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PROCESSO セe@ ESCOLARIZAÇÃO E A QUESTÃO DA :í ; IDENTIDADE DA CRIANÇA DA CLASSE POPULARセ@
Mary Sue ly Souza Barradas>
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PROCESSO DE ESCOLARI ZAÇÃO E A QUESTÃO DA
IDENTIDADE DA CRIANÇA DA CLASSE POPULAR
, Mary SueZy Souza Barradas
/
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..
..
Gdゥウウ・イエ。 ̄セ@submetida como requi
sito parcial para a obtenção
grau de mestre em Educação-.
Rio de Jane i ro
Fundação GctGlio Vargas
Instituto de Estudos Avançados em Educação
ョ」ー。イエセュcGョエHI@ de' Psicolor;ia 、セ@ fdIlC;l(":10
1987
r r
l .
セ@
.'
·
.
À sensibilidade de Antonio
Car-valho de sッオコ。セ@ meu pai e a
Franaina Costa sッオコ。セ@ minha
-
..
AGRADECIMENTOS
,I
J i- Aos meus
ヲセャィッウN@ Rogézo,i"o. FZáv,i'a. Fezonandae
Pedzoopelo mais intenso e mágico contato clom minha histô
ria.
, II
- 1
fraternidade sempre protetora de
セセ「・ョウL@ Liae
HeZon.
meus irmãos.
セiゥ@
I '
- Ao companheirismo de
Mazoia Lúc,ia Mendes.- 1
solidariedade de
HazooZdo CZazo'k."
i -
Ao carinho "de
Vital,.:
,
'/
1 ,
/'
1
determinação ,de
JÚZio.- Ao aconchego de
Lija.- À
receptividade de
GiseZe.- Aos ideais e
à
paz de
Léa Tizoiba.I'
,',
- Aos encontros com
Bia, VaZéria. aョエッセゥッ@e
HeZoisa.À
dignidade e beleza da escuta sensível e amiga de
SoZange Pires.
- À
iluminação do espírito de
Kátia Cursino.- Ao impertinente desejo de se amar de
Tereza Fzoanco.- À
singular disponibilidade de amor de
HeZena.-.
セ@., ... " · ... 1
- À Lúaia Cunha, Ange?a e ·EZoisa pela cumplicidade
mais linda de ideais; o sonho e a ousadia da Esco-la Sementinha.
- À Graça -- pelos dez anos de lealdade, tolérância
e ajuda ine.stimável na reprodução da minha vida e de meus filhos.
- Ã
Maria Lúaia -- pelo afetuoso recebimento ao convite para participar da Banca "Examinadora desta Dissertação.
- Ao Prof. Sahneider pelo saber sobre a Psicologia
que me impulsiona o desejo de conhecê-la mais.
.
.
- Ao Osvaldino Bitenaourt --'pelos contatos
elucida-tivos e extremamente agradáveis na reescrita boni ta de meus rascunhos.
- À Marta Zappa -:-'companhia insubstituível na dura
e linda viagem em busca de mim mesma.
- À Eva Niak -- pelo confiante, ,acolhedor e
inteli-gente encontro que tornou ーッウセ■カ・ャ@ esta dissertação.
- Aos professores que me admiraram
sas marcas
à
minha auto-estima.pelas
,precio-I
,
- Aos que eu muito admirei -- pelo desejo de· querer
alcançá-los, especialmente dセ@ Perailiana, dセ@ Emy,
a
Pref.·Pedro
Quadros, Prof. C022olino e D. Nayde.Ao IESAE -- pelo encontro de idéias que muito me
fizeram crescer.
v
-- Ao Prof.
Moniz de Aragão --pela compreensão e
em-penho na resolução de dificuldades que
enfrentei
nesse período.
- E finalmente, ao alunos desadaptados
sobretudo,
os rebeldes, os il)disciplinadOs -
pela cumplicid!.
de neste tema.
E, a todos que conhecem da dor desse caminho
Em especial,
セァイ。、・ッ@A
GeraLdo Moreira da SiLvaFiel oponente ao domínio de todo poder instituído
p,ela mais fascinante vigília
à
rebeldia:
A DE NÃO DEIXAR CALAR O SUJEITO JAMAIS.
. .
-,
S U M Ã R I .. O
Pago
CAP!TULO 1-. INTRODUÇÃO.: ••••••••••••••••••••••••••• - 01
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS ... - 15
CAPrTULO I I - O PROCESSO DE SOCIALI ZAÇÃO •••••••••••• - 16
NOTAS BIBLIOGRÃFICAS •••••••••••••••••••••••••••••• - 60
CAP!TULOIII _. ESCOLA ... - 61
INTRODUÇÃO ... _ ... - 61 l
ir 1. ASPECTOS C RfT I COS DA ESCOLA POBLI CA NO BRAS IL •• -. 63
NOTAS BIBLIOGRÃFICAS •••••••••••••••••••••••••••••• - 79
CAP!TULO IV - A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO - C6DI GO MO
RAL - MODELO ... '11 . . . ., . . . - 80
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS •••••••••••••••••••••••••••••• - 104
i
CAPITULO V - CONCLUSÃO ••••••••.••••••••••••••••••••• - 105
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS ••••••••.•••••••••••••••••• ' i " - 116
BIBLIOGRAFIA ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• - 117
-R E S U M O
o
homemé
simultaneamente um ser animal e um sersocial. E não somente uma. síntese bio-pSico+rocial. mas tam
bém ideológico-afetiva.
.1
A formação da personalidade nO.rmal _iセ@ patológica
nao esti fundamentalmsnte centrada no indivídtioiiológico,
mas sim em suas relaç5es com o mundo, isto
é}
norelaciona-mento de seu potencial bio-psíquico com o social.
i
セ@ Entre エッセッセ@ os animaisé
o homem aquele que possuirelativamente ao período total de vida, a mais longa : infân
cia e portanto o que atravessa o maior período de 。ーイ・ョ、ゥコセ@
セN@
gem social. Nele, a educabilidade vem sobrepondo-se aos ins
tintos. Na realidade, o homem inicia, ao nascer, um ーイッ」・セ@
so de tomada de consciência mediatizado por sua relação com
os objetos e as pessoas que o cercam, reconstruindo o mun
do e elaborando gradativamente sua ゥ、・ョエゥ、。、セN@
I" I
Nesse processo de conscientização セセ。ョエゥエ。エゥカ。@ e
qualitativa da realidade 6bjetiva e de si próprio, a escola
ocupi um importante papel, não só como um lugar de transmis
I
são 、セL@ conhecimento mas uma agência de socialização de ァイ。セ@
de significado.
Examinar teoricamente a importância desse processo
de escolarização veiculado pela relação do professor com seu
aluno, par:l a elaboração da idcntid:Hlc da criança da
clas-se ーッセオャ。イ@
ê
objetivo desse trabalho.-"
A escola como processo de difusão de cultura influ
'!
encia na v1são de mundo que o aluno tem de si e dos outros,
interferindo em certa medida nas suas próprias atitudes fren
te a vida.
A escola assume um significado mui
toimportante
ヲセ@cionando como ponte entre a identificação da família e o
grupo
social mais amplo.
A discriminação econômica que sofre a criança
da
classe popular'
セ@revivida na relação direta com seu
profes-sor que valoriza a cultura da classe dominante, menospreza
a, cultura popular. criando na criança pobre um sentimento de
ihcapacidade que s6 serve para justificar a dominação.
Na relação professor-aluno a criança revive
seus
cc:>nflitos sociais revestidos de seus conflitos familiares.
Nesse sentido o exame da questão ideol6gica para o
estudo da influência do processo de escolarização na
forma-çao da identidade da criança da classe popular passa também
por uma compreensão dos aspectos afetivos que estruturam a
relação professor-aluno e que lhe servem de suporte.
,R E S U M E
L'Homme est, en me'me ternps qu'un être animal,. un
être social. 11 est une ウセョエィ・ウ・@ non seulement
bio-psycho-logique et sociale, mais aussi idêobio-psycho-logique et セヲヲ・」エゥカ・N@
La formation de la ー・イウッョョ。ャゥエゥセ@ normale ou
patho-logique. n'est pas fondamentalement axêe sur l'individu bio
logique, mais plutôt sur ses relations avec le monde, 」G・ウセ@
à-dire, le rapport entre son potentiel bio-pxychique et le
monde so'cial.
Entre tous les animaux, c'est l'homme qui a,
rela-tivement
â
sa pêriode totale de vie, la plus longue enfance,et parcourt, de ce fait, オョ・セ@ plus longue période
d'appren-tissage social. Chez lui; l'êducabilité se place au-dessus
des des instincts. Ã travers sa relatfon aux objets et aux
personnes que l'entourent, l'homme initie, en réalité,' dês
sa naissance, un processus de prise de iconscience, recons
-truisant le monde et élaborant, graduellement, son identitê.
L'école occupe un rôle important dans ce processus
de conscientisation quantitative et qualitative; ー。セ@
seule-ment comme I i eu de t r .:lnsmi ss i o n de s c onna i ss anc es . mais .:lussi
cornrne agent socialisateur de grande impprtance.
L'objectif de ce travail est d'examiner
thiorique-ment l'importance de ce processus de scolarisation カセィゥ」オャ←@
par 1e rapport c.ntre le profc:-;sellr et son élêve,
l'élaboration de l'identit6 de l'enfant issu dcs
populaires.
X
-visant a
1
L'êcole, comme moyen de diffusiondeila cUlture, a
une influence sur la
カゥウゥセョ@
du mondeセ・@
l'entant acquiertde
ャオゥMュセュ・@
et des
。オエイセウL@
et infltie, dans uJe certaine
me-sure, dansses
。エエゥエセ、・ウ@par
イ。ーセッイエ@ã la vie.
I,
L'école assume une signification
エイセウ@importante par
sa fonction de pont entre
ャGゥ、・ョエゥヲゥセ。エゥッョ@de.la famille et
!
du grohpe social élargi.
i
, I li, ,
La discrimination êconomique subie
ーセイ@l'enfant
セウ@couches populaires est revêcue
、。ョセ@le rapport direct avec
le professeur qui valorise la culture dela classe dominante
.... I' •
au detrlment de la culture populaire, faisant naítre chez
I,1'(
I' enfa!nt pauvre un sentiment d' incapaci tê propice
ã justifier
la domination.
Le rapport professeur-êleve fait revivre lar les
enfants leurs conflits sociaux, sous le couvert de
leurs
conflits familiaux.
Dans cet esprit, I' analyse de la question idêologique,
I
visant
ã l' êtude de I' influence du processus de scolarisation
\,
pour la formation de l' identi tê de l' enfant
ゥセウオ@
des couches
ーッーオャセゥイ・ウL@
passe aussi par la comprehension
des aspects
。ヲヲ・」セゥヲウ@
qui structurent les rapports professeur-êleve, et
i
qui leur servent de support.
,
.
INTRODUÇÃO
CAP!TULO I
"0 outro guarda um segredo.,
o セ・ァイ・、ッ@ do que eu sou".
Jean Paul Sartre
Este trabalho tem por objetivo.propor urna análise
a, respeito da impçrtância do processo de escolarização, ーセ@
イセ@ .' a formação da visão de mundo dos educandos e sua influên
cla no processo de elaboração da identidade.
Interessa-me, particularmente, deter-me ョセ@ questão
das relações interpessoais, mediatizadas pela prática de
ensino, especialmente a relação professor-aluno,
procuran-do examinar o problema da transQissão de ゥ、セゥ。ウ@ e valores
que condicionam concepções de mundo determinadas.
E
certo que uma das ra=5es que me leva セ@necessi-dade de intensificar meus estudos, de discutir mair
siste-matizadamente esta questão, foi a elaboração da minha dis
sertação como requisito parcial para a obtenção do grau de
mestre. Em contrapartida, nao quero de" forma nenhuma 、・ウセ@
considerar o peso da minha formação acadêmica de psicóloga,
que me colocou em contato com toda uma literatura
especia-lizaua e 4ue muito me estimulou a investigar o problema das
relações interpessoais no 、セュイョゥッ@ da educaç5o. Ainda
,.
2
tentadorà sugestão do tema em que.stão. O motivo que impu!.
,!
siona todo' este trabalho é a importância que sempre dei
a-escola, quando passei por ela enquanto aluna e o valor que
hoje atribuo a ela quando pe'rcebo que as classes exploradas
ainda continuam dando' tanta importância a essa escola, ape
sar de seletiva, que a cada ano exclui a maioria ,através
daévasio e repetEncia.
Neste sentido. relatar a minha experiEncia e
fa-lar um pouco de mim. é fafa-lar·de cada criança que passa boa
parte de seu tempo tentando encontrar na escola um caminho
phssível de superar suas dificuldades de vida, de ascender
S!Ocialmente e·de obter melhor 'emprego.
セセ@
Filha de operário e mãe lavadeira, fui criada sob
o mito liberal de que a escola era o único meio que a crian
I
-ça pobre tinha para deixar de ser pobre. Durante muito tem
po assim entendi a escola: um lugar onde as pessoas
eram
tratadas democraticamente, em que havia igualdade de
opor-tiunidade para qualquer pessoa, se assim o desej asse e sua
capacidade lhe permitisse. Uma instituição de ensino
aci-ma das classes, importante fator de mudança
ウッ」ゥ。ャセ@através
da escola a sociedade seria cad:l vez mais igualitária
('
mais justa.
Com esta a ti tude excess i vament'e otimista. o mito
do progresso me acompanhou até por volta de
1976.quando
graduada em psicologia, o mercado de trabalho escasso,
ーイゥセ@cipalm..:nt:c
ーセャャG。@o psicólogo, obrigava-mc a reflctir sobre
a relação entre escola e mundo do trabalho.
,.
3
rado meu progresso social? A realidade era outra. O duro
'!
fato do desemprego me fez, mais adiante, levantar a questão
da relação entre escola, trabalho e conjuntura
ウッ」ゥセャセ@Na verdade, a política governamental privilegiava
a tecnocracia em detrimento das ciências s'ociais e humanas.
De fato, os profissionais de saúde e educação não
interes-savam ao ,modelo econSmicodeconcentração
、セ@renda, posto
que não
é
da lógica do capital, acumular, concentrar' para
recompensar o povo em serviços sociais e melhores condições
de saúde e ensino, mas continuar acumulando até onde
セ@con
ttadições e as correlações de forças o permitam. Nessa me
、セ、。L@
nao só os psicólogos, mas os cientistas sociais :são,em
!"r
geral excluídos do mercado de trabalho somando-se a uma lar
ga fatia populacional que nao consegue se inserir no siste
ma produtivo, engrossando o rol dos desempregados, quando
nao subempregados.
Este fen6meno hoje
。「イセョァ・@tamb€m graduados
nas
ゥセ・。ウ@
tecnol6gicas face ao modelo
・」ッョVセゥ」ッ@de uma
ウッ」ゥ・、セ@de perif€rica, na medida em que toda tecnologia vem
impor-tada, não permitindo o
、・ウ・ョカッャ|Gセュ・ョエッ@da ci€ncia
pura caplicada.
"Na rea Z,idade,é o process o de acurmA.l,ação
do capitaZ que cria (e se apropria) a
força 'de trabaZho de que necessita para produzire se reproduzir e gera a
popu-z。セッL@ excludente". 1
Sigardo, quando discute a questão do menor
,.
4
ja ele mesmo", e nao pela ideologia. que inclulca para que
ele seja de determinado estilo.
Einbora, tão de .pass agem aqui faço estas considera
çoes, penso ser fundamental examinar esta visio e discutir
mais intensamente durante o 'trabalho as rela'ções reais
en-tre escola e organização do processo produtivo.
Na realidade, comecei a ficar.preocupada com este
problema entre escola, consciência de classe e consciência
de si, por volta de 1980, a partir de experiências em esco
las públicas de áreas economicamente desfavorecidas. i
セ@ , Questões como esta co.meçaram a me interessar de
セ[@
perto:e foram frutos de reflexões que me surgiram por
vol-ta dessa época, quando trabalhando como professora de
In-glês, no município de Caxias, fui convidada a integrar co
mo Psicóloga a equipe do SOE, no Departamento de Educação e
Cultura, ao mesmo tempo que, também como psicóloga
começa-v;a a trabalhar numa escola experimental da rede particular
com o principal objetivo de montar: junto
à
orientaçãope-dagógica, urna proposta educaciol'-ll inspirada em Piaget, a
ser implantada no pré-primarlo e na primeira fase do
prl-meiro grau.
Assim, na medida em que ia vivendo estas duas ex
periências comecei a me incomodar com,o resultado dotraba
lho que desenvolvia nessas duas instituições.
o
que existia de diferente entre a escolalhar com propostas diferentes? jNHセヲャ・ᄋエゥ。L@ pois, sobre as
ゥューャゥ」。・セ@
desta minha idagação e concluía, tempos depois,que ao trabalhar com propostas diferentes só estaria
acir-rando as desigualdades mais cedo, na medida em que esta di
ferença reside no fato de oferecer às crianças das classes
populares um programa mais fraco, carga horária reduzida e
uma avaliação frouxa e descomprometida das reais
potencia-lidades destas crianças, porque à priori são· consideradas
emocionalmente frágeis e intelectualmente inferiores.
Estava certa de que todos, prit:lcipalmente os alu
nbs da classe popular, deveriam conseguir se apoderar do
ウセ「・イ@ veiculado pela escola.
セL@
E o que deveria mudar então?
Na verdade, os objetivos propostos nao eram alcan
çados.
Por que a ineficicia 、セ@ proposta recaía justo
so-qre
os alunos mais pobres?Qual o sentido polític: desse aspecto que
aparc-cia como apenas t€cnico?
Embora fosse difícil localizar nessas ゥョアオゥ・エSセウ@
o que havia de t50 distante ・ョエセ・@ n5s, os educadores e os
alunos; o queeti nio 。、ュセエゥ。@ era カ↑Mャッセ@ como os
professo-res os avaliavam: pessoas incompetentes, sem cultura, as
vezes desculpadas do fracasso escolar por suas
circunstân-cias de vida. Negaya-me sempre a essa concepção
discrimi-... セZ[←ᄋᄋGNョ。、¢イ。@ e elitista de educação e me relembrava sempre do meu
6
o
desejo de chegar até esses alunos me fez refletir sobre o saber que eu pensava que detinha sobre eles.
Passei a fazer um trabalho meramente de observação e
'escu-ta.Assim foi que aprendi mais uma lição: os sujeitos 50
bre O's quais o saber acadêmico de psicólogo discursava nao
eram as crianças com que eu me defrontava no município.
Aí.
então. abri espaço para novas reflexões: a relação entre
o saber escolar e as classes sociais e a possibilidade de
um ・セー。ッN、ゥウーッョ■カ・ャ@ na escola para atender às classes ーセ@
pulares. E, até que ponto além da educação que estava sen
do ministrada não só, não alcançava os alunos da classe po
pular mas poderia estar invadindo, sufocando com seus con
teúdos e valores a esteriorização e o fortalecimento da
cul tura dessas crianças, a s,ua manei ra de ser no mundo. Ies
se modo, impossibilitados' de' se expressarem, submetiam-se a
crenças e valores da classe dominan te. '
Interessei-me, então por examinar o quanto
,
、セ@ destrutivo esta ・、オ」。セッ@ se constituía e 4uais
is
formas deresist€ncia dos alunos para preservarem sua cultura, seus
valores e, no limite, preservarem-se.
Até que ponto a escola neste processo de àifusão
da 」オャエセイ。@ dos grupos dominantes e de inibição das manifes
tações próprias da cultura dos grupos considerados. inferia
res, compromete a visão que o aluno tem de si 'e dos outros?
Esta escola, avessa
ã
maneira de pensar, agir eser dessas crianças, constituem-nas; então, como
incompe-tentes. Qual o significado que essa avaliação negativa de
7
em geral?
Assim entendida, a escola nao
é
apenas umainsti-tuição de ensino, como ingênua e idealisticamente eu
acre-ditava. Possui um currículo dissimulado muito mais impor
tante do que aquele que apregoa. Mas, qu"al o aparecer エ←セ@
nico dessa'inculcação ideológica que os produz como margi
nalizados da experiência do conhecimento? Quais sao os
me-canismos internos que a escola usa para cumprir essa ideo
logiz.ação, marginalização, exclusão? Quais os ,momentos ーセ@
dagôgicos em que fica declarada essa desvalorização da cul
tura das classes populares e de que forma ela se dá? Que
relação o professor estabelece com o aluno nesse processo
de ensino?
Diante destas indagações muito pouco
sistematiza-das, chego a esboçar um objeto de análise, e agora creio es ,
-tar intensamente comprometida com ele: como as pessoas
en-volvidas nesse funcionamento de ensino/se comportam e qual
I
a import5ncia das atitudes desses persOnagens em イ」ャ。セッ@ ao
modo como 」。、セ@ um ー・イ」・「・イセ@ o mundo.
Certa de que mui tas das indagações que se seguiram
,
sao fruto da minha passagem pela escola, o'que me interessa
evidenciar neste momento
é
a possibilidade do conhecimentoacumulado na セウ」ッャ。@ contribuir no ーイッ」セウウッ@ de formação de
uma consciência crítica. Assim considerada, a escola nao
somente se comporta como um momento da estrutura social,
que apenas reproduz essa mesma est rutura, 'mas t<lmbêm corno
parte do movimento contraditório nela existente. O que se
alie-8
naçao pode contribuir para uma reflexão mais sistemática nao
só dos nossos atos mas da sociedade em que vivemos.
Este tipo de análise nos remete ao reconhecimento
do .caráter contraditório da prática pedagógica. Trata-se
portanto de identificar a contradição interna a toda ーイ£エセ@
ca educativa que a faz contribuir tanto para a formação do'
produto intencionado quanto do seu contrário. A
contradi-ção é destruidora, mas também criadora, já que se obriga
à
superaçao. Nesse sentido é que podemos afirmar que o homem
e as relações que mantém com os outros homens anunciam sem
pre a ーッウウゥセゥャゥ、。、・@ de um novo.
Reconhecendo deste modo, a importância da ・クー・イゥ↑セ@
cia escolar não apenas como ação dirigida para o
desenvol-vimento da inteligência, ma5 também como um processo de so
cialização significativo que implica en;t mudança de valores,
atitudes e imagens, volto a me indagar sobre o significado
social e político das atitudes, dos métodos e do coniefido ,
- I
daquilo que e ensinado na escola para o destino social de
cada um.
\esta perspectiva, entender a ・、オ」。セッ@ comb
ele-mento mediador entre o indivíduo e a sociedade é ーッセエッ@
.
de,
partida para a compreensão e análise da prática educativa,,,
em especial da natureza das relações interpessoais
estabe-lecidas com a criança no interior dessa instituição.
Reco-nhecer a especificidade da experiência escolar como ponto
de passagL'lIl cntrc :1 idclltifica-,;::1ü da famlli:l e :.1
idcnti'fi-cação mais ampla do grúpo social externo assume importância
decisiva para a anál.ise do fenômeno educativo veiculado a
'.
'-'''\' "0..-1" •. ,.
16gica da totalidade do social. Enfatizar a escola çomo
uma das mediações pelas quais se dá a inserção do aluno num
destino ou classe socialmente determinada
é
também entendêla ゥセエ・ァイ。、。@ a uma estratégia unida
i
realidade do ュセ、ッ@ deprodução capitalista em que vivemos. Logo, em certa
medi-da a escola
é
parte do projeto político da classe dominan'te e necessariamente expressa sua ideologia. Não faz
sen-tido, pois, isolar o que acontece na escola da realidade so
cial. Mas também é demasiado simplista vê-la como mero イセ@
flexo 、・ウセ。@ realidade. A educação não s6 manifesta a tota
lidade mas participa de sua produção. Logo, dar ênfase ao
caráter mediador da educação é considerá-la como unidade
dialética; como um processo que articula as necessidades do
homem no contexto objetivo qe sua situação
hist6rico-soci-aI. Há, portanto, no processo educativo uma interação dia
lética entre o indivíduo e a ウッ」ゥ・、。、・セ@
Partindo da premissa gramsciana de que nenhuci
ho-I
mem nasce humano mas que a humanidade セ。ウ」・@ na contfnua ex
teriorização em contato com os outros, de que .forma o 」。イセ@
ter alienador da escola
ゥョヲャオセョ」ゥ。@
na'naturc:a dasセ・ャ。セウ@
interpessoais que o aluno da classe セッーオャ。イ@ estahelcce nos
diversos momentos de sua \'ida em geral? De que forma o
processo escolar, tentando impedir a pqssibilidade de exte
riorização das formações sócio-culturais dos filhos das
classes trabalhadoras influencia na 」ッョウエイセ ̄ッ@ da sua iden
tidade como produtor e produto da atividade humana?
Alguém que se vê rejeitado em sua linguagem, em
,.
10
diminuído, como inferior, visto que a imagem que os outros
têm da gente,
ê
fundamental na formação da auto-imagem.Como poderá reconhecer-se nos outros e reconhecer
se a si próprios nesse processo de marginalizados culturais,
distantes dos outros e distantes de si mesmos?
Neste sentido,' convém lembrar Navarro (1982), ci
tando Hegel que afirma que o animal
ê
sentimento de si,nãoconsciência de si,
o
seu desejo nao vai além do seu corpo,ê
um mero desejo de conservação que ele satisfaz no seu ambiente natural necessário e nao implica' em um desejo de re
conhecimento. p。セ。@ o homem o desejo implica numa
plurali-dade de desejos de outras consciências de si. A realiplurali-dade
humana é uma realidade social. Desejar o desejo do outro
ê
desejar que o valor que eu sou, ou que eu represento, ウセ@ja o valor desejado por esse outro. fio desejo de イ・」ッョィセ@
cimento que çoloca o homem na intersubjetividade, no
tem-po, na ィゥウエイゥセN@
Assim e que o desprezo inconféssa'do da ・ウ」ッャセ@ fren
te as 」イゥセョ。ウ@ da 」ャセウウ・@ popular deve contribuir ウゥァョゥNヲゥ」セ@
tivamente na formação de uma auto-imagem negativa.
,
Sabemos que o mecanismo fundamental que leva avan
te a socialização consiste num processo de interação e iden
tificação com os outros. Um passo decisivo
ê
dado nomo-mento em que a criança aprende'na expressão de Mead, a to
mar as atitudes do outro. Isso significa que a criança não
só aprende a' reconhecer certa atitude em outra pessoa e a
compreender SCII sentido, mas エセャュィ←ュZャーイ」ョ、」@ rt tom:Í-la ela
mesma.
E
no ーイッ」・セウッ@ de' ゥョエ・イ。セッ@ e ゥ、・ョエゥヲゥ」。セッ@ que o,
.
"
11
sentido das atitudes
セ@absorvido pela criança. O que a
・セ@cola transmite
à
criança não e apenas uma
des, mas sim um padrão
ァ・イ。セ@de conduta.
sé1ie de
A
セイゥ。ョ。@
atitu-
apren-de não só a tomar
。セゥエオ、・ウ@específicas mas a assumir
res-pectivos papéis. Ainda segundo Mead, além da aprendizagem
generalizada, realizada através do ato de desempenhar
I I
péis, lesse mesmo processo pode transmitir
sゥセセゥヲゥ」。、ッウ@ciais ,verdadeiros. Ve-se, pois, que a
ウッ」ゥ。セゥコ。 ̄ッ@se
I
pa-so
rea
lizanuma contínua interação com os outros .. Mas, nem todos
os outros com quem a criança se defronta assumem a
mesma
ゥューッイエセョ」ゥ。@
nesse processo. Alguns deles evidentemente ocu
j,
pam
オセ。@posição de relevo. O autor designou os grandes
ーイセ@1
tagonistas do drama da socialização como os outros
ウゥァョゥヲセ@cativos.
Embora sejam os psicólogos os responsiveis por to
da uma li teratura especializada· a respeito da formação do
eu num mundo de relações interpessoais, cujos iniciadores
na
」ゥセョ」ゥ。@foram Freud. Simil c' LeKin,
ッオエイッセL@ 」ゥ・ョエゥウエセ@so
: , I',
ciais trazem contribuiçõ.cs significativas
ー。ャAセ@a tent:lti\-a
de
・クーセゥ」。イ@o incli\'íduo
:1partir d:15
Sllasrelações com os
outrqs.
/
j
Gramsci, por exemplo, nega a existênci:l Jc
unwna
エオイ・コセ@
i
priori da criança que nao seja a gen€rica
nature-za humana, susceptível de todos os desenvolvimentos.
furres
mo modo que Marx, Gramsci sublinhava que a chamada
nature-za individual
é tamhém ela um produto da história.
I' "A 」ッョウ」ゥセョ」ゥ。@ da 」セゥ。ョイ。@ nao セ@ algo セョᆳ
、セゥカゥjオ。ャ@ e muito menos individualizado,
セ@ セB@ '-",," .... /
,
12
é o reflexo da ヲイ。セ ̄ッ@ da sociedade
ci-vil em que ー。イエゥ」ゥー。セ@ das イ・ャ。セ・ウ@
so-ciais que se adicionam
à
ヲ。ュエャゥ。セ@à
viコゥョィ。ョセ。セ@
à
ーセカッ。セ ̄ッBNR@Por conseguinte,
à
formação do eu deve também sercompreendida em relação nao sô com o contínuo
desenvo1vi-mento orgânico, mas com o processo social no qual o ambien
te natural e o ambiente humano são mediatizados pelos
ou-tros significativos como afirma Mead.
Neste trabalho quero privilegiar a figura do pro
fessor como um outro significativo na vida das pessoas.
"Do ponto de vis ta formal das re ャ。セ・ウ@ in
terpessoais a イ・ャ。セ ̄ッ@ professoz-aluno não
。ーイ・ウ・ョエセ@ novidade e pode ser até uma
イ・ャ。セ ̄ッ@ fracamente estruturada e de
pe-quena ウゥァョゥヲゥ」。セ ̄ッN@ : A sua importância
reside no fato de o ーイッヲ・ウウッイセ@ 、セョエイッ@
da s a la de au ャ。セ@ atuar como o transmissor
de padrões de 」オャエオセ。L@ e ser o responsá
vel pela 。カ。ャゥ。セ ̄ッ@ de algumas qualidades
sociais muito importantes para
no". 3
o alu
Em alguns aspectos básicos da vida social,la auto ,
•
avaliação
é
fornecida pela escola. E neste processo de ー・セ@cepção e avaliação das qualidades pessoais, a relação , ーイセ@
.... セ@...
fessor-aluno assume uma importância 、・」セウゥカ。N@ . :';
..
Considerando, pois, que o processo de
discrimina-çao que sofrem as crianças da classe popular, reproduzido
no interior das escolas pode contribuirnégativamentê para
enquan-,.
13
to セウゥ」ャッァ。G@ quero verificar as suas 'conseqUências para a
formação da personalidade dessas crianças.
Dessa forma:,
é
.l>'Toposta fundamental deste estudoinvestigar a questão da fprmação da identidade da criança
. .
da classe popular que' セ・、・ウ・ョカッャカ・@ no intercâmbio social
focalizando o longo treino-da atividade escolar.
A fim de atingir este objetivo, duas necessidades
se ゥュー・セZ@ a primeira, diz respeito
ã
busca de umreferen-cial teórico na sociologia e na economia da educação 00 for
ma a esclarecer O nexo educação-sociedade, com a
finalida-!i
de
,
de examinar como a escola, subordinadaã
lógicafunda-mental do capitalismo alia-se ao processo de manter excluí I
dos os filhos dos trabalhadores de toda participação no ァセ@
zo e no consumo dos bens materiais e intelectuais, \ forj a!!.
do uma imagem de homem que interessa
ã
classe dominante,oucomo disse Sigardo, impedindo que o trabalhador seja ele
mesmo; a segunda refere-se a utilizar a contribuição de aI
i
guns teóricos da Psicologia do desenvolvimento e da
apren-セゥコ。ァ・ュ@ social na tentativa de encaminhar a discussão
sú-「セ・@ a significação do processo educativo para o 、・セ・ョカッャカゥ@
I
-mento do eu dentro de um sitema de relações ゥョエ・イー・ウセッ。ゥウN@
Além disso queremos sublinhar em todo esse
traba-lho um ponto de vista que se concretiza em três ーイ・ュセウウ。ウZ@
a) a historicidade do indivíduo como autoconsciên
cia,. isto
é
uma anterioridade histórica daso-ciedadc sobre a pessoa individual;
b) a formulação de hipótese psicossocial acerca セ@
indivíduo autoconsciente a
relações sociais, portanto
duo Grupo é fal$a;
,.
. 14 Zセ@
, I
partir' da matriz
dasa diciFomia
Indiví-,
c) afirmar que a
ヲオョセ ̄ッ@essencial na formação do
eu se di atrav;s de
ゥ、・ョエゥヲゥ」。・セ@com pessoas
significativas e a internaJ.ização
tdo sócio-cu1
tura1, através da.aquisição da 1irguagem
que
preexi.s te ao indivíduo como código
produz,ido
!
historicamente pela sociedade, mas - - que'·' ele
aprende na sua relação específica éom:outros
i
indivíduos.
I;
,i
-I
Atraves desses três pontos, a superaçao da antino
mia en'tre indivíduo e ·sociedade dá lugar a uma série de in
I
-vestigações teóricas que possibilitem a integração do indi
víduo inserido na realidade social, e é justamente sobre o
caráter histórico-social da noção de pessoa de maneira ne
nhuma dissociada de uma dimensão psicológica igualmente es
trut:urante dessa internalização que pauta a
セイッーッウエ。@desse
trabalho.
I;
•
J
I,.
15
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
lSIGARDO, Ange1 Pino.
Uma pedagogia para o menor margina
1izado.
Educação&
Soqiedade.são Paulo, 2(5) :47-61,
jan./1980.
2MANACORDA, Maria Aliguiero. -
Marx e a pedagogia moderna.Lisboa, Editora Ruineti, 1975, p. 187
3
LEITE, ,Dante Moreira. - Educação e relações interpessoais.
In: Patto, Maria Helena Souza.
Introduçãoã
PsicologiaEscolar.
São Paulo, T.A.Queiroz Editora, 1981,
p.,.
16
CAPITULO I I ·1
,
O PROCESSO DE SOCIALI ZAÇÃO
,
,II
"Os indv-íduos fazem-se uns aos outros. "
Karl Marx
Friedrich Engels
1'/1 , I , ,
Todo indivíduo nasce em uma estrutura social
ッ「ェセ@tiva e com uma estrutura orgânica heredo-constituciona1
de-te rmin"ada .
i: i!
,I
I
Remeter a esta constatação e o primeiro passo
na
busca de um referencial te6rico que supere o ,seudo
antag6-nico dualismo entre indivíduo e sociedade, oposição
falsa
que originou os graves erros do psicologismo e do
sociolo-gismo.
Sem negar o denso e rico processo te6rico-metodo16
t'
gico
Zセエイ。カウ@do qual grandes autores
ー・イ」ッイイ・ゥセュL@empenha-dos na superaçao dessa antinomia, persiste, tJ'claVia, em
di-versos estudos a dificuldade de estudar o comportamento hu
,
mano e,m interação social num tempo e espaço
sócio-político-i
econômico determinado.
Não se pode estudar o homem isolado de seu ambien
te social e cultural, mas é grave tamb€m subestimar a manei
ra como cada um indivíduo singular internaliza esses
deter-mintes sócio-culturais.
17
çoes, momentos de expressa0 da história dos homens.
o
meio humano é sempre sócio-cultural, mas, a sociedade no sentido dinimico e vivo, existe em funçio dos
indi-víduos.
Nesse sentido pautaremos nosso estudo por um enfo-"
que psicossocial que entende o homem como um ser situado,
da
tado e marcado pelas condições de seu ambiente particular mas
ao mesmo tempo inconcluso, criador e transformador do pro-
..
prio mundo.
"O primeiro pressup6stode toda hist5ria
humana i naturalmente a exlstinaia de in
divtduos humanos vivos.·;,1
Diferente dos outros animais o homem produz seus
meios de vida, produzindo indiretamente sua vida material.
São os homens nao só produtores de sua vida materi
aI, mas também, de suas representaç6es. de suas ゥ、セゥ。ウZ@ de
sua maneira de ser no mundo.. E a maneira como cada um se
I
cria e se representa é o resultado das múltiplas
determina-çoes,de セオ。@ época.
o
indivíduo não nasce membro da sociedade, afirmaBerger (1977).
t
através da interaçio e comunicação com osoutros que conquistamos a própria individualidade. Ao
pro-.
.
cesso pelo qual o indivíduo aprende a ser membro da socieda
.de chamamos de socialização. Na verdade, o indivíduo é tão
somente a síntese d3s relaç6es presentes e passadas visto
num movimento din5mico de ヲッイュ。セッ@ e transformaç50 de si e
dos outros.
in·terre-".
18
lacionamento do indivíduo com seu meio, chega de certa for
ma a interferir na fisiologia de seu.organismo. Dessa
ma-neiraaté mesmo importantes desenvolvimentos orgânicos que.
no animal se completam no corpo da mãe, efetuam-se no lactep
te humano depois de se separar do útero.
o
homem nao pode sequer sobrevi ver sem a atenção continuada dos maiores. Os seres humanos desenvolvem suas apti
dões セ@ seus sentimentos, sua capacidade de comunicação.
lin-gUística, seu pensamento, sua capacidade de desempenhar di
versos papéis sociais não por maturidade. biológica mas no
curso da interaçãq social.
E
uma verdadeira metamorfose que sofre o homem donascimento
i
vida adulta. De um .animal totalmente indefesotorna-se uma pessoa mais ou セ・ョッウ@ independente que persegue
a realização de certos valores em um ambiente simbólico.
I
Dentro de um desenvolvimento normal e sadio, todos
os adultos serão capazes de sair do esthdo 'impulsivo e
re-I
flexo por ocasião de seu nascimento e tornar-se uma pessoa
madura, çapaz de antecipar as reaçoes de seus ウ・ュ・ャセ。ョエ・ウ@ , c
-
. \de controlar suas proprlas atividades de acordo comas
ex-pectativas que os atribui.
A socialização € o processo atrav€s do qual os re
cém-chegad05 aprendem a participar eficazmente dos grupos 50
ciais. Embora seja um processo contínuo e que se prolonga
durante toda a vida, a maioria dos estudos sobre
socializa-ção se concentram na ゥョヲセョ」ゥ。@ por ser este ァセョ・イッ@
,
セ@
.
, ... \.;.' :;..,._ セ@.. ... i·
19
Os seres humanos se acham equipados com numerosos
reflexos que lhes permitem conservar a vida em diversas con
dições. Os processos カ・ァ・エ。エゥカッセ@ tais como a digestio, a
absorçio, a respiraçio e a circulação são automáticos e nor
malmente nio requerem atenção nem aprendizagem. Porém
to-dos os demais aspectos da conduta humana são aprendito-dos.
Há muitas teorias da aprendizagem, talvez a mais
complicada seja a de Clark Hull, baseada em grande medida
em.uma série de experimentos levados a termo com ratos. Ape
sar de sua pesquisa estar voltada, em grande parte, para o
comportamento de セ。エッウ@ em situações experimentais, ele for
malizou urna interpretação de comportamento, que era
aplicá-vel ao comportamento geral. Na realidade, foi o professor
Clark L.Hull, da Universidade de Yale uma das principais fi.
guras, no desenvolvimento da teoria E-R. Entre seus
discí-pulos e colaboradores, um grupo dediccu-se
i
compreensão dodesenvolvimento da criança. Nesse grupo estão I
o.
H. mセキ・イL@I
Robert R. Sears, Neal Miller, John Dollard e outros, queten
taram construir uma teoria do desenvolvimento da criança ten
do por base a teoria E-R e'a teoria psicanalítica. aーイ・ウ・セ@
tada na linguagem E-R, suas teorias dependem de ap'rendiza
.
-gem, e do イ・セッイッ@ como princípios explicativos, mas muitas
das suas hipót,eses sao inspiradas pelos. trabalhos de Freud.
Essa interpretação tem sido denominada teoria da
aprendiza-gem soei aI.
As vezes se diz que a teoria de aprendizagem
so-cial é uma tradução da' teoria freudiana para a terininologia
,.
20
,I
tamente disso. Indicam,que muitas das
ウオーッウゥセ・ウ@
fundamen-tais de Freud não são acei'tas, reformu1adas oLセ@ sequer subs
tituídas na teoria de aprendizagem social.
nU
forma algumaa teoria psicanalíti.ca do desenvolvimento psicossocial
é
エイセ@tada além de se ignorar todo o problema do ゥョセッョウ」ゥ・ョエ・@ e
dos impulsos, instinti vos bás icos; pois segundo esses autores
não エ↑セ@ conseqUências verificáveis. 'I
! I:
O que os autores da teoria da aprend:izagem social
I
fizeram foi escrever uma teoria da aprendizagem social e so
cia1ização da criança. inspirada em certas hip6tese ヲイ・オ、ゥセ@
nas, セ。ウ@ que coloca as explicações sociais e a justificação
"
- I;
エ・ッイゥエセ@ dessas hip6tese no esquema
E-R.
A
teoria da aprendizagem social comeFou comoteoria
E-R
inspirada pela psicanálise, e que procuravauma
ex-plicar o desenvolvimento da personalidade e das イ・ャ。セ・ウ@ so
ciais da criança. No entanto os resultados da pesquisa em
pírica levaram
à
revisão da teoria e apresentaram problemasque não estão enraizados na psicanálise. Na verdade, ,', 。Qセウ@
: I
te6ricos recentes da aprendtzagem social, 」ッュセ@ Bandura e
Walters, parecem acreditar, segundo Baldwin (1973), que a
inspiração psicanalítica provocou 」ッョ」・ーセ・ウ@ erradas. Essa
ー・ウアオセウ。@ levou tamb6m a divergências entre diferentes te6ri
cos da aprendizagem social, na medida ef!l que tentaram va-
..
rias hipóteses .para explicar os dados empíricos referentes ao
desenvolvimento da criança.
Com o intento generalizado de aplicar seus
concei-tos i,prendizagem humana, os psic6logos não estão, de modo'
,
21
,I
Parece inquestionável que um grande
númerode
diretrizes motoras se
。ーイ・ョ、。セ@
do modo descrito
ーセイ@
Hull,
tem-se questionado se a formaçio dos atributoU que se
mas
consi
deram peculiarmente .humano.s pode explicar-se nestes termos.
i, '
Ir
comum a crença de que o pensamento' !consiste
em
uma acumulação gradual de pequenos
ゥョ」イ・ュ・ョエッセN@Novas
for-mas de \ conduta vem se constituindo
ã
medida Q'1e o organismo
se adapta aos requerimentos da situação e se considera
en-tão que se tenha acrescentado um novo hábito ao repertório
anteriormente aprendido. Não obstante, talvez, seja
mais
frutífero não conceber a socialização como uma série de
。ェセ@I:
tes
ウ・GLセ。イ。、ッウ@mas com um proce ss o de desenvo I vimen to qlE co!!.
,
tinua ao longo de toda a vida do indivíduo. A aquisição de
I
í
uma nova habilidade é algo mais que a adiçio de um
elemen-to, implica em uma reorganização de todo o organismo. O êxi
to que se alcança em qualquer situação particular é uma
fa-se do defa-senvolvimento contínuo de orientações novas e unifi
cada.
i',',
Na medida em que tanto o organismo
」セュッ@seu ambien
te estão cm contínua mudariça, scmpre h5 em curso algum tipo
de
エイ ̄ョウヲッイュ。セッN@ セ ̄ッ@obstante, ocorrem mudanças not5veis
quandq o repertório dc condutas prcviamente c's t ahc lc
c1das rc
•
sultam inadequadas.
Ir
mais prov.ável que os homens aprendam
mais em situações em que se vem enfrentando problemas. embo
.:,ra um estudo intercultural nos mostre que as sociedades
ーセ@dem apresentar diferenças marcantes quanto
ã idade, seqUê!!.,
cia e maneira de socializar v5rios tipos de comportamcnto.
I'f'
22
Tomemos por exemplo o desmame: se num grupo de
so-,
ciedades, o costume
é
desmamar precoce e violentamente ascrianças, num outro grupo o costume
é
desmamá-ladelicada-mente e em idade posterior, uma comparaçio dos dois grupos
de sociedades pode revelar'costumes, 」イセョ。ウ@ ou .traços de
personalidade, que sejam coerentemente diferentes.
Apesar das diferentes práticas de eduCação de crian
ças, o·problema de socialização deve ser descrito, em toda
sociedade. através dos mesmos termos gerais. A
socializa-çao sempre exige a mudança de padrões de. comportamento do
que sio quando a セイゥ。ョ。@ é pequena, para o padTão aceito ーセ@
lo adulto.
Alguns dos padrões socialmente impostos a criança
podem resultar das características peculiares dos adultos
que lidam com ela . . .\ mãe, por exemplo,; talvez alimente a
criança sempre que a mesma chore, independentemente de'qual
quer ィッイセイゥッL@ porque seus tímpanos sao セオゥエッ@ sensíveis, ou
I
porque lhe dedica tamanho amor que nao pode conformar-se com
a idéia de que ela possa experimentar uma sensação de des-,
conforto, por qualciuer tC::lpu que seja. \0. 1113ior parlte da;-;
vezes, porem, a ッーセッ@ entre セ@ alternativa de 。ャゥュ・ョセ。イ@ a
criança sempre que a mesma chore ou submeta-la a um ィッイセイゥッ@
rígido de refeições nio resulta de uma decisio individual
da mãe, mas representa um padrão bem mais amplo ーイ・カ。ャ・ウ」・セ@
te na sociedade em que esta
vive
e foi ensinada que esse ーセ@drão constitui a maneira adequada de solucionar o problema.
S
55 atrav6s desses padrões que o organismo consegue estabelecer relações estâveis com o mundo exterior - e nao apenas
."
23
cem e mundo. secial, mas também cem e da ambiêJcia física. E
esses mesmes padrões penetram no. erganisme, ei eutras
pala-vras, interferem em seu funcienamento.. São.
・セ@
eutres que estabelecem es ー。、イ・セ@ peles quais se satisfaz e anseie da
criança pele alimente. E, .ae precederem 。ウウゥセL@ esses
eu-tres interferem no. próprio. erganisme da criança.
O
exemplo.mais ifustrative' é o. heririe das refeições. セ・@ a criança é
I li
alimentada semente em heras determinadas seu 'brganisme e
ferçade a adaptar-se a esse padrão.. E, ao. realizar'e
pre-cesse de adaptação., suas funções sefrem uma medificaçãe.
O
que 。セ。「。@ 。」・ョエ・」セョ、・@ i que a criança não. apenas é 。ャゥュ・ョエセ@
da em !peras determin'adas, mas também sente feme nessas
he-ras. 'kssim pederíames dizer que a seciedade não. só impõe
seus padrões de cempertamenteã criança mas ipterfere até no.
seu sistema fsielógice.
Cenclui-se, peis, que a secializaçãe na história セ@
vida des indi vídues, especialmente em sua fase inicial, cons
titui um fato. de fundamental impertância, jâ que. até mesmo
e ・イァセョゥウュ・@ bielógice se submete aes determinantes
li.
sócio-culturais.
t
claro que existe certo paralelismo entre es ーイセ@cessos bielógices de crescimento e a secializaçãe. Quando.
I
menes, e crescimento. de erganisme impõe.certes 'limites
à
ウセ@cialização.. Incidiríames perém, em gravç engane se 。」イ・、ゥセ@
tássemes que as etapas biegráficas da vida, definidas pela
seciedade, são. baseadas diretamente nas etapaS de 」イ・ウ」ゥュ・セ@
te bielógice. Isso se aplica a.todas as etapas da
biogra-I'
-24
rias maneiras de estruturar a infância, não apenas segundo
sua duração, mas também pelas características!
セ@
b - - ,セ@ astante provavel, que a propagaçao do conceito
de socialização e a 'estruturação da infância que a acompruma
!
, • I
produzam influência na sociedade, mas não vamos colocar em
debate estas questões. O que realmente nos ゥセーッイエ。@ agora
ê
que existem momentos da vida d6 ser humano
・ュセアオ・@
comporta-!
mentos 'específicos estão sob a pressão da socialização. Du
rante certo período pode comportar-se naturalmente. Depois,
em certo ponto da vida da criança -- um ponto diferente pa
ra diferentes sistemas de comportamento - precisa mudar seu
"
I' "
padrão,! para a forma adul ta ace i ta.
I
Certo
é
que a primeira condição que セクー・イゥュ・ョエ。ュッウL@I
após o nascimento,
é
a de criança, e que, antes de maisna-da a 」ッセ、ゥ ̄ッ@ envolve certo tipo de relacionamento com o
próprio corpo, com o ambiente físico e com os outros seres
humanos que a cercam. Em especial com as pessoas que com
maior ヲイ・アuセョ」ゥ。@ se tornam objeto da interação da criança,
I
com as quais mantem relações emocionais mais lntensas e
cu-jas atitudes 。ウウセュ・ュ@ import5ncia crucial na ウゥエオ。セッ@ em que
.,
se enc:ontra.
No início da vida infantil, quase todo o controle
das mudanças relevantes das ações das crianças vem de seus
pais. Eles vigiam, aprovam ou reprovam sua conduta. Na ver
dade desempenham a maior parte do tempo o papel de
POlici-ais.
2S
que,a criança nao teve ainda oportunidade de conhecer o que
se espera dela. Ela ignora os modelos adultos. ela ainda
não aprendeu como fazer as coisas. de maneira adequada., Não
y" l'\ sabe o que
é
certo ou errado. Mas. esse controle tem um tempo adequado e se os pais persistem em passar todo o tempo セ@
giando e protegendo tornam-se figuras intoleráveis. A crian
ça deve adquirir seu pr6prio controle. Ela deve aprender
suas pr6prias regras de conduta. De certa maneira, ela de-,
ve aprender a aplicar sanções ao seu próprio comportamento.
Em outras palavras ela, deve desenvolver uma consciência.
Podemos distinguir três espécies de controle. pri
meiramente há um tipo externo que requer constante カゥァゥャ¬セ@
cia e intervenção direta. A criança faz o que deseja até
que alguém a interrompa. Em'segundo lugar, há o próprio co!!.
.
trole da crianç.a que
é
baseado no temor da punição ou no desejo da recompensa. Este é ウゥューャ・ウュ・ョエセ@ uma extensão do
controle externo.
E
de uma dependência imediata dapresen-ça de alguém que possa punir ou イ・」ッューセョウ。イN@ De certo
mo-I
do, para ser todo efetivo, a punição 、・セ・@ ser além de fre
qUente bastante :::;('\'c1':1. U:i\J. d:1S cOIlscql:ências bem
desagra-dáveis desse método de treinamento é o desencadeamen'.to de
,
comportamentos agressivos e rebeldes. Uma terce i ra セヲッイュ。@ de
controle é o controle interno da criança que, aparece de UM
aceitação genérica dos padrões de conduta dos pais como ーイセ@
prios dela. A culpi, a vergonha e a auto-depreciaç50 sao
ウ・ョエゥセ・ョエッウ@ que experimenta se deixar de cumprir suas
pro-prias instruç6cs. O エセイュッ@ con$ciência é aplicado a esta ・セ@
ー←」ゥセ@ de controle interQo. O controle pelo ュ・、セ@ e o 」ッョエイセ@
26
i
mal desenvolve uma dose de cada um deles. Para certas
・ウーセ@cie s de comportamen to a criança não apresenta jpadrões in te"!
nalizados mas somente o medo' de ser pego.
ー。セ。@
outras,
o
modelo· de seus pais' "pode ser
ーャ・ョ。ュ・ョエ・ZZゥNセRセᄋ[ゥNBエッ@
como dela e
,". '1. .
ela age de acordo com ele) "haja' ou não risco 4epunição.
セ@
difícil julgar qual seria a medida ideal
entre
esses
セッゥウ@para as crianças em nossa sociedad1'
Constata-mos entretanto .que um peso demasiado no medo tende a
desen-volver uma criança oportunista e insegura enquanto que uma
consciência demas iadamente severa, tende. a inibi -la diante
dos requisitos da vida.social.
:E
claro que' sem alguma cons
J; •
」ゥ↑ョ」ゥLセ@
o indi ví.duo não pode vi ver com os outros, mas como
I
todo e qualquer compo rtamen to aprendi do, o desenvolvimento do
controle interno
é
um processo gradativo. O bebê de um ano
parece que tem muito pouco dele. O que quer fazer, procura
fazer a medida que vai adqutrindo habilidade na marcha, ele
deve ser freqUentemente vigiado porque não sabe que há
coi-sas em que não pode tocar. Apesar de contínup ensinamento,
,',, i
ele vai em frente com sua exploração e maniPutaçITo. absorvl
do pelo seu prop6sito sem dar a menor atenção is
ゥョエ・イヲ・イセョ@cias ou ameaças. Até que essa fase passe, nada da casa que
\
esteja a seu alcance lhe escapa.
Já
no meio do segundo ano
de vida,a maioria das crianças começa a mostrar sinais de
restrição, limite. Quando vai mexer em determinado objeto
hesita e já retira a mao.
A
primeira vista o controle
in-terno deve ser um simples fato, não mais que uma espécie de
auto-proteção primitiva da esperada crítica e
repreensao.
I'
;""
- I
adultos
ê
exatamente isto. Quando uma criança ao brincar de、・ウ・ュー・ョィ。イセAー。ー←ゥウ@ parentais repete frases como: Papai nao
gosta, mamãe briga seria um esboço de consciência ou ainda
o meoo da ーオョゥセッ@ セ」ウ@ pais?
A
diferença entre·medo e consciência reside naau-to-instrução e na encorporação na própria criança dos valo
res expressos pelos pais. Convém observar duas significati
vas características através da qual o controle da
consciên-cia pode ser reconhecido. Uma e a manutenção do controle em
face
ã
tentação (impulso, desejo), quando não há ninguém presehte para insistir oU quando hi pouca chance de ser pega.
,
aセッオエイ。@ é a ocorrência de sentimentos de culpa em ocasiões
orlde o desejo não € ultrapassado, quando a criança deve
se-parar a partir de seus próprios padrões o que é certo do
qu'e e errado.
A
culpaé
difícil de se observar, em qualquer \dos casos e ocorre quando o contl·ole da consci€ncia falha
ou a tentação セ@ forte o ウオヲゥ」ゥ・セエ・@ para fazer a criança
re-c9nhecer seu desejo para desempenhar o proibido.
Estes critérios de cont'·ole de consci€ncia
tornar:-:-se mais e mais evidentes à ャtャ・、ゥ、セゥ@ que a criança cresce. ;ltr:l
vés da pr€-escola e os primeiros anos escolares.
Há entreLlnto um pCl'Lod,-· OC JcpcnJência du:; filh0:;
em que· a mãe d.eve ·puni-Ios •. A criança não tem condição de
desenvolver um auto-controle sem o controle ・クエセイョッN@ Umas
palmadas·s5o uma .alternativa melhor do que a culpa ou o
rc-morso, garantem determinadas maes. A consci€ncia nao se
desenvolve ·autonomamente. セセッ@ e um fato isolado ュセウ@ um ーイセ@