FENOLOGIA Ε PRODUTIVIDADE DA FRUTAPÃO (zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAArtocarpus altilis) Ε DA JACA (A. heterophyllus) NA AMAZÔNIA CENTRAL1
Martha de Aguiar FALCÃO2
, Charles R. CLEMENT3
, João Batista Moreira GOMES3
, Wanders Β . CHÁVEZ F L O R E S4
, Filomena Ferreira SANTIAGO5
, Vilma Pereira FREITAS6
RESUMOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA — A frutapão (zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAArtocarpus altilis) e a jaca (A. heterophyllus) são comumente cultivadas na
Amazônia. Ambas apresentaram vários picos de floração ao longo do ano. A frutapão floresceu na época chuvosa e na de estiagem, enquanto que a jaca floresceu principalmente na época chuvosa. A proporção de inflorescências estaminadas e pistiladas na frutapão alternou irregularmente ao longo do ano, enquanto as flores pistiladas na jaca foram quase sempre mais frequentes. Os frutos da frutapão estavam presentes durante a maioria do ano, com picos de abundância no início da época chuvosa (janeiro a março) e na época de estiagem (agosto a outubro), enquanto frutos de jaca estavam presentes com abundância na época chuvosa de 1988 (janeiro a março) e na época de estiagem de 1988 e 1989 (julho a setembro). O vingamento dos frutos da frutapão foi maior que o da jaca, com médias de 76% e 48% por semestre, respectivamente. Tanto a frutapão como a jaca apresentaram uma acentuada caída de frutos entre o vingamento e a maturação, com médias de 36% e 28% por ano, respectivamente. Embora o número de frutos produzidos por planta não foi muito diferente (médias de 53 e 45 por planta, respectivamente), a produtividade da jaca foi expressivamente maior (475 kg/planta) que a da frutapão (48 kg/planta), porque os frutos da jaca são maiores que os da frutapão (médias de 8,9 kg e 1,1 kg, respectivamente). As abelhas foram os principais insetos visitantes, sendo muito mais numerosas que as formigas, borboletas ou moscas.
Palavras chave: floração, frutificação, vingamento, mudança foliar, insetos visitantes
Phenology and Yield of Breadfruit (Artocarpus altilis) and Jackfruit (A. heterophylus) in Central Amazonia
ABSTRACT — The breadfruit (Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg) and the jackfruit (A. heterophyllus
Lamk) are native to Oceania and south Asia, respectively, and were domesticated for their starchy fruits and nutrient rich seeds. Both are commonly cultivated in Amazonia, in both urban and rural settings. Both species presented various flowering peaks during the year, with breadfruit flowering in both the rainy and the dry seasons, while jackfruit flowered principally in the rainy season. The proportion of staminate and pistilate flowers of breadfruit alternated irregularly during the year, while the pistilate flowers of jackfruit were generally most abundant. Breadfruits were present on the trees during most of the year, with peaks
of abundance in the early rainy (January to March) and late dry seasons (August to October), while jackfruits were abundant in the rainy season of 1988 (January to March) and the dry season of 1988 and 1989 (July to September). Fruit set of breadfruit was greater than that of jackfruit (means of 76% and 48% per
semester, respectively). Both breadfruit and jackfruit presented pronounced fruit abortion between fruit set and maturation (means of 36% and 28% per year, respectively). Although fruit number produced per tree was not much different (means of 53 and 45, respectively), estimated jackfruit yield was much greater (475 kg/tree) than that of breadfruit (48 kg/tree), because jackfruits were much larger than breadfruits (means of 8.9 kg and 1.1 kg, respectively). Bees were the principal insect visitors, always more numerous than ants, butterflies or flies.
Keywords: flowering, fruiting, fruit set, leaf change, insect visitors
1
Pesquisa feita com apoio do convênio UA/INPA entre 1987 e 1990, e do CNPq entre 1997 e 2000.
2
Bolsista do INPA, modalidade DTI. Av. Col. Teixeira, 386, Cond. Rio Tupana, Apto. 602A, 69030481 Manaus, AM, Brasil. Email: mfalcao@internext.com.br
3
INPA, Cx. Postal 478, 69011970 Manaus, AM, Brasil. 4
Doutorando em Botânica, PPGBTRN/INPA, a/c CPCA/INPA, Cx. Postal 478. 5
Bolsista do CNPq; atual bolsista do INPA, modalidade PCI, com apoio do CNPq. 6
INTRODUÇÃO zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
As espécieszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg, fruta pão, e A.
heterophyllus Lamk, jaca, da família Moraceae, são originárias da Oceania e do sul da Asia, respectivamente. A m b a s são c o s m o p o l i t a s e c o m u m e n t e c u l t i v a d a s em t o d a Amazônia. Sabese que sementes da frutapão foram introduzidas no Pará em 1801 e no Rio de Janeiro em 1809, procedentes das Antilhas (Corrêa,
1926). A jaca foi introduzida no Brasil em 1809, possivelmente em Belém, p r o c e d e n t e de C a y e n n e , G u i a n a Francesa (Patino, 1969).
Arvores da frutapão atingem de 15 a 20 m de altura, com 1,2 m de diâmetro do tronco a altura do peito. As inflorescências são unissexuais e são produzidas nas axilas das folhas; as masculinas são pêndulas e um tanto esponjosas, enquanto as femininas são globosas e eretas; uma inflorescência chega a ostentar de 1.500 a 2.000 flores (Jarrett, 1976). Aproporçãao de inflorescências masculinas em uma á r v o r e é de 6 0 8 0 % , e se forem tocadas durante a ântese, elas liberam uma nuvem de pólen, sugerindo que a polinização maior é anemófila (vento). As flores são polinizadas e fertilizadas no período de 3 a 6 dias (Barrau,
1976), s e n d o p o s s í v e l a a u t o fecundação pela presença de flores masculinas e femininas no mesmo período. Os frutos sincárpicos são g l o b o s o s ou o b l o n g o s , a m a r e l o esverdeados, com 50 a 60 sementes de cor m a r r o m c l a r o , u s a d a s c o m o alimento, cozidas ou assadas, pois
p o s s u e m ao redor de 1 3 , 3 % de proteínas (Quijano & Arango, 1979; N e g r o n de B r a v o et al., 1983; C a v a l c a n t e , 1991). As p l a n t a s possuem látex branco, usado para calafetar embarcações ( P r a n c e & Silva, 1975; Ragone, 1997). A fruta pão é adaptada às regiões tropicais, com temperatura de 20 a 35°C, regime de chuvas de 2.000 a 3.000 mm, e umidade relativa do ar de 70 a 90% (Ragone, 1997).
tônica, com composição similar à da frutapão (Prance & Silva, 1975; Cavalcante, 1991). Na índia é também usado em sopas e o u t r o s p r a t o s culinários, bem como em coquetéis de frutas e vegetais. O látex serve para vários fins industriais, e na China é usado como medicinal (Teaotia & C h a u h a n , 1969; T h o m a s , 1980; Bennett & N o z z o l l i l o , 1988; Narasimham, 1990; Soepadmo, 1992; Ragone, 1997).
Wielgolaski (1974) definiu a fenologia como o estudo do efeito da p e r i o d i c i d a d e d a s c o n d i ç õ e s c l i m á t i c a s , i n f l u e n c i a d o p e l a s condições edáficas e ecológicas em geral, sobre o ciclo biológico das p l a n t a s , e s p e c i a l m e n t e s o b r e os ó r g ã o s r e p r o d u t i v o s e de c r e s c i m e n t o v e g e t a t i v o . O conhecimento da fenologia ajuda o planejamento e manejo do plantio e a c o m e r c i a l i z a ç ã o dos frutos. O objetivo deste trabalho foi observar e c o n t r a s t a r a f e n o l o g i a e a produtividade de frutapão e jaca du
rante três anos na Amazônia central. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
MATERIAL Ε MÉTODOS
Este estudo foi i n i c i a d o em agosto de 1987 no ensaio "Consórcio
com três espécies frutíferas: frutapão zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA (Artocarpus altilis ( P a r k i n s o n )
F o s b e r g ) , j a c a (A. heterophyllus Lamk) e pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.)," popularmente chamado da "Floresta de a l i m e n t o s " (Arkcoll, 1982), instalado em 1979 no campus III do Instituto Nacional de Pesquisas da A m a z ô n i a INPA, A v e n i d a E f i g ê n i o S a l e s , s/n, M a n a u s ,
Amazonas, Brasil. As mudas da fruta pão e da jaca foram obtidas de árvores cultivadas nos quintais em Manaus, selecionadas apenas por sanidade, vigor e produção de frutos; a frutapão usada foi daquela com sementes, pois a frutapão de massa (sem sementes) é muita rara em Manaus. O tipo de solo é latossolo a m a r e l o , textura média a arenosa (Ν . P. Falcão, INPA, com. pess.). O clima é " A f i , " no esquema de Kóppen, com médias a n u a i s de 2.478 mm de c h u v a e t e m p e r a t u r a de 25,6°C ( R i b e i r o , 1976). Os dados climáticos (Figs. IA, 2A) foram o b t i d o s da E s t a ç ã o M e t e o r o l ó g i c a do M i n i s t é r i o de Agricultura, em Manaus.
RESULTADOS Ε DISCUSSÃO
Floração zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA A frutapão apresentou três picos
de floração ao longo de cada ano (Fig. I B ) , com picos maiores em 1988 (janeiro/março, abril, julho/setembro) e u m a t e n d ê n c i a de r e d u ç ã o no t a m a n h o dos p i c o s ao longo do período de observações. É possível que esta redução foi devido a falta de adubação. Fownes & Raynor (1993) observaram apenas um ou dois picos de produção em cultivares da fruta pão de massa em Pohnpei (Oceania).
A p o r c e n t a g e m de inflorescências masculinas e femininas variou ao longo do ano (Figs. IB, 1C), com um máximo de 80% masculinas em f e v e r e i r o 1988, no pico de floração, e um mínimo de 2 5 % num período quase sem flores. Barrau (1976) observou a mesma proporção m á x i m a , mas a m e n o r p r o p o r ç ã o observada aqui foi bem inferior ao mínima observado por ele ( 6 0 % ) , possivelmente por ter sido observado num período de pouca floração. Em picos alternados, as inflorescências femininas foram mais abundantes que as masculinas (Fig. IB), sem relação aparente com a frutificação (Fig. ID).
Vinte p o r c e n t o das inflorescências femininas da frutapão revestidas com saquinhos de morim d u r a n t e 15 dias v i n g a r a m frutos, sugerindo que a autofecundação é p o s s í v e l . B a r r a u (1976) havia mencionada esta possibilidade, sem apresentar uma estimativa da taxa de a u t o f e c u n d a ç ã o . R a g o n e ( 1 9 9 7 ) menciona ainda que inflorescências 'anormais' têm sido observadas com
flores m a s c u l i n a s e f e m i n i n a s , sugerindo a existência de uma certa taxa de hermafroditismo.
A jaca floreceu durante quase todo o ano (Fig. 2B), com menor intensidade no período da safra. Em 1988, houve quatro picos sucessivos de floração (fevereiro, abril/maio, julho, setembro), enquanto houve três
picos em 1989, sendo dois sucessivos (abril/maio, julho) e um separado dos outros, perto do final do ano (outubro/ n o v e m b r o ) . A floração a c o n t e c e u principalmente na época chuvosa e no início da é p o c a de e s t i a g e m , extendendo durante a maior parte da estiagem (1988), embora com menor intensidade; em 1989 houve u m a pausa da floração no final da estiagem (setembro/outubro). No sul da índia, a floração da j a q u e i r a a c o n t e c e de dezembro a maio, com variações que d e p e n d e m das c o n d i ç õ e s a g r o climáticas (Teaotia & Chauhan, 1969).
O b s e r v o u s e q u e as inflorescências femininas foram quase sempre mais numerosas que as masculinas ao longo do ano, variando de 50 a 65% feminina durante os períodos de maior floração (Fig. 2C). Quando teve pouca floração, a proporção feminina aumentou até 100%, como por exemplo em dezembro 1988 e janeiro 1989. Estas proporções contrastam com as da frutapão (Fig. 1C), onde as inflorescências masculinas e femininas variaram em abundância ao longo do ano.
que ocorre na frutapão. Soepadmo (1992) afirma que ainda não se sabe se a jaca é principalmente anemófila (polinizada pelo vento) ou entomófila (por insetos), embora ambos processos
tenham sido comentados. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Frutificação
Na frutapão, o desenvolvimento dos frutos ocorreu quase concomitante à floração (Fig. ID), com o maior pico de janeiro a março, na época chuvosa, e um pico menor de agosto a outubro, no período da estiagem. Durante o maior pico, as árvores chegaram a produzir 30 frutos, e durante o menor, ao redor de 10 frutos. Embora as safras foram p r o n u n c i a d a s , havia a l g u n s frutos nas 12 á r v o r e s na maioria dos meses do ano. Fownes & Raynor (1993) observaram que a maioria das cultivares da frutapão de massa tiveram apenas um pico de produção num regime climática quase sem estações, muito diferente das observações aqui relatadas, embora Rajendran (1992) afirma que a maioria das cultivares da frutapão de massa florecem e frutifícam ao longo do ano. A maturação dos frutos da frutapão levou de 60 a 90 dias após a fecundação, fato isto também relatado por Purseglove (1968). Observouse ainda q u e os frutos foram m a i s atacados por fungos durante a época chuvosa que na época de estiagem.
Na jaca, o desenvolvimento dos frutos t a m b é m o c o r r e u quase concomitante à floração (Fig. 2D), mas a ocorrência dos picos de safra foi menos regular que na frutapão. Em 1988, houve um pico grande no início
do ano (época chuvosa), seguido por um pico na época de estiagem. Em 1989, o pico da época chuvosa foi inexpressiva, e n q u a n t o o pico da época de estiagem foi similar ao do ano anterior. Na í n d i a , a j a c a normalmente produz no início do ano, embora também pode produzir no início do segundo semestre (Teaotia & Chauhan, 1969), embora a relação com a chuva não foi explicada. A jaqueira teve frutos nas árvores du
rante a maioria do meses, com um mínimo no final da época de estiagem e início da época chuvosa (novembro a f e v e r e i r o ) . Ao l o n g o das o b s e r v a ç õ e s , houve uma redução gradual no n ú m e r o de frutos produzidos sugerindo mais uma vez o esgotamento de nutrientes no solo. A maturação dos frutos da jaca levou de 120 a 150 d i a s , c o m o o b s e r v a d a também na índia (Teaotia & Chauhan,
1969).
Mudança Foliar
Tanto na frutapão como na jaca, a mudança foliar ocorreu depois da safra, como na maioria das fruteiras estudadas por Falcão (1993). Supõese que a senescência foliar seja devido à translocação de fotoassimilados e minerais das folhas para os frutos (Browning, 1985).
Vingamento
7 0 0zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ι 6 0 0 zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA _ i 5 0 0
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Figura 1. Fenologia da frutapãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA (Artocarpus altilis) na Amazônia Central de agosto 1987 a junho
7 0 0 η 6 0 0
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I n f l o r . F e r n .
Figura 2. Fenologia da jacazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA (Artocarpus heterophylus) na Amazônia Central de agosto 1987 a
p r i m e i r o s e m e s t r e de 1989, aumentando ligeiramente até o final d a s o b s e r v a ç õ e s (Fig. 3 A ) , com média±d.p. de 76±14% por semestre. Rajendran (1992) relatou que ao redor de 7 5 % das inflorescências femininas vingam, que concorda com nossas observações. Rajendran (1992), no entanto, afirmou que o vingamento é reduzido na época chuvosa, que não ocorreu em 1988, mas ocorreu em 1989. O padrão de vingamento não foi claramente relacionado com a chuva no período das observações; em lugar deste, houve uma redução gradual até meados das observações, seguida por uma recuperação gradual, embora parcial. As razões deste padrão não são claras.
O v i n g a m e n t o d a s inflorescências femininas da j a c a t a m b é m foi alta n o i n í c i o d a s o b s e r v a ç õ e s ( 8 0 % ) , c a i n d o drasticamente no primeiro semestre de
1989 ( 2 0 % ) a n t e s de a u m e n t a r novamente no final das observações, com m é d i a + d . p . de 4 8 ± 2 2 % p o r semestre. O padrão de vingamento da jaca seguiu ao da frutapão, embora o
vingamento tenha sido sempre menor. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Produtividade
A produtividade da frutapão depende do n ú m e r o de flores produzidas, o vingamento, o aborto de frutos antes de sua maturação, o número de frutos que chegam a madurecer e o número de plantas/ha. A proporção de
j-d 88 j-j 89 SEMESTRES
j-d 89 Η 90
Figura 3. Percentagem de vingamento semestral em (A) frutapãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA (Artocarpus altilis) e (B) jaca (Artocarpus heterophylus) na Amazônia Central do segundo semestre de 1987 ao primeiro
frutos caídos antes da maturação ao longo do ano variou de 33 a 39% no período, o que foi similar a proporção observada por Fownes & Raynor (1993) na frutapão de massa na Oceania (média 34%, intervalo 9 a 65%). O número médio de frutos maduros colhidos das árvores foi 48 (Tab. 1), com pouca variação de ano a ano. Este número é muito inferior à produção observada por Fownes & Raynor (1993), de 100 frutos/planta, provavelmente porque os solos de Pohnpei são de origem vulcânico, enquanto os da Amazônia central são pobres em nutrientes. Seguindo Barrau (1976), árvores da frutapão de massa produzem de 50 a 150 frutos na Oceania, cerca 200 frutos na índia, com um máximo registrado de 700 frutos.
Em 1987, a maioria dos frutos maduros foram colhidas em abril e maio, embora havendo alguns frutos disponíveis de maio até dezembro (Fig. 4A). Em 1988, a produção foi mais uniforme ao longo do período de abril a dezembro. Em ambos anos houve pouca produção no primeiro trimestre, quando é o pico da estação chuvosa.
O s frutos da frutapão com sementes pesaram ao redor de 1 kg (Tab. 1), com variação de 700 g a 1,6 kg. Esta variação é muito similar à observada na frutapão de massa na Oceania (0,8 a 1,8 kg; Fownes & Raynor, 1993) e maior que aquela relatado por Barrau (1976: 0,4 a 1,2 kg). As sementes representam ao redor de 40% do peso do fruto fresco, sendo o restante descartado.
Com base nestes dados, estimou
se que estas árvores de frutapão produziram ao redor de 48 kg cada (Tab. 1), perto do mínimo relatado por Massal & Barrau (1954), que foi de 50 a 250 kg/árvore. Vale lembrar que estas árvores estavam num sistema a g r o f l o r e s t a l , de forma q u e a competição com as plantas ao redor poderia ter reduzido esta produção, além da q u a l i d a d e do solo. A produtividade foi 4,8 t/ha (assumindo
100 árvores/ha), muito inferior às estimativas mais comuns (16 a 30 t/ha; Ragone, 1997).
Na jaqueira, a proporção de frutos caídos antes da maturação ao longo do ano variou de 27 a 29% no período. O número médio de frutos maduros colhidos das árvores foi 53 (Tab. 1), com pouca variação de ano a a n o . S o e p a d m o ( 1 9 9 2 ) r e l a t o u estimativas de 100 a 200 frutos por planta na Asia, mas considerou a maioria destas a serem altas, de forma que o número de frutos observados aqui pode ser considerado razoável, e é maior que o número relatado por Morton (1987) no oeste da índia—25 frutos/árvore.
Em maio de 1987, ocorreu um pico de frutos maduros de jaca e houve um r a z o á v e l n ú m e r o de frutos d i s p o n í v e i s m e n s a l m e n t e até d e z e m b r o (Fig. 4 B ) , diferente da distribuição da produção de frutapão. Em 1988, a p r o d u ç ã o a u m e n t o u gradualmente de junho a dezembro. Em a m b o s anos houve p o u c a ou n e n h u m a p r o d u ç ã o no p r i m e i r o trimestre, que é o pico da estação chuvosa.
redor de 9 kg (Tab. 1), com variação de 7 a 11 kg. Esta variação é menor que a relatada por Soepadmo (1992), de 10 a 20 kg. Ε possível que esta diferença seja devido à imaturidade das plantas, pois só estavam no início de sua fase reprodutiva, mas também pode ser devido aos genótipos e aos solos pobres de Manaus. Diferente da frutapão de caroço, a jaca produz polpa em abundância (34%) e apenas
12% de sementes. Similar à frutapão, c a d a fruto p o s s u e um g r a n d e porcentagem de casca e placenta que é descartada (43%).
Com base nestes dados, estimou se que estas jaqueiras produziram ao redor de 475 kg cada (Tab. 1), bem
abaixo das estimativas citadas na literatura mas acima dos dados de Malásia reportados por Soepadmo (1992), de 70 a 100 kg/árvore. Vale lembrar que estas árvores estavam num sistema agroflorestal, de forma que competição com plantas ao redor pode ter reduzido a produção, além destas plantas crescerem em solo de baixa qualidade e ser relativamente juvenis. Esta produção é equivalente a
47,5 t/ha (assumindo 100 árvores/ha), o que é bem maior que o Soepadmo
(1992) considere real. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Insetos Visitantes
D u r a n t e as o b s e r v a ç õ e s , v e r i f i c o u s e que v á r i o s i n s e t o s
Maduros [x] Caídos
t ^ y i Ρ
d j f
1987 & 1988
Figura 4. Fenologia de frutos caídos e maduros na Amazônia Central ao longo de 198788. A.
visitavam tanto as inflorescências da frutapão, como as da jaca. Na época de maior floração foram observadas as s e g u i n t e s e s p é c i e s : a b e l h a s
(Heminoptera: Apidae) zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Melipona seminigra cfr. merrillae (Cockerell),
Apis mellifera cfr. adansonii (Latreille), Plebéia minima (Gribado), Paratrigona impunctata ( D u c k e ) , Trigona sp.; formigas (Heminoptera: F o r m i c i n a e ) Camponotus s p . ; borboletas (Lepidoptera: Nynphalidae: Heliconiinae) Heliconius numata ( C r a m e r ) ; e m o s c a s ( D i p t e r a , Syrphidae) Ornidia obesa (Fabri cius). Ragone (1997) relata a presença de abelhas em inflorescências da fruta pão, embora não seja claro se são polinizadores ou apenas coletores de pólen. S o e p a d m o (1992) relata a presença de moscas e besouros em
i n f l o r e s c ê n c i a s da j a c a , e m b o r a t a m b é m n ã o seja claro se são polinizadores. Como ocorreu com os outros autores, não podemos afirmar que os insetos visitantes dessas árvores
em Manaus são ou não polinizadores. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
CONCLUSÕES
Tanto a frutapão como a jaca apresentam various picos de floração ao longo do ano, com a árvore de frutapão florescendo tanto na época c h u v o s a c o m o na de e s t i a g e m , enquanto que a jaqueira floresce mais na época chuvosa. A proporção de flores estaminadas e pistiladas da frutapão alterna d e f l o r a ç ã o à floração, enquanto que na jaca esta proporção geralmente favorece às flores pistiladas. Os frutos da frutapão estão presentes durante a maioria do
Tabela 1. Componentes dos frutos de frutapão (Artocarpus altilis) e jaca (A. heterophylus)
avaliados em 1984 e 1986, respectivamente, na Amazônia Central e estimativas de produção por planta (dados de 1987 e 1988). Usase somente as sementes de frutapão em Manaus,
enquanto tanto a polpa como as sementes de jaca são usadas. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
F r u t a - p ã o ( n = 3 2 ) J a c a ( n = 1 1 )
C o m p o n e n t e m e d i a± d.p. m ín.-máx. média± d.p. mín.-máx.
p e s o d o s f r u t o s ( k g ) 1.08± 0,02 0 , 7 0 - 1 , 6 0 8,89± 1,23 6 , 7 - 1 1 ,0
p e s o d a s s e m e n t e s ( k g ) 0,45± 0,15 0 , 2 0 - 0 , 8 5 1,1 3± 0,33 0 , 7 + 1 , 6 5
% s e m e n t e s 4 1 ± 1 0 1 3 - 5 8 12 ±2 9 - 1 6
n° d e s e m e n t e s 53± 17 2 8 - 9 6 174± 52 9 7 - 2 5 4
p e s o médio d a s s e m e n t e s ( g ) 8,7± 2,1 2 , 1 - 1 5 , 0 6,6± 0,6 5 , 8 - 7 , 5
p e s o d a p o l p a ( k g ) zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA- - 3,07± 0,78 2 , 0 5 - 4 , 3 0
% p o l p a -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA- 3 4 ±6 0 , 2 5 - 0 , 4 6
% d e s c a r t e 59± 10 4 2 - 8 8 4 3 ±6 4 1 - 6 1
n° frutos/árvores 45± 1 5 3 ± 7
ano, com picos de maior abundância no início da época chuvosa e no final da época de estiagem, enquanto frutas de j a c a são mais a b u n d a n t e s nas árvores durante a época chuvosa. O vingamento de frutos da frutapão é maior que o da jaca. Tanto a frutapão como a jaca apresentaram acentuada caída de frutos entre o vingamento e a maturação, com médias de 36% e 2 8 % por a n o , r e s p e c t i v a m e n t e . E m b o r a o n ú m e r o de frutos produzidos por planta não tenha sido muito diferente, com médias de 53 e 45 por planta, respectivamente, a produção estimada da jaca é maior (475 kg/planta) do que da frutapão (48 kg/planta), porque os frutos da jaca são muito maiores que os da frutapão, com médias de 8,9 kg e 1,1
kg, respectivamente. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Dr. Francisco J. Peralta, Laboratório de Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), pela identificação dos insetos; a Ms. Biatriz Ronchi Teles pela c o r r e ç ã o dos n o m e s científicos dos insetos; a Maria José Printes Silva Rolim, Maria Gracimar P a c h e c o de Araújo e R o z a n a M. Galvão, pela ajuda no laboratório e manejo dos dados; a Dr Marlene F r e i t a s da Silva, p e l a s c r í t i c a s e sugestões sobre o manuscrito.
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Aceito para publicação em 07/03/2001 zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA