PROTEINOGRAMA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA
NEUROPATIA DIABÉTICA
A . S P I N A - F R A N Ç A * H O R A C I O M . C A N E L A S * *
M a d o n i c k e M a r g o l i s1 0
a n a l i s a r a m o c o m p o r t a m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o p r o t ê i c a do líquido c e f a l o r r a q u e a n o ( L C R ) e m 100 pacientes diabéticos. V e r i f i c a r a m que não há dependência e n t r e p r o t e i n o r r a q u i a e g l i c e m i a ou p r o -teinemia. O a u m e n t o da p r o t e i n o r r a q u i a foi o b s e r v a d o apenas nos casos m a i s g r a v e s de diabetes mellitus, acompanhados de a c o m e t i m e n t o do siste-m a nervoso.
E n t r e as c o m p l i c a ç õ e s do diabetes mellitus, a neuropatía diabética ( N D ) é a que se acompanha de h i p e r p r o t e i n o r r a q u i a c o m m a i o r f r e q ü ê n c i a1 1
. E m b o r a o a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o p r o t ê i c a seja c o m u m na N D , não cos-t u m a a cos-t i n g i r cifras e l e v a d a s ; R u n d l e s1 4
r e f e r e que estas são encontradas o c a s i o n a l m e n t e .
A natureza e a o r i g e m da h i p e r p r o t e i n o r r a q u i a encontrada na N D são p r o b l e m a s ainda i n c o m p l e t a m e n t e resolvidos. N e s t e t r a b a l h o são analisados os dados r e f e r e n t e s a o p r o t e i n o g r a m a do L C R de uma s é r i e de pacientes com N D , no sentido d e contribuir para o estudo dêsse p r o b l e m a .
M A T E R I A L E M É T O D O S
F o i e s t u d a d o o p r o t e i n o g r a m a d o L C R d e 22 p a c i e n t e s c o m n e u r o p a t í a d i a b é t i c a . Os p a c i e n t e s f o r a m a c o m p a n h a d o s na U n i d a d e de D i a b e t e s da 1ª C l í n i c a M é d i c a da F a c u l d a d e d e M e d i c i n a da U n i v e r s i d a d e d e S ã o P a u l o . P a r a c a d a c a s o foi a n a -l i s a d o o p r o t e i n o g r a m a d e u m a a m o s t r a d e L C R -l o m b a r . E m 17 d ê -l e s f o i t a m b é m a n a l i s a d o na o c a s i ã o o p r o t e i n o g r a m a d o s ô r o s a n g ü í n e o ( s ô r o ) . P a r t e d a a m o s t r a d e L C R e s t u d a d a foi s u b m e t i d a a e x a m e c i t o l ó g i c o e a e x a m e i m u n o l ó g i c o ( r e a -ções d e f i x a ç ã o d o c o m p l e m e n t o p a r a s í f i l i s e p a r a c i s t í c e r c o s e ) .
O e x a m e c i t o l ó g i c o d o L C R f o i r e a l i z a d o e i n t e r p r e t a d o s e g u n d o a p a d r o n i z a ç ã o a d o t a d a e m nosso m e i o9
. A s r e a ç õ e s i m u n o l ó g i c a s f o r a m f e i t a s s e g u n d o a t é c n i c a d e K o l m e r7
. A c o n c e n t r a ç ã o p r o t e i c a t o t a l d o L C R foi d e t e r m i n a d a p e l o m é t o d o t u r b i d i m é t r i c o d o á c i d o t r i c l o r a c é t i c o e a d o s a n g u e p e l o d o b i u r e t o7
. O e s t u d o d a s f r a ç õ e s p r o t e i c a s d o L C R e d o s o r o f o i f e i t o p e l a e l e t r o f o r e s e e m p a p e l , s e g u n d o
t é c n i c a d e s c r i t a " , e os r e s u l t a d o s o b t i d o s f o r a m i n t e r p r e t a d o s s e g u n d o os p a d r õ e s n o r m a i s e s t a b e l e c i d o s p a r a essa t é c n i c a 1 G
.
A s i n t o m a t o l o g i a n e u r o l ó g i c a foi a v a l i a d a d e m o d o s e m i q u a n t i t a t i v e , s e g u n d o t a b e l a p r o p o s t a p o r A l e x a n d e r1
e m o d i f i c a d a p o r C a n e l a s e c o l .5
. A s e n s i b i l i d a d e v i b r a t o r i a ( f r e q ü e n t e e p r e c o c e m e n t e a l t e r a d a na n e u r o p a t í a d i a b é t i c a4
) f o i m e d i d a c o m p a l e s t e s i ô m e t r o e l e t r o m a g n é t i c o *; os v a l o r e s o b t i d o s ( e m v o l t s ) f o r a m s u b m e -t i d o s às c o n v e r s õ e s l o g a r í -t m i c a e e -t á r i a p r o p o s -t a s p o r M i r s k y e col.'-, sendo o í n d i c e d e h i p o p a l e s t e s i a r e f e r i d o p e l a e l e v a ç ã o d a s o m a dos l i m i a r e s nos a n u l a r e s e h á -l u c e s2
, m u l t i p l i c a d a p e l o f a t o r de u n i f o r m i z a ç ã o 10. Os c ó m p u t o s t o t a i s de c a d a p a c i e n t e f o r a m c o r r e l a c i o n a d o s c o m as c o n c e n t r a ç õ e s de c a d a f r a ç ã o p r o t e i c a d o L C R e c o m o t o t a l r e s p e c t i v o .
R E S U L T A D O S
E m t o d a s as a m o s t r a s de L C R a n a l i s a d a s o n ú m e r o d e c é l u l a s e r a n o r m a l e as r e a ç õ e s i m u n o l ó g i c a s f o r a m n e g a t i v a s .
S ã o a p r e s e n t a d o s , na t a b e l a 1, os r e s u l t a d o s r e f e r e n t e s à a v a l i a ç ã o s e m i q u a n -t i -t a -t i v a d o e x a m e n e u r o l ó g i c o e a o e s -t u d o d a s p r o -t e í n a s -t o -t a i s e f r a ç õ e s d o L C R e d o s o r o .
Proteinograma do LCR — E m r e l a ç ã o a o s v a l o r e s n o r m a i s 1 7
p a r a a p r o t e i n o r -r a q u i a t o t a l e m n í v e l l o m b a -r ( m é d i a 24,0 m g / 1 0 0 m l ± 6,3) v e -r i f i c a - s e q u e h o u v e a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o p r o t e i c a t o t a l do L C R e m 7 dos 22 casos e s t u d a d o s . O s a u m e n t o s e n c o n t r a d o s f o r a m d i s c r e t o s , s e n d o d e 53 m g / 1 0 0 m l a m a i o r c i f r a r e -g i s t r a d a . A d i f e r e n ç a e n t r e a m é d i a n o r m a l e a e n c o n t r a d a e m nossos casos d e N D (35,3 m g / 1 0 0 m l ± 8,9) f o i a l t a m e n t e s i g n i f i c a t i v a (t - 7,92; P < 0,001).
E m t o d o s os casos d e N D o p e r f i l e l e t r o f o r é t i c o das p r o t e í n a s do L C R e r a d o t i p o e n c o n t r a d o n o L C R e m c o n d i ç õ e s n o r m a i s ; assim, a a l b ú m i n a r e p r e s e n t o u , e m t o d o s , a m a i o r das f r a ç õ e s ; e n t r e as g l o b u l i n a s p r e d o m i n a v a m as d o g r u p o p.
P e q u e n a s a l t e r a ç õ e s q u a n t o a o t e o r d e c a d a u m a d a s f r a ç õ e s f o r a m r e g i s t r a d a s : e m 2 casos a p r é - a l b u m i n a n ã o f o i e n c o n t r a d a ; h a v i a d i m i n u i ç ã o da p e r c e n t a g e m d e a l b ú m i n a e m 2 p a c i e n t e s ( c a s o s 5 e 6 ) e a u m e n t o e m 3 ( c a s o s 15, 20 e 2 1 ) . O t e o r r e l a t i v o da g l o b u l i n a a, e s t a v a a u m e n t a d o e m u m p a c i e n t e ( c a s o 1 7 ) , o d a s g l o b u l i n a s /3 e s t a v a d i m i n u í d o e m u m ( c a s o 1 5 ) e o d e g l o b u l i n a y, a u m e n t a d o e m 3 casos ( 5 , 6 e 9 ) . P o r s e r e m d i s c r e t a s , essas a l t e r a ç õ e s n ã o p r o v o c a r a m m o d i f i c a -ções do c o n j u n t o do p e r f i l e l e t r o f o r é t i c o das p r o t e í n a s d o L C R . I g u a l m e n t e , o p e r f i l n ã o sofreu a l t e r a ç õ e s e m f u n ç ã o da i n t e n s i d a d e d a p r o t e i n o r r a q u i a t o t a l , c o n f o r m e se v e r i f i c a a g r u p a n d o os r e s u l t a d o s s e g u n d o a p r o t e i n o r r a q u i a e s t i v e s s e e n t r e 21 e 30, e n t r e 31 e 40 e e n t r e 41 e 53 m g / 1 0 0 m l ( t a b e l a 2 ) .
Proteinograma do soro — P a r a 20 pessoas s a d i a s e n g l o b a d a s na a n á l i s e f e i t a e m p u b l i c a ç ã o a n t e r i o r1 0
a m é d i a da p r o t e i n e m i a t o t a l c o r r e s p o n d e u a 7,29 g / 1 0 0 m l ± 0,66. A p r o t e i n e m i a t o t a l nos casos d e N D e s t u d a d o s é r e p r e s e n t a d a p e l a m é d i a de 7,73 g / 1 0 0 m l ± 0,41. A d i f e r e n ç a e n t r e essas m é d i a s é s i g n i f i c a t i v a ( í = 2,44; P ~ 0,02).
A s e p a r a ç ã o d a s f r a ç õ e s p r o t e i c a s do s o r o p o r e l e t r o f o r e s e e m p a p e l p e r m i t i u e s t a b e l e c e r , p a r a o g r u p o d e pessoas s a d i a s r e f e r i d o , os v a l o r e s m é d i o s s e g u i n t e s : 3,99 g / 1 0 0 m l p a r a a a l b ú m i n a e, p a r a a g l o b u l i n a al 0,29, p a r a «s 0,67, p a r a /5 0,97 e p a r a y 1,36. Os v a l o r e s m é d i o s e n c o n t r a d o s p a r a o s o r o dos p a c i e n t e s c o m N D
f o r a m : p a r a a a l b ú m i n a 3,65 g / 1 0 0 m l e, p a r a a g l o b u l i n a a1 0,35, p a r a a2 0,83, p a r a
/8 1,15 e p a r a y 1,76. A r e l a ç ã o e n t r e os v a l o r e s m é d i o s r e f e r e n t e s a o s p a c i e n t e s c o m N D e às pessoas s a d i a s é r e p r e s e n t a d a p o r v a l o r e s s u p e r i o r e s à u n i d a d e p a r a as g l o b u l i n a s ( at 1,21; <*2 1,24; j3 1,15; y 1,29), e n q u a n t o p a r a a a l b ú m i n a essa r e l a ç ã o c o r r e s p o n d e a 0,91. Estes d a d o s m o s t r a m q u e o a u m e n t o da p r o t e i n e m i a t o t a l v e r i -f i c a d o e m nossos casos e r a d e v i d o à m a i o r c o n c e n t r a ç ã o das g l o b u l i n a s no s o r o . A f r e q ü ê n c i a e m q u e o c o r r e r a m esses a u m e n t o s é i l u s t r a d a no g r á f i c o 1.
Correlação entre a concentração proteica total do LCR e do soro — A e x p l o r a -ç ã o d a c o r r e l a -ç ã o e n t r e as t a x a s de p r o t e í n a s t o t a i s n o L C R e no soro p a r a os 17 casos e m q u e a m b a s f o r a m e s t u d a d a s m o s t r o u - s e n ã o s i g n i f i c a t i v a ( r = + 0 , 0 5 4 ) .
às g l o b u l i n a s ; n a m a i o r i a dos casos a r e l a ç ã o e s t a v a d i m i n u i d a , p o r a u m e n t o da r e s p e c t i v a p e r c e n t a g e m n o s ô r o ( g r á f i c o 2 ) .
Relação entre as concentrações protêicas do LCR e a avaliação semiquantita-tiva da sintomatologia neurológica — N o m a t e r i a l e s t u d a d o n ã o f o i d e m o n s t r a d a c o r r e l a ç ã o e s t a t i s t i c a m e n t e s i g n i f i c a n t e e n t r e os d a d o s a n a l i s a d o s ( t a b e l a 3 ) . E n -t r e -t a n -t o , os v a l ô r e s o b -t i d o s s u g e r e m : c o r r e l a ç ã o da p r o -t e i n o r r a q u i a -t o -t a l c o m a s i n t o m a t o l o g i a ; d e n t r e as f r a ç õ e s p r o t ê i c a s , m a i o r p a r t i c i p a ç ã o da g l o b u l i n a p nessa c o r r e l a ç ã o .
C O M E N T A R I O S
O estudo dos casos reunidos nesta publicação confirma que é comum
ocorrer dissociação proteinocitológica no L C R de pacientes com neuropatía
diabética. Assim, em 7 casos foi verificada hiperproteinorraquia; esses casos
representam 32% do total de pacientes estudados, freqüência pouco inferior
à referida por M a r t i n 1 1
em relação a seu material (38,5%). P o r outro
pro-têica d o L C R na N D costuma ser d i s c r e t o ; a m a i o r t a x a encontrada f o i de 53 m g / 1 0 0 m i . E m seu conjunto, a p r o t e i n o r r a q u i a t o t a l dos casos estu-dados é representada pela m é d i a d e 35,3 m g / 1 0 0 m l ± 8,9. A diferença e n t r e este v a l o r e a m é d i a n o r m a l é a l t a m e n t e significativa.
N a neuropatia diabética o a u m e n t o da p r o t e i n o r r a q u i a t o t a l não se acompanha de a l t e r a ç õ e s especiais das diversas frações proteicas do L C R . A s s i m , o perfil e l e t r o f o r é t i c o f o i e m todos os casos do t i p o encontrado par a o L C R n o r m a l . E m média, a p a r t i c i p a ç ã o das frações p r o t e i c a s d o L C R no perfil e l e t r o f o r é t i c o se m o s t r o u p r a t i c a m e n t e a m e s m a t a n t o e n t r e casos c o m p r o t e i n o r r a q u i a total n o r m a l c o m o e n t r e aqueles e m q u e e l a e s t a v a aumentada.
A s ocasionais a l t e r a ç õ e s referidas par a o t e o r d e frações proteicas d o L C R f o r a m discretas, n ã o d e t e r m i n a n d o a l t e r a ç õ e s d o perfil e l e t r o f o r é t i c o . H a m m a c k e c o l .6
r e f e r e m achados semelhantes e m pacientes c o m neuropatia diabética; contudo, n ã o a p r e s e n t a r a m dados numéricos que p e r m i t a m a v a l i a r a freqüência, a n a t u r e z a e a intensidade d o a u m e n t o de globulina y a q u e acenam. Q u a n d o e s t e o c o r r e u , e m nossa série de casos, foi discreto.
N ã o foi e s t a t i s t i c a m e n t e significativa a c o r r e l a ç ã o e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o proteica d o L C R e do soro. Esse d a d o c o n f i r m a a conclusão d e M a d o n i c k e c o l .1 0
sobre o assunto. I g u a l m e n t e n ã o foi encontrada r e l a ç ã o e n t r e os perfis e l e t r o f o r é t i c o s das proteínas d o L C R e do soro. A s a l t e r a ç õ e s v e r i f i -cadas e m r e l a ç ã o a este ú l t i m o n ã o t r a n s p a r e c e r a m no L C R , do que resul-t a r a m a l resul-t e r a ç õ e s das r e l a ç õ e s n o r m a l m e n resul-t e observadas enresul-tre os resul-teores das frações proteicas no L C R e n o soro.
A interdependência da s i n t o m a t o l o g i a n e u r o l ó g i c a e da c o n c e n t r a ç ã o p r o t e i c a do L C R t e m sido e x p l o r a d a p o r v á r i o s autores. M a r t i n1 1
e P l u m1 3 n ã o o b s e r v a r a m c o r r e l a ç ã o e n t r e ambas. Canelas e c o l .4
, para 28 diabéticos, v e r i f i c a r a m q u e a m é d i a da p r o t e i n o r r a q u i a d o g r u p o c o m s i n t o m a t o l o g i a n e u r o l ó g i c a mais g r a v e e r a s i g n i f i c a t i v a m e n t e m a i o r que a do g r u p o c o m sinais d e c o m p r o m e t i m e n t o m o d e r a d o do sistema nervoso. P o s t e r i o r m e n t e 3
, e m 40 pacientes c o m diabetes mellitus, a c o r r e l a ç ã o e n t r e a s i n t o m a t o l o g i a neurológica global, a v a l i a d a s e m i q u a n t i t a t i v a m e n t e , e a p r o t e i n o r r a q u i a t o t a l mostrou-se s i g n i f i c a t i v a . A d o t a n d o o m e s m o m é t o d o d e pesquisa para a presente série de casos de N D , n ã o f o i possível c o n f i r m a r a existência de c o r r e l a ç ã o s i g n i f i c a t i v a e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o p r o t e i c a t o t a l d o L C R ou de cada uma das r e s p e c t i v a s frações e o r e s u l t a d o da a v a l i a ç ã o semiquantita-t i v a d e s i n semiquantita-t o m a semiquantita-t o l o g i a neurológica. E s semiquantita-t e achado pode r e s u l semiquantita-t a r d o f a semiquantita-t o d e o n ú m e r o d e casos analisados nesta série ser m e n o r . P o d e r e s u l t a r t a m -b é m da existência de c o r r e l a ç ã o e n t r e os dados r e f e r e n t e s à p r o t e i n o r r a q u i a e u m o u t r o f a t o r . A este o u t r o f a t o r é q u e na realidade estaria c o r r e l a -cionada t a m b é m a s i n t o m a t o l o g i a n e u r o l ó g i c a . P o r coincidência, nessas condições, seria possível d e m o n s t r a r c o r r e l a ç ã o e n t r e a s i n t o m a t o l o g i a e a p r o -teinorraquia t o t a l e m dada a m o s t r a g e m . A f a v o r desta ú l t i m a hipótese d e v e ser l e m b r a d o que o v a l o r da c o r r e l a ç ã o e n c o n t r a d o para a série d e casos a n t e r i o r m e n t e a n a l i s a d a3
K u t t e c o l .8
, estudando p o r m e i o de e l e t r o f ó r e s e e m g e l d e a m i d o ( t é c nica de S m i t h i e s ) as proteínas do L C R e m 78 pacientes diabéticos, v e r i f i -c a r a m a u m e n t o da globulina «2
_s
( " s l o w alpha-2 g l o b u l i n " ) . E s t a globulina é u m dos c o m p o n e n t e s das globulinas d o g r u p o « 2
e se
isola das demais p o r e l e t r o f o r e s e e m papel. Sua presença no L C R n o r m a l é d e m o n s t r á v e l , mas só é e v i d e n t e quando o c o r r e m disturbios da b a r r e i r a h e m o l i q u ó r i c a . O s autores r e f e r i d o s v e r i f i c a r a m que o a u m e n t o dessa subfração n o L C R foi m a i s e v i d e n t e e n t r e os pacientes c o m lesões vasculares m a i s severas, n ã o g u a r d a n d o c o r r e l a ç ã o c o m a h i p e r p r o t e i n o r r a q u i a e a intensidade ou o t i p o de l e s ã o do sistema n e r v o s o .
Os dados r e f e r e n t e s aos casos d e neuropatía diabética aqui estudados e n c a m i n h a m n o m e s m o sentido as conclusões. C o n f o r m e f o i analisado nos p a r á g r a f o s anteriores, a h i p e r p r o t e i n o r r a q u i a n ã o m o s t r o u dependência di-r e t a c o m as a l t e di-r a ç õ e s do p di-r o t e i n o g di-r a m a do s o di-r o e c o m a s i n t o m a t o l o g i a neurológica. E l a pode, e n t r e t a n t o , e s t a r na dependência d e a l t e r a ç õ e s v a s -culares. Estas a c a r r e t a r i a m u m a u m e n t o da p a s s a g e m de proteínas do sangue para o L C R , inespecífica e m r e l a ç ã o a cada f r a ç ã o p r o t e i c a . C o m o resultado, h a v e r i a a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o p r o t e i c a t o t a l do L C R sem q u e se produzissem a l t e r a ç õ e s d o perfil e l e t r o f o r é t i c o , c o n f o r m e se v e r i f i c o u na série de casos estudados. L e s õ e s m a i s acentuadas p o d e r i a m a c a r r e t a r dis-túrbios m a i o r e s na p a s s a g e m de uma ou outra f r a ç ã o proteica, s e m a l t e r a r s o b r e m o d o o perfil e l e t r o f o r é t i c o . Êstes distúrbios r e f e r e n t e s a frações iso-ladas a p r e s e n t a r i a m aspectos peculiares a cada caso; e n t r e êles se encon-t r a m as a l encon-t e r a ç õ e s ciencon-tadas da l i encon-t e r a encon-t u r a e de alguns dos casos desencon-ta série.
R E S U M O
T e n d o c o m o o b j e t i v o analisar a h i p e r p r o t e i n o r r a q u i a que o c o r r e na neu-ropatia diabética, foi estudado o p r o t e i n o g r a m a d o L C R de 22 pacientes p o r t a d o r e s dessa afecção. P a r a fins c o m p a r a t i v o s , e m 17 dêles foi f e i t o na m e s m a ocasião o estudo do p r o t e i n o g r a m a do sôro. A s i n t o m a t o l o g i a neu-r o l ó g i c a foi avaliada de m o d o s e m i q u a n t i t a t i v o
F o i v e r i f i c a d o a u m e n t o discreto da c o n c e n t r a ç ã o p r o t ê i c a t o t a l d o L C R e m 7 casos ( 3 2 % ) . O perfil e l e t r o f o r é t i c o ( e l e t r o f o r e s e e m p a p e l ) das p r o teínas foi do t i p o e n c o n t r a d o no L C R normal, e m todos os casos. D i s c r e -tas a l t e r a ç õ e s quanto a o t e o r de u m a ou outra f r a ç ã o f o r a m r e g i s t r a d a s . O perfil p r o t ê i c o n ã o apresentava particularidades relacionadas a o f a t o de ser n o r m a l ou aumentada a c o n c e n t r a ç ã o p r o t ê i c a t o t a l do L C R .
A r e l a ç ã o e n t r e a p e r c e n t a g e m no L C R e n o sôro de cada uma das frações m o s t r o u a l t e r a ç õ e s do b a l a n ç o p r o t ê i c o e n t r e L C R e sôro. A s a l t e -rações e r a m devidas a modificações globulínicas do p r o t e i n o g r a m a d o sôro. N ã o foi encontrada c o r r e l a ç ã o significativa e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o p r o t ê i c a do L C R e a do sôro.
significante e n t r e os dados analisados. E n t r e t a n t o , os v a l ô r e s obtidos
suge-r e m : c o suge-r suge-r e l a ç ã o da p suge-r o t e i n o suge-r suge-r a q u i a total c o m a s i n t o m a t o l o g i a n e u suge-r o l ó g i c a ;
d e n t r e as frações protêicas, m a i o r p a r t i c i p a ç ã o da globulina nessa
cor-r e l a ç ã o .
E m vista dos resultados obtidos para os casos estudados, os autores
consideram que o a u m e n t o da p r o t e i n o r r a q u i a total na neuropatia diabética
n ã o pode ser pôsto na dependência de a l t e r a ç õ e s peculiares a uma ou outra
f r a ç ã o p r o t ê c a do L C R . I g u a l m e n t e , n ã o depende de modificações d o p r o
-t e i n o g r a m a d o s ô r o e não pode ser e x p l i c a d o e m função dire-ta da in-tensi-
intensi-dade do quadro n e u r o l ó g i c o .
É discutida a possibilidade de estar a hiperproteinorraquia relacionada
às alterações da b a r r e i r a hemoliquórica, secundárias às lesões vasculares
que a c o m p a n h a m o diabetes mellitus.
S U M M A R Y
Cerebrospinal fluid proteins and their electrophoretic pattern in diabetic
neuropathy.
T h e present study w a s c a r r i e d out in o r d e r t o i n v e s t i g a t e the n a t u r e
of the increase in t h e cerebrospinal fluid ( C S F ) protein content described
in diabetic neuropathy. T h e C S F proteins w e r e studied in 22 patients w i t h
clinical signs of diabetic neuropathy.
T h e t o t a l protein content and the e l e c t r o p h o r e t i c p a t t e r n ( p a p e r e l e c t r o
-phoresis) of the proteins w e r e studied in one C S F sample of each patient.
T h e C S F sample w a s collected t h r o u g h l u m b a r puncture. F o r c o m p a r a t i v e
purposes, t h e t o t a l protein content and t h e e l e c t r o p h o r e t i c p a t t e r n of the
blood serum proteins w e r e d e t e r m i n e d in 17 patients. F o r t h e same purpose
t h e i m p a i r m e n t of the nervous s y s t e m w a s e v a l u a t e d in a
semi-quantita-t i v e w a y .
T h e C S F protein concentration was increased in 7 cases ( 3 2 % ) . T h e
increases w e r e slight. T h e e l e c t r o p h o r e t i c p a t t e r n s w e r e found t o be similar
t o those found in n o r m a l conditions. T h e r e l a t i v e values found f o r each
of t h e p r o t e i n fractions w e r e increased in some instances. Such increases
w e r e slight and did not change the protein p a t t e r n of the C S F . A m o n g
these changes, that r e g a r d i n g the y-globulin w a s o b s e r v e d in 3 cases.
T h e C S F p r o t e i n p a t t e r n did not show changes r e l a t e d to t h e total
protein content of the sample. Changes in t h e serum protein p a t t e r n did
not induce changes in t h e C S F p r o t e i n p a t t e r n . T h e c o r r e l a t i o n b e t w e e n
t h e t o t a l p r o t e i n content of C S F and s e r u m w a s not statistically significant.
T h e results s h o w t h a t t h e increase in t h e t o t a l p r o t e i n c o n t e n t of the C S F in d i a b e t i c n e u r o p a t h y is not r e l a t e d t o c h a n g e s r e g a r d i n g one o r m o r e of t h e p r o t e i n f r a c t i o n s of C S F . I t is not dependent a l s o on t h e p r o t e i n c o n c e n t r a t i o n in t h e b l o o d s e r u m a n d / o r t h e changes found in its p r o t e i n p a t t e r n . T h e d e g r e e of the n e r v o u s i m p a i r m e n t in itself cannot be d i r e c t l y r e l a t e d t o the i n c r e a s e in t h e C S F p r o t e i n s .
T h e i m p o r t a n c e of d a m a g e in t h e b l o o d - C S F b a r r i e r is p o i n t e d out b y d a t a of t h e l i t e r a t u r e c o n c e r n i n g the p r o t e i n f r a c t i o n s in d i a b e t i c p a t i e n t s . Such d a m a g e cannot be e x c l u d e d in t h e discussion o f the results found. I t s presence w o u l d e n h a n c e the p a s s a g e of p r o t e i n s t o the C S F , thus r e s u l t i n g an i n c r e a s e in t h e t o t a l p r o t e i n c o n t e n t . C h a n g e s in the p r o t e i n p a t t e r n in such conditions a r e absent o r slight, as it w a s found in t h e cases studied.
R E F E R Ê N C I A S
1. A L E X A N D E R , L . — N e w c o n c e p t o f c r i t i c a l steps in t h e c o u r s e o f c h r o n i c d e b i l i t a t i n g n e u r o l o g i c disease in e v a l u a t i o n o f t h e r a p e u t i c response. A r c h . N e u r o l , a. P s y c h i a t . ( C h i c a g o ) 66:253271, 1951. 2. C A N E L A S , H . M . — S e n s i b i l i d a d e v i b r a -t ó r i a : v a l o r s e m i ó -t i c o e m a l g u m a s a f e c ç õ e s d o sis-tema n e r v o s o . A r q . N e u r o - p s i q u i a -t .
( S ã o P a u l o ) 16:275-352, 1958. 3. C A N E L A S , H . M . — N e u r o p a t i a d i a b é t i c a . R e v . P a u l . M e d . , 62:29-42, 1963. 4. C A N E L A S , H . M . ; E P P S , D . R . ; F E R R A Z , E. C. F . ; T E I X E I R A - P I N T O , J. — N e u r o p a t í a d i a b é t i c a : c o n s i d e r a ç õ e s s ô b r e 33 casos. R e v . P a u l . M e d . , 49:169190, 1956. 5. C A N E L A S , H . M . ; J A M R A , M . A . — E s t u d o c o m -p a r a t i v o dos e f e i t o s h e m a t o l ó g i c o s e n e u r o l ó g i c o s d o e x t r a t o h e -p á t i c o , á c i d o f ó l i c o e v i t a m i n a B1 2 n o t r a t a m e n t o da a n e m i a p e r n i c i o s a de A d d i s o n B i e r m e r . A r q . N e u r o -p s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 11:229-246, 1953. 6. H A M M A C K , W . R . ; S T A R N E S , W . R . ; H I L L Jr., S. R . — Studies on t h e spinal f l u i d a n d s e r u m p r o t e i n e l e c t r o p h o r e t i c p a t t e r n in p a t i e n t s w i t h d i a b e t e s m e l l i t u s . J. c l i n . I n v e s t . , 36:897, 1957. 7. K O L M E R , J. A . ; S P A U L D I N G , E . H . ; R O B I N S O N , H . W . — A p p r o v e d L a b o r a t o r y T e c h n i c , 5ª ed., A p p l e t o n C e n t u r y C r o f t s I n c . , N e w Y o r k , 1951. 8. K U T T , H . ; H U R W I T Z , L . J.; G I N S -B U R G , S. M . ; M c D O W E L L , F . — C e r e b r o s p i n a l fluid p r o t e i n in d i a b e t e s m e l l i t u s . A r c h . N e u r o l . ( C h i c a g o ) 4:31-36, 1961. 9. L A N G E , O . — O L í q u i d o C é f a l o - r a q u i d i a n o e m C l í n i c a . C i a . M e l h o r a m e n t o s de S ã o P a u l o , S ã o P a u l o , 1938. 10. M A D O N I C K , M . J.; M A R G O L I S , J. — P r o t e i n c o n t e n t o f spinal fluid in d i a b e t e s m e l l i t u s . A r c h . N e u r o l , a. P s y c h i a t . ( C h i c a g o ) 68:641644, 1952. 11. M A R T I N , M . M . — D i a b e t i c n e u r o -p a t h y : a c l i n i c a l s t u d y o f 150 cases. B r a i n 76:594-624, 1953. 12. M I R S K Y , I . A . ; F U T T E R M A N , P . ; B R O H - K A H N , R . H . — T h e q u a n t i t a t i v e m e a s u r e m e n t o f v i b r a t o r y p e r c e p t i o n in subjects w i t h a n d w i t h o u t d i a b e t e s m e l l i t u s . J. L a b . c l i n . M e d . , 4 1 : 221-235, 1953. 13. P L U M , F . — T h e n e u r o l o g i c c o m p l i c a t i o n s o f d i a b e t e s m e l l i t u s . In W i l l i a m s , R . H . — D i a b e t e s . P . H o e b e r , N e w Y o r k , 1960, p á g s . 602-622. 14. R U N D L E S , R . W . — D i a b e t i c n e u r o p a t h y : g e n e r a l r e v i e w w i t h r e p o r t o f 125 cases. M e d i c i n e 24:111-160, 1945. 15. S P I N A - F R A N Ç A , A . — E l e t r o f o r e s e e m papel d a s p r o t e í n a s d o l í q u i d o c e f a l o r r a q u i d i a n o . I I I : T é c n i c a . A r q . N e u r o - p s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 16:236242, 1958. 16. S P I N A F R A N Ç A , A . — E l e t r o f o r e s e e m papel d a s p r o -t e í n a s d o l í q u i d o c e f a l o r r a q u i d i a n o . I V : V a l ô r e s n o r m a i s . A r q . N e u r o - p s i q u i a -t . ( S ã o P a u l o ) 18:19-28, 1960. 17. S P I N A - F R A N Ç A , A . ; A M A R , I . — V a l o r e s n o r m a i s da c o n c e n t r a ç ã o p r o t ê i c a d o l í q u i d o c e f a l o r r a q u i d i a n o : v a r i a ç õ e s l i g a d a s a o l o c a l da c o l h e i t a d a a m o s t r a . A r q . N e u r o - p s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 19:220-225, 1961.
