ALGUMAS
PREMISSAS PARA
A
DEMOCRATIZACAO DA
ESCOLA
DE
1° SEGMENTO DE 1° GRAU
Inês Barbosa de Oliveira
Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Educação
Rio de Janeiro
Fundação Getúlio Vargas
Instituto de Estudos Avançados em Educação
A
Milton, por tudo que investimosjuntos na construção da nossa
autonomia e na do nosso filho, Bruno.
A
Brun6.2 - QUADRO TEORICO
2.1 - Q conceito materialista de história
2.2 - Q processo evolutivo das formaçÕes sociais
2.3 - Q sistema institucional
2.4 - A democratização e a construção da
6
6 11
19
autonomia e da consciência .. , ... 25
2.5 - O exercicio do poder
3 - ALGUMAS NOTAS SOBRE A FORHACAO SOCIAL BRASILEIRA
3.1 - Q exercicio do poder no Brasil
3.2 - A legislação educacional brasileira
4 - A INSTITUICAO KSCOLA
4.1 - CaracterizaçÃo da instituição
4.1.1 - O exercicio do poder na Escola
35 50 60 67 86 86 90
4.1.2 - As rela9ões de poder e a atividade pedagógica ... 93
4.2 - A transformaçÃo da Escola
4.2.1 - As normas de integra9ão social
4.2.2 - A transforma9ão das rela9ões de poder
98
99
103
4.2.3 - Autonomia, consciência e transforma9ão da Escola .. 110 ,
4.2.4 - A transforma9ão pedagógica
4.3 - A estrutura da Escola na Qual atuamos
5 - A PESQUISA DE CAMPO
5.1 - IntroducÃo
5.2 - Objetivos
5.3 - Metodologia da peSQuisa
5.3.1 - Campo pesquisado
5.3.2 - Apresenta9ão dos instrumentos
5.3.3 - O método analitico
5.6 - Registro dos dados colhidos ... .
5.6.1 - Análise dos questionários ... .
5.6.2 - Análise dos conjuntos de medidas ... .
5.6.3 - Análise das medidas uma a uma
5.7 - ConclusÕes
5.7.1 - Primeiro bloco
5.7.2 - Segundo bloco
5.7.3 - Terceiro bloco
6 -
CONSIDRRACORS FINAIS
143 149
149 153
158
198 198
201
205
213
ANRXOS
...
217na orientação deste trabalho.
A Bia, companheira de aprendizado e angústias, ao
longo das nossas horas de estudo.
A João, meu irmão e revisor, dedicado, atento e
cuidadoso.
A Gláucia, pelo carinho e atenção com os quais se
dispôs a ler e discutir os esboços deste trabalho.
A Valéria, Mara, José e Eliane, companheiros de
responsabilidades e sucessos, erros e frustrações durante todo
o trabalho na Escola.
A
importante
Juliana,
contribuição
tentamos realizar.
Márcia, Ana
ao trabalho
Maria
de
e Elaine,
democratização
pela
que
Aos professores que responderam ao questionário da
pesquisa de campo, viabilizando a realização deste trabalho.
Ao Laboratório de Análise de Segurança da Coordenação
dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (COPPE-Nuclear/UFRJ), por ter me
permitido utilizar seus ・アオセー。ュ・ョエッウ@ na composição gráfica
Heloisa Helena.
A Conceição e Marta que, cuidando do meu filho com
carinho e dedicação, me tranquilizaram para estudar e escrever
Este trabalho enfoca a democratização da instituição
Escola tanto do ponto de vista teórico quanto prático.
o
objetivo é, através da análise de uma situação real, colocada à luz de um quadro teórico, chegar à formulaçãode alguns principios norteadores de propostas de 、・ュッ」イ。エゥコ。セ ̄ッ@
da Escola de primeiro segmento do primeiro grau.
Assim, foi realizada uma pesquisa de campo, através
de um questionário aplicado a professores que participaram da
proposta efetivada em uma Escola pública do Sistema Federal de
Ensino.
Os resultados dessa pesquisa foram analisados à luz
do referencial teórico, o qual aborda a relação entre a
formação e a transformação social e a especificidade da
inserção da democratização da Escola no processo de
transformação. Com o intuito de clarificar as caracteristicas
especificas da Escola brasileira, são apresentadas também
algumas notas sobre a evolução da formação social brasileira e
da legislação educacional.
As conclusões da pesquisa e o estabelecimento das
bases sobre as quais devem se erguer propostas de transformação
da Escola - esta considerada como um momento especifico da
transformação social - encerram o trabalho.
Ce
l'instituitionque pratique.
travail envisage la démocratisation
Ecole, d'un point de vue théorique aussi
de
bien
11 a pour but d'arriver à formulation de quelques
principes concluisant à des propositions de démocratisation de
l'lcole du premier segment du premier degré.
Par conséquent, on a réalisé une recherche au moyen
d'un questionnaire soumis à des professeurs qui ont participé
au travail efectué dans une Ecole publique du Systeme Fédéral
d'Enseignement.
Les résultats de cette recherche furent analysés à
lumiere d'une référence théorique laquelle aborde le rapport
entre la formation et la transformation sociale e la
spécificité de l'insertion de la démocratisation de l'Ecole
dans le processus de transformation.
Afin de clarifier les caractéristiques spécifiques de
l'Ecole brésilienne on a également présenté quelques notes eur
l'evolution de la formation sociale au Brésil et de la
ャ←ァセウャ。エゥッョ@ dans le domaine de l'education.
Les conclusione dela recherohe et l'établissement
des bases sur lesquelles devront s'ériger les propositions de
transformation de l'Eco1e - oe1le-ci jugée oomme un moment
spécifique de transformation sociale - mettent terme à ce
1 - INTRODQCAO
Este trabalho de dissertação foi formulado com o objetivo de
fundamentais
apontar alguns aspectos para a democratização da
que Escola
consideramos de primeiro segmento de primeiro grau.
Ao longo da elaboração, partimos de algumas hipóteses a respeito da transformação social e da própria transformação da Escola.
Primeiramente, consideramos a transformação social como fruto de um processo evolutivo de aprendizagem social. Através deste, a sociedade desenvolve novas possibilidades de respostas aos seus problemas estruturais, que implicam na introdução de um novo principio organizacional e a conseqüente consolidação de novas formas de integração social.
Por seu lado, a aprendizagem social constitui-se em um processo bidimensional, de aprendizagem técnico-organizativa e prático-moral, do sujeito individual e coletivo agente da transformação. A primeira possibilita o desenvolvimento das
ヲッイセ。ウ@ produtivas, enquanto a 'segunda leva ao desenvolvimento
das normas e mecanismos reguladores do sistema e das estruturas de consciência.
encarna e reproduz, através de suas relaQões e práticas sociais
internas, as formas de integraQão social dominantes. Pela
transformaQão dessas práticas e relaQões, a Escola pode
contribuir para a acumulaQão de um potenoial cognoscitivo (nas
duas dimensões da aprendizagem) que possa ser utilizado pelo
sujeito social como resposta às crises sistêmicas.
Portanto, a contribuiQão da Escola ao processo de
transformaQão social reside na democratizaQão de suas práticas
e relaQões sociais internas e, sobre esta base, democratizaQão
da própria instituiQão, de modo a ampliar as possibilidades de
atuação politica autônoma e consciente do sujeito social agente
da transformaQão.
Na apresentaQão deste trabalho, procuramos partir das
formulações mais abrangentes, 0, num processo decrescente,
chegar ¢セ@ mais especificas. Assim, comeQamos a apresentaQão
pelo capitulo que contém o referencial teórico do trabalho,
naquilo que tange às nOQões de formaQão social, transformaQão
social, formaQão do sujeito social e seu papel histórico.
Nesse capitulo, o segundo, abordamos ainda a questão das
relações de poder e do sistema institucional das sociedades
capitalistas modernas. Sem pretender esgotar os temas
tratados, cremos que os referenciais colocados iluminam a
leitura dos demais capitulos, o que é um de seus objetivos.
No terceiro capitulo, procuramos colocar alguns dados
fundamentais a respeito do processo evolutivo do capitalismo no
referenciais do capitulo anterior e apontar os limites sociais
globais na 」ッョウエゥエオゥセ ̄ッ@ da Escola brasileira.
o
capitulo 4 trata da Escola propriamente dita. Nele, procuramos caracterizar a instituição, inserindo-a nocontexto social. Assim, numa primeira ウ・セ ̄ッL@ apresentamos a
configuração das relações de poder na Escola tanto no que se
refere à organizaQão institucional quanto de seus efeitos sobre a atividade pedagógica - sua 」ッョ」イ・エゥコ。セ ̄ッ@ nos aspectos
institucionais especificos. A partir dessa visão a respeito do
que a Escola é, procuramos, na segunda ウ・セ ̄ッL@ mostrar um
processo para a sua transformação, considerando os aspectos das
relações sociais internas e da prática pedag6gica. A
importância e o papel desse processo para a evolução social
global, também fazem parte dessa ウ・セ ̄ッN@
Ao final do capitulo, voltamo-nos para a instituição
na qual vimos エイ。「。セィ。ョ、ッL@ oaracterizando-a de modo global,
colocando o leitor a par da realidade institucional dentro da
qual desenvolvemos o nosso trabalho de pesquisa de campo.
A apresentação da pesquisa realizada, desde o
projeto, passando pela execução, análise de dados, até as
conclusões, consta do capitulo 5. As conclusões da pesquisa
abordam algumas
possibilidades e
Escola.
questões básicas, para nós,
dificuldades da tarefa de
a respeito das
democratizar a
Procurando dar um fechamento ao trabalho realizado, o
fundamentais do capitulo 5, colocando os principios teórico--práticos sobre os quais devem se erguer propostas de democratização da Escola de primeiro segmento de primeiro grau.
Essa forma de apresentação do trabalho não corresponde, ao processo de sua construção.
Para apresentar o trabalho, procuramos partir dos conceitos e formulações mais abstratas que regem os acontecimentos reais, acreditando que dessa forma facilitamos a compreensão do leitor. Ao longo da elaboração, o processo foi inverso. Procuramos extrair do real, através da pesquisa de campo, as suas variáveis intervenientes e as relações entre elas, para, através de um processo de análise encontrar as categorias e conceitos teóricos subjacentes - os quais procuramos devolver à realidade, em um processo de sintese (em função das interpenetrações entre os conceitos e a conseqüente formação de uma nova totalidade), O objetivo é substituir uma atuação intuitiva sobre o real por uma ação mais sistematizada, na qual a totalidade concreta - com suas múltiplas facetas nos apareça não mais de modo caótico e sim de modo organizado, em um concreto pensado,
A opção por esse processo de investigação deve-se não somente à escolha teórica do método dialético. Ela é fruto também do processo de construção do nosso conhecimento .
•
de comportamentos padronizados e inadequados entre outras.
Posteriormente, trabalhando em escolas ditas
progressistas, não encontrávamos uma maneira de compatibilizar
as formas de relacionamento autoritárias, às quais n6s
professores estávamos submetidos, com o discurso pedagógico da
escola.
Todas essas questões começaram a tornar-se mais
claras a partir dos estudos no curso de graduação, e,
posteriormente, no mestrado. Assim, pudemos encontrar, nas
proposições teóricas a respeito do processo pedagógico e da
própria estrutura social, os fundamentos das práticas sociais e
educativas que desenvolviamos e às quais estávamos submetidos.
Deste modo, ao sentirmos a necessidade de
democratizar a estrutura institucional da Escola, como meio
para torná-la mais democrática. E, ainda, como um importante
elemento da pr6pria transformação social, procuramos realizá-la
na prática e compreender esta prática, iluminando-a com as
categorias teóricas que lhe são subjacentes. Assim,
acreditamos poder conquistar possibilidades reais de, no
futuro, desenvolver satisfatoriamente a tarefa que nos
atribuimos. A de contribuir para a democratização da
sociedade, através de uma ação politica pessoal e profissional
efetivamente significativa para a transformação social e para a
o
Quadro Te6rico abaixo formulado, está organizado a partir das categorias de análise consideradas neste trabalho. Em cada categoria estão presentes também os conceitos necessários à compreensão de seus parâmetros fundamentais.As categorias de análise a serem definidas são as de Formação Social e Transformação Social.
Com relação à Formação Social, procuraremos entender o seu processo histórico de constituição (e a sua configuração especifica no Brasil), envolvendo a questão das formas de dominação e de exercicio do poder.
Com relação à Transformação Social, trabalharemos basicamente com as possibilidades e limites de desenvolvimento do processo, dados pelo grau de desenvolvimento da consciência prático-moral dos sujeitos individuais e coletivos, agentes desta transformação, que estabelecem determinadas relações sociais e as realizam através de suas práticas sociais. Na ampliação da democracia, estes sujeitos constróem-se como seres cada vez mais autônomos e conscientes.
2.1 - O Conceito Materialigta de BiatÓria
Marx define-se como materialista histórico na medida
em que acredita que o homem é sujeito da história. Mas não um homem abstrato, idealizado, e sim o ser humano real com suas
representações e pensamentos desprendidos do seu comportamento
material.
inicial
Deste modo, a hist6ria do homem tem como pressuposto
" a existência de individuos vivos, ... [que produzem] seus meios de vida e indiretamente, sua pr6pria vida material".l
o
modo como esses homens vão produzir sua vida material depende dos meios de vida que já encontram e que vãomodificar pela sua aç.ão concreta. dentro de determinadas
condições.
"O fato, portanto, é o seguinte individuos determinados, que como produtores atuam de um modo também determinado, estabelecem entre si relações sociais e politicas determinadas".2
Uma determinada formação social surgirá do processo
de vida de individuos determinados, tal como atuam e produzem
materialmente, produzindo também suas representações, suas
idéias, condicionados pelo modo de produção de sua vida
material, por seu intercâmbio material e seu desenvolvimento
ulterior na estrutura social e politica.3
Cada formação social será construida, portanto,
necessário nos remetermos a este processo.
Para compreendermos a formação social capitalista,
devemos considerar, seguindo a orientação marxista, o processo
de produção da vida material dos individuos e seus intercâmbios, dados pelas relações de produção econômicas e o
desenvolvimento destas na estrutura social e politica. As
relações de produção econômicas funcionam, assim, como
condicionantes das demais esferas da vida social, fixando as
margens de possibilidades do desenvolvimento da estrutura
social e politica na geração da formação social capitalista.
Concretamente, a totalidade social será formada (dentro dos
limites dados pela base econômica) como um processo de sintese
do conjunto de relações sociais em todas as esferas da vida
social, não sendo, portanto, determinada pela base,
A formação 'social é determinada pela sua existência
real, ou seja, pelo conjunto das relações sociais estabelecidas
em seu interior. Portanto, uma formação social será definida e
poderá ser analisada a partir da forma objetiva que assumem, em
cada momento hist6rico, suas relações sociais internas.
Partindo do pressuposto de que
na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade,
Marx aponta aqui o caráter oondicionante da estrutura econômica
na formação de uma estrutura social. Vemos a relação que ele
aponta como a de um condicionamento quanto aos limites e
possibilidades, dados pelas condições materiais, no
desenvolvimento de uma determinada formação social.
politica
Assim, temos
configurada
uma determinada estrutura social e
- dentro dos limites e possibilidades
dados pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas e das
relações de produção econômicas correspondentes - pela forma
objetiva que assume - dentro desses limites - o conjunto das
relações de' produção da vida social. Não há uma relação
mecânica de determinação entre relações sociais de produção
econômicas e as demais relações sooiais, como supõem alguns
autores marxistas. O que há é um condicionamento quanto aos
limites e não com relação à formação em si. A totalidade estrutural a ser formada estará determinada pela sintese
multifacética de todos os seus elementos constitutivos.
vida
?
social,equivale
Quem são os individuos determinados que produzem a
Os homens concretos, que atuam na produç!o da vida
se constroem a partir de sua existência real, o que
a dizer que esta existência é determinada pelo modo
como eles atuam socialmente', pelas イ・ャ。セ・ウ@ sociais que
estabelecem, pelas práticas sociais que desenvolvem, e, a
partir disso, pelas representações e idéias que produzem. O
fundamental nesta colocação é o caráter de determinação da vida
"Não é a consciência humana que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social que determina a sua consciência".. 5
As inserções dos individuos nos processos de interação social em todas as instâncias da vida social e as representações e
idéias dai decorrentes configuram a totalidade deste individuo concreto, que é, necessariamente, um individuo social.
Citando Marx, José NunS coloca ainda que a essência do homem não é individual, e é dada pelo conjunto das relações sociais, as quais só podem ganhar existência real na medida em que são pensadas fora dos sujeitos que delas participam.
o
concreto, então, é uma sintese de múltiplas determinações, o que nos possibilita enxergar a totalidade social como uma sintese multifacética de determinações em todas as suas instâncias constitutivas. Consideramos ainda o ser social como sintese multifacética de todas as relações sociais que ele estabelece na construção de sua existênoia real, formando, com ai sua consciência, um todo único.Gostariamos, ainda, de colocar o caráter dialético da relação entre os fatores condicionantes de uma formação social e as relações sociais que se ・セエ。「・ャ・」・ュ@ entre os individuos em
2.2 - O Processo Iyolgtiyo das IOr8acõoS Sociais
No processo evolutivo das ヲッイュ。セ・ウ@ sociais,
encaramos as inovações estruturais como resultantes de crises e
conflitos no interior das forma9ões anteriores, que puderam ser
resolvidos com a introdução de novos elementos estruturais,
isto é, de novas formas de integração social.
Acreditamos que os conflitos têm sido, ao longo da
história, o motor das transformações. A partir do momento que,
numa organização social, alguns segmentos procuram impor seus
interesses ao corpo social, os demais segmentos iniciam sua
luta pela reconquista da liberdade perdida. As sociedades
então vão introduzindo novas' institui9ões e mecanismos
reguladores desses conflitos internos, complexificando-se
gradativamente, na tentativa de manutenção das suas estruturas
básicas. Na medida em que as soluções poss1veis a uma forma9ão
social tornam-se insuficientes ao gerenciamento dos conflitos,
essa formação dá lugar a uma nova forma9ão, cujos elementos
constitutivos já se encontravam presentes na formação anterior.
Podemos dizer que a base estrutural da formação
social capitalista são suas rela9ões de produção econômicas,
que estabelecem uma separa9ão entre proprietários dos meios de
produção (classe burguesa) e não proprietários (proletariado).
A produção se realiza com base na exploração dos seaundos pelos
primeiros, o que determina uma rela9ão de dominação. A
estrutura econômica vai condicionar a formação de outras
esferas da vida social, mas não a sua efetivação. Esta é dada
definida no âmbito do conjunto das イセャ。セ・ウ@ sociais
estabelecidas pelo sujeito sooial.
Deste
suas práticas
possibilidades
modo, através de sua ação social concreta
sociais - o sujeito social define as
reais de manutenção ou transformação das
formações sociais.
A questão a respeito do tipo de 。セ ̄ッ@ social que pode
levar a uma transformação estrutural da sociedade deve ser
respondida com base nas diferenças existentes entre a lógica de
funcionamento da estrutura e a realização concreta- das
transformações. 7
Para estudar essas diferenças" recorremos a alguns
trabalhos de Jürgen Habermas. 8
Habermas propõe a distinção entre as possibilidades
lógicas da evolução social - analisáveis num plano
genético-estrutural - e os processos reais de evolução - analisáveis num
plano hist6rico-empirico. 8
Assim, para a 16gica de funcionamento da estrutura,
Habermas coloca a necessidade de reconstrução do pressuposto
marxiano de que as relações de produção correspondem a um
determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas. 10
Habermas acredita que as relações de produção (formas
de 。ーイッーイゥ。セ ̄ッ@ e distribuição da riqueza social) se estabelecem
normas reconhecidas ou regras do agir comunicativo",
diferentemente das ヲッイセ。ウ@ produtivas, que se desenvolvem
através de regras do agir instrumental e estratégico, Coloca,
ainda, a impossibilidade de se "reduzir as regras do agir
comunicativo a regras do agir instrumental e estratégico", 11 A
modificação proposta procura romper com a idéia de que as
relações de produção são emanadas do grau de desenvolvimento
das forças produtivas, refletindo-o,
Na sua proposta de análise estrutural da evolução
social, Habermas introduz o conceito de principio social de
organização como uma categoria abstrata que determina
(estruturalmente) uma formação social,
"Formação de uma sociedade é, em dado momento, determinada por um principio fundamental de organização, que delimita no abstrato as possibilidades de alteração das situações sociais",12
o
principio social de organização dá as condições de possibilidades 16gicas dentro das quais podem ocorrer mudançasem uma formação social sem que se ponha em risco a identidade
do sistema, A um novo principio social de organização
corresponde um novo estágio de desenvolvimento social, Do
ponto de vista da aprendizagem social, o principio social de
organização "limita a capacidade de uma sociedade aprender sem
perder sua identidade", 13 A identidade do sistema é ainda
assegurada pelos componentes de visão de mundo que são eficazes
para a integração social - sistemas de moral'e suas correlatas
Unindo a reconstrução da articulação entre as
relações de produção e as forças produtivas à questão da
aprendizagem social (limitada pelo principio social de
organização), Habermas diz:
lógica
" o gênero aprende não só na dimensão (decisiva para o desenvolvimento das forças produtivas) do saber tecnicamente valorizável, mas também na dimensão (determinante para as estruturas de interação) da consciência prático-moral. As regras do agir comunicativo desenvolvem-se, certamente, em reação a mudanças no âmbito do agir instrumental e estratégico, mas, ao fazê-lo, seguem uma' lógica própria". 14
Com esta colocação, ele aponta a especificidade
dos processos de interação social. Assim,
a
aprendizagem técnico-organizativa e o seu desenvolvimento emregras do agir instrumental e estratégico (desenvolvimento das
forças produtivas) passa a ser considerada como uma condição
necessária, mas não suficiente, para a reconstrução lógica da
evolução social. A aprendizagem prático-moral e o seu
desenvolvimento em regras do agir comunicativo assumem, na
qualidade de elemento co-constitutivo, um caráter fundamental
ao estabelecimento do principio social de organização, que
define, logicamente, uma formação social.
A relação entre esses elementos constitutivos do
principio social de organização é dialética. Se por um lado, o
desenvolvimento das forças produtivas provoca reações no âmbito
da integração social, a utilização do potencial de saber
técnico-organizativo, sob a forma de um novo grau de
através de modificações na organização institucional da
sociedade (sistema institucional formado com base em normas de
interação consensuais),
Os principios sociais de organização determinam,
então a) o mecanismo de aprendizado (instrumental e
estratégico) do qual depende o desenvolvimento das forças
produtivas; b) o alcance da variação dos sistemas interpretativos que asseguram a identidade da sociedade
(consciência prático-moral); e c) os limites institucionais da
expansão das capacidades de condução (normas
institucionalizadas da interação social),
O nivel de aprendizagem social instucionalizável por
um principio social de organização é constituldo, portanto, de
duas dimensões, A dimensão da aprendizagem. técnico--organizativa, necessária ao desenvolvimento das forças
produtivas, situa-se no nivel da açao instrumental e
estratégica, A dimensão da aprendizagem prático-moral,
necessária ao desenvolvimento das estruturas de interação,
situa-se no nivel da ação comunicativa,
Contudo, a realização concreta das transformações não
depende somente de 」ッョ、ゥセ・ウ@ lógicas, Estas apenas nos
fornecem as margens de possibilidades da transformação, que,
para se operar no real de cada formação, depende de "condições
contingentes de contorno", Habermas explica:
- e eventualmente quando - se alcançarão novas formas estruturais, isso irá depender de condições contingentes de contorno e de processos de aprendizado empiricamente investigáveis". 15
A análise dos processos reais da evolução social deve se dar num plano hist6rico-empirico. E' preciso distinguir os problemas sistêmicos (estruturais) de direção e controle que inviabilizam a manutenção de uma formação social do processo evolutivo de aprendizagem que permite a sua transformação em uma nova formação social. Enquanto os primeiros são
,
determinantes na geração dos conflitos, o segundo determina a solução do conflito.
o
processo real, através do qual uma formação social dá um passo evolutivo, depende da encarnação de novas regras do agir comunicativo no sistema institucional.o
desenvolvimento prático-moral determina, no real, as possibilidades de introdução de inovações nas estruturas de interação que se concretizam nas instituições e mecanismos reguladores de que se utiliza uma formação social. Num momento de crise no interior das estruturas do sistema, a interação social baseada em normas e mecanismos reguladores consensuais se rompe. A reordenação das estruturas institucionais (baseada em novos consensos) se fará a partir do grau de desenvolvimento prático-moral atingido pela sociedade, objetivado na ação politica do sujeito social.condicionada pelo desenvolvimento prático-moral - observável
empiricamente. De acordo com o processo evolutivo do
desenvolvimento prático-moral, as sociedades produzirão suas
respostas às situações de crise.
A aprendizagem social necessária à transformação social, em suas duas dimensões constitutivas, permite a
ampliação do controle sobre a natureza externa
desenvolvimento das forças produtivas pela aprendizagem
técnico-organizativa, desenvolvida nos niveis da ação
instrumental e estratéaica - e a ampliação do controle sobre a
natureza interna (autonomia social) - desenvolvimento das
estruturas de interação pela aprendizagem prático-moral,
desenvolvida no nivel da ação comunicativa. Esta aprendizagem
se dá através de processos reais, circunscritos à capacidade de
aprendizagem dada logicamente.
A ação politica e social do sujeito agente da
transformação deve procurar, simultaneamente, as duas dimensões
da aprendizagem social para a efetivação dos processos reais de
evolução.
Com o auxilio dos mecanismos de aprendizagem podemos
explicar porque algumas sociedades puderam encontrar ウッャオセ・ウ@
para os problemas evolutivos. O processo evolutivo da
aprendizagem explica a passagem e a adaptação a uma nova forma
de integração social. Os estágios de desenvolvimento
(previstos pela psicologia cognitiva de Jean Piaget16 ) são
" como niveis de aprendizagem que definem as condições de processos de aprendizagem possiveis".17
Habermas coloca ainda que as capacidades de
aprendizagem adquiridas (processos reais) encontram acesso no
sistema interpretativo da sociedade (que lhe assegura
identidade) .
As
estruturas de consciência partilhadas coletivamente (convicções prático-morais) e as reservas desaber (conhecimentos emplricos) representam um potencial
.cognoscitivo utilizável. Pela utilização do potencial
cognoscitivo contido nas imagens de mundo, que asseguram a sua
identidade, as sociedades podem aprender evolutivamente,
transformando-se. Este processo pode ser representado como
encarnação institucional da consciência prático-moral.
Portanto, é neste âmbito que os processos de aprendizagem
assumem a função de precursores da evolução social.
Deste modo, é através das capacidades de aprendizado de sujeitos socializados, que um sistema social pode constituir
novas estruturas que solucionem os conflitos e crises de
identidade.
ItE' por isso que o processo evolutivo de aprendizagem das sociedades depende das competências dos individuos que dela fazem parte. Tais individuos, por sua vez, adquirem suas competências não como mônadas isoladas, mas na medida em que tais competências se explicitam no interior das estruturas simbólicas de seu mundo vital". 18
Sintetizando, os processos efetivos de aprendizagem
saber utilizável para a SOlU9ão de situa9ões de crise do
sistema.
Os sistemas sociais têm sua identidade assegurada
pelos sistemas de moral e suas correlatas interpreta9ôes.
Assim, o desenvolvimento de novas convic9ões prático-morais
coletivas põe em risoo a identidade da sociedade. A utiliza9ão
deste novo potencial de saber configura um passo evolutivo, na
medida em que pode contribuir para a constru9ão de novas formas
de integra9ão social.
2.3 - O Sistema Institucional
As formas de integra9ão social dominantes (rela9ões
sociais) em uma forma9ão social cristalizam-se em torno de um
núcleo institucional que pode ser usado na caracteriza9ão do
principio social de organiza9ão que define uma forma9ão social.
Por sua vez, o sistema institucional se concretiza
através do conjunto de rela9ões e práticas sociais que nele se
desenvolvem e definem a existência real do sujeito social,
agente da transforma9ão.
Assim, é através de normas de intera9ão social
consensuais que as institui9ões e mecanismos reguladores de uma
forma9ão social se explicitam. Nos momentos de crise no
interior das estruturas do sistema, a ruptura do consenso em
torno das normas poderá, dentro dos limites do possivel, exigir
ゥョウエゥエオゥセ・ウL@ levando a uma nova forma de ゥョエ・ァイ。セ ̄ッ@ social
dominante e, conseqüentemente, à ・カッャオセ ̄ッ@ a uma nova ヲッイュ。セ ̄ッ@
social.
As instituições e mecanismos reguladores da sociedade
capitalista desenvolvem-se na busca de manutenção da sua
I
estrutura básica, que traz consigo o germe de sua própria
transformação - um conflito entre dominantes e dominados.
Na tentativa de formular soluções e respostas para
este conflito fundamental, a sociedade capitalista se
complexifica e desenvolve. Suas instituições e mecanismos
reguladores se modificam, modificando a vida dos sujeitos
individuais e coletivos, que passam a contar com novas
possibilidades de 。セ ̄ッ@ social, exigindo com isso novas
respostas. Assim, as respostas a serem produzidas pela
sociedade dependem da forma como se desenvolvem os sujeitos
individuais e coletivos e do como eles expressam o seu
. desenvolvimento através de suas práticas sociais.
Em busca da manutenção estrutural do seu sistema de
dominação, a sociedade capitalista procura determinadas
respostas. Pela sua ação social, o sujeito social pode criar
exigências de respostas que não possam ser atendidas sem uma
transformação estrutural. De acordo com o tipo de exigência, a
nova formação se estruturará sobre determinadas bases.
Condicionadas pela estrutura econômica em seu processo Ide
formação, as demais instâncias de interação social formarão com
ela, num processo de slntese dialética, a totalidade social,
efetivar a ação social dos sujeitos.
o
tipo de ゥョッカ。セ ̄ッ@ evolutiva a ser produzido no seiode uma formação social é determinado pelas possibilidades 'de
resposta que esta tenha desenvolvido, através das イ・Q。セ・ウ@ e
práticas sociais efetivadas em seu sistema institucional, ou,
em outras palavras, o seu grau de desenvolvimento
prático-moral.
Assim, o caráter dual dos determinantes das relações
sociais nas ゥョウエゥエオゥセ・ウ@ surge como elemento de fundamental
importância tanto na ヲッイュ。セ ̄ッ@ do sujeito social quanto na
ヲッイュ。セ ̄ッ@ e transformação da estrutura social.
E' dentro das instituições que se constr6i o 'conjunto
das relações sociais objetivas que determinam a existência real
do sujeito social, determinando também sua consciência. Na
medida em que atuam concretamente na efetivação dessas
イ・Q。セ・ウL@ imprimindo-lhes significado através de suas práticas
sociais, os sujeitos individuais e coletivos (de acordo com o
seu grau de desenvolvimento prático-moral) modificam e recriam
as relações e o pr6prio sistema institucional sobre o qual se
ergue uma ヲッイュ。セ ̄ッ@ social. As ゥョウエゥエオゥセ・ウ@ são, assim, um
・ウー。セッ@ real de luta pela Gエイ。ョウヲッイュ。セ ̄ッ@ social, lutas de
sujeitos concretos, atuantes, organizados em torno de uma
vontade politica transformadora.
Por outro lado, é através deste mesmo sistema
institucional que a sociedade capitalista procura ー・イー・セオ。イ@ a
através da forma9ão de um sujeito social que atue dentro dos
limites de respostas da formação social vigente aos seus
conflitos internos, de modo a inviabilizar a introdução de
novas práticas e rela9ões que possam exigir inovações
estruturais na sociedade. A criação do consenso em torno das
normas e valores emanados das イ・ャ。セ・ウ@ reais que determinam a
estrutura da sociedade (ideologia dominante), conferindo-lhes
legitimidade, tem sido a principal função atribuida pela
sociedade às instituições da sociedade civil.
A concretização das rela9ões sociais nas instituições
se dá, portanto, em duas dimensões: uma ideológica, oriunda
do papel que elas são chamadas a cumprir pela estrutura social,
e outra vinculada ao que elas realmente são, dada pela atuação
concreta dos sujeitos que interagem e determinam a realidade
dessas relações sociais. Nesta segunda dimensão, as
instituições aparecem como espaços reais de luta pela
transformação.
Deste modo, numa formação social na qual as
institui9ões da sociedade' civil estejam desenvolvidas,
garantindo um minimo de participação dos grupos sociais nos
processos decisórios e na formação do consenso em torno das
normas de interação vigentes, o processo de transformação deve
ser pensado como um processo de ampliação gradual da
participação nas decisões, pelo desenvolvimento de novas - e
casos, a concepção da transformação através da ruptura radical parece mais apropriada, na medida em que a debilidade das instituições da sociedade oivil e, conseqüentemente, da participação dos grupos dominados nos processos decis6rios, inviabiliza uma ação social e polltica no sentido da ampliação gradual da participação nas decisões.
Do ponto de vista da ideologia dominante, que procura garantir a dominação pelo oonsenso, as instituições da sociedade civil costumam ser encaradas como abstrações jurldicas, mediadoras das relações entre os individuos e a sociedade - também abstrata. Nesta visão, parece inviável modificar as instituições sem antes modificar a sociedade. Como ambas são abstratas, a atuação objetiva do sujeito social é inútil, visto que não as atinge.
Ainda nesta visão, teriamos a existência real do sujeito social determinada, a priori, por verdades absolutas de estruturas eternas.
Se contudo encaramos' as intituições em seus aspectos concretos, podemos visualizar as possibilidades de transformação social a partir da construção de novas relações sociais internas e do desenvolvimento de novas práticas sociais nas instituições.
essas normas é preciso que sejam desenvolvidas novas regras no
âmbito da 。セ ̄ッ@ comunicativa. Esta 。セ ̄ッ@ é determinada pelo grau
de desenvolvimento prático-moral dos sujeitos em ゥョエ・イ。セ ̄ッ@ numa
ヲッイュ。セ ̄ッ@ social.
Deste modo, pela 。エオ。セ ̄ッ@ politica, o sujeito social,
através do desenvolvimento prático-moral, poderá criar
necessidades que determinem soluções dos conflitos sistêmicos
pela introdução de novas formas de integração social no núcleo
institucional da formação social, modificando assim o próprio
principio organizativo da sociedade.
Sem um processo real de aprendizagem prático-moral,
os problemas sistêmicos tenderão a ser resolvidos pela
reorganização institucional em torno dos mesmos principios
organizativos, preservando-se, assim, a identidade do sistema.
As respostas que uma sociedade produz diante de uma ウゥエオ。セ ̄ッ@
critica são, necessariamente", balizadas pelo grau de
desenvolvimento prático-moral - que tanto pode levar a uma
・カッャオセ ̄ッ@ democratizante como ao seu oposto.
Assim, quando colocamos este desenvolvimento como
」ッョ、ゥセ ̄ッ@ da エイ。ョウヲッイュ。セ ̄ッL@ é preciso esclarecer que rumo
acreditamos ser o melhor para o processo - que tipo de ordem
•
Partindo do pressuposto de" que a luta histórica da
humanidade tem sido pela conquista e ampliação da liberdade, e
que a justeza desta luta é inquestionável, a questão que se coloca é como construir uma sociedade com liberdade, uma
sociedade efetivamente democrática
?
Primeiramente, é preciso esclarecer o que estamos
entendendo por democracia. A democracia a que nos referimos é
aquela que José Nun19 chama de democracia governante, que busca
maximizar a participação direta do povo na formulação de
politicas e na tomada de decisões, a não exclusivamente na
eleição daqueles que tenham a seu cargo estas tarefas. A
diferença fundamental entre esta e a democracia governada
reside na forma como se encara a questão democrática.
"Una cosa, en efecto, as concebir a la democracia essencialmente como un metodo para la formulaci6n y para la toma de decisiones en el âmbito estatal: y otra bien distinta imaginarIa como una forma de vida, como um modo cotidiano de relaci6n entre hombres y mujeres que orienta y que regula el conjunto de las actividades de una comunidad".2o
Para Nun, estabelecer uma democracia governante é
socializar tanto os meios de produção quanto os de decisão,
democratizando os sistemas de autoridade em todas as áreas da
vida.
fundamental que haja a participação, que não pode ser entendida
como possivel apenas depois de o povo esteja educado para a
democracia. Ao contrário, só através da participação
entendida em sentido amplo - é possivel que o povo aprenda
efetivamente
Em
suma," y gane control sobre el curso de su
propia カゥ、セ@ y sobre las circunstancias que
la condicionam".21
as condições para a efetivação da
democracia, a serem desenvolvidas no nivel prático-moral da
integração social, são dadas pelas possibilidades de
participação ampla nos processos decisórios, viabilizada pelo
desenvolvimento da autonomia e da consciência do sujeito
social.
o
desenvolvimento prático-moral, na construção da autonomia e da consciência dos. sujeitos individuais e coletivos, possui determinantes externos (dados socialmente) einternos (dados pelo sujeito) . Para tratarmos dessas
construções, acreditamos ser necessário alguns esclarecimentos
prévios a respeito do conceito de autonomia, de modo a evitar
confusões entre autonomia, desvinculo, inadaptação e rebeldia.
Para explicar as variáveis componentes do conceito de
autonomia utilizado, gostaria de recorrer primeiramente às
definições do dicionário para este conceito e também para o de
A
capacidade
pelo seu
"autonomia - 1.Faouldade de se governar por si mesmo. 2. Direito ou faculdade de se reger (uma n。セ ̄ッI@ por leis próprias.
3. Liberdade ou independência moral ou intelectual. [ ... ] 5.Propriedade pela qual o homem pretende escolher as leis que regem sua conduta".
"autônomo - l.Que goza de autonomia. 2.Diz-se de qualquer ato vital, ou movimento, que se realiza sem intervenção de forças ou agentes externos".22
autonomia do individuo se expressa pela sua
individual, única, de se governar por si mesmo e
grau de liberdade ou independência moral e
intelectual. Este governar-se aqui colooado está referido â
tomada de decisões pessoais, quanto ao rumo a seguir nas
questões circunscritas,ao terreno do arbitrio individual. O
individuo será tão mais autônomo quanto maior for sua liberdade
moral e intelectual, isto é, quanto menos dependente ele
estiver das opiniões, oonceitos, padrões, regras e perspectivas
do outro, da familia, da sociedade, etc.
Um dos requisitos para a conquista da autonomia do
sujeito social é a existência, nos individuos que compõem um
grupo social, da autonomia individual. Individuos dependentes
não podem estabelecer relações sociais autônomas, pois seus
atos são permeados por intervenções externas, não condizentes
portanto com a realidade objetiva da vida do grupo social nos
quais estão inseridos.
A autonomia do sujeito social se expressará, em uma
grupos que interagem nesta formação de estabelecer relações
sociais de acordo com seus interesses e desejos, e também pela
existência de espaço real (condições externas) para a
realização desta possibilidade de atuação autônoma.
Nos conceitos oolocados no dicionário observamos a
presença do termo faculdade de se auto-governar e também do
termo direito de fazê-lo.
A faculdade se relaciona à questão da capacidade
interna de atuação autônoma e o direito vinoula-se aos limites
dados externamente. Ainda pelo dicionário, vem08 que o direito
surge quando o autor aborda a autonomia de uma Nação. Não há,
portanto, vinculação entre o direito e a capacidade quando se
coloca a questão da autonomia individual.
Acreditamos, porém, que não se pode dissociar uma de
outra, pois o individuo se constrói, enquanto totalidade, em
seus processos de interação social, não sendo possivel falar
dele isoladamente, desconsiderando a forma e o contexto nos
quais se dão suas interações.
Trabalhando este binômio direito/faculdade, poderemos
encontrar a forma pela qual a autonomia
é
」ッョウエイセゥ、。@ individuale socialmente.
A conquista da autonomia se dará através de um
processo endógeno de desenvolvimento da capacidade de se
auto-governar, permeado pela possibilidade, dada externamente
componentes internos quanto dos externos, para que se possa,
quando necessário, ampliá-la e reconstrui-la. Esses processos
de aprendizagem, ampliação e reconstrução da autonomia são
dialéticos, compostos de muitas idas e vindas e não se pode
chegar à conquista ampliada sem antes exercer cada momento de
sua construção.
Assim, concluimos
estrutura social, provocada
supostamente esclarecida não
que por vai uma uma dar ruptura vanguarda
origem a
radioal na
ou elite
individuos
autônomos nem ao sujeito social autônomo. Conseqüentemente, a
nova estrutura se fará sobre as bases da antiga. Este tipo de
ruptura poderá, no máximo, atuar sobre os componentes externos
do processo. Os componentes internos poderiam desenvolver-se
mais facilmente, em função das melhores condições externas, mas
não podem ser ensinados ou concedidos, precisam ser
conquistados, e só o serão quando o processo de capacitação
para este exercicio for vivenciado concretamente. Ninguém dá
ou ensina autonomia a ninguém. Esta é uma construção.
autonomia,
autonomia
desejados
relação
Ainda como variive1 fundamental
temos o desejo de exercê-la.
envolve alguns compromissos que
ou possiveis de serem atendidos.
entre a construção da autonomia
desenvolvimento da consciência.
na 」ッョウエイオセ ̄ッ@ da
O exercicio da
nem sempre são
Aqui se efetiva a
o
exercicio da autonomia envolve a construção de novas relações e práticas sociais permeadas por novoscompromissos. Em suma, uma nova existência, diferente da
anterior.
Reconstruir a existência é tarefa árdua e dolorosa, que nem todos querem ou podem cumprir. Muitos preferem, de
modo consciente ou nio, abrir mão de executá-la. A
reconstrução da existência é permeada todo o tempo pelo
desenvolvimento da consciência, pois ambas sio constitutivas do
sujeito social, embora a segunda seja determinada pela
primeira.
Até aqui, temos colocado, quase sem distinção, a
autonomia individual e a do sujeito social. g' chegada a hora
de distinguir uma da outra a partir das variáveis que as
constituem.
o
ser autônomo é aquele que realiza movimentos e atos vitais sem a intervenção de forças ou agentes externos. Domesmo modo, o sujeito social autônomo também.
A
expressão da autonomia do sujeito social será dada portanto pelo seu poder-interno e externo - de determinação das condições objetivas de
sua existência em uma formação social especifica. Quanto maior
for este poder, externamente menos usurpado por mecanismos de
dominação e internamente representado pelo desenvolvimento da
capacitação de existência autônoma, mais livre será este grupo
social, mais autônomo.
mais abrangentes, e mantêm uma relação apenas indireta com os limites externos da autonomia individual.
Quando nos referimos à autonomia como uma possibilidade de atuação sem dependência de condutas, padrões ou normas externamente colocados, não estamos apontando uma situação de desvinculo individual ou coletivo com a estrutura que circunscreve essas condutas, padrões ou normas, e sim uma necessidade de que haja participação efetiva dos sujeitos na elaboração das normas de integração social. O homem é em essência um ser social. Sendo assim, uma atuação permeada pelo desvinculo não será nunca desejável, pois a interação social é uma necessidade a ser atendida para que se mantenha a essência do individuo, e com isso as posibilidades de atuação politica deste na luta pela autonomia e pela democratização.
Com relaQão à rebeldia, oabe colocar a sua especificidade e suas ャゥュゥエ。セ・ウ@ nestes processos de busca da
autonomia e de luta pela transformação sooial.
o
individuo ou grupo social rebelde é aquele :- 1.Que se rebela contra "rebelde
autoridade
revoltoso". 28 constituida; 'insurgente;
De acordo com esta definiQão, a rebeldia é desejável ao estabelecimento da luta pela democratizaQão, pois a não aceitação de uma determinada estrutura social (ruptura do consenso em torno das normas de integraQão social) é condição necessária à sua transformação. A existência da rebeldia pressupõe, ou pelo menos indica, consciência da dominação a que se está submetido. Contudo, a rebeldia não pode ser confundida com autonomia. A consoiência da dominação em uma determinada situação não garante ao individuo um comportamento moral e intelectual livre, nem mesmo a faculdade de se auto-governar. A conquista da autonomia, portanto, encontra na rebeldia um elemento facilitador, mas s6 se efetiva na medida em que os padrões e regras sociais forem estabelecidos autonomamente -pelo próprio grupo social, o que minimiza o comportamento rebelde.
Por outro lado, na interaQão inter-grupal haverá sempre pontos de conflito não solucionáveis de modo consensual, pontos de tensão permanente. Esta observação aponta não s6 a necessidade de administração democrática dos conflitos garantindo os direitos minimos das minorias - como também a permanência de possiveis focos de rebeldia.
consciência. Ambos formam um todo indissociável. Quanto maior
for a interferência do sujeito social na geração de suas
condições objetivas de existência, maiores são as
possibilidades de desenvolvimento de sua consciência.
Colocamos, anteriormente, que a autonomia do sujeito
social se expressa pelo seu poder interno e externo de
interferir nos processos geradores de sua existência real.
Logo, teremos o grau de desenvolvimento da consciência balizado
pelo grau de autonomia, visto que uma poderá se desenvolver na
medida em que a outra estiver se concretizando.
Por outro lado, considerando a autonomia como o grau
de liberdade intelectual e moral da atividade do ウオェ・ゥセッ@
social, e que esta liberdade está condicionada por critérios
situados no nivel da consciência, teremos que a conquista da
autonomia pressupõe um determinado nivel de desenvolvimento da
consciência.
Concluimos então que a relação entre consciência e a
autonomia é uma relação que se dá em espiral dialética, onde
uma ampliação no desenvolvimento de uma trará progressos ao
desenvolvimento da outra e vice-versa.
Na busca da autonomia e da consciência, os sujeitos
sociais procuram consolidar um grau de desenvolvimento
aprendizagem prático-moral possibilitará a encarnação deste saber no sistema institucional, através da
.
atuação politica concreta dos sujeitos individuais e coletivos. A forma objetiva que assume esta atuação politica e social dos individuos e grupos sociais se traduz nas práticas sociais reais que eles desenvolvem. Compartilhamos, aqui, das opiniões de Gramsci e Weffort, que colocam, respectivamente
"Qual será então a real concepção do mundo: aquela logicamente afirmada como um fato intelectual, ou a que resulta da atividade real de cada um, impllcita no seu agir? E já que o agir é sempre um agir polltico, não se pode dizer que a filosofia real de cada um está toda contida na sua politica ?"24
"Não falo das intenções, mas das ações. [ ... ] Em politica, a única intenção tue vale é aquela que aparece na ação real". 5
o
comprometimento objetivo, individual ou coletivo, com a luta pela democratização se traduz, concretamente, pela ação real do sujeito em busca da conquista da autonomia e do desenvolvimento da consciência.Para que a ação politica transformadora tenha eficácia é preciso que ela se realize, de modo consciente, sobre os mecanismos de dominação dos sistemas sociais, que se traduzem nas formas de exercicio do poder. Para democratizar o exercicio do poder é preciso compreender a sua dinâmica de
' . .
2.5 - O Ixercicio do Poder
No contexto da sociedade capitalista, pode-se dizer
que, de um modo geral, o poder tem sido exercido pela dominação
historicamente colocada de duas formas fundamentais
concomitantes. sendo a predominância de uma ou de outra uma
,
conseqüência do momento politico e da especificidade de
concretização da formação social capitalista em cada
circunstância histõrico-politica.
De um lado, temos o poder coercitivo, punitivo, que
representa a dominação viabilizada pela força. Esta forma de
dominação é explicita e se operacionaliza através dos
mecanismos e instituições coercitivos da sociedade
representados pela sociedade politica ou o Estado em sentido
estrito.
De outro lado, temos o poder ideológico, que engendra
a dominação pelo consenso. Ao contrário da anterior, esta
forma de dominação não aparece como tal, pois seu fundamento é
justamente o consenso, o que lhe confere uma legitimidade
social aparente. Neste campo estão situadas as instituições da
sociedade civil.
"No âmbito da sociedade civil, as classes buscam exercer sua hegemonia, isto é, buscam ganhar aliados para as suas posições através da direção e do consenso. Por meio da sociedade politica, ao contrárió, exerce-se sempre uma ditadura, ou, mais precisamente, uma dominação mediante a coerção".28
reprodução da formação social vigente, elas exercem funções
especificas na organização da vida social e na ー・イー・エオ。セ ̄ッ@ das
イ・ャ。セ・ウ@ de poder.
No interior de uma formação social, o poder se
distribui pelas várias instâncias sociais e assume faoes
diferenciadas em cada instância - embora seja inviável
dissociá-las, pois formam um todo a partir da sintese dialética
entre elas.
Para analisar os mecanismos de poder em cada
instância social é preciso considerar sua ッ「ェ・エゥカ。セ ̄ッ@
especifica e a ゥョウ・イセ ̄ッ@ desta na constituição do poder social
mais amplo.
A relação entre os poderes, nas diversas instâncias
da sociedade, é uma relação dinâmica e, na maioria dos casos,
vertical (o termo aqui significa que um nivel "superior" de
poder exerce-se sobre os niveis mais baixos). O seu dinamismo,
embora parcial, garante, além de uma aparente mobilidade
social, a possibilidade de reorganização das frações da classe
dominante em torno de interesses conjunturais, ,que porventura
devam ser atendidos. A verticalidade é um fundamento do
exercicio da dominação. Através dela, os diversos poderes
mantêm-se em niveis diferenciados. E' fundamental que se
compreenda a distinção entre esses niveis, suas formas de
ocupação e as fontes que podem dar origem a eles, fugindo do
risco de considerarmos todo o exercicio de poder de um mesmo
modo (como coisa maléfica), confundindo ウゥエオ。セ・ウ@ e niveis onde
Além da diferenciação em niveis e de acordo com a
instância social na qual está sendo exercido, é preciso ainda
colocar em questão as fontes de poder, que também são variáveis
nas diversas instâncias e niveie·de exercicio do poder.
o
que se está chamando aqui de fonte de poder são algumas posições na hierarquia social, que conferem a seusocupantes algum tipo de poder sobre aqueles que ocupam uma
posição diferente - em muitos casos antagônica. Alguns desses
poderes são explicitos e ocupados de modo definido. Outros não
são claros nem mesmo para aqueles que o detêm. As limitações
nos poderes engendrados por cada uma dessas fontes, são dadas
pela correlação de forças entre eles, em cada circunstância de
uma determinada formação social.
A expressão de um determinado sistema de dominação
está explicitada em suas formas de exercicio do poder e na
dinâmica interna de sua organização - quase sempre piramidal.
Nesta, estão presentes valorizações de algumas fontes de poder
em detrimento de outras. Além disso, temos também a
」・ョエイ。ャゥコ。セ ̄ッ@ do poder em mãos de um pequeno grupo dominante.
Esta pirâmide de estruturação do poder não é
estática. Ela tem sua estrutura alterada dinamicamente, de
acordo com as necessidades da estrutura social de estabelecer
esta ou aquela correlação entre os poderes para sobreviver. De
estrutura básica da sooiedade envolvem apenas intermediários da pirâmide, de acordo com circunstancial desta ou daquela expressão de
os segmentos a valorização poder, não chegando a atingir o topo ou a base da pirâmide, que devem se manter inalterados como condição para a manutenção e perpetuação da dominação.
A luta pela democratização procura ampliar a dinâmica interna da pirâmide, hoje limitada a algumas camadas intermediárias, de modo a conseguir derrubá-la estabelecendo relações de poder horizontais. Estas relações se constroem dinamicamente, e nelas a ocupação do poder é circunstancial. Isto significa propor o exerc1cio democrático dos poderes, com mecanismos sociais que' os controlem, garantindo a conquista da autonomia do sujeito social. Esta democratização das formas de ocupação dos poderes é viável, e pode acontecer com poderes oriundos das mais variadas fontes.
Todas as fontes de poder podem ser ocupadas de várias formas, num espectro que abrange desde a dominação absoluta até o poder democrático - que pressupõe a não dominação.
Na luta pela ruptura da estrutura de privilégios aos detentores dos poderes,
instância, exercer o
os grupos ,dominados buscam, poder de auto-determinação
em última da sua existência real em todas as es.feras de integração social.
de poder de cada grupo), será o caminho para sua
democratização.
A preservação da estrutura social de dominação
depende da efetivação institucional da dominação. Através de
suas instituições, a sociedade produz e reproduz algumas de
suas principais formas de relacionamento social e de
organização do exercicio do poder.
Teremos, então, que, numa estrutura social de
dominação, as relações e práticas sociais vigentes nas suas
instituições constitutivas - isto é, a concretização objetiva
da estrutura - serão balizadas pela dominação daqueles poucos
que detêm o poder sobre os muitos que não o detêm.
As instituições da sociedade civil vêm desempenhando
seu papel social, de criadoras de um consenso em torno da
formação social vigente, seus valores e normas correspondentes,
através da construção de suas relações internas de modo que os
sujeitos individuais em interação produzam sujeitos coletivos
não critioos.
vida Na
ideológica aparece
internas relações
práticas sociais
desenvolvimento do
real do sujeito social, a dominação concretamente na forma que assumem as
nas instituições da sociedade civil e nas
nelas desenvolvidas. Na atual fase de