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Presença e permanência do ideário da Cidade-Jardim em São Paulo: o bairro do Pacaembu

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Academic year: 2017

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(1)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E

URBANISMO

PRESENÇA E PERMANÊNCIA DO IDEÁRIO DA

CIDADE-JARDIM EM SÃO PAULO: O BAIRRO DO PACAEMBU

Oswaldo Antônio Ferreira Costa

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Candido Malta Campos Neto

(2)

1

C837p Costa, Oswaldo Antonio Ferreira.

Presença e permanência do ideário da Cidade-Jardim em São Paulo: o bairro do Pacaembu. – 2014.

266 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Referências bibliográficas: f. 206-208.

1.Cidade-Jardim. 2.Pacaembu. 3.Urbanização. I. Título.

(3)

2

(4)

3

Agradecimento

(5)

4

RESUMO

(6)

5

ABSTRACT

(7)

6

Sumário

Sumário ... 6

Introdução ... 8

1 Capítulo 1 - O Garden-City Movement e as Primeiras Cidades-Jardim ... 13

1.1 O livro Tomorrow: A Peaceful Path to Real Reform - 1898 ... 13

1.2 Letchworth, a primeira "Garden-City" ... 24

1.3 Welwyn Garden-City - 1920 ... 47

2 Capítulo 2 - A legislação de arruamento e parcelamento em São Paulo até 1934 e os primeiros bairros-jardim da Companhia City ... 65

2.1 Do Código de Posturas de 1875 ao Código Sanitário de 1894 ... 65

2.2 A polêmica em torno dos melhoramentos da área central ... 70

2.3 A criação da Companhia City e suas primeiras iniciativas ... 94

2.4 Os primeiros projetos da Cia City para o Jardim América e o Pacaembu ... 98

3 Capítulo 3 - O Caso do Bairro do Pacaembu ... 122

3.1 Caracterização do local ... 122

3.2 Barry Parker e o Pacaembu ... 128

3.3 O desenvolvimento do projeto de Parker para o Pacaembu por George Dodd, 1919-1920.... ... 134

3.4 O Estádio do Pacaembu... 136

3.5 O desenvolvimento do Pacaembu e do Pacaembuzinho ... 141

4 Capítulo 4 - Dos núcleos comerciais ao tombamento do Pacaembu: 1947 - 1992... 155

4.1 A polêmica em torno do núcleo comercial do Pacaembu ... 155

(8)

7

4.3 Considerações finais sobre o Capítulo 4 ... 200

Considerações Finais ... 201

5 Bibliografia ... 208

6 Tabela de Figuras ... 213

7 Anexos ... 224

7.1 Anexo - AN-1 ... 224

7.2 Anexo - AN-2 ... 233

7.3 Anexo - AN-3 ... 235

7.4 Anexo - AN-4 ... 240

7.5 Anexo - AN-5 ... 241

7.6 Anexo - AN-6 ... 249

7.7 Anexo - AN-7 ... 250

7.8 Anexo - AN-8 ... 253

7.9 Anexo - AN-9 ... 255

7.10 Anexo - AN-10 ... 259

7.11 Anexo - AN-11 ... 260

(9)

8

INTRODUÇÃO

Este trabalho deriva, inicialmente, de pesquisas realizadas na Inglaterra sobre projetos de urbanização planejados, com características próprias que os configuram como bairros-jardim, ou em proporções maiores, como cidades-jardim, no sentido de balizar o estudo de realizações similares no Brasil, objeto da presente Dissertação de Mestrado.

Para entender o significado desta configuração, inicialmente devemos nos reportar ao passado e para fora do Brasil, mais precisamente para o final do século XIX. Naquela época, em muitas partes da Europa era nítida a existência de grandes problemas ligados à insalubridade das condições de vida da maior parte da população urbana, principalmente devido ao fenômeno da superlotação das cidades industrializadas, agravado pela poluição gerada nas indústrias, oficinas e pelas fumaças oriundas da queima de carvão, principalmente para aquecimento das residências. O êxodo rural era crescente e as cidades existentes não possuíam infraestruturas suficientes para acomodar tamanha população com um mínimo de qualidade e dignidade.

O impacto da urbanização acelerada, da congestão dos grandes centros, da insalubridade e do recurso para as soluções mais ou menos improvisadas de sub-habitação mobilizou uma extensa gama de pensadores reformistas e de movimentos de reforma social e urbana.

Um deles adquiriu particular destaque por sua proposta ousada e inovadora para enfrentar os problemas referenciados: em 1898, o inglês Ebenezer Howard, um taquígrafo e reformador social, acreditou ter encontrado a solução para os problemas do crescimento descontrolado das cidades e da migração das pessoas do campo para as mesmas, em busca de moradias dignas e bons empregos com salários compatíveis.

Reuniu suas ideias em um pequeno livro To-morrow: A peaceful path to real reform (ou “Amanhã: Um caminho pacífico para uma reforma real”), catalisando o Garden-City Movement, ou movimento pelas cidades-jardim, o qual ganhou corpo, apoios importantes; e que acabou propiciando a construção de duas cidades-jardim na Inglaterra (Letchworth Garden-City a partir de 1903 e Welwyn Garden-City a partir de 1920).

(10)

9

Enquanto no interior da Inglaterra alguns projetos pertencentes ao Garden-City Movement estavam sendo implantados; no Brasil, em São Paulo, a legislação proibia a aprovação de projetos com muitas das características pertencentes a este movimento; e um exemplo disto, é que a implantação do sistema viário estava sujeita à utilização do sistema ortogonal, com arruamentos em forma de tabuleiro de xadrez, mesmo em locais com topografia desfavorável para esse tipo de ocupação.

Entretanto, desde o início do século XX, articulações e pressões no sentido de readequar a legislação urbanística, de arruamento e parcelamento em São Paulo já estavam em curso e proporcionaram a criação e a atualização das leis ao longo dos anos seguintes, o que acabou por permitir e propiciar a implantação de projetos de urbanização que traziam aportes do urbanismo moderno, como foi o caso dos bairros-jardim parcialmente pautados em princípios enunciados pelo Garden-City Movement. Uma série de importantes protagonistas do debate urbanístico local participaram desse processo, tais como os prefeitos Antônio da Silva Prado (1899-1909), Raimundo Duprat (1910-1913) e Washington Luis (1914-1918), o vereador Augusto Carlos da Silva Teles; o vereador, professor da Escola Politécnica e futuro Prefeito Luiz Ignácio Romeiro de Anhaia Mello; o Diretor de Obras Municipais Vítor da Silva Freire; seu assistente Eugênio Guilhen; o engenheiro-arquiteto Alexandre de Albuquerque; o consultor francês Joseph-Antoine Bouvard, os arquitetos ingleses, ligados ao Garden-City Movement, Raymond Unwin e Barry Parker, o arquiteto Cristiano Stockler das Neves, o engenheiro da Companhia City George Dodd; e outros.

(11)

10

Concomitantemente à criação dos dois loteamentos supracitados (assim como em outros empreendimentos posteriores), a Cia. City estipulou regras próprias de uso e ocupação do solo para os lotes resultantes, gravando-as nas escrituras de venda e compra e no competente Cartório de Registro de Imóveis e, prosseguiu interferindo no desenvolvimento de legislações específicas, visando a manutenção da sua concepção inicial proposta para estes projetos, no tocante ao uso e ocupação do solo, que acabou influenciando substancialmente no desenvolvimento das legislações urbanísticas que se estenderam para o resto da cidade, principalmente, sobre os critérios para a elaboração de um zoneamento abrangente e detalhado para a cidade de São Paulo, em longo percurso que, iniciado nos anos 1930, culminaria na aprovação e complementação da primeira Lei de Zoneamento geral paulistana nos anos 1970.

Visando abordar os temas até aqui mencionados, a presente dissertação transcorrerá em quatro capítulos:

O Capítulo 1 aborda aspectos fundamentais, sobre a permanência e atualidade dos aportes do Garden-City Movement, com ênfase para análise do livro supracitado (To-morrow: A peaceful path to real reform), com destaque para as características físicas de uma hipotética cidade-jardim, complementado pela apresentação de explanações, análises e visitas das primeiras cidades-jardim implantadas na Inglaterra - Letchworth Garden-City, projetada por Raymond Unwin e Barry Parker a partir de 1903; e Welwyn Garden-City, projetada por Louis de Soissons a partir de 1920 - segundo a aplicação de muitos dos princípios estabelecidos por Howard.

O Capítulo 2 resultou de estudos e pesquisas realizados sobre a legislação de arruamento e parcelamento em São Paulo, suas proposições e alterações até 1934; sobre os debates em torno das diferentes propostas para “os melhoramentos de São Paulo” entre 1906 e 1911, os quais propiciaram a consultoria de Bouvard, a intervenção de Vítor Freire e de outros profissionais, técnicos municipais e vereadores, buscando atualizar as referências urbanísticas em São Paulo – o que abriria caminho para a apropriação de elementos do ideário das cidades-jardim - e sobre o atribulado processo de concepção e implantação inicial dos primeiros bairros-jardim da Companhia City, com ênfase para os casos dos loteamentos do Jardim América e do Pacaembu; sendo que o primeiro dependeu de uma revisão parcial das restrições legais a arruamentos não-ortogonais em 1913; e o segundo só se viabilizou após uma completa reformulação da legislação de arruamento e parcelamento em São Paulo, aprovada após intensos debates em 1923.

(12)

11

City George Dodd; suas características principais de concepção e desenho; sua aprovação em 1925, já com a previsão de um estádio no fundo do vale; e como e onde ocorreu a ocupação inicial do bairro.

O Capítulo 4 aborda o período de 1947 a 1992, destacando a polêmica iniciada com a proposição de um núcleo comercial no Pacaembu, de como esse caso ultrapassou os trâmites até então vigentes no tratamento dos bairros residenciais de maior renda – a aplicação dos artigos 39 (restrições de escritura), 40 e 41 do Código de Obras – e desencadeou uma discussão acirrada envolvendo os técnicos e juristas da Prefeitura, a City e os moradores do bairro, sobre os limites e competências dos agentes públicos e privados no que se referia à regulação urbanística; culminando na promulgação da Lei no 4792 em 1955, regulamentando a zona residencial e o núcleo comercial do Pacaembu, a mais completa e detalhada legislação de zoneamento até então aprovada em São Paulo. Continua com a elaboração do PUB – Plano Urbanístico Básico, em 1967-1969; a aprovação do PDDI – Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, em 1971; e a consequente Lei de Zoneamento de 1972, com suas repercussões no que se refere ao Pacaembu e ao Pacaembuzinho (criação da Z1-007 e dos corredores comerciais), as mudanças no perímetro da zona protegida; e finalmente o tombamento do bairro pelo CONDEPHAAT em 1992.

É importante destacar que a presente dissertação foi propiciada pelas constantes pesquisas realizadas por meio de estudos e análises:

 Das obras literárias pertinentes;

 Dos instrumentos reguladores, denominados como Leis, Atos e Decretos, e processos administrativos disponibilizados pelos órgãos públicos que compõem as esferas municipal e estadual de São Paulo, com abrangência entre a Assembléia Legislativa, Câmara de Vereadores, e, principalmente, as secretarias de planejamento, desenvolvimento urbano e habitação;

 Junto à Cia. City, principalmente, na década de 1990, quando eu trabalhava nesta conceituada empresa;

A partir de visitas presenciais:

(13)

12

(14)

13

1

CAPÍTULO 1 - O Garden-City Movement e as Primeiras Cidades-Jardim

1.1

O livro Tomorrow: A Peaceful Path to Real Reform - 1898

No final do século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, os problemas do crescimento urbano acelerado, provocado pela industrialização, com condições de sobrevivência insalubres para a maior parte da população urbana residente, eram objeto de crescentes debates, propostas e iniciativas reformistas. As cidades, principalmente as industrializadas, apesar de não possuírem infraestruturas suficientes e adequadas, atraíam um número excessivo de pessoas que buscavam melhores condições de vida, muitas vezes, provenientes do campo.

Os problemas supracitados, resumidamente definidos como o impacto da urbanização acelerada, da congestão dos grandes centros, da insalubridade e do recurso para as soluções mais ou menos improvisadas de sub-habitação, mobilizou uma extensa gama de pensadores reformistas e de movimentos de reforma social e urbana, entre os quais podemos destacar o inglês Ebenezer Howard, por sua proposta ousada e inovadora para enfrentar tais problemas, divulgada por meio de seu livro To-morrow: A Peaceful Path to Real Reform (que pode ser traduzido como Amanhã: Um Caminho Pacífico para uma Reforma Real), em 1898.

Deve-se ressaltar que, em 1902, a nova edição do livro em referência, To-morrow: A Peaceful Path to Real Reform, foi publicada com um título diferente – Garden-Cities of To-morrow (que pode ser traduzido como Cidades-Jardins de Amanhã). Esta edição foi uma importante fonte de extração de informações para a realização da presente dissertação.1

Primordialmente na introdução deste livro, Howard destaca que "frequentemente, questões religiosas e políticas dividem-nos em campos hostis" 2-"tradução nossa" 3, destacando uma exceção a essa regra, ao se referir sobre a não aceitação, quase unânime, das populações americanas e europeias sobre o êxodo rural que estava ocorrendo, segundo a seguinte afirmação:

1 OSBORN, F. J.. Prefácio em: HOWARD, Ebenezer. Garden Cities of to-Morrow (London, 1902). Reprinted, (London: Faber and Faber, (1946)), p. 9.

(15)

14

"É quase universalmente aceito por homens de todas as partes, não apenas na Inglaterra, mas por toda a Europa,

América e nossas colônias, que é profundamente deplorável que as pessoas continuem a se dirigir para as cidades já

superpovoadas, e continuem portanto a esvaziar os distritos rurais."4

Howard5 definiu que uma "Master Key" (ou "Chave-Mestra") seria a solução para o problema de como reconduzir as pessoas para o campo, segundo a seguinte consideração:

"(...)a chave do portal através do qual, mesmo que apenas entreaberto, parecerá derramar-se um feixe de luz sobre

os males da intemperança, do trabalho excessivo, da ansiedade incessante, da pobreza opressora , isto é, sobre os

verdadeiros limites da interferência governamental, lamentavelmente, e mesmo das relações do homem com o Poder

Supremo." 6

(16)

15

O livro de Howard supracitado não faz referência à ilustração da "Master Key", porém, Miller7 apresenta a reprodução de um "diagrama rascunho" datado de 1892 que não constou de nenhuma publicação feita por Howard, contendo a reprodução da mesma, conforme pode ser observado a seguir:

Figura 1: Diagrama rascunho datado de 1892 - The Master Key. Fonte: MILLER, Mervyn. Letchworth: The First Garden City. Chichester: Phillimore § Co, 2002 (2a ed.), p. 11.

Na sequência introdutória, Howard faz as seguintes considerações:

 Esclareceu que o fenômeno que determinou a migração das pessoas no passado e que continua determinando no presente, dos campos para as cidades, é proporcionado pelos "atrativos" que as cidades estão disponibilizando em relação aos campos, e que o mesmo fenômeno apenas poderá ser revertido, no momento em que o campos proporcionarem "atrativos" maiores que os das cidades; 8

(17)

16

 Previu a possibilidade para "redistribuir a população de uma maneira espontânea e saudável" 9, por meio da consideração que "cada cidade pode ser considerada como um imã, cada pessoa como uma agulha; portanto, desta maneira, nada menos do que a descoberta de um método para construir imãs

com ainda mais poder que nossas cidades atualmente possuem."10

 Considerou que além das duas possibilidades existentes relativas "a vida na cidade e a vida no campo"11, existe uma terceira, que pode ser obtida por meio da junção das "vantagens da vida na cidade mais enérgica e agitada, com toda a beleza e alegria do campo"12, determinando que esta nova

possibilidade será o terceiro imã, capaz de "produzir o efeito para o qual todos nós estamos lutando - o movimento espontâneo das pessoas de nossas cidades lotadas para o seio da nossa terra-mãe, ao mesmo tempo a

fonte de vida, felicidade, riqueza e de poder." 13

 Disciplinou por meio de seu famoso diagrama dos "três imãs" ("Three Magnets", reproduzido a seguir, que "as principais vantagens da Cidade e do Campo são estabelecidas com as suas inconveniências e desvantagens correspondentes, enquanto as vantagens da Cidade - Campo são vistas como sendo livres das

desvantagens de cada um dos prévios componentes." 14

(18)

17

Figura 2: Diagrama 1. Fonte: HOWARD, Ebenezer. Op. cit., p. 46. Tradução nossa do diagrama 1 de Howard: "Os Três Imãs"

"Cidade: -Vantagens - Desvantagens

Afastamento da natureza - Oportunidade social; Isolamento das multidões - Locais de entretenimento;

Distância do trabalho - Salários elevados; Aluguéis e preços altos - Oportunidade de trabalho; Jornada excessiva

de trabalho - Exército de desempregados; Nevoeiros e seca - Drenagem cara; Falta de ar, céu escuro - Ruas

bem iluminadas; Cortiços e bares - Edifícios palacianos;

Campo: -Vantagens - Desvantagens

Falta de vida social - Beleza da natureza; Desemprego - Terra ociosa; Matas-Bosques, campinas, florestas;

Jornada longa, baixos salários - Ar fresco, aluguéis baixos; Falta de drenagem - Abundância de água; Falta de

entretenimento - Luz do sol brilhante; Nenhum espírito público - Necessidade de reforma; Casas superlotadas -

Aldeias desertas;

Cidade-Campo: - Vantagens - Desvantagens

Beleza da natureza - Oportunidade social; Campo e parques de fácil acesso; Aluguéis baixos - Altos salários;

(19)

18

de capital; Ar e água puros - Boa drenagem; Lares e jardins luminosos - Sem fumaça, sem cortiço; Liberdade -

Cooperação" 15

Na sequência, o livro se desenvolve através de treze capítulos, porém, apenas dois (Capítulo 1 – "The Town-Country Magnet" e o Capítulo 12 – "Social Cities") serão melhor enfatizados na presente dissertação, uma vez que descrevem a visão de Howard sobre as características físicas da Garden-City.

 No Capítulo 1 – "The Town-Country Magnet"16 ("O Imã Cidade-Campo") o leitor é convidado a imaginar uma propriedade agrícola com uma área de 6.000 acres (aproximadamente 2.400 hectares), que seria previamente comprada no mercado aberto por quatro personalidades (hipotéticas) influentes, que se comprometeriam a construir uma Cidade-Jardim, segundo os princípios estabelecidos para constituir um "Imã Cidade-Campo". O valor a ser pago nessa área seria obtido através de uma operação financeira, inclusive com a aplicação de juros e definindo a terra como garantia. As rendas fundiárias (lucros), obtidas a partir do aluguel do solo, deveriam ser aplicadas nas infraestruturas urbanas, tais como sistemas viários, escolas, parques, etc...17

O objetivo dessa compra seria a determinação do espaço físico para a criação de uma nova cidade, denominada Garden-City, visando proporcionar:

 Aos empregados: proporcionar a regularidade por meio da oferta constante de trabalho, com aplicação de salários que possam proporcionar um poder aquisitivo superior e garantindo um ambiente saudável para os trabalhadores;18

 Aos fabricantes e empreendedores, cooperativas, arquitetos, engenheiros, construtores e mecânicos de todos os tipos, bem como para muitos envolvidos em várias profissões: a possibilidade de se oferecer um meio de assegurar um novo e melhor emprego para aplicação de seus talentos / habilidades e capital;19

15 Ibid., p. 46. 16 Ibid., p. 50.

17 Ibid., pp. 50-51. "Tn". 18 Ibid., p. 51.

(20)

19

 Aos agricultores presentes na propriedade, bem como para aqueles que podem migrar para lá: a abertura de um novo mercado para os seus produtos perto de suas produções;20

 Aos verdadeiros trabalhadores, independentemente da sua classe: a chance de elevar seu padrão de saúde e conforto por meio da combinação saudável, natural e econômica entre a vida na cidade e no campo.21

Ebenezer Howard determina respectivamente que a parte urbana da Garden-City deveria abranger uma área de 1.000 acres (404 hectares), ou uma sexta parte dos 6.000 acres previamente determinados; a ser construída próxima da região central e podendo ser na forma circular, com uma distância de 1.240 jardas (1.133 m) do centro para a periferia. A área rural, ou zona agrícola seria formada pelos 5.000 acres (2.023 hectares) restantes.22

Novamente através de diagramas, reproduzidos na Figura 3 a seguir, Howard23 descreve a sua hipotética cidade, por meio de seis secções ou divisões, com uma descrição física mais sugestiva que prescritiva. Os aspectos principais sugeridos por Howard para o desenho da cidade seriam os seguintes:

 Presença de seis avenidas ou "Boulevards" - cada um com 120 pés (36,58 m) de largura, atravessando a cidade do centro para a circunferência, dividindo-a em seis partes iguais;24  O centro seria definido por um espaço circular contendo cerca de cinco acres e meio (2,23

hectares), com a finalidade de acomodar um lindo jardim, e, em torno deste, posicionados em seus próprios terrenos amplos, estariam os maiores edifícios públicos - prefeitura, teatro / concerto principal e sala de aula, teatro, biblioteca, museu, foto-galeria e hospital;25

 Entre os prédios públicos, o "Crystal Palace" (ou "Palácio de Cristal") e os "Boulevards" estaria um parque público, denominado "Central Park" (ou "Parque Central"), com 145 acres (58,68 hectares), que incluiria diversos tipos de recreação e proporcionaria fácil acesso para todas as pessoas;26

(21)

20

 Execução perimetral ao longo de todo o "Central Park" (exceto onde este é cortado pelas seis avenidas) de uma grande arcada de vidro chamada de "Crystal Palace", que se abriria para o parque, com as seguintes características: em tempo de chuva seria um dos refúgios favoritos da população e seu revestimento brilhante sempre convidaria as pessoas que estivessem no "Central Park"; bens manufaturados na própria cidade poderiam ser expostos e comercializados; boa parte do mesmo seria utilizado como um jardim de inverno; sua forma circular propiciaria a proximidade entre os moradores da cidade, cravando uma distância máxima de 600 jardas (548,64 m) do morador mais distante; o alinhamento das avenidas seria acompanhado de fileiras de árvores, com destaque para a presença abundante de arborização também nas demais vias da cidade;27-"conversão nossa"

 As quadras acomodariam os lotes e, estes as respectivas casas, fazendo frente para as várias vias públicas, incluindo as avenidas, destacando-se a convergência de todo o sistema para o centro da cidade;28

 Howard estimava que a população desta pequena Garden-City alcançaria cerca de 30.000 habitantes, em seis unidades de vizinhança de 5.000 habitantes cada, na área urbana e cerca de 2.000 habitantes nas propriedades agrícolas, e que haveria na cidade 5.500 lotes para serem edificados com um tamanho médio de 20 pés (6,10 m) por 130 pés (39,62 m), com o espaço mínimo alocado para o propósito de construção de 20 pés (6,10 m) por 100 pés (30,48 m);29  Previa a existência de uma arquitetura muito variada, a ser obtida por meio do projeto das

casas e de seus respectivos agrupamentos, com a presença de alguns jardins comuns e cozinhas cooperadas;30-"conversão nossa"

 Previa ainda o controle sobre as construções das casas e outras edificações pelas autoridades municipais;31

 Além dos boulevards radiais haveria cinco avenidas perimetrais, destacando uma de grande proporção – a "Grand Avenue" (ou "Grande Avenida"), com largura de 420 pés (128 m), formando um cinturão verde com três milhas (4.828 m) de comprimento, que dividiria a parte

(22)

21

da cidade que se encontra fora do "Central Park" em dois cintos, constituindo um parque adicional de 115 acres (46,54 hectares), com a característica de proporcionar uma distância máxima de 240 jardas (219,46 m) do residente mais afastado;32-"conversão nossa"

 Nesta avenida, seis locais segmentados, cada um com quatro acres (1,62 hectares), seriam ocupados por escolas públicas e os seus parques, e jardins circundantes, enquanto os outros locais seriam reservados para acomodação de igrejas;33-"conversão nossa"

 No anel exterior estariam acomodadas as fábricas, armazéns, laticínios, mercados, pátios de carvão, pátios de madeira, etc., e todos esses usos fariam frente para a estrada de ferro que circundaria toda a cidade e que teria ramais de ligação com a linha principal da estrada de ferro que atravessaria toda a propriedade, minimizando o transporte de mercadorias via caminhões dentro da cidade.34

Howard ainda exalta alguns aspectos complementares da sua "Garden-City", com destaque para os seguintes itens: todo o lixo urbano seria utilizado nas partes rurais da propriedade (2.023 hectares); livre comércio para os produtores da nova "Garden-City" com os demais núcleos urbanos; não determinação de monopólio para execução de serviços públicos ou privados; e a presença de várias instituições filantrópicas e de caridade espalhadas pela nova cidade.35

(23)

22

Figura 3: Apresentação dos diagramas 2, 3 e 5 de Howard. Fonte: HOWARD, Ebenezer. Garden Cities of to-morrow (London, 1902. Reprinted, edited with a Preface by F. J. Osborn and an Introductory Essay by Lewis Mumford. (London: Faber and Faber, 1946), pp. 52, 53 e 143.

(24)

23

se viver em uma "Garden-City"? Deveria esta crescer sobre a zona de terrenos agrícolas, e assim, destruir para sempre o seu direito de ser chamada de "Garden-City"?36

Howard prontamente nega tais hipóteses e ressalta que isto seria desastroso, uma vez que provocaria a rápida destruição da "beleza e salubridade da cidade" 37, porém, neste caso, lembra que as terras em torno da cidade (agrícolas) pertencem ao povo, uma vez que "não estão nas mãos de particulares" 38, e reitera sobre a administração das mesmas "deve ser administrada, não para atender os supostos interesses de poucos, mas para os verdadeiros interesses de toda comunidade" 39, e apresenta seu diagrama número 5, reproduzido na Figura 3, enfatizando as seguintes sugestões:

 Criação de uma nova cidade com as mesmas características de uma "Garden-City" toda vez que for atingida a população máxima previamente determinada;40

 Criação de um sistema circular sobre o anel exterior do desenho de interligação entre as novas cidades, por meio de uma estrada de ferro intermunicipal, estipulando um percurso máximo entre cidades mais distantes de 10 milhas (16 km), que poderia ser realizado em 12 minutos. Ressaltando ainda que o percurso entre as novas cidades deveria ser realizado empregando bondes elétricos e veículos nas rodovias;41

 Criação de um sistema de ferrovias pela qual cada cidade seria colocada em comunicação direta com a "Central City", estipulando que a distância de qualquer "Garden-City" àquela que o autor chama de "Central City" seria de apenas três e um quarto de milha (5,23 km); esta distância poderia ser coberta rapidamente em cinco minutos.42

Segundo Ottoni,43 existe uma variante da primeira edição de 1898 do livro de Howard contendo o Diagrama no 7, reproduzido na Figura 4 a seguir, no qual seis "Garden-Cities" de 32.000 habitantes ensejariam a criação de uma "Central City" (ou "Cidade Central") no âmago desse conjunto circular, com 58.000 habitantes sobre uma área de 12.000 acres (4.856 hectares).

36 Ibid., p. 140. 37 Ibid., ibidem. "Tn". 38 Ibid., ibidem. "Tn". 39 Ibid., ibidem. "Tn". 40 Ibid., ibidem. 41 Ibid., ibidem. 42 Ibid., ibidem.

(25)

24

Figura 4: Apresentação do diagrama no 7 de Howard. Fonte: HOWARD, Ebenezer. Op. cit. p. 150. Maria Irene Szmrecsányi, na edição organizada por Dacio Ottoni, observou que "Howard propõe mais do que a harmonia entre homem e natureza. Ele apresenta toda uma política para a manutenção do

equilíbrio social, ameaçado pelas sórdidas condições de urbanização das camadas populares inglesas durante o

século XIX."44

É importante ressaltar que Howard planejou todos os elementos que deveriam compor uma cidade considerada por ele, como ideal, criando uma base de conceitos sobre a proposta de cidade-jardim. Segundo Monteiro de Andrade, "foi provavelmente a que encontrou maior ressonância no urbanismo moderno do século XX, tendo se difundido por inúmeros países e continentes, chegando também ao

Brasil.", proporcionou grande "influência nas paisagens modernas", destacando o "caráter pragmático da proposta, ainda que ancorado na forma comunitária da propriedade e na busca da autossuficiência econômica do

empreendimento."45

1.2

Letchworth, a primeira "Garden-City"

Em primeiro de setembro de 1903 foi oficialmente aberta a empresa inglesa First Garden City Ltd., com o objetivo inicial de desenvolver a primeira "Garden-City", utilizando, primordialmente, os

44 SZMRECSÁNYI, Maria Irene. Introdução - Formação e percurso de uma ideia. In: OTTONI, Dácio Araujo Benedicto (ed.). Cidades-jardins de amanhã.São Paulo: Hucitec, 2002 (2a ed.).

45 ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro. “Barry Parker: Um arquiteto inglês na cidade de São Paulo.”

(26)

25

princípios estabelecidos por Howard (então diretor desta empresa), em uma área previamente adquirida com cerca de 3.822 acres (1.547 hectares)46 de terras agrícolas distribuídas nas três aldeias adjacentes, denominadas como Letchworth, Willian e Norton (o nome Letchworth Garden City foi escolhido, pois a maior parte da cidade pertencia à aldeia de Letchworth), distantes aproximadamente 35 milhas (56 km) de Londres.47

Da área total de 3.822 acres, aproximadamente 1.250 acres foram incluídos no setor urbano da nova cidade e o restante (2.572 acres) constituiu o setor rural (cinturão agrícola). Posteriormente, em várias etapas, foram adquiridas terras adicionais, totalizando em 1949 uma área aproximada de 4.598 acres para a implantação da primeira "Garden-City" - Letchworth, dos quais foram destinados aproximadamente 2.416 acres para compor a zona rural. Para compor a área urbana bruta da cidade foram atribuídos aproximadamente 2.182 acres, segundo a seguinte composição:48

 158 acres para o sistema viário;

 306 acres para espaços abertos (áreas verdes, praças, etc.);

 1.718 acres para desenvolvimento restante da área urbana da cidade, dos quais 1.319 acres foram destinados para acomodação dos terrenos residenciais, e o saldo para a acomodação do setor comercial, industrial e institucional.

Antecedendo a elaboração de qualquer plano, desenho ou projeto, algumas premissas pontuais foram definidas e/ou oficialmente autorizadas; destacando-se a existência da liberação prévia para construção de uma estação ferroviária provisória dentro da nova "Garden-City" e a necessária compatibilização das vias (rodovias) existentes com o novo projeto, uma vez que importantes rodovias cortavam a área adquirida.49

Os primeiros passos dados pela companhia foram os de assegurar que as áreas tivessem suprimento de água e drenagem e preparar o plano mestre. A gestão de Ebenezer Howard não foi continuada na nova companhia, embora não houvesse dúvidas de seu trabalho pioneiro; ele também demonstrou sua inabilidade como administrador. Ele era viciado em escrever relatórios

46 Um acre equivale a 4.047 m2, ou a 0,4047 hectare.

47 PURDOM, Charles Benjamin. The building of satellite towns. J. M. Dent & Sons Ltd., 1949 (2a ed.), p. 54. 48 Ibid., pp. 90-91.

(27)

26

extensos em aspectos que tinha interesse, os quais seus colegas não estavam dispostos a ler e ficou claro que a necessidade de seus serviços em tempo integral havia terminado.50

Bonfato destacou que:

"Ebenezer Howard jamais projetou ou recomendou um desenho urbano ideal para as suas cidades, prevendo, nos

seus diagramas, que o desenho deveria ser adaptado aos diversos tipos de terreno, de modo que cada um dos

planejadores das cidades-jardins estivessem livres para utilizar-se de sua criatividade na formatação final desse

desenho" 51

e reiterou que a preocupação de Howard:

"era a questão da sustentabilidade social das cidades. Pela própria natureza e pela forma extremamente minuciosa

de articulação da cidade, entendia que a cidade - jardim nasceria a partir do sítio não edificado; o que pode nos

conduzir a uma interpretação errônea: entender o conceito de cidade nova como originária do conceito de

cidade-jardim. O contrário mostra ser mais verdadeiro." 52

Por meio de um concurso público foram escolhidos os arquitetos Barry Parker e Raymond Unwin para elaborar o projeto urbanístico e as características da nova cidade, mediante a adoção dos princípios de Howard estabelecidos no livro de sua autoria, To-morrow: A Peaceful Path to Real Reform; almejando que ali se instalaria uma população socialmente mista, cujo plano foi aprovado em 1904 e está reproduzido adiante.53

Quando o plano urbanístico foi adotado, Unwin e seu parceiro, Barry Parker, também se tornaram os consultores em arquitetura para a companhia, e tinham a responsabilidade de desenvolver projetos específicos. Eles tinham uma participação no controle da construção, e na preparação do conjunto de normas regulatórias da mesma, e também na aplicação de seu plano ao desenvolvimento concreto e gradual, da cidade.54

Unwin, porém, dedicou pouco tempo a Letchworth, passando a concentrar esforços na realização de Hampstead Garden Suburb – projeto de novo bairro ao Norte de Londres que partilhava algumas características com o modelo da cidade-jardim, embora adaptadas a um subúrbio de alto padrão inserido numa grande cidade - a partir de 1907; e retirou-se até mesmo da conexão

50 PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 57.

51BONFATO, Antônio Carlos. Ressonâncias do modelo cidade-jardim. São Paulo: Senac, 2008, p. 38. 52Ibid., pp. 38-39.

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27

nominal que ele tinha com Letchworth em 1914, e assim, o trabalho foi continuado por Barry Parker, até sua aposentadoria em 1943 (interrompido nos períodos que esteve em Portugal e no Brasil - São Paulo, entre 1917 e 1919). A companhia, prosseguiu então com seus próprios colaboradores. Barry Parker faleceu em fevereiro de 1947.55

Figura 5: Plano original de Letchworth Garden-City - 1904. Fonte: MILLER, Mervyn. Op. cit., p. 23.

Devido à baixa resolução da Figura 5, anteriormente apresentada e visando um melhor entendimento do planejamento adotado pelos arquitetos responsáveis pela presente urbanização, foi produzida uma ampliação do plano original em referência, com destaques obtidos por meio de símbolos coloridos, sempre correspondentes às respectivas legendas, para fácil identificação da designação formal proposta para ocupação dos locais resultantes no respectivo projeto, conforme pode ser observado na figura a seguir reproduzida:

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28

Figura 6: Ilustração realizada sobre o plano original de Letchworth. Fonte: MILLER, Mervyn. Op. cit., p. 23. Ilustração e grifo nosso.

A leitura das figuras anteriormente reproduzidas, aliada principalmente às considerações constantes na obra de Purdom,56 permite destacar a presença das seguintes características na urbanização da primeira "Garden-City":

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29

 A cidade foi implantada de ambos os lados da estrada de ferro Great Northern Railway, ramal de Cambridge (via de ligação com Londres), que dividia a propriedade na diagonal de sudoeste para nordeste, segmentando-a em duas partes principais, denominadas como norte e sul (deve-se ressaltar que neste caso, a ferrovia dividiu a propriedade, em vez de cercar, como Howard tinha previsto em seu livro);

 Zonas residenciais, previstas para acomodar uma população de 35.000 habitantes, correspondendo a 25 habitantes por acre = 1 habitante por 163 m2 (integradas com comércios e serviços), e industriais foram cuidadosamente separadas;57

 A zona industrial ocupou os dois lados da ferrovia (facilitando a sua utilização), no lado leste da cidade, para que os ventos predominantes levassem a fumaça para longe das habitações; numa posição não visível para a maior parte da cidade;58

 As zonas agrícolas ocuparam a maior parte das áreas adquiridas inicialmente (porém, foram reduzidas nas expansões ocorridas posteriormente) e formaram um grande cinturão verde envoltório sobre a área urbana;

 As áreas institucionais destinadas para a acomodação dos edifícios públicos, em boa parte, foram mantidas próximas da região central urbana.

Em Letchworth, Unwin e Parker deram continuidade à ideia de Horward de "criar unidades de vizinhança com 5.000 habitantes, dotadas de infraestrutura de atendimento diário (lojas, correio, salas

comunitárias, escola, etc.) e programam quatro delas para Letchworth".59

57 PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 110. 58 Ibid., ibidem.

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30

A tipologia adotada para o sistema viário em Letchworth está ilustrada nas figuras seguintes:

Figura 7: Tipologia adotada para o sistema viário em Letchworth - (Avenida) Broadway - North End. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 132. Conversão nossa.

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31

Figura 9: Tipologia adotada para o sistema viário em Letchworth - (Avenida) Leys Avenue. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 132. Conversão nossa.

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32

Figura 11: Tipologia adotada para o sistema viário em Letchworth - (Rua local) Sollershott E. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 132. Conversão nossa.

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33

A cidade de Letchworth apresenta muitas características importantes, mas segundo o pesquisador Purdom:

"A principal característica de Letchworth é o layout aberto das estradas e casas, para que toda a cidade preserve

algumas das características de um parque. Árvores são plantadas em todas as vias, juntamente com os gramados

que as acompanham, exceto nas avenidas mais movimentadas e nas ruas residenciais mais estreitas. As árvores,

arbustos e flores nos jardins sempre dão à cidade uma aparência rural. As árvores de rua acrescentam muito para a

atratividade da cidade e, em geral elas foram bem escolhidas." 60- (Figura 13 e Figura 14)

Figura 13: Registro fotográfico da visita realizada a Letchworth em novembro de 2012. Fonte: Acervo Nosso.

Figura 14: Registro fotográfico da visita realizada a Letchworth em novembro de 2012. Fonte: Acervo Nosso.

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34

Segundo Ottoni, em 1905 foi realizada em Letchworth a "Cheap Cottages Exhibition", na qual "experimentos de arquitetos e construtores e outros interessados foram divulgados." 61

Letchworth se tornou depois dessa exposição um centro para o estudo intensivo para planejamento das "cottages" pelos arquitetos e muitos outros profissionais que, segundo Purdom, "mais tarde ganharam reputação nacional por seus trabalhos como projetistas de casas operárias de baixo custo, e obtiveram sua

experiência, quando jovens, em Letchworth." 62

Para se entender os princípios utilizados na criação da cidade de Letchworth, deve-se recorrer a Raymond Unwin, que delineia, em seu livro Town Planning in Practice,63 conceitos básicos de projetos de loteamentos, arruamentos e cidades, utilizando como exemplos, a própria cidade de Letchworth e os bairros-jardim de Hampstead e Earswick. Neste livro, o autor trata daquilo que considerava boas práticas para o desenvolvimento de cidades e de bairros-jardim, objetivando proporcionar melhorias para a qualidade de vida, principalmente, para os trabalhadores, por meio da aplicação de conceitos pertencentes ao Garden City Movement.

Com relação específica à cidade-jardim de Letchworth e também com relação aos bairros-jardim de Hampstead e Earswick, destacam-se duas partes deste livro que são intimamente correlacionadas à presente dissertação: (1) "Of Site Planning and Residential Roads (Sobre o planejamento do sítio e ruas residenciais)" 64; e (2) "Of Plots and Placing of Buildings (Sobre os lotes e o posicionamento das edificações)".65 No capítulo "Sobre o planejamento do sítio e ruas residenciais", o autor trata da gestão dos custos para construir e gerenciar as ruas que serão abertas nos projetos residenciais, dissertando sobre as variáveis envolvidas na gestão desses custos e sobre a questão de projeto acerca do tamanho das ruas, conforme segue excerto:

"Esta questão do aporcionamento dos custos de construção e de manutenção das ruas e de seu caráter deve ser

investigado e é de se esperar que haja interesse público nestas questões que devem ser levantadas e debatidas pelo

movimento de planejamento de cidades. Esta questão foi endereçada ao Hampstead Garden Suburb Trust de

acordo com os tópicos que haviam sido debatidos - o Trust, então, obteve um Ato do Parlamento que limitava a

construção das ruas com largura máxima de 40 pés e, caso a rua seja feita com mais de 40 pés, o espaço extra

deveria ser dedicado a uma faixa com grama na qual árvores pudessem ser plantadas entre a rua e a calçada.

61 OTTONI, Dácio Araujo Benedicto. “Introdução: Cidade-jardim: Formação e percurso de uma ideia.” In:

HOWARD, Ebenezer. Cidades-jardins de amanhã.São Paulo: Hucitec, 2002 (2a ed.), p. 53. 62 PURDOM, Charles Benjamin. (2a ed.). Op. cit., p. 110.

63 UNWIN, Raymond. "Town Planning in Practice". London: Routledge, 1909. 64 Ibid., pp. 307-313.

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35

Quando este Ato do Parlamento foi fixado, os governos locais fixaram 40 pés como a largura mínima para todas

as ruas, porém também havia emendas que diziam que 50 pés seriam a largura mínima. Uma outra cláusula

também limitava o comprimento máximo das ruas em 500 pés." 66

As duas figuras a seguir ilustram o debate realizado acerca da largura das ruas, tal como Unwin descreveu:

Figura 15: Exemplo de rua com dimensões superiores a 50 pés aplicado em Letchworth. Fonte: UNWIN, Raymond. Op. cit., p. 308.

Figura 16: Exemplo de rua com dimensão de 50 pés aplicado em Letchworth. Fonte: UNWIN, Raymond. Op. cit., p. 308.

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36

No capítulo intitulado "Sobre os lotes e o posicionamento das edificações",67 Unwin trata do posicionamento das residências com face para o sul e para o leste ou oeste com o intuito de aumentar a atratividade dessas casas, uma vez que as fachadas para o sul tenderiam a maximizar a quantidade de luz do sol que a residência recebe durante o inverno e fachadas viradas para o leste ou para o oeste tendem a receber uma quantidade razoável de luz durante a maior parte do ano na Inglaterra.

De acordo com estas observações, portanto, o planejamento das residências poderia ser feito de maneira a maximizar a área frontal virada para o sul e uma boa prática seria deixar os quartos das residências virados para o leste e para o oeste. Sobre isto, as figuras a seguir, ilustram modelos de junções de ruas e posicionamentos de residências irregulares que se encaixam nestas práticas:

Figura 17: Exemplos de planos de edificações para junções de ruas e disposições de casas irregulares aplicados em Letchworth. Fonte: UNWIN, Raymond. Op. cit., p. 343.

Figura 18: Exemplos de planos de edificações para junções de ruas e disposições de casas irregulares aplicados em Letchworth. Fonte: UNWIN, Raymond. Op. cit., p. 343.

Outra prática adotada por Unwin neste capítulo foi agrupar casas no que ele se referia a um "cottage compartilhado" no qual uma edificação daria lugar a duas casas separadas por uma parede,

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37

de maneira a diminuir os espaços que deveriam ser percorridos por pedestres. Esta prática também tinha um caráter estético e Unwin também propôs o agrupamento desses cottages de 2 em 2 ou de 3 em 3.68

A figura abaixo ilustra a questão estética desses agrupamentos e retrata a visão que Unwin tinha do posicionamento dessas residências:

Figura 19:Exemplos de Agrupamentos de cottages compartilhados 3 a 3 segundo a proposta de Unwin para Letchworth. Fonte: UNWIN, Raymond. Op. cit., p. 351.

Segundo Ottoni, "a ideia de jardim e campo permeando a cidade é parte do pensamento Arts § Crafts,69 especialmente enfatizado na cidade por Howard." 70

Para Purdom, Unwin desenvolve "a ideia de jardim e campo permeando a cidade"71 no livro supracitado "Town - Planning in Pratice",72 seguindo também o pensamento de Camillo Sitte (1992)73 quando

68 Ibid., p. 349.

69 Arts and Crafts foi um movimento estético e social inglês, da segunda metade do século XIX, que defendia o artesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa.

70 OTTONI, Dácio Araujo Benedicto. Op. cit., p. 50. 71 PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 71. 72 UNWIN, Raymond. Op. cit.

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38

este examina a estrutura das cidades clássicas e medievais, distinguindo três princípios principais: "a) a informalidade e irregularidade deliberadas de suas construções /residências, b) o agrupamento destas

construções de acordo com os princípios da informalidade que envolvem o reconhecimento das relações entre as

construções /residências; c) o reconhecimento das partes da cidade como unidades." 74

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, foi criada uma enorme demanda por moradia da classe trabalhadora em cidades por toda a Grã Bretanha. Em 1919, o Parlamento aprovou uma ambiciosa Lei de Urbanismo e Habitação, o "Housing & Town Planning Act", que prometia subsídios do governo para ajudar a financiar a construção de 500 mil casas em três anos. Com o enfraquecimento da economia no início de 1920, o financiamento teve que ser cortado, e apenas 213 mil casas foram construídas perante as disposições desta Lei.75

Segundo Ottoni:

"A companhia de Letchworth, em continuidade a seu programa bem organizado de construção de habitações, logo

após a aprovação da lei de 1919, foi uma das primeiras entidades no país a ter um programa de habitações

aprovado. A execução do programa apresentou as melhores construções, maiores do que as casas construídas antes

da guerra."76

Coincidentemente, em 1919 foi criado o distrito urbano de Letchworth, separando-o do distrito rural, que determinou através de um conselho, o planejamento da ampliação da cidade sob a Lei de Urbanismo e Habitação de 1919, conforme parte reproduzida na Figura 20 e, deu continuidade ao acompanhamento das obras em função do manual de orientação e das normas de drenagem e construções formulados após a elaboração do primeiro plano da cidade.77

No tocante às dimensões dos lotes / terrenos, deve-se ressaltar que não existe uniformidade ou mesmo um padrão estabelecido, pois, de maneira geral, os blocos das edificações eram mais importantes. Pode-se dizer que existem muitas residências acomodadas em terrenos com dimensões aproximadas de 7 metros de frente por 28 metros de fundo - também não constituindo um padrão, pois inúmeras dimensões foram utilizadas (maiores e menores).

74 PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 71. "Tn". 75 Ibid, ibidem.

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39

Figura 20: Plano de Lechtworth ampliado conforme a Lei de Urbanismo e Habitação de 1919. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 70.

A Figura 21, a seguir reproduzida, exemplifica claramente a preservação, em 2009, do plano original do trecho de Letchworth, ampliado sob a Lei de Urbanismo e Habitação de 1919, em relação ao acompanhamento das obras em função do manual de orientação e das normas de drenagem e construções anteriormente descritos.

(41)

40

destes princípios foram utilizados na medida do possível, devendo-se destacar, a presença das seguintes características:

 Presença de um grande cinturão verde envoltório em torno da área urbana;

 O projeto está acomodado sobre as curvas de nível, propiciando a acomodação direta sobre o terreno natural, o que facilita o escoamento das águas pluviais e a mínima agressão ao relevo natural; não há presença de taludes;

 Observa-se grande quantidade de árvores delineando o alinhamento das ruas e avenidas e também nos fundos de muitos terrenos / lotes (Figura 22);

Figura 22: Registro fotográfico da visita realizada a Letchworth em janeiro de 2014. Fonte: acervo nosso.  Presença de sistemas de ruas locais de acesso em cul-de-sac, ou seja, ruas sem saída, com

predominância de balão de retorno em sua extremidade (Figura 23);

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41

 Nota-se a determinação da limitação da ocupação dos lotes pelas edificações, de maneira ordenada e segundo os princípios estabelecidos por Unwin em seu livro "Town Planning in Practice" (Figura 24);78

Figura 24: Registro fotográfico da visita realizada a Letchworth em janeiro de 2014. Fonte: acervo nosso.  A maioria dos terrenos / lotes é destinada para implantação de residências para os

trabalhadores locais, em forma de blocos, nos quais os recuos frontal e de fundo quase sempre são respeitados, ou melhor, sempre acomodam jardins, porém, os recuos laterais são liberados e a presença de construções nos mesmos é notada com frequência (edificações geminadas);

 Presença de jardins posicionados junto aos terrenos / lotes de maneira anexa, formando espaços intermediários, muitas vezes no interior das quadras, que podem ser privados, públicos, ou mesmo, semipúblicos, podendo estar ocupados por um equipamento urbano, como um playground;

 O sistema viário foi planejado através de uma hierarquização, entre vias locais, de distribuição e de interligação externa, contrapondo-se ao sistema cartesiano ortogonal tradicional, uma vez que, na maior parte, é composto por vias sinuosas.

Purdom destacou que em 1924 foi realizada a peça gráfica denominada como mapa oficial, mostrando o estado de desenvolvimento de Letchworth Garden-City até então, observando que o

(43)

42

cinturão agrícola foi devidamente reformulado, para se adequar às necessidades daquela época, e destacando em escala conveniente a situação das áreas comerciais e industriais.

Figura 25: O LetchworthTown-Plan, mostrando o desenvolvimento até 1924, com destaque para a presença do cinturão verde envoltório das demais zonas (residencial, comercial e industrial). Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 143.

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43

habitantes. 79 Na visita que realizei em janeiro de 2014, o Centro de Informações local revelou que em 2011 (último censo realizado) a população local foi estimada em 33.249 habitantes, vivendo em 13.990 residências (2,38 hab./residência).

Figura 26: Situação da zona comercial em 1924. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Ibid., p. 105.

Figura 27: Situação da zona industrial em 1924. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Fonte: Ibid., p. 112.

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44

Segundo Miller, em 1946 a empresa First Garden City Ltd. apresentou o plano de expansão para Letchworth, ilustrado na Figura 28, a seguir reproduzida, com previsão de ampliação da área urbana nas partes destacadas em vermelho (norte e sudeste), juntamente com um cinturão industrial ligando Letchworth à cidade vizinha de Baldock.

(46)

45

que os planos originais, com algumas exceções (por exemplo: a diminuição acentuada do cinturão verde primitivo), foram implantados de acordo com os planejamentos primitivos, conforme pode ser constatado nas imagens aéreas de 2009, disponibilizadas pelo Google Earth, reproduzidas nas figuras a seguir:

Figura 29: Vista aérea de Letchworth - 2009. Fonte: Disponível em: <https://maps.google.com>. Acesso em: contínuo em 2013.

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46

Figura 31: Vista aérea do setor comercial de Letchworth - 2009. Fonte: Disponível em: <https://maps.google.com>. Acesso em: contínuo em 2013.

(48)

47

Em Letchworth se buscou "acentuar a ideia de convívio com a natureza, propiciando um ambiente agradável e acolhedor",80 por meio da introdução de elementos projetuais que determinaram "o desenho informal das ruas; as casas formando blocos isolados entre si, recuadas do alinhamento do terreno com jardins fronteiriços; os

passeios com grama, arbustos e árvores; assim como o sistema de ruas secundárias em ‘cul-de-sac’." 81

1.3

Welwyn Garden-City - 1920

O pesquisador Purdom recapitula os acontecimentos do primeiro pós-guerra na Inglaterra: "Depois da Primeira Guerra, quando muito se falou da reconstrução necessária e visões de um mundo melhor que,

na época, estavam na mente dos cidadãos, a questão da habitação foi uma das primeiras a ser tratada. Havia uma

grande, até mesmo esmagadora, falta de casas em todo o país, e ao mesmo tempo, um forte desejo de melhorar as

condições nas quais uma grande massa de pessoas estava vivendo. A pressão sobre o governo e os municípios

tornou-se intensa e o Housing Act que foi celebrado em 1919 foi o resultado de uma intenção de fazer algo grande a quatornou-se

qualquer sacrifício. O país estava pronto para qualquer esquema que poderia permitir o enfrentamento do problema

de uma maneira ampla, generosa e minuciosa."82

Contudo, a proposta da Lei de Urbanismo e Habitação inglesa de 1919, proporcionou a construção de muitas casas, porém, não foi suficiente para atender à demanda. Segundo Purdom,

"era praticamente a pior legislação que poderia ter sido concebida sob a ótica das cidades-jardim. O grande desejo

dos responsáveis por essa legislação era conseguir o maior número de casas construídas no menor tempo possível em

lugares nos quais a demanda era mais urgente." 83

Purdom recapitula que,

"Embora os programas de habitação muitas vezes eram orgulhosamente descritos como "cidades-jardim", as lições

de Letchworth foram ignoradas, exceto algumas medidas relacionadas ao planejamento das casas e dos terrenos; e as

conquistas da cidade-jardim em trazer a cidade e o campo em conjunto, e na prestação de um regime abrangente de

desenvolvimento de uma base econômica em melhores valores da terra para financiamento habitacional foram

tratados como se fossem desconhecidos."84

Já no final da guerra, segundo Ottoni, Howard havia iniciado o processo de criação da segunda "Garden-City":

80 OTTONI, Dácio Araujo Benedicto. Op. cit., p. 55. 81 Ibid., ibidem.

82 PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 181. "Tn". 83 Ibid, ibidem. "Tn".

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48

"Na impossibilidade de se desenvolver uma política urbana abrangente e de âmbito nacional, Howard convenceu-se

de que era mais do que oportuno o início da construção de uma segunda cidade-jardim. Descobre, a quinze

quilômetros de Letchworth, propriedade rural à venda e de conformação propícia. Obtém de amigos a soma para

iniciar a transação; mesmo sendo a quantia da ordem de dez por cento do valor do depósito requerido, desenvolve o

negócio. Uma enorme vontade transformada em incrível ousadia. São 1.548 acres (590 hectares) insuficientes para

o empreendimento. Demoradas negociações junto a proprietários vizinhos, Lorde Desborough (230 acres - 93

hectares) e Lorde Salisbury (689 acres - 278 hectares) são desenvolvidas. Finalmente com a concordância de venda

por Lorde Salisbury, Howard forma a "Welwyn Garden City Ltd" em 1920 com capital autorizado de 250.000

libras. Deste foram subscritos somente 90.000 libras por causa da recessão do primeiro pós-guerra; para desenvolver

a construção da cidade, como em Letchworth, foram necessários empréstimos bancários e hipotecários. As mesmas

dificuldades de Lecthworth e um crescimento inevitavelmente lento.

(...) área total inicial de 2.378 acres (962 hectares) e 1.298 acres (525 hectares) de área urbana."85

Portanto, mais uma vez seria criada uma cidade-jardim utilizando-se, primordialmente, os princípios estabelecidos por Howard em seu livro. Segundo Purdom, mesmo antes desta empresa ser formada, foi emitido um anúncio preliminar, em setembro de 1919, intitulado "Uma cidade-satélite para Londres" 86, no qual constavam muitas das características da nova e pretendida cidade, assim descritas:

"O objetivo da empresa será a construção de uma cidade industrial totalmente nova e autônoma, em um local a 21

milhas de Londres, como uma ilustração da maneira correta de prover a expansão das indústrias e da população de

uma grande cidade. (...) O local foi cuidadosamente escolhido de modo a minimizar os obstáculos no caminho de dar um novo rumo ao desenvolvimento da Grande Londres. (...) é urgentemente necessário que uma demonstração convincente do princípio do desenvolvimento da cidade a partir do modelo de cidade-jardim seja dada a tempo de

influenciar o programa nacional de habitação, que está em perigo de se estabelecer definitivamente em linhas erradas.

A menos que algo seja feito para popularizar um método mais científico de lidar com a questão, uma proporção

muito grande de casas a serem construídas pelo Programa Nacional será adicionado às existentes cidades grandes -

cujo crescimento já é reconhecido como excessivo. (...) Fábricas e oficinas saudáveis e bem equipadas serão agrupadas em relação científica para os meios de transportes e serão facilmente acessíveis a partir das novas casas dos

trabalhadores. (...) Uma população de 40 a 50 mil pessoas será servida, os esforços estão sendo feitos para suprir todas as suas necessidades sociais, recreativas e cívicas. O objetivo é a criação de uma cidade autônoma, com vida

própria, independente de Londres.

De acordo com estes princípios, a propriedade plena do imóvel será retida como propriedade desta nova empresa (...) passando confiança para o futuro da comunidade. A preservação da beleza do bairro e a garantia da harmonia

(50)

49

arquitetônica nos novos edifícios estará entre as primeiras considerações da empresa. A densidade máxima de

construção será de doze casas por acre (12 casas por 4.047m2).

Locais de fábrica, com boas estradas e ramais de acesso serão fornecidos, com preços de aluguéis moderadamente

acessíveis (...) A maior parte da propriedade é agora explorada, com culturas aráveis predominantes. A vinda de uma grande nova população vai criar uma grande demanda por produzir e aumentar muito o valor das fazendas e o

número de trabalhadores no cinturão agrícola. Serão fornecidas pequenas propriedades para os veteranos de guerra,

grupos de cooperativas e outros. (...) Todo lucro acima do dividendo máximo [7 %] será aplicado em benefício da cidade. E pretende-se que, no devido tempo, toda a propriedade deva ser assumida pelos representantes da nova

comunidade, sujeitas a uma cláusula justa para os direitos daqueles que subscreveram o capital da empresa.

Depois de um estudo sobre o terreno, os promotores da obra estavam prontos e no dia 19 de abril de 1920, Welwyn

Garden City Limited foi formada com um capital de £250.000."87

Seguindo as premissas pré-estabelecidas, a partir de 1920 foi implantada Welwyn Garden-City mediante o plano realizado pelo arquiteto Louis de Soissons, ilustrado na Figura 33, reproduzida a seguir:

(51)

50

Figura 33: Plano de Welwyn Garden-City. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Op. Cit., p. 230.

(52)

51

projeto urbanístico implantado, confirmando a presença dos pontos principais destacados na Figura 34, a seguir reproduzida:

Figura 34: Detalhes do plano original de Welwyn Garden City. Fonte: Disponível em: http://www.uiweb. uidaho.edu/class/larc389/newTown_files/ Welwyn/Welwyn.htm. Acesso contínuo em 2013.

(53)

52

A tipologia adotada para o sistema viário em Welwyn está ilustrada nas figuras seguintes:

Figura 35: Tipologia de rua "Parkway" adotada em Welwyn. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. PURDOM, Charles Benjamin. Op. cit., p. 296. Conversão nossa.

(54)

53

Figura 37: Tipologia de rua tipo 2 residencial adotada em Welwyn. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Fonte: Ibid., p. 298. Conversão nossa.

(55)

54

Figura 39: Planta viária de Welwyn Garden-City. Fonte: Welwyn Garden City Official Guide. Pyramid Press Ltd., 1950. <http://cashewnut.me.uk/WGCbooks/web-WGC-books-1950-2.php>. Acesso contínuo em 2013. Ao contrapor os elementos observados aos princípios de Howard expostos em seu livro, ficou evidenciado que muitos destes princípios foram utilizados na medida do possível, devendo-se destacar, além da presença dos aspectos detalhados apresentados no tocante às figuras anteriormente reproduzidas, a incrementação dos mesmos pela explanação de Ottoni, "A propriedade foi prevista para 40.000 habitantes com possibilidade de aumento para 50.000; área total inicial de

2.378 acres (962 hectares) e 1.298 acres (525 hectares) de área urbana." 88

A propriedade é cortada em duas partes, no sentido norte-sul, pela ferrovia que liga Londres ao norte do país. Esta estrada se ramifica no meio da área, no sentido leste-oeste com destino a Hertford e Luton. O plano da cidade elaborado pelo arquiteto Louis de Soissons previu esquema de circulação radial, cruzando a linha principal da ferrovia em duas pontes, interligando assim o setor industrial a leste da ferrovia com as residências a leste e oeste. Parte deste anel, a oeste, é constituído pela via principal da cidade, a "Parkway" (200 pés - 61 metros), paralela à ferrovia, formando um boulevard com área verde, ornada por renques de árvores, arbustos e canteiros de rosas, cruzando a cidade e terminando ao norte no semicírculo do centro cívico urbano.

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Perpendicular à "Parkway" temos "Howardgate", outro boulevard mais curto, com a mesma largura da "Parkway"; este liga-se à estação ferroviária de Welwyn. Entre "Howardgate", o Centro Cívico, a "Parkway" e a estação, localiza-se o centro comercial da cidade.

Welwyn foi projetada através de vários tipos de agrupamentos de desenvolvimento residencial; e com a presença elevada de sistemas de ruas locais de acesso em 'cul-de-sac' (quatro tipos predominantes), ou seja, ruas sem saída, com predominância de balão de retorno em sua extremidade, conforme ilustrações disponibilizadas por Purdom, a seguir reproduzidas:

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Figura 41: Welwyn Garden-City - Culs-de-sac. Fonte: PURDOM, Charles Benjamin. Ibid., p. 239.

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Ilustração do desenvolvimento residencial:

Figura 42: Residências - Layout das construções em progresso (1921)- esquema. Fonte: Ibid., p. 242.

Referências

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