Eficácia de Programa de Mudança de Estilo de Vida sobre o
hábito alimentar e antropometria de adultos participantes de
programa de mudança de estilo de vida. Efeito da interrupção da
supervisão profissional.
Muriel Siqueira - Nutricionista Departamento de Saúde Pública Orientador: Prof. Titular Roberto Carlos Burini
Abril de 2012.
Eficácia de Programa de Mudança de Estilo de Vida sobre o hábito alimentar e antropometria de adultos participantes de programa de mudança de estilo de vida. Efeito
da interrupção da supervisão profissional.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Carlos Burini
Botucatu 2012
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, Campus de Botucatu para obtenção
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Siqueira, Muriel.
Eficácia de programa de mudança de estilo de vida sobre o hábito alimentar e antropometria de adultos participantes de programa de mudança de estilo de vida. Efeito da interrupção da supervisão profissional. – Botucatu : [s.n.], 2012
Dissertação (mestrado – Saúde Pública) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina de Botucatu
Orientador: Roberto Carlos Burini Capes: 40602001
1. Nutrição – Aspectos sociológicos. 2. Antropometria. 3. Hábito alimentares. 4. Estilo de vida.
Palavras-chave: Adesão; Alimentação; Antropometria; Desfechos da
Aos meus pais, Adão e Fátima, que abdicaram da própria formação profissional para
Agradeço primeiramente a Deus que sempre me concedeu suporte nessa etapa. Ao apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na forma de bolsa de estudos, sem o qual seria impossível continuar.
Ao meu orientador Roberto Carlos Burini pela oportunidade, pela liberdade e permissão de me deixar ser quem eu era e pelo crescimento profissional proporcionado.
A Kátia Cristina Portero McLellan por atender a todos os meus pedidos de socorro. As queridas Iniciações Científicas do laboratório, que nos auxiliam com uma dimensão
que muitas vezes desconhecem.
A toda assistência de José Eduardo Corrente, que encontrava horários inexistentes para me assistir e conseguia entender e aceitar minha ignorância em bioestatística. A Regina Célia Spadin, da secretaria de Pós-Graduação, por todo cuidado, por toda
preocupação e paciência.
Dizem que para amigos, não há necessidade de agradecimento, pois se trata de compartilhamento, então eu diria aqui vai o meu reconhecimento: A Amiga Edilaine Michelin, por toda a ajuda prestada, sempre de forma muito prestativa e autruísta; A amiga Natasha França pela ajuda na coleta de dados, pelo apoio, risadas, filmes, músicas, desabafos e por ter se tornado essencial na minha vida;
A Amiga Viviane Andreasi Hulshof pela jornada de companheirismo em todas as disciplinas, trabalhos e prazos do Mestrado, mas, sobretudo pelo divertimento e abrigo
nos últimos meses.
Aos meus amigos do CeMENutri que tornaram meu caminho mais suave de diversas formas: Erick Prado de Oliveira, Viviane Ribeiro, Marina Nicola, Reinaldo Dalanesi,
Elaine Ramos, Lívia Miyoshi, Leonardo Oliveira, Fabiana Marsola, Mauro
Takashasi, Mônica Morelli e Nelson Machado.
As minhas amigas unespianas: Andrea Gonçalves, Ana Paula Urbano, Marcela
Watanabe, Aline Pereira, Luciana Bronzi, Lidiana Talon, Paula Roberta Pivetta e
Natalia Kodama; E aos meus amigos piracicabanos: Carlos Virgilio (Chileno), Helder (Buda), Juliana Sabadin, Amandae Patreze, Ligia Rufino e Juliana Cordeiro. A minha família por apoiar e entender a ausência do meu convívio em muitas ocasiões.
“Não é o mais forte que sobrevive.
Nem o mais inteligente.
Mas o que melhor se adapta às mudanças”
vida que seja capaz de prevenir, modificar ou controlar fatores de risco, além de conseguir a adesão dos bons hábitos adquiridos durante a intervenção, ao longo do tempo e principalmente sem supervisão. O objetivo do trabalho foi estudar os indicadores alimentares e antropométricos do estilo de vida de adultos participantes de programa de Mudança do Estilo de Vida (MEV) e, posteriormente desistentes e associar com os desfechos de adesão. Foi realizado um estudo transversal com 153 indivíduos participantes atualmente afastados do programa. As informações socioeconômicas foram obtidas através do Questionário Internacional de Atividade Física. A avaliação antropométrica consistiu de medidas de peso corporal e estatura, cálculo do índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal (CA) e % de gordura corporal (%GC). A ingestão alimentar foi investigada através de recordatório de 24horas calculado pelo programa NutWin versão 1.5. A qualidade da dieta foi avaliada pelo Índice de Alimentação Saudável (IAS) com base na Pirâmide Alimentar Brasileira. Os participantes foram classificados de acordo com os desfechos da intervenção em Sucesso/Indiferente/Insucesso no momento final da intervenção (M1) comparado ao início (M0) e no momento após desligamento do programa (M2) comparado ao momento M1. Foi realizado teste de qui-quadrado para associar os desfechos com as variáveis socioeconômicas, com nível de significância de p<0,05, através do programa SAS for windows, v. 9.2. No momento M1, observa-se redução de peso corporal, ingestão calórica e de frutas e aumento do consumo de leguminosas. Na comparação dos 3 momentos, observa-se um aumento significativo de indivíduos com valores de inadequação em M2, superando os valores do momento inicial (M0) e pós-intervenção (M1) no consumo de frutas, leguminosas, carnes, colesterol e gordura saturada e IAS. Na associação com dados socioeconômicos, observa-se que possuir maior renda e escolaridade está associado com o desfecho de Insucesso da intervenção nutricional na perda de peso e consequentemente para diminuição do IMC. Para a variável CA, tem-se que a minoria obteve Insucesso, enquanto que a maioria das pessoas com Sucesso associou-se com renda >5 salários mínimos. A maioria das pessoas que tiveram Sucesso de perda de peso hoje se encontra no Insucesso e para a maioria das pessoas que o programa MEV foi Indiferente, atualmente pioraram para o Insucesso. Com relação a antropometria, observa-se que a maioria das pessoas que obtiveram Sucesso, conseguiu manter uma boa classificação, enquanto àqueles que tiveram Insucesso ou foram Indiferentes à intervenção, permanecem imutáveis. Com relação ao IAS, observa-se que a maioria das pessoas que melhoram essa classificação durante a intervenção, perde os benefícios conquistados após o desligamento do programa, sendo classificados como Insucessos. O questionário aplicado com relação à aderência a MEV obteve 123 respostas afirmativas de participação da intervenção nutricional e as principais mudanças benéficas adquiridas relatadas foram o aumento do consumo de frutas, verduras e legumes, diminuição de consumo de gorduras, óleos e frituras e aumento no consumo de água. A maioria dos participantes que obtiveram Insucesso, afirmam ter aderido ao programa MEV.
It has been a challenge to find the most effective lifestyle modification strategy that can prevent, change and control risk factors in addition to achieving adherence to good habits developed during an intervention over time and particularly without supervision. This study aimed at studying dietary and anthropometric indicators of lifestyle modification in adults participating in the Lifestyle Modification (LM) program who later dropped out and at associating them with adherence outcomes. A cross-sectional study was conducted on 153 participant individuals who had dropped out of the program. Socioeconomic information was obtained by the International Physical Activity Questionnaire. Anthropometric evaluation consisted in measuring body weight and height, calculating the body mass index (BMI), waist circumference (WC) and body fat percentage (%BF). Food intake was investigated by a 24-hour recall calculated by the NutWin software, version 1.5. Diet quality was evaluated by the Healthy Eating Index (HEI) based on the Brazilian Food Pyramid. The participants were classified according to the outcomes of the intervention as Successful/Indifferent/Failing at the final moments of the intervention (M1) as compared to the beginning (M0) and at the moment after dropping out of the program (M2) as compared to M1. The chi-square test was performed in order to associate the outcomes with socioeconomic variables, with a level of significance of p<0.05, by the SAS for windows software package, v. 9.2. At M1, reduced body weight and calorie and fruit intake as well as increased legume intake were observed. When comparing the three moments, a significant increase in the number of individuals with inadequacy values was observed at M2, which surpassed the values for the initial (M0) and post-intervention (M1) moments as regards the intake of fruit, legumes, meat, cholesterol and saturated fat and HEI. As to the association with socioeconomic data, it was observed that having a higher income and education was associated with failure in the nutritional intervention as regards weight loss and consequently BMI reduction. For variable WC, it was found that the minority of participants failed whereas most of the successful individuals associated with an income above 5 minimum salaries. The majority of the successful individuals in losing weight have currently failed, and most of the people to whom the LM program was Indifferent have now worsened to failure. As regards anthropometry, it was observed that most of the successful people were able to maintain a good classification whereas those who failed or were indifferent to the intervention remained unchanged. With regard to HEI, it was observed that most of the individuals who improved that classification during the intervention lost the achieved after dropping out of the program, and were then classified as failing. The questionnaire applied in relation to LM adherence obtained 123 affirmative answers regarding participation in the nutritional intervention, and the main acquired beneficial changes reported were increased fruit, vegetable and legume intake; decreased fat, oil and fried-food intake and increased water intake. Most of the successful participants reported to have adhered to the LM program.
% GC: Porcentagem de Gordura Corporal CA: Circunferência Abdominal
CeMENutri: Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição CEP: Comitê de Ética em Pesquisa
DCNT: Doenças Crônicas Não-Transmissíveis GA: Gordura Absoluta
GAP: Grupo de Apoio a Pesquisa IAS: Índice de Alimentação Saudável
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMC: Índice de Massa Corporal
IPAQ: Questionário Internacional de Atividade Física M0: Momento Inicial
M1: Momento após intervenção
M2: Momento atual após desligamento MEV: Mudança de Estilo de Vida MLG: Massa Livre de Gordura OMS: Organização Mundial de Saúde POF: Pesquisa de Orçamento Familiar
ABSTRACT
LISTA DE ABREVIATURAS
1 INTRODUÇÃO ... 14
2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TRABALHO ... 19
3. OBJETIVOS ... 21
3.1. Objetivo geral ... 21
3.2. Objetivos específicos... 21
4.0 Casuística e Métodos ... 23
4.1 Desenho do estudo ... 23
4.2 Indivíduos e momentos do estudo ... 23
4.3 Aspectos éticos ... 25
4.4 Dados demográficos e socioeconômicos ... 25
4.5 Antropometria ... 25
4.6 Hábito dietético e ingestão alimentar ... 27
4.7 Questionário ... 28
4.8 Classificações de acordo com os desfechos da intervenção “Mexa-se Pró-Saúde” ... 28
4.9 Análise estatística ... 29
5 RESULTADOS ... 32
5.1 Caracterização demográfica e socioeconômica ... 32
5.2 Caracterização antropométrica ... 32
5.3 Caracterização do consumo alimentar ... 33
5.4 Efeitos da intervenção de seis meses e desfechos pós-interrupção de programa de Mudança de Estilo de Vida “Mexa-se Pró-Saúde” ... 34
5 DISCUSSÃO ... 44
6 CONCLUSÕES ... 50
1 INTRODUÇÃO
A população brasileira tem passado por processos de transição demográfica,
epidemiológica e nutricional desde a década de 60, resultando num aumento
significativo da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (1). Para
toda a sociedade, o número de mortes prematuras e de incapacidades faz com que as
DCNT´s, demandem significativos investimentos em pesquisa, vigilância, prevenção,
promoção da saúde e defesa de uma vida saudável. Estima-se que os gastos do
Ministério da Saúde em função dessas doenças sejam de aproximadamente R$ 7,5
bilhões por ano (1). As DCNT´s, são as principais causas de morte e invalidez e
respondem por 60% das mortes em todo o mundo (2).
A alta prevalência de obesidade, com seus riscos de saúde associados, como as
DCNT´s é um importante problema de saúde pública (3). A estimativa da Organização
Mundial da Saúde (OMS), em 2005, era de 1,6 bilhões de pessoas com sobrepeso e 400
milhões com obesidade e a projeção é que em 2015, o número de sobrepesos seja
aproximadamente 2,3 bilhões e de obesos ultrapasse os 700 milhões (4). No Brasil, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa de
Orçamento Familiar (POF) em 2008-2009, que relatavam uma prevalência da população
masculina com 50,1% com sobrepeso e 12,4% com obesidade, enquanto que nas
mulheres, a prevalência era 48,0% de indivíduos portadores de sobrepeso e 16,9% e de
obesidade (5).
Segundo Gigante e colaboradores (2009), as variáveis socioeconômicas e
demográficas são associadas com excesso de peso e obesidade. A prevalência de
obesidade tem aumentado em países renda alta e baixa, entre adultos, adolescentes e
crianças. Nos países de renda alta, a obesidade atinge principalmente a população
maior na população de maior renda. No entanto, na população brasileira, mais
recentemente vem sendo observada maior ocorrência de obesidade entre os mais pobres
(6).
A avaliação de saúde auto-referida é uma medida subjetiva que combina
componentes físicos, emocionais e nível de satisfação e qualidade de vida (7).
No trabalho de Dachs e Santos de 2006 confirma-se que os principais
determinantes da auto-avaliação do estado de saúde são as condições econômicas,
surgindo resultados que mostram que além das condições atuais, medidas pela renda per
capita do domicílio, têm grande importância as condições pregressas, e também a
importância da escolaridade como mediadora das condições econômicas na
determinação da avaliação de saúde (8).
A literatura está suficientemente embasada para mostrar que programas de
mudança de comportamento visando mais de um fator de estilo de vida
simultaneamente são eficazes em provocar mudanças positivas (9).
Programas de promoção de saúde, incluindo modificações da dieta, exercícios e
comportamentos podem promover perda de peso e reduzir ou prevenir as complicações
crônicas da obesidade. Mesmo modesta, a perda de peso pode melhorar a glicemia,
controlar a pressão arterial, diminuir o colesterol e reduzir o risco para doenças
coronarianas (10).
No estudo de Burke de 2011, que comparava três abordagens (farmacoterapia,
cirurgia bariátrica e mudança de estilo de vida) para tratamento de sobrepeso e
obesidade, observou-se que a abordagem mais eficaz utilizou uma combinação de
estratégias comportamentais, dieta e exercício para uma mudança de estilo de vida
sustentável. O autor destaca que a Mudança do Estilo de Vida (MEV) também
o maior desafio é a prevenção da recuperação do peso após o período de intervenção
(11).
No estudo de Coelho e colaboradores em 2010, observa-se que os efeitos de dois
anos de programa de MEV foram eficientes na promoção da aptidão física e
reclassificação da adiposidade mesmo sem grandes mudanças na ingestão alimentar
(12). Porém, os achados de Michelin em 2010 mostram que somente atividade física é
insuficiente para manutenção da composição corporal e da aptidão física em condições
saudáveis, sugerindo a necessidade da existência de outro fator de MEV complementar,
como orientação nutricional, para o sucesso da intervenção (13).
O estudo desenvolvido por Pimentel em 2010, observou que um programa de
educação nutricional, desenvolvido durante 12 meses, melhorou os parâmetros
antropométricos, dietéticos e metabólicos em pacientes de alto risco para Diabetes
mellitus tipo 2 (14).
Outro trabalho desenvolvido durante 12 semanas, em Denver, nos Estados
Unidos da América, traz uma proposta inovadora de MEV, baseada na orientação e
prescrição online de exercícios e dieta, mostrando que a tecnologia pode ser usada com
sucesso para significativa perda de peso, controle glicêmico e fatores de risco para
doenças cardíacas em pacientes obesos (15) e ressalta ainda, a abrangência da internet
como um meio fácil e barato de orientar e intervir na perda de peso para um grande
número de pessoas.
Uma equipe de pesquisadores propôs mudanças a partir da percepção das falhas
nas tentativas mal-sucedidas dos pacientes sobrepesos e obesos na redução de peso e no
auto-cuidado, identificando comportamentos de riscos no estilo de vida (falta de
exercício, lanches ricos em gorduras e consumo alimentar exagerado no período
diminuição da gordura corporal e do peso, contribuindo para melhoras do bem-estar dos
indivíduos (16).
Em 2011, estudo publicado mostra que comportamentos da dieta e outros fatores
de mudança de estilo de vida, podem afetar o sucesso da estratégia de intervenção
“comer menos e se exercitar mais” para prevenir ganho de peso ao longo do tempo. A
relação entre os fatores de MEV e ganho de peso foram avaliados em intervalos de 4
anos em adultos de ambos os sexos. Observou-se que nesse período, os participantes
ganharam, em média, 1,51 Kg em consequência do aumento das porções consumidas e
qualidade da dieta, além de outros fatores, como diminuição da atividade física e
aumento do tempo de televisão. Os autores concluíram que dieta e outros fatores estão
associados com o ganho de peso ao longo do tempo com implicações para estratégia de
prevenção da obesidade (17).
O desafio, portanto, é encontrar a estratégia mais eficiente na modificação de
estilo de vida que seja capaz de modificar ou controlar fatores de risco e prevenir
doenças crônicas (18), além de conseguir a permanência da adesão de bons hábitos
2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TRABALHO
O crescimento das DCNT ocorre mesmo com divulgação, campanhas e
movimentos. Há necessidade de programas de intervenção e MEV parece ser o mais
efetivo. O programa de MEV “Mexa-se Pró-Saúde” tem mostrado efetividade na adesão
mínima de 6 meses no quesito aptidão física e conhecimentos nutricionais. É importante
saber se os egressos estão aplicando a lição nutricional aprendida no período de MEV e,
em decorrência disso, quais benefícios incorporados ao seu estilo de vida e saúde
O
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral
Estudar os indicadores alimentares e antropométricos do estilo de vida de
adultos participantes (mínimo de 6 meses) e, posteriormente, desistentes do programa
para mudança do estilo de vida “Mexa-se pró-saúde”.
3.2. Objetivos específicos
x Caracterização da amostra atual quanto aos indicadores demográficos,
socioeconômicos, antropométricos e alimentares.
x Analisar a presença de inadequação alimentar e alterações de antropometria
comparativamente ao momento que deixaram o programa de MEV.
x Associar as variáveis dietéticas e antropométricas com adesão ou não-adesão
4.0 Casuística e Métodos
4.1 Desenho do estudo
O programa para MEV, “Mexa-se Pró-Saúde”, caracteriza-se como estudo
epidemiológico longitudinal prospectivo, delineado para avaliar o papel do estilo de
vida (dieta e exercícios físicos) na ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) em adultos. Os indivíduos procuram o projeto espontaneamente ou por
indicação de médico pessoal, buscando programas de MEV, envolvendo exercícios
físicos estruturados e supervisionados, associadamente a acompanhamento nutricional.
O recrutamento dos participantes é permanentemente aberto por conta do delineamento
do estudo ser coorte dinâmico, sendo considerado idade mínima de 35 anos e presença
de moradores de Botucatu. Esse programa interdisciplinar e multiprofissional é
conduzido pelo Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri) desde
1991.
4.2 Indivíduos e momentos do estudo
Desde 2004, aproximadamente 910 indivíduos tiveram avaliação inicial, sendo
523 com intervenção por um período mínimo de 6 meses e 245 com dados que
contemplassem as variáveis desejadas desse estudo.
Os participantes foram convidados por telefone no período de agosto/2010 a
Junho/2011 a participarem da reavaliação após desligamento. Foram excluídos 92
indivíduos por diversos motivos, sendo 22 por não conseguir contato, 61 não aceitarem
participar, 8 por falta de comparecimento após 3 agendamentos e 1 por falecimento.
O estudo transversal realizou coleta de dados desde o mês de agosto de 2010 e
foi até junho de 2011, avaliou amostra final de 153 indivíduos participantes prévios,
Figura 1. Fluxograma dos indivíduos participantes do estudo.
No estudo, o momento inicial da intervenção do programa de MEV “Mexa-se
Pró-Saúde” foi denominado como M0 e após seis meses foi chamado de M1. O
momento do estudo, após o desligamento da intervenção, em média de 3,4 anos, foi
determinado como M2 (figura 2).
4.3 Aspectos éticos
Todos os indivíduos foram informados sobre a proposta e procedimentos do
estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido como pré-requisito
para iniciarem os protocolos de avaliação, seguindo assim os preceitos éticos da
Resolução nº. 196 de 10/outubro/1996. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu em 03 de maio de 2010, sob o
protocolo CEP 3512-2010, Of. 165/2010.
4.4 Dados demográficos e socioeconômicos
As informações demográficas, socioeconômicas e de percepção de saúde foram
obtidas utilizando-se a versão 8 do Questionário Internacional de Atividade Física
(IPAQ) e aplicado na forma de entrevista buscando evitar efeitos confundidores (19).
4.5 Antropometria
A avaliação antropométrica foi composta pelas medidas de peso corporal e
estatura, de acordo com os procedimentos descritos anteriormente (20), com posterior
cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e foram utilizados os limites de
classificação recomendados pela Organização Mundial de Saúde (21).
A circunferência abdominal (CA) foi mensurada com fita milimétrica
inextensível e inelástica. Realizou-se a medida no ponto médio entre o último arco
costal e a crista ilíaca. Foram utilizados os valores de referência propostos pelo
NCEP-ATP III (22, 23), sendo considerada aumentada a CA maior que 88 cm para as mulheres
e 102 cm para os homens.
O cálculo da composição corporal (percentual de gordura corporal (%GC) e
aparelho modelo 450 Biodinâmics
, USA. A partir da resistência em ohm obtida pela
Bioimpedância elétrica e do cálculo pelo IMC, foi aplicada a equação de Segal et al
(1988) (24),que calcula a massa livre de gordura (MLG).
HOMENS NORMAIS: IMC 30
MLG(kg) = 0,00066360 x (ESTATURA2 cm) – 0,02117 x (RESISTÊNCIAohms) +
0,62854 x (PESOkg) – 0,12380 x (IDADEanos) + 9,33285
HOMENS OBESOS: IMC !30
MLG(kg) = 0,00088580 x (ESTATURA2cm) – 0,02999 x (RESISTÊNCIAohms) +
0,42688 x (PESOkg) – 0,07002 x (IDADEanos) + 14,52435
MULHERES NORMAIS: IMC 30
MLG(kg) = 0,00064602 x (ESTATURA2cm) – 0,01397 x (RESISTÊNCIAohms) +
0,42087 x (PESOkg) + 10,43485
MULHERES OBESAS: IMC !30
MLG(kg) = 0,00091186 x (ESTATURA2cm) – 0,01466 x (RESISTÊNCIAohms) +
0,29990 x (PESOkg) - 0,07012 x (IDADEanos) + 9,37938
A partir dos valores da MLG estimou-se a gordura absoluta (GA) pela
Para avaliação do %GC foram utilizados como referência normal os valores 15
a 25% para o sexo masculino e 20 a 35% para o sexo feminino (25).
4.6 Hábito dietético e ingestão alimentar
Em entrevista, os indivíduos foram submetidos à anamnese nutricional por meio
de recordatório de 24 horas. Foi excluído um indivíduo com dieta <500kcal e outro com
dieta >5000kcal. Os dados dietéticos foram obtidos em medidas caseiras sendo,
posteriormente, convertidos para grama e mililitro a fim de possibilitar a análise
química do consumo alimentar. Posteriormente, as informações foram processadas por
meio do programa de análise nutricional NutWin versão 1.5 (2002) (26). A qualidade da
dieta foi avaliada pelo Índice de Alimentação Saudável Adaptado (IAS-ad) com base na
Pirâmide Alimentar Brasileira Adaptada (27). As preparações culinárias elaboradas com
mais de um grupo alimentar foram desmembradas nos seus ingredientes e estes
classificados nos respectivos grupos, procedimento este que segue as recomendações da
Pirâmide Alimentar Brasileira Adaptada (27).
O IAS-adaptado foi modificado pela equipe de nutricionistas do Centro de
Metabolismo em Exercício e Nutrição da Faculdade de Medicina de Botucatu a partir
do índice de alimentação saudável americano, utilizando as porções estabelecidas pela
pirâmide alimentar brasileira. Deste modo, para a pontuação deste índice são
considerados os oito grupos alimentares da pirâmide, a porcentagem de gordura total,
gordura saturada, quantidade de colesterol dietético e a variedade da dieta (representada
pela contagem de alimentos diferentes consumidos durante o dia). Os valores de
referência para classificação do IAS-ad são: ≤ 70 pontos (dieta de má qualidade), 71
-100 pontos (dieta precisando de melhorias) e > -100 pontos (dieta de boa qualidade),
4.7 Questionário
Os indivíduos selecionados no estudo foram submetidos a uma avaliação que
questionava aspectos qualitativos do programa de Mudança de Estilo de Vida. Foi feita
pergunta com relação à aderência ao MEV: “Você segue as orientações nutricionais ensinadas pelo CeMENutri?” e “Se sim, quais foram as mudanças adotadas?”. A
resposta da primeira pergunta foi usada como critério de classificação de Adesão e
Não-Adesão dos participantes com relação ao seguimento e prática das orientações
nutricionais recebidas no programa MEV “Mexa-se Pró-Saúde” após o desligamento. E
a resposta da segunda pergunta foi usada para investigação e determinação dos
principais hábitos adquiridos através da educação nutricional recebida no programa.
4.8 Classificações de acordo com os desfechos da intervenção “Mexa-se Pró-Saúde” Os participantes foram classificados de acordo com os desfechos da intervenção.
Foram avaliados os desfechos no final da intervenção (M1) comparado ao início (M0) e
no momento após desligamento do programa “Mexa-se Pró Saúde” (M2) comparado ao
momento M1. Se após seis meses de intervenção, o desfecho fosse avaliado como
positivo, o indivíduo era classificado como Sucesso. Quando o desfecho se apresentava
de forma negativa, a classificação era de Insucesso. Caso a avaliação final se mostrasse
sem alterações significativas com relação a avaliação inicial, o indivíduos era
classificado como Indiferente. Os pontos de corte para as classificações são descritos a
Variáveis Sucesso Indiferente Insucesso Peso Perder ≥ 5% Perder < 5% ou manter o
mesmo peso Ganhar peso
Índice de Massa Corporal
Melhorar a
classificação do IMC ou manter-se na eutrofia.
Manter-se dentro da mesma classificação de IMC
Piorar a classificação do IMC.
Circunferência
Abdominal Normalizar ou manter-se na normalidade Não alterar classificação Piorar a classificação
% Gordura Corporal Normalizar ou manter-se na normalidade
Não alterar classificação Piorar a classificação
Índice de Alimentação Saudável (IAS)
Melhorar a
classificação do IAS ou manter-se na melhor qualidade.
Manter-se dentro da mesma classificação de IAS
Piorar a classificação
4.9 Análise estatística
Inicialmente foi feita uma análise descritiva com as variáveis quantitativas, com
o cálculo de média e desvio padrão. A avaliação da intervenção entre o momento inicial
e após intervenção (6 meses) foi feita utilizando uma análise em medidas repetidas
através da análise da variância para aquelas variáveis que apresentaram distribuição
simétrica e considerando um modelo linear generalizado com distribuição gama para
aquelas que apresentaram distribuição assimétrica.
Para as variáveis Peso, Circunferência abdominal, % Gordura Corporal e Índice
de Alimentação Saudável foram obtidos os desfechos a partir da intervenção para os
momentos 0, 1 e 2 em que foram classificados em Sucesso, Insucesso e Indiferente
levando-se em conta a evolução do momento 0 para 1 e de 1 para 2. Foi realizado teste
socioeconômicas. A idade no momento 2 foi comparada utlizando-se um procedimento
de análise da variância seguido por teste de comparação múltipla de Tukey.
Para as variáveis qualitativas foram feitas tabelas de contingência e testadas as
associações pelo teste qui-quadrado de tendência.
Todas as análises foram realizadas com o Grupo de Apoio a Pesquisa (GAP) da
Faculdade de Medicina de Botucatu. Foi utilizado o programa SAS for windows, v. 9.2.
Em todos os testes foi considerado o nível de significância de 5% ou o p-valor
correspondente.
5 RESULTADOS
5.1 Caracterização demográfica e socioeconômica
Foram avaliados 153 indivíduos, com média de idade de 55,2 ± 9,2 anos, com
predominância do gênero feminino, casados e com ensino médio ou superior. Metade da
amostra relatou renda familiar superior a cinco salários mínimos e quase 3/4 dos
indivíduos referiram bom estado de saúde (Tabela 1).
Tabela 1. Características demográficas, socioeconômicas e estado de saúde de adultos previamente participantes de programa para mudança do estilo de vida (M0).
Variáveis n (%)
Gênero
Masculino 31 20
Feminino 122 80
Estado civil
Casado 106 69,2
não casado 47 30,7
Renda familiar
≤ 5 Salários Mínimos 75 49,0
> 5 Salários Mínimos 78 50,9
Escolaridade
Analfabeto / Fundamental incompleto 36 23,5
Fundamental 25 16,3
Médio 47 30,7
Superior 45 29,4
Estado de saúde
Ruim 7 4,5
Regular 30 19,6
Bom 80 52,2
Ótimo 36 23,5
Faixa etária
Média de Idade ± Desvio padrão 55,2 ± 9,23
5.2 Caracterização antropométrica
O excesso de peso foi observado em 81,3% da amostra e mais da metade dos
avaliados apresentaram hiperadiposidade abdominal. A porcentagem de gordura
Tabela 2. Características antropométricas de adultos previamente participantes de programa para mudança do estilo de vida (M0).
Variáveis n (%)
Índice de Massa Corporal
Eutrófico 28 18,7
Sobrepeso 65 42,6
Obeso 60 38,7
Circunferência Abdominal
Normal 67 44,5
Alterado 86 55,5
Percentual de gordura corporal
Normal 90 59,3
Alterado 63 40,7
5.3 Caracterização do consumo alimentar
No momento inicial prevaleceu o consumo inadequado das porções de cereais,
hortaliças, carnes, laticínios, óleos e açúcar, além de fibras e do percentual de lipídios.
A variedade alimentar mostrou-se adequada em praticamente toda a amostra e de acordo
com o IAS, 66,5% dos avaliados apresentaram dieta precisando de melhorias (Tabela
3).
Tabela 3. Consumo alimentar de adultos previamente participantes de programa para mudança do estilo de vida (M0).
Variáveis n (%)
Cereais
Adequado (≥5porções) 30 19,3
Inadequado (< 5porções) 123 80,7
Hortaliças
Adequado (≥4porções) 40 27,1
Inadequado (< 4porções) 113 72,9
Frutas
Adequado (≥3 porções) 76 50,3
Inadequado (< 3 porções) 77 49,7
Leguminosas
Adequado (≥ 1 porção) 82 54,2
Inadequado (< 1 porção) 71 45,8
Carnes
Adequado (≤ 2 porções) 73 47,1
Inadequado (> 2 porções) 80 52,9
Laticínios
Adequado (≥ 3 porções) 20 12,9
Inadequado (< 3 porções) 133 87,1
Óleos
Adequado (≤ 2 porções) 67 42,6
Inadequado (> 2 porções) 86 57,4
Adequado (≤ 2 porções) 44 29
Inadequado (> 2 porções) 109 71
Colesterol
Adequado (≤ 300mg) 131 85,8
Inadequado (> 300mg) 22 14,2
Gordura saturada
Adequado (≤ 10% VCT) 112 73,5
Inadequado (> 10% VCT) 41 26,5
Gordura monoinsaturada
Adequado (≤ 20% VCT) 153 100
Inadequado (> 20% VCT) 0 0
Gordura poliinsaturada
Adequado (≤ 10% VCT) 130 85
Inadequado (> 10% VCT) 23 15
Fibras
Adequado (≥ 20g) 48 31,6
Inadequado (< 20g) 105 68,4
%Carboidrato
Adequado (≥ 50% VCT) 109 71,5
Inadequado (< 50% VCT) 44 28,4
% Proteína
Adequado (≤ 15% VCT) 108 70,3
Inadequado (> 15% VCT) 45 29,7
% Lipídios
Adequado (≤ 35% VCT) 75 48,4
Inadequado (> 35% VCT) 78 51,6
Variedade alimentar
Adequado (≥ 8 itens) 146 94,8
Inadequado (< 8 itens) 7 5,2
Índice de Alimentação Saudável
Dieta de boa qualidade (> 100 pontos) 30 19,3
Dieta precisando de melhorias (71-100 pontos) 102 66,5 Dieta de má qualidade (≤ 70 pontos) 21 14,2
5.4 Efeitos da intervenção de seis meses e desfechos pós-interrupção de programa
de Mudança de Estilo de Vida “Mexa-se Pró-Saúde”
Seis meses de intervenção com programa para mudança no estilo de vida reduziu
peso corporal (1 kg), ingestão calórica (96,9 kcal/dia) e de frutas (0,3 porções), bem
Tabela 4. Efeito de intervenção de seis meses de programa para mudança de estilo de vida “Mexa-se Pró-Saúde” sobre a antropometria e alimentação de adultos
Momentos
P Inicial Após 6 meses
Peso (kg)** 76,1 ± 16,6 75,1 ± 16,0 < 0,001
Altura (m)** 1,6 ± 0,1 1,6 ± 0,1 0,32
Índice de Massa Corporal (kg/m²)* 29,5 ± 5,3 29,0 ± 4,8 0,44 Circunferência Abdominal (cm)* 95,3 ± 13,4 93,7 ± 12,6 0,28
Gordura Corporal (%)* 33,9 ± 8,8 33,4 ± 8,6 0,62
Cereais (porções)** 3,5 ± 1,8 3,2 ± 1,4 0,08
Frutas (porções)** 3,7 ± 3,4 3,4 ± 2,9 0,02
Hortaliças (porções)** 2,4 ± 2,0 2,4 ± 2,1 0,87
Leguminosas (porções)** 1,1 ± 1,1 1,3 ± 1,8 0,002
Laticínios (porções)** 1,6 ± 1,3 1,6 ± 1,2 0,62
Carnes (porções)** 1,5 ± 1,2 1,5 ± 1,0 0,44
Açúcar (porções)** 1,4 ± 1,6 1,2 ± 1,4 0,08
Óleo (porções)** 2,1 ± 1,7 1,9 ± 1,3 0,12
Colesterol (mg)** 177,8 ± 115,4 158,3 ± 92,0 0,07
Gordura Saturada (%)** 7,9 ± 3,5 8,0 ± 4,0 0,77
Gordura Monoinsaturada (%)* 8,4 ± 3,1 8,6 ± 3,6 0,6 Gordura Poliinsaturada (%)* 6,6 ± 3,1 6,5 ± 2,9 0,66
Fibra (g)** 17,0 ± 7,8 18,4 ± 10,5 0,08
Carboidrato ( %)* 54,3 ± 8,4 53,6 ± 9,3 0,48
Proteína ( %)* 17,8 ± 4,6 18,1 ± 4,5 0,55
Lipídio ( %)* 27,9 ± 7,3 28,3 ± 8,1 0,64
kcal/dia** 1603,3 ± 669,6 1506,4 ± 496,3 0,05
Variedade alimentar (itens)* 13,9 ± 4,5 14,7 ± 4,4 0,13 Índice de Alimentação Saudável (pontos)** 85,6 ± 15,4 85,3 ± 15,5 0,84 * comparação em ANOVA para medidas repetidas
** comparação para medidas repetidas considerando distribuição gama (assimétrica)
Na tabela 5, têm-se a distribuição das variáveis categorizadas de antropometria e
alimentação nos 3 momentos de avaliação e observa-se que as variáveis antropométricas
não apresentaram resultados significantes, embora 3,2% dos indivíduos melhoraram
suas classificações de excesso de peso para eutróficos e 2% e 6,5% deixaram de
apresentar, respectivamente, hiperadiposidade corporal e abdominal.
Considerando a alimentação, obteve-se um aumento significativo de indivíduos
com valores de inadequação, superando os valores do momento inicial (M0) e
pós-intervenção (M1) no consumo dos itens alimentares frutas, leguminosas, carnes,
colesterol e gordura saturada após o desligamento do programa (M2), bem como o
Índice de Alimentação Saudável que mostrou piora em seus parâmetros de avaliação da
Tabela 5. Distribuição das variáveis categorizadas de antropometria e alimentação de adultos participantes do programa para mudança de estilo de vida “Mexa-se Pró-Saúde”,
no momento inicial (M0), momento pós-intervenção de 6 meses (M1) e momento pós desligamento do programa (M2).
M0 M1 M2
n (%) n (%) n (%) p
Índice de Massa Corporal
Eutrófico 28 (18,3) 33 (21,5) 31 (20,2) 0,7724 Sobrepeso 65 (42,5) 63 (41,2) 62 (40,5) 0,9390 Obeso 60 (39,2) 57 (37,3) 60 (39,3) 0,9206
Percentual de gordura corporal
Normal 90 (58,8) 93 (60,8) 86 (56,2) 0,7173 Alterado 63 (41,2) 60 (39,2) 67 (43,8) 0,7173 Circunferência abdominal
Normal 67 (43,8) 77 (50,3) 59 (38,5) 0,1159 Alterado 86 (56,2) 76 (49,7) 94 (61,5) 0,1159
Cereais
Adequado (≥5porções) 30 (19,6) 18 (11,8) 21 (13,7) 0,1359 Inadequado (< 5porções) 123 (80,4) 135 (88,2) 132 (86,3) 0,1359
Hortaliças
Adequado (≥4porções) 40 (26,1) 29 (19,0) 24 (15,7) 0,0665
Inadequado (< 4porções) 113 (73,9) 124 (81,0) 129 (84,3) 0,0665
Frutas
Adequado (≥3 porções) 76 (49,7) a 75 (49,0) a 36 (23,5) b <0,001
Inadequado (< 3 porções) 77 (50,3)a 78 (51,0) a 117 (76,5) b <0,001
Leguminosas
Adequado (≥ 1 porção) 82 (53,6) a 73 (47,7) ab 59 (38,5) b <0,05
Inadequado (< 1 porção) 71 (46,4) a 80 (52,3) ab 94 (61,5)b <0,05
Carnes
Adequado (≤ 2 porções) 73 (47,7)ab 77 (50,3)a 56 (36,6)b <0,05
Inadequado (> 2 porções) 80 (52,3)ab 76 (49,7)a 97 (63,4)b <0,05
Laticínios
Adequado (≥ 3 porções) 20 (13,0) 20 (13,0) 14 (9,2) 0,4697
Inadequado (< 3 porções) 133 (86,9) 133 (86,9) 139 (90,8) 0,4697
Óleos
Adequado (≤ 2 porções) 67 (43,8) 67 (43,8) 55 (36,0) 0,2738
Inadequado (> 2 porções) 86 (56,2) 86 (56,2) 98 (64,0) 0,2738
Açúcar
Adequado (≤ 2 porções) 44 (28,7) 45 (29,4) 37 (24,2) 0,536 Inadequado (> 2 porções) 109 (71,2) 108 (70,6) 116 (75,8) 0,536
Colesterol
Adequado (≤ 300mg) 131 (85,6) a 143 (93,4) b 127 (83,0) a <0,05
Inadequado (> 300mg) 22 (14,4) a 10 (6,5) b 26 (17,0) a <0,05
Gordura Saturada
Adequado (≤ 10% VCT) 112 (73,2) a 113 (73,8) a 93 (60,8) b <0,05
Inadequado (> 10% VCT) 41 (26,8)a 40 (26,1)a 60 (39,2)b <0,05
Gordura monoinsaturada
Adequado (≤ 20% VCT) 153 (100,0) 152 (99,4) 153,0 (100) 1
Inadequado (> 20% VCT) 0 (0) 1 (0,6)
Gordura poliinsaturada
Adequado (≤ 10% VCT) 130 (85,0) 136 (88,9) 134 (87,6) 0,5801 Inadequado (> 10% VCT) 23 (15,0) 17 (11,1) 19 (12,4) 0,5801
Fibras
Adequado (≥ 20g) 48 (31,37) 56 (36,6) 61 (39,8) 0,2951
inadequado (< 20g) 105(68,63) 97(63,4) 92 (60,2) 0,2951
Carboidrato
Adequado (≥ 50% VCT) 109 (71,2) 110 (71,9) 103 (67,3) 0,6393
Inadequado (< 50% VCT) 44 (28,8) 43 (28,1) 50 (32,7) 0,6393
Proteína
Adequado (≤ 15% VCT) 108 (70,6) 113 (73,8) 107 (70,0) 0,7181
Inadequado (> 15% VCT) 45 (29,4) 40 (26,2) 46 (30,0) 0,7181
Lipídio
Adequado (≤ 35% VCT) 75 (49,0) 70 (45,7) 73 (47,7) 0,8470
Inadequado (> 35% VCT) 78 (50,1) 83 (54,3) 80 (52,3) 0,8470
Variedade alimentar
Adequado (≥ 8) 146 (95,4) 147 (96,1) 151 (98,6) 0,2352
Inadequado (< 8) 7 (4,6) 6 (3,9) 2 (1,4) 0,2352
Índice de Alimentação Saudável
Dieta de má qualidade (≤ 70 pontos ) 21 (14,2) a 31 (20,3) ab 41 (26,9) b <0,05
Dieta precisando de melhorias (71-100 pontos) 102 (66,5) 96 (62,7) 108 (70,5) 0,3469 Dieta de boa qualidade (> 100 pontos) 21 (19,3) a 26 (17,0) a 4 (2,6) b <0,05
A tabela 6 mostra a associação entre as variáveis antropométricas Peso, IMC,
CA, %GC e variável qualitativa de alimentação IAS, com as variáveis
sócio-demográficas, de acordo com os desfechos da intervenção, classificados se positivos
como Sucesso, se negativos como Insucesso e sem alteração como Indiferente.
Observa-se com relação ao peso, que possuir maior renda e maior escolaridade
está associado com o Insucesso da intervenção nutricional no grupo estudado e morar
sozinho é indiferente para a perda de peso e consequentemente para diminuição do
IMC. Para a variável CA, tem-se que a minoria obteve insucesso, enquanto que a
maioria das pessoas com sucesso associou-se com renda acima de cinco salários
mínimos. Com relação ao IAS, morar sozinho não interfere no sucesso da intervenção.
Tabela 6. Associação entre as variáveis antropométricas Peso, IMC, CA, %GC e a
variável qualitativa de alimentação IAS com as variáveis sócio-demográficas, de acordo com os desfechos da intervenção.
Peso (Kg) Sucesso (n=19) Indiferente (n=68) Insucesso (n=66) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 6 (8,2) a 24 (32,8) b 43 (59,0) c 0,0009
Escolaridade (≥ ensino médio) 11 (12,3) ab 31 (34,8) a 47 (52,8) b 0,01 Estado Civil (Morar sozinho) 11 (25,6) a 21 (48,8) b 11 (25,6) a 0,001
Estado de Saúde (≥ Bom) 12 (11,1) 48 (43,0) 49 (45,0) 0,62
Gênero (feminino) 18 (14,7) 55 (45,0) 49 (40,2) 0,13
Faixa Etária (média ± DP) 51,4 ± 11,0 55,9 ± 10,0 54,6 ± 7,3
Índice de Massa Corporal (kg/m²) Sucesso (n=46) Indiferente (n=102) Insucesso (n=5) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 25 (34,3) 46 (63,0) 2 (2,8) 0,76 Escolaridade (≥ ensino médio) 28 (31,5) 57 (64,0) 4 (4,5) 0,69 Estado Civil (Morar sozinho) 20 (46,5) ab 22 (51,2) b 1 (2,4) a 0,04
Estado de Saúde (≥ Bom) 32 (29,4) 74 (67,9) 3 (2,8) 0,3
Gênero (feminino) 40 (32,8) 78 (64,0) 4 (3,3) 0,34
Circunferência Abdominal (cm) Sucesso (n=77) Indiferente (n=75) Insucesso (n=1) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 44 (60,3) a 28 (38,3) b 1 (100,0) c 0,03
Escolaridade (≥ ensino médio) 47 (52,8) 41 (46,1) 1 (1,12) 0,56 Estado Civil (Morar sozinho) 23 (53,5) 20 (46,5) 0 (0) 0,74 Estado de Saúde (≥ Bom) 59 (54,1) 49 (45,0) 1 (0,9) 0,27
Gênero (feminino) 56 (45,9) 65 (53,3) 1 (0,8) 0,08
Faixa Etária (média ± DP) 56,4 ± 8,52 54,1 ± 9,8 48
%Gordura Corporal Sucesso (n=93) Indiferente (n=56) Insucesso (n=4) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 47 (64,4) 24 (33,0) 2 (2,7) 0,60 Escolaridade (≥ ensino médio) 51 (57,3) 36 (40,4) 2 (2,3) 0,48 Estado Civil (Morar sozinho) 28 (65,2) 14 (32,5) 1 (2,33) 0,75 Estado de Saúde (≥ Bom) 69 (63,3) 38 (34,8) 2 (1,9) 0,28
Gênero (feminino) 75 (61,5) 45 (36,8) 2 (1,64) 0,32
Faixa Etária (média ± DP) 57,2 ± 8,9 52,0 ± 8,9 54,7 ± 9,9
Índice de Alimentação Saudável (IAS) Sucesso (n=40) Indiferente (n=77) Insucesso (n=36) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 18 (24,6) 35 (47,9) 20 (27,4) 0,55 Escolaridade (≥ ensino médio) 25 (28,1) 43 (48,3) 21 (23,6) 0,67 Estado Civil (Morar sozinho) 9 (20,9) b 18 (41,8) a 16 (37,2) ab 0,04
Estado de Saúde (≥ Bom) 34 (31,2) 52 (47,7) 23 (21,1) 0,07
Gênero (feminino) 27 (22,2) 65 (53,3) 30 (24,6) 0,08
Faixa Etária (média ± DP) 55,1 ± 9,4 54,5 ± 8,7 56,8 ± 10,0
A tabela 7 mostra a situação atual das pessoas que se desligaram do programa
“Mexa-se Pró-Saúde”, com relação às classificações de Sucesso, Insucesso e Indiferente
recebidas no momento pós-intervenção (M1) para Peso, IMC, CA, %GC e IAS.
Observa-se que a maioria das pessoas que tiveram Sucesso de perda de peso,
hoje se encontra no Insucesso. Para a maioria das pessoas que o programa MEV “Mexa
-se Pró-Saúde” foi Indiferente, atualmente, pioraram para o Insucesso e aquelas que já
estavam nessa classificação, continuam na mesma situação. Com relação ao IMC, CA e
%GC observa-se que a maioria das pessoas que obtiveram sucesso nessas medidas,
conseguiu manter uma boa classificação, enquanto àqueles que não tiveram sucesso ou
Com relação ao IAS, observa-se que a maioria das pessoas que melhoram a
classificação da qualidade da dieta durante a intervenção, perde os benefícios
conquistados após o desligamento do programa MEV “Mexa-se Pró-Saúde”, sendo
classificados como Insucessos. Aqueles cujas classificações foram indiferentes com a
intervenção, poucos mudaram após o desligamento. As pessoas que foram classificadas
na intervenção como Insucessos se dividiram de forma equilibrada entre sucesso e
indiferente no momento atual.
Tabela 7. Classificação atual das pessoas que se desligaram do programa “Mexa-se
Pró-Saúde” (M2), com relação às classificações de Sucesso, Insucesso e Indiferente
recebidas no momento pós-intervenção (M1) para Peso, IMC, CA, %GC e IAS.
Peso (M0-M1) Peso M2
Sucesso Insucesso Indiferente P Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (19) 1 (5,2) 16 (84,2) 2 (10,5) 0,1049
Indiferentes (68) 12 (17,6) 43 (63,2) 13 (19,1) 0,0967
Insucessos (66) 6 (9,1) ab 36 (54,5) a 24 (36,3) b <0,05
Índice de Massa Corporal (M0-M1) IMC M2
Sucesso Insucesso Indiferente Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (46) 29 (63,0) a 11 (23,9) a 6 (13,0) b <0,001
Indiferentes (102) 7 (6,8) a 6 (5,8) a 89 (87,2) b <0,001
Insucessos (5) 1 (20,0) 0 4 (80,0) 0,6708
Circunferência Abdominal (M0-M1) CA M2
Sucesso Insucesso Indiferente Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (77) 58 (75,3) a 19 (24,6)a 0 b <0,001
Indiferentes (75) 1 (1,3) a 0 a 74 (98,6) b <0,001
Insucessos (1) 0 0 1 (100,0) 0,5925
% Gordura Corporal (M0-M1) %GC M2
Sucesso Insucesso Indiferente Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (93) 80 (86,0) a 13 (13,9) a 0 b <0,001
Indiferentes (56) 3 (5,3) a 0 a 53 (94,6) b <0,001
Insucessos (4) 0 0 4 (100,0) <0,05
Índice de Alimentação Saudável (M0-M1) IAS M2
Sucesso Insucesso Indiferente Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (40) 0 a 33 (82,5) b 7 (17,5) a <0,001
Indiferentes (77) 5 (6,4) a 19 (24,6) a 53 (68,8) b <0,001
O questionário qualitativo aplicado com relação à aderência ao MEV no
momento da avaliação após desligamento do programa MEV “Mexa-se Pró-Saúde”
obteve 123 respostas afirmativas de participação da intervenção nutricional e as
principais mudanças benéficas adquiridas (Tabela 8). Observa-se que a maioria das
pessoas relata ter aumentado o consumo de frutas, verduras e legumes, diminuição de
consumo de gorduras, óleos e frituras e aumento no consumo de água.
Tabela 8. Hábitos alimentares relatados por adultos que aderiram à mudança do estilo de vida
Mudança relatada (n=123 (80%)) n (%)
Aumento do consumo de frutas, verduras e legumes 73 (56,0)
Diminuição do consumo de gorduras, óleos e frituras 40 (32,0)
Aumento do consumo de água 26 (21,1)
Diminuição do consumo de doces, açúcares e refrigerantes 22 (17,8)
Aumento do fracionamento alimentar e respeito aos horários das refeições 21 (17,0)
Aumento do consumo de fibras 17 (13,8)
Aumento do consumo de alimentos integrais e/ou naturais 11 (8,9)
Diminuição do consumo de sal 9 (7,0)
Diminuição do consumo de massas 7 (5,6)
Diminuição da quantidade consumida 6 (4,8)
Aumento da variedade alimentar 1 (0,8)
A partir das respostas obtidas pelo questionário qualitativo aplicado,
investigou-se a associação dos desfechos de Insucesso no momento pós-desligamento (M2) do
programa “Mexa-se Pró-Saúde”, com relação à aderência a Mudança do Estilo de Vida.
Observa-se que com relação a todas as variáveis a maioria dos participantes que não
obtiveram sucesso, afirmam ter aderido ao programa MEV desenvolvido pelo “Mexa-se
Tabela 9. Associação dos desfechos de Insucesso no momento pós-desligamento (M2) do programa “Mexa-Se Pró-Saúde”, com relação à aderência a MEV.
Peso (M0-M1) Insucesso(M2) Adesão Não-Adesão
Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (19) 16 (84,2) 14 (87,5) 2 (12,5)
Indiferentes (68) 43 (63,2) 32 (74,4) 11 (25,5)
Insucessos (66) 36 (54,5) 29 (80,5) 7 (19,4)
Índice de Massa Corporal (M0-M1) Insucesso(M2) Adesão Não-Adesão
Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (46) 11 (23,9) 8(72,7) 3 (27,2)
Indiferentes (102) 6 (5,8) 5 (83,3) 1 (16,6)
Insucessos (5) 0 0 0
Circunferência Abdominal (M0-M1) Insucesso(M2) Adesão Não-Adesão
Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (77) 19 (24,6) 14 (73,6) 5 (26,3)
Indiferentes (75) 0 0 0
Insucessos (1) 0 0 0
% Gordura Corporal (M0-M1) Insucesso(M2) Adesão Não-Adesão
Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (93) 13 (13,9) 10 (76,9) 3 (23,0)
Indiferentes (56) 0 0 0
Insucessos (4) 0 0 0
Índice de Alimentação Saudável (M0-M1) Insucesso(M2) Adesão Não-Adesão
Total (n) n (%) n (%) n (%)
Sucesso (40) 33 (82,5) 28 (84,8) 5 (15,1)
Indiferentes (77) 19 (24,6) 14 (73,6) 5 (26,3)
Insucessos (36) 3 (8,3) 2 (66,6) 1(33,3)
A tabela 10 mostra que não houve associações significativas entre as variáveis
antropométricas Peso, IMC, CA, %GC e a variável qualitativa de alimentação IAS com
as variáveis sócio-demográficas, no momento após desligamento (M2) com relação aos
desfechos após intervenção (M1).
Tabela 10. Associação entre variáveis antropométricas Peso, IMC, CA, %GC e variável qualitativa de alimentação IAS com as variáveis sócio-demográficas, no momento após desligamento (M2) com relação aos desfechos após intervenção (M1).
Peso (Kg) Sucesso (n=19) Indiferente (n=39) Insucesso (n=95) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 7 (38,9) 18 (46,1) 37 (42,5) 0,70
Escolaridade (≥ ensino médio) 9 (50,0) 23 (59,0) 58 (67,4) 0,54
Estado Civil (Morar sozinho) 9 (50,0) 11 (28,1) 27 (31,0) 0,24
Estado de Saúde (≥ Bom) 13 (72,2) 33 (84,6) 64 (73,5) 0,12
Gênero (feminino) 13 (68,4) 30 (76,9) 79 (83,1) 0,30
Índice de Massa Corporal (kg/m²) Sucesso (n=37) Indiferente (n=99) Insucesso (n=17) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 18 (48,6) 37 (41,1) 7 (41,2) 0,49
Escolaridade (≥ ensino médio) 23 (62,2) 55 (61,8) 12 (70,6) 0,45
Estado Civil (Morar sozinho) 15 (40,5) 25 (27,8) 7 (41,2) 0,14
Estado de Saúde (≥ Bom) 29 (78,4) 71 (78,9) 10 (58,8) 0,33
Gênero (feminino) 32 (86,5) 77 (77,8) 13 (76,5) 0,50
Faixa Etária (média ± DP) 60,9 ± 8,6 59,5 ± 9,3 53,9 ± 9,3
Circunferência Abdominal (cm) Sucesso (n=59) Indiferente (n=75) Insucesso (n=19) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 28 (49,1) 28 (40,0) 6 (35,3) 0,35
Escolaridade (≥ ensino médio) 34 (59,7) 43 (62,3) 13 (76,5) 0,66
Estado Civil (Morar sozinho) 21 (36,8) 21 (30,0) 5 (29,4) 0,58
Estado de Saúde (≥ Bom) 48 (84,2) 49 (70,0) 13 (84,2) 0,12
Gênero (feminino) 43 (72,9) 65 (86,7) 14 (73,7) 0,37
Faixa Etária (média ± DP) 61,0 ± 8,9 57,5 ± 10,1 60,8 ± 8,8
%Gordura Corporal Sucesso (n=83) Indiferente (n=57) Insucesso (n=13) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 36 (46,1) 22 (40,7) 4 (33,3) 0,64
Escolaridade (≥ ensino médio) 46 (59,0) 37 (69,8) 7 (58,3) 0,50
Estado Civil (Morar sozinho) 26 (33,3) 16 (29,6) 5 (41,7) 0,75
Estado de Saúde (≥ Bom) 65 (83,3) 35 (64,8) 10 (83,3) 0,08
Gênero (feminino) 67 (80,7) 45 (79,0) 10 (76,9) 0,93
Faixa Etária (média ± DP) 61,4 ± 8,7 55,9 ± 10,0 60,2 ± 9,5
Índice de Alimentação Saudável (IAS) Sucesso (n=22) Indiferente (n=76) Insucesso (n=55) p
n (%) n (%) n (%)
Renda (> 5 Salários Mínimos) 10 (50,0) 28 (38,9) 24 (46,1) 0,65
Escolaridade (≥ ensino médio) 15 (75,0) 41 (57,7) 34 (65,4) 0,42
Estado Civil (Morar sozinho) 9 (45,0) 26 (36,1) 12 (23,1) 0,17
Estado de Saúde (≥ Bom) 13 (65,0) 54 (75,0) 43 (82,7) 0,24
Gênero (feminino) 20 (90,9) 62 (81,6) 40 (72,7) 0,17
5 DISCUSSÃO
No presente estudo, observa-se que a participação das mulheres foi quatro vezes
maior que a dos homens. Em estudos realizados neste município e em outros locais do
Brasil, como Bahia, Londrina e São Paulo, prevalências semelhantes também estão
presentes (28-32). Estudos brasileiros indicam que os homens não buscam os serviços
de atenção primária como fazem as mulheres (33, 34).
No trabalho de Gigante, em 2009, onde se publicou dados do VIGITEL
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico), observam-se resultados semelhantes aos encontrados para as maiores
prevalências de união estável para estado civil e maior escolaridade (ensino médio e
superior) (6). Com relação ao estado de saúde, Peres e colaboradores, em 2010,
mostram resultados semelhantes da auto-avaliação de estado de saúde. Nossa amostra
conta 75,7% com classificação de “bom” e “ótimo” estado de saúde e o estudo citado
com 74,2% (7).
Com relação à renda, observa-se que a distribuição percentual quase igualitária
entre os grupos (<5 e ≥5 Salários Mínimos), concorda com o trabalho de Fonseca e
colaboradores que também observou pouca diferença percentual entre os 3 grupos de
divisão estudados (<3, 3-6, >6 Salários Mínimos) (35).
As características antropométricas dos adultos participantes revelam maior
prevalência de sobrepesos (42,6%) e obesos (38,7%). Os dados encontrados pelo
VIGITEL 2010 mostram semelhanças na prevalência de sobrepesos (48,1%), porém, a
de obesidade no nosso estudo é 2,5 vezes maior do encontrado pelo Ministério da Saúde
(15,0%) (36). Os dados de circunferência abdominal apresentados por Olinto, 2006,
mostram 29,8% da população com alteração nessa medida, contrastando com o valor de
Nossos dados evidenciam que a amostra da população atendida pelo Mexa-se
Pró-Saúde é de conveniência, e, portanto, provenientes de indicações médicas e unidade
de saúde, uma vez que os valores de obesidade e circunferência abdominal elevada
dessa população se diferem da média da população brasileira nos trabalhos acima
apresentados.
Nos resultados de caracterização do consumo alimentar da população, destaca-se
a porcentagem da amostra com consumo inadequado de cereais (80,7%), hortaliças
(72,9%), laticínios (87,1%), açúcar (71,0%) e fibras (68,4%), mostrando que nosso
trabalho revela valores semelhantes aos encontrados no VIGITEL, no consumo aquém
do desejável de hortaliças (81,8%) e valores superiores no consumo de laticínios
(56,4%) e açúcares (28,1%).
Além disso, observamos que o IAS com pontuação classificatória de dieta
“precisando de melhorias” esteve presente na maioria da amostra (66,5%), o que
confirma que as inadequações acima citadas representam uma dieta com padrão pouco
saudável. No trabalho realizado por da Costa Louzada e colaboradores, 2012,
observa-se que a porcentagem de “dieta precisando de melhorias” chega a 80,9% (38).
Os dados de intervenção mostram que durante os seis meses houve diminuição
do peso corporal, provavelmente pela diminuição da ingestão energética
(aproximadamente 100 kcal/dia). As poucas mudanças podem ser justificadas pelo curto
tempo de intervenção (seis meses), uma vez que apenas fornecer informações não é
estratégia suficiente para instalação de mudanças nos hábitos alimentares. (39).
Porem observa-se que por menores que tenham sido as mudanças alimentares
sob supervisão, não houve pioras durante a intervenção. Já, quando analisamos, após o
tempo de paralisação do programa “Mexa-se Pró Saúde”, observamos uma piora
alimentação como frutas, leguminosas, carnes, colesterol, gordura saturada e IAS. Isso
mostra a dificuldade da mudança dos hábitos alimentares, mesmo sob supervisão
nutricional e da adesão e aplicação dos conhecimentos adquiridos ao longo do tempo.
Segundo um estudo europeu, publicado em 2012, existe uma alta proporção de
pacientes com estilo de vida insalubre que não percebem a necessidade de mudança
(40). Um estudo americano de 2008, ainda mostra que a maioria dos pacientes decide
procurar mudanças no estilo de vida, apenas em função de conselhos médicos e que
estar preparado para as mudanças está associado à escolha de comportamentos (41).
Quando analisamos os desfechos da intervenção, observamos que o insucesso da
perda de peso está associado a indivíduos com maior renda e escolaridade e segundo
Vinholes e colaboradores, nos países pobres e de renda média, a obesidade e o consumo
de dietas ricas em gordura e de produtos industrializados ainda são maiores em
indivíduos de maior nível sócio-econômico, embora este quadro venha
progressivamente se alterando, principalmente em adultos do sexo feminino (42).
Nossos resultados mostram que morar sozinho é indiferente para melhorar o
peso e consequentemente, a classificação de IMC e também é indiferente na melhora da
qualidade da dieta representada pelo IAS. O trabalho publicado por pesquisadores do
estado de Porto Alegre, em 2012, mostra que ter uma união estável, apresenta maiores
chances de bons resultados na dieta e conclui que o estado civil é um fator que pode ser
considerado para o desenvolvimento de atividades de promoção a saúde e hábitos de
alimentação saudável (38).
Um estudo realizado em Ohio, nos Estados Unidos em 2011, investigou a adesão
de dietas em pacientes cardíacos após 6 e 12 meses de programa de educação
nutricional e observou, que embora os participantes ganhem conhecimento, a maioria
comportamento (43) e isso também é observado em nossos resultados, uma vez que a
maioria das pessoas que tiveram sucesso na perda de peso e na melhora da qualidade da
dieta no momento da intervenção, regridem a classificação após a interrupção da
supervisão.
Segundo Toral e colaboradores, há uma tendência dos indivíduos, especialmente
entre aqueles com dietas inadequadas, de serem muito otimistas quanto aos aspectos
saudáveis de sua alimentação (44). Isso é observado na tabela 8, nos relatos das
mudanças adquiridas no momento de intervenção, pois a maioria descreve como
ensinamento incorporado nas práticas alimentares, o aumento no consumo de frutas,
verduras, legumes e diminuição de gorduras, óleos, frituras, entre outros aspectos.
Porém essa aderência relatada na tabela 8, não condiz com os resultados descritos na
tabela 5, referente ao momento após desligamento, que mostra uma piora significativa
na inadequação alimentar, comparada com momentos iniciais e finais a intervenção.
A evidência de que apenas a afirmação de ter aderido as mudanças propostas no
programa MEV não seja resultante em Sucesso de intervenção, fica enfatizado na tabela
9, onde mostra que a maioria dos Insucessos na antropometria e qualidade da dieta, no
momento atual, garantem ter aderido aos ensinamentos do “Mexa-se Pró-Saúde”.
Os últimos resultados do nosso trabalho mostram que a situação atual do
desfecho após a intervenção do programa MEV não se associa com as variáveis
socioeconômicas estudadas, diferentemente de Scotto e colaboradores que afirmam que
aderência se correlacionou com gênero e estado civil (43).
Vinholes e colaboradores consideram que hábitos saudáveis de alimentação
estão inseridos em estruturas culturais, econômicas e políticas e é necessária maior
Acredita-se que à medida que se conhecem os determinantes do comportamento
alimentar, aumentem as chances de sucesso e o impacto de uma ação de promoção de
práticas alimentares saudáveis. O objetivo de uma intervenção nutricional não é apenas
o fornecimento de informações, mas o alcance de uma modificação no comportamento
alimentar. Este representa o grande desafio a ser enfrentado: transformar o
conhecimento científico e as recomendações dietéticas em mudanças efetivas no
comportamento alimentar (44).
6 CONCLUSÕES
Os resultados sugerem que o programa MEV “Mexa-se Pró-Saúde” é eficiente
na melhora das medidas antropométricas como circunferência abdominal e
reclassificações no Índice de Massa Corporal. Com relação às variáveis de alimentação,
observa-se positividade na adequação de consumo de carnes, colesterol, gordura
poliinsaturada, fibras e IAS.
Observa-se que o desligamento do programa MEV “Mexa-se Pró-Saúde”, os
indivíduos retroagiram, perdendo a maioria dos benefícios conquistados.
As intervenções de MEV têm que ser de forma progressiva e contínua, uma vez
que a supervisão se faz necessária para os bons resultados conquistados.
O enfoque da abordagem educativa, portanto, não deve se restringir apenas a
transmissão de conhecimento. É importante que aspectos subjetivos que interferem nos
hábitos alimentares sejam investigados, pois estão diretamente ligados a adesão de uma
boa alimentação, capaz de sustentar os aprendizados oferecidos no programa de MEV.
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