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Associação do índice CPO-D com indicadores sócio-econômicos e de provisão de serviços odontológicos no Estado do Paraná, Brasil.

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Academic year: 2017

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Associação do índice CPO-D com indicadore s

sócio-econômicos e de provisão de serviços

odontológicos no Estado do Paraná, Brasil

Association of the DMFT index

with socioeconomic and dental services

indicators in the state of Paraná, Brazil

1 Faculdade de Od o n t o l o g i a , Un i versidade Estadual de Ponta Gro s s a , Ponta Gro s s a , Bra s i l . 2 De p a rtamento

de Epidemiologia e Métodos Qu a n t i t a t i vos em Saúde, Escola Nacional de Saúde P ú b l i c a , Fundação Os w a l d o C r u z , Rio de Ja n e i ro, Bra s i l . 3 Faculdade de Od o n t o l o g i a , Un i versidade de São Pa u l o, São Pa u l o, Bra s i l .

C o r re s p o n d ê n c i a M á rcia Helena Ba l d a n i , Faculdade de Od o n t o l o g i a , Un i versidade Estadual de Ponta Gro s s a . Av. Ca rlos Ca valcante 4748, Bloco M, Campus de U va ra n a s , Ponta Gro s s a , PR 8 4 0 3 0 - 0 0 0 , Bra s i l . m a rc i a @ c o n voy. c o m . b r

M á rcia Helena Baldani 1 Ana Glória Godoi Vasconcelos 2 José Leopoldo Fe r re i ra Antunes 3

A b s t r a c t

This ecological study investigated the associa-tions between dental caries, socioeconomic in-d i c a t o r s , anin-d the supply of in-dental services in the State of Pa ra n á , Bra z i l , for the year 1996. Two types of information were collected: (1) da-ta on caries pre valence (DMFT at 12 years) for the municipalities (or counties) in the St a t e ; ( 2 ) data on socioeconomic conditions and the sup-ply of dental serv i c e s . Based on simple linear re g ression analysis, the study demonstrated a significant correlation between the caries index in municipalities and various social and den-tal services supply indicators. Results of the analysis of multiple linear re g ression show e d that one indicator of income inequality re-mained significantly associated with dental c a r i e s ,d e m o n s t rating that the worst oral health conditions cannot be dissociated from income d i s p a r i t i e s . A significant negative corre l a t i o n was observed between DMFT and the pro p o r-tion of the popular-tion that re c e i ved fluoridated w a t e r, principally in the municipalities with the worst income inequality indicators. T h i s highlights the importance of fluoridation for the reduction of caries ra t e s , as well as to atten-uate the impact of socioeconomic inequalities on the pre valence of dental caries.

Health Re s o u rc e s ; Socioeconomic Fa c t o r s ; Fl u-o r i d a t i u-o n ; DMF In d ex

I n t ro d u ç ã o

A cárie dentária é uma doença que tem acom-panhado a espécie humana ao longo da histó-ria. Junto com a industri a l i z a ç ã o, a pre va l ê n-cia desta aumentou até que praticamente toda

a população foi afetada 1. Porém, a partir das

décadas de 60 e 70, uma redução contínua nos n í veis de cárie tem sido observada nos países mais desenvo l v i d o s. Existe um consenso de que um declínio acentuado e real está ocorre n-do entre crianças nos países industrializan-dos e em alguns países em desenvo l v i m e n t o, inclu-s ive no Brainclu-sil, tendo como poinclu-sinclu-síveiinclu-s cauinclu-sainclu-s: a utilização em larga escala de dentifrícios fluo-ra d o s, a fluofluo-ração das águas de abastecimento p ú b l i c o, as melhorias nas condições de vida das populações, alterações nos padrões dieté-ticos e mudanças nos cri t é rios de diagnóstico

da doença 2.

Além desses fatore s, alguns autores citam as melhorias nos serviços de saúde bucal como re s p o n s á veis pelo declínio da cárie 3 , 4 , 5. Po r é m ,

Peterson & Bratthall 6a rgumentam que o

declí-nio da cárie ocorreu em países distantes uns dos o u t ros e com diferentes sistemas de serviços de

saúde bucal. Renson et al. 7citam o exemplo do

(2)

na pre valência de cárie a partir da intro d u ç ã o em larga escala dos dentifrícios fluora d o s.

Na d a n ovsky & Sheiham 8a f i rmam que as

mudanças sócio-econômicas (bem mais do que a contribuição dos serviços de saúde) têm um papel re l e vante na redução observada nos ín-dices de cárie dentária. O estudo realizado com base em dados de dezoito países industri a l i z a-dos demonstrou que os serviços odontológi-c o s, medidos pela proporção dentista/popula-ç ã o, explicaram 3% da redudentista/popula-ção observada no CPO-D médio das crianças de 12 anos, dura n-te os anos 70 e meados dos 80, enquanto que os fatores sociais explicaram 65% da re d u ç ã o o b s e rvada. Observa ram que a disponibilidade de serviços odontológicos não foi import a n t e p ara explicar as diferenças nas va riações do CPO-D aos 12 anos nos países estudados. Pa í-ses com relações dentista/população e siste-mas de atenção diferentes apre s e n t a ram va l o-res de va riação de CPO-D muito similao-res até a metade da década de 80.

Nas últimas décadas, a condição social tem sido enfatizada como importante determ i n a

n-te da situação de saúde bucal 2, e estudos têm

d e m o n s t rado que o declínio da cárie dentári a vem sendo acompanhado pela polarização da

doença nos grupos menos pri v i l e g i a d os5. V

á-rios trabalhos têm abordado a associação entre d e s e n volvimento social e cárie dentária,

tan-to no campo do indivíduo 9 , 1 0 , 1 1 , 1 2 , 1 3, como no

ecológico 8 , 1 4 , 1 5 , 1 6. Estes estudos re velam que a

p re valência de cárie dentária expressa pelo do Índice CPO-D, mostra-se significativa m e n t e pior para populações de baixo nível sócio-eco-n ô m i c o.

A importância da fluoração das águas de abastecimento público para o controle da cári e d e n t á ria também tem sido largamente descri t a

na litera t u ra 1 7 , 1 8, sendo que a Divisão de Sa

ú-de Bucal do CDC (Centers for Disease Co n t ro l

and Pre vention) 1 9a f i rma que este método foi

o p rincipal re s p o n s á vel pelo declínio na pre va-lência de cárie durante a segunda metade do século XX.

Com a difusão de outras formas de utiliza-ção do flúor, principalmente os dentifrícios f l u o ra d o s, alguns autores têm sugerido que, em alguns países, os níveis de cárie não aumen-tam mesmo após a interrupção da fluora ç ã o

das águas 2 0 , 2 1. Porém, estudos têm indicado

que a implementação desta medida ainda se faz import a n t e, principalmente em áreas de

maior pri vação social2 2 , 2 3 , 2 4. Segundo estes, a

f l u o ração das águas tem um duplo papel: de redução nos níveis de cárie entre as crianças e, com isso, redução dos efeitos das desigualda-des sócio-econômicas na experiência de cári e.

Associações significativas entre cárie den-t á ria e indicadores sócio-econômicos nos mu-nicípios do Estado do Paraná para o ano de 1996 já foram previamente demonstradas por Ba

l-dani et al. 2 5. Diante disso, o presente estudo

tem por objetivo contemplar a análise re a l i z a-da por esses autores com a ve rificação a-da asso-ciação da oferta de serviços odontológicos, da f l u o ração das águas de abastecimento público e da condição social com a va riação do Índice C P O - D.

Métodos e técnicas

Este é um estudo de natureza quantitativa, sen-do classificasen-do como ecológico e tra n s ve r s a l . As va ri á veis estudadas foram o valor do Índice CPO-D aos 12 anos para 357 dos 371 municí-pios do Estado do Pa raná em 1996, e alguns dos i n d i c a d o res sócio-econômicos indicados na pesquisa anteri o r. Fo ram coletados dados adi-cionais re l a t i vos à oferta de serviços odontoló-gicos públicos e pri va d o s, bem como a pro p o r-ção de popular-ção coberta com água de abaste-cimento fluorada.

Os indicadores de pre valência de cárie fo-ram obtidos junto à Se c re t a ria de Estado da Saúde do Pa raná (SES-PR), e correspondem ao resultado de um levantamento epidemiológco em saúde bucal epidemiológconduzido sob re s p o n s a b i-lidade técnico-científica desta, em 1996, com o o b j e t i vo de identificar o Índice CPO-D aos 12 a n o s, segundo metodologia da Org a n i z a ç ã o

Mundial da Saúde 2 6. O re l a t ó rio desse leva

n-t amenn-to afirma n-ter sido realizada a calibra ç ã o dos examinadore s, mas não fornece inform a-ções sobre indicadores de concordância intra e i n t e re x a m i n a d o re s. Nesse sentido, o pre s e n t e a rtigo admitiu a viabilidade da análise dos da-dos obtida-dos naquele estudo tra n s versal. As in-f o rmações re l a t i vas à oin-ferta de água in-fluora d a p a ra os municípios do estado também fora m disponibilizadas pela SES-PR, por meio de re-l a t ó rio oficiare-l.

Os aspectos sociais e de oferta de serv i ç o s odontológicos foram evidenciados pelos dife-rentes indicadores obtidos junto aos bancos de dados do DATASUS (De p a rtamento de

In-f o rmática do SUS) 2 7e do IBGE (Fundação In

s-tituto Bra s i l e i ro de Ge o g rafia e Estatística) 2 8, a

s a b e r: (a) rel at ivos à re n d a: renda familiar

mé-dia “per capita” (razão entre número de salá-rios mínimos e número de integrantes da famí-lia), Índice de Theil (indicador da desigualdade na distribuição de renda, descrito por Theil em

1971 2 9), e renda insuficiente (porcentagem de

(3)

per capitai n f e rior a meio salário mínimo); (b) rel ac i on ados à mora d i a: aglomeração domici-liar (porcentagem de população vivendo em domicílios com mais de dois mora d o res por d o rm i t ó rio) e proporção de domicílios ligados

à rede de águas; (c) rel at ivos à escolaridade:

coeficiente de analfabetismo em adultos (15 ou mais anos de idade), anos médios de estudo e p roporção de crianças (de 7 a 14 anos) que não

f re q ü e n t a vam escola; e (d) rel at ivos à oferta de

s e rv i ç o s: número de consultórios odontológicos no serviço público e número de ciru rg i õ e s -dentistas inscritos no Conselho Regional de Odontologia (CRO) por 1.000 habitantes.

A pesquisa constou de uma pri m e i ra etapa, e x p l o ra t ó ria, na qual os dados re f e rentes ao ín-dice CPO-D aos 12 anos e aos demais indica-d o re s, para municípios indica-do Estaindica-do indica-do Pa ra n á , f o ram analisados e interpretados segundo es-tatísticas descri t i va s.

Pa ra ve rificar se as va ri á veis de estudo se-guem o padrão da distribuição normal fora m c o n s t ruídos gráficos (histogramas) de distri-b u i ç ã o, distri-bem como aplicou-se o teste de Ko

l-m o g o rov - Sl-m i rn ov para No rl-malidade 3 0. As

va-ri á veis que não apre s e n t a ram distva-ribuição nor-mal passaram por tra n s f o rmação logarítmica,

o que reduziu a assimetria da distribuição 3 1.

No presente tra b a l h o, pretendeu-se quan-t ificar as associações de inquan-teresse por meio de modelos de re g ressão linear, desenvolvidos em duas etapas. Numa pri m e i ra etapa re p e t i u - s e

a análise realizada por Baldani et al. 2 5e ve ri f

i-cou-se a associação entre pre valência de cári e d e n t á ria e os diversos indicadores de desenvo l-vimento social, de oferta de flúor nas águas e de serviços odontológicos por meio de mode-los de re g ressão linear simples, considerando o Índice CPO-D aos 12 anos como va ri á vel de-p e n d e n t e.

Como resultado da pri m e i ra etapa fora m identificadas as va ri á veis mais fortemente cor-relacionadas com a pre valência de cárie den-t ária nos diversos grupos de indicadore s. Po s-t e ri o rm e n s-t e, analisou-se a associação conjuns-ta dos indicadores identificados na etapa anteri o r e o índice de cárie dentária por meio de re g re s-são linear múltipla. O método utilizado para a seleção das va ri á veis foi o s t e pw is e ,c o n s i d e ra n-do-se o nível de significância para a inclusão das va ri á veis de 5% e o de exclusão de 10%. Pa-ra o modelo selecionado procedeu-se análise de resíduos com o objetivo de checar as supo-sições do modelo de re g ressão linear e

identifi-cação de o ut l i e r s3 1. Pa ra a análise dos dados

foi utilizado o pro g rama SPSS versão 8.0. Pa ra avaliar o papel da fluoração das águas de abastecimento público na redução da cári e

d e n t á ria foram adotados dois pro c e d i m e n t o s. O pri m e i ro consistiu em dividir os municípios em quatro grupos de acordo com os quartis da va ri á vel proporção de população que re c e b e água fluorada. Em seguida, aplicou-se análise de va riância a fim de ve rificar se os va l o res mé-dios de CPO-D entre os grupos diferiam signi-f i c a t i va m e n t e.

Um segundo procedimento foi utilizado pa-ra testar a hipótese de que quanto piores os in-d i c a in-d o res in-de in-dispariin-dain-de in-de renin-da, ou maior a desigualdade social, mais efetivo é o papel do

flúor na redução dos índices de cárie 2 3 , 2 4. Esse

p rocedimento consistiu em separar os municí-pios em dois grupos: um com menores e outro com maiores va l o res dos indicadores de desi-gualdade social, considera n d o - s e, para tanto, a mediana dos indicadores renda insuficiente e Índice de Theil como ponto de cort e. Essas va-ri á veis foram selecionadas diante de evidên-cias apontadas pela litera t u ra de que são as so-ciedades menos igualitárias que apre s e n t a m

m a i o res níveis de doenças 1 5. Procedeu-se

en-tão à análise de re g ressão múltipla para cada g ru p o, forçando a entrada das va ri á veis pre v i

a-mente selecionadas pelo procedimento s t e pw i

-s ep a ra o conjunto global de municípios. Ne s s a

etapa da análise incluiu-se no grupo de va ri á-veis previamente selecionadas a va ri á vel po-p ulação que recebe água fluorada como po- possí-vel candidata ao modelo final no lugar da va-ri á vel proporção de domicílios ligados à re d e de água.

A va ri á vel população que recebe água fluo-rada não apresentou distribuição normal após a tra n s f o rmação log. Devido à importância des-ta va ri á vel na determinação da cárie dentári a , amplamente demonstrada pela litera t u ra, ana-lisose sua possível contribuição para a re d u-ção da cárie dentária por meio do modelo de re g ressão múltipla, tendo-se o cuidado de in-t e r p rein-tar seus resulin-tados denin-tro das limiin-tações impostas pela violação dessa suposição.

R e s u l t a d o s

De acordo com a análise descri t i va prévia 2 5,

(4)

fluo-rada é de 58,43%. Com relação ao número de c i ru rgiões-dentistas por habitante observa - s e uma proporção média de 4,9/10 mil habitan-t e s. Observou-se elevada va riabilidade nos in-d i c a in-d o res in-de oferta in-de serviços oin-dontológicos.

A Tabela 2 mostra os coeficientes de corre-lação de Pearson para o Índice CPO-D e as di-versas va ri á veis estudadas. Ve rifica-se que to-das as va ri á veis apresentam correlação signi-f ic a t i va em nível de 5% com o Índice CPO-D. A p re valência de cárie e o indicador social re n d a insuficiente apre s e n t a ram correlação positiva , indicando a tendência de municípios com pio-res condições de vida apre s e n t a rem maiore s índices do agra vo. Quanto à va ri á vel total de ci-ru rgiões-dentistas observou-se correlação ne-g a t i va, o que pode indicar uma maior concen-t ração desconcen-tes nos municípios com menores ín-dices de cári e.

Os indicadores que apre s e n t a ram maior c o r relação com o Índice CPO-D nos grupos de renda, habitação, escolaridade e oferta de ser-viços odontológicos pré-selecionados para a análise de re g ressão múltipla encontram-se des-tacados na Tabela 2. Do grupo re l a t i vo à re n d a foi selecionada a va ri á vel renda insuficiente; do grupo de habitação selecionou-se a va ri á-vel: domicílios ligados à rede de águas; daquele g rupo relacionado à educação a va ri á vel sele-cionada foi: anos médios de estudo; e do re l a-t ivo à ofera-ta de serviços foi escolhida a va ri á-vel: número de dentistas inscritos no CRO por 1.000 habitantes.

Na Tabela 3 pode-se observar o modelo de

re g ressão múltipla obtido pelo método s t e pw i

-s e ,bem como a ordem de entrada das va ri á ve i s e a re s p e c t i va contribuição em termos de por-centual da va riação explicada, além das estima-t i vas dos parâmeestima-tros por mínimos quadra d o s o rd i n á ri o s. O modelo final obtido inclui re n d a insuficiente e número total de ciru rg i õ e s - d e n-t i s n-t a s, sendo a renda insuficienn-te a pri m e i ra va-ri á vel a entra r. A va va-ri á vel renda insuficiente foi estatisticamente significativa no modelo des-c rito (p < 0,001), bem des-como a va ri á vel número de ciru rgiões-dentistas inscritos no CRO por 1.000 habitantes (p = 0,047). Porém, ao se com-p a rar a ordem de entrada das va ri á veis no mo-d e l o, ve rifica-se a remo-duzimo-da contribuição par-cial daquela de serviço odontológico na expli-cação das va riações no índice CPO-D.

Complementando essa etapa do estudo, rea-l i zou-se a anárea-lise de resíduos para o moderea-lo fi-nal obtido, na qual pôde-se identificar a

pre-sença de o ut l i e r s .Pa ra ve rificar a influência

d e s t e s nos resultados da re g re s s ã o, os municí-pios correspondentes a esses resíduos fora m e xcluídos (doze) e ajustou-se o modelo final, apenas com as va ri á veis número total de den-tistas e renda insuficiente, aos municípios re s-tantes (n = 266).

O b s e rvou-se que, após a remoção dos o u

-t l i e r s, o modelo final obtido apontou apenas uma única va ri á vel significativa, a renda insu-ficiente (p < 0,001), que sozinha explica 13,1% da va riação na média de CPO-D para os

mu-Tabela 1

Estatísticas descritivas para as variáveis de cárie dentária, desenvolvimento social e provisão de serviços odontológicos dos municípios do Estado do Paraná, Brasil.

Va r i á v e l n M é d i a D P C V M í n i m o P2 5 M e d i a n a P7 5 M á x i m o

C P O - D 3 5 7 5 , 1 5 1 , 8 7 3 6 , 2 4 1 , 2 4 3 , 8 8 4 , 9 8 6 , 1 7 1 2 , 9 0

Renda familiar média per capita 3 1 4 0 , 8 3 0 , 3 0 3 5 , 9 0 0 , 3 5 0 , 6 2 0 , 7 7 1 , 0 0 2 , 5 6

Índice de Theil 3 1 4 0 , 5 3 0 , 1 3 2 4 , 0 1 0 , 2 2 0 , 4 5 0 , 5 1 0 , 6 1 1 , 0 1

Renda insuficiente 3 1 4 5 6 , 1 6 1 3 , 7 3 2 4 , 4 5 1 3 , 4 8 4 7 , 4 3 5 7 , 5 0 6 7 , 1 0 8 7 , 4 2 Aglomeração domiciliar 3 1 4 3 2 , 0 7 1 2 , 9 1 4 0 , 2 7 1 5 , 5 0 2 1 , 0 0 3 1 , 6 0 4 6 , 0 0 4 9 , 1 0 Domicílios com ligação 3 1 3 5 7 , 8 1 2 0 , 2 5 3 5 , 0 3 1 4 , 4 9 4 2 , 3 2 6 0 , 3 2 7 4 , 4 5 9 7 , 2 1 à rede de água

População que recebe água fluorada 3 5 4 5 8 , 4 3 3 0 , 0 7 5 1 , 4 6 0 , 0 0 3 9 , 1 9 6 1 , 4 8 8 2 , 8 0 1 0 0 , 0 0 Coeficiente de analfabetismo 3 1 4 1 9 , 9 2 6 , 2 9 3 1 , 6 0 5 , 3 0 1 5 , 2 0 2 0 , 1 0 2 4 , 4 0 3 9 , 9 0 Anos médios de estudo 3 1 4 3 , 5 7 0 , 7 5 2 1 , 1 0 1 , 8 0 3 , 1 0 3 , 5 0 4 , 0 0 7 , 4 0 Crianças (7 a 14 anos) sem escola 3 1 4 1 9 , 7 5 7 , 3 2 3 7 , 0 7 3 , 4 0 1 4 , 5 0 1 8 , 7 5 2 3 , 2 0 5 8 , 6 0 N ú m e ro de consultórios/ 3 2 1 0 , 3 3 0 , 5 0 1 5 1 , 2 1 0 , 0 0 0 , 1 6 0 , 2 7 0 , 4 3 0 , 6 8 1.000 habitantes/SUS

N ú m e ro total de dentistas/ 2 9 4 0 , 4 9 0 , 3 7 7 5 , 1 0 0 , 0 4 0 , 2 3 0 , 3 8 0 , 6 1 2 , 5 6 1.000 habitantes

(5)

n icípios do Estado do Pa raná. Como inform a-ção adicional, ve rificou-se que o coeficiente de d e t e rminação ajustado passou de 0,125 para 0 , 1 3 1 .

Na Tabela 4 podem ser ve rificados os re s u l-tados da análise de re g ressão múltipla para o CPO-D quando, no grupo de va ri á veis pre v i a-mente selecionadas, substitui-se a va ri á vel pro-porção de domicílios ligados à rede de água por p roporção de população que recebe água fluo-rada. O modelo final seleciona as va ri á veis pro-porção de população que recebe água fluora-da e renfluora-da insuficiente, sendo excluífluora-da a va ri á-vel total de dentistas inscritos no CRO. Ve ri f i-c a -se que o i-coefii-ciente da va ri á vel de ai-cesso ao flúor foi estatisticamente significante no modelo descrito (p = 0,022), bem como a re n d a i n s uf iciente (p < 0,001). Neste caso, o modelo m u l t i va riado obtido indica que a renda insufi-ciente e a proporção da população que re c e b e água fluorada explicam juntas 12,7% da va ri a-ção do CPO-D no Estado do Pa raná.

A Tabela 5 apresenta os modelos de re g re s-são obtidos para dois grupos de municípios: um com menores e outro com maiores va l o re s dos indicadores de desigualdade social, identi-ficados com base nas va ri á veis: renda insufi-ciente e Índice de Theil. As va ri á veis que entra-ram na análise de re g ressão múltipla foentra-ram as selecionadas previamente pelo pro c e d i m e n t o s t e pw is e: renda insuficiente e proporção de p opulação que recebe água fluorada. Ve ri f i c a -se que para os municípios com menor desi-gualdade social (menor proporção de popula-ção com renda insuficiente e menor Índice de Theil), a va ri á vel significativamente associada com o Índice CPO-D foi renda insuficiente, não

i m p o rtando o indicador utilizado para a clas-s ificação do gru p o. Na meclas-sma tabela pode-clas-se o b s e rvar que, para os municípios com mais desigualdade social, a va ri á vel população que recebe água fluorada é significativamente as-sociada com o CPO-D tanto para o grupo sele-cionado com base na mediana da renda insu-f i c i e n t e, como para o selecionado baseando-se na mediana do Índice de Theil. Pa ra este úl-t i m o, o coeficienúl-te de deúl-terminação ajusúl-tado é de 0,156 e o modelo obtido inclui as va ri á-ve i s renda insuficiente e população que re c e b e água fluora d a .

Tabela 2

Análise de correlação entre o Índice CPO-D e as variáveis de desenvolvimento social e de oferta de serviços odontológicos.

I n d i c a d o re s Coeficiente de Nível de

C o r relação de Pearson s i g n i f i c â n c i a

Renda familiar média per capita* - 0 , 2 6 p < 0,001

Índice de Theil* 0 , 1 2 p = 0,032

Renda insuficiente 0 , 3 1 p < 0,001

Aglomeração domiciliar* 0 , 1 6 p = 0,001

Domicílios com ligação à rede de água - 0 , 3 0 p < 0,001 População que recebe água fluorada - 0 , 3 0 p < 0,001

Coeficiente de analfabetismo 0 , 1 5 p = 0,007

Anos médios de estudo* - 0 , 2 8 p < 0,001

Crianças (7 a 14 anos) sem escola 0 , 1 7 p = 0,003 N ú m e ro de consultórios SUS/ 0 , 1 7 p = 0,002 1.000 habitantes*

N ú m e ro total de dentistas/ - 0 , 2 7 p < 0,001 1.000 habitantes

* Logaritmo da variável.

Tabela 3

Resultados do modelo de re g ressão linear múltipla (stepwise) para o Índice CPO-D.

Modelo por ordem C o e f i c i e n t e

de entrada das variáveis E s t i m a t i v a E r ro padrão p - v a l o r IC 95%

1 R2ajustado = 0,115

C o n s t a n t e 2 , 5 0 8 0 , 4 1 4 P < 0,001 1 , 6 9 4 3 , 3 2 3 Renda insuficiente 0 , 0 4 4 0 , 0 0 7 P < 0,001 0 , 0 3 0 0 , 0 5 8

2 R2ajustado = 0,125

C o n s t a n t e 2 , 6 8 4 0 , 4 2 1 p < 0,001 1 , 8 5 6 3 , 5 1 3 Renda insuficiente 0 , 0 3 5 0 , 0 0 8 p < 0,001 0 , 0 1 8 0 , 0 5 2 N ú m e ro total de dentistas/ - 0 , 7 7 4 0 , 3 8 7 p = 0,047 - 1 , 5 3 6 - 0 , 0 1 3 1.000 habitantes*

(6)

Tabela 4

Resultados do modelo de re g ressão linear múltipla para o Índice CPO-D, após inclusão da variável de fluoração das águas de abastecimento público.

Modelo por ordem C o e f i c i e n t e

de entrada das variáveis E s t i m a t i v a E r ro padrão p - v a l o r I C 9 5 %

1 R2ajustado = 0,114

C o n s t a n t e 2 , 5 1 3 0 , 4 1 4 P < 0,001 1 , 6 9 8 3 , 3 2 9 Renda insuficiente 0 , 0 4 4 0 , 0 0 7 P < 0,001 0 , 0 2 9 0 , 0 5 8

2 R2ajustado = 0,127

C o n s t a n t e 3 , 5 6 7 0 , 6 1 5 p < 0,001 2 , 3 5 6 4 , 7 7 8 Renda insuficiente 0 , 0 3 5 0 , 0 0 8 p < 0,001 0 , 0 2 0 0 , 0 5 1 População que recebe água fluorada - 0 , 0 0 9 0 , 0 0 4 p = 0,022 - 0 , 0 1 8 - 0 , 0 0 1

Tabela 5

Resultados do modelo de re g ressão linear múltipla para o Índice CPO-D, segundo grupo de municípios apresentando menos e mais desigualdade social.

I n d i c a d o r M o d e l o C o e f i c i e n t e

E s t i m a t i v a p - v a l o r

Municípios com menos desigualdade social

R2 ajustado = 0,096

Renda insuficiente C o n s t a n t e 2 , 6 0 1 p = 0,001

Renda insuficiente 0 , 0 5 2 p < 0,001

População que recebe água fluorada - 0 , 0 0 4 p = 0,318 R2 ajustado = 0,064

Índice de Theil C o n s t a n t e 3 , 4 4 1 p < 0,001

Renda insuficiente 0 , 0 3 1 p = 0,006

População que recebe água fluorada - 0 , 0 0 3 p = 0,494

Municípios com mais desigualdade social

R2 ajustado = 0,047

Renda insuficiente C o n s t a n t e 4 , 7 2 1 p = 0,008

Renda insuficiente 0 , 0 2 3 p = 0,343

População que recebe água fluorada - 0 , 0 1 6 p = 0,013 R2 ajustado = 0,156

Índice de Theil C o n s t a n t e 4 , 5 1 7 p < 0,001

Renda insuficiente 0 , 0 3 0 p = 0,007

(7)

D i s c u s s ã o

Valendo-se deste estudo buscou-se utilizar os recursos da epidemiologia para pro p o rc i o n a r uma noção sobre a situação da cárie dentári a no Estado do Pa raná, em 1996, bem como suas relações com condições sócio-econômicas e o f e rta de serviços odontológicos, e especifica-m e n t e, coespecifica-m a fluoração das águas de abasteci-mento público. Os dados aqui relatados podem m o s t ra r-se úteis para a definição de pro g ra m a s de pre venção e tratamento da doença, para o planejamento dos serviços ou para guiar políti-cas de saúde bucal no Estado do Pa ra n á .

Apesar dos desenhos específicos e dos di-f e rentes padrões de medidas e de amostra, os estudos realizados a partir da década de 80 t ê m d e m o n s t rado uma relação consistente en-t re condição sócio-econômica e cárie denen-tári a em crianças 1 0 , 1 1 , 1 4 , 1 5. No Pa raná, as corre l aç õ e s e n t re cárie dentária e os diversos indicadore s de desenvolvimento social estudados mostra-ram-se significativas apesar dos baixos va l o re s o b t i d o s. Ba i xos va l o res de corre l a ç ã o, porém s i g n i f i c a t i vo s, parece ser uma característica de estudos ecológicos com dados secundários que utilizam um grande número de unidades amos-t rais no Brasil. Va l o res semelhanamos-tes aos obamos-tidos no presente estudo foram identificados por

Santos & No ronha 3 2ao analisar as corre l a ç õ e s

e n t re indicadores sociais e mortalidade geral, e por causas em 144 bairros do Município do Rio de Ja n e i ro. Esses autores encontra ram coefi-cientes de correlação significativos va riando de -0,20 a -0,52. A va ri á vel de renda foi a que apre-sentou os maiores va l o res de correlação dentre as va ri á veis sócio-econômicas utilizadas por

e l e s. Leal & Sw a rcwald 3 3, ao analisarem os

coe-ficientes de correlação entre um indicador só-cio-econômico composto e as taxas de mort a-lidade infantil para os 91 municípios do Estado do Rio de Ja n e i ro, encontra ram o valor r = 0,257 p a ra a idade de ze ro a 364 dias de vida, no pe-ríodo de 1979-1981 e r = 0,123 para 1990-1992.

No entanto, deve-se lembrar que a análise de dados agregados ao nível municipal não leva em consideração o impacto das desigualdades sociais em nível intramunicipal nas associa-ções entre características populacionais. Além d i s s o, conclusões baseadas em análise de da-dos agregada-dos contemplam sempre o risco de sua validade ser afetada pela falácia ecológica. A despeito dessas considera ç õ e s, a análise de dados espaciais viabiliza o estudo de associa-ções entre níveis de agra vo e seus possíveis fa-t o res causais, em diversas sifa-tuações nas quais não é possível a obtenção de informações pes-soais e, desse modo, pode instruir os serv i ç o s

de saúde na formulação de pro g ramas social-mente adequados e no direcionamento de

re-cursos para as áreas mais carentes 3 4.

A análise de re g ressão linear múltipla in-cluindo as va ri á veis pré-selecionadas ( Ta b e l a 2) identificou, após a análise de re s í d u o s, ape-nas uma única va ri á vel como estatisticamente significante: a renda insuficiente. Resultado

se-melhante foi obtido por Patussi et al. 1 5que

de-m o n s t ra rade-m que o coeficiente Gini sozinho ex-plicou 31% nos va l o res de CPO-D. No pre s e n t e e s t u d o, o modelo final explicou apenas 13,1% da va riação do CPO-D. Neste caso, há que se c o n s i d e rar a elevada heterogeneidade dos mu-nicípios incluídos na análise, bem como uma p o s s í vel va riabilidade interna de cada

municí-p i o, já demonstrada municí-por Ca m a rgo &ammunicí-p; Moysés 3 5

e por Antunes et al. 1 6. Também não podem ser

d e s c a rtadas as considerações quanto à quali-dade dos dados de CPO-D e dos demais dados s e c u n d á rios utilizados.

Ao se comparar os resultados obtidos com base nos métodos de análises utilizados nesse estudo para quantificar as associações, pode-se afirmar que a análipode-se multiva riada, por meio de re g ressão linear múltipla, não se mostro u s u p e rior em qualidade de ajuste à análise de associações no plano univa ri a d o, por meio de re g ressão linear simples. Uma explicação para isso seria o fato de as va ri á veis independentes s e rem parcialmente colineares e até certo pon-to medirem características análogas das

mes-mas dimensões. Dessa forma, o modelo s t e p

-w is enão autoriza a inclusão dessas múltiplas d i m e n s õ e s, selecionando sempre a va ri á vel de renda insuficiente como sendo a que melhor explica as va riações no índice de CPO-D nos municípios analisados, excluindo as demais.

A renda familiar, bem como a inserção so-cial, apre s e n t a ram relação direta na pre va l ê n-cia da cárie dentária conforme também foi de-m o n s t rado por Fu r l a ni9, Na d a n ov s ky2, Pe re s

et al. 1 2e Baldani et al. 2 5. Na opinião de Ma rc

e-nes & Bönecker 3 6no Brasil, como nos países

d e s e n vo l v i d o s, a desigualdade social, em vez de pri vação material e social é o maior deter-minante da experiência de cárie medida pelo C P O - D. Quanto a esse aspecto, o estudo de

Pa-tussi 1 5p ropiciou uma importante evidência

científica para a teoria de que sociedades igua-l i t á rias apresentam meigua-lhores níveis de saúde do que as desiguais e, conseqüentemente, quan-to mais desigual for a distribuição de renda na s o c i e d a d e, maiores serão os contrastes em re-lação à saúde.

(8)

de famílias de baixo nível socioeconômico têm menor possibilidade de acesso aos serviços do que as de classes sociais mais altas, e conse-q ü e n t e m e n t e, também aos benefícios advin-dos destes como selantes, aplicações tópicas de flúor e uso de dentifrícios fluora d o s. Por

ou-t ro lado, Na d a n ovsky & Sheiham 8d e m o n s t

ra-ram que as mudanças sócio-econômicas têm papel mais re l e vante na redução de cárie den-t á ria do que a oferden-ta de serviços odonden-tológicos. O presente estudo aponta uma corre l a ç ã o n e g a t i va entre cárie dentária e o número total de dentistas inscritos no CRO. A interpre t a ç ã o mais evidente seria a de que o maior número de ciru rgiões-dentistas em um município con-t ribui direcon-tamencon-te para um menor Índice CPO-D. Porém, concordando com o que foi

demons-t rado por Na d a n ovsky & Sheiham 8, essa

asso-c i a ç ã o, medida pela análise de re g ressão linear s i m p l e s, não se mostrou significativa quando c o n t rolada por indicadores sócio-econômicos e pela água fluorada, o que faz supor que a va-ri á vel de serviços seja um possível fator de con-f u s ã o.

Este estudo demonstrou também haver uma c o r relação positiva entre o Índice CPO-D e o n ú m e ro de consultórios disponíveis no serv i ç o público (Tabela 2). Este resultado reflete uma p o s s í vel tendência de que os municípios com p i o res indicadores sociais, mais pobre s, por-t a n por-t o, sejam os que espor-tejam oferecendo uma maior cobert u ra de serviços públicos à sua po-p u l a ç ã o. Pa ra demonstrar essa hipo-pótese, po- pes-quisas específicas deve riam ser conduzidas.

O b s e rvo u - s e, neste estudo, correlação ne-g a t i va entre o CPO-D e a proporção da popula-ção que recebe água fluorada (Tabela 2), o que pode ser interpretado como um indício de êxi-to dessa estratégia. O papel da fluoração das águas de abastecimento público na redução do CPO-D também tem sido largamente descri t o na litera t u ra 1 7 , 1 8 , 3 7. A Tabela 2 mostra que exis-te uma exis-tendência de os municípios com maior p roporção da população recebendo água fluo-rada apre s e n t a rem um menor CPO-D, o que foi c o n f i rmado pela análise de va riância (p < 0,001) e n t re as médias de CPO-D para os quartis des-sa va ri á vel.

Os resultados da análise de re g ressão linear ve rificados neste estudo para a va ri á vel pro-porção de população que recebe água fluora-da (Tabela 4), devem ser vistos com cautela. Uma vez que a va ri á vel não apresentou distri-buição normal, nem mostrou-se linearm e n t e relacionada com a va ri á vel dependente do mo-d e l o, mo-deixou mo-de cumprir com mo-dois mo-dos pre s s u-postos da análise de re g ressão linear. Po rt a n t o, os va l o res dos coeficientes obtidos podem

es-tar sub ou supere s t i m a d o s. Porém, os re s u l t a-d o s, apesar a-de não poa-derem ser ina-dicaa-dos com s e g u rança para estimativas de va riações mé-dias no Índice CPO-D, são significativos e es-tão de acordo com o que tem sido relatado na l i t e ra t u ra, uma vez que sugerem a influência da p resença do flúor nas águas de abastecimento público na va riação da pre valência de cárie na p o p u l a ç ã o.

In f o rmações complementares sobre o pa-pel da fluoração das águas de abastecimento público na redução da cárie dentária mostra m que essa influi significativamente e em maior intensidade na va riação do CPO-D naqueles municípios com piores indicadores de desi-gualdade social (Tabela 5). O mesmo re s u l t a d o não é obtido ao se substituir a va ri á vel pro p o r-ção de popular-ção com acesso à água fluora d a pela va ri á vel proporção de domicílios ligados à rede de água. Este achado concorda com os

relatos de Slade et al. 2 2e de Jones et al. 2 3q u e

c o n c l u í ram que as regiões com piores condi-ções sócio-econômicas são as que mais se be-neficiam com a fluoração das águas, porq u e, além da redução nos níveis de cári e, esta me-d ime-da contribui na reme-dução me-das me-desigualme-dame-des sócio-econômicas na experiência de cári e. Re-sultados semelhantes também foram re l a t

a-dos por outros autores 9 , 2 4, os quais atribuem à

f l u oração das águas de abastecimento público a capacidade de reduzir sensivelmente o im-pacto negativo das desigualdades sócio-econô-micas sobre a pre valência de cárie dentári a .

Os resultados relatados no presente estudo indicam a importância da fluoração das águas de abastecimento público, principalmente na-queles municípios onde as desigualdades so-ciais são mais evidentes, concordando com o

c o m e n t á rio de Na rvai 3 8segundo o qual o

be-nefício é pro p o rcionalmente maior justamen-te nos segmentos que não têm ou têm muito pouco acesso a outros fatores de pro t e ç ã o. Ap e-sar das evidências do importante papel de ou-t ras medidas, como a fluoração dos denou-tifrí-

dentifrí-c i os7 , 3 , 1 , 2, que foi instituída no Brasil na

déca-da de 80, ao se levar em conta que a pro p o r ç ã o m édia da população vivendo com renda menor do que meio salário mínimo/mês nos municí-pios do Estado do Pa raná é de 56,16% ( Ta b e l a 1), e que este estado é um dos melhores situa-dos no Brasil do ponto de vista econômico, os resultados aqui obtidos permitem reforçar a

opinião de Na rvai 3 8( p. 386), ao afirmar que a

(9)

Considerações finais

Os resultados relatados neste trabalho eviden-ciam correlações significativas entre os indica-d o res indica-de indica-desenvolvimento social re l a c i o n a indica-d o s à renda, moradia e escolaridade com cárie d e n-t á ria. De n n-t re esn-tes, desn-taca-se um indicador de renda (renda insuficiente), demonstrando que as piores condições de saúde bucal não podem ser dissociadas das disparidades de renda. O acesso da população à água de abastecimento público fluorada também se afirmou como um fator importante na va riação dos va l o res do Índice CPO-D no estado. Como indicação su-p l e m e n t a r, foi evidenciada correlação entre cá-rie dentária e a oferta de serviços odontológi-cos medida pelo número de dentistas inscri t o s no CRO. Porém, a mesma não se mostrou sig-n i f i c a t i va quasig-ndo cosig-ntrolada pelos isig-ndicadore s sócio-econômicos e pela água fluorada. Há que se considerar que as melhorias nas condições de saúde das populações têm sido marc a d a s

por intervenções no âmbito do coletivo, por p o-líticas de Estado que têm privilegiado o inve st i-mento na melhoria da infra - e s t ru t u ra urbana e s e rviços de atenção pri m á ria e de baixo custo. Uma reflexão mais aprofundada sobre o pre-sente tema, indica que a possibilidade de inter-venção sobre a cárie dentária deve ser dire c i o-nada, além da melhoria das condições de vida, p a ra a esfera dos serviços de saúde, cujo uso adequado vai além da possibilidade de acesso da população. Há necessidade, também, de se implementar medidas e políticas compensató-rias para amenizar os efeitos danosos das desi-gualdades sociais, uma vez que estas se torn a m mais gra ves se estratégias pre ve n t i vas não são c a p a zes de prover ao menos benefícios equiva-lentes para grupos de baixo nível sócio-econô-m i c o. Este estudo corro b o ra o que tesócio-econô-m sido d e s c rito na litera t u ra: a fluoração das águas de abastecimento público é uma estratégia capaz de reduzir as desigualdades em saúde bucal p a ra os diferentes grupos da população.

Resumo

Este estudo ecológico investigou as associações entre cárie dentária, i n d i c a d o res sócio-econômicos e de o f e rta de serviços odontológicos no Estado do Pa ra-n á , Bra s i l , p a ra o ara-no de 1996. Dois tipos de ira-nfor- infor-mações foram re u n i d o s : (1) dados sobre pre va l ê n c i a de cárie dentária (CPO-D aos 12 anos) para os mu-nicípios do Es t a d o ; (2) dados re l a t i vos às condições sócio-econômicas e de oferta de serviços odontológi-c o s . Com base em análise de re g ressão linear simples d e m o n s t rou-se correlação significativa entre o índi-ce de cárie dentária nos municípios e os vários indi-c a d o res soindi-ciais e de oferta de serv i ç o s . Resultados da análise de re g ressão linear múltipla apontaram que apenas um indicador de desigualdade de renda per-maneceu significativamente associado com cárie d e n t á r i a , d e m o n s t rando que as piores condições de saúde bucal não podem ser dissociadas das dispari-dades de re n d a . Ob s e rvou-se correlação negativa sig-n i f i c a t i va esig-ntre o CPO-D e a proporção de popula-ção que recebe água fluora d a , principalmente nos municípios com piores indicadores de desigualdade de re n d a . Nesse sentido, sublinha-se a import â n c i a desse benefício não só como recurso para a re d u ç ã o dos níveis de cárie, como também para atenuar o impacto das desigualdades sócio-econômicas sobre a pre valência de cárie dentária.

Recursos em Saúde; Fa t o res Sócieconômicos; Fl u o-ra ç ã o ; Índice CPO

C o l a b o r a d o re s

Este artigo é o resultado da dissertação de mestra d o de M. H. Baldani, defendida na Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, em julho de 2002, sob a orientação de A. G. G. Vasconcelos e co-o rientaçãco-o de J. L. F. Antunes. Tco-odco-os co-os autco-ores re a l i-z a ram em conjunto todas as etapas do tra b a l h o, des-de a organização do banco des-de dados até as análises e s t a t í s t i c a s. A. G. G. Vasconcelos e J. L. F. Antunes re-v i s a ram o texto da dissertação e do art i g o.

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Referências

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