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Estudo de vulnerabilidade à inundação no município de Ourinhos (SP)

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Academic year: 2017

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i UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Instituto de Geociências e Ciências Exatas IGCE Campus de Rio Claro

ESTÊVÃO MORAES IELO

Estudo de Vulnerabilidade à Inundação no

Município de Ourinhos (SP)

Defesa da Dissertação de Mestrado apresentada junto ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas – IGCE – Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profª Drª Andréa Aparecida Zacharias

Rio Claro

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ii UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Instituto de Geociências e Ciências Exatas IGCE Campus de Rio Claro

ESTÊVÃO MORAES IELO

Estudo de Vulnerabilidade à inundação no

Município de Ourinhos (SP)

Defesa da Dissertação de Mestrado apresentada junto ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas – IGCE – Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profª Drª Andréa Aparecida Zacharias

Rio Claro

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iii Banca Examinadora:

____________________________________________________________

Profª Drª Andréa Aparecida Zacharias – Campus Experimental de Ourinhos (Orientadora)

_____________________________________________________________

Profª Drª Maria Isabel Castreghini de Freitas – IGCE/UNESP/RC

______________________________________________________________

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iv

RESUMO

Com a elevação dos extremos climáticos ocorridos nos últimos anos (IPCC, 2012) junto às constantes mudanças climáticas globais, o número de desastres causados por tempestades e tornados no Brasil aumentou. O prognóstico climático da região Sudeste do país para os próximos anos (PBMC, 2013) indica um aumento de até 1°C e até 10% da precipitação acumulada somente até 2040, o que evidencia a probabilidade de maior ocorrência destes fenômenos/eventos. Nas áreas urbanas do município de Ourinhos não é diferente, os processos de alagamentos, inundações, enchentes e em contíguo ao aumento e/ou adensamento populacional em áreas mal planejadas adequadamente e sem resiliência potencializam grandes distúrbios, perdas materiais e humanas. Este estudo foi realizado com intuito de avaliar as áreas de vulnerabilidade à inundações, enxurradas e enchentes na área urbana de Ourinhos/SP. Foram utilizadas técnicas e ferramentas de geoprocessamento para determinar estas áreas através da cartografia digital do município. Como conclusão, encontramos áreas desprovidas de vegetação que poderiam auxiliar na desaceleração da água da chuva assim como moradias instaladas em áreas impróprias devido à alta vulnerabilidade à inundação, enxurrada e enchente. Almeja-se que a qualificação dos procedimentos e os mapeamentos sirvam de subsídio ao planejamento de políticas públicas, aos responsáveis pelo monitoramento e alerta dessas áreas e ordenamento territorial da cidade de Ourinhos/SP, sempre voltadas à sustentabilidade e melhora da qualidade de vida da população.

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v

ABSTRACT

With the rise in weather extremes of recent years (IPCC, 2012) and the constant global climate change, the number of disasters caused by storms and tornadoes in Brazil has increased. The weather forecast of the country's southeastern region for the years to come (PBMC, 2013) shows an increase of up to 1 ° C and up to 10% of the accumulated precipitation only until 2040, which shows the probability of a higher incidence of these phenomena / events. In urban areas of Ourinhos city is no different, the flooding processes, inundations, floods and adjacent to the increase and / or population density in badly planned areas, without resilience worsen big disturbances, material and human losses. This study was designed to evaluate the areas of vulnerability to floods, mudslides and inundations in urban areas of Ourinhos / SP. Techniques and geoprocessing tools were used to determine those areas through digital cartography of the city. In conclusion, we found areas lacking of vegetation that could help slowdown rainwater as well as houses in unsuitable areas exposed to high vulnerability to flooding, torrent and overflow. One hopes that the qualification procedures and the mappings are going to be used as subsidy to planning policies, for those who are responsible for monitoring and alerting these areas and territorial organization of Ourinhos city/ SP, always focused on sustainability and improvement of the population's quality of life.

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vi Sumario

1 - Apresentação ...1

2 – Introdução ...2

3 - Objetivos...6

3.1 Objetivo Especificos...6

4 – Revisão bibliografica...7

4.1 – A etimologia e aplicabilidade dos conceitos: Riscos e Vulnerabilidade...7

4.2 – Os riscos e sua Tipologia...10

4.3 – Os Principais riscos Hidroclimáticos das áreas urbanas....12

4.4 Definição dos principais riscos hidroclimáticos na área urbana...13

4.5 – Risco Social e Vulnerabilidade social...18

4.6 A percepção dos riscos...19

4.7 Vulnerabilidade como instrumento de investigação e tomada de decisão... ...22

4.8 – O crescimento populacional entre outros gargalos do desenvolvimento sustentável...25

4.9 Breve Revisão sobre planejamento, novas leis e o plano diretor...33

4.9.1 A lei nº 10.257 e o plano Diretor...35

4.9.2 Decreto Estadual nº 57.512 de 2011...36

4.9.3 – Lei Federal nº12.608 2012...38

5 – O estudo das áreas de vulnerabilidade à inundação na área urbana de Ourinhos/SP...39

5.1 - Caracterização da área de estudo...48

5.2 – Matérias métodos e técnicas...59

5.3 Caracterização dos eventos climáticos e registros da defesa civil...72

6 – Conclusões...75

7 Referencias Bibliográficas...78

Sumario de Figuras Figura 1 Características dos leitos do rio...13

Figura 2 – Como se caracteriza uma inundação...14

Figura 3 Numero de afetados por desastres naturais no Brasil no ano de 2012...15

Figura 4 –Porcentagem de afetados por tipo de desastre no Brasil…15 Figura 5 Comparação entre óbitos e densidade demográfica...16

Figura 6 Projeções de mudanças climáticas...17

Figura 7 – Relação entre risco e vulnerabilidade...19

Figura 8 – Diagrama conceitual risco perigo vulnerabilidade...24

Figura 9 Abastecimento de água...28

Figura 10 Coleta de esgoto...29

Figura 11 – Rede Elétrica...30

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vii

Figura 13 – Articulação entre especialista e decisão...34

Figura 14 Programa estadual de prevenção de desastres e redução de riscos geológicos (PDN) ...37

Figura 15 – Modelo de análise e bivariada...44

Figura 16 Possível Evolução dos modelos de desastre...45

Figura 17 Configuração do nível de risco...46

Figura 18 – Plano de investigação da vulnerabilidade à inundação..48

Figura 19 - Localização do município de Ourinhos...49

Figura 20 Unidades Morfoesculturais do Brasil...52

Figura 21 – Características climáticas de São Paulo...53

Figura 22 – Dados mensais de pluviometria e temperatura...54

Figura 23 Dados mensais de chuva por período...55

Figura 24 Anomalias ocorridas no estado de São Paulo no período de 1941 - 1993...57

Figura 25 Precipitação pluviométrica em setembro de 2014...58

Figura 26 Precipitação pluviométrica que compreende a data 25 de setembro de 2014...58

Figura 27 – Exemplos do problema de inundação...61

Figura 28 Intervalo de Classes de Declividade...64

Sumario de Imagens Imagem 1 – Ocupação Diferente das Nascentes...29

Imagem 2 - Ocupação Diferente das Nascentes ...29

Imagem 3 Casas desapropriadas pela Defesa Civil...62

Imagem 4 – Casas desapropriadas pela Defesa Civil...62

Imagem 5 – Casas Industrias inundadas...68

Imagem 6 Casas Industrias inundadas...68

Imagem 7 - Casas Industrias inundadas...68

Imagem 8 - Casas Industrias inundadas...68

Sumario de Mapas Mapa 1 – Mapa de Curva de nível...59

Mapa 2 Mapa da Drenagem urbana...60

Mapa 3 Mapa hipsométrico...63

Mapa 4 – Mapa clinográfico da área urbana de Ourinhos...65

Mapa 5 - Mapa Síntese com as Áreas de Vulnerabilidade à Inundação pela Hipsometria...66

Mapa 6 – Mapa Porção Nordeste com muito alta vulnerabilidade à inundação...68

Mapa 7 Porção Sudoeste da cidade com muito alta vulnerabilidade à inundação...68

Mapa 8 – Mapa de uso e ocupação do solo...69

Mapa 9 Mapa de vulnerabilidade à inundação...70

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ix AGRADECIMENTOS

Agradeço pela responsável por esta etapa tão importante, por sua compreensão e apoio, assim como todas as colaborações e orientações necessárias para sua conclusão, à professora, amiga e orientadora Andréa Zacharias.

Agradeço fielmente à confiança e apoio nesta jornada desde o começo e que sem a sua ajuda não teria sido possível, ao meu Tio e amigo Pe. João Paulo Ielo.

Agradeço às orientações, materiais e incentivos da professora Maria Isabel Castreghini e do professor Salvador Carpi Jr., que foram os primeiros professores a colaborar nessa pesquisa.

Agradeço aos meus familiares com quem sempre pude contar e que reservaram sempre um abraço para quando foi necessário. Agradeço à Beatriz, grande amiga e companheira a quem dedico parte exclusiva desse trabalho por todo seu apoio e compreensão. Agradeço muito ao inestimável amigo Rodrigo Fantinatti, pois sem sua ajuda não teria visto o término dessa dissertação e um muito obrigado à Juliana Rizzuto por sua ajuda e incentivo.

Agradeço aos amigos da Unesp de Rio Claro, Kaique, Lucas, Thiago, Bruno (s), Felipe (s), Daniel, Aline, André, Rafael, entre outros.

Agradeço aos funcionários da prefeitura municipal de Ourinhos pela solicita ajuda sempre que necessário, Belkis, Mário, Robert, Leandro, Gustavo, Heloísa e Harald.

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1 1 - APRESENTAÇÃO

Esta dissertação está inserida no Programa de Pós-graduação em Geografia, na linha de pesquisa de Análise Ambiental e Organização do Espaço no Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

A análise ambiental compreende, na dinâmica espacial, a interação entre os elementos da paisagem, bem como a produção, organização e estruturação do espaço urbano. Assim, esta pesquisa aborda, em seu arcabouço estrutural, o estudo da paisagem como norte investigativo das dinâmicas socioambientais das áreas urbanas de Ourinhos (SP).

Nas últimas três décadas houve aumento significativo do número de desastres e eventos climáticos extremos e alterou de forma negativa a qualidade de vida da população como um todo. Diante desse cenário, esta dissertação segue em busca de elementos da paisagem que possibilitem o diagnóstico de áreas vulneráveis dentro do município. Os perigos investigados envolvem riscos de alagamento, inundação e enchente causados pelos fenômenos da natureza, os eventos climáticos extremos e as vulnerabilidades socioambientais intensificadas pela ocupação e uso do solo.

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2 2 - INTRODUÇÃO

O estudo das áreas de vulnerabilidade socioambiental deriva do esforço e da interdisciplinaridade para compreender as interações entre os sistemas sociais, naturais e tecnológicos (CUTTER, 2011). Vive-se atualmente em uma sociedade exposta a riscos que, em muitas vezes, são produzidos pelo próprio avanço da modernidade (BECK, 2006; GIDDENS, 2002), os quais, em conjunto com os efeitos desastrosos das mudanças climáticas globais, imputam a responsabilidade de também fazer uso dos avanços da modernidade em favor da sustentabilidade. A migração do homem para as cidades e as alterações dos padrões climáticos são fatores significativos do último século, e a percepção mundial sobre os eventos adversos se deu em razão de sua intensidade e do número de vítimas, tornando-se, assim, uma das maiores preocupações do início desse século.

Outros fatores chamam atenção para o impacto desses eventos, como a falta de preparo e as características dessa parcela de indivíduos atingidos por tais eventos, que, em sua maioria, se encontra segregada (ALVES, 2006). As áreas mais frágeis e suscetíveis aos eventos hidroclimáticos mais danosos são as de menor valor imobiliário, vendidas por um preço abaixo do normal ou ocupadas pelos moradores que, muitas vezes, não dispõem de alternativas para moradia. Quando os impactos negativos desses eventos atingem pessoas ou grupos mais frágeis e suscetíveis às mudanças, os problemas tomam uma proporção cumulativa (por exemplo número de unidades de alojamento, atendimento emergencial, hospitalar, habitacional, nutricional, financeiro, etc.), e frequentemente desproporcional às capacidades estruturais e econômicas dessa população e dos governos locais.

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3

Como a formação do espaço urbano foi desenvolvida sob a lógica capitalista de produção e acumulação que ainda se impõe ao uso social da cidade, é ainda contínuo o processo de segregação socioespacial que oferece espaços de diferentes qualidades às parcelas da sociedade (CARLOS, 2013). A construção do conhecimento sobre desenvolvimento sustentável diante das mudanças climáticas são questões recentemente tratadas pelas autoridades mundiais. O conceito de Cidade Sustentável, que consta na Agenda Habitat1 e

que foi discutido na Conferência Habitat de 1996, em Istambul (Turquia), foi incorporado ao Estatuto da Cidade2, aprovado em 2001 pela Lei n. 10.257. A

garantia da qualidade de vida e dos assentamentos humanos sustentáveis tornou-se, então, marcos a serem seguidos pelos Planos Diretores Municipais. A Lei Federal n. 12.1873, de 2009, institui a Política Nacional sobre Mudanças

do Clima e estabelece medidas para a redução da vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos diante dos efeitos adversos das mudanças climáticas, e a Lei n. 12.608, de 2012, instaura a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, autorizando a criação de um sistema de informações e monitoramento para auxiliar na tomada de decisões necessárias à redução dos riscos de desastre (Decreto n. 7257, 2010).

A Lei n. 12.608 define, em seu art. 3º, que: “A PNPDEC4 abrange as ações

de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas à

proteção e defesa civil” (BRASIL, 2012). Como tais ações dependem de vários atores, para alcançar esses objetivos integralmente, o parágrafo único desse artigo estabelece também que:

A PNPDEC deve integrar-se às políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012).

As políticas de planejamento e gestão do território urbano não caminharam paralelas à intensa ocupação do solo que se deu em um curto espaço de tempo. Na década de 1960, a população rural do Brasil representava

1 Agenda Habitat -

2 Estatuto da Cidade - 3 Lei n. 12.187

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4

54,9% do total, e a urbana 45,1%. Ao se observar o Censo 2010, nota-se que em 50 anos esses números mudaram para 15,63% e 84,37%, respectivamente. No estado de São Paulo, a população rural apresenta números menores ainda, 4,06%, contra 95,94% da população urbana (IBGE, 2010). Essa migração em um espaço de tempo curto acarretou construções mal planejadas e em periferias deficientes de infraestrutura de qualidade, o que impediu o desenvolvimento, ao longo dos anos, das populações alocadas nesses ambientes. O adensamento populacional nas cidades e a alteração da cobertura natural do solo pelos instrumentos urbanos promovem o aquecimento do solo e a formação de ilhas de calor. Tais variações são suficientes para concentrar as precipitações em algumas áreas, o que pode intensificar o volume de água da chuva e gerar distúrbios graves nas áreas urbanas, como inundações, alagamentos e enchentes (ALVES; OJIMA, 2008; TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012).

Com o aumento dos extremos climáticos ocorridos nos últimos anos (IPCC, 2012), em conjunto com as constantes mudanças climáticas globais, o número de desastres causados por tempestades e tornados no Brasil vem aumentando, e o prognóstico climático da região Sudeste do Brasil para os próximos anos (PBMC, 2013) indica uma elevação de até 1°C e de até 10% da precipitação acumulada5 somente até 2040. Isso evidencia a probabilidade de

maior ocorrência desses fenômenos/eventos. Em face das características da população urbana, o tema mudanças climáticas demandam estudos mais aprofundados sobre as vulnerabilidades ambientais e sociais aos riscos de desastres. Marandola Jr. (2009, p. 30) afirma que “a divulgação do AR-4 foi uma virada em termos da importância que o fenômeno assumiu em quase todas as

arenas institucionais, políticas, científicas e da sociedade civil”.

Os municípios afetados inesperadamente sofrem com a falta de preparo e planejamento.

“Não é à toa que os perigos e desastres naturais são estudados há quase um século, tendo-se convertido, nos últimos 30 anos, num dos maiores problemas ambientais de muitos países e dos grandes centros urbanos ao redor do mundo” (MARANDOLA JR., 2009, p. 34).

Estudos recentes apontam que, na maioria das vezes, as áreas mais afetadas são habitadas por uma parcela da população pobre e carente de

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infraestrutura básica (ALMEIDA, 2010; ALVES; TORRES, 2006; FREITAS; CUNHA, 2012). Esses fatos intensificam os riscos de desastres, diminuindo a capacidade de resposta e a qualidade de vida de tal parcela da população (CUTTER, 1996; FREITAS; CUNHA, 2012).

Cada vez mais complexas e de difícil mensuração, as vulnerabilidades do ambiente podem ser intensificadas ou amortizadas pelos agentes sociais. As questões atuais que se apresentam são: Como compreender esses processos?; Como tornar os riscos mensuráveis, operacionais e passíveis de gestão?; Como planejar um futuro sustentável, resiliente e menos vulnerável? Cutter (2011) defende que a ciência da vulnerabilidade procura analisar a influência que alguns fatores exercem nas capacidades locais, tanto na preparação quanto nas respostas e recuperação dos desastres. Assim, como afirmam Nunes et al. (2006, p. 9), “[...] para que ocorra a produção do espaço geográfico, os elementos da natureza: relevo, clima, solo, vegetação, etc., são transformados

e modificados pelo jogo de interesses públicos e privados [...]”. Assim, para compreender as vulnerabilidades socioambientais, “[...] a análise integrada do ambiente pode fornecer importantes contribuições ao estudo das práticas sociais, sobretudo do seu relacionamento com a dinâmica física do ambiente em

que a sociedade se insere” (ZACHARIAS, 2006, p. 2).

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6 3. Objetivos

Ante o aumento do número de desastres causados por fatores hidroclimáticos, esta pesquisa toma como objetivo principal o estudo das áreas de vulnerabilidade socioambiental aos perigos de alagamento, enchente e inundações na área urbana de Ourinhos (SP).

3.1 Objetivos Específicos

1. Realizar a revisão bibliográfica referente aos riscos e vulnerabilidades e seus fatores de dilatação.

2. Delimitar as áreas de vulnerabilidade ambiental através das representações cartográficas digitais.

3. Identificar, por meio de representação espacial, os pontos de maior ocorrência de alagamentos, inundações e enchentes dentro do município, atendidos pela Defesa Civil.

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7 4. Revisão Bibliográfica

4.1. A ETIMOLOGIA E APLICABILIDADE DOS CONCEITOS: RISCOS E VULNERABILIDADES

Os termos “risco”, “hazard”, “perigo”, “acidente” e “desastre” aparecem em

literaturas e estudos distintos com algumas diferenças em suas definições. Porém, a natureza etimológica do termo, segundo o dicionário Aurélio, vem do

latim risicu, riscu, que provavelmente viria do latim resecare (“cortar”) ou, então,

do espanhol risco (“penhasco alto e escarpado”). Também é definido como

perigo ou possibilidade de perigo. No linguajar jurídico, risco seria a

“possibilidade de perda ou de responsabilidade pelo dano”.

De certo modo, assumir um risco é estar exposto. Na acepção crítica sociológica desenvolvida por Ulrich Beck, os riscos são traduzidos como perigos gerados pela degradação do meio ambiente no processo de modernização e globalização. A percepção dos riscos é compreendida de maneiras diversas por atores diferentes de sua criação, os tomadores de decisão e os afetados. Nesse processo da reprodução de riscos, sejam eles ecológicos, econômicos ou terroristas, de certa forma, a percepção acaba sendo involuntária, já que o progresso industrial é inquestionável pela população e desregulado pelos governos (BECK, 2006).

As definições adotadas em estudos e métodos científicos apresentam algumas distinções, no entanto, não interferem na latente preocupação com a vulnerabilidade do ambiente e da população. Nas últimas décadas, autores de diferentes áreas desenvolveram pesquisas elucidando alguns aspectos dos riscos. Para a geógrafa Veyret (2013), os riscos são percebidos desde a Renascença, na Itália, e, com o aumento do nível econômico, adquiriram representatividade no planejamento, recusando a incerteza para garantir maior segurança e bem-estar.

Porém, Marandola Jr. e Hogan (2004b) apontam que esse termo apresenta uma polissemia e que seus estudos ainda estão fragmentados, sendo alguns mais práticos, e outros, mais teóricos. Assim, algumas abordagens

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risco num sentido probabilístico, até outras que se orientam por uma abordagem

subjetiva, onde o risco só existe a partir das interações sociais” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004a, p. 27). Na visão dos autores, “Risco (risk) é utilizado pelos

geógrafos como uma situação, que está no futuro e que traz a incerteza e a insegurança. Assim, há regiões de risco (regions of risk) ou regiões em risco

(regions at risk)” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004b, p. 100, grifos dos autores).

Estar em risco, segundo eles, é estar vulnerável a um hazard.

O termo “natural hazard” é utilizado por geógrafos, possivelmente, desde

o começo da década de 1920 em estudos do Governo para solucionar problemas de inundação nas áreas rurais e urbanas dos Estados Unidos (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004a). No início, tais estudos foram atribuídos aos geógrafos físicos, geomorfólogos, climatólogos e biogeógrafos com foco nos elementos da natureza, contudo, apesar do forte componente físico, não se perdeu a visão integrada com os elementos sociais. Um grande terremoto em um local onde não há população não configura um hazard. Os natural hazards não significam

perigos advindos da natureza; sua feição “natural” pode resultar de eventos

geofísicos, como uma grande tempestade, mas o que configura um hazard na

verdade, é sua relação entre sociedade e natureza em um evento ou fenômeno (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004b).

Na literatura francesa, a geógrafa Yvete Veyret faz uso do termo “álea”,

que significa:

Acontecimento possível; pode ser um processo natural, tecnológico, social, econômico, e sua probabilidade de realização. Se vários acontecimentos são possíveis, fala-se de um conjunto de áleas. O equivalente em inglês é hazard (para definir a álea natural) (VEYRET,

2013, p. 24)

Veyret (2013) ressalta, ainda, que em meados do século XX o conceito de riscos estava associado à ideia de crise referente à industrialização, crescimento demográfico, economia e a aparição do desemprego. No início dos anos 1980, desenvolveu-se o aspecto técnico do risco e as mídias se apossaram da definição associada à segurança ambiental e às instalações industriais.

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Dagnino e Carpi Jr. (2007, p. 52) consideram “[...] o risco como a

probabilidade de que um evento – esperado ou não esperado – se torne realidade. A ideia de que algo pode vir a ocorrer, já então configura um risco”. E continuam, “o risco se apresenta em situações ou áreas em que existe a probabilidade, susceptibilidade, vulnerabilidade, acaso ou azar de ocorrer algum tipo de ameaça, perigo, problema, impacto ou desastre” (p. 57, grifo dos autores). Os riscos são percebidos de maneiras diferentes; algumas comunidades vivem expostas a riscos constantes, como avalanches, vulcões semiativos, terremotos e tempestades de areia. Porém, estar consciente dos perigos e suas principais características torna a população apta a lidar com tais eventos. De modo contrário, negar ou subestimar o risco permite que o impacto causado por ele seja maior.

Um equívoco que Vieillard-Baron (2013, p. 280) ressalta é que “[...] nem o risco social nem o natural devem ser confundidos com a catástrofe”. O risco é algo inscrito no campo das probabilidades, podendo ou não se concretizar, já a catástrofe é algo diretamente materializável.

Para Veyret (2013) o risco é um objeto social e definido pela percepção do perigo de um desastre. Assim, o risco só existe se houver um indivíduo ou um grupo sujeito ao desastre. A autora afirma:

Viver equivale a assumir o risco de morrer, de acidente ao sair de casa ou em qualquer outra ocasião. Os fatores de risco são numerosos, podem ser processos naturais (terremotos, ciclones...) ou consequência das atividades humanas: agricultura (poluição, erosão...) indústria (poluição, explosão, incêndio), transportes. [...] as estratégias econômicas podem gerar riscos econômicos, financeiros. As escolhas políticas estão na origem dos riscos geopolíticos, que se exprimem em escalas variadas. As imigrações, o crescimento urbano, as desigualdades sociais, fazem nascer os riscos sociais: insegurança, violência urbana (VEYRET, 2013, p. 23).

Paralelamente à afirmação de Veyret, fica evidente a necessidade de integrar esforços de diferentes áreas do conhecimento. Em um panorama com diversos dados de diferentes setores, é possível observar o papel de cada área nesse processo de integração.

Para Cunha (2013):

[...] o estudo do risco inclui seguramente a análise dos processos eventualmente perigosos (perigosidade ou hazard), decomposta na

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espacial (susceptibilidade) de ocorrência, combinada com o nível das consequências previsíveis sobre a sociedade, o ambiente e o território, ou seja com a vulnerabilidade (s. l.) [...]. (CUNHA, 2013, p. 156, grifos do autor).

Os riscos não devem ser tratados como algo distante ou exclusivo de algumas parcelas da população, pois os impactos negativos de algum evento refletem no cotidiano dos cidadãos como um todo, assim como nas ações do governo local, estadual ou federal. A gestão dos riscos nunca significará sua extinção, contudo, o conhecimento a seu respeito pode diminuir seus impactos.

4.2 Os Riscos e sua Tipologia

Alguns fatores históricos podem explicar o acúmulo de tantos riscos recentes. Há alguns séculos, os grandes desastres naturais eram apenas atribuídos ao acaso ou aos deuses. Todavia, com o passar dos anos pesquisas e técnicas científicas evoluíram, o que possibilitou prever alguns fenômenos desastrosos, como a ocorrência das erupções de vulcões ou de tornados, e, assim, a natureza torna-se menos cruel, mais amistosa e protetora, às vezes com temperamento abrupto e agressivo, mas quase sempre previsível e remediável. Por outro lado, quem começa a gerar incontáveis riscos é a própria modernidade, que já não representa progresso desde a Idade das Luzes pelos antípodas (BECK, 2006; GUIVANT, 2001; VEYRET, 2013).

Acontecimentos como a concentração populacional, a criação de indústrias e a ocupação de áreas impróprias acabaram por gerar inúmeros riscos à própria população, sejam estes de contaminação, de proliferação de doenças ou de desastres em grandes proporções devidos aos condicionantes da concentração e adensamento populacional.

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Por exemplo, uma erosão pode se tornar uma grande voçoroca e, em pouco tempo, atingir casas, seja por desmoronamento das residências próximas ou assoreamento de outras a jusante.

O risco natural refere-se aos perigos advindos dos elementos geofísicos da natureza, riscos hidroclimáticos (ciclones, tempestades, secas...), riscos ligados à litosfera ou geológicos (terremotos, erupções vulcânicas), riscos geomorfológicos (erosões, ravinamentos) (DAGNINO; CARPI JR., 2007; MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004a; VEYRET, 2013).

Os riscos tecnológicos, por sua vez, são produzidos pela sociedade em seu contexto organizacional, econômico e social. É bastante expansivo, ocasionando riscos desde a instalação industrial até o armazenamento de produtos e sua circulação. Como instalação fixa, expõe os riscos de explosão, de vazamentos e incêndios. A partir dessas três formas, os riscos tecnológicos multiplicam-se na forma de contaminação do ambiente, seja das águas, do solo ou do ar (DAGNINO; CARPI JR., 2007; VEYRET, 2013). A avaliação da exposição e vulnerabilidade das pessoas a esse tipo de risco torna-se cada vez mais complexa.

O risco social ou societal (VEYRET, 2013) está ligado, na maioria das vezes, à segregação socioespacial, à exclusão geográfica e à insegurança. O território sofre com as mazelas do capitalismo na forma de especulação imobiliária associada ao ordenamento territorial falho servindo, assim, de sustentáculo dos riscos. Os perigos que assolam a sociedade são traduzidos na forma de delinquência, consumo de drogas, criminalidade, guerras e terrorismo (VIEILLARD-BARON, 2013). De acordo com o mesmo autor, os riscos sociais são intrínsecos a diversos atores e variáveis, o que torna necessário ao geógrafo buscar em outras ciências – como história, ciências políticas, direito e psicossociologia – caminhos para a formulação de políticas de prevenção. “De

maneira geral, a polissemia muito vasta da expressão permite qualificar de ‘risco social’ a maior parte dos riscos, quer nos atenhamos às causas sociais, quer atentemos para suas consequências humanas” (VIEILLARD-BARON, 2013, p. 276).

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uma melhor verificação , os riscos sociais podem ser definidos com exógenos, quando a sociedade está exposta aos riscos naturais, e endógenos, quando

“associadas ao crescimento urbano, à industrialização, às formas de

povoamento e à densidade excessiva de alguns bairros, podem ser decorrentes

também de uma administração urbana deficiente” (VIEILLARD-BARON, 2013, p. 278).

Para fins metodológicos, a definição de risco ambiental mostra-se abrangente e equiparada com hazard e álea, pois envolve todos os elementos

do ambiente presentes em um sistema. A expressão “riscos ambientais” é a mais completa por definição, segundo Veyret (2013, p. 63), pois “resultam da associação entre riscos naturais e os riscos decorrentes de processos naturais

agravados pela atividade humana e pela ocupação do território”. Isso significa que esse ambiente pode ser natural ou construído pelo homem, mas, de qualquer maneira, sofre e gera influência sobre outros ambientes (DAGNINO; CARPI JR., 2007).

4.3 Os Principais Riscos Hidroclimáticos das Áreas Urbanas

O escoamento pluvial é responsável pelas enxurradas, inundações e enchentes. Devido à impermeabilização dos solos urbanos, há um aumento da velocidade da água que eleva sua força. Assim, ela pode carregar mais detritos (potencializar o assoreamento), causar erosões e acelerar sua chegada às áreas mais baixas, ocasionar inundações e enchentes, a depender da drenagem, além das doenças causadas por veiculação hídrica.

Referente a estas doenças, são comuns em épocas chuvosas pela sua veiculação hídrica e potencializadas, pois a água carrega impurezas (urina, produtos químicos, coliformes fecais), e através de inundações, alagamentos e enchentes entram em contato com o ser humano.

Apesar do alto número dessas doenças, algumas se destacam, como a

leptospirose, causada por bactéria (Leptospira interrogans, zoonose transmitida

principalmente pela urina de ratos), as hepatites A e E, via infecção hepática e originada pelo vírus da hepatite (transmitido pela água e alimentos contaminados), a febre tifoide, provocada por bactéria (Salmonella typhi,

(22)

13

(Vibrio cholerae, via de transmissão pela água e alimentos contaminados), a

dengue, causada vírus (transmitido por meio da picada da fêmea do mosquito

Aedes aegypti), e a diarreia (segunda enfermidade que mais mata crianças de

até 5 anos de idade no mundo), que pode ser transmitida pela água e alimentos contaminados e intensificada pelo alto índice de desinformação.

4.4 Definição dos Principais Riscos Hidroclimáticos na Área Urbana

A inundação de áreas ribeirinhas é um processo natural que se deve ao escoamento pluvial e que pode causar danos quando a área inundável é ocupada sem planejamento. Na Figura 10 é possível observar o leito menor do rio e o de inundação. A água escoa normalmente pelo leito menor durante todo o ano, porém, segundo Tucci e Bertoni (2003), o leito maior corre o risco de inundar em um período aproximado de 1,5 a 2 anos. Os agravantes dessas inundações nas áreas urbanas são as impermeabilizações do solo, a retirada de árvores e áreas de infiltração que desacelerariam a velocidade da água. Assim, a vazão aumenta, podendo também assorear áreas do leito menor e obstruir a passagem da água junto a outros instrumentos urbanos.

Figura 1 Características dos leitos do rio.

Fonte: Tucci e Bertoni (2003).

(23)

14

Figura 2 Como se caracteriza uma inundação.

Fonte: Ministério das Cidades/IPT (2007).

A enchente é fruto de um acúmulo maior de água também no canal de drenagem (seria o início de uma inundação), porém, mesmo com grande intensidade e alta capacidade de transporte, ela não extravasa a cota máxima do canal (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012; TUCCI; BERTONI, 2003).

O alagamento depreende-se como um acúmulo da água em determinada área, normalmente devido a falhas na drenagem urbana, e a

enxurrada caracteriza-se pelo escoamento superficial de alta energia de transporte, o qual pode ou não estar associado às áreas comuns dos processos pluviais. A declividade, associada ao volume de água sem um sistema de contenção ou espalhamento, desencadeará nesse evento (BRASIL, 2004; TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012).

(24)

15

Figura 3 Número de afetados por desastres naturais no Brasil no ano de 2012.

Fonte: Defesa Civil (2012).

Figura 4 Porcentagem de afetados por tipo de desastre no Brasil.

Fonte: Defesa Civil (2012).

(25)

16

enchentes (ALVES; OJIMA, 2008).

Figura 5 Comparação entre óbitos e densidade demográfica. Fonte: Defesa Civil (2012).

Segundo dados e relatórios produzidos pela Defesa Civil, a compreensão da diferença entre o número de afetados na região Sudeste e a proporção de mortes deve-se, principalmente, à densidade demográfica.

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17

Figura 6 Projeções de mudanças climáticas.

Fonte: PBMC (2013).

O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (2013) infere que há:

Incerteza sobre a variabilidade natural do sistema climático: os processos físicos e químicos da atmosfera global são de natureza caótica, de forma que o clima pode ser sensível às mudanças mínimas (variações não lineares) que são difíceis de serem mensuradas, tanto nos dados observacionais como nos resultados dos modelos (PBMC, 2013, p.53).

Essas mudanças climáticas, em conjunto com as características da população urbana, sugerem melhores estudos a respeito das vulnerabilidades ambientais e sociais aos riscos de desastres.

No próximo tópico falaremos sobre planejamento e como ele pode proporcionar mais segurança à população e diminuir a possibilidade de eventuais riscos.

O município de Ourinhos (SP) está localizado no sudoeste do estado e, assim como alguns municípios de sua região, nos últimos anos presenciou eventos de grande intensidade, como tornados e fortes tempestades, o que lhe causou estragos e prejuízos de grande monta. Após a tempestade do dia 25 de setembro de 2014, Ourinhos solicitou que fosse decretado Estado de Calamidade Pública para receber recursos do Estado e da União devido os prejuízos estimados em R$ 30 milhões.

(27)

18

públicas foram poupadas, assim como a sede da Polícia Civil, áreas verdes e locais de lazer, como complexo esportivo do Monstrinho (Complexo Esportivo).

A água invadiu também o Centro Cultural, a Biblioteca Municipal e o Teatro Miguel Cury. Já no fator humano, o prejuízo resultou em 64 famílias afetadas, sendo que 52 ficaram desabrigadas. A grande maioria recorreu a casas de parentes e amigos.

4.5 Risco Social e Vulnerabilidade Social

O risco social é diferente da vulnerabilidade social, pois esta não depende da proximidade com a origem do perigo. A vulnerabilidade social está ligada a critérios da morfologia social (VEYRET, 2013; VIEILLARD-BARON, 2013). Os autores afirmam que o risco social é calculável e normalmente está relacionado à segregação social, à pobreza e à fragmentação do espaço. Outro forte motivo para que o risco não seja confundido com a vulnerabilidade social é justamente por esta última ser entendida como a face suscetível da população que pode ou não estar em risco. O risco social para esse contingente de pessoas vulnerável aumenta, pois qualquer situação de mudança exigirá adaptação e desgaste, o que pode levar ao esgotamento, haja vista sua fragilidade.

A capacidade de se adaptar, ou o poder de adaptação está inseridos nesse contexto (FREITAS; CUNHA, 2013; MENDES et al., 2011) em que a vulnerabilidade social se associa à resiliência. Assim, Freitas e Cunha (2013) fazem referência a dois elementos da vulnerabilidade social: a criticidade e a

capacidade de suporte. A criticidade refere-se às características da população, já a capacidade de suporte diz respeito à qualidade e à disponibilidade das infraestruturas locais, o que tornaria possível à população esboçar reação satisfatória perante o desastre.

(28)

19 dependeria da “[...] latitude na qual o indivíduo se posiciona entre a possibilidade

de sucesso e fracasso” (VIEILLARD-BARON, 2013, p. 278).

Alguns autores diferem um pouco na operacionalização e aplicação dos diversos conceitos, Cutter (2011, p. 59) define que “A intersecção da

vulnerabilidade física e da vulnerabilidade social cria a paisagem dos riscos (hazardscape)” e Freitas e Cunha (2013) ilustram no fluxograma da Figura 7, como o risco se difere da vulnerabilidade social no momento em que tornam visíveis os fatores de construção de um risco.

Figura 7 Relação entre risco e vulnerabilidade social.

Fonte: adaptada de Freitas e Cunha (2013).

Dessa forma, a caracterização do risco depende da probabilidade de cada tipo de risco específico atingir um espaço suscetível para tornar-se uma “Álea” ou “Hazard”. Diante dessa configuração, cabe avaliar as pessoas, grupos e bens

expostos e quão vulneráveis estão aos possíveis eventos danosos.

4.6 A Percepção dos Riscos

A percepção dos riscos vai além de sua cartografia ou medição da probabilidade. Pelos gestores urbanos e estudiosos difere-se da percepção do risco pela sociedade. Na maioria das vezes, a falta de conhecimento e entendimento da população sobre a própria exposição aumenta seus riscos, bem como pode multiplicar sua vulnerabilidade.

Tempo (Probabilidade

)

Espaço Suscetibilidade

Perigosidade

“Álea” “Hazard”

RISCO

População Exposta

Bens Expostos

Vulnerabilidade Social

(29)

20

Uma visão muito importante elencada por outros autores (CARPI JR.; LEAL, 2012; DAGNINO; CARPI JR., 2007; GUIMARÃES et al.) sobre a percepção dos riscos é referente aos conhecimentos das populações, que podem também indicar caminhos para a compreensão e, principalmente, para a gestão dos riscos.

Os riscos somente existem para alguém que os percebe (BECK, 2006; CARPI JR.; LEAL, 2012; GIDDENS, 2002; GUIVANT, 2001; VEYRET, 2013). Seja qual for o perigo, caso não haja alguém ameaçado ou disposto a mensurar as probabilidades da ocorrência de um desastre, não se poderá dizer que há algo ou alguém em risco. A percepção dos riscos pode ser uma avaliação de origem técnica, científica, privada, pública ou pela sociedade civil.

O Estado, como regulador, determina as zonas de usos do espaço urbano utilizando-se de suas habilidades de reconhecer áreas aptas e inaptas aos diferentes usos. Para isso, fará uso do conhecimento técnico para determinar áreas suscetíveis à ocorrência de inundações, processos geológicos ou hidrológicos descritos na Lei n. 12.608, de 2012, acrescida do Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257, de 2001. Desse modo, os riscos são percebidos por meio de técnicas de mapeamento com a indicação de áreas com fragilidades ambientais que não deveriam ser ocupadas, bem como desocupar áreas que apresentem tais características. Essa visão do risco por parte dos gestores é muito positiva, porém, cada vez mais difícil de consolidação, caso haja população já ocupando essas áreas. A percepção por parte dos indivíduos e grupos que vivem em áreas de risco varia muito entre os que desconhecem os perigos, os que esperam intervenção do poder público atuando no combate ou gestão dos riscos e os que se submetem aos riscos por não terem outra opção de moradia. A percepção é uma das questões culturais e sociais que mais interferem na relação entre risco e desastre. Assim, a cultura é um elemento forte na percepção moderna dos riscos, pois vai se refletir nas atitudes futuras diante de um evento perigoso, podendo aumentar ou diminuir a vulnerabilidade socioambiental (ALEXANDER, 2011).

“Os riscos na cidade constituem-se em função da densidade da ocupação do solo, da natureza e do tipo de construções [...]. [...] Existe uma

(30)

21

territórios são “[...] tributários de um passado nem sempre bem conhecido e, notadamente, de escolhas políticas ou econômicas cuja pertinência não pode

ser compreendida senão em um contexto de uma dada época [...]” (op. cit., p. 27).

A determinação das fragilidades ambientais e o histórico de ocupações degradantes constituem uma base sob o ângulo dos riscos de desastres por meio do conhecimento empírico ao longo dos anos. “Os perigos físicos (sejam

naturais ou antropogênicos), assim como os fatores culturais e históricos, atuam em conformidade com a vulnerabilidade dos sistemas socioeconómicos

humanos” (ALEXANDER, 2011, p. 25).

Em estudo recente desenvolvido por Aleixo e Sant’Anna Neto (2011), sobre doenças de veiculação hídrica, foram realizados questionários na cidade de Ribeirão Preto (SP) com intuito de medir o conhecimento da população e a percepção dos riscos a que ela estava exposta. Menos da metade (40%) dos habitantes consultados sabia como a leptospirose – uma doença de alta periculosidade e o contágio ocorre, principalmente, em épocas de enchentes –

é transmitida e como se prevenir.

Ibagué, na Colômbia, fica localizada às margens do (capital do departamento colombiano de Tolima) rio Combeima, caminho das corredeiras violentas causadas pelas chuvas equatoriais, deslizamentos de terras e erupções do vulcão ativo e gelado. As inundações figuram grandes transtornos à população de mais 50 mil pessoas que vivem às proximidades do rio (Thouret, 2013). Thouret, em seu estudo de 1994, produziu diferentes cenários das áreas que poderiam ser inundados na cidade para saber qual a percepção da população diante do risco com intuito de preparar um material didático de prevenção. O autor utilizou-se de mapa de detalhes (escala 1.2000), informações demográficas das famílias, da vizinhança e percepção do risco de quem estava mais próximo e distante do rio segundo a altitude (Thouret, 2013).

(31)

22

aos perigos, pois não se consideram vulneráveis. Já os moradores das áreas de risco, perto do rio são conscientes do perigo, porém:

“They also believe that hazard information and warning messages delivered by authorities is sufficient, whereas people who live far away do not believe so. In addition, these neighborhoods at high risk have precarious living standards and comprise a majority of poor city dwellers. Even if they wished to leave the area, they would probably not want to be evacuated in case of emergency. In fact, they give evidence of a fatalist mentality as they believe that a catastrophe similar to that of Armero only depends on God's will. They also fear that an evacuation will enable thieves to steal their scanty belongings in case of a false alert, when this neighborhood in jeopardy provides their livelihood […]”. (Thouret e Laforge. 1994, p. 412).

Este pensamento fatalista sentido pelas populações mais carentes impede de verem justamente a gravidade do risco que correm. Dessa forma, a conscientização da sociedade, principalmente às instaladas em áreas de risco tornar-se-ia uma ferramenta estratégica para situações de alerta e emergência extremamente eficiente para o planejamento e engajamento político.

4.7 Vulnerabilidade como Instrumento de Investigação e Tomada de Decisão

Os estudos sobre as vulnerabilidades ambientais hoje entremeiam diversas áreas do conhecimento, operando cada vez mais na direção das políticas de planejamento sustentável e na gestão dos riscos.

“A vulnerabilidade pode bem ser entendida como o outro lado da moeda da sustentabilidade. As duas parecem manter uma relação diametralmente oposta: o aumento da vulnerabilidade implica a diminuição da sustentabilidade” (HOGAN; OJIMA, 2010, p. 92).

(32)

23

é preciso ter estabilidade, estar preparado para adversidades e sentir-se seguro. Em situações de vulnerabilidade, as sensações mais sobressalentes são a de insegurança e a de incerteza quanto ao futuro (ALEXANDER, 2011; HOGAN; OJIMA, 2010; VIEILLARD-BARON, 2013).

Como dito anteriormente, diferentes campos do conhecimento fazem uso do conceito de vulnerabilidades como meio de direcionar e otimizar a tomada de decisões tanto na gestão dos riscos quanto no planejamento sustentável. A vulnerabilidade, independentemente da área de atuação, é diagnosticada como a face mais suscetível aos perigos iminentes, sejam eles de ordem natural, humana ou conjunta. A vulnerabilidade não é mensurada como um fator, mas, sim, como uma característica negativa das áreas avaliadas com risco que necessitam de intervenção prioritariamente. De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2009, p. 174): “ela se revela por meio de outros elementos que, estes sim, são escrutinados pela pesquisa. Riscos e perigos são o foco, as estruturas

e os qualitativos disponíveis[...]”.

A vulnerabilidade refere-se, então, tanto à capacidade estrutural do lugar de suportar um evento adverso como à habilidade de suporte que um grupo ou indivíduo têm para se reestabelecer caso o evento perigoso os atinja.

Adotamos neste trabalho a visão de Veyret (2013, p. 40) que define

vulnerabilidade como “[...] a determinação dos danos máximos em função de

diversos usos do solo e dos tipos de construção: em caso de inundação, uma casa construída com entressolho não apresenta o mesmo grau de vulnerabilidade que uma construção sem essa arquitetura [...]”. A autora salienta a importância da avaliação de cada uso do solo para determinar a vulnerabilidade relativa. Em uma abordagem quantitativa, é possível calcular diversos custos dos prejuízos, diretos ou indiretos. Já em uma abordagem qualitativa, há uma aproximação entre a orientação do diálogo da Geografia e os estudos populacionais (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009; VEYRET, 2013).

(33)

24

Nos estudos da Geografia, a “[...] vulnerabilidade é o termo chave das

ciências ambientais deste início de século [...] e suas ideias [...] incluem

adaptação, mitigação, riscos, perigos e resiliência” (HOGAN; OJIMA, 2010, p. 94). Em um primeiro momento, a mitigação das áreas mais vulneráveis diminui a insegurança e efeitos dos impactos. A resiliência dependerá da capacidade de regeneração e reestruturação após a ocorrência de um evento desastroso, assim como a adaptação mediante a uma nova realidade que constitui possíveis mudanças do/de ambiente, vizinhança e dificuldades pessoais (financeiras e

emocionais). “Quando o perigo supera a habilidade da população ou do lugar em

responder ao evento, pode configurar-se um desastre. A partir deste, a vida

normal é quebrada e há necessidade de recompor as perdas e danos”

(MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 166).

Figura 7 Diagrama conceitual risco-perigo-vulnerabilidade.

Fonte: Marandola Jr. (2008, p. 57).

(34)

25

sociais, econômicos e infraestruturais que aumentam a exposição e diminuem a resiliência. Portanto, o risco corre lado a lado com a vulnerabilidade. Mais importante que a soma, Dagnino e Carpi Jr (2007, p. 70) dão a seguinte reflexão:

A identificação de vulnerabilidades permite entender as carências que apresenta uma comunidade ou grupo de indivíduos, pois a abordagem da vulnerabilidade pode acontecer em diferentes escalas (individual x social/coletiva) e/ou a partir de diferentes temas (social x socioambiental).

Neste capítulo, conhecemos as definições de vulnerabilidade e risco, suas consequências e conceitos. No próximo tópico, o foco será a população. Como se dá seu crescimento, o que ele pode acarretar, qual é sua relação com riscos e vulnerabilidade.

4.8 O Crescimento Populacional Entre Outros Gargalos do Desenvolvimento Sustentável

A cidade é o lugar do trabalho, do lazer, da produção, do consumo, de ir e vir e do estar. É lugar de ordem e contraordem, é o lugar dos sistemas econômicos e de lutas sociais. É o lugar das funções, da arte. A cidade é a natureza transformada, domada, destruída, é a natureza que se rebela. É comunicação e encontro, é isolamento, desencontro e procura. A cidade é riqueza e pobreza, beleza e feiura, é evolução, transformação e revolução, é unidade e diversidade, é contradição (SPOSITO, 1993, p. 63).

A finalidade de estudar e mapear os riscos hodiernos surge com a preocupação e a responsabilidade do planejamento urbano, propendendo ao ordenamento territorial para com a qualidade de vida dos seres humanos.

(35)

26

O território ocupado e povoado intensamente pelo ser humano é caracterizado como um aglomerado urbano com características peculiares, conforme suas funções socioculturais. Essa paisagem apresenta um sistema dinâmico, cíclico, modificado e reconstruído por fatores históricos e socioeconômicos. Bertrand (1971, p. 2) define essa paisagem como “[...] o

resultado da combinação dinâmica, portanto, instável, de elementos físicos,

biológicos e antrópicos”. Para Marandola Jr. e Hogan (2004) “a relação homem -meio/sociedade-natureza é colocada no centro do processo de ocupação humana de um território, estando sua compreensão no cerne dos mecanismos

de intervenção e gestão deste território”. Desse modo, os riscos são gerados ao longo da produção e do desenvolvimento do espaço urbano, voluntariamente ou não. Tais riscos mantêm a instabilidade da gestão urbana refém dos possíveis desastres, danos e prejuízos que podem acometer a sociedade como um todo e o meio ambiente.

Assim, o conhecimento da realidade parte da compreensão dessa dinâmica e inclui-se aí o histórico da urbanização local. A produção do espaço urbano e as condicionantes que regem suas interações socioeconômicas refletem-se na produção e na gestão dos riscos de desastres. Para Thouret (2013, p. 86), “O sistema urbano traz os germes da vulnerabilidade. Os efeitos

da concentração e da densidade urbanas, a desigual mobilidade dos cidadãos [...]” são responsáveis por efeitos desastrosos nas cidades.

(36)

27

desenvolvimento dessa população ao longo dos anos.

Em 1950, a cidade possuía uma população de 21.085 habitantes, segundo o Censo (1950). A partir daí, apresentou um crescimento gradativo ao longo das décadas seguintes. Em 2010, a população de Ourinhos atingiu 103.035 habitantes, com densidade demográfica de 348,30 hab/km², segundo o IBGE (2015), conforme o Quadro 1.

Quadro 1 - Crescimento populacional de Ourinhos.

Ano População Densidade

demográfica

1918 4.273 15,15 hab/km²

1937 8.257 29,28 hab/km²

1950 21.085 74,77 hab/km²

1960 34.293 121,61 hab/km²

1970 49.193 174,44 hab/km²

1980 59.739 211,84 hab/km²

1991 76.923 272,78 hab/km²

2000 93.868 332,87 hab/km²

2007 98.868 333,78 hab/km²

2010 103.035 348,30 hab/km²

2015 (estimativa IBGE) 110.282 372,80 hab/km²

Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2015). Organizado pelo autor.

Dialogando com a ideia de segregação social onde “[...] diferentes classes

ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros [...] (Villaça, 1998, pág. 142). No estudo realizado

(37)

28

Figura 9 Abastecimento de água. Fonte: Baltar, 1956

A cidade se expandiu territorialmente em excesso acarretando uma dispersão prejudicial da sua população, cujas consequências são o encarecimento da prestação de serviços públicos pelo município e a dificuldade de intensificação da vida social - eis que a uma população da ordem de vinte mil habitantes corresponde atualmente uma área urbana construída de cerca de 400ha, ou seja, uma densidade demográfica bruta de 50 habitantes por hectare (Baltar, 1956, f. 7).

(38)

29

Imagens 1 e 2 Ocupação diferente das nascentes.

Fonte: Google Earth. Organizado pelo Autor.

(39)

30

Figura 9 Rede Elétrica. Fonte: Baltar, 1956.

Estes mapas elaborados pela equipe do Padre Lebret, em 1956, ilustram a visão que o padre tinha na época sobre a expansão e segregação.

(40)

31

Figura 12 Expansão Urbana. Fonte: Baltar, 1956.

A partir dos dados da população de 1930, 1940 e 1950, a equipe de Baltar (1956) realizou o seguinte cálculo para estimar a população futura:

p= 105,2 onde:

1 + e34,6 - 0,08 t

p é população e t o tempo contado a partir de 1930.

A partir desse cálculo obtiveram os valores a seguir:

Quadro 2 Previsão de crescimento da população.

Ano População

1955 19.800

1965 35.800

1975 56.300

1985 75.500

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32

Nota-se que o cálculo realizado ficou bem próximo à realidade atual (vide, quadro 1) do município de Ourinhos. Outro fator que corrobora à realidade é elencado pelo autor pois na sua previsão estatística sobre o crescimento urbano de Ourinhos/SP, considerou que “O limite de saturação se situado em 105.200 habitantes” (BALTAR, 1956, f.19).

Isso importa em prever um reequipamento urbano suficiente - tomado o termo no seu sentido mais amplo abrangendo não somente os serviços públicos, sanitários, de transportes e comunicações, mas também o equipamento cultural - especialmente o de ensino no plano técnico para a formação de quadros de pessoal para a indústria. (Baltar, 1956, f. 9).

Considerando esta previsão de 105 mil habitantes como saturação, Ourinhos já teria atingido este limite até o ano de 2014. É interessante pensar sobre a saturação da população do município tanto pelo olhar urbanístico quanto do planejamento sustentável do futuro. No momento em que considera-se já um adensamento populacional, porém, não verticalizado e sim expandido para as periferias, cabe a reflexão do planejamento urbano, sobretudo no ordenamento territorial do Plano Diretor municipal sobre as áreas mais distantes do centro e suas deficiências devido à segregação. Estas áreas são caracterizadas pelas altas densidades populacionais, maior natalidade, número de jovens responsáveis pelo lar e maior degradação ambiental. BRAGA (2012a, p. 6) destaca que:

O princípio da compacidade se refere tanto à continuidade e conectividade do tecido urbano, quanto à contenção da dispersão urbana (urban sprawl). Cidades mais compactas seriam cidades mais

sustentáveis, na medida em que minimizam o transporte de energia, água, materiais, produtos e pessoas. Também possibilitaria maior interação social e acesso aos serviços urbanos[...]

Outros autores como ALEIXO; SANT’ANNA NETO, 2011; ALVES;

(42)

33 4.9 Breve Revisão sobre Planejamento, Novas Leis e o Plano Diretor

Diante dos efeitos das mudanças climáticas, conforme são apuradas as causas e consequências do fenômeno ocorrido, revelam-se as vulnerabilidades, seja dos lugares ou das pessoas. Haja vista a intensidade desses eventos ocorridos nos últimos anos nas cidades brasileiras e o número de pessoas e bens atingidos, a reflexão sobre como prevenir, suportar e se recuperar após

desastres entrou na agenda global. “[...] a discussão sobre vulnerabilidade

sempre nos conduz a pensar sobre insegurança e sistemas de proteção, que abrem uma perspectiva fundamental para que possamos identificar elementos

que ajudam a compor a vulnerabilidade” (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2009, p. 174).

Como planejar um futuro sustentável diante da insegurança? A previsão é de instabilidade climática, principalmente nas cidades, segundo os relatórios emitidos pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, organismo científico nacional criado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente no ano de 2009. Quanto às políticas de ordenamento territorial sustentável, observa-se na constituição, principalmente a partir da “[...] Conferência Rio 92,

com a Agenda 21 e posteriormente, em 1996, com a Agenda Habitat, da

Conferência Habitat II, que definiu a sustentabilidade ambiental como “um dos

fundamentos da política urbana” (BRAGA, 2012a, p. 1), um grande avanço institucional.

(43)

34

Os políticos estão no coração do dispositivo; de fato, eles devem fornecer respostas à sociedade civil apoiando-se no conhecimento dos especialistas. Nessa abordagem, sempre existe uma defasagem entre o grau de gravidade estabelecido pelos especialistas, o reconhecido pelas autoridades políticas e o percebido pelo público (VEYRET, 2013, p. 17).

Figura 3 A articulação entre especialistas e decisão.

Fonte: Veyret (2013).

A mensuração dos riscos e a tentativa de quantificá-los nem sempre é objetiva, em razão dos diversos fatores que interagem para seu surgimento. O Brasil ainda sofre sem planejamento e gestão das áreas de riscos, e ainda costuma-se dar atenção às situações de emergência relacionadas aos desastres naturais apenas após sua concretude. O desenvolvimento de novas

metodologias é de grande valor e poderá ”[...] fornecer subsídios para a melhoria

do planejamento de ações de prevenção e mitigação e para o direcionamento de políticas públicas voltadas à criação de resiliência social [...]” (BRAGA; OLIVEIRA; GIVISIEZ, 2006, p. 83).

Também nos estudos de Freitas e Cunha (2013, p. 16), essa visão do “[...]

aumento dos diferentes tipos de riscos urbanos (naturais, tecnológicos e mistos) e a deterioração dos ecossistemas tornam imprescindível o traçado de ações

integradas, envolvendo governo e parceiros locais [...]”. Cabe às instituições estatais o planejamento urbano e das ações futuras, gerenciar e prover o desenvolvimento sustentável.

(44)

35

57.512, criando o Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais e de Redução de Riscos Geológicos. Em 2012, na esfera Federal, a Lei n. 12.608 institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres, aferindo relação direta com a Lei Lehmann (Lei n. 6.766/79), sobre o parcelamento do solo urbano e:

§ 2º Nos Municípios inseridos no cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos, a aprovação do projeto de que trata o caput ficará vinculada

ao atendimento dos requisitos constantes da carta geotécnica de aptidão à urbanização (BRASIL, 2012).

Nos próximos subitens serão apontados os avanços de algumas diretrizes voltadas ao planejamento urbano e à gestão das áreas de vulnerabilidade socioambiental.

4.9.1 A Lei n. 10.257 e o Plano Diretor

No Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257, de junho de 2001), o art. 39º deixa

claro que “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às

exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”

(BRASIL, 2001, p. 30). Os Planos Diretores, por sua vez, assumem um importante papel, servem como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 1988). O art. 40º do Estatuto da Cidade define o Plano Diretor como:

(45)

36

A instituição do Plano Diretor Municipal acentua um fato importante sobre as diretrizes que os municípios devem seguir ao elaborar seus planos urbanísticos, além das questões ambientais e de parcelamento do solo.

A lei do Plano é, portanto, um bom instrumento para se conseguir uma programação constante de investimentos e ações planejadas de setores estratégicos. O fluxo contínuo de recursos, ao longo de anos, possibilita uma abrangência social que realmente dê conta dos passivos socioambientais (BUENO et. al., 2007, p. 11).

4.1.2 Decreto Estadual n. 57.512 de 2011

(46)

37

Figura 14 Programa Estadual de Prevenção de Desastres e Redução de Riscos Geológicos (PDN).

Fonte: Instituto Geológico (2013).

O Decreto n. 57.512 tem como objetivos:

(47)

38 4.9.3 Lei Federal n. 12.608 de 2012

A paisagem urbana é a expressão de um momento histórico e socioeconômico, e pensar o futuro sustentável de estabilidade dos elementos desse espaço dinâmico requer, antes de tudo, planejamento. Assim, a necessidade de diagnosticar as zonas de vulnerabilidades socioambientais e promover a gestão dos riscos eclode da premissa de que, para avançar na qualidade ambiental sustentável, é preciso começar pelas áreas menos estáveis (ALEXANDER, 2011;HOGAN; OJIMA , 2010).

A Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012, institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC e dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil – CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres.

Entre os objetivos dessa Lei estão:

Art. 5º do capítulo II, Seção I, São objetivos da PNPDEC: VI – estimular o desenvolvimento de cidades resilientes e os processos sustentáveis de urbanização; VII – promover a identificação e avaliação das ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades a desastres, de modo a evitar ou reduzir sua ocorrência; X – estimular o ordenamento da ocupação do solo urbano e rural, tendo em vista sua conservação e a proteção da vegetação nativa, dos recursos hídricos e da vida humana; XI – combater a ocupação de áreas ambientalmente vulneráveis e de risco e promover a realocação da população residente nessas áreas; XII – estimular iniciativas que resultem na destinação de moradia em local seguro; XIII – desenvolver consciência nacional acerca dos riscos de desastre; XIV – orientar as comunidades a adotar comportamentos adequados de prevenção e de resposta em situação de desastre e promover a autoproteção; e XV – integrar informações em sistema capaz de subsidiar os órgãos do SINPDEC na previsão e no controle dos efeitos negativos de eventos adversos sobre a população, os bens e serviços e o meio ambiente.

Art. 4º do capítulo II, Seção I, São diretrizes da PNPDEC: II – abordagem sistêmica das ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação; III – a prioridade às ações preventivas relacionadas à minimização de desastres; V – planejamento com base em pesquisas e estudos sobre áreas de risco e incidência de desastres no território nacional;

Art. 8º do capítulo II, Seção II, Compete aos Municípios: IV – identificar e mapear as áreas de risco de desastres; V – promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas ocupações nessas áreas;

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