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Crônicas da alta sociedade: discursos, representações e cotidiano nas colunas sociais do jornal Folha do Oeste (Guarapuava, PR, 1959 – 1964)

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CRÔNICAS DA ALTA SOCIEDADE:

DISCURSOS, REPRESENTAÇÕES E COTIDIANO NAS COLUNAS SOCIAIS DO JORNAL FOLHA DO OESTE

(GUARAPUAVA, PR, 1959-1964)

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CRÔNICAS DA ALTA SOCIEDADE:

DISCURSOS, REPRESENTAÇÕES E COTIDIANO NAS COLUNAS SOCIAIS DO JORNAL FOLHA DO OESTE

(GUARAPUAVA, PR, 1959-1964)

Dissertação apresentada a Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista para a obtenção do título de Mestre em História (Área de conhecimento: História e Sociedade).

Orientadora: Profª. Drª. Flávia Arlanch Martins de Oliveira

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Maria, Maurício de Fraga Alves.

M332 Crônicas da alta sociedade : Discursos, representações e cotidiano nas colunas sociais do jornal Folha do Oeste

(Guarapuava, PR, 1959 – 1964). Assis : [s. n], 2011.

137 p. : il.

Dissertação (mestrado em História) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, câmpus de Assis.

Orientadora: Drª. Flávia Arlanch Martins de Oliveira

1. História – vida social e costumes. 2. Colunas sociais.

3. Elites. I. Título. CDD 907.2

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tempo, abrangia do aniversário ao obituário, informando tudo sobre casamentos, festas, bailes, recepções falecimentos e missas. Minha mãe explicava o seu interesse pela vida social como um dos meios pelos quais volta e meia tinha notícia de amigas da sua geração que se dispersaram depois que contraíram casamentos.”

(Jornalista Coelho Neto, citado por Marialva Barbosa em Os

Donos do Rio: Imprensa, poder e público. Rio de Janeiro: Vício

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137f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2011

RESUMO

O objetivo dessa dissertação será interpretar os discursos e representações presentes na coluna social “Rumores Sociais”, editada entre 1959 e 1964 no periódico guarapuavano Folha do Oeste. Neste percurso, buscamos compreender quem eram os seus produtores e quais as estratégias utilizadas para difundir estes discursos entre as elites guarapuavanas, bem como a que prática estes estavam ligados. A partir desse objetivo, poderemos perceber as especificidades nas interpretações sobre as transformações vividas pela cidade tendo em vista os sujeitos que as inscreveram. Analisando estas representações, poderemos perceber os limites e papéis impostos pelas elites a si e aos demais integrantes do espaço urbano, delimitando quais as atitudes aceitáveis, quais as depreciáveis e de que forma estabeleciam os espaços a serem ocupados por cada grupo dentro da vida social citadina

PALAVRAS-CHAVE

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2011. 137f. Thesis (MA in History) - College of Letters and Science of Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2011

ABSTRACT

The objective of this dissertation is to interpret the discourses and representations in the gossip column “Rumores Sociais”, published between 1959 and 1964 in the Guarapuava’s newspaper Folha do Oeste. In this course, we understand who the producers and the strategies used to disseminate these discourses among Guarapuava’s elites and the practice that transformations experienced by the city in order that the subjects enrolled. Analyzing these representations we realize the limits and roles imposed by the elites themselves and other members of the urban space, limiting what actions acceptable, depreciable and which established how the spaces to be occupied by each group within the city social life.

KEY-WORDS

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Mapas

Mapa nº 1 – Divisão Política do Estado do Paraná – 1940. 20

Fotos e periódicos

Figura 2 – Casa Comercial Missino s/d... 23

Figura 3 - Clube Guairá – s/d ... 24

Figura 4 – Teatro Santo Antonio s/d ... 25

Figura 5 – Caminhões carregados de madeira na rua Senador Pinheiro Machado - 195728 Figura 6 – O Guayra 23 de Abril de 1898 (não mais redatoriado por Cleve)... 36

Figura 7 – Antonio Lustosa de Oliveira - 1920 ... 37

Figura 8 – O Pharol - 30 de Julho de 1922 ... 38

Figura 9 – Programação do cine Guará 2 de setembro de 1962 ... 51

Figura 10 – A esquerda, “Vinte anos de crônica social: Gilberto Tropowski – Jacinto de Thormes” ; A direita “Crônica social de Jacinto0 de Thormes – O Cruzeiro...59

Figura 11 – “O beijo de Mangabeira” – O Globo, 1946... 60

Figura 12– “Vida Social” – Jornal A Cidade, 03 de junho de 1934, p.4. ... 64

Figura 13 – Revista Flash, julho de 1985... 67

Figura 14 – “Rumores Sociais”, Folha do Oeste, 24 de maio de 1959. ... 69

Figura 15 – “Rumores Sociais”, Folha do Oeste, 4 de dezembro de 1960. ... 71

Figura 16 – “Rumores Sociais”, Folha do Oeste, 18 de março de 1962. ... 72

Figura 17 – “Jacinto de Thormes apresenta Sociedade e Adjacências”, Ultima Hora, 17 de setembro de 1961, p.11... 73

Figura 18 – “Ibrahim Sued Informa”, Diário Carioca, 31 de dezembro de 1963... 74

Figura 19 – “Rumores Sociais”, Folha do Oeste, 3 de maio de 1964. ... 77

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Introdução ... 10

Capítulo I Guarapuava: cotidiano e as mudanças do cenário citadino na segunda metade do século XX. ... 19

1.1 – Tempos de mudança: o fim da década de 1940 e as transformações no cenário citadino ... 19

1.2. – Guarapuava e a década de 1950: um espaço de disputas. ...31

1.3 – Observadores e difusores de idéias: os jornais em Guarapuava ...33

Capítulo II Na cidade rumores: colunas sociais e colunistas em Guarapuava...52

2.1 – As colunas sociais no Brasil: algumas considerações ...52

2.2 – “Rumores Sociais”: as colunas sociais em Guarapuava...63

2.3 – O público leitor: diálogos e negociações ...80

Capítulo III Crônicas da alta sociedade: discursos e representações nas colunas sociais do Folha do Oeste ... 96

3.1 – Importância: uma questão de ponto de vista ... 97

3.2 – Moldando padrões, difundindo representações: os “Dez mais da sociedade guarapuavana”. ... 103

3.3– Crônicas da Fidalguia: os limites da visibilidade social...118

Considerações finais ... 128

Relação de Fontes ... 131

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O objetivo dessa dissertação será interpretar os discursos e representações presentes na coluna social “Rumores Sociais”, editada entre 1959 e 1964 no periódico guarapuavano Folha do Oeste. Neste percurso, buscamos compreender quem eram os seus produtores e quais as estratégias utilizadas para difundir estes discursos entre as elites guarapuavanas, bem como a que prática estes estavam ligados

Desta forma, entendendo-os como interpretes de seu momento, pretendemos mostrar em que sentido os colunistas sociais contribuíram ou visualizaram as mudanças sociais em Guarapuava na medida em que também difundiam novas representações e ao mesmo tempo ratificavam as já estabelecidas socialmente.

A partir desse objetivo, buscamos perceber as especificidades nas interpretações sobre as transformações vividas pela cidade na década de 1950 e os sujeitos que as inscreveram. Neste período, as transformações desencadeadas após a chegada de grupos madeireiros na cidade foram fundamentais na definição das transformações que marcaram o espaço urbano guarapuavano pós 1950, tendo em vista que a presença de tais madeireiros não apenas estimulou a chegada na cidade de novos contingentes populacionais, mas também alterou as relações de poder, uma vez que estes, ao se estabeleceram na cidade acabaram disputando politicamente e socialmente o poder com as elites mais antigas. Entre estas antigas elites da cidade estava a denominada “elite campeira”, um grupo de fazendeiros ligados familiarmente aos fundadores da cidade e que por longo tempo hegemonicamente dominaram a política local.

Analisando as representações presentes na coluna “Rumores Sociais”, foi possível também perceber os limites e papéis impostos pelas elites a si e aos demais integrantes do espaço urbano, delimitando quais as atitudes aceitáveis, quais as depreciáveis e de que forma estabeleciam os espaços a serem ocupados por cada grupo dentro da vida social citadina. Portanto, ao observar estas práticas, levou-se em conta o fato de “não haver prática ou estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos e grupos dão sentido ao mundo que é o deles”. 1

As balizas temporais foram delimitadas levando-se em conta o início e o fim da publicação da coluna social “Rumores Sociais” (1959-1964), editada no maior e mais

1

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duradouro jornal guarapuavano, o Folha do Oeste.2

O jornal, criado em 28 de fevereiro 1937 pelo fazendeiro Antonio Lustosa de Oliveira, foi o periódico que se manteve em circulação pelo maior tempo em Guarapuava, sendo publicado por mais de 40 anos. Este jornal representava as aspirações de seu fundador, bem como do grupo ao qual ele pertencia, a “Elite Campeira” que, segundo Ruy Wachowicz, teve o início do seu declínio no fim do século XIX, devido à queda das vendas de gado.3

Nessa perspectiva, estudar tais colunas sociais justifica-se na medida em que essas não servem apenas à difusão de discursos ligados a grupos locais, mas também podemos dialogar com discursos que circulavam em contextos mais amplos. Para este estudo delimitamos nossas observações nos padrões de comportamento, estratégias políticas de legitimação, ligadas as relações de poder e prestígio, vendo nesses fatores aspectos fundamentais para a construção das identidades locais e regionais.4

Dessa forma o objetivo principal estabelecido para este trabalho foi analisar, no período compreendido entre 1959 a 1964, as colunas sociais editadas nos jornais guarapuavanos, bem como aspectos da produção jornalística da época, ou seja, procurar interpretar os discursos enunciados pelos periódicos, as representações constituídas, os conflitos em que estão inseridos bem como o papel que cada um deles desempenha nestes.

Também se pretendeu refletir também sobre as representações criadas por esses periódicos, com o objetivo de buscar detectar e analisar as peculiaridades nas relações de poder, prestígio e construções identitárias em Guarapuava no período delimitado.

Nesta perspectiva, entendemos estas colunas sociais como campos de produção e difusão de representações. Segundo Roger Chartier, percebemos que as representações são “esquemas intelectuais incorporados que criam as figuras graças às quais o presente

2

Semanário publicado entre 1937 e 1981.

3 A elite campeira é, segundo Ruy Wachowicz, um grupo de fazendeiros criadores de gado que haviam

vindo da Província de São Paulo os campos paranaenses, constituindo-se nos grandes responsáveis pela administração da Província, tendo seu em fins do séc. XIX, devido ao declínio nas vendas de gado (Cf. WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial, 2002, p. 84). Em Guarapuava, este grupo é representado pelas famílias Lustosa, Camargo, Marcondes, Siqueira Cortes, Ribas, Chagas Lima, Rocha Loures, entre outras, articulando-se na denominada “Tradicional Sociedade Campeira” (Cf. MARCONDES, Gracita Gruber. Guarapuava: História de Luta e Trabalho. Guarapuava: Editora da UNICENTRO, 1998, p. 68).

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pode adquirir sentido” 5, sendo que as representações do mundo social, assim construídas, são sempre determinadas pelos interesses do grupo que as forjam, bem como do lugar que estes as proferem, dentro de gestos, atos atitudes, práticas criadas por este grupo. Nessa perspectiva, esta investigação pressupõe que as representações estão em um campo de concorrências, de competições, fabricando respeito e submissão, cujos desafios se enunciam em termos de “poder e de dominação”. 6 Ou seja, abre-se uma dupla via em que se pensa a construção das identidades sociais como resultado sempre de uma relação de força entre as representações impostas por aqueles que têm o poder de classificar e de nomear. 7

Da mesma forma, as representações coletivas somente são verdadeiras quando comandam atos, atitudes, práticas sociais, incorporando-se assim ao imaginário social de determinado grupo. Constituído através das suas representações, o grupo exprime a suas aspirações, justifica moral e juridicamente os seus objetivos, concebe o passado e imagina o futuro8. Nesta perspectiva, o imaginário social é deste modo, uma das “forças reguladoras da vida coletiva”. 9

Ainda neste enfoque, através do imaginário social, entendemos que o grupo constrói sua identidade, se representa, fala sobre si e sobre os outros. Sistematiza os papéis e posições sociais articulando, códigos de conduta, ou seja, designa modelos, elegem “guardiões”, enunciadores de seus discursos.

O levantamento das fontes foi realizado Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (CEDOC/G - UNICENTRO), localizado no Campus Santa Cruz, em Guarapuava, onde os periódicos estão localizados em um acervo específico, catalogados e separados em encadernações anuais, divididas por décadas e pelo nome do periódico.

Além disso, uma grande parte do acervo de jornais consultados que a princípio estava localizada na Biblioteca Pública Municipal Antonio Ruiz de Montoya, encadernados em edições anuais pelo proprietário do Jornal Folha do Oeste, Antonio Lustosa de Oliveira, doados após sua morte em atendimento ao que fora estipulado no seu testamento, encontrando-se também disponível no Centro de Documentação e

5 CHARTIER, Roger. História cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990, p.17. 6 Idem – mesmo autor-Id.

7 CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Ed.

Universidade/UFRGS, 2002, p.73.

8 BACZKO, Bronislau. A Imaginação social. In: ROMANO, Ruggiero. Enciclopédia Einaudi. Lisboa:

Imprensa Nacional, 1985, p.304.

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Memória da UNICENTRO. Além disso, outras consultas foram necessárias no acervo de documentação do Clube Guaíra, na Biblioteca da Universidade Estadual do Centro-Oeste, ambos também localizados em Guarapuava. Ainda, foi necessária a realização de consultas aos jornais da Biblioteca Pública de Curitiba, PR, além do acervo online de jornais do Arquivo Público do Estado de São Paulo.

No âmbito da metodologia de pesquisa, a coleta de dados nos jornais organizou-se por meio de fichas padrão, onde foram relacionadas às várias informações de interesse, permitindo a tabulação das informações, tais como menção de famílias específicas, eventos noticiados, espaços de sociabilidade, entre outros, organizados numericamente conforme o grau de incidência e relevância, contendo número respectivo das edições e data.

De acordo com as pesquisas realizadas buscou-se mapear os processos históricos vividos pela cidade, sobretudo atentando às transformações ocorridas no princípio da década de 1950, procurando visualizar de forma mais panorâmica a situação da cidade neste período.

Ainda, fez-se necessário o mapeamento e breve construção da tradição jornalística da cidade, em especial, observando o lugar ocupado pelo jornal Folha do Oeste, principal fonte para este trabalho. Nessa perspectiva, perceber quais as características da produção jornalística da cidade, bem como as dificuldades encontradas em se estabelecer uma imprensa em um local distante dos grandes centros e do material necessário para a construção de um jornal foi observado no intuito de perceber qual a proposta do jornal Folha do Oeste, quais suas características e suas condições de produção. Desta forma, foi necessário levar em conta a conjuntura em que estava inserido, quais eram seus emissores, quais interesses puderam ser identificados e para que público era destinado. Portanto, pode-se perceber sua eficácia simbólica, tendo em vista que derivam esta eficácia “do fato de que parecem encerrar em si mesmas o princípio de um poder que reside efetivamente nas condições institucionais de sua produção e de sua recepção”. 10

Em seguida, tentou-se observar as colunas sociais na cidade, qual o lugar que elas ocupavam nos jornais locais, em que sentido e sob que medida essas colunas buscavam atualizar-se com os grandes centros, no conteúdo, na estética, e até que ponto isso era possível e quais as dificuldades características deste tipo de publicação na

10 BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas lingüísticas: o que falar quer dizer. Trad. Sérgio Miceli.

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cidade de Guarapuava. Assim, para realizar tal empreitada, foi necessário compreender como se deu a publicação das colunas sociais em Guarapuava, buscando captar seus pontos de vista e levantar as condições históricas de sua produção. Desta forma, ao observar tal tipo de publicação tentou-se perceber quais seus limites, com que discursos dialogavam, qual o seu lugar social de produção em meio ao cotidiano guarapuavano, percebendo esse cotidiano como dinâmico, lugar de ação onde os personagens estão em constante conflito e negociação.

Com relação as colunas sociais, estas ainda configuram-se como fontes pouco exploradas pelos historiadores, tendo em vista que estes a pouquíssimo tempo têm voltado seu olhar para a possibilidade do uso das mesmas como fontes históricas. Dessa forma, raros são os trabalhos de historiadores utilizando as referidas fontes, sendo que grande parte das análises encontradas foram produzidas por jornalistas. Daí a decorrente especificidade dos trabalhos, mais preocupados com as características estéticas da produção das colunas do que com os discursos e representações por elas difundidas.

Entre os pesquisadores, pode-se apontar para os jornalistas Murilo Cesar Ramos e Davi Emerich, que analisaram as colunas sociais cariocas nos respectivos capítulos “Intrigas da corte: Jornalismo político nas colunas sociais” e “O beijo de Mangabeira – o jornalismo político das colunas de notas”, publicados no livro organizado pelo também jornalista Luiz Gonzaga Motta, intitulado Imprensa e Poder 11. Dedicados à reflexão sobre a política nas colunas sociais brasileiras a partir da década de 1970, onde, segundo estes autores, pouco vigiadas pela ditadura militar, identificou-se o desenvolvimento de um jornalismo político próprio das colunas sociais. Como pequenas fofocas, a política e alguns dos principais personagens políticos brasileiros do período ditatorial brasileiro pós 1964, eram alvo de críticas, elogios, e diversos comentários que passavam despercebidos à censura imposta, sobretudo após 1968 com a instituição do AI-5. Colunistas como Joyce Pascowitch, Nirlando Beirão, Swann/Ricardo Boechat, Ibrahim Sued, Zózimo Barroso, Marcone Formiga e Gilberto Amaral, Ancelmo Góis e Joaquim Ferreira dos Santos, do O Globo e Márcia Peltier do Jornal do Brasil são por estes autores reconhecidos como figuras importantes do jornalismo político pós-1964.

Referenciados por Rogério Martins de Souza 12 (2006: s/p; 2007: s/p), os últimos

11 MOTTA, Luiz Gonzaga (org.). Imprensa e Poder. Brasília: Editora da Universidade de Brasília; São

Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002 (coleção comunicação).

12 SOUZA, Rogério Martins de. A sedução do colunismo: uma análise das colunas de Ancelmo Góis e

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três colunistas tem recebido grande atenção nos vários artigos publicados desde 2005 por esse jornalista que tem buscado “estudar as razões e motivações históricas que levaram o jornalismo brasileiro a investir ostensivamente em colunas de notas” em seu doutorado na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para Souza, também não se pode esquecer, mesmo que em São Paulo, comparado com o Rio de Janeiro, a tradição do colunismo social seja menor, as colunas de Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo – que dedica uma das duas colunas que compõe sua crônica social a política e a economia –, e as de Cesar Giobbi, em O Estado de S. Paulo, que atualmente, segundo o autor, são sucesso entre os leitores.

Outro trabalho a ser referenciado é o livro da jornalista Iluska Coutinho Colunismo e poder: representação nas páginas de Jornal 13, onde a autora procurou identificar as representações e os discursos políticos em torno da publicação da coluna social “Victor Hugo”, do jornal capixaba A Gazeta, de Vitória, criada há 18 anos, assinada pelos colunistas Maura Fraga, Luiz Trevisan e em 2007 pelo jornalista Sérgio Egito. Em geral, estes trabalhos, como afirmado, são pautados na intenção de perceber o papel desempenhado pelas colunas sociais em meio a imprensa brasileira pós década de 1950, buscando mapear o estilo desenvolvido bem como algumas das temáticas presentes neste tipo de publicação.

Mesmo que o interesse neste tipo de publicação ainda seja pequeno entre os próprios jornalistas, alguns esforços em organizar tal tipo de documentação acaba acontecendo esporadicamente. Um exemplo deste tipo de trabalho é a seleção das crônicas escritas e publicadas pelo colunista Ibrahim Sued em livro organizado por sua Filha Isabel Sued e pela jornalista Isabel Travancas, intitulado “Ibrahim Sued: em sociedade tudo se sabe 14, que conta também com prefácio de um antigo auxiliar de Ibrahim Sued e hoje conhecido jornalista Elio Gaspari.

Entre os historiadores ainda é pequena a utilização das colunas sociais. Entre os trabalhos que as utilizaram, mesmo que brevemente, está o livro de Ana Luiza Martins

mai. 20007; SOUZA, Rogério Martins. Colunistas entre o sim e o não: o referendo sobre as armas de fogo segundo as colunas de notas de jornais cariocas. In: Anais do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, n. 29, 2006, Brasília. São Paulo: Intercom, 2006; SOUZA, Rogério Martins. O cavalheiro e o Canalha: Maneco Muller, Walter Winchell e o apogeu dos colunistas sociais após a Segunda Guerra Mundial. In: Revista Pauta Geral, Vol. 1, n. 9, Florianópolis, 2007.

13 COUTINHO, Iluska. Colunismo e poder: representação nas páginas de Jornal. Rio de Janeiro: Editora

Sotese, 2005.

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intitulado Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República15, que busca examinar as revistas publicadas em São Paulo no início da República, onde a presença das colunas sociais ainda iniciava-se.

Outro trabalho que abordou brevemente a temática das colunas sociais é a tese defendida no programa de história da Universidade Federal Fluminense pela jornalista Marialva Barbosa intitulado Os donos do rio: imprensa, poder e publico 16, que buscando examinar as publicações e o público leitor no Rio de Janeiro do início do séc. XX acaba apontando para a presença das colunas sociais entre a publicação dos periódicos da capital carioca.

Alem dos trabalhos referenciados, o historiador Nicolau Sevcenko também se utilizou das crônicas e dos relatos de cronistas sociais da década de 1920, buscando perceber como estas visualizaram as transformações ocorridas na cidade de São Paulo, em Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20 17

.

No Paraná, podemos destacar o artigo escrito pelo historiador e professora José Henrique Rollo Gonçalves, da Universidade Estadual de Maringá, intitulado Escavando o chão da futilidade18 e publicado na Revista de História Regional, da Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR, que trata especificamente de algumas das colunas sociais produzidas no Norte do Paraná. Neste trabalho, Gonçalves traça algumas anotações essencialmente metodológicas sobre esta temática. O autor, além de apontar para a pouca ou nenhuma utilização desta tipologia de fontes pelos historiadores, demonstra o material fornecido por essas sobre a vida cotidiana das classes dominantes, indicando preferências, modas e padrões de conduta que, em muitos casos, não demoravam a ser redefinidos ou disseminados por outros segmentos sociais. Ainda nessa reflexão, Gonçalves aponta também para a existência de critérios de demarcação existentes e limites colocados para poder se integrar aqueles meios, juntamente a interação entre os grupos e ciclos de prestígio.

Para essa missão, o autor elencou alguns jornais para sua investigação empírica,

15 MARTINS, Ana Luiza. Revistas em Revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República,

São Paulo (1890-1922). São Paulo: EDUSP: FAPESP: Imprensa Oficial do Estado, 2001.

16 BARBOSA, Marialva. Os donos do Rio: imprensa, poder e público. Rio de Janeiro: Vício de Leitura,

2000.

17 SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes

anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

18 GONÇALVES, José Henrique Rollo. Escavando o chão da futilidade: colunas sociais, fontes para o

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tais como a Tribuna do Norte (Apucarana, PR); O Diário do Norte do Paraná e O Jornal do Povo (Maringá, PR); a Folha de Londrina, Folha do Paraná e o Jornal de Londrina (PR); o Jornal do Paraná (Cascavel, PR); Oeste Notícias (Presidente Prudente, SP) e A Voz da Terra (Assis, SP), demonstrando que, mesmo que de forma e abrangência diferentes, tais jornais, bem como as colunas sociais neles editadas, possuíam fortes vínculos com as cidades em que foram criadas, “contendo farto material empírico para os pesquisadores das relações sociais em âmbitos locais” 19. Como fontes para a percepção das atitudes e das práticas cotidianas dessas elites locais, segundo Gonçalves o papel dessas colunas vai além, podendo servir como uma fonte importante para a percepção das disputas políticas locais.

Ainda, utilizando as colunas sociais como fonte pode-se também destacar a dissertação de mestrado defendida em 2009 por Rafael Damaceno Dias, no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná. Este trabalho, intitulado Que invasão é essa? Leituras sobre conflitos socioculturais em Florianópolis (1970 - 2000) 20 buscou perceber através de fontes como as colunas sociais, publicadas no respectivo período, a visão dos seus escritores sobre as mudanças vividas pela cidade desencadeadas pela chegada de grupos vindos “de fora”. Segundo o autor, o sentimento de nostalgia e a forte crítica aos moradores vindos do continente para a ilha era uma das constantes nas colunas sociais dos periódicos de Florianópolis, interpretando a chegada deste contingente populacional como uma invasão degradante da vida social na capital catarinense.

O levantamento desta bibliografia foi fundamental para perceber as perspectivas quanto a esta documentação, seus usos e características, a fim de compreender as especificidades regionais.

Dessa forma, procurando perceber tais especificidades, no primeiro capítulo optamos por tentar captar as transformações vividas pela cidade em décadas anteriores a de 1950, buscando contemplar os processos históricos vivenciados pela cidade e que acabaram desencadeando-se no cenário urbano visualizado no período de recorte da pesquisa. Dessa forma, nesse breve retorno, procurou-se estabelecer as bases para as transformações vividas pela cidade que a moldaram, dando lhe a forma presente nos relatos dos colunistas das décadas seguintes. Como se deram estas transformações?

19

GONÇALVES, José Henrique Rollo. Op. Cit., v. 4, 1999, p.35.

20 DIAS, Rafael Damaceno. Que invasão é essa? Leituras sobre conflitos socioculturais em Florianópolis

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Quais as disputas delas decorrentes? E qual o papel desempenhado pelos periódicos guarapuavanos em meio a esse cotidiano? Foram algumas das questões presentes nesse primeiro capítulo.

No capítulo seguinte tentamos compreender a publicação das colunas sociais no contexto brasileiro pós década de 1950, buscando perceber suas formas e discursos. Dessa forma, partindo dos grandes centros para Guarapuava, buscou-se perceber as especificidades e as condições de sua produção em meio aos periódicos guarapuavanos, qual o seu formato, o espaço conquistado e a relação que estas estabeleceram entre si e com o seu público leitor.

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CAPÍTULO I

Guarapuava: cotidiano e as mudanças do cenário citadino na segunda metade do século XX

A preocupação da sociedade guarapuavana em consumir e se comportar de acordo com os padrões de cidades maiores, a exemplo do Rio de Janeiro, ilumina a compreensão de que se estava frente à construção de uma nova dinâmica urbana que buscava estar em sintonia com a vida moderna

(TEMBIL, Márcia. Em busca da cidade moderna: Guarapuava – recompondo histórias, tecendo memórias. Guarapuava: UNICENTRO Editora, 2007, p.76)

1.1 – Tempos de mudança: o fim da década de 1940 e as transformações no cenário

citadino

O fim da década de 1940 anunciou para Guarapuava a chegada de ventos de mudança para a cidade que a mais de um século havia se formado no terceiro planalto paranaense, decorrente dos processos de ocupação do Oeste do Paraná, então pertencente à província de São Paulo.

No início da referida década, a cidade de Guarapuava ainda lembrava em muito a “Freguesia” que havia surgido no interior dos antigos “Campos de Guarapuava” por volta de 1810, território localizado na região do atual terceiro planalto paranaense e que se estendia até a fronteira com o território de ocupação espanhola.

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Mapa nº1 – Divisão Política do Estado do Paraná – 1940.

Fonte: ABREU, Alcioly Therezinha Gruber. A Posse e o Uso da Terra: Modernização

Agropecuária de Guarapuava. Curitiba: Biblioteca Pública do Paraná/Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, 1986, p.370.

Nesse sentido, o empenho do governo português em ocupar a região dos “Campos de Guarapuava”, deveu-se, segundo Silva21 de um lado à sua posição estratégica em relação a proximidade com a fronteira das colônias espanholas, fronteira ainda não firmemente delimitada e, de outro, à expansão da atividade tropeira no atual espaço paranaense que dava suporte à mineração do ouro. Segundo a autora,

a expansão da sociedade campeira para o terceiro planalto através do sistema de sesmarias deu origem às propriedades da região e ao modelo de ocupação inicial. A sociedade que se instalou na região dedicou-se à lavoura de subsistência, à pecuária extensiva e á extração da erva mate. 22

21 SILVA, Joseli Maria. Processos econômico-sociais regionais e seus impactos sobre a estrutura urbana

de Guarapuava-PR. In: Revista de História Regional, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Pronta Grossa, PR, vol. 2, nº1, 1997, p.12.

22

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Desta forma, o sucesso efetivo da atividade pecuária na região se deu com a inauguração do “Caminho das Missões”, ligando o Rio Grande do Sul ao mercado de Sorocaba na província de São Paulo23. A inauguração de tal estrada possibilitou superar em parte a posição “insular” da cidade de Guarapuava, inaugurando o que a historiadora Márcia Tembil chamou de “Idade de Ouro” na história da cidade, uma vez que favoreceu as transformações da vida modesta na cidade e das fazendas dispersas pelo vasto território 24.

A modesta antiga “Freguesia de Nossa Senhora de Belém” viu-se ascender ao posto de Vila ainda no início da segunda metade do século XIX. Em 1871, a vila tornava-se cidade e passou a desfrutar das benesses da atividade tropeira, visualizada, segundo Tembil, nos frondosos casarões dos fazendeiros que se erguiam na porção central da cidade 25. A cidade, com novos contornos, passou a abrigar hábitos de consumo e socialização que cresciam à medida que se ampliava o número da população, refletindo também os lucros obtidos pelos fazendeiros, mesmo que esses ainda permanecessem grande parte de seu tempo nas fazendas.

Entretanto, com o declínio da atividade tropeira, entre o final do século XIX e as primeiras décadas de século XX, a sociedade campeira que havia se estabelecido na região começa a se desagregar. Nesse sentido, a Guarapuava do início da década de 1940 ainda vivia uma situação de crise da atividade pecuária, que havia substituído a atividade tropeira na região ainda no início do século XX.

Quanto às atividades extrativas, principalmente as que haviam se desenvolvido paralelamente a atividade tropeira como a extração da erva-mate ainda garantia certa estabilidade na economia local, tendo em vista que o governo paranaense buscou promover a abertura de estradas para o escoamento deste produto. Porém, mesmo com as grandes reservas do produto existentes na região, os lucros ainda ficavam com os comerciantes de Curitiba e Paranaguá que faziam o beneficiamento da erva-mate. Tendo isso em vista, a comercialização da erva-mate em Curitiba e Paranaguá não permitiu a

23

TEMBIL, Márcia. Em busca da cidade moderna: Guarapuava - recompondo histórias, tecendo memórias. Guarapuava: Editora da UNICENTRO, 2007, p.73, e SILVA, Joseli Maria. Processos econômico-sociais regionais e seus impactos sobre a estrutura urbana de Guarapuava-PR. In: Revista de História Regional, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Pronta Grossa, PR, vol. 2, nº1, 1997, p.12-13.

24 Idem, mesmo autor, p.73. 25

(22)

retenção de capitais em Guarapuava 26.

A outra atividade extrativa vegetal da região foi a exploração da madeira. Praticada em pequena escala nas décadas anteriores, esta atividade, a partir de 1940 passou a ganhar impulso com a mão-de-obra abundante, advinda, sobretudo, da produção ervateira e com o desenvolvimento das novas redes viárias dela decorrentes.

A estrada de ferro, que em 1937 chegou até a cidade de Irati, distante aproximadamente 100 km de Guarapuava, contribuiu para o transporte da madeira, complementada pela utilização dos caminhões. Porém, devido às dificuldades encontradas em se transpor a “Serra da Esperança”, localizada entre Irati e Guarapuava, a chegada da estrada de ferro demorou mais de uma década, ou seja, apenas em 1954, embora o terminal ferroviário já estivesse pronto na década de 1940.27 Desta forma, a espera da chegada da estrada de ferro representou por décadas o desejo de ver a cidade inserida no contexto de crescimento das grandes cidades brasileiras, buscando assim superar aquele momento de crise.

A freqüência e a variedade das atividades sociais e culturais que em tempos de maior riqueza aconteciam no cotidiano da cidade passaram a diminuir progressivamente, devido ao quadro de crise econômica das elites locais. Até a década de 1930, quando os fazendeiros ainda desfrutavam das rendas acumuladas durante períodos de maior lucratividade, a cidade havia, segundo Tembil desfrutado da presença de alguns dos elementos que “encarnavam” o sentido de urbanidade e progresso, como os automóveis, artigos de luxo, gramofones, o rádio e as máquinas de sorvete. A intensificação da vida social na cidade durante o final do século XIX e início do século XX haviam alterado os hábitos da população citadina, sobretudo entre a elite campeira, que passou a cultivar padrões de sociabilidade encontrados nos grandes centros, estimulando o consumo de produtos antes apenas encontrados nestas cidades.28

Firmas como a Casa Missino, um dos primeiros estabelecimentos comerciais e bancários da cidade, abasteciam a elite campeira com os produtos requintados que representavam uma forma de ligação dos habitantes da distante cidade, ainda mais isolada nos períodos chuvosos, com o estilo de vida dos grandes núcleos urbanos:

As vitrines e variedade de produtos num mesmo estabelecimento colocavam Guarapuava, que até então vivia insulada, em sintonia

26 Idem, mesmo autor, p.89. 27 Idem, mesmo autor, p.96. 28

(23)

com as idéias que compunham o senso de progresso difundido no Brasil em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.29

Figura 2 – Casa Comercial Missino s/d

Fonte: Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste

(CEDOC/G).

Símbolo do progresso vivido pela elite campeira em sua “época dourada”, a Casa Missino também sobreviveu aos períodos de crise, porém, cedeu espaço as novas dinâmicas urbanas surgidas na década de 1960, sendo demolida e transformada em estacionamento30.

Além dos padrões de consumo surgidos nos anos de poderio econômico da elite campeira, espaços reservados a atividade social e cultural surgiram na cidade, entre eles o Clube Guaíra, criado em 1904 e com sede inaugurada em 1909 31. O Clube tornou-se palco nos dos principais festejos, bailes, sabatinas de arte e concertos da cidade32. O “Aristocrático”, como era conhecido na cidade, era o ponto de encontro da elite campeira guarapuavana. Ali, além das atividades sociais comuns em agremiações da

29 Idem – mesmo autor-Id. 30

Idem, mesmo autor, p.77. 31

Idem, mesmo autor, p.31.

32

(24)

época como bailes e carnavais, eram realizadas reuniões e palestras onde se reuniam a liderança política da cidade.

Mesmo em períodos de crise o clube sobreviveu e continuou abrigando grande parte das atividades sociais da elite citadina como descreve o senhor Luiz Cleve Teixeira:

Na noite de 18 de janeiro de 1936 o Clube Guairá abria seus sacões para mais um grandioso baile, o qual teve a denominação de Baile Zíngaro com os trajes a caráter, e como não poderia deixar de ser foi um sucesso sem precedentes [...]. Ainda neste mesmo ano, no mês de setembro, era efetivado o Baile da Primavera, no qual compareceu quase a totalidade de associados do clube. Durante o evento foram eleitas a Rainha e Princesa entre as inúmeras senhoritas presentes, sendo eleita a Rainha da Primavera. 33

No ano de 1942 o Clube ainda se uniu ao Cassino Guarapuavano, entidade surgida em décadas anteriores de uma dissidência de alguns sócios do Clube Guaíra, devido à oposição política entre Pica Paus e Maragatos no período da Revolução Federalista que se disseminou entre os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Figura 3 - Clube Guairá – s/d

Fonte: Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste

(CEDOC/G)

33 TEIXEIRA, Luiz Cleve. Reminiscências do passado. Guarapuava: Esquema Edições e Artes Gráficas,

(25)

A construção imponente, vista na foto anterior, é fruto do período de apogeu da atividade pecuária. Nesse sentido, os freqüentadores do clube, sobretudo até a década de 1940, era a elite campeira bem como suas famílias.

Além do clube, segundo Tembil 34, outros espaços passaram a compor a vida social da cidade, o Teatro Santo Antônio, era palco, além das peças de teatro, também para conferências e sessões musicais. Com vários camarins, cento e vinte assentos e oito camarotes o Teatro Santo Antonio representava, um ícone moderno para a cidade ainda erigido no final do século XIX 35. Porém, o clube não resistiu os períodos de crise que se seguiram ao declínio econômico da elite campeira da cidade, sendo destruído na década de 1940.

Figura 4 – Teatro Santo Antonio s/d

Fonte: Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste

(CEDOC/G).

Além do comércio de produtos considerados modernos, do clube e do teatro, palcos de acontecimentos sociais reservados a elite fazendeira, na cidade também

34 TEMBIL, Márcia. Op. Cit., 2007, p.81. 35

(26)

aconteciam os festejos da religião católica, principalmente os ligados a Nossa Senhora de Belém, padroeira da cidade. As procissões, os festejos religiosos e as missas integravam a vida social cotidiano mesclando as novas formas de sociabilidade as mais antigas e tradicionais, movimentando socialmente a cidade.

É nesse período de apogeu cultural, no início do século XX que a cidade vê também a substituição dos lampiões pela energia elétrica, fruto das novas necessidades locais no sentido de acompanhar a modernização em voga no país, que entre outros benefícios, possibilitou a instalação do cinema mudo, apresentado no mesmo local do Teatro, também chamado de Cine Santo Antonio. 36

Porém, como apontado anteriormente, estas práticas ver-se-iam enfraquecidas ao mesmo tempo em que a desarticulação das atividades econômicas então dominantes na cidade. A crise econômica que se faria presente na cidade entre as décadas de 1930 e 1940, fariam com que lugares como o Teatro e Cinema Santo Antonio fossem fechados 37

. O Cine Pimpão, criado alguns anos depois e que por alguns anos representou um importante espaço de diversão do guarapuavano também fechou. Em termos culturais o fim destes espaços de sociabilidade impôs à cidade um cenário bastante desolador.

No fim da segunda década do século XX, Guarapuava passou ainda mais a sentir os indícios da decadência da elite fazendeira, com reflexos em sua vida social. “Afinal, de acordo com Balhana, ‘a cidade existia em função das fazendas de criação de gado e do movimento das tropas de muares que vinha do sul de Sorocaba’”.38 Dessa forma, a década de 1940 apresentou, devido a crise da sociedade campeira na região, o enfraquecimento das atividades sociais de elite, tornando algumas esporádicas e forçando o desaparecimento de outras.

Nessa perspectiva, entende-se a ansiedade pela chegada da estrada de ferro em Guarapuava, tendo em vista que a mesma viabilizou o escoamento de produtos e dinamizou o comércio, entendida pelos membros da elite como uma forma de vencer a estagnação e progredir.

Para Guarapuava dos anos de 1920 a 1950, significava, antes de tudo, o renascimento. Sua população, que havia adquirido hábitos de consumo mais exigentes, não queria mais se submeter ao ostracismo a que era relegada a antiga Freguesia de Nossa Senhora de Belém. A ‘antiga elite’ guarapuavana, que se ressentia da perda de poder

36 Idem, mesmo autor, p.86. 37 Idem, mesmo autor, p.87 38

(27)

aquisitivo e das condições de vida da ‘idade de ouro’ da cidade, passou, então, a veicular um discurso que traduzia o desejo de ver Guarapuava novamente em sintonia com os ideais da modernidade. 39

Neste ambiente apresentado em fins da década de 1940, não eram apenas os problemas de acesso a cidade, a decadência econômica das elites fazendeiras que relegavam a cidade a certo “ostracismo”. A ausência de capitais mobilizáveis instituía também a crise da economia guarapuavana. 40

Sob esse prisma, a atividade madeireira que, como descrita anteriormente até a década de 1940 representava uma pequena atividade na região, tornou-se, a partir daquele momento em uma atividade econômica responsável pelo capital necessário a dinamização das atividades econômicas na região. Com o aumento do grupo de madeireiros instalados na região a partir de 1940 e com as iniciativas do governo em aumentar e melhorar a rede viária paranaense esta atividade tornou-se extremamente rentável, tendo em vista que Guarapuava detinha uma das maiores reservas florestais do Paraná.

Atraindo madeireiros de outras regiões do país, essa atividade impulsionada no contexto de substituição de importações efetivadas pelo governo brasileiro na política de industrialização iniciada após a Primeira Guerra Mundial,41 acabou por reunir o novo contingente que compôs outra “elite” na cidade, tendo em vista que, uma vez que não faziam parte da antiga classe dominante guarapuavana, composto por membros da sociedade campeira.

A presença, então, desse novo segmento modificou substancialmente as relações de poder e conseqüentemente as relações sociais da cidade42·. Papel importante dessa nova elite foi propiciar uma reurbanização de Guarapuava na década de 1950.

39 Idem – mesmo autor-Id. 40 Idem – mesmo autor-Id. 41

TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importação ao capitalismo financeiro. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973, p.73.

(28)

Figura 5 – caminhões carregados de madeira na rua Senador Pinheiro Machado - 1957

Fonte: Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste

(CEDOC/G)

As serrarias geralmente não integravam o cenário citadino, tendo em vista que se compunham em núcleos distantes de povoamento irregular e temporário fora do perímetro urbano, somado ao fato que grande parte das empresas vinha de fora, não criavam raízes na região e geravam uma mão-de-obra ociosa quando de sua retirada43. Contudo, a atividade exploratória da madeira expandiu o comércio local e, paralelamente expandiu o crescimento urbano e impôs a expansão das vias de transporte, como a estrada de ferro e de estradas de rodagem que contribuíram para o acesso à cidade.

Portanto, no final da década de 1940, a cidade passou por uma profunda remodelação depois de vários anos de crise econômica, estabelecendo entre os anos de 1950 e 1960 um novo cenário citadino, não apenas no que diz respeito as transformações do espaço urbano, mas quanto as sociabilidades, sobretudo entre as elites.

43

(29)

Por outro lado é importante deixar claro que Guarapuava não deixava de integrar-se nas transformações de ordem geral que o Brasil começou a passar no pós Segunda Guerra Mundial. Outros hábitos de consumo, uma configuração urbana diferenciada, o surgimento de casas de comércio, instituições financeiras, pequenas indústrias, que agradavam as elites tradicionais da cidade ao mesmo tempo em que lhes custavam um alto preço em termos de poder político.

Segundo Álvaro de Oliveira Borges Filho, os madeireiros desencadearam uma mudança nas relações de status e de poder na região, pois, “antes praticamente só nas mãos dos fazendeiros ou pessoas de sua influência, estes surgiram como uma classe emergente em relação aos quais os fazendeiros tinham pouco controle, surgindo dai uma rivalidade entre os “de fora”, representados pelos madeireiros, e aqueles que até então detinham o poder político local. 44 Essa rivalidade sobreviveu várias décadas, pelo menos até os madeireiros mesclarem-se com a elite local. Porém esse não foi um processo rápido, tendo em vista que vários elementos da elite campeira dispuseram-se contra essa “invasão”, sobretudo em períodos de pleito eleitoral, onde a valorização dos candidatos “nativos” se fazia muito presente. Além disso, a resistência ao papel dos madeireiros e da atividade na cidade é passível de observação em livros de caráter histórico/didático publicados no âmbito local como é o caso da obra Guarapuava: história de luta e trabalho de autoria de Gracita Gruber Marcondes, membro de família tradicional guarapuavana que, ao escrever sobre o desenvolvimento da economia na cidade afirmou que os tropeiros transportaram o progresso no casco das mulas, enquanto que a atividade madeireira não é destacada. Desta forma, é muito importante apontar que este silêncio por parte da referida autora representa uma crítica aquele tipo de atividade e ao papel desempenhado por ele no desenvolvimento da cidade, demonstrando que algumas lutas simbólicas ainda permaneciam no imaginário de algumas pessoas ainda na década de 1990, época da publicação da obra. Desta forma, aos madeireiros, segundo a autora, coube apenas o papel de desmatar muitas regiões do município, devido a extração em grandes quantidades de madeira nativa e não o de trazer o progresso para a cidade, como haviam feito os tropeiros e os fazendeiros 45.

Além dos madeireiros, a intensificação do fluxo imigratório resultante da vinda

44

BORGES FILHO, Álvaro de Oliveira Borges. Estrutura de Referência aplicada à Gestão Estratégica capaz de promover o Desenvolvimento Regional Sustentável na região de Guarapuava-PR. 2005,. 225F. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005, p.167.

45

(30)

principalmente dos Suábios do Danúbio46 e da formação da Colônia de “Entre Rios” na década de 195047 também contribuiu para as transformações nas bases produtivas e na posse da terra que, até então se fundava na relação “latifundiário-proprietário rural” 48. Contudo, o fluxo imigratório na região não se deu exclusivamente com os Suábios, tendo em vista que em períodos anteriores, principalmente na década de 1930, outros contingentes de imigrantes como alemães, sírios, suecos, franceses, holandeses, poloneses, entre outros, estabeleceram-se na região. Porém, não prosperou na mesma medida que o grupo posterior dos Suábios, tendo em vista que esses imigrantes obtiveram maiores oportunidades de ajuda financeira por parte do governo brasileiro. Além disso, contaram também com o apoio de organismos internacionais. Nesse momento, a política agrícola brasileira estimulava a produção de gêneros alimentícios para a exportação e a auto-suficiência alimentar49. Todavia, esses grupos Suábios não disputaram por status social e político na cidade assim como os madeireiros. Ao contrário, construíram seu próprio núcleo urbano, que além de buscar preservar algumas de suas manifestações culturais, manteve-se ainda mais fechado que os dos fazendeiros50.

Ainda na década de 1950 outros contingentes populacionais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e de outras cidades do Paraná vieram para a região devido ao alargamento das fronteiras agrícolas nas décadas de 1960 e 1970, o que intensificou ainda mais as transformações no contexto de produção refletindo na movimentação do cotidiano guarapuavano. Uma nova classe média consumidora e ativa socialmente cresceu na cidade.

Os fatores de crescimento populacional, aliados a melhoria das estradas

46 Refugiados da Segunda Guerra Mundial, na sua maioria oriundos da Iugoslávia (STEIN, Marcos

Nestor. Memória e identidade: produção de discursos de identificação na colônia Entre Rios (1950-1997). In: OLINTO, Beatriz (org.) [et. al]. Colóquio cultura, etnias e identificações: historiografia e região. Guarapuava: Gráfica da UNICENTRO, 2005, p.93).

47 A Colônia de “Entre Rios” formada na década de 1950 com os Suábios remanescentes da 2ª Guerra

Mundial estabeleceu-se e hoje forma um conjunto de seis colônias que formando uma grande cooperativa, Cooperativa Agrária, que hoje detém a maioria das terras produtivas da região, inserindo a cultura da batata inglesa e da cevada, hoje alguns dos principais produtos exportados pela região, além da soja e do milho.

48 TEMBIL, Márcia. Op. Cit., 2007, p.93.

49

SILVA, Joseli Maria. Op. Cit., 1997, p.21.

50 Esses núcleos urbanos construídos pelos Suábios são chamados ainda hoje de “Colônia Entre Rios”.,

(31)

existentes e a criação de novas, como a Estrada Estratégica BR 35 51, bem como da construção do prolongamento da estrada de ferro de Irati para Guarapuava facilitaram o escoamento da produção.

Portanto, nos anos em que seguiu o início da década de 1950, representou para a cidade o começo de uma nova fase. Uma nova fase de progresso e que, até certo ponto, desencadeou entre as elites locais a rememoração de períodos de crescimento econômicos anteriores.

A década de 1950 destacou-se como um momento em que o Brasil viveu a euforia de seu processo desenvolvimentista atingindo os centros maiores com os ideais de consumo e encetando uma nova dinâmica urbana. Desenvolvida pelo sucesso da atividade madeireira a euforia do progresso também atingia Guarapuava 52. Por outro lado, a disputa por quem deveria estar à frente desse progresso tornou Guarapuava em um espaço de luta pelo poder.

1.2. – Guarapuava e a década de 1950: um espaço de disputas.

O desenvolvimento da cidade iniciado a partir de 1950 trouxe para a elite campeira a perda da hegemonia política da cidade. Ou seja, o acesso à modernização trazia como conseqüência o fim do domínio e a desestruturação das bases de poder fixadas nas mãos dos fazendeiros.

Nessa perspectiva, a ambição pelo progresso para a elite campeira, vinha também carregada de um discurso presente na imprensa local, que buscava auto-legitimação através da valorização do trabalho na construção de uma nova ordem e na afirmação da sua “ancestralidade” como meio de legitimação para colocar-se a frente destas transformações. 53

A alusão ao trabalho e aos povos que formaram Guarapuava assume nas falas dessa elite fazendeira a sua representação na figura do bandeirante paulista. Assim, para essa elite, os bandeirantes, ancestrais dos fazendeiros, legaram aos paulistas o “empreendedorismo” e seriam responsáveis também pelo espírito corajoso e laborioso dos primeiros guarapuavanos.

51

Reformada e mais tarde renomeada para Rodovia Federal 277, hoje uma das principais rodovias do Estado, ligando o litoral a Foz do Iguaçu.

52 TEMBIL, Márcia. Op. Cit., 2007, p.100. 53

(32)

Tal discurso não era novo e nem havia surgido na cidade. Discurso semelhante a esse dominou a intelectualidade paulista durante o final do século XIX e início do século XX.54 Esta identidade dos responsáveis pelo progresso guarapuavano, portanto, passa pelo crivo dos “laços de ancestralidade”, restringindo-se a uma pequena parte da população.

Desta forma, semelhante ao ocorrido em São Paulo, essa afirmação por parte da elite campeira Guarapuava de serem os verdadeiros construtores da cidade, tinha por objetivo controlar a política e legitimar seus discursos em torno das benesses do progresso. Portanto, esse segmento tradicional da cidade, expressava seus desejos de modernidade elaboraram um discurso dicotômico, o progresso e a mudança eram aceitáveis desde que amparados no passado. Nesse sentido, a exaltação aos bandeirantes, reconhecidos como ancestrais desta elite, no sentido de que a “ordem das coisas” estabelecida desde outros tempos da a entender que essa elite campeira deveria assumir o poder político, e não “os de fora”, ou os “novos ricos”, como era conhecida a elite madeireira. Portanto, o verdadeiro guarapuavano, segundo esse grupo, era aquele que se via como herdeiro da ação dos pioneiros.

Nesta perspectiva, o guarapuavano legítimo, segundo Marcondes, era aquele que se dedicava as atividades de “fazendeiro criador de gado e tropeiro”, também associado à figura de bandeirante por desbravar e abrir novos caminhos 55. Assim sendo, a elite campeira, reconhecendo-se como descendentes e herdeiros dos antigos tropeiros e dos bandeirantes percebia-se dotada de todas as condições para conduzir a cidade ao progresso. Construía-se para essa elite, não apenas um legado de tradição e de herança do espírito desbravador dos antepassados, mas firmava-se a idéia da existência de uma “Aristocracia Guarapuavana”, um grupo formado pelas famílias de fazendeiros destacadas pelos sobrenomes Rocha Loures, Chagas Lima, França, Alves, Mendes de Araújo, Caldas, Mendes, Abreu, Siqueira Cortes, Lacerda, Camargo, Roseira, Virmond, Lustosa, Sá, Ribas, Martins, Lopes Branco, Ayres, Silvério, Sampaio, Gonçalves, Almeida, Guimarães, Ferreira Maciel, Werneck, Queiroz, Cleve, Santa Maria, incluindo os Marcondes. 56

Os madeireiros que fixaram residência na cidade, gradativamente acabaram por

54

LUCA, Tania Regina de. A Revista do Brasil: Um Diagnóstico para a (N) ação. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.

55 MARCONDES, Gracita Gruber. Op. Cit., 1998, p.67)

56 Fica claro referencia ao próprio nome da autora da lista, a senhora Gracita Gruber Marcondes

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conquistar uma posição social privilegiada nesse espaço ocupando nos anos posteriores a sua chegada cargos administrativos, inclusive o cargo de prefeito. O maior exemplo dessa situação é a eleição do catarinense Nivaldo Passos Krüger, que chegou à região ainda no princípio da atividade madeireira com seu pai, ao cargo de vereador em 1959 e eleito três vezes à prefeito da cidade, sendo o primeiro em 1964, o segundo em 1974, já aliado as forças políticas da oposição, tendo como seu vice-prefeito um representante dos fazendeiros, o senhor Cândido Pacheco Bastos 57 e o terceiro em 1984. Desta forma, a ascensão política dos madeireiros no início da década de 1950 é um importante indício de ventos de mudança que alteraram o cotidiano da cidade em suas múltiplas vivências e com as quais mais tarde a elite campeira teve que conviver.

Este cenário, bastante paradoxal pode ser percebido na imprensa da cidade que ocupou um papel fundamental na sua vida social desde os chamados “anos de ouro”.

1.3 – Observadores e difusores de idéias: os jornais em Guarapuava

Juntamente com as transformações culturais do início do século XX estava o aparecimento dos jornais, principal canal de divulgação da vida social da cidade, sobrevivendo aos momentos de crise enfrentados durante as décadas de 1930 e 1940, e à mudança das elites no poder, tornando-se parte do cotidiano da cidade até os dias atuais. Instrumentos de difusão de valores políticos, culturais e sociais esses jornais representaram não apenas um elemento moderno presente no cotidiano da cidade, mas também formas de contribuir para o progresso e para o crescimento da cidade, mesmo que as dificuldades em se manter um jornal em Guarapuava fossem extremamente grandes, como ressalta Planalto, um dos cronistas locais:

Poucos são os que sabem das mil e uma dificuldades a serem vencidas para a orientação e manutenção de um jornal em cidade do interior. É preciso o seu diretor “contar até sete”, possuir verdadeiro espírito de renúncia e de sólida vontade de ser útil ao município e à sua gente. Só assim, o jornal local, poderá ser autêntico veículo orientador da opinião pública, usando linguagem comedida, atendo-se unicamente a exercitar a defesa intransigente dos problemas que interessem, direta ou indiretamente, a coletividade. Nada de manchetes escandalosas, de linguagem desabrida, tendenciosa,

57

(34)

indigna de penetrar no recesso de um lar honrado, de família 58

Mesmo com as dificuldades vários foram os jornais que circularam no cotidiano da cidade, alguns de duração efêmera outros, porém, com maior freqüência e maior duração.

O primeiro jornal criado em Guarapuava foi O Guayra. Fundado em 4 de abril de 1893 e redatoriado pelo Cel. Luiz Daniel Cleve, fazendeiro abastado da região. O jornal era editado, segundo Planalto em um antigo e pesado prelo que chegou a cidade transportado de Curitiba até Guarapuava em lombo de muares pelo seu proprietário Serafim de Oliveira Ribas.59

Foram publicados ainda na cidade uma série de outros jornais, em sua grande maioria de curta duração, como o Jornal das Crianças (1893), O Paraná (1894), A Lide (1894), O Guarapuavano (1902), O Guayra (fase de 1917), O Pharol (1919), O Momento (1924), A Cidade (1932), O Independente (1935), Brasilidade (da Propaganda Integralista Brasileira - 1935), Folha do Oeste (1937), O Liberal (órgão da Revolução de 1930), A Época (1958), O Combate, O Carrapicho, O Jacobino, O Paraná Matutino, Ideal, O Trevo, Alerta, O Arauto, O Marrete, O Independente, Alfinete, Carga, Torpedo, O Planalto, O leão da Serra da Esperança, Oeste Paraná, Jornal de Guarapuava, Sentinela do Oeste, Jornal de Notícias, Tribuna Paranaense, Folha de Guarapuava, Comarca, A Columna, O Paraná, Correio do Oeste, em sua grande maioria com data de fundação e de duração desconhecida. Além disso, também foram editados na cidade uma série de jornais literários e críticos como A Alvorada (1896) O Lyrio, A Pena, O Serrote e O Farolete (1928/1929), entre outros.60

Não existem exemplares disponíveis em Guarapuava de grande parte destes periódicos, com raras exceções também aos exemplares disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná em Curitiba. Entretanto, alguns exemplares do jornal O Guayra estão disponíveis no acervo do Centro de Documentação da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná. Segundo as memórias de um de seus redatores, o Fazendeiro Cel. Luiz Daniel Cleve, o isolamento da cidade e a falta de boas estradas foram fatores decisivos na produção dos periódicos locais, dificultando a produção jornalística na cidade em

58 PLANALTO, João do. Do meu canto (recordações de outros tempos): v. 2. Curitiba: O Formigueiro,

1981, p.51.

59

PLANALTO, João do. Op. Cit.1981, p.234.

60 Fontes: CARDOSO, Rosy de Sá. “Breves notas sobre a imprensa do Paraná”. In: História do Paraná.

(35)

seus primeiros tempos61:

O Guayra que tinha como seu redactor chefe o venerado cidadão Luiz Daniel Cleve iniciou sua publicação a 4 de abril de 1893, causando extraordinário sucesso por ser o documento vivo de uma grande e assignalada vitória contra as maiores dificuldades consideradas então como insuperáveis, pois que Guarapuava não dispunha naquella época nem siquer de uma estrada de rodagem que a ligasse aos outros centros civilizados do paiz (sic) 62

61

As dificuldades de acesso a cidade acabou por incorporar entre as primeiras décadas do século XX no imaginário local o isolamento como fator a ser superado. Este sentimento foi recorrente entre os discursos veiculados pela imprensa local e encontrou o auge de sua discussão na questão do atraso na chegada da estrada de ferro de Irati a Guarapuava.

62

(36)

Figura 6 – O Guayra 23 de Abril de 1898 (não mais redatoriado por Cleve)

Fonte: Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste

(CEDOC/G).

Além de O Guayra, outros jornais também tiveram duração não tão curta, como foi o caso do hebdomadário O Pharol, fundado em 1919 por um membro da elite campeira guarapuavana, Antonio Lustosa de Oliveira, na época com apenas 18 anos.

(37)

feitos heróicos ancestrais, nutrindo o sentimento que este possuía de estar qualificado a dirigir e negociar questões de interesse da coletividade.63

Como o próprio Lustosa afirma em seus “traços biográficos do guarapuavano Antonio Lustosa de Oliveira”, publicado por Heitor Francisco Izidoro, ele instalou uma oficina tipográfica para confecção de impressos comerciais em 1918. Em seguida depois de uma conversa com um amigo, Mário Edmundo de Barros, combinou fundar um jornal que ressoasse o progresso vivido pela cidade naquele momento.64 Desta forma em 10 de Abril de 1919 o primeiro número de O Pharol foi posto em circulação, sendo que o jornal surgiu como hebdomadário. Depois de seis meses de seu lançamento, o jornal passou a circular como semanário durante nove anos, sendo extinto em 1929.

Figura 7 – Antonio Lustosa de Oliveira - 1920

Fonte: Acervo Arquivo Benjamin Teixeira, Guarapuava/PR.

63

SILVA, Walderez Pohl da. Entre Lustosa e João do Planalto: a arte da política na cidade de Guarapuava (1930-1970). 2008. 209f. Tese (Doutorado em História Social), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008, p.21.

64

(38)

Este jornal seria o marco inicial da vida jornalística de Lustosa. Durante a década em que o jornal foi editado a questão do já referido isolamento da cidade viveu sua fase mais aguda. Nesse sentido, não é estranho notar que a maioria dos editorais estavam voltados à questão da estrada de ferro. A estrada de ferro se consubstanciou no grande ideal a ser perseguido, uma vez que se apresentava como a grande solução para as mazelas da cidade. Segundo Lustosa, a estrada de ferro era uma promessa desde a época do Brasil- Império. 65

Em 1922, depois de alguns problemas enfrentados pela redação do jornal, os quais se mantêm para nós obscuros, Lustosa reassume integralmente O Pharol, “jornal consagrado aos interesses gerais”, e para tanto alegando ter como princípio os ideais de profissionalismo, justiça e moral, “em prol do nosso progresso futuro” (O Pharol, 30 de Julho de 1922).

Figura 8 – O Pharol - 30 de Julho de 1922

Fonte: Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual do Centro-Oeste

(CEDOC/G)

65

(39)

Paralelamente a produção de O Pharol, Lustosa também editou um jornal literário denominado A Alvorada. Enquanto o primeiro era voltado aos assuntos ditos de interesse do município, o segundo dirigia-se a um publico mais jovem, trazendo poesias, recados amorosos e capítulos de folhetins. 66

Com uma vida jornalística extremamente ativa, ainda antes do fim de O Pharol, Lustosa publicou outro jornal denominado O Movimento. Após o fim de O Movimento, O Pharol e A Alvorada, Lustosa, com mais dois amigos, David Moscalesque e Amarilio Rezende, que pertenciam ao Movimento Integralista Brasileiro, fundou um pequeno jornal chamado A Brasilidade (1935-1936). Os objetivos deste pequeno jornal estavam em difundir os valores do Integralismo, que haviam adquirido um grande sucesso entre a juventude da cidade, sobretudo entre os fazendeiros, dentro dos princípios de defesa da propriedade, da família e da religião católica, muito caros as famílias mais tradicionais da cidade. Nesse sentido, o “Estado Integral”, idealizado por Plínio Salgado, líder da Aliança Integralista Brasileira, representava para os amigos e para o próprio Lustosa um ideal a ser buscado. Além disso, por esses companheiros trazerem uma bagagem cultural acima da média para o Guarapuavano, expressavam um ideário de “ser moderno” para Lustosa. Sob esse prisma, para Lustosa o “Ideal Integralista” de David e Amarílio representava estar em sintonia com os acontecimentos que agitavam o cenário nacional. 67

Os motivos do fim de A Brasilidade em 1936 são obscuros. Nenhum exemplar do jornal foi encontrado e as únicas informações sobre o mesmo encontram-se nas memórias de Lustosa. 68

A importância da vida jornalística de Lustosa não se faz apenas pela sua intensa atividade jornalística na cidade. Lustosa, além de jornalista, cronista (suas crônicas intituladas “Do meu canto” e assinadas com o pseudônimo de João do Planalto foram publicadas por mais de 30 anos), também foi presidente do Clube Guaíra, um político influente na cidade, sendo prefeito municipal na década de 1940, mais especificamente entre 1944 a 1946 e por três vezes eleito deputado estadual e primeiro suplente a deputado federal pelo Partido Social Democrático, PSD. Ainda foi presidente do Conselho Administrativo da Caixa Econômica Federal do Paraná, até 1964 quando foi preso e levado a depor no DOPS por acusações diversas, sendo inocentado das

66 SILVA, Op. Cit., 2008, p.50. 67

SILVA, Op. Cit., 2008, p.69. 68

(40)

acusações.69

Além disso, Lustosa foi um dos maiores representantes e defensores da elite fazendeira em Guarapuava. Em suas crônicas, ficam explícitos os ideais dicotômicos daquela elite em buscar o progresso sem romper com as tradições, ou seja, sem retirar da elite campeira o status de fundadores da cidade, divulgando a idéia de que, assim como no passado, estes seriam no presente as pessoas ideais para guiarem a cidade para o progresso.

Nessa perspectiva, Lustosa foi um defensor convicto de que Guarapuava deveria ser governada pelos guarapuavanos natos, como fica explícito em uma de suas crônicas editadas sobre o nome de “Do meu canto” e assinadas sob o pseudônimo de João do Planalto70 e publicadas no jornal Folha do Oeste:

Do regime ditatorial implantado no país, em 1930, para cá, isto há 46 anos, Guarapuava teve somente quatro Prefeitos ‘guarapuavanos natos’: o cel. Aníbal Virmond, Generoso de Paula Bastos (por poucos dias), Antonio Lustosa de Oliveira e Juvenal de Assis Machado, este, já no regime constitucional (1947/1951). De 1959 até janeiro de 1977, portanto, há 18 anos, a terra guarapuavana vem sendo administrada por dois guarapuavanos por afeição: Moacir Júlio Silvestre e Nivaldo Passos Krüger, tendo nesse lapso de tempo, havido um mandato tampão, em 1963, exercido pelo também guarapuavano por afeição, Dr. Elói Pimentel. Pois bem. Agora, o povo guarapuavano acaba de eleger um guarapuavano nato, descendente da sesquicentenária cepa dos Alves-Rocha Loures-Pacheco Bastos. Guarapuava de outros tempos, pacata, semi-colonial, sem estradas que permitissem boas e rápidas comunicações para fora do município, vivia feliz e tranqüila, aguardando, esperançosamente, pela chegada do sonhado progresso, o qual começou a chegar, aqui, após serem ouvidos em 1954, os estridentes apitos das locomotivas do Ramal Ferroviário Riosinho-Guarapuava, da construção da Rodovia 277, da fixação da Colônia Agrária dos Suábios, nos magníficos campos de Entre Rios, em 1951, partindo desses auspiciosos eventos, o extraordinário surto expansionista que, neste último quarto de século, acabou transformando a sesquicentenária e histórica Guarapuava do Padre Chagas e do Capitão Rocha Loures, nesta atual Guarapuava, verdadeira forja de trabalho construtivo, com os seus campos verdejantes, outrora de pastagens nativas, pejados de gado de diferentes espécies e raças e hoje, também verdejantes, com suas infindas plantações de trigo, de arroz, de batata, de soja e de outros inúmeros cereais, ensejando ao privilegiado planalto guarapuavano, ser transformado em uma nova Canaan, na opulenta região ocidental do Paraná. E é essa Guarapuava intensamente

69

SILVA, Walderez Pohl da. Op. Cit., 2008.

70 A escolha do nome João não é aleatória, para Lustosa, João representava um nome comum, logo

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