1 ApoiodoConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecno-lógico–CNPq.
2 Endereço:UniversidadedeBrasília,CampusDarcyRibeiro,Instituto dePsicologia,Depto.dePsicologiaSocialedoTrabalho,Brasília,DF, Brasil70910-900.E-mail:tatianepaschoal@yahoo.com.br
ImpactodosValoresLaboraiseda
InterferênciaFamília–TrabalhonoEstresseOcupacional
1TatianePaschoal2
AlvaroTamayo
UniversidadedeBrasília
RESUMO−Estapesquisatevecomoobjetivoinvestigarainfluênciadainterferênciafamília-trabalhoedosvaloresdotrabalho sobreoestresseocupacional.Paratanto,utilizaram-setrêsinstrumentos:EscaladeEstressenoTrabalho,EscaladeInteração Trabalho-FamíliaeEscaladeValoresRelativosaoTrabalho.Participaramdapesquisa237funcionáriosdeumainstituição bancária.Osresultadosindicaramqueainterferênciafamília-trabalhoinfluenciaoestresseocupacional,sendoquequanto maioroescoredeinterferência,maioroestresse.Sugere-sequeainterferênciafamília-trabalhopossafavorecerdiretamenteo aparecimentodeestressoresorganizacionaiseorientarcogniçõeseafetosqueinfluenciemapercepçãodedemandasdotrabalho comoestressores.Osvaloresdotrabalhonãoapresentaramrelaçãocomoestresseocupacional,oquepodeserdecorrente doinstrumentoutilizadoparaavaliaroestresseoudamaiorimportânciadessesvaloresnaescolhadaprofissão.Limitaçõese orientaçõesparapesquisasfuturassãoapresentadasnotexto.
Palavras-chave:estresseocupacional;valoresdotrabalho;interferênciafamília-trabalho.
ImpactofWorkValuesand
Family–WorkInterferenceonOccupationalStress
ABSTRACT−Theobjectiveofthisresearchwastoinvestigatetheinfluenceoffamily-workinterferenceandworkvalues onoccupationalstress.Threeinstrumentswereusedtocollectdata:WorkStressScale,theWork-FamilyInteractionScale andtheWorkValuesScale.Theinstrumentswereadministeredto237workersofabankinginstitution.Theresultsshowed thatthefamily-workinterferencedidinfluenceonoccupationalstressinthesensethathigherscoresoninterferencewere correlatedwithhigherstress.Theauthorssuggestthatfamily-workinterferencecandirectlycontributetotheemergenceof organizationalstressorsandinfluencecognitionandaffectsthatcanhaveanimpactontheperson’sperceptionofjobdemands asstressors.Workvalueshadnorelationwithoccupationalstress.Thiscouldbeexplainedbytheinstrumentusedtoevaluate occupationalstressortheimportancegiventoworkvaluesintheprocessofprofessionalchoice.Limitationsandorientations tofutureresearcharepointed.
Keywords:occupationalstress;workvalues;family-workinterference.
o estresse ocupacional como um processo concebido por estressoreserespostasecomoumconceitorelacional,oqual enfocaarelaçãoentreoambientedetrabalhoeosujeito. Istopodeserobservado,porexemplo,nateoriadeLazarus (1995), na teoria cibernética do estresse (Edwards, 1992) enateoriadeajustamentopessoa-ambientedeEdwardse Cooper(1990).
Lazarus(1995)propõequeoestresseocupacionalocorre quandooindivíduoavaliaasdemandasdotrabalhocomo excessivasparaosrecursosdeenfrentamentoquepossui.O estressenãoseriaumapropriedadedapessoaoudoambiente, maspoderiasedesenvolverapartirdaconjunçãodeumtipo particulardeambientecomumtipodeterminadodepessoa. Pressãodetempo,sobrecargadetrabalho,faltadeautonomia econflitoscomsuperiorescertamentesãoestressoresparaum grandenúmerodetrabalhadores,masnãonecessariamente paratodos.Certostiposdepessoas,comoaquelasquetêm tendênciaàdepressão,porexemplo,teriamtendênciaareagir maisvezesoumaisintensamenteaosestressoresorganiza-cionais,oqueresultariaemproblemascomoabsenteísmo, baixodesempenhoedisfunçõesemocionais.
Ateoriacibernética(Edwards,1992)temcomoprincípio básicoonegativefeedbackloop,emqueumindivíduorecebe Muitos esforços têm sido alocados para investigar
va-riáveisqueinfluenciamoestresseocupacional,fenômeno constantemente associado à saúde do trabalhador e ao desempenhoorganizacional.Basicamente,oestresseocupa-cionalpodeserdefinidocomênfasenosfatoresdotrabalho queexcedemacapacidadedeenfrentamentodoindivíduo (estressoresorganizacionais)ounasrespostasfisiológicas, psicológicasecomportamentaisdosindivíduosaosestres-sores(Jex,1998;Jones&Kinman,2001).
informaçõesdoambienteeascomparacomumcritériode referênciarelevante.Seacomparaçãoindicaumadiscrepân-ciaentreoambientepercebidoeocritériodereferência,o indivíduotentaalteraroambienteparadiminuirouelimi-naradiscrepância.Esteprocessopodeseriniciadoporum distúrbionoambienteouporumamudançanocritériode referênciadoindivíduo.Oestresseocupacional,nateoria cibernética,podeserentendidocomoumadiscrepânciaentre umasituaçãopercebidapeloempregadoeumasituaçãodese-jada,desdequeapresençadadiscrepânciasejaconsiderada importantepeloempregado.
Com relação à teoria de ajustamento pessoa-ambiente (person-environmentfit), EdwardseCooper(1990)opera-cionalizamoestresseocupacionalcalculandoadiscrepância entreoqueoindivíduopercebeeoquedesejadeváriosas-pectosdocontextodotrabalho.Aidéiaportrásdestateoriaé dequeocomportamentoseriaumafunçãodainteraçãoentre apessoaeoambiente,sendoqueumaspectodestarelação consistirianograuemqueoindivíduoajusta-seàsituação. Tantoateoriadeajustamentopessoa-ambiente(Edwards& Cooper,1990)quantoateoriacibernética(Edwards,1992) consideramoestresseocupacionalcomoumarelaçãoentre oindivíduoeseuambientedetrabalho,caracterizadapor uma discrepância entre o que o indivíduo deseja e o que percebecomosendoreal.Ateoriacibernética,porém,res-saltaocritériodereferênciarelevantedoindivíduo,istoé, apresençadadiscrepânciadeveserconsideradaimportante peloempregado.
Entreavariedadedeteoriasqueconceituamoestresse ocupacionalcomoumprocessoeenfocamseucaráterrela-cional,temhavidoconsensoemconsideraraspercepções
individuais como mediadoras de suma importância do impactodoambientedetrabalhosobreasrespostasdoindi-víduo(Cooper,Dewe&O’Driscoll,2001;Edwards,1992; Edwards&Cooper,1990;Jex,1998;KahneByosiere,1992; Lazarus, 1995). Paschoal eTamayo (2004) conceituam o estresseocupacionalcomoumprocessoemqueoindivíduo percebedemandasdotrabalhocomoestressores,osquais, aoexcedersuahabilidadedeenfrentamento,provocamno sujeitoreaçõesnegativas.Estadefiniçãofoiconsideradapara abordaroestresseocupacionalnopresenteestudo.
Variáveisqueinfluenciamoestresseocupacional
Sendoapercepçãodasdemandascomoestressoresum elemento central para a compreensão do estresse, faz-se relevanteoestudodevariáveisquepodemterimpactoneste processo.Nasduasúltimasdécadas,inúmeraspesquisastêm investigadovariáveisdenaturezasituacionalepessoalque podeminfluenciaroestresseocupacional.
No âmbito das variáveis situacionais, o suporte social encontradodentroeforadotrabalhotemsidoconstantemente associadoaoestresseocupacional.Estudosapontamquea presençaderedessociaisqueoferecemsuporteaotrabalho melhoraaavaliaçãodoempregadosobresuasaúdeecorrela-ciona-senegativamentecomoestresse(Browner,1987;Iwata &Suzuki,1997).SegundoTamayo,LimaeSilva(2002),o impactodosuportesocialsobreoestresseocupacionalpode serbenéficoouprejudicial,dependendodaqualidadedesta dimensãonavidacotidianadaorganização.Quandoosuporte
socialestábemdesenvolvidonaorganização,eletemum efeitoprotetorquesemanifestaembaixosníveisdeestresse, ouseja,quantomaioroníveldesuportesocialnoambiente organizacional,menoroníveldeestressenotrabalho.Por outrolado,quandoosuportesocialéinexistenteoudeficitário naorganização,estefatortransforma-senumestressor.
Variáveissituacionaisquenãoserestringemaaspectos organizacionais, como a atividade física regular, também parecem ter uma influência sobre o estresse ocupacional (Tamayo,2001).Trabalhadoresquenãopraticamexercícios físicosregularmentetendemaapresentarumníveldeestresse superior.Oexercíciofísicoregulardesenvolveocondicio-namentocardíacoqueprovoca,nacorrentesanguínea,uma redução de substâncias associadas ao estresse.Além da dimensãofisiológica,destaca-seadimensãopsicossocialde váriasmodalidadesdeatividadefísica,sendoqueainteração socialeacomunicaçãointerpessoalpodemservirdeestraté-giasparalidarcomsituaçõesestressantes(Tamayo,2001).
Ainteraçãoentretrabalhoefamíliatambéméalvodo interessedepesquisadoresdaárea.Paraalgunsautores,a existência de conflito entre papéis desempenhados nessas duasdimensõespodesertratadacomoumestressororgani-zacional(Cooper,Sloan&Williams,1988).Considerando-se osestressoresorganizacionaiscomodemandasdoambiente detrabalhoqueexigemrespostasadaptativasporpartedo empregadoequeexcedemsuahabilidadedeenfrentamento, aspectosdarelaçãoentretrabalhoefamíliapodemsertrata-doscomovariáveissituacionaisqueinfluenciamoestresse ocupacional.Istoporquenãoserestringemademandasdo ambientedetrabalho,maspodeminfluenciarapercepção dosestressores.Namaioriadasvezes,investigam-sequais impactosoestresseocupacionalpodeternafamíliaecomo sedáesseprocesso(Perry-Jenkins,Repetti&Crouter,2000). Adireçãocontrária,porém,tambémpodeserestabelecida, ouseja,dequemodoacontecimentosnafamíliapodemter impactonavidaprofissionaldoindivíduo(Frone,Yardley& Markel,1997;MacEwen&Barling,1994),oquetemsido menosexplorado.
Comoapontadoanteriormente,característicasindividuais dostrabalhadorestambémtêmpermeadoosestudosnaárea. DeacordocomKahneByosiere(1992),aconsideraçãode característicasediferençasindividuaisparaoentendimento docomportamentohumanoéumfenômenoantigo.Naárea deestresseocupacional,apesardeaênfaseresidirnoestilo de enfrentamento (estilo decoping)do empregado frente aoseventosestressores,variáveiscomoolocusdecontrole, opadrãodecomportamentotipoAeaauto-estimatambém têmchamadoaatençãodospesquisadores.
Quantoaolocusdecontrole,asuposiçãogeralédeque pessoascomlocus decontroleinternorespondemaoestres-sediferentementedaquelascomlocusdecontroleexterno (Marino&White,1985).Aquelesorientadospelainternali-dadetendemaagircontraasfontesdeestresseeprovidenciar formas de minimizar seus efeitos, enquanto aqueles mais externoscomportam-sedeformamaispassiva,ficandomais suscetíveisaoimpactodosestressores.
tipo B, trabalhando em condições semelhantes (Caplan & Jones, 1975; Jamal, 1990).Algumas pesquisas, porém, não têm encontrado efeito do comportamento tipoA so-bre o estresse ocupacional (Kirmeyer & Diamond, 1985; Schmied&Lawler,1986).SegundoKahneByosiere(1992), a divergência entre esses estudos deve-se à utilização de instrumentospoucoconfiáveisdecomportamentotipoAe medidaslimitadasdeestressoresorganizacionaiserespostas negativasdostrabalhadores.Paraosautores,parecequeo comportamentotipoAcorrelaciona-seapenascomalguns tipos de estressores, como aqueles referentes ao relacio-namentointerpessoalnotrabalho,edeterminadostiposde respostas,comoansiedade.Dessaforma,afaltadecorrelação entrepadrãodecomportamentoeestresseocupacionalpode ocorrerquandoamedidadeestressenãoenglobaestressores derelacionamentoeconseqüênciascomoansiedade.
Outra variável pessoal considerada nos estudos sobre estresseocupacionalconsistenaauto-estima.SegundoKunda (1999),aauto-estimapodeserdefinidacomoumconstruto estável que influencia as estratégias cognitivas utilizadas peloindivíduonoprocessamentodeinformaçõesrelevantes sobresimesmoesuasreaçõesaessasinformações.Segundo Tamayo(2001),aauto-estimadesempenhaumafunçãoim-portantenaproteçãodoselfe,quandoelevada,constitui-se numfiltroprotetorqueselecionaasinformaçõesreferentes aoindivíduo.Nosestudossobreestresse,aauto-estimatem sidovistacomoumrecursoparaoprocessodeenfrentamento, capazdeinfluenciaraavaliaçãodoseventoseoscomporta-mentosemitidosparalidarcomosestressores.SegundoJex eElacqua(1999),indivíduoscombaixaauto-estimatendem autilizarformasmaispassivasdeenfrentamento,oquefaz comquefiquemmaisvulneráveisaosefeitosdosestressores. Nogeral,parecehaverumacorrelaçãopositivaentrebaixa auto-estimaealtosníveisdeestresseocupacional.
Outras variáveis pessoais também foram relacionadas aoestresseocupacional,comoporexemplo,asprioridades axiológicas do indivíduo. Inúmeros estudos têm demons-tradoopapelpreditivodosvaloressobreocomportamento organizacional. Considerando as prioridades axiológicas comoprincípiosemetas,organizadoshierarquicamente,que orientamaformadepensaredeagirdoindivíduo,Tamayo (2001)investigouarelaçãoentreasprioridadesaxiológicas eosníveisdeestresseocupacional.Deztiposmotivacionais foramconsideradosnamedidadevalores.Oautorverificou queoníveldeestressefoimaiorparaindivíduoscommaior escorenostiposmotivacionaisrealizaçãoehedonismo.Estes doistiposmotivacionaisexpressaminteressesindividuaise sãoadjacentes,oquesignificaquetêmmetascompatíveis. SegundoTamayo(2001),“ametadosvaloresderealização é a procura de sucesso pessoal obtido por meio de uma demonstraçãodecompetênciapessoalreconhecidasocial-mente; a meta dos valores de hedonismo é a procura de prazeredegratificaçãosensual”(p.139).Deacordocom apesquisadeTamayo(2001),ossujeitosqueenfatizama realizaçãopessoaleohedonismo,sãomaissuscetíveisao estressenotrabalho.
Apartirdarevisãodasvariáveisquepredizemestresse ocupacional, lacunas podem ser apontadas. Por exemplo, quantoaonívelsituacional,sabe-sequerelaçõesentretra-
balhoefamíliapodemajudarnacompreensãodefenôme-nosorganizacionais,masnaáreadeestresseocupacional, enfocam-se os impactos ou as interferências do ambiente detrabalhosobreafamília.Noâmbitoindividual,arevisão deliteraturanoBrasilapontouumaúnicapesquisa,járefe-ridaanteriormente,relacionandovaloreseestresse,aqual demonstrouaimportânciadosvalorespessoaisnapercepção doestresseocupacional(Tamayo,2001).Nãoforamencon-trados,porém,estudosrelacionandooestresseocupacional comosvaloresrelativosaotrabalho,maisespecíficosdesta esferadavidadoindivíduo.
Estapesquisa,portanto,tevecomoobjetivos:a)investigar oimpactodainterferênciafamília-trabalhosobreoestresse ocupacionaleb)investigaroimpactodosvaloresdotrabalho sobreoestresseocupacional.
Interferênciafamília-trabalho
Diversossãoosmodelosapresentadosparaexplicaras formasderelaçãoentretrabalhoefamília.SegundoEdwards eRothbard(2000),osmecanismosdeinteraçãoentreessas duas dimensões podem ser divididos em seis categorias: contaminação (trabalho e família são similares, havendo umimpactodeumadimensãosobreaoutra),compensação (ainsatisfaçãonumdomíniolevaapessoaaaumentarseu envolvimentoouprocurarrecompensasnooutro),segmen-tação(separaçãodotrabalhoedafamília,demodoqueum domínio não influencia o outro), escoamento de recursos (recursos como tempo, atenção e energia são limitados e aqueles despendidos num domínio ficam indisponíveis paraoutro)econflito(demandasdotrabalhoedafamília são mutuamente incompatíveis, de modo que cumprir as demandas em um domínio dificulta o cumprimento em outro).Comexceçãodosmodelosdeconflito,quecontam com dados mais consistentes, muitos dos modelos ainda costumamsertratadosemnívelteóricoecarecemdedados empíricos.Apesar disso, parece haver consenso entre os autoressobreduasformasbásicasderelaçãoentreasduas esferas.A primeira diz respeito ao impacto do trabalho sobreafamíliaeasegundarefere-seaoimpactodafamília sobreotrabalho(Frone,Russell&Cooper,1992;Kelloway, Gottlieb&Barham,1999).Osdeterminantesdanaturezados impactoscausadospelacombinaçãodotrabalhodoméstico eprofissionalincluemasdemandasemcadaesfera,onível deapoiocomoqualoindivíduopodecontarparaatender àsresponsabilidadesnasduasesferaseosmecanismosde apoioexistentesnacomunidade.
negativos de uma esfera sobre outra e os efeitos sobre o indivíduo,suafamíliaeseuambientedetrabalho.
Segundo Perry-Jenkins e cols. (2000), estudos que se preocuparameminvestigarosimpactosdafamíliasobretra-balhosugeremquerelaçõesfamiliaresconturbadaseestresse relacionadoàvidaconjugaltendemaserelacionarpositiva-mentecomabsenteísmoenegativamentecomdesempenhono trabalho.Froneecols.(1997)eMacEweneBarling(1994) investigaramarelaçãoentreconflitosdefamíliacomtrabalho ecomportamentosorganizacionais.Osresultadosmostraram quequandoacontecimentosedemandasfamiliarescomeçam ainterferirnasdemandasdotrabalhoeentraremconflitocom elas,odesempenhonotrabalhotendeadiminuir(Frone& cols.,1997)eodesgastenotrabalhoaaumentar(MacEwen &Barling,1994).
Tamayoecols.(2002)investigaramopoderpreditivoda interferênciadotrabalhonafamíliaedafamílianotrabalho sobreoautoconceitoprofissional.Esteconstrutorefere-seà percepçãodoindivíduosobresimesmoemrelaçãoaotra-balhoqueexecuta.Asdimensõesavaliadasdoautoconceito profissional foram: segurança profissional (percepção do indivíduosobresuasegurançadiantedesituaçõesdiferentes enovasnotrabalho);realizaçãoprofissional(percepçãodo indivíduosobresuasaspiraçõeseideaisrealizadospormeio do trabalho executado); saúde no trabalho (percepção do indivíduosobrecomootrabalhoouosfatosqueoenvolvem podemafetarsuasaúdefísicaemental)ecompetênciano trabalho(percepçãodoindivíduosobresuacompetênciano trabalhoesuacontribuiçãoparaaorganizaçãoemquetra-balha).Asaúdenotrabalhofoiexplicadapelainterferência trabalho-família.Ainterferênciafamília-trabalhoexplicou osfatoressegurançaprofissionalecompetêncianotrabalho. Emtodososcasos,observou-seumarelaçãonegativaentre asvariáveisindependenteseasdependentes,oquesignifica quequantomaisosacontecimentosdotrabalhointerferem nafamília,menorapercepçãodesaúdenotrabalhoequanto maisosacontecimentosnafamíliainterferemnarealização dotrabalho,menorapercepçãodesegurançaecompetência profissional.
Considerandoosdadosquesugeremqueinterferênciasda famílianotrabalhotêmimpactonocontextoorganizacional, foramselecionadasduashipótesesparaestapesquisa:
Hipótese1:édequeainterferênciadafamílianotraba-lhodeveráserelacionarcomoestresseocupacional,sendo quequantomaioroescoredeinterferência,maioroestresse. Éconvenientedestacarquenãoforamestabelecidasrelações entreacontecimentosisoladosnafamília(comoporexemplo, oestressenafamília,asobrecarganafamíliaeasatisfaçãona família)eoestresseocupacional.Enfocou-seumtipoespecí-ficodeinteraçãotrabalho-família:ainterferênciadafamília notrabalho,umtipodeinteraçãoemqueeventosgeradosna famíliacomeçamaatrapalhararealizaçãodotrabalho.Na pesquisarealizadaporFroneecols.(1992),observou-seque experiênciasfamiliaresisoladas(comoestressoresfamiliares ecomprometimentocomdeveresdomésticos,porexemplo) nãoestavamdiretamenterelacionadascomexperiênciasno trabalho.Estaserammodificadasquandoosacontecimentos dafamíliaentravamemconflitocomdemandasdotrabalho, deformaqueexperiênciasnegativasnotrabalhoerammais comunsquandohaviaconflitodafamíliacomotrabalho.
Muitos teóricos, de variados campos de estudo, têm defendidoarelevânciadosvaloresparaacompreensãoepre-visãodeatitudesecomportamentos.Partindodopressuposto dequeotrabalhoéumdosaspectosbásicosnavidadoser humano,algunsestudosprocuramenfatizararelaçãoentre comportamentosevaloresrelativosaotrabalho.
Foiadotadonapresentepesquisaomodelodevaloresdo trabalhodePortoeTamayo(2003),desenvolvidoapartirdo modelodeRos,SchwartzeSurkiss(1999),oqualsebaseia naTeoriadeValoresdeSchwartz.ParaRosecols.(1999), valoresdotrabalhopodemserdefinidoscomocrençasso-bremetasecomportamentosdesejáveis,hierarquicamente organizadas,queguiamasavaliaçõessobreosresultadose ocontextodotrabalho,bemcomoaseleçãodealternativas detrabalho.SegundoPortoeTamayo(2003),assimcomo no caso dos valores pessoais, é possível estabelecer uma estruturadosvaloresdotrabalho,aqualrecebeusuportede pesquisas realizadas no Brasil. Essa estrutura constitui-se de quatro tipos de valores, os quais foram denominados derealização notrabalho,relações sociais,prestígioe estabilidade. O tipo motivacionalrealização notrabalho refere-seàbuscaderealizaçãopessoaleprofissional,bem comodeindependênciadepensamentoeaçãonotrabalho pormeiodaautonomiaintelectualedacriatividade.Como exemplo de valores pertencentes a esta categoria pode-se citar:trabalhointelectualmenteestimulante,terprazerno que faço,realizar um trabalhosignificativo para mime identificar-mecomotrabalho.Otipomotivacionalrelações
sociais refere-se à busca de relações sociais positivas no trabalhoedecontribuiçõespositivasparaasociedadepor meiodotrabalho.Exemplodevalores:auxiliaroscolegas
detrabalho,amizadecomcolegasdetrabalho,colaborar paraodesenvolvimentodasociedadeecombaterinjustiças sociais.Otipomotivacionalprestígiorefere-seàbuscade autoridade, sucesso profissional e poder de influência no trabalho.Comoexemplodevalores,pode-seapontar:obter posiçãodedestaque,terfama,supervisionaroutraspessoas
ecompetircomcolegasdetrabalhoparaalcançarasminhas metasprofissionais.Porfim,otipomotivacionalestabilidade
expressaabuscadesegurançaeordemnavidapormeiodo trabalho,possibilitandosuprirmaterialmenteasnecessida-des pessoais; esse tipo motivacional refere-se à busca de recompensasextrínsecasaotrabalho.Exemplodevalores:
estabilidadefinanceira,termelhorescondiçõesdevida,ser independentefinanceiramenteepodermesustentar.
deestressoresorganizacionaistemrelativosuporteteórico. Assim,asegundahipótesedestapesquisaé:
Hipótese2:osvaloresdotrabalhoterãoimpactosobre oestresseocupacional.
Método
Participantes
Participaramdapesquisa237funcionáriosdeumainsti-tuiçãobancária,entrehomens(64,6%)emulheres(35,4%), commédiadeidadede39,15anos(DP=7,41)egraude instruçãovariandodesegundograucompleto(8,0%)ater-ceirograucompletooupós-graduação(70,1%).Dentreos participantes,71,3%eramcasadose16,5%,solteiros,sendo que74,3%tinhamfilhos.Amédiadetempodeserviçona organizaçãofoide17,1anos(DP=7,11).Quantoàfunção desempenhada, 35, 4% eram analistas, 30,0%, gerentes e 19,4%eramassessores,sendoqueorestantedividiu-seentre assistenteseoutroscargosadministrativos.
Instrumentos
Utilizou-se um questionário composto a partir de três escalas:EscaladeEstressenoTrabalho,EscaladeInteração Trabalho-FamíliaeEscaladeValoresRelativosaoTrabalho.
AEscaladeEstressenoTrabalho,validadaporPaschoale Tamayo(2004),écompostapor23itens,osquaisformam umúnicofator.Consistenumamedidageraldeestresse,cujos itens abordam estressores variados e reações emocionais constantementeassociadasaosmesmos.Ositensdeveriam ser avaliados de acordo com uma escala de concordância de cinco pontos (1 – discordo totalmente a 5 – concordo totalmente), sendo que quanto maior a pontuação, maior oestresse.Oíndicedeconfiabilidadedaescala–alphade Cronbach(α)–foide0,93.
Paraavaliarainterferênciadafamílianotrabalho,uti-lizou-seaEscaladeInteraçãoTrabalho-Família,validada porPaschoal,TamayoeBarham(2002).Esteinstrumentoé compostopordoisfatores:impactodafamíliasobreotraba-lhoeimpactodotrabalhosobreafamília,ambosenfocando asinterferênciasdeumsobreoutro.Cadafatoréformado porseteitensquedeveriamserrespondidosapartirdeuma escala de freqüência que variava de 1 (nunca) a 5 (quase sempre). Para este estudo, foram avaliadas as respostas referentesaofatordeinterferênciadafamílianotrabalho,o qualapresentouumαde0,76.
Osquatrotiposdevaloresdotrabalhoforamavaliados pormeiodaEscaladeValoresRelativosaoTrabalho ,vali-dadaporPortoeTamayo(2003)ecompostapelosseguintes fatores:realizaçãonotrabalho(αde0,89);relaçõessociais (αde0,90);prestígio(αde0,83);estabilidade(αde0,81). Aotodosão45itensquedeveriamserrespondidosdeacor-docomumaescaladeimportânciaquevariavade1(nada importante)a5(extremamenteimportante).
Procedimento
Acoletadedadosfoirealizadanocentrodetreinamento daorganizaçãoparticipantedapesquisa.Osquestionários
foramaplicadoscoletivamenteemfuncionáriosquepartici-pavamdealgumtreinamentooferecidopelaempresa.Um pesquisadorentravanasaladetreinamento,geralmenteapós ointervalo,edistribuíaosquestionáriosparaosparticipantes. Osquestionárioseramrespondidose,emseguida,devolvi-dosaopesquisador.Critérioséticosforamconsiderados:os participantes foram informados da natureza da pesquisa, podiamoptarporparticiparounãoetiveramseuanonimato garantido.
Análisedosdados
Comonãohaviainformaçõesteóricase/ouempíricaspara preverquaisdasvariáveisindependentesseriampreditoras davariáveldependente,foirealizadaumaregressãomúltipla
Stepwise. Na regressãoStepwise, a ordem de entrada das variáveis está baseada exclusivamente em critérios esta-tísticos,semnenhumaintervençãodecritériosteóricosou depreferênciasdopesquisador.Avariáveldependentefoi oestresseocupacionaleasvariáveisindependentesforam osquatrofatoresdosvaloresdotrabalhoeainterferência família-trabalho.Realizou-setambémTeste-t.
Resultados
Emrelaçãoaoestresseocupacional,amédiadaamostra foide2,59(DP=0,77;mínimode1,05emáximode4,64). A média para a interferência família-trabalho foi de 1,95 (DP =0,48).Paraosvaloresdotrabalhoforamencontra-dos os seguintes resultados:estabilidade (média de 4,28;
DP = 0,50);realização no trabalho (média de 4,21;
DP=0,45);relaçõessociais(médiade3,87;DP=0,63);
prestígio(médiade2,72;DP=0,79).
Os resultados da regressão múltipla mostraram que somenteavariávelinterferênciafamília-trabalhoexplicou a variável estresse ocupacional.A correlação entre essas duas variáveis foi positiva e oR2ajustado foi de 0,084
(p<0,001).Osvaloresdotrabalho(realizaçãonotrabalho,
relaçõessociais,prestígioeestabilidade)nãoentraramno modelodepreditores.ATabela1apresentaoscoeficientes de regressão não padronizados (B), os coeficientes de re-gressãopadronizados(β),oR2eoR2ajustadoemrelaçãoà
interferênciafamília-trabalho.
Tabela 1.Regressão da variável interferência família-trabalho sobre o estresseocupacional
Variávelpreditora B β R2 R2
ajustado
Interferênciafamília-trabalho 0,452 0,297 0,088 0,084
masnãoseconstatoudiferençasignificativaentreosgrupos comescoresaltoebaixodeestresseocupacional.
Discussão
Hipótese1
Oprimeiroobjetivodestapesquisaconsistiueminves-tigar o impacto da interferência família-trabalho sobre o estresseocupacional.Ahipóteseformuladaparaestaques-tãofoidequeainterferênciadafamílianotrabalhoestaria positivamente relacionada com o estresse ocupacional, ou seja, quanto maior o escore de interferência família-trabalho,maiorodeestresse.Osresultadosencontrados confirmaramessahipóteseevãoaoencontrodepesquisas anterioressobreotema.
Por um lado, a interferência família-trabalho pode ter umaparticipaçãodiretanoprocessodoestresseocupacio-nal.Ositensqueavaliaramainterferênciafamília-trabalho enfocarameventoscomo:mudarosplanosnotrabalhopara atenderacompromissosfamiliares,sairmaiscedodotrabalho pararesolverproblemasemcasaetrabalhardemauhumor pensandonafamília.Interferênciasdestetipopodemcompro-meteroplanejamentoeaexecuçãodetarefasprofissionais, deixandoestassuscetíveisaacontecimentosqueindependem davontadedoindivíduo.Este,porsuavez,temdemandasa cumprir,masdepara-secomacontecimentosfamiliaresque interrompemseutrabalhoelimitamsuaatuação.Estasitu-açãopodefavorecerdesentendimentosentreofuncionário esuachefia,entreofuncionárioecolegasquetêmtarefas interligadasecomprometeraqualidadeeaquantidadede trabalhorealizado.
Todos esses eventos constituem potenciais estressores ligados a problemas de relacionamento interpessoal no trabalho e a sobrecargas qualitativa e quantitativa.Além disso, as interferências família-trabalho podem fazer com queoindivíduoperceba-secompoucocontrolesobresuas responsabilidadesprofissionais,oquepodeseconstituirem outroestressororganizacional.Destaforma,ainterferência família-trabalhoestariafavorecendo,diretamente,oapare-cimentodeestressoresorganizacionais.
Por outro lado, a interferência família-trabalho pode atuarindiretamentenoprocessodeestresse,favorecendoo aparecimentodeafetosnegativos,comoirritaçãoeansiedade, quepodempredisporotrabalhadoraperceberoseventosor-ganizacionaiscomoestressores.Pesquisastêmmostradoque oestadodehumordoindivíduopodeinterferirnosjulgamen-tosdassituaçõescomquesedepara(Kunda,1999).Assim, umdesentendimentocomumsuperior,umadificuldadeem realizarumatarefamaiscomplexaeaexistênciadetarefas ambíguasouconflituosas,porexemplo,podempassaraser percebidoscomoestressores.
Nestapesquisa,aporcentagemdevariânciadoestresse ocupacionalexplicadapelainterferênciadafamíliasobreo trabalhofoimodesta(8,4%).Este,noentanto,consisteem umresultadocoerentecomaconceituaçãodavariáveldepen-dente.Emprimeirolugar,oestresseocupacionalconfigura-se como um fenômeno complexo, um processo que abrange diferentesvariáveisinterligadas,pessoaiseorganizacionais. Ummodeloqueexplicassemelhoroestresseocupacional
deveriaincluirumaquantidadedevariáveispreditorasmaior do que a considerada neste estudo. Em segundo lugar, o estresse ocupacional é basicamente determinado por con-diçõesdotrabalho,pordemandasquepodemseconstituir como estressores organizacionais. Juntas, as variáveis do ambientedetrabalhodevemexercerumimpactoimportante sobreoestresseocupacional.Nesteestudo,abordou-seuma variável situacional não restrita ao ambiente de trabalho, masqueabrangiaacontecimentosdoâmbitofamiliardavida dosindivíduos.Considerando-seaimportânciadasvariáveis organizacionaisparaofenômenoemquestão,oresultado encontrado para a interferência família-trabalho pode ser consideradorelevante,poissetratadevariávelextra-trabalho quetemumimpactoemexperiênciasrelativasaotrabalho.A explicaçãode8,4%devariânciaindicaqueacontecimentos familiares,quandocomeçamainterferirnotrabalho,podem serfavorecedoresdoaparecimentodeestressoresorganiza-cionaise/oupotencializarpercepçõeseafetosqueorientam aavaliaçãodeeventoslaboraiscomoestressores.
Hipótese2
Osegundoobjetivodestapesquisaconsistiueminves-tigar o impacto dos valores do trabalho sobre o estresse ocupacional.Ahipóteseformuladaparaestaquestãofoia dequehaveriarelaçãoentrevaloresdotrabalhoeestresse ocupacional. Os resultados encontrados não sustentaram essahipótese.
Asuposiçãodequeosvaloresdotrabalhoteriaminfluên-ciasobreoestresseocupacionalpartiudadefiniçãodaquele construto,segundoaqual,osvaloresdotrabalhosãocrenças sobre metas e comportamentos desejáveis que guiam as avaliaçõesdoindivíduosobreocontextodotrabalho.Dado queoestresseocupacionaldependedaavaliaçãoedojulga-mentodoindivíduoemrelaçãoaoseventosorganizacionais como estressores, esperava-se que os valores do trabalho pudessemteralgumarelaçãocomapercepçãodoestresse ocupacional.
Emsuarevisãosobrearelaçãoentrecomportamentotipo Aeestresseocupacional,KahneByosiere(1992)salientam as divergências entre os estudos que abordam esses dois construtoseapontam,comoumadasjustificativasparaessa inconsistência,autilizaçãodemedidasdiferenteselimitadas deestressoresorganizacionais.Paraosautores,ainfluência docomportamentotipoAsobreoestresseocupacionalocorre apenascomalgunstiposdeestressores.Hápossibilidadede que,conformesugeridoporKahneByosiereemrelaçãoao comportamentotipoA,osvaloresdotrabalhotambémse correlacionemcomestressoresorganizacionaisespecíficos.
considerados estressores relativos ao desenvolvimento na carreiraeautonomianotrabalho.
Algumaspesquisassobrevaloresdotrabalhoecompor-tamentosorganizacionaistêmencontradocorrelaçõesbaixas entreasduasvariáveis.Konrad(2002),porexemplo,investi-gouarelaçãodosvaloresdotrabalhocomaparticipaçãode homensemulheresemempregoremuneradoecomacarga horária de trabalho semanal. Quanto à prática ou não de trabalhoremunerado,foramconstatadasassociaçõesfracas comosvaloreslaborais.Estestiveram,nocasodasmulheres, impactosobreonúmerodehorastrabalhadasporsemana, aindaquesetenhamcaracterizadocomopreditorespobres quandovariáveisdemográficaseresponsabilidadesfamiliares foramcontroladas.ArciniegaeGonzález(2002)avaliarama influênciadosvaloresdotrabalhosobreodesenvolvimento do comprometimento organizacional. Os dados revelaram quecadadimensãodestavariávelerapreditapordiferentes dimensõesdevalores.Osautoressalientam,porém,quea satisfação no trabalho e fatores organizacionais, como o conhecimentodasmetasdaorganização,apresentaramvalor preditivomaisforte.
Hápossibilidadedequeosvaloresdotrabalhotenhamum papelpreditivorelevantenoprocessodeescolhaprofissional. O indivíduo avalia qual profissão ou emprego representa uma oportunidade para alcançar as metas que considera relevantes,ouseja,quaismetaspodemseralcançadaspor meiodedeterminadotrabalho.Porexemplo,umindivíduo queatribuamaiorimportânciaaotipomotivacionalestabili-dadeiráprocurarprofissõesouempregosqueofereçamum salárioquesatisfaçasuasnecessidadesmateriaiseofereçam estabilidade. Esses aspectos da profissão ou do emprego serão mais valorizados do que aspectos como autonomia, possibilidade de exercer a criatividade, exercer influência sobreosoutrosecolaborarcomcolegasdetrabalhoecoma sociedadeemgeral,osquaisrepresentamvaloresdosoutros trêstiposmotivacionais.
Pode-sesuporqueapartirdomomentoemqueoindiví-duoescolheotrabalhoquevaidesenvolver,entreasopções quetemdisponíveis,ecomeçaafazê-lo,asmetassãoal-cançadas.Épossívelque,paraosrespondentesdapesquisa, asmetasreferentesaotrabalhojátenhamsidoalcançadas quandoelesentraramnaorganizaçãoecomeçaramadesen-volversuasatividades,sendoqueoestresseocupacionalnão seriainfluenciadopelosvaloresdotrabalho.Particularmente, considerandoamédiadetempodeserviçodaamostraquefoi equivalentea17,1anos.Estasuposiçãonãoquerdizerqueos indivíduosacomodem-sedepoisdeseguirumaprofissãoou conseguirumempregoquevaiaoencontrodeseusvalores dotrabalho;tambémnãoquerdizerquedepoisdeumcerto tempo de serviço, os indivíduos não desenvolvam novos interessesoucontinuemavaliandosituaçõesdetrabalhode acordocomseusvalores.Asuposiçãoaquiapresentadasuge-requeseoindivíduoentrounumempregoquesatisfazsuas metas,ouseja,seelealcançousuasmetasquandocomeçoua trabalharemdeterminadoempregoecontinuadesenvolvendo taltrabalho,essasmetascontinuamsendosatisfeitas.Dessa forma,aavaliaçãodedemandasdetrabalhocomoestressores sofreria pouca influência de valores do trabalho, os quais teriamumimpactomuitomaisimportantenaescolhados caminhosprofissionaisaseremtraçados.
Demodogeral,osestudossobreosvaloresrelativosao trabalhoesobresuarelaçãocomvariáveisorganizacionais começaramacrescerapartirdaúltimadécada.Sórecen-temente,Rosecols.(1999)desenvolveramumateoriade valores relativos ao trabalho compatível com a teoria dos valoresbásicosindividuaisdeSchwartze,posteriormente, PortoeTamayo(2003)adaptaramomodeloparaoBrasil, desenvolvendoevalidandouminstrumentodemedidapara oconstruto.Assim,foramencontradospoucosestudossobre arelaçãoentrecomportamentosepercepçõesnotrabalhoe osvaloreslaboraise,principalmente,estudosquetivessem utilizadoumateoriadevaloresdotrabalhointegradaauma teoriadevaloresindividuaisbásicos.Quantoàrelaçãoentre valoresdotrabalhoeestresseocupacional,nãoforamen-contradaspesquisasanteriores,oqueimpedeacomparação deresultados.ApesquisadeTamayo(2001)queencontrou relaçãoentrevaloreseestresseocupacionalabordouosva-lorespessoaisbásicosenãoosvaloresdotrabalho.
Novaspesquisassobrevaloresdotrabalhoesobrearela-çãodestavariávelcomestresseocupacionalsãonecessárias para que haja comparação de resultados e elementos que possam fundamentar ou refutar as hipóteses apresentadas paraosresultadosencontradosnopresenteestudo. Pesqui-sas futuras poderiam também verificar se outros tipos de interaçãoentretrabalhoefamília,comoimpactospositivos da família sobre o trabalho, estariam relacionados com o estresseocupacional.
Referências
Arciniega,L.M.&González,L.(2002).Whatistheinfluenceof workvaluesrelativetoothervariablesinthedevelopmentof organizationalcommitment?.EmA.Sagie&M.Stasiak(Orgs.),
Workvaluesandbehaviourinaneraoftransformation,8th
Bi-annualConferenceoftheInternationalSocietyfortheStudyof
WorkandOrganizationalValues(pp.13-20).Poland:Academy
ofHumanitiesandEconomics.
Beehr,T.A.(1998).Researchonoccupationalstress:Anunfinished enterprise.PersonnelPsychology,51(4),835-844.
Browner,C.H.(1987).Jobstressandhealth:Theroleofsocialsupport atwork.ResearchinNursingandHealth,10(1),93-100. Caplan,R.D.&Jones,K.W.(1975).Effectsofworkload,role
ambiguity,andTypeApersonalityonanxiety,depression,and heartrate.JournalofAppliedPsychology,60(4),713-719. CARNET:TheCanadianAgingResearchNetwork(1993).Work
and family:The survey findings for the work and eldercare
researchgroup.Guelph,ON:author.
Cooper, C. L., Dewe, Ph. J. & O’Driscoll, M. P. (2001).
Organizationalstress:Areviewandcritiqueoftheory,research
andapplications.London:SagePublications.
Cooper,C.,Sloan,S.&Williams,S.(1988).Occupationalstress
indicatormanagementguide.London:ThorbayPress.
Edwards,J.R.(1992).Acybernetictheoryofstress,coping,and well-being in organizations.The Academy of Management
Review,17(2),238-274.
Edwards, J. R. & Cooper, C. L. (1990).The person-environment fitapproachtostress:Recurringproblemsandsomesuggested solutions.JournalofOrganizationalBehavior,11(4),293-307. Edwards, J. R. & Rothbard, N. P. (2000). Mechanisms linking
andfamilyconstructs.TheAcademyofManagementReview, 25,178-199.
Frone,M.R.,Yardley,J.K.&Markel,K.S.(1997).Developing andtestinganintegrativemodelofthework-familyinterface.
JournalofVocationalBehavior,50(2),145-167.
Frone,M.R.,Russell,M.&Cooper,M.L.(1992).Antecedents andoutcomesofwork-familyconflict:Testingamodelofthe work-familyinterface.JournalofAppliedPsychology,77(1),
65-78.
Iwata,N.&Suzuki,K.(1997).Rolestress–mentalhealthrelations in Japanese bank workers:A moderating effect of social support.AppliedPsychology:AnInternationalReview,45(2), 207-218.
Jamal,M.(1990).RelationshipofjobstressandtypeAbehavior to employee’s job satisfaction, organizational commitment, psychosomatic problems and turnover motivation.Human Relations,43(8),727-738.
Jex, S. M. (1998).Stress and job performance. London: Sage Publications.
Jex,S.M.&Elacqua,T.C.(1999).Self-esteemasamoderator: A comparison of global and organization-based measures.
Journal of Occupational and Organizational Psychology, 72(1),71-81.
Jones,F.&Kinman,G.(2001).Approachestostudyingstress.Em F.Jones&J.Bright(Orgs.),Stress:Myth,theoryandresearch
(pp.17-45).England:PrenticeHall.
Kahn,R.L.&Byosiere,P.(1992).Stressinorganizations.EmM. D.Dunnete&L.M.Hough(Orgs.),Handbookofindustrial
andorganizationalpsychology(pp.571-650).PaloAlto,CA:
ConsultingPsychologistsPress.
Kelloway,E.K.,Gottlieb,B.H.&Barham,L.(1999).Thesource, nature,anddirectionofworkandfamilyconflict:Alongitudinal investigation.Journal of Occupational Health Psychology, 4(4),337-346.
Kirmeyer,A.&Diamond,A.(1985).Copingbypoliceofficers:A studyofrolestressandtypeAandtypeBbehaviorpatterns.
JournalofOccupationalPsychology,52(3),277-285.
Konrad, A. M. (2002). The relationship of work values to employment,hoursofpaidwork,andfamilyresponsibilities:An analysiscomparingwomenandmen.EmA.Sagie&M.Stasiak (Orgs.),Workvaluesandbehaviourinaneraoftransformation, 8thBi-annualConferenceoftheInternationalSocietyforthe
StudyofWorkandOrganizationalValues(pp.234-240).Poland:
AcademyofHumanitiesandEconomics.
Kunda, Z. (1999).Social cognition. Making sense of people.
Cambridge:MITPress.
Lazarus,R.S.(1995).Psychologicalstressintheworkplace.Em R.Crandall,&P.L.Perrewé(Orgs.),Occupationalstress:A
handbook(pp.3-14).Washington,USA:Taylor&Francis.
MacEwen, K. E. & Barling, J. (1994). Maternal employment experiences affect children’s behavior via mood, cognitive difficulties,andparenting.JournalofMarriageandtheFamily, 56(2),507-510.
Marino,K.E.&White,S.E.(1985).Departmentalstructure,locus ofcontrol,andjobstress:Theeffectofmoderators.Journalof
AppliedPsychology,70(4),782-784.
Paschoal,T.&Tamayo,A.(2004).ValidaçãodaEscaladeEstresse noTrabalho.EstudosdePsicologia,9(1),45-52.
Paschoal,T.,Tamayo,A.&Barham,E.J.(2002).EscaladeInteração Trabalho-Família [Resumo]. Em Sociedade Brasileira de Psicologia(Org.),Resumosdecomunicaçõescientíficas,XXXII
Reunião Anual de Psicologia (pp. 318-319). Florianópolis:
SBP.
Perry-Jenkins,M.,Repetti,R.L.&Crouter,A.C.(2000).Work andfamilyinthe1990s.JournalofMarriage&theFamily, 62(4),981-999.
Polasky,L.J.&Holahan,C.K.(1998).Maternalself-discrepancies, inter-role conflict, and negative affect among married professional women with children.Journal of Family
Psychology,12(3),388-401.
Porto, J. B. &Tamayo,A. (2003). Escala de valores relativos ao trabalho–EVT.Psicologia:TeoriaePesquisa,19(2),45-152. Ros,M.,Schwartz,S.H.&Surkiss.S.(1999).Basicindividual
values, work values, and the meaning of work. Applied
Psychology:AnInternationalReview,48(1),49-71.
Schmied,L.A.&Lawler,K.A.(1986).Hardiness,TypeAbehavior, andthestressillnessrelationinworkingwoman.Journalof
PersonalityandSocialPsychology,51(6),1218-1223.
Tamayo,A. (2001). Prioridades axiológicas, atividade física e estresseocupacional.RevistadeAdministraçãoContemporânea, 5(3),127-147.
Tamayo,A., Lima, D. & da Silva,A.V. (2002).Impacto do
climaorganizacionalsobreoestressenotrabalho.Trabalho
apresentadonoXXVIEncontroNacionaldaANPAD,Salvador, Bahia.
Thompson,L.&Walker,A.(1989).Genderinfamilies:Womenand meninmarriage,workandparenthood.JournalofMarriage
andtheFamily,45(2),240-251.
Recebidoem07.06.2004 Primeiradecisãoeditorialem25.03.2005 Versãofinalem29.04.2005