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Mulher, identidade e auto-estima: elementos teóricos para uma reflexão critica

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Academic year: 2017

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(1)

CEI'HR.O DE. PÓ.S,-GRADUiJ\CAD EM PSICOLOGIA ( ' . ".

MULHER, IDENTID~DE ,E AUTO-ESTIMA:

ElEME~JOS T~6RICOS PARA

UMA

REFLEXÃO CRíTICA

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LVA FERNANDES

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(2)

CENTRO DE P6S=GRADUAÇÃOEM PSICOLOGIA

MULHER,

IDENTIDADE E AUTO-ESTIMA:

ELEMENTOS TE6RICOS PARA UMA REFLEXÃO CRÍTICA

POR

GISELE

DA SILVA FERNANDES

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA. COMO REQUISITO PARCIAL

PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE

MESTRE EM PSICO.LOGIA

(3)
(4)

viajante; a Mulher ~ fiel (ela espera), o Homem ~

conquista-(navega a borda) . , , '"', A

dor e E a mulher que da forma a ausencia: e

Tecelãs,

*

la tece e ela canta; as as I1c hansons de toilel1

,

di

zem ao mesmo tempo a imobilidade (pelo ronron do tear) e a

ausência (ao longe, ritmos de viagem, vagas marinhas,-

caval-gadas). De onde resulta que todo homem que fala a A •

ausenCla

do outro, feminino se declara: ~sse homem que espera e sofr~

está milagrosamente feminizado. Um homem não ~ feminizado

por ser invertido sexualmente, mas por estar apaixonado. (Mi

to e utopIa: a origem pertenceu, o futuro perte~ceF~ ~queles

que têm algo feminino).

RQLAND BARTHES

(5)

- À Professora Eva Nick; que entendendo o momento

de realização deste estudo, muito me apoiou e incentivou, d~

monstrando sempre solidariedade e amizade, sem as quais,

pa-ra mim, todo empreendimento é imposslvel de ser realizado;

- Ao Ibsen, que com sua "escuta" carinhosamente me

tem ajudado no caminho do crescimento e da criação;

- Ao Théo, Antônia e Mônica pelo entusiasmo com

que sempre participam dos meus projetos;

A Maria Lúcia, por todas as formas de colabora

-çao, mas sobretudo, e principalmente, pela amizade demonstra

da ao longo destes anos de convivio; ,

- Aflorlpes, pela colaboração e participação

afe-tiva;

- e, c~rtamente, ao Luiz Antonio, pelo carinho e prazer do dia-é-dia.

(6)

Partindo do pressuposto de que os mitos sociais fe

mini nos participam da construção da identidade e da

auto-es-tima da mulher, buscamos levantar quest~es~pertinentes a

es-tes aspectos.

Consideramos, especificamente, neste trabalho uma

etapa singular da vida da mulher, na qual ela se sante confi

nada ao universo doméstico, não mais desempenhando as

fun-ç~es femininas engendradas a partir do imaginário social.

Observa~os que em alguns casos esta situação caraE

"

teriza um momento de crise, no qual a mulher, frequentement~

perde a perspectiva do futuro, o que vai influenciar seu

mo-do de li· e sta r" e "a tua r" no mundo, fi can do amea ça do s se u

sen-timento de identidade e auto-estima.

-Para uma melhor compreensao do mundo da mulher, i~

cluimos um capitulo sobre algumas contribuiç~es existentes

nas diferentes disciplinas (Biologia, Sociologia,

Antropolo-gia, Hist6ria e Psicologii), pois consideramos fundamental u

ma abordagem multidisciplinar para o estudo proposto.

Ao longo do desenvolvimento deste tema,

confirma-mos a import~ncia e pertin~ncia deste estudo, principalmente

neste momento de profundas transformaç~es sociais. Por isso, justificamos a continuidade do nosso trabalho, sugerindo a

realização de uma pesquisa emplrica a fim de ampliar as colo

caç~es aqui feitas, além de contribuir para a práxis do

psi-c6lo go neste campo.

(7)

-This dissertation's principal objective is to discuss

some theoretical questions dealing with the assumption that

feminine social myths contribute to the development of woman's

identity and self-esteem.

More specifically we envisage a time in the evolution

of woman's life in which she feels herself restricted to a

domestic universe, having lost those feminine functions fabricated

by the social imaginary.

In some cases, this situation characterizes a moment

of crisis, wherein the woman frequently loses the perspective of

a future, thereby influencing her way of 11 being" and "acting"

in the world, and consequently feeling a threat to her identity

and self-esteem.

In order to understand better the world of a woman,

we have included a chapter dealing with several different

scientific contributions (biological J sociological, anthropologicaJ

historical and psychological) since a interdisciplinary approach

to the theme we propose to study is deemed indispensable.

Our main conclusion, derived from our theoretical

investigation, is that a study directed to those aspects which

we have envisaged is both important and relevant, specifically

in a historical moment of violent social changes.

Therefore, we propose an empirical research in order

ta brooden our perspective and ta contribute to the psychalagist's

practice in this area.

(8)

-AGRADECIMENTOS iv

RESUMO v

SUMMARY vi

INTRODUÇÃO 1

,

CAPITULO I

-

O MUNDO DA MULHER 9

,

1

-

O Referencial Biologico 9

,

2

-

O Referencial Sociologico 13

3

-

O Referencial Antropologico , 20

,

4

-

O Referencial Historico 34

5

-

O Referencial Psicológico 42

CAPÍTULO 11 - A IDENTIDADE E A AUTO-ESTIMA 57

1 - A Formaçao da Identidade 57

2 - O Problema da Auto-Estima 69

CAPÍTULO 111 - IDENTIDADE E AUTO-ESTIMA DA MULHER NÃO ECONOMICAMENTE PRODUTIVA: SUA SITUAÇÃO ESPECíFICA E CARACTERIZAÇÃO

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

77

101

120

(9)

-Para explicitar as razoes que motivaram este

estu-do cabe, inicialmente, discorrer a respeito estu-do interesse que

nos impeliu a realizá-lo.

Ao iniciar nossas atividades profissionais, const~

tamos ser muito grande o volume de trabalhos recentemente

desenvolvidos, tendo como temática a ~ulhe~, entre os quais

podemos citar ALVES, et alii, 1981; COLASANTI,1980; FREEMAN,

,

1983; NEVES, et alii, 1980, etc. Verificamos, tambem, que es

ta escolha coincidia com um novo engajamento da mulher na

sociedade, ou seja, sua inserção enquanto força de trabalho.

No momento em que da mulher se exigiu o abandono do universo

, ,

domestico, em que economicamente se tornou necessario sua

-

,

pa~ticipaçao enquanto elemento produtivo nas fabricas,nas i~

dústrias, nas escolas, etc, a mulher economicamente ativa ,

construtora da riqueza social passou a despertar interesse

como objeto de estudo não só das Ciências Sociais e Humanas,

mas também de áreas ligadas

à

Economia.

Observamos que grande parte dos estudos publicados

(RODRIGUES, 1978; LEITE, 1982; BLAY, 1978) se preocupam com

a mulher engajada no processo de produção: as operárias,

me-,

talurgicas, mulheres com dupla jornada de trabalho, etc.

Os estudos acima citados visavam principalmente co

nhecer melhor esta m~lher que se insere na vida economicamen te produtiva, ou, em outras palavras, o que sente e pensa e~

ta mulher que agora realiza tarefas tão diferentes das que

A , ,

(10)

,

Tambem consideramos importante assinalar a crescen

te consciência da relevância do papel da mulher nas profun

-das transformações sociais, políticas e culturais atuais.Tal

consciência contribuiu para que fosse cada vez maior o

le-que de investigações le-que tentam abarcar o problema da vida

feminina.

,

O fato de que um numero cada vez maior de mulheres

passou a exercer uma atividade fora do espaço doméstico,

fa-voreceu o despertar de uma nova atitude, no sentido de levar

a mulher a refletir sobre sua própria condição. Nesta

refle-_ " A '

xao observamos uma consequencia irreversivel: as mulheres se

colocam enquanto sujeito de suas escolhas não só a nível

in-dividual mas também coletivo, procurando entender sua

parti-cipação no ato de "fazer história".

Como resultado desse processo tem ocorrido uma

mu-dança também a nível dos sentimentos que a mulher possa ter

em relação a si própria: de espectadora do "mundo l~ fora" e

la passa a construir esse mundo.

Exatamente esse ponto é que nos mobilizou no senti

do de olharmos, não para a mulher que ingressou na

produ-ção mas, pelo contr~rio, para a mulher que não exerce, pre

-...

sentemente, nenhuma atividade economica extradomiciliar. O

que estar~ acontecendo com a mulher que est~

à

margem desta

dinâmica? Como se per.cebe? Que sentimentos tem em relação a

si mesma?

Cabe ainda considerar o fato de que a partir do m~

(11)

econo-•

micamente ativa, participante e independente, o julgamento

que a mulher isolada deste novo contexto faz de si mesma, a

partir de sua situação concreta de vida, sofreu uma mudança.

Refletindo mais aprofundadamente sobre a mulher q~

sempre pertenceu ao universo doméstico, nossa atenção se voi

tou para aquela que, no momento, vive uma situação caracteri

zada primordialmente pela passividade, pois mesmo as funções

que a definem como mulher não estão mais presentes: a função

de reprodutora da espéci~, socializadora das crianças, além

da eXigência de participar de outras atividades domésticas.

Estamos lidando, então, com uma situação definida.

Por um lado a mulher economicamente produtiva e por outro a

que jamais participou dessa atividade, estando vivenciando ,

no momento, uma situação de absoluta passividade, não só por

não participar de um universo p~blico, mas também por ter

diminuldas suas responsabilidades e atuação na esfera

domés-tica. Mead (1955) assinala esta problem~tica dentro do con

-texto norte-americano, com as seguintes ponderações: a moça

americana se defronta com a dilema de que " ••• deve demonstrar

suas capacidades o suficiente para ser considerada bem

suce-dida, mas não excessivamente bem sucedida ••• " (Mead, 1955,

p.238) j~ que a escolha de uma carreira profissional em

qe

-trimento do casamento não representa uma gratificação plena:

"Não existem ~libis p~ra o êxito de uma mulher feminina •.• "

(ibidem, p.239).

Ao

Desta forma, a moça se ve impelida a optar pelo ca

(12)

soltei-ro, que não casou, é também visto como fracassado.

Por outro lado, a crescente tradição que exclui da

fam{lia (ou pelo menos, do domicilio e do lar) figuras que

-

,

poderiam ajudar a jovem esposa e mae - a avo, a irma

soltei-ra, a. empregada doméstica - torna imposs{vel, via de regra ,

para a mulher, conciliar o trabalho e as tarefas domésticas:

"Apenas as mãos de uma ~nica ,. mulher para alimentar o bebe, atender o telefone, apagar a chama do gás sob a panela cu-jo conte~do ameaça transbor -dar, tranquilizar o filho ma-is velho que quebrou um brin-quedo, e abrir ambas as portas ao mesmo tempo •.. " (ibi -dem, p.248).

Dedicando-se, assim, durante um longo per{odo, a

,

tarefas que incluem o papel de nutricionista, psicologa espe

cialista em crianças, engenheira, administradora, etc, a

mu-lher, por mais assoberbada que se possa sentir, também se

vê apoiada, em sua auto-estima, pelo papel ativo e autônomo

que desempenha.

Não obstante, o per{odo em que os filhos deixam a

casa, para freq'úentar universidades (o "college" americano )

ou se engajar em empregos, e sua missão foi cumprida, é

re-presentativo de uma verdadeira crise:

-"Todas as pressoes sociais a que está sujeita lhe dizem que ela não deve estragar a vida de seus filhos, deve dei xá-los livres para que vivam suas próprias vidas, que ela deve torná-los independentes e auto-suficientes" ( ibidem, p.250).

(13)

es-tes preceitos, mais ela sabe que está contribuindo para

per-,

der seu "emprego". Um belo dia, ainda jovem, saber-se-a dian

te da mesa do café da manhã e só verá diante de si um rosto,

o do marido. Ficará sozinha, totalmente só, em uma casa

va-zia. Seu "emprego" se evaporou, o trabalho em prol do qual

"sacrificou tudo" se foi, sente-se "aposentada". Esta crise

doméstica naturalmente será muito mais intensa se concidir

com a época da menopausa, com a instabilidade hormonal e

me-dos emocionais concomitantes.

Infelizmente, nesta ocasiao, o marido enfrenta

ou-tro tipo de dificuldade. Pode vir a saber que se tornou pai

de famllia cedo demais, que não eproveitou realmente a vida,

principalmente se em seu próprio trabalho achar-se em uma

e-tapa na qual percebe que

não possui mais condições de pr~

gredir.

A mulher, por outro lado, mesmo satisfeita por ter

cumprido sua missão de mãe, defronta-se com o medo de nao

-ser mais tão fisicamente atraente como outrora. Mead argume~

ta:

"Superficialmente, o problema com o qual o casal de meia-i-dade ••• se defronta é que a principal missão de vida da mãe foi realizada e terminou enquanto ela ainda se sabe fur te e sadia, e agora necessitã encontrar outra válvula de es cape para suas energias, con-tinuando a ajustar a sua vida , aos habitos e necessidades de um marido ••• " (ibidem,p.252).

Existem, evidentemente, soluções sadias para este

(14)

,

voluntarias na comunidade, retorno ao trabalho que a mulher

exerceu antes de casar, preocupações com netos

(especialmen-te se são filhos de uma filha que casou), etc. Mas, até

neste caso, os problemas não cessam: doenças e mornestes dos pró

-prios. genitores, a oposição entre a mulher que enceta uma no

va atividade profissional, cheia de entusiasmo e o sentimen~

to do marido de que atingiu um est~gio de estagnação·~ É in

teressante que são agora os filhos do casal ( recém-casados)

que permanecem em seus próprios lares e se preocupam: "

Tentar decidir o que fazer com Mamãe e Papai" (ibidem,p.253~

,

O problema e complexo, mas, a nosso ver ,envolve as

duas questões psicológicas fundamentais que serão objeto de

nosso estudo: identidade e auto-estima da mulher.

, , ,

Mead julga que "e possivel que a sociedade ira

re-conhecer este período como um dos quais em que um

aconselha-mento profissional é tão necess~rio quanto o é na

adolescên-cia" (ibidem, p.253).

por que, neste estudo, estamos considerando o

tra-balho como um fator importante ao considerarmos a condição fu

mini na?

podemos dizer que grande parte das referências fei

tas à vida humana são associadas às atividades que o homem

realiza nos diversos momentos do desenvolvimento das socieda

-des, atividades estas que vao desde a busca de alimento, cOE

respondendo à necessidade de sobrevivência, até as que fazem

parte de um processo altamente complexo e organizado das

(15)

mudanças observadas a partir do século XIX.

É

justamente a

partir deste século que o trabalho feminino - trabalho

mile-nar, mas continuamente desvalorizado - passa a ser objeto de

cpnsiderações. Apesar desta mudança no modo de encarar o tra

balho da mulher, a hist6ria do trabalho continuou sendo a

,

historia do trabalho do homem. Somente passam a ser

conside-radas as atividades que seguem certas normas masculinas.

Se partirmos do pressuposto de que o trabalho

pro-dutivo é um dos elementos de definição da existência social

do homem, podemos inferir também que o fato da mulher "dar a

vida", mas não "construir a vida" desperta nela sentimentos

-que vao definir seu modo de atuar e estar no mundo.

Cabe sublinhar aqui o interesse do estudo que

pro--

,

pomos, pois nossa preocupaçao e exatamente com o sentimento

que a mulh~r tem em relação a si pr6pria, quando sua condi

-ção foi e continua sendo a de espectadora da constru-ção

social, situação esta agravada pela ausência dos papéis

mencionados, que a definem como fêmea.

do

,

ja

Cabe, ainda, enfatizar que estamos falando dos

mi-.

. ' .

-tos sociais, engendrados a partir do lmaglnarlo, que vao

co-laborar na estruturação da identidade de cada pessoa e

tam-,

bem na sua auto-estima. Em outras palavras, a partir de uma

situação onde a mulher não mais responde às funções que a d~

finem como fêmea, sua identidade ficará ameaçada e sua

auto-estima desvalorizada, influenciando o estar e atuar no mundo,

a que nos referimos anteriormente. Sabemos que este sentimen

(16)

psi-cológico, mas acreditamos também que se estenda ao nivel

so-cial, com ele interagindo num processo dinâmico.

É importante que fique bem claro que falar da

mu-lher, seus pensamentos, seus afetos, seus sentimentos a

res-peito. dos outros e de si própria, s6 faz sentido se for

con-siderado o momento histórico no qual estes processos

aconte-- , ,

cem. O ser humano nao e a-historico; ele traz consigo em

su-, ,

as raizes, um passado historico e cultural e seu discurso rem

pre se insere em um contexto historicamente demarcado.

,

-Convem esclarecer, ainda, que nosso estudo nao pr~

tende esgotar a temática proposta. Teremos alcançado

objetivo se conseguirmos colocar questões, apontar

nosso

,

duvidas

que possam colaborar para uma melhor compreensão da dimensão

feminina contribuindo, dessa forma, para o entendimento de

(17)

CAPÍTULO I - O MUNDO DA MULHER

1 - O Referencial Biológico

Os dados da biologia são de extrema importância na

história da mulher, pois' desempenham um papel essencial e

primordial na compreensão de sua situação. são elementos que

sempre estão presentes, quando pretendemos conhecer a

condi-ção de sua própria exist3ncia. Em todas as reflexões que

fi-zermos sobre a mulher teremos que ter a contribuição da

bio-logia como um dos referenciais. Beauvriir (1980), em seu

ex-tenso trabalho sobre a mulher, ao fazer alusão aos dados bio

lógicos, afirma:

" ••• (eles) desempenham na his-tória da mulher um papel de primeiro plano, são um elemen to essencial de sua situação~

Em todas as descrições ulteri ores, teremos que nos referir a eles. Pois, sendo o corRo o instrumento de nosso dominio do mundo, este se apresenta

rn

modo inteiramente diferente segundo seja apreendido de u-ma u-maneira ou de outra. Eis porque os estudamos tão demo radamente; são chaves que per mitem compreender a mulher " (Beauvoir, 1980, p.52).

A vida da mulher é pontuada por fatos que

poderia-mos considerar como verdadeiros marcos biológicos: menarca,

vida sexual, gravidez, parto, amamentação e menopausa. Estes

marcos, além de delimitar ciclos que possuem caracteristicas

,

.

proprlas e nos alertar para o fato de que a vida da mulher

(18)

progressivamen-te dão condições à mulher de realizar a essência do femini

no: a· reprodução. A menarca, por exemplo, corresponder ia a

uma situação de transição menina/moça. No ciclo menstrual es

taria contido o delineamento do repetido trabalho da gesta

-çao.

,

Esses marcos teriam como centro um unico fato: a

perpetuação da esp~cie. Em princIpio, o que definiria a

mu-lher seria o fato dela ser uma grande matriz geradora.

À

mu-lher caberia, então, a função de mantenedora da esp~cie. Nes

se sentido, as condições de sua existência seriam impostas

pelo ovário e pelo útero, permanecendo a mulher mais forte

-mente ligada às necessidades de seu aparelho gerador que ... as

' . • A •

suas proprlas eXlgenclas.

Beauvoir (1980) enfatiza que todas estas etapas por

que passa a mulher ao longo de sua existência, na realidade,

são perIodos onde, de uma forma ou de outra, em maior ou

me-nor grau, se vivenciam conflitos. Em relação à gestação,

es-creve: "Habitada por um outro que se nutre de sua subst~nci~

a fêmea ~ durante todo o tempo da gestação,

concomitantemen-te ela mesma e outra .•• " (ibidem, p.43).

E, mais adiante, a respeito do parto: "O conflito

, , ,

especie-individuo, que no parto assume um aspecto dramatico,

confere ao corpo feminino uma inquietante fragilidade"

(ibi-dem, p.50).

Vemos, então, que do ponto de vista da biologia, a

tarefa mais importante da mulher ~ a reprodução da esp~cie •

f - ,

(19)

neira de sua própria espécie, pois ela é responsável pela

perpetuação da mesma. Para Beauvoir, tal fato leva a mulher

a experimentar uma profunda alienação de si mesma e um con

-" , ,

flito que se da a nivel especie-individuo. Para esta autora,

quando começam a se desenvolver os fenômenos da menopausa

e esse também é um período de crise - a mulher foge ao

domí-nio da espécie, libertando-se da servidão da fêmea.

Referindo-nos

à

anatomia, Beauvoir argumenta que o

corpo do homem se relaciona de forma direta com o mundo ex

-terno: " •.• ele é seu corpo" (ibidem, p.46), enquanto que o

corpo da mulher se realiza

à

medida em que cumpre a função

que dele se espera: a reprodução. Paralelamente, temos que

considerar o fato de que no homem a espermatogênese é um

fe-nômeno que não encontra limites, ao passo que na mulher, a

produção de ovócitos se realiza durante a vida embrionária.

A quantidade de óvulos que a mulher possui ao nascer é pre-,

determinada, o que acentua sua condição de prisioneira da es

,

.

pecle.

Há ainda outros dados que desencadeiam uma serle ,

.

A A

*

de interferencias acerca da hierarquia entre macho efemea •

Por exemplo, e o espermatozóide que fecunda o óvulo, que se

movimenta; é o óvulo que espera, é a fêmea que fica imóvel.

É a fêmea que sofre o coito, que sofre a penetração do macho,

sofre a fecundação. O homem empreende a ação, idealiza; a m~ lher recebe a ação. E, nessa dinâmica, mantém seu processo

..

' .

(20)

- *

de alienaçao •

O envolvimento mais forte do corpo da mulher é com

a função natural de procriação. Nesse sentido, a mulher e ,

mais identificada

à

natureza e o homem

à

cultura. O homem se

relaciona, se projeta para o mundo externo, e a mulher reali

za atividades que têm a si mesma como fundo. O homem produz

~

.

objetos duradouros, a mulher seres pereClvels.

, ,

Porem, os dados da fisiologia e da biologia so

fa-zem sentido se também ferem considerados paralelamente a

ou-tros aspectos, de importância indiscutivel, como os da econo

mia, sociologia e psicologia.

A perspectiva biol6 gica sugere uma hierarquia

en-tre macho e fêmea. Porém, as diferenças proclamadas s6 fazem

sentido se forem compreendidas dentro de um quadro de tabus

e leis, ou seja, a partir de valores culturalmente definidos,

não construidos pela fisiologia. Falar da sujeição da mulher

..

,

a especie sem considerar uma rede muito mais ampla e

comple-xa de fatores que atuam concomitantemente na determinação de

sua situação, é considerar que a mulher apenas se define

pe-lo seu corpo.

,

Embora tenhamos ressaltado que o corpo da mulher e

um dos principais elementos que determinam sua situação no

*

Não obstante, é importante considerar que se do ponto de vista bio16 gico é indiscutivel que o macho penetra a fêmea, que o pênis é inserido ~a vagina no ato do coito, nem sem-pre a mulher sentir-se-a alienada por este fato; ou, em ou tras pal~vras, nem sempre ela se sente passival sofrendo ã

(21)

-

,

mundo, ele em si nao e suficiente para conhecermos a

condi-ção feminina. É importante assinalar, também, que fomos ex

-tremamente sintéticos ao fazer referência ao aspecto biológi

,

co. Justificamo-lo, por um lado, pelo extenso numero de

tra-balhos já escritos a respeito das condições biológicas da

mulher, e por outro, pelo fato, já mencionado, de que o

im-portante neste estudo é tentar compreender a vivência femini

na em relação a estes dados biológicos, o que será objeto do

capítulo I, 5 (vide página 42 ).

2 - O Referencial Sociológico

Ainda na esfera social a "natureza" feminina, a r~

alidade biológica, são relevantes para determinar as funções

da mulher. Suas características biológicas especificas

deli-mitam suas atividades sociais. Aqui o fato de possuir um úte

ro direciona novamente sua atuação dentro do universo social.

Através da história das civilizações, a "natureza"

feminina sempre foi um argumento que serviu para justificar

a posição da mulher dentro da sociedade. Convém assinalarmos

que a descrição do que seja "natureza" feminina sempre foi

feita a partir de critérios masculinos. O homem é quem dita

as normas que servem para a explicitação do que seja essa

Ilnatureza".

Nas nossas sociedades patriarcais o

estabelecimen-to dessas distinções assegurava, principalmente ao homem, e~ clusividades, privilégios, que o outro sexo não poderia

(22)

que estabelecia comportamentos culturalmente tomados como

"normas", era uma ordem social em nada justificada pela fisi

ologia, mas aceita cbmo se fosse a própria ordem da Natureza,

sagrada e intocável.

A perspectiva destas sociedades patriarcais poderi

a ser descrita como segue: se a Natureza assim decidiu, a

mulher ficou com a função de mantenedora da especie, com as

tarefas de carregar o filho nas entranhas e alimentar o

be-bê.

Como extensão de sua função de perpetuadora da

espécie, passa a ser responsável pela socialização das crian

-ças. Sua função é tornar a criança um ser social, através de

um processo paulatino de transmissão de valores.

Dentro de um determinado universo social caberia ,

,

ainda, a mulher cumprir o ideal feminino, ser reconhecida so

cialmente pelo casamento e por possuir um lar.

a pessoa que

reúne, e nesse sentido corporifica, as relações que se pro

-cessam no grupo doméstico.

o

homem por ser fisicamente mais forte que a mulh~

ficou com as tarefas que exigiam maior esforço, e ao longo

rn

sua vida não conta com as limitações impostas pela gravidez.

Dessas simples observações vão resultar divisões 00

tarefas que são arbitrárias e não totalmente justificáveis

pela fisiologia. Contudo, essas divisões são vivenciadas

co-,

mo proprias de uma ordem natural. Os argumentos segregacio

-nistas sao, em sua maioria, baseados na natureza.

(23)

vez mais se afastam das justificativas que se referem

à

natu

reza •. N~o obstante, no mundo profissional, por exemplo,

ob-servamos ainda hoje a dicotomia profiss~o masculina x profi~

-sao feminina.

A.' referência' aos argumentos da natureza serve

também para mostrar o descrédito em que as tarefas femininas

foram mantidas na maior parte das vezes: a n~o atribuição de

reconhecimentos, salários, que durante os mesmos períodos ms

tóricos eram atribuídos a tarefas masculinas.

Além disso, as atividades femininas sendo

reconhe-cidas como "trabalho doméstico" recebem conotação de menor

importância, pois esse trabalho não produz bens duráveis,co~

parado com o trabalho masculino, sempre considerado como a

base econômica da sociedade.

Foi durante a antiguidade que observamos o

primei-ro grande descrédito em relaç~o

à

mulher, então uma

produto-ra, produtora de filhos, vestuários e comida. Por quê?

Por-que é a sua natureza, a sua função natural. A mulher é

defi-nida pelas suas funções sociais e estas são defidefi-nidas como

"naturais". Isto acontece até que outras eXigências, como as

batalhas, privem as mulheres das suas funções naturais. Pod~

mos relembrar a afirmaç~o de Plat~o como uma express~o do vi

..

gor do desprezo as "atividades femininas naturais": "Se a Na

tureza n~o tivesse criado as mulheres e os escravos,

*

dado ao tear a propriedade de fiar sozinho" •

,

teria

O trabalho manual, na epoca, era considerado estra

(24)

... ...

nho a essenCla do homem e inferior ao homem. A atividade das

mulheres ~, desde a Antiguidade, uma função e não a expres

-são de uma atividade livre. Tal concepção prolongou-se por

muito tempo, mantendo a mulher afastada da arte, da pol{tica

e da ,filosofia. Durante s~culos, perdurou uma proibição ... a

participação das mulheres às atividades pol{ticas, à forma

-ção de associações, à presença em reunioes organizadas pelos

homens.

,

Para Mota (1980) "o mundo das mulheres e muito

ma-is restrito, restando-lhe somente o universo dom~stico tanto

do trabalho como da cultura em geral" (Mota, 1980, p.32). As

mulheres enquanto seres sociais têm tido seu lugar reduzido

à esfera dom~stica, ficando limitado ou at~ mesmo impedido o

seu acesso à atividade intelectual e à ciência. Sua tarefa

seria então a de colaboradora do homem, construtor da

cultu-ra, assumindo uma postura de espectadora dessa construção,ao

mesmo tempo garantindo uma infra-estrutura dom~stica

favorá-. favorá-. favorá-. "

"

vel a esse trabalho, atenta a tranquilidade da familia, dep~

sito das tensões extradom~sticas, mas economica e

socialmen-te subordinada ao homem, atrav~s dos laços conjugais. O

pre-, - t i A '

dominio desse tipo de relaçao traz como consequencia

vincu-los de dependência, necessitando a mulher da proteção

mascu-lina, já que se trata de um ser frágil e indefeso.

Engels (1978), a propósito da monogamia, assinala

que ela ~ baseada "no predom{nio do homem, sua finalidade e ,

a de procriar filhos cuja paternidade seja indiscut{vel" (E!!

(25)

dos bens paternos esteja assegurada. Observamos com isso que

ao homem fica permitida a liberdade de ação e, inclusive, a

infidelidade conjugal, restando

à

mulher a imposição da

cas-tidade, baseada em motivos econômicos, sociais ou na moral

religiosa.

Em relação ao trabalho, podemos afirmar que a

mu-,

lher nunca foi realmente omissa. Em todas as epocas e luga

-res a mulher sempre participou da produção, contribuindo

pa-ra a subsistência de sua família e na criação da riqueza

so-cial. A mulher trabalhava no campo, tecia,

tágio anterior

à

revolução industrial.

,

fiava, ja num

es-Embora a revolução industrial tenha começado a

le-vantar questões sobre o trabalho feminino, não podemos

dei-xar de assinalar que este processo manteve a mulher

margina-lizada enquanto ser social.

A realização da mulher e relacionada

à

sua vida no

.

'

lar, Ja o homem se realiza naquilo que executa dentro de um

espaço p~blico. Nesse sentido, qualquer atividade que a

mu-, "

lher venha a executar e vista como provisoria ate que se rea

lize o casamento.

Quando a mulher segue mantendo uma atividade

exte-A

rio r ao lar, ela se ve sobrecarregada pela necessidade de

manter a dupla jornada de trabalho: por um lado ela caminha

num sentido da conquista de um espaço "fora de casa" e por

outro se vê presa em uma armadilha, ao ter que conciliar

su-as atividades extradomésticsu-as com su-as tarefsu-as do lar, que con

tinuam sendo de responsabilidade exclusiva da mulher.

(26)

salários. O trabalho feminino é considerado uma atividade me

nor, está confinado às tarefas não qualificadas e é encarado

como um recurso suplementar para elevar os rendimentos da

famllia. Embora a legislação estabeleça igualdade entre os

sexos., no que se refere à remuneração, os salários das mulhe

res, via de regra, são mais baixos que os dos homens. Na rea

lidade, o que existe é uma discriminação salarial que

privi-legia a mão-de-obra masculina. Por outro lado a exploração

rn

força de trabal~o feminina exerce uma pressão para baixo

so-bre os salários reais.

Um dos fatores que colabora para a manutenção

des-te quadro é o pr~prio fato das mulheres não estarem

habitua-das a aç~es maciçamente organizadas, a movimentos coletivos

maiores. Na verdade, elas só conseguiram uma redução na

dis

-paridade salarial, quando organizadas em ocupaçoes nas quais

predominava a mão-de-obra feminina. A mulher, incentivada a

atuar dentro de casa, no isolamento, sem uma tradição de

vi-da pública e mesmo de reivindicação, recusou o sindicalismoe

a ação de massas, acostumada que estava a obter conquistas

através de simpatias pessoais. Sullerot (1970) explicita mui

to bem esta situação ao afirmar:

"Há uma certa maneira de viveG dentro de casa, que diminui a energia, e esta maneira de viver deve ser a da mulher. E la não pode pois perder a suã condição. Dentro de casa

=

mu lher. Dai concluir-se que na~ da de grande pode ser realiza do, nada de grande pode ser feito por uma mulher, etc. " (Sullerot, 1970, p.29).

(27)

pro-cesso de socializaç~D em geral muito colaboram para esta

situaç~o.

Belotti (1975), em seu trabalho sobre o descondici

onamento da mulher, nos mostra que os objetivos sugeridos p~

lo "ideal dom~stico" s~o desde muito cedo mostrados às crian

ças, enquanto v~o discriminando a existência de duas realid~

des: a realidade do menino e a realidade da menina. O

patri-m~nio l~dico que ~ transmitido de uma geraç~o para outra cum

pre essa tarefa. Nos jogos infantis e na maneira como as cri

anças usam os brinquedos fica claro a reproduç~o da

realida-de social em que vivem.

Alves et alii (1981), em recente estudo realizado

sobre a identidade social e sexual da mulher, ao analisar os

jogos infantis, afirmam:

"as brincadeiras dos meninos podem ser vistas como uma conquista do espaço externo ao lar, brincadeiras que se expandem, sem limites: correr atrás de bola~ soltar pipa , perseguir balao, pular muro. Em contrapartida, as brinca -deiras das mulheres s~o sobre tudo uma repetiç~o de suas fü turas tarefas dom~sticas, ali ada à preocupaç~o com o n~õ se sujar, n~o rasgar as rou -pas, ter uma express~o corpo-ral contida, "modos de moci-nha". É interessante observar que ainda quando as brincadei ras das meninas se realizam fu

ra dg espaço dom~stico têm tambem, muitas vezes, seus es paços delimitados:pular corda, brincar de amarelinha, de ro-da" (Alves et alii, 1981, p.

331).

(28)

-gens diferentes: para o menino a açao, a liberdade; para a

menina, a passividade, a monotonia, a repetição.

Podemos, então, afirmar que a libertação feminina,

em seu sentido mais amplo, só poderá ser o resultado de um

longo processo histórico. A resolução desta questão depende

de um intrincado contexto de mudanças estruturais, isto é,da

economia e das relações sociais de produção, pois só a par

-tir do momento em que as tarefas domésticas, a educação das

crianças forem de responsabilidade coletiva, queremos dizer,

de responsabilidade da sociedade; em que a divisão do

traba-lho não tiver como critério a divisão sexual e ainda,

somen-te a partir do momento em que a administração dos a~suntos e

conômicos e políticos for de responsabilidade de todos os se

res humanos, é que homens e mulheres inaugurarão um novo

ti-po de relação, onde não mais terão ti-por base as conveni~ncias

A • • •

economlcas e SOClalS.

o

importante e colocarmos a. questão da

desigualda-de entre os sexos como uma construção social, e nesse

sentido, passível de uma intervenção que nos auxilie na constru

--

,

çao de novos valores: valores que tornem possiveis a

aproxi-mação homem/mulher, num âmbito social mais amplo.

3 - O Referencial Antropológico

Antes de iniciar uma revisao das investigações e

reflexões que a Antropologia tem dedicado ao problema da con

dição feminina, cabe esclarecer alguns pontos preliminares

(29)

ou-tras ciências e suas' relações com a etnologia.

Em verdade, a própria maneira pela qual se define

o objeto da Antropologia tem sofrido

alterações.Etimologica-mente, o termo Antropologia se deriva do grego )1

e

cx'( pW'1\Oç

e . Com referência ao segundo vocábulo, são des

necessárias explicações, já que o sufixo "logia" (como em

Bio-logia, Socio-logia, Psico-logia, etc) ~ de uso não con

-trovertido na comunidade cientifica. "Antropos" ~ vocábulo

que se refere ao ser que pertence

à

esp~cie humana em geral

(sem distin ç ã8 de sexo) em oposiçao

à

( que

designa o homem-macho) e

yvVtt

,

(que designa a mu

lher-fêmea). Basta comparar, com efeito, os vocábulos:

.~;

'A

y

~

f-€'

~

x€.\.

C <;

)AY~fEtOÇ

)AYep~nEl()ç

~

'{

e?U)n:O-E.lb~Ç

=

semelhante a um homem

=

viril, valente

=

humano

=

de forma humana

'(Pereira, I. Dicionário Grego-Português e Português-Grego,Ll

vraria Apostolado da Imprensa, Porto, 4ª edição, 1969)

para que se perceba a maior abrangência do vocábulo

"Antro-pos", o qual encontra sua correspondência na distinção feita

no idioma alemão: MENSCH, MENSCHLICHKEIT (homem, humanidadeh

MANN (ser masculino, varão) WEIB (ser feminino, mulher,

fê-mea) e FRAU (mulher, esposa).,

Desta forma, em seu sentido etimológico, a

Antropo-logia seria a ciência da condição humana e não do homem

en-quanto pertencente a um dos dois sexos biológicos (De

(30)

motiva-ram o abandono desta distinção ling~ística, mas isto já ex

-trapolaria os limites do nosso estudo).

Kluckhohn (1957) assinala que em certo sentido a

antropologia ~ uma área de pesquisa antiga:

"O historiador grego,Herodoto, às vezes denominado 'pai da antropologia" •.. descreveu ... o físico e os costumes dos scitios, egípcios e outros'~r

barosJ Os estudiosos chine

=

ses da dinastia HAN redigiram monografias a respeito da tri bo Hiung-Nu ..• O historiador romano, Tácito, produz seu famoso estudo sobre os germâ-nicos" (Kluckhohn, 1957,p.lO}

Revendo a evolução da antropologia, podemos dizer,

seguindo Kluckhohn, que, com suas raízes na antiguidade,

como já comostracomos, a antropologia passou por diversos estági

-os:

a) Estudos nao sistemáticos realizados a partir do

s~culo XV;

b) Desenvolvimento da antropologia científica no

final do s~culo XVIII e início do s~culo XIX. O autor

supra-citado assinala que os primeiros antrop6logos eram homens de

talento, por~m amadores, interessados nos costumes dos povos

"primitivos", at~ certo ponto, e tamb~m em "discrepâncias"

em assuntos que aos olhos dos pesquisadores de outras areas ,

especializadas eram excessivamente triviais para merecer sua

atenção (por exemplo, variações nos formatos dos crâniOS)

Desta forma, a antropologia era considerada a "ci~ncia daqui

lo que sobrou" (Kluckhohn, 1957, p.ll). Um dos estudos mais

(31)

c) O estabelecimento da antropologia como campo de

estudo apoiado na criação de museus de etnologia e antropol~

gia (Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra), a introdução de

cátedras de antropologia nas universidades (Inglaterra, Esta

dos Unidos);

d) No século XX, a antropologia começou a ser

con-siderada "a ciência das semelhanças e diferenças humanas" (i

bidem, p.lO). Kluckhohn assinala, não sem razão, que a antro

pologia deve ser conside~ada uma ciência que divide o seu

objeto com as ciências f{sicas, biológicas, sociais e com as

humanidades: "A antropologia de nossos tempos, portanto, não

pode pretender ser o estudo completo do homem" (ibidem,p.9).

Realmente, é difIcil dividir e compartimentalizaro

estudo do "homem" ("antropos") em disciplinas cientIficas e~

tanques. Considerar que a antropologia se dedica ao estudo

das "semelhanças e diferenças básicas anat~micas e culturai~

(ibidem, p.221) ou que seu objeto de estudo é representado

pelos "povos primitivos" é excessivamente unilateral. Para

Kluckhohn, o ~nico aspecto, do ponto de vista do conte~do

que diferencia a antropologia, em qualquer de suas

ramifica-ções, é o uso de dados comparativos:

"Somente em tempos mais recentes, sob a influência da an

-tropologia, os psicólogos e

psiquiatras perceberam que os padrões de normalidade,

apli-cados ~ 'natureza humana',sã~

em parte, relativos:época, lo

cal e pessoas" (ibidem,

p:-223) •

(32)

logia, o autor menciona: antropologia flsica, que inclui: p~

leontologia dos primatas, a evolução humana, antropometria ,

somotologia, antropologia racial, antropologia constitucio

-nal; e ~ntropologia cultural, que inclui: arqueologia, etno-grafia, etnologia, folclore, antropologia social, ling~lsti­

ca, cultura e personalidade; além da antropolog~a aplicada.

PeIto (1971) considera que

"A mais ampla e ousada defini-ção de Antropologia diz que e la

o estudo do homem e de suas obras'. E, na verdade,so mente essa definição ampla põ de incluir todos os variados-campos de interesses te~rico~

estudos e ~reas de ensino das pessoas que se intitulam an -t r o p ~ 1 o g os" ( P e 1 to, 1971 , P . 12 ).

Com vistas

à

distinçãJ entre a antropologia,

etno-grafia e etnologia, podemos assinalar que estas duas últimas

pertencem ao âmbito da antropologia cultural, sendo a etno

-grafia "a pura descrição dos h~bitos e costumes de povos

vi-vos" (Kluckhohn, 1957, p.228) e a etnologia o "estudo

compa-rativo de povos do passado e do presente" (ibidem, p.228)

Menção especial cabe

à

Antropologia Filos~fica a qual, como

se depreende do estudo de Cassirer (1972) vincula-se

à

refle

xão filos~fica a respeito da cultura humana: "Parece ser uni

versalmente admitido que a meta mais elevada da indagação fi

los~fica é o conhecimento de si pr~prio" (Cassirer, 1972,. p.

15) •

Comentando a crise no conhecimento do homem sobre

si mesmo, Cassirer (1972), declara: "Tal

é

a estranha

(33)

Scheler assinalou a multiplicidade cada vez maior

das ciências particulares que têm por objetivo o estudo do

homem. para este autor tal situação antes confundiu do que

elucidou nossa concepção do homem.

As considerações acima visam justificar o

subtítu-lo deste capitusubtítu-lo: o referencial antropol6 g ico, em suas dire

-çoes que julgamos relevantes:

a) A pr6pria divisão em referencial bio16

gico,so-, , , "

ciologico, antropologico, historico e psicologico, e, em si,

apenas um recurso didático-estillstico, já que as fronteiras

entre as ciências particulares se tornam cada vez mais

difí-ceis de traçar e a ciência moderna cada vez mais privilegia

as abordagens interdisciplinares;

,.

*

b) Tendo em vista a abrangencia da antropologia ~

trapolaria completamente os limites do nosso estudo rever to

das as investigações, no âmbito desta disciplina pertinentes

ao problema do que

a mulher".

O que constatamos

é

que a literatura antropológica

pouca coisa nos conta sobre a mulher, não fornecendo quase

nenhum instrumento te6rico para a compreensão ou mesmo des

-criçao da cultura a partir da mulher.

Para considerarmos o ponto de vista da Antropologi

*

Gadamer-Vogler (1977), organizadores da coleção "Nova Antro pologia", em 7 volumes, gedicados

à

A~tropologia Biológica~

Social, Cultural, Psicologica e Filosofica, ao descreverem a tarefa de uma "nova antropologia", argumentam que " •.. es

(34)

a, faremos breve referência ao trabalho de Mead (1969), de

-senvolvido na Nova Guin~ no periodo compreendido entre

1931-33.

Sua obra ~ de grande importância, na medida em que

analisa diversas sociedades do ponto de vista cultural, cola

borando no sentido de colocar novas perspectivas para o

pen-samento humano, a respeito da problemática da mulher.

A partir d~ vasto material, coletado empiricamente, Mead (1969) nos mostra que as caracteristicas psicológicasq~

os ocidentais relacionam ~ masculinidade ou feminilidade

e-xistem em sociedades primitivas independentemente do sexo.

Em seu livro "Sexo e Temperamento", a autora

estu-dou três culturas: a dos Arapesh, a dos Mundugumor e a dos

Tchambuli, procurando descobrir em que grau as diferenças psi

cológicas entre os sexos eram inatas e em que medida eram ali

,

turalmente influenciadas. Tambem considerou os mecanismos

e-ducacionais que poderiam estar ligados a estas diferenças.

Entre os Arapesh não encontrou qualquer semelhança

que pudesse ser explicada a partir da consideração de sexo .

As diferenças registradas se deviam aos fatores culturais. A

personalidade ideal, para ambos os sexos, ~ dócil, não agre~

,

siva, colaboradora. O comportamento cordial e maternal e

ca-racteristico não só das mulheres, mas também dos homens, e

só poderá ser compreendido se forem observadas as experiênci

as de infância, transmitidas ~s várias gerações. Mead conclu

iu, então, que os Arapesh padronizavam a personalidade de

(35)

,

da sociedade ocidental, julgariamos como maternal, feminino,

não masculino.

,

Ja entre os Mundugumor a autora constatou que os

padrões de comportamento apresentados são aqueles que,

den-tro da mesma perspectiva, poderiam ser identificados como ~~

culinos, viris. A violência e a agressividade são traços de

personalidade valorizados tanto para o homem como para a

mu-lher, que apresenta comportamentos ativamente masculinos. As

caracter{sticas de docilidade, usualmente concebidas como in

dubitavelmente femininas, não estão presentes entre os Mund~

gumor. A mulher maternal, d6cil e receptiva, assim como o ho

mem paternal, d6cil e receptivo sofrem desprezo social.

..

O terceiro grupo observado foram os pertencentes a

tribo Tchambuli. Esta pequena tribo vive principalmente para

,

a arte. Todo homem se dedica a varias artes: dança, pintura,

escultura, etc. Já o interesse das mulheres pela arte se

li-mita

à

pequena quantidade de pinturas feitas em cestas, tran

.

-çados e

à

dança. A arte, para o homem,

é

o único objetivo im

portante na vida. Ocupam-se da organização das cerimônias

com as flautas, com as máscaras, com a decoração das sepult~

raso Preocupam-se com o seu papel na sociedade, com os enfei

tes que possuem, com seus trajes e sua habilidade em tocar

instrumentos.

Apesar de serem patrilineares na organizaçao

soci-al, na realidade, sao as mulheres que detêm o poder na socie

-dade. Neste grupo sao as mulheres o elemento dominador, diri

,

(36)

trolada pelas mulheres. As mulheres se ocupam com a alimenta

çio e· com o dinheiro, enquanto os homens se dedicam ao

aper-,

feiçoamento artistico.

As mulheres mostram-se ativas, protetoras e em

re-laçio aos homens, as atitudes das mulheres sio de estima e

tolerância. Os homens mostram-se servis e emocionalmente

de-pendentes.

A partir destes fatos verificamos que Mead procura

evidenciar a impossibilidade de aceitar que traços psicol~gi

cos, socialmente gravados em homens e mulheres tenham predi~

posiçoes biol~gicas.

No primeiro grupo examinado vimos que as caracte~~

risticas de cooperação, não-agressão, docilidade são comuns

a homens e mulheres. Entre os Mundugumor encontramos traços

agressivos, não maternais. Comparando estes dois grupos,

ve-rificamos que não há contrastes entre os sexos. Somente

en-tre os Tchambuli é que iremos observar uma diferença, e até

uma inversão dos papéis que na sociedade ocidental são

atribuídos aos sexos. Nesta tribo é a mulher o elemento domina

-dor, organizador e dirigente, e o homem a pessoa dependente.

Os Arapesh e os Mundugumor não estabeleceram atit~

des especificas para um grupo sexual. O esforço cultural foi

dirigido para a criaçao de somente um tipo humano, não consi

derando classe, idade ou sexo.

os Tchambuli consideraram

as diferenças de sexo, embora tenham invertido uma situação

usual nas sociedades ocidentais.

(37)

sibilidade de se vincular os traços psicológicos ao sexo bio

lógico. Os dados acima nos remetem à possibilidade da exis

-tência de um condicionamento social, do impacto da cultura

sobre a criança em crescimento.

As conclusões de Mead abriram novos caminhos, pri~

~

cipalmente ao sublinhar a noçao de relatividade cultural, p~

r~m uma an~lise do ponto de vista exclusivamente cultural e

insuficiente para o entendimento das relações sociais e das

estruturas que as determinam.

Queremos registrar a crítica feita pela

antropólo-ga social Mota (1980), a respeito da própria Antropologia,e~

ta disciplina que, segundo esta autora, tem estudado, descri

to e analisado as culturas humanas a partir da visão masculi

na, como se as experiências masculinas refletissem o todo

cultural. Afirma ser impossível descrever a economia de um

grupo, por exemplo, sem fazer referência às atividades de

subsistência das mulheres tanto quanto a dos homens. Para Mo

ta (1980), impossível tamb~m ~ descrever as características

físicas, sem levar em consideração os traços femininos como

os masculinos.

A autora esclarece que muitos pesquisadores tentam

justificar tal procedimento, argumentando que as mulheresnoo

formam um quadro representativo, seu universo ~ mais

restri-to, menos interessante, não parecendo ter importância para a

vida grupal.

Ao considerar o trabalho de Mead, a autora

(38)

focalizado, discutido e analisado com o objetivo de enfati

-, ,

zar o'equilibrio necessario num sistema onde os dois sexos

precisam cooperar. Isto nao significou que houvesse uma in

-versão no procedimento, ou que as atividades femininas pred~ minassem sobre as masculinas.

Mata conclui sua apresentaç~o, propondo uma "Antr~

pologia da Mulher", uma Antropologia dos seres humanos, e

não do homem centrada no homem. Coloca a necessidade de

res-postas a perguntas como: O que faz a mulher? Por que o faz?

Como faz? Para quem e para que o faz? Quais são as origens

verdadeiras de sua subordinação? Existe subordinação da

mu-lher? Qual o sentido disso tudo? Afinal, quem é a mumu-lher?

preciso ter sempre presente que os seres humanos

- tanto os homens como as mulheres - são co-respons~veis

pe-la construção do mundo em que vivemos.

Mead (1955) retornou ao problema do estudo das

di-ferenças sexuais em sua obra: "Male and remale" (a study of

the sexes in a changing world). Na Introdução, indaga: "Como

é

que homens e mulheres devem pensar a respeito de sua mascu

linidade e feminilidade neste século

XX,

no qual tantas das

,

nossas ideias antigas necessitam ser renovadas?" (Mead,l955,

p.l3).

Entre os questionamentos investigados por Mead,ne~

ta obra, podemos citar:

a) a criança, em desenvolvimento, qualquer que

se-ja a sociedade na qual e criada, se defronta com

(39)

. classifica- em dois grupos, masculino e feminino, ma3 que, na

realidade, apresentam uma ampla gama de variedades tanto no

que se refere ao seu aspecto físico como no relacionamento

com a sua conduta;

~

b) nas sociedades modernas complexas nao existem

expectativas claramente definidas, nem mesmo dentro de deter

~

minados grupos ocupacionais, classes sociais ou regioes ru

-..

rais, quanto a cónduta ideal da mulher e do homem;

c) por mais diferentes que sejam as maneiras pelas

quais as diferentes culturas regulam o desenvolvimento dos

seres humanos, existem regularidades básicas das quais nenhu

ma cultura conhecida jamais conseguiu escapar: a estrutura

,

do proprio corpo; o coito; a gravidez; o parto e a

amamenta-ção - comportamentos que exigem especializaamamenta-ção sexual -; o

fato de que a criança ~ amamentada pela mãe(sig~ificando que

um dos sexos recebe uma visão de um comportamento complexo

,

com uma pessoa do proprio sexo - a menina - ao passo que o

outro recebe esta visão de uma relação cóm uma pessoa do

se-xo oposto - o menino); a atribuição - em função da própria ~

mamentação - do papel essencialmente feminino de cuidados rom

a prole,

à

mulher; o desmame - cujo significado simbólico

distinto para a menina e para o menino (já que a menina

,

e

um

dia poderá repetir esta experiência de maternidade,

concreta-mente, e o menino nunca mais poderá voltar a ela, exceto na

fantasia de que o coito representa a volta ao útero materno);

os hábitos "higiênicos" (urinar e defecar) qUE;3, em certas ci.E,

cunst~ncias, fornecem um pano de fundo para valorizar ou não

(40)

a-natômicas (o menino ~~be que ~ macho; a menina tem que

acei-tar na base da crença que será mulher); o desenvolvimento ~s

terior da criança, que impele o homem para a realizaçio, ao

passo que a mulher ~ encorajada a se ver como futura esposa

e mie (exceto em certas circunstâncias excepcionais);

d) cada cultura - a seu modo - desenvolveu formas

que permitem ao homem sentir-se satisfeito com suas

ativida-des construtivas sem distorcer o seu sentimento assegurado

rn

masculinidade, ao passo que poucas culturas - at~ o presente

momento - deram

à

mulher "um descontentamento divino que exi

ge outras satisfações al~m das derivadas da procriaçio" (ibi

dern, p.126).

A exposiçio acima responde, em parte, a uma das

,

*

criticas feitas ao trabalho anterior de Mead (1969):

"O famoso livro de Margaret Mea::J, "Sex and Temperament inThree Primitive Societies" deu a muitos leitores a impressio de que ela está argumentando que as diferenças temperamen-tais entre homens e mulheres sio completamente produzidas pela cultura"(Kluckhohn,195?, p.15?).

Kluckhohn cita, a respeito, uma ~

recensao do

li-vro de Mead realizada por um colega antrop~logo: "Margaret ,

seu livro ~ brilhante. Mas você conhece, realmente, alguma

cultura onde os homens dia

à

luz os bebês?" (ibidem, p.15?).

Benedict.(l934), ao estudar três culturas

diferen-tes: os índios Zuni do Novo M~xico, os Kwakiutls da ilha de

(41)

Vancouver e dos Dobuz da Melanésia, argumenta que as inter

-pretações culturais do comportamento não necessitam negar q~

um elemento fisio16 g ico também está envolvido:"Assinalar que

as bases biol6 gicas do comportamento cultural do homem são,

em grande parte, irrelevantes, não significa negar o fato de

que estão presentes" (Benedict, 1934, p.217).

A posição desta autora, portanto, é a de privilegi

ar os determinantes hist6ricos por serem "dinâmicos":

"O luto, o casamento ou os ri-tos da puberdade ..• não sao {-tens especiais do comEortame~

to humano •.• mas ocasioes das quais qualquer sociedade pode lançar mão para expressar se-us objetivos culturais impor-tantes" (ibidem, p.225).

Em sua obra "O crisântemo e a espada", . Benedict

(1972) descreve a posição da mulher japonesa da seguinte for

ma:

"Qualquer que seja a idade, a posição de cada um na .hierar-quia depende do fato de ser homem ou mulher. A mulher ja-ponesa caminha atrás do mari-dO,e tem uma posição inferio~

Ate mesmo as mulheres que em certas ocasiões, ao usarem roupas ocidentais,caminham ao seu lado e precedem-no ao pas sar por uma porta, voltam pa~

ra a retaguarda, uma vez en -vergado o quimono. A f~lha de familia japonesa devera proce der da melhor maneira poss{ ~ vel, ao passo que os presen -tes, as atenções e o dinheiro para a educação são para os irmãos. Mesmo quando se criam escolas mais adiantadas para moças, os cursos eram acumula dos de instruções sobre eti ~ queta e movimento corpora~. O

(42)

zes, sendo que o diretor de uma dessas escolas, ao pleite ar para suas estudantes de classe m~dia superior alguma instrução em idiomas europeus, fundamentava a sua recomenda-ção na conveniência das mes-mas saberem recolocar os li-vros de seus maridos de cabe-ça para cima nas estantes, de pois de retirada a poeira " (Benedict, 1972, p.51).

E, mais adiante, acrescenta: "Uma mulher não deve

quéixar-se na hora do parbo e um homem tem de elevar-se

aci-ma da dor e do perigo" (ibidem, p.127).

Em todas as sociedades contemporâneas de que temos

conhecimento, de alguma forma, observa-se o domínio do homem.

A subordinação feminina, mesmo explicitada em graus variados,

é

fato universal na vida das sociedades.

4 - O Referencial Histórico

Para entendermos como a hierarquia entre os sexos

se estabeleceu, ~ importante fazermos referência aos dados

da História. Esclarecemos que não

é

nosso objetivo

analisar-mos minuciosamente tais considerações. As referências aqui

feitas encontram-ffi discutidas e cuidadosamente examinadas na

2ª parte do livro de Beauvoir (1980), que focaliza, na

Fran-ça, os estudos feitos a partir da Idade M~dia.

É difícil ter uma idéia da situação da mulher no

período que precedeu

à

implantação da agricultura. Contudo,

sabemos que executava duros trabalhos e carregava fardos. S~

(43)

-necessitavam que suas maos se conservassem livres para que

pudessem se defender contra os agressores ocasionais, indiv{

duos ou animais.

A mulher não participava das expedições guerreira~

-O guerreiro poe em jogo sua vida para aumentar o prestigio

da horda e do clã a que pertence. O homem arrisca sua vida,

não dá a vida, e arriscando-a é que ele se ergue acima do

a-, ,

-nimal. A mulher e um existente que da a vida e nao arrisca

sua vida: entre ela e o homem nunca houve situação de

comba-te. Assim, na hist~ria da humanidade, a superioridade é ou

-torgada não ao sexo que dá origem e sim ao que mata.

Na horda primitiva a situação da mulher era muito

árdua. Neste periodo, a luta contra um mundo hostil exigia

o máximo de aproveitamento dos recursos da comunidade. A

mulher ficava, então, com a tarefa de uma incessante e desre

-grada reprodução e ainda com os penosos trabalhos domésticos.

Essa situação começa a se transformar a partir do

momento em que o homem se torna agricola, fixando-se ao

so-lo, não se limitando a confrontar-se com as forças hostis da

natureza. A partir dai, a diferenciação sexual reflete-se na

estrutura da sociedade. Nas comunidades agrícolas, a mulhe~

algumas vezes, possui grande prestigio. jal reconhecimento ~

sua origem na import;ncia que a criança assume, uma vez que

os homens se estabelecem em um territ~rio e dele se

apropri-ando sentem despertar em si um anseio de posteridade. A comu

nidade agricola vai anexar o futuro, ao manifestar um inte

-resse profundo por seus descendentes, pois a sobrevivência a

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