aluno possui

algumas particularidades e apresenta o que conseguiu perceber inicialmente dos dois apresentadores. Sobre Renata Ceribelli o profissional destaca, “eu já percebi que a Renata é

super determinada, só tá um pouquinho ansiosa. É só dá um pouquinho de carinho e atenção

que ela vai”. Quanto a Zeca Camargo ele comenta, “o Zeca é uma pessoa sem rotina, mas ele

já está entendendo que a atividade física vai mudar a vida dele” (MÁRCIO ATALLA,

VÍDEO BLOG 01).

Embora tenhamos apresentado Márcio Atalla, Renata Ceribelli e Zeca Camargo como os três personagens principais do quadro Medida Certa, no entanto, percebemos que integra esse grupo um personagem ainda maior, composto pela união de várias pessoas, ou seja, a população. Verificamos assim, como nos fala Zovin (2008, p. 2) que “a vida privada do telespectador brasileiro se confunde com a vida pública que a TV oferta”. Este fato pode ser

observado quando a vida dos apresentadores se tornou pública e os telespectadores passaram em sua maioria a vê-los como “iguais” a si, despertando assim um estado de confusão que

assemelha a vida privada dos telespectadores à vida pública dos apresentadores. Para a jornalista Sônia Bridi “o quadro é um sucesso, entre outros motivos, por que uma multidão se identifica com o esforço da Renata e do Zeca” (SÔNIA BRIDI, VÍDEO BLOG 13).

(40)

especialmente para as pessoas que assim como eles se encontravam acima do peso e

necessitavam entrar na “medida certa”. Conforme argumenta Mendes (2011, p. 4) “os meios

de comunicação exigem tanto das celebridades quanto das pessoas comuns à adequação do

corpo a um padrão estético considerado perfeito”. Ainda segundo a autora:

Ancorado em promessas de emagrecimento rápido, o telejornalismo, tal como a publicidade, oferece um farto banquete de informações sobre dietas, atividades físicas e procedimentos estéticos, colocando a disposição do público informações que recomendam como construir um corpo ideal (MENDES, 2011, p. 8)

Pensando sobre isto, poderíamos elencar como característica da mídia a veiculação de modelos para população visando à adequação em padrões, especialmente aqueles relacionados

à imagem corporal. Desta forma, percebemos que “as narrativas jornalísticas impõem

modelos possíveis de imitação, fazendo o indivíduo supor que realiza sua escolha de modo

autônomo, mas, na verdade, tal decisão é efeito de uma influência midiática e mercantilizada”

(MENDES, 2011, p. 11). Os sujeitos são sempre interpelados por mensagens que lhes dotam de liberdade para realização de escolhas e tomada de decisões, entretanto essa liberdade é em si já delimitada por seleções realizadas previamente por aqueles responsáveis pela produção das informações.

Refletindo ainda sobre a veiculação de modelos, compreendemos que este papel é desempenhado frequentemente pela Televisão. Segundo Zovin (2008, p. 2) “na atual

sociedade midiática, é principalmente através da TV que as pessoas aprendem a seguir

modismos, a conhecer produtos e serviços”. Continuando, a autora ainda argumenta que

“tratando-se da televisão, é obviamente intensa e crescente a interferência na modelagem dos

padrões de vida da nossa sociedade, afinal a TV é um grande simulador das imagens da vida”

(41)

as imagens postas dos apresentadores em busca da perda de peso configurar-se-ia como uma

representação de “suas” realidades.

O envolvimento da população com o quadro deve-se também entre outros motivos às convocações e convites realizados para estarem participando junto com os apresentadores. Estes convites foram feitos com frequência através dos comentários realizados pelos apresentadores e pelo profissional de Educação Física durante as reportagens. Este fato despertou em muitas pessoas a sensação de estarem participando junto com eles, já outros, entretanto, deixaram dicas de que o quadro pudesse também ser realizado com pessoas

“normais” e não apenas com os famosos.

Essa abertura dos objetivos do quadro à população pode ser compreendida de forma significativa por oportunizar um olhar para atenção ao corpo e ao cuidado com a saúde, além de incentivar a prática de atividade física e a busca por uma alimentação saudável. Entretanto, deve ser refletida em muitos aspectos por atuar na formação de estereótipos corporais, por auxiliar na padronização da saúde, na generalização das prescrições de exercícios e dietas, além de não reconhecer as diferenças individuais e sociais, sejam elas, econômicas, regionais e culturais.

As informações apresentadas no quadro trazem significantes contribuições para o esclarecimento e formação das pessoas, porém, como alertamos acima, podem trazer junto alguns efeitos negativos por direcionar-se a grande massa e não reconhecer as individualidades dos sujeitos que as recebem. Como alerta Lima (2010, p. 1) “os dizeres veiculados no universo midiático dispõem de sentidos específicos que negam muitos outros”.

(42)

É necessário também compreendermos que a mídia tem como função primordial a mediação de informações dos produtores para os receptores de forma massificada. Essa característica acaba por acentuar a generalização e a homogeneização de hábitos, comportamentos, valores e atitudes. Entendemos que o excesso de informações ao mesmo tempo em que esclarece, confunde as pessoas, ameaça as “defesas” destas na recepção de informações, especialmente as midiáticas. No entanto, o sujeito é dotado de um conjunto de informações e conhecimentos que lhes permitem inferir sentidos ao conteúdo recebido, muitas vezes rejeitando-os.

Em suma, a mídia através de suas veiculações pode interferir nos acontecimentos sociais e consequentemente na vida das pessoas. Entretanto, vale ressaltar que as pessoas guardam em si pontos de resistências que poderão ser manifestados na discordância de uma

opinião ou pensamento veiculado pela mídia. Para Dantas (2007, p. 24) “como legítimos

educadores informais, os mass média incidem de forma maciça sobre a formação do

imaginário coletivo, de forma a cumprirem tanto uma função de padronização dos

comportamentos, quanto um papel de emancipação das massas”. Esses diferentes papéis que podem ser desempenhados pela mídia estão imbricados com os objetivos dos produtores das informações, bem como, com os pontos de resistências e aceitação dos que consumem suas informações.

De acordo com Menezes (2007, p. 5) “a mídia funciona através do uso de mecanismos

cognitivos, onde o cotidiano se torna elemento definidor da condução, incorporação e repertório que alimenta suas programações diárias, fazendo com que o telespectador se

identifique com seu conteúdo”. Dessa forma, compreendemos que o cotidiano é o elemento

principal das veiculações midiáticas, seja ele em sua realização primária, ou mesmo diante a

simulação dos seus acontecimentos através de elementos “cênicos” com vista à construção do

(43)

Os elementos “cênicos” dos espaços midiáticos utilizados para simular ou incrementar os acontecimentos cotidianos são em sua maioria oportunizados pelos avanços tecnológicos.

Sobre isso, Menezes (2007, p. 3) argumenta que “a mídia utiliza os avanços tecnológicos

como forma de garantir a qualidade, acessibilidade, precisão, velocidade e ampliação do raio

de cobertura no que concerne à ampliação do poder de persuasão ou de convencimento”.

Corroboramos com Malta e Domingos (2007, p. 9) quando afirmam que “a atuação

dos meios de comunicação de massa transforma as relações sociais e, portanto, é notável a influência que eles possuem sobre o público, sendo consideradas as mais poderosas

instituições culturais do mundo”. Esta transformação é estimulada pelos diferentes meios de

comunicação, entretanto observamos que a Televisão enquanto instituição midiática possui

um grande destaque neste cenário. Como afirmam Rocha e Aucar (2011, p. 56) “até hoje

nenhum outro veículo movimenta mais audiência das massas do que a televisão”. Como

características desse destaque podemos elencar que “a recepção de imagens televisivas

proporcionam prazer e satisfação, consequentemente cria hábitos, tanto é que a televisão faz parte da rotina dos brasileiros” (ZOVIN, 2008, p. 2). No entanto, é importante compreendermos que o jogo de articulação dos elementos que compõem as informações midiáticas acabam por despertar significados específicos em cada sujeito a partir do encontro destas informações com as experiências de vida que este possui. Assim, a forma de recepção não é unilateral. O sujeito não apenas recepciona de forma passiva as informações, ele é também capaz de rejeitar as informações mediadas.

Pensando o destaque do meio televisivo, direcionamos nossa pesquisa as informações mediadas por ele, especificamente através das informações veiculadas no telejornal, também referenciado como revista eletrônica, Fantástico. De acordo com Moroni e Oliveira Filha

(2008, p. 5) “no Brasil, o telejornalismo assume o papel de maior fonte de informação da

(44)

Dentre as características do telejornalismo, destacamos como essencial a sua capacidade de promover a articulação entre o texto e as imagens. Para Moroni e Oliveira Filha (2008, p. 8):

Não existe um consenso sobre o que teria maior importância no telejornalismo: o texto ou a imagem. A proposta mais aceita é considerar ambos como parte da linguagem jornalística [...]. Porém, não há dúvidas de que a imagem é o grande diferencial e maior atrativo da televisão em relação aos outros meios de comunicação.

Todavia, percebemos que um dos fatores que na maioria das vezes é utilizado para justificar a valorização das imagens em detrimento dos textos diz respeito ao fato de que a

imagem tenta trazer a tona a “verdadeira” realidade. A imagem busca colocar para os

telespectadores o acontecimento de forma que eles possam acreditar que consomem o acontecimento em sua forma primária, não sendo na maioria das vezes questionada. Como diz

o ditado popular, “só acredito vendo”, a imagem teria capacidade de oportunizar a visão dos

acontecimentos que o texto não conseguiria, mesmo através de uma boa descrição. Portanto, a imagem promove uma síntese dos acontecimentos, o que demandaria esforços bem maiores para serem descritos através de um texto, ou similares. Em síntese, uma boa imagem seria aquela que consegue despertar no telespectador o desejo de continuar visualizando-a, são aquelas que desestabilizam suas emoções.

Outra característica do telejornalismo diz respeito à brevidade que adota na veiculação de informações. Isto acontece dentre outros fatores “em função do imediatismo do tempo, da

objetividade necessária e da exigência de que o conteúdo seja compreendido pelo receptor no

momento em que é transmitido” (MORONI e OLIVEIRA FILHA, 2008, p. 9). Estas

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Como integrante da mídia, o telejornal, assume os acontecimentos do cotidiano na veiculação de informações. Para Mendes (2011, p. 1):

O telejornalismo é um modo de construção da realidade, é possível afirmar que as noticias constituem uma parte do real, estruturada a partir de um principio de verdade que não reside no próprio discurso, mas em seus efeitos, sendo, portanto, um meio fragmentado de reproduzir o mundo.

A impossibilidade da construção do real dar-se, dentre outros fatores, pela preocupação demandada sobre os efeitos da reprodução, e não sobre a reprodução em si. Entretanto, é importante percebermos que a reprodução fragmentada do real é consequência da transformação do real em noticia, sendo que, essa transformação acontece mediante a utilização de técnicas de produção jornalísticas, que desempenham dentre outras funções a seleção e a restrição dos acontecimentos.

A tentativa do telejornalismo de reconstruir a realidade cotidiana, mesmo que de forma fragmentada, é recortada por inúmeros interesses dos produtores das informações. Segundo Mendes (2011, p. 3) “o telejornalismo enquadra a realidade a partir de um

determinado enfoque, operando a seleção de um assunto e a seleção de outros, tendo em vista o perfil do seu público e sem esquecer de que o produto o qual manipula diariamente está

inscrito numa ordem de consumo”. Está ordem é orientada a partir de um contexto social onde o consumo de produtos e serviços e exacerbadamente valorizado. Assim, a mídia enquanto meio, acaba divulgando e reforçando elementos de uma sociedade do consumo.

Percebemos que essa ordem de consumo está dissipada nos diferentes espaços e relações sociais, e com grande destaque nos cenários de atuação da mídia. Dessa forma, segundo Rocha e Aucar (2011, p. 53):

Para compreender o fenômeno do consumo na sociedade

(46)

elaborada e sustentadas culturalmente. Os significados dos bens materiais são incorporados nas subjetividades, nas identidades sociais e nas relações humanas através de sistemas simbólicos, hierárquicos e discriminatórios.

O alerta sobre as necessidades humanas abordadas pelos autores citados acima é importante para pensar que o consumo estimulado pela mídia dar-se a partir de interesses que se relacionam com os objetivos dos responsáveis pela produção das informações e não como algo natural. Percebemos ainda que o consumo dos bens materiais comercializados nestes espaços afeta as subjetividades das pessoas através dos significados que cada produto

consegue despertar nelas. Sobre isto, compreendemos que “ao consumir um produto

consumimos também seus significados e, com eles, podemos elaborar uma identidade, ser parte de um grupo, se afirmar e se sustentar dentro de um dado cultural” (ROCHA e AUCAR,

2011, p. 54).

Quanto ao consumo e os significados que este desperta através dos produtos e serviços consumidos pela população, os autores supracitados complementam:

O consumo é um fenômeno que transforma produtos e serviços em um sistema de significação através do qual podem ser elaborados aspectos da subjetividade, traduzidas relações sociais e suprimidas diversas necessidades simbólicas, tornando-se um modo central de interpretação do mundo que nos cerca. O consumo é, portanto, um código capaz de atribuir sentido identidades, sentimentos e relações sociais inserindo-os em um sistema de classificação de coisas e pessoas, cultura material e identidades, indivíduos e grupos (ROCHA e AUCAR, 2011, p. 54).

(47)

Estas reflexões a respeito do consumo trazem contribuições importantes para pensarmos os elementos que foram consumidos pelos apresentadores, bem como pela população que acompanhou o desenvolvimento do quadro Medida Certa, especialmente quando relacionadas ao corpo e a saúde.

Durante os três meses de desenvolvimento do quadro, os apresentadores tiveram suas rotinas acompanhadas. O dia-a-dia dos apresentadores no trabalho, em casa, no lazer, entre outros, foram registrados e apresentados nas reportagens do Fantástico no domingo à noite, além disso, os vídeos e outras informações foram disponibilizadas no blog do quadro.

O blog configurou-se como ponto de apoio essencial para o quadro, haja vista que os apresentadores usaram deste como uma espécie de diário de campo onde expressaram o que sentiam diante as diferentes fases da intervenção, desde os momentos de maiores dificuldades aos momentos de resultados positivos. Além disso, a importância do blog deve-se ao fato deste oportunizar uma interatividade entre os apresentadores, o profissional de Educação Física e o público.

No contexto atual verificamos que o blog possui um grande destaque no cenário da mediação de informações. Sobre eles, Silva (2008, p. 78) comenta: “fato é que os blogs

tornam-se cada vez mais populares, e diversificados”. Este cenário evoca a presença de uma sociedade que cada vez mais recorre aos espaços virtuais para desenvolver suas relações sociais, sejam elas, afetivas, profissionais e de prestação de serviços. Assim, estamos diante uma sociedade virtualizada que busca através da internet e de seus espaços de veiculação de informações respostas para as necessidades do sujeito. No contexto do quadro Medida Certa, a sociedade recorreu através do blog à informações diferenciadas sobre alimentação e a atividade física.

(48)

O blog é uma publicação na forma de uma página da web, atualizada, frequentemente, composta por blocos de textos, chamados posts e apresentados por uma ordem inversa, onde o texto mais recente aparece em primeiro lugar. Estes textos são escritos, normalmente, pelo autor do blog ou por convidados, mas podem ser comentados pelos visitantes, permitindo, assim, a interação entre autor e visitante/leitor.

Diante destas características, compreendemos a importância do blog no cenário das comunicações, e consequentemente, sua importância na veiculação de informações referentes ao quadro Medida Certa, especialmente por oportunizar essa interação com o público a partir do espaço destinado aos comentários.

Portanto, o blog se configura como uma via de mão dupla, ou seja, permite que a informação seja veiculada pelos produtores, entretanto, abre espaço para que os receptores das informações emitam seus posicionamentos sobre as informações recebidas. Seria uma forma de libertação, mesmo que tímida, das amarras sociais muitas vezes impostas pela mídia.

Embora tenhamos uma diversidade de estilos de blogs, percebemos uma predominância no blog da escrita em primeira pessoa, servindo a muitos como diário pessoal.

Entretanto, diferente dos diários usados em outras épocas, que seriam “guardados a sete

chaves”, os blogs têm justamente a função inversa, ele quer divulgar, quer expor, assim, quanto mais visitado, lido e comentado ele for, maior é a satisfação daqueles que o gerenciam.

No blog do quadro Medida Certa verificamos em muitos momentos essa narrativa de si, especialmente nos posts realizados pelos apresentadores. Nestes posts foram expostos os resultados alcançados, os investimentos realizados, as dificuldades enfrentadas, entre outros assuntos. Além disso, percebemos que o blog também despertou os internautas para o exercício da vigilância sobre os novos hábitos adquiridos pelos apresentadores, sejam eles, alimentares ou de exercícios.

Imagem

TABELA 01  – COMENTÁRIOS POSTADOS NO BLOG MEDIDA CERTA
TABELA 02  - POSTAGENS REALIZADAS NO BLOG MEDIDA CERTA  01/04/2011  – 26/06/2011

Referências

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