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Novas tecnologias reprodutivas: doação de óvulos. O que pode ser novo nesse campo?.

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Academic year: 2017

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N ovas t ecnologias reprodut ivas:

doação de óvulos. O que pode ser

novo nesse campo?

Ne w re p ro d uctive te chno lo g ie s:

o o cyte d o natio n. What co uld b e ne w in this fie ld ?

1 In stitu to de Medicin a Social, Un iversid ad e d o Estad o d o Rio d e Jan eiro. Ru a São Fran cisco Xavier 524, 7oan d ar, Rio d e Jan eiro,

RJ, 20559-900, Brasil. 2 Cen tro de Estu dos de Saú de d o Trabalh ad or e Ecologia Hu m an a, Escola N acion al d e Saú d e Pú blica, Fu n d ação Osw ald o Cru z . Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, Rio d e Jan eiro, RJ 21041-210, Brasil. m correa@ism .com .br M arilen a V. Corrêa 1,2

Abst ract Th is article d iscu sses th e so-called "n ew " rep rod u ctive tech n ologies. Th e au th or an a-lyz es an d ch allen ges th is ad jective, sin ce for over tw o d ecad es th is grou p of m ed ical tech n iqu es an d ex p erim en ts h as been w id ely d issem in ated in th e m ed ical m ark et. Th e m ed ia’s coverage of test tu be babies, an d esp ecially d evelop m en ts in in terven tion on h u m an germ cells an d em bryos, h elp ch allen ge t h e su p p osed p erm an en t n ovelt y of everyt h in g su rrou n d in g rep rod u ct ive t ech n ologies an d gen etic in terven tion s. Society is d ou btless ex p erien cin g an op en p rocess in fu ll in -n ovatio-n , bu t th e social a-n d sym bolic effects o-n p la-n -n i-n g m ater-n ity, p ater-n ity, a-n d filiatio-n are still n ot w ell p erceived or d iscu ssed . To illu strate su ch con trad iction s, th e article focu ses on th e case of oocyte d on ation , h igh ligh tin g th e n eed for n ew p ersp ectives in term s of social con trol over th e d issem in ation of rep rod u ctive tech n ologies.

Key words Med ical Tech n ology; Rep rod u ction Tech n iqu es; Ovu m ; Oocyte Don ation

Resumo Este artigo d iscu te as "n ovas" tecn ologias rep rod u tivas. Através d a in terrogação d essa ad jetivação, são an alisad as estratégias e con trad ições qu e m an têm com o n ovo esse con ju n to d e técn icas e exp eriên cias m éd icas in iciad as h á m ais d e d u as d écad as e qu e en con traram am p la d i-fu são n o m ercad o d e serviço m éd icos. A p resen ça, n a m íd ia, d a tem ática d os bebês d e p roveta e, sobretu d o, d e seu s d esd obram en tos em term os d a in terven ção sobre célu las germ in ativas e sobre em briões h u m an os, aju d a a con ferir o caráter d e p erm an en te n ovid ad e a tu d o o qu e cerca as tec-n ologias rep rod u tivas e as itec-n tervetec-n ções getec-n éticas p or ela p ossibilitad as. Ap esar d e, sem d ú vid a, en con trarm o-n os d ian te d e u m p rocesso aberto e em p len a in ovação, os efeitos sociais e sim bóli-cos n o p lan o d a m atern id ad e, p atern id ad e e filiação são ain d a p ou co sen tid os e d iscu tid os. Para ilu strar tais con trad ições é focaliz ad o o caso d a d oação d e óvu los. Este evid en cia a n ecessid ad e d e serem bu scad as n ovas p ersp ectivas em term os d o con trole social d a d ifu são d as tecn ologias rep rod u tivas en tre n ós.

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Ap a ren tem en te p a ra d oxa l, a p ergu n ta q u e d á títu lo à d iscu ssão q u e se segu e é p ertin en te, a m eu ver, u m a vez q u e o esta b elecim en to su -cessivo d e técn icas e p ráticas m éd icas reu n id as sob aqu ele term o – n ovas tecn ologias rep rod u tiva s (NTR) – tem con h ecid o u m a rá p id a con -sagração e u m su cesso n os q u ais o asp ecto d e n ovid ad e sofre u m am b ígu o p rocesso d e vela-m en to. Evela-m 1978 n a sce o p rivela-m eiro b eb ê a p ó s fertilização in -vitro(FIV), n a In glaterra, e, em segu id a, in iciam se, n o Brasil, as p rim eiras ten -tativas de rep etição exitosa de em p rego da m es-m a tecn o lo gia , o q u e veio a o co rrer ees-m 1984. Desd e en tão, b eb ês d e p roveta, troca d e m ate-ria l rep ro d u tivo h u m a n o, co n gela m en to d e em b riões, clon agem , m ed icin a gen ética p red i-tiva, en tre ou tros tem as, n ão d eixaram m ais d e so frer a m p la e in ten sa exp lo ra çã o m id iá tica (Corrêa, 1997b ).

Persistem , co n tu d o, m a l d o cu m en ta d o s e m al esclarecid os, n o p lan o cien tífico, a eficácia d u vid o sa , o s a lto s risco s e cu sto s n o em p rego d esta tecn ologia (An n a s, 1998). Em fu n çã o d a q u ase in existên cia d e u m a p rática d e registro, assim com o d a au sên cia d e vigilân cia d as ativi-d a ativi-d es la b o ra to ria is e clín ica s ativi-d a rep ro ativi-d u çã o assistid a, n ão se tem con h ecim en to, p or exem -p lo, d e q u an tos em b riões exced en tes são -p ro-d u ziro-d o s; q u a n to s estã o co n gela ro-d o s; q u a is o s ín d ices d e gesta çõ es m ú ltip la s e su a s co n se-q ü ên cia s p a ra a sa ú d e d a s m u lh eres e b eb ês; q u an tos n ascem p or an o através d aq u elas téc-n ica s; q u a is a s co téc-n d içõ es d e téc-n a scim etéc-n to d esses b eb ês (id a d e gesta cio n a l, p eso, co m p lica -ções p erin atais etc.); q u al a taxa d e su cesso d a ap licação d as d iferen tes técn icas en tre d iferen -tes ca sos d e in fertilid a d e, en tre m u ita s ou tra s p ergu n ta s q u e p erm a n ecem sem resp o sta n o Brasil, em b ora seja fu n d am en tal q u e se p ossa ob ter tal tip o d e in form ação e o con h ecim en to a ela relacion ad o. Paralelam en te, n o d eb ate so-cia l, a ssiste-se a u m a rep etiçã o d e d iscu ssõ es d e p rob lem as m orais, éticos, p essoais, su scita-d os p or essa form a scita-d e in terven ção n o p rocesso rep rod u tivo, qu e tem rep ercu ssões n o p lan o d a filiação, d a con stitu ição d e fam ílias, d a su b jeti-vid ad e e d as id en tid ad es.

Para além d o fator tem p oral, rep resen tad o aq u i p or m ais d e d u as d écad as d e ativid ad es e exp eriên cias d e fertilização artificial com seres h u m an os, qu an d o se tem em m en te u m a p ers-p ectiva h istó rica d a in ter ven çã o m éd ica n o p rocesso rep rod u tivo, vem os reforçad a a id éia d e q u e a s ch a m a d a s n ova s tecn o lo gia s d e re-p rod u ção n ão re-p od em tam re-p ou co ser con sid era-d as u m a ru p tu ra ou n oviera-d aera-d e com p letam en te in esp erad a. De fato, id en tifica-se u m p rocesso d e artificialização crescen te, o q u al in cid e

so-b re os d iversos m om en tos d a seqü ên cia rep ro-d u tiva (con tracep ção, p arto, aleitam en to etc.). As NTR, vo lta d a s p a ra o estím u lo d a co n cep -çã o, sã o, n esse sen tid o, a ú ltim a eta p a d e u m p rocesso con tín u o d e m ed icalização d a rep ro-d u çã o e ro-d a sexu a liro-d a ro-d e. Ma s ela s co n stitu em sim u m a im p o rta n te in ova çã o n o sen tid o d e qu e, p ela p rim eira vez, o p rob lem a d a im p ossi-b ilid ad e d e rep rod u ção ossi-b iológica, m esm o q u e n ão sem d ificu ld ad es, p od e ser b iologicam en te resolvid o. Essa n ovid ad e en con tra, en tretan to, ob stácu los p ara ser d escrita com o tal: ch am ad o in icialm en te ad e rep road u ção artificial, o con -ju n to d e técn icas q u e p erm ite q u e p essoas es-téreis, sozin h as ou h om ossexu ais sejam cap a-zes d e p rocriar, acab ou p or ser ren om ead o, n o cam p o m éd ico, d iversas vezes, com o rep rod u -ção assistid a, rep rod u -ção h u m an a assistid a ou , a in d a , co m o a ssistên cia m éd ica à p ro cria çã o, em clara eu fem ização d a id éia d e artificialid a-d e ligaa-d a àqu eles p rocessos.

A associação en tre essa tecn ologia (a FIV), a p lica d a n o ca m p o d a clín ica gin eco ló gica e o b stétrica e en ten d id a co m o fo rm a d e ven cer in fertilid ad es tran sitórias ou d efin itivas, às in -certeza s e a os im p a sses d a a p lica çã o d a s p es-qu isas gen éticas e de biologia m olecu lar, es-qu e se desen volvem p aralelam en te e, às vezes, agrega-d a s à m eagrega-d icin a agrega-d a rep ro agrega-d u çã o, a cen tu a essa s am b igü id ad es ( Jam ain et al., 2000). Se a FIV se a n u n cia e é a co lh id a co m o u m a revo lu çã o n a m ed icin a, n o qu e d iz resp eito aos su jeitos d ire-tam en te im p licad os – esp ecialistas e u su ários – p a rece ser, a té en tã o, so cia lm en te a d eq u a d o evitar tod o u m excesso d a in ovação, b em com o evita r a id éia d e a rtificia lid a d e q u a n to à cria -ção e m an ip u la-ção d a vid a h u m an a, sen d o p re-ferível m an tê-la n o d om ín io d o “n atu ral” e d o con h ecid o (Corrêa & Loyola, 1999).

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e-m a n d a p o r filh o s, h o je? A id éia d e rea liza çã o b io ló gica – gen ética , gesta cio n a l, im a gin á ria ou d e alu gu el – reforçad a e, algu m as vezes, ge-rad a p ela rep rod u ção assistid a, n ão n os p erm i-te su p or qu e as NTR p od eriam ser criad oras d e u m n ovo d esejo d o d esejo d e filh o s (Co rrêa , 1997a)?

Con trad itoriam en te, su a b aixa p erform an -ce – estim a-se u m su -cesso glob al d e m en os d e 10% (Marcu s-Steiff, 1990) d as ten tativas, o qu e, p a ra o s m a is en tu sia sta s, n ã o ch ega ria a 25% (ASRM, 1999) – n ega, d e form a b astan te ob jeti-va , o a cesso a o so n h a d o b eb ê q u e a FIV seria cap az d e p rom over. Ain d a m ais p arad oxalm en te, o “tra ta m en to” p ela FIV a o s im p o ssib ilita -dos de rep rodu ção p rodu z, com o p rin cip al efei-to ia tro gên ico, a s gesta çõ es m ú ltip la s. Vem o s aq u i a in cap acid ad e d e, atu alm en te, as tecn o-lo gia s co n cep tiva s, d e fa to, fa zerem u m b eb ê (d e p roveta). Ou , d ito d e ou tra m an eira, a in cap acidade de essa tecn ologia fazer artificialm en -te u m bebêd a form a “m ais n atu ral” p ossível.

Gu ard an d o esta d im en são m ais con ceitu al – n a qu al categorias com o ru p tu ra/ con tin u id a-d e, n a tu ra l/ a rtificia l co n stitu em p o la ria-d a a-d es em ten sã o, p ro d u zid a s n o a tra vessa m en to d o cam p o d a rep rod u ção p ela tecn ologia con cep -tiva – p od eríam os retom ar a p ergu n ta d o títu lo em sen tid o m ais literal, ap lican d o-a a u m p lan o m ais p rático e da realidade: ch am am a atelan -ção, en tão, com o asp ecto “n ovo” d o cam p o d as NTR, o s p ro b lem a s liga d o s à co n stitu içã o d e u m a p rática d a d oação d e óvu los.

A doação de óvulos

As in ovações d a tecn ologia con cep tiva avan ça-ra m d o esta b elecim en to d a fertiliza çã o in vi-tro, com o m étod o d e “tratar” a in fertilid ad e d e origem tu b ária, in d o n a d ireção d o d esen volvim en to d e técn icas volvim icrocirú rgicas d e volvim an ip u -lação de célu las rep rodu tivas. Dep ois disso su r-ge, co m o p ro b lem a m a io r a ser en fren ta d o, o d o su p rim en to d e óvu los. A id éia d a p rod u ção

in vitrod a con cep ção foi m otivad a in icialm en -te p ela im p o ssib ilid a d e d e su a o co rrên cia n o local n atu ral – as trom p as (lesad as, ob stru íd as, ciru rgicam en te ligad as ou au sen tes). Com o es-tab elecim en to d a ICSI (in tracytoplasm ic sperm in jection), em 1992, b u scou -se p aliar as in ferti-lid a d es a trib u íd a s a o fa to r m a scu lin o – o sê-m en n ã o fecu n d a n te o u h ip o fecu n d a n te. A p ossib ilid ad e d e m an ip u lação lab oratorial d as célu las sexu ais ou rep rod u tivas trazid a p or es-sa técn ica fez d ela, en tão, o p ad rão d o m étod o d e rep rod u çã o a ssistid a . A m a n ip u la çã o p od e ser ta m b ém d e célu la s im a tu ra s, n ã o eja cu la

-d a s, o b ti-d a s ciru rgica m en te -d o ep i-d í-d im o o u d o testícu lo (Te Veld e et al., 1998).

Sem d ú vid a, a d oação d e óvu los foi d eixad a “p ara d ep ois” em fu n ção d e d ificu ld ad es esp e-cíficas. Do p on to d e vista técn ico, a im p ossib i-lid a d e d e co n gela r e d isp o n ib iliza r ó vu lo s em b a n cos – com o h a via ocorrid o com o sêm en – co lo co u u m en tra ve liga d o à circu la çã o d esse m aterial b iológico h u m an o. A in vasivid ad e e as p esadas m an ip u lações do corp o fem in in o – im -p licad as n as d iferen tes eta-p as d o ciclo FIV, tais com o a h ip erestim ulação h orm on al, a p un ção e coleta d e óvu los, a su p erp rod u ção d e em b riões etc. – são asp ectos n egativos, cu ja im p osição a m u lh eres qu e viriam ap en as a “d oar” seu s óvu los seria, d e m od o geral, ain d a m ais d ificilm en -te ju stificável d o p on to d e vista ético d o q u e a FIV. Essas m u lh eres correriam os riscos e arca-riam com custos fin an ceiros sem estarem en vol-vid as em u m p rojeto p róp rio d e m atern id ad e.

As d ificu ld a d es ética s a u m en ta m q u a n d o se esp ecu la sob re o qu e p od e levar u m a m u lh er a d oar óvu los n esse con texto d e efeitos colate-rais d esagrad áveis e in d esejáveis, riscos e cu s-tos. Na econ om ia d o d om , n o cam p o d a saú d e, esp erase qu e à doadora seja oferecido u m con -tra -d o m q u e sim b o liza o reco n h ecim en to d e seu gesto, o q u al p od e ser a valorização social d o ato, com o n o caso d a d oação d e san gu e. No cam p o d a rep rod u ção assistid a, as in certezas e atitu d es con troversas relativas a b eb ês d e p ro-veta , a o u so d e m a teria l rep ro d u tivo “d o a d o”, ao con gelam en to d e em b riões etc. n ão p erm item q u e tal circu ito p ossa ser acion ad o. As in -terro ga çõ es q u e p erm a n ecem n o p la n o ético, p sicológico e social, n o q u e con cern e às m oti-vações e com p en sações in dividu ais p ara o d om d e óvu los, têm acab ad o p or su scitar rep resen -tações ain d a m ais n egativas.

A d oação d e óvu los ficou vista, en tão, com o “ú ltim a eta p a tera p êu tica”, en tre vá rio s m o ti-vo s, p elo fa to extrem a m en te excep cio n a l d a o co rrên cia d e d o m d e ó vu lo s esp o n tâ n eo, o q u e cria a q u ilo q u e vem sen d o d iscu tid o, n o cam p o d a rep rod u ção assistid a, com o u m esta-d o esta-d e pen ú riap erm an en te d e óvu los.

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a-to req u erid o n a p rá tica d a d o a çã o. Pa ra se ter id éia d os efeitos d a h ip erestim u la çã o h orm o-n al das m u lh eres doadoras, com o ocorre em to-d a FIV, foram recolh ito-d os cerca to-d e to-d ez ovócitos p o r ciclo p o r d o a d o ra a o lo n go d o s três a n o s a n a lisa d os n o estu d o. Ou tros p on tos m en cio-n ad os com o p arte d o p rogram a são: cocio-n su ltas com p sicólogos, in form ação acerca d os riscos p a ra o b ten çã o d o co n sen tim en to e co n tro les b iológicos d o m aterial trocad o. O ú ltim o item fez co m q u e, a p a rtir d e 1995, to d o s o s em b riões d evessem p assar p or con gelam en to an -tes d a im p lan tação, d e m od o a segu ir o estad o sorológico d os casais e p acien tes p reviam en te à ten tativa d e im p lan tação d os em b riões. Vê-se com o a n orm atização d a p rática d a óvu lo-d oa-ção – m esm o q u e lim itad a, m as in clu in d o cri-térios n ão ap en as técn icos com o tam b ém éti-co s – fa vo rece seu en q u a d ra m en to en q u a n to p rática m éd ico-terap êu tica e d ificu lta en orm e-m en te su a ap licação ee-m fu n ção d as exigên cias a serem cu m p rid as.

Estu d o m ais recen te sob re a m atu ração d e ovócitos in vitroe a resp eito d o con gelam en to d e ó vu lo s a m p lia o esp ectro d e “in d ica çõ es”, p rop on d o – p elo m en os h ip oteticam en te, d ad o os resu ltad os lim itad íssim os d o con gelam en to d e ó vu lo s e d e tecid o ova ria n o – a cria çã o d e b an cos d e óvu los. O con gelam en to p ossib ilitaria evita r a d o a çã o em ca so s co m o o s d e m u -lh eres joven s q u e tivessem q u e sofrer rad iote-rap ia ou q u im ioteiote-rap ia, m u itas vezes in fertili-za n tes, in d ica d o s n o tra ta m en to d e câ n ceres (Bettah ar-Legu b le et al., 2000).

Em fu n çã o d a s d ificu ld a d es a p o n ta d a s, a d oação d e óvu lo p erm an eceu , p ortan to, p ou co acessad a, ap esar d e o registro d o p rim eiro n as-cim en to d e u m b eb ê gerad o com óvu lo d oad o ter o co rrid o em 1983, n a Au strá lia (La b o rie et al., 1985). Essa p rática reap arece h oje, ju n to d e o u tra s p ro p o sta s q u e in d ica m cla ro a u m en to d a in vasivid ad e d a tecn ologia con cep tiva, co-m o rep resen ta d o p elo assisted h atch in g,q u e p o d e ser tra d u zid o p o r “eclo sã o em b rio n á ria a ssistid a”, o q u a l im p lica u m a in terven çã o n o ovo fo rm a d o, d e m o d o a “a ju d á lo” a im p la n -tar-se n o ú tero. O au m en to d a in vasivid ad e d a tecn o lo gia co existe co m su a m u ito fra ca p er-fo rm a n ce. Revisã o recen te d o s d a d o s d a red e fran cesa d e con servação d e célu las rep rod u ti-va s in d ica u m a ta xa d e su cesso glo b a l d a FIV associad a à d oação d e 14,5% (Féd ération Fran -çaise d es Cecos, 1999).

Ap esa r d esses p rob lem a s, n o q u e se refere aos asp ectos sim b ólicos d as form as p articu la-res d e filiação q u e en volvem d oação d e sêm en e d oação d e óvu los, os p ou cos estu d os existen -tes in dicam qu e, n a doação de óvu lo, seria m ais

fácil, com p arativam en te à d oação d e sêm en , a su p era çã o d e co n flito s p sico ló gico s q u a n to à p aren talid ad e. Isso p orq u e a m u lh er p assa p e-las exp eriên cias d a gestação e, sob retu d o, p elo p a rto. Perm a n ecem o b scu ra s, co n tu d o, a s ra -zõ es q u e leva ria m u m a m u lh er a ser d o a d o ra (Laru elle & En glert, 1989; En glert et al., 1997).

Brasil: propost as de capt ação de óvulos e (des)regulament ação das N TR

Co m o se d ed u z co m fa cilid a d e, a d ificu ld a d e d e recru ta m en to d e d o a d o ra s tem p a p el cen -tra l n o s p ro gra m a s d e d o a çã o d e ó vu lo s. Isto con stitu i u m asp ecto q u e p od e levar a p rop os-tas eticam en te in aceitáveis ou con testáveis em fu n ção d o argu m en to d a p en ú ria. As p rop ostas m a is co m u n s d e ca p ta çã o d e ó vu lo s têm sid o (En glert et al., 1997): 1) coleta d e óvu los n o m o-m en to d a rea liza çã o d e ciru rgia a b d o o-m in a l. Não se p od e esqu ecer qu e u m a agressão a m ais é feita n esses casos, rep resen tad a p ela estim u lação h orm on al e o m on itoram en to d a p acien -te; 2) d e m u lh eres q u e p assam p or ou tras téc-n icas d e FIV. Nesse caso, em b ora téc-n ão se ad icion em riscos, é eticam eicion te qu estioicion ável qu e m u lh eres su b m etid a s a u m a técn ica d e rep ro d u -çã o a ssistid a seja m ca p a zes d e d a r co n sen ti-m en to livre q u a n to à u tiliza çã o d e a lgu n s d e seu s óvu los p or ou tra m u lh er, visto su a d ep en -d ên cia -d a eq u ip e m é-d ica; 3) -d oa-d oras relacio-n ais, aq u elas q u e são trazid as p elo p róp rio ca-sal in teressad o (m od elo m ais com u m n a Eu ro-p a Ocid en ta l h oje); 4) d oa d ora s ro-p rofission a is, aqu elas qu e receb em rem u n eração p ara “d oar” seu s ó vu lo s, co m o sã o en co n tra d o s ca so s d o -cu m en ta d o s n o s Esta d o s Un id o s. A d is-cu ssã o d a rem u n eração é m ais com p licad a n a d oação d e óvu los, p orqu e essa p rática im p õe à d oad o-ra ga sto s im p o rta n tes co m m ed ica m en to s, p ro ced im en to s m éd ico -cirú rgico s e a n estési-cos, en tre ou tros.

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su a vez, além d e con trib u írem com a exp orta-ção d essas técn icas p ara o Brasil, tin h am , n es-sas op ortu n id ad es, a ch an ce d e am p liar e rea-firm ar seu p restígio n a área, além d e m ais u m ca m p o d e exp eriên cia co m u m a tera p êu tica em ergen te.

Em n osso País, a gran d e m aioria d os exp os-tos à id éia d e b eb ês d e p roveta – p op u larizad a p ela m íd ia e, em p articu lar, p ela televisão – n ão é con su m idora p oten cial em fu n ção dos altíssi-m os custos desta tecn ologia. Igualaltíssi-m en te, a idéia d e qu e as m u lh eres en tram em estad o d e in / h i-p ofertilid ad e a i-p artir d e 35 an os d e id ad e (i-p ara a lgu n s esp ecia lista s, a p a rtir já d o s 30 a n o s) circu la n o m esm o circu ito d e d ivu lgação e, tal-vez, d e form ação d a d em an d a p or rep rod u ção assistid a (RA): a m íd ia e as ob ras e m ateriais d e d ivu lgação con ceb id os p elos esp ecialistas.

Su rgem en tã o n ovasp ro p o sta s q u e en vo l-vem a d oação d e óvu los. Algu m as equ ip es m é-d ica s, tra b a lh a n é-d o co m é-d o a çã o é-d e ó vu lo s n o Brasil, têm recom en d ad o a coleta d e óvu los d e m u lh eres qu e viriam a su b m eter-se a p equ en as ciru rgias p élvicas. Para tal, essas m u lh eres d e-veriam sofrer a h ip erestim u lação h orm on al, vi-sa n d o a esvi-sa “d o a çã o”. Nesse ca so, segu n d o o esp ecialista, “vislu m brar-se-ia ben eficiar recep-toras in clu in d o n o p rogram a m u lh eres d e clas-ses m en os p rivilegiadas econ om icam en te” (Do-n ad io, 1999a). O au tor q u er d izer com isso q u e a s m en o s fa vo recid a s eco n o m ica m en te esta riam livres de cu stear a com p ra de m edicam en -to s p a ra h ip erestim u la çã o, o m o n i-to ra m en -to p o r im a gen s a té a co leta , a lém d esse ú ltim o p roced im en to, tod os a cargo d a d oad ora (m u -lh er su b m etid a a ou tra ciru rgia qu e con cord ou p articip ar d e tal p rogram a).

Ou tra a b o rd a gem fico u co n h ecid a co m o “doação com p artilh ada de óvu los” (Lop es et al., 1999). Segu n d o su a “m etod ologia, o Program a con siste basicam en te em qu e u m a m u lh er recep tora, com in d icação p ara rerecep ção d e óvu -los, d oe a m ed icação p ara a h ip erestim u lação ovarian a de u m a pacien te (doadora) portadora d e in fertilid ad e qu e ju stifiqu e a realiz ação d e fertiliz ação in vitro, m as qu e n ão d isp on h a d e recu rsos p ara tal”(Lo p es et a l., 1999:2). A p ri-m eira é aten d id a n a clín ica p rivad a d o esp ecia-lista qu e con cebeu o Program a, e a segu n da, em h osp ital p ú b lico, on d e ele tam b ém trab alh a.

Nessa o p era çã o tem o s, d e u m la d o, u m a m u lh er p o b re, “d o a d o ra”, cu ja in fertilid a d e é d eterm in a d a p o r p ro b lem a s p a ssíveis d e p re-ven çã o. Esses p ro b lem a s típ ico s d o terceiro e q u arto m u n d os – com o ab ortos e in fecções d e rep etição m al tratad os ou n ão tratad os – levam m u itas m u lh eres à in fertilid ad e p or ob stru ção tu b ária. A elas som a-se u m con tin gen te rep

re-sen tad o p elas m u lh eres q u e “op taram” p or es-terilização cirú rgica “volu n tária”. Com o m ostra a ú ltim a Pesqu isa Nacion al sob re Dem ografia e Sa ú d e (BENFAM, 1996), 40,1% d a s b ra sileira s estão esterilizad as em id ad e d e 28,9 an os. Tra-ta -se, p o rTra-ta n to, d e m u lh eres férteis d o p o n to d e vista h o rm o n a l e d e seu s ová rio s, q u e p o -d em -d o a r o s ó vu lo s q u e p ro -d u zem . De o u tro lad o estão m u lh eres ricas – em geral, m ais ve-lh a s –, segu in d o o s p a d rõ es rep ro d u tivo s d o m u n d o d esen vo lvid o, q u e têm seu p ro jeto d e rep rod u ção ad iad o, ou seja, seu d esejo d e m a-tern id a d e d eve esp era r p a ra q u e se cu m p ra m o u tra s rea liza çõ es n o p la n o d a esco la rid a d e e d a vid a p ro fissio n a l. Ela s têm u m a id a d e n a q u al ou , d e fato, su a fertilid ad e b aixou , ou su a d isp o n ib ilid a d e d e esp era p o r u m b eb ê a ca -b o u . Ela s sã o, p o rta n to, ca n d id a ta s a rece-b er óvu los d as p rim eiras, p agan d o p or seu p róp rio tra ta m en to e p elo d a s d o a d o ra s (a s m u lh eres q u e n ão p recisam d e óvu los, e sim d e FIV, m as n ão p od em com p rar m ed icam en tos, cu stear os p roced im en tos, h on orários m éd icos etc.).

Ta l o p era çã o d eixa evid en te co m o, p a ra além de u m a p ossível exp loração de gên ero, es-sa m ed icin a d a rep rod u ção acresce a p ossib ilid a ilid e ilid e exp lo ra çã o física e m en ta l en tre m u lh eres. Ela evid en cia , a lém d isso, m a is cla ra -m en te d o q u e n a ap licação d e ou tras técn icas d e rep rod u ção assistid a, a q u estão d a vu ln era-b ilid a d e e d e d iferen tes vu ln era era-b ilid a d es m o-rais às q u ais se en con tram exp ostas as m u lh e-res con fron tad as a seu s d esejos d e rep rod u ção e d e m atern id ad e vis-à-visàs tecn ologias con -cep tivas.

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a-lavra cu jo sign ificad o essa m u lh er n ão con h e-cia até en tão), ficou triste e ch orou , m as d ep ois p en sou : “Deu s é m isericordioso. Era tan to o qu e eu qu eria, o qu e son h ei... Ach o qu e eu e m eu m arido oram os dem ais e Deu s m an dou cin co de u m a vez só”.

Seria a in terven ção d a tecn ologia con cep ti-va, m esm o em casos m ed icam en te b em con fi-gu ra d o s co m o o d e u m a m u lh er co m esterilid a esterilid e tu b á ria , u m a p rá tica etica m en te a ceitá -vel, sem p re? Ba sta ria o a rgu m en to tera p êu ti-co ? Em ca so a firm a tivo, p o r q u e n ã o existem d efen sores d e su a in trod u ção n o serviço p ú b li-co fora d e qu alqu er associação li-com o a p rop os-ta d e com p artilh am en to? A ‘d oação com p artilh ad a d e óvu los’ d eixa claro a op ção p or solu -çõ es p riva tiza n tes e lu cra tiva s n essa ca m p o. Co m ela , u m a m u lh er va i p a ga r o tra ta m en to d e d u as. E, sob retu d o, vai ter o seu tratam en to viab ilizad o, n o caso d a d oação d e óvu los, p ela in clu são com p u lsória d e u m a ‘d oad ora’, clien te d e u m a FIV. Essa so lu çã o evid en cia o s ca m i-n h o s d a d ifu sã o d a rep ro d u çã o a ssistid a i-n o Brasil, a oferta e a d em an d a p or esses serviços n o co n texto d e u m a so cied a d e e d e u m p a ís m arcad os p or p rofu n d as d esigu ald ad es sócio-econ ôm icas, ed u cacion ais e sexu ais.

Com o h avíam os com en tad o, a u tilização d e ó vu lo s “exced en tes” d e clien tes d e FIV é u m a “solu ção” in terrogad a n o qu e d iz resp eito a su a ad equ ação ética. Face à vu ln erab ilid ad e sócioeco n ô m ica e m o ra l (d e d ep en d ên cia em rela -çã o a o m éd ico e su a p ro p o sta ú n ica ), em q u e ta l d o a d o ra – e d em a n d a n te d e filh o s – se en -con tra, é altam en te q u estion ável a p osição d e au ton om ia n ecessária a u m con sen tim en to li-vre p ara a p articip ação em tal tip o de Program a. Co m o co n clu ím o s em o u tro tra b a lh o, n o q u a l m u lh eres u su á ria s d a s NTR fora m en tre-vista d a s, a s a titu d es q u e cerca m em gera l o p rocesso rep rod u tivo em n osso p aís – os con s-tran gim en tos relativos à in fertilid ad e, o d esejo d e filh os e d e con stitu ição d e u m a fam ília – le-vam a crer qu e, a m en os qu e m u d an ças sign ifi-cativas, algu m as já em cu rso, n o sistem a d e valores n essa área ven h am a ocorrer e a se d ifu n d ir rap id am en te, a p rocu ra p elas NRT d eve au -m en ta r, p rin cip a l-m en te se esses serviço s to r-n arem -se acessíveis a u m a p arcela m er-n os lim i-tad a d a p op u lação, ao con trário d o q u e ocorre atu alm en te (Corrêa & Loyola, 1999).

Em fu n ção d os asp ectos p olêm icos e d u vi-d o so s q u e en vo lvem em b riõ es p a ra p esq u isa , in terven çã o em célu la s to tip o ten cia is, clo n a gem , b arriga d e alu gu el e d oação d e óvu los, en -tre o u tro s, a p o n ta d o s a o lo n go d este a rtigo, u m a p ergu n ta se coloca: com o estaria se d an -d o a regu lam en tação -d a p rática -d a rep ro-d u ção

assistida n o Brasil? Resp on der de form a satisfa-tória a essa p ergun ta im p lica um a discussão qu e n ão cab e aqu i realizar (Corrêa, 2000; M. Corrêa & D. Din iz, com u n icação p essoal). Certos p on -tos m erecem , en tretan to, ser lem b rad os.

Os resu ltad os d o in qu érito d a In tern ation al Fertility an d Sterility Societym ostram en orm e d iversid a d e en tre o s 38 p a íses a n a lisa d o s, n o qu e se refere à m atéria qu e fica sob a Lei, aqu ilo qu e é en focad o com o gu idelin es, o tip o d e san -çã o, o tip o d e a gên cia q u e co n tro la – Esta d o, associações p rofission ais etc. (IFFS, 1999).

En tre n ós, é relativam en te tard ia a in iciativa d e con trole d essa p rática. Ela está rep resen -ta d a p o r u m a reso lu çã o d o Co n selh o Fed era l d e Med icin a , d e 1992 (CFM, 1992). Pa ra lela -m en te, su rgira-m , n o Brasil, leis, co-m o a d e b io-tecn o lo gia (MCT, 1995), q u e tra ta d o em b riã o h u m a n o (crim in a liza n d o su a p ro d u çã o e a r-m a zen a r-m en to vo lta d o s exclu siva r-m en te p a ra p esq u isa ) e a Reso lu çã o 196/ 96 d o Co n selh o Nacion al d e Saú d e (CNS, 1996), a q u al p rop õe n orm as relativas à p esq u isa q u e en volve seres h u m an os, d en tre as q u ais tem d estaq u e a p es-q u isa em rep rod u ção h u m an a. Além d isso, tem os três Projetos de Lei etem tratem itação n o Con -gresso Nacion al, p rop on d o u m a Lei d e Rep ro-d u ção Assistiro-d a. Em algu n s casos, seu s au tores são m éd icos. Tod os os p rojetos são u m con tra-p on to à resolu ção do CFM: eles con cordam , em m aior ou m en or grau , ou d iscord am d os iten s d aqu ela resolu ção (Cfem ea, 1999).

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em com p leta d efasagem com a ten d ên cia q u e se estab elece com o b oa p rática n o cam p o.

As n orm as e recom en d ações p rop ostas n os ú ltim os an os in d icam , en tretan to, m aior sen si-b ilid ad e n o p aís à p rosi-b lem ática d a si-b iotecn olo-gia , em q u e se in clu i a rep ro d u çã o a ssistid a . Gostaríam os d e su b lin h ar q u e a regu lam en taçã o, seja n o p la n o d a Lei, d e n o rm a s regu la -m en tadoras, con troladas p elo Estado ou p or as-sociações p rofission ais, só tem sen tid o n o caso em q u e, co m o p rim eiro p a sso, se co n stitu a m in stân cias d e registro d as ativid ad es d e rep ro-d u ção assistiro-d a. Na situ ação b rasileira, elas são m ín im as e m u ito p ob res. Em q u ase vin te an os d e a tivid a d es d e rep ro d u çã o a ssistid a , fo ra m p rod u zid os ap en as d ois registros n acion ais n o Pa ís co m d a d o s m u ito lim ita d o s (Fra n co Jr. & Wh eb a , 1994; Registro La tin o -a m erica n o d e Rep rod u ção Assistid a, 1997). O qu e p od e sign i-ficar u m a regu lam en tação, n o p lan o d a Lei, em con textos n os qu ais p ou co se con h ece a resp ei-to d o q u e é feiei-to? Nen h u m d os p rojeei-tos d e Lei in d ica, com o etap a 1, a n ecessid ad e d e registro e fisca liza çã o d a s a tivid a d es d o s Cen tro s FIV, qu e se con stitu em com o verd ad eiros lab orató-rios. Sem a garan tia dessa etap a e ten do em vis-ta a h egem o n ia d o d iscu rso m éd ico q u e p er-p assa o texto daqueles Projetos, é er-p ossível qu es-tion ar sob re qu em seriam os p rim eiros a b en e-ficiarem -se, aqu eles qu e viriam p rim eiram en te a ser “p rotegid os”: os su jeitos – em p articu lar, a s m u lh eres – im p lica d o s n o em p rego d essa s técn ica s, o u o s esp ecia lista s, q u e p a ssa ria m a ter su a p rática legalizad a?

Para con clu ir, ressaltaríam os qu e essas p er-gu n tas n ecessitam p erm an ecer em d iscu ssão e q u e, p ara tal, a reflexão ética sob re as NTR d eve ser p erm eá evel a estu d os sociológicos a ten -tos ao d eb ate social, ao estu d o d e m u lh eres, às fem in ista s, en tre o u tro s. No Bra sil, o d eb a te b ioético tem ocorrid o p red om in an tem en te n o in terior d e in stitu ições e associações m éd icas,

fato em p arte resp on sável p or u m a m ed icaliza-çã o d o p ro cesso regu la tó rio m esm o n o p la n o d a Lei. Ap esar d isso, n a fron teira q u e se con s-trói en tre o d eb ate b ioético e a esfera legislati-va, ob serva-se u m a ten são: estu d iosos d a ética e d a b ioética – qu e n ão são u m b loco m on olíti-co e olíti-con tam , n o caso da rep rodu ção, olíti-com a m e-d iação e-d a reflexão acerca e-d os gên eros, fem in is-tas en tre ou tras citad as – m ostram resistên cia à en trad a d o form alism o ju ríd ico n o p en sam en -to m oral, ao p asso q u e p rofission ais d o d irei-to e legislad ores, com o em qu alqu er ou tro cam p o d e in flu ên cia ju ríd ica, em p en h am -se em reorgan izar a estru tu ra m oral d a socied ad e p ela su -gestã o e im p o siçã o d e leis e n o rm a s. Da í n a s-ceu o m ovim en to acadêm ico do biodireito, u m a p ro p o sta d e a n á lise e reso lu çã o d o s co n flito s m o ra is so b re a sa ú d e e a d o en ça so b a ó p tica legislativa. O b iod ireito, assim com o a relação d a b ioética com o Legislativo, ain d a é in cip ien -te n o p aís, h aja vista a carên cia ética d o d eb a-te n o rm a t ivo co m re fe rê n cia à s n ova s t e cn o lo -gia s re p ro d u tiva s e a o u tro s te m a s d o ca m p o d a sa ú d e rep ro d u tiva . Pa ra q u e o b io d ireito p ossa fazer face à su cessão d e d esd ob ram en tos e d os im p asses gerad os p ela rep rod u ção assis-tid a é p reciso q u e u ltra p a sse a p ro p o sta d e tra n sp o siçã o m ecâ n ica d o s p ressu p o sto s fo r-m alistas e p ositivos d o d ireito p ara o car-m p o d a ética . Pa ra a b io ética , ign o ra r o Legisla tivo é d eixa r d e fo ra u m a in stâ n cia fu n d a m en ta l d e u m a socied ad e d em ocrática p ara a m ed iação e a n orm atização d as d iferen ças m orais. Ou seja, cam p o p rop ício d e atu ação d o d iscu rso b ioéti-co, en ten d id o co m o m ed ia d o r em p ro cesso s q u e su p õ em in terven çã o so cia l. En treta n to, a b io ética n ã o p o d e ser en ten d id a n em su sten -ta d a co m o ga ra n tia ú ltim a e d efin itiva . Ela se con strói segu n d o as d iversas lógicas p resen tes n o ca m p o d a rep ro d u çã o e ter isso em m en te talvez seja a ú n ica form a d e m an ter ab erto u m d eb ate qu e n ão p od e, p or en qu an to, term in ar.

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Referências

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