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Os demônios do gozo: uma contribuição para a psicanálise da esquizofrenia.

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Academic year: 2017

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RES UMO: Relato da análise de um sujeito psicótico. O lugar conferi-do à analista pela transferência perm itiu-lhe ser testem unha de um doloroso processo de derrocada subjetiva que, no entanto, sem pre coexistiu com um a tentativa de cura e reconstrução que tinha algo de heróico. Ao perceber o progressivo abandono por parte da institui-ção, o paciente passou a construir um a seqüência de m onstros em contraponto às suas vivências no hospital psiquiátrico. Os dem ônios têm um a vertente sim bólica, são nom es para o gozo. Possibilitam tam bém um a reconstrução do im aginário, na m edida em que efe-tuam algum a separação entre o eu e o outro. A construção dos dem ô-nios constitui um trabalho com o real, um esforço para barrar o gozo do Outro que am eaça dissolver a estrutura do sujeito. Assim , ao m e-nos durante certo período, foi possível estabelecer e m anter algum a distância entre o cam po do sujeito e o cam po do Outro, efetuando-se um a recom posição, em bora fugaz, do nó pelo qual o sujeito se sus-tentava na existência.

Palavras - c h ave : Psicanálise, sujeito, psicose.

ABSTRACT: The dem ons of jouissance: a aontribution to the psycho-analysis of schizophrenia. This paper reports on the psycho-analysis of a psy-chotic subject. Transference enabled the analyst to w itness a painful subjective debacle process w hich, however, ran in parallel w ith a he-roic attem pt at cure and reconstruction. As the subject perceived that the institution w as letting him dow n, a w hole series of m onsters began to be constructed as related to his psychiatric hospital experi-ence. The dem ons have a sym bolic dim ension and are in fact w ays of nam ing jouissance. They also perm it a reconstruction of the im agi-nary, inasm uch as they effect a separation of the subject from the other. Dem on construction constitutes a w ay of working w ith the real, an effort to deter the Other’s jouissance w hich threatens to break up the subject’s structure. Thus, at least for som e tim e, the subject was capable of establishing and m aintaining som e distance between him self and the other and of reconstructing, though briefly, the knot on w hich his existence w as sustained.

Ke yw o rds : Psychoanalysis, subject, psychosis.

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O m undo jam ais é inum ano porque é com posto pelo hom em .

LACAN, 1 9 5 5 -1 9 5 6

O

sujeito constitui a dim ensão específica em que a psicanálise opera. O cam po do sujeito é coextensivo à psicanálise. Reconhecer no psicótico um sujeito é, portanto, condição essencial para abordá-lo pela psicanálise. Inversam ente, não ceder diante da psicose faz o analista avançar em sua concepção acerca do sujeito: “a psicose é um a questão de sujeito porque nos conduz aos confins de sua produ-ção” ( MILLER, 1987, p.181) . O caso que apresento a seguir1 vem ao encontro des-ta afirm ação.

Fabrício procurou um a psicoterapia após ter passado m eses internado em um hospital psiquiátrico. O m otivo foi sua agressividade, depois dirigida à esposa, a quem dizia am ar m uito. Sentia um a ira que não controlava.

Contou-m e então que seu prim eiro surto ocorrera há dez anos. No dia em que conhecera a esposa e a convidara para ir até sua casa. Assim que ela saiu, sua m ãe lhe disse que ela não servia para ele.

Com eçaram a nam orar. No período que antecedeu o casam ento, sua m ãe lhe telefonava todos os dias, dizendo: “não deixe que ela tire você de m im ”. Seis m eses depois de casado, Fabrício teve o prim eiro surto, caracterizado por episódios de violência em seu local de trabalho. Depois, perdeu a consciência, não se lem brava de m ais nada. Sua esposa telefonou para a m ãe dele para com unicar-lhe o que estava ocorrendo e ela lhe respondeu: “eu dei m eu filho para você bom , só quero recebê-lo de volta bom ”.

Esse sujeito era o objeto exclusivo e absoluto da m ãe. Fabrício sofria de um a triangulação im possível. Mais tarde, ele m e diria que o surto “já estava escrito”.

A situação desencadeadora da psicose seria o encontro com Um -pai:

“Que se procure no início da psicose essa conjuntura dram ática. Quer ela se apresen-te, para a m ulher que acaba de dar à luz, na figura de seu m arido, para a penitente que confessa seu erro, na pessoa de seu confessor, para a m ocinha enam orada, no encon-tro com o ‘pai do rapaz’, sem pre a encontram os, e a encontrarem os com m ais

facili-dade ao nos guiarm os pelas ‘situações’ no sentido rom anesco desse term o.” ( LACAN, 1957-1958/ 1966, p. 578)

1 Segue-se um dos dois casos clínicos que foram construídos para m inha tese de doutorado,

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O prim eiro surto foi um a catástrofe subjetiva, da qual Fabrício não se recupe-rou. Passou a viver, durante nove anos, com o que internado em casa, a esposa assum indo o lugar que antes a m ãe ocupava. Fabrício, cujo parco conhecim ento de psicanálise era aguçado por seu rigor de psicótico, sabia que tinha feito um a transferência da m ãe para a esposa.

Em 1996, teve o segundo surto, caracterizado por cenas de violência contra a esposa, e passou dez m eses internado. Sabia do que fez através dela, pois não se lem brava de nada.

Já na segunda entrevista, Fabrício disse que eu o irritava. Meu silêncio lem brava-lhe sua m ãe, que ficava calada quando queria irritá-lo; m eu jeito de falar tam bém .

Na terceira entrevista, chegou pedindo um outro terapeuta. Não estava gostan-do gostan-do m eu silêncio. Respondi que seu pedigostan-do poderia ser atendigostan-do, m as propus que ele viesse na sessão seguinte.

Para este sujeito psicótico, a “irritação” é o significante da transferência ( LACAN, 1967) . No entanto, não se verifica a suposição de saber à analista, no sentido que a m esm a assum e na psicanálise de neuróticos. Isto é, neste caso, a suposição de saber não diz respeito aos significantes da cadeia inconsciente, m as seria um a su-posição de saber fazer com o gozo. O pedido à analista, que Fabrício reiterava nesse m om ento, era controlar a ira dirigida à esposa, que estaria corroendo o pon-to de sustentação de sua existência.

Com a em ergência desse significante, Fabrício entrou no trabalho analítico. A irritação era a resposta que ele em itia a partir de um a posição de objeto. Esse foi o m om ento em que ele m e incluiu na transferência, constituindo um a série psí-quica: a m ãe → a esposa a analista. Quando escutei seu pedido, fazendo intervir

o desejo do analista, reconheci nele um sujeito. A partir daí, dissolveu-se a transfe-rência negativa cuja intensidade am eaçava inviabilizar o trabalho. Consegui assim preservar a análise de sua agressividade.

O significante do laço que ele então estabeleceu com igo foi “nossas conversas” ou, com m enos freqüência, “nossa terapia”. Significante preciso, em que cada ter-m o, o laço e a fala, têter-m uter-m valor. Mester-m o nos ter-m oter-m entos ter-m ais graves e pungentes da análise que então se iniciou, Fabrício nunca deixará de afirm ar que “nossas conversas” o estão ajudando a se conhecer, a controlar sua ira.

Quando decidiu perm anecer no tratam ento, Fabrício passou a trazer elem en-tos de sua história. Esta parecia ter sido alvo, não de um a contínua ressignificação com o ocorre na neurose, m as de um a verdadeira rem odelação, que se pusera em m ovim ento a partir da eclosão da psicose.

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ora com hom em , ora com m ulher) . Em três anos, chegou a sair com cem ou du-zentas m eninas, quase todas virgens. Ao pensar nisso ficava triste, pois quando estava “localizado na razão” não fazia nada disso.

Quando se afastava da m ãe, ocorriam as ausências, os lapsos de m em ória, que preenchia com essas construções em que os produtos da atividade im aginativa se m esclam a idéias delirantes, as quais, com o sabem os, se apóiam em fragm entos da história ( FREUD, 1937/ 1980) .

Na esquizofrenia não ocorre a sim bolização da ausência da m ãe tal com o se dá na paranóia. A m ãe funcionou para Fabrício com o bengala im aginária. Quando ela não estava presente, ele se perdia. Após a ruptura dessa sustentação, ele passou a fabular suas ausências. Atualm ente acontecia algo análogo: sua esposa não podia deixá-lo sozinho, pois aí ele corria o risco de sair errando, sem destino. Confes-sou-m e que fazia “o possível para parecer localizado, m as é perdidinho”.

Nessas passagens, Fabrício apresentava sua errância de psicótico. As duzentas virgens traduzem a invasão de um gozo infinito, sem o basta do Nom e-do-Pai.

Um m ês depois do início do tratam ento am bulatorial, Fabrício foi internado, devido à intensificação da violência dirigida contra a esposa. No decorrer da aná-lise pude confirm ar m inha hipótese quanto ao m otivo dessa internação, assim com o da anterior: a relação teria se desestabilizado porque a esposa, cansada de sua função de enferm eira, o estaria deixando cair.

A esposa era para ele a única referência. Só contava com ela no m undo, ela era seu ponto de apoio na vida. Para m e m ostrar com o era assim , pôs um dedo sob a m ão estendida. A m ão, explicou-m e, era com o se fosse seu m undo e o dedo que a sustentava, sua esposa.

Lacan com para o m undo de um sujeito a um tam borete cujos pés são os signi-ficantes fundam entais. “Nem todos os tam boretes têm quatro pés. Há os que ficam em pé com três. Mas então, não pode faltar m ais nenhum , se não a coisa vai m al” ( LACAN, 1955-1956, p. 228) . O m undo de Fabrício se sustentava num tam borete de um pé só.

Na esquizofrenia, a representação do sujeito pelo significante está com prom e-tida. Fabrício se sustenta pelas bengalas im aginárias. Sua im agem é precisa e rigo-rosa: o que sustenta seu m undo é, não a arm ação significante, m as sim a bengala im aginária que a esposa representa para ele ou, antes dela, sua m ãe representara.

Nessa m edida, a instituição vem ocupar o lugar do qual a esposa se retirava, form ando-se assim a série: a m ãe → a esposa a instituição. Eu fiquei fora dessa

série, pois a ira de Fabrício foi dirigida a outros elem entos da instituição. Foi as-sim possível preservar m eu lugar de analista.

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em que sua m ãe fora estuprada pelo pai, de quem estava separada na época da gravidez. Seu pai queria que ele nascesse, sua m ãe não. Aí, com o sem pre, prevale-ceu a vontade da m ãe. Ao questionar essa revelação estarrecedora, verifiquei que não se tratava de um lapso, m as de um a constatação lúcida.

Para o sujeito, naître equivale a n’être, nascer é não ser ( LACAN, 1961-1962; OGILVIE, 1988) . Nesse sentido, Fabrício não nascera. Com o rigor que caracteriza sua condição de psicótico cujo corpo é palco do gozo do Outro, ele m e falou desse im passe em sua constituição com o sujeito.

Contou um episódio ocorrido quando tinha dois anos e m eio: olhara para sua m ãe e vira um olhar de ódio. Depois disso, nunca m ais fora o m esm o. Diz Lacan: “não é fácil dizer o que é um olhar. É algo que pode m uito bem sustentar um a existência ou devastá-la” ( LACAN, 1968-1969, 26/ 3/ 69) .

Na enferm aria, as crises de Fabrício consistiam em se arrem essar violentam en-te contra a porta de saída, golpeando-a com a m ão e com a cabeça. Esses episódios eram acom panhados de perda de consciência. Só voltava a si quando estava sendo m edicado. Mas lem brava-se de sentir um a ira fortíssim a, que o deixava cego. Tentei interpelá-lo, m as ele insistiu: “é com o lodo, não entra luz nenhum a”.

Quando falta o vetor do desejo, quando não há a inscrição do vazio, o sujeito oscila entre a abulia e a passagem ao ato. Era esse o caso de Fabrício.

As am nésias são furos na cadeia significante. Nesse distúrbio m aciço da m e-m ória, vee-m os a desarticulação do sie-m bólico. A ira é ue-m noe-m e para o gozo do Outro que nesses m om entos invade o sujeito.

Fabrício tentou controlar o im pulso agressivo m ediante “um esforço m onu-m ental”; quando não o conseguia, inseria significantes no lodo da vivência, eonu-m busca de um a elaboração.

Dessa época, alguns episódios são com preensíveis. Era com um , por exem plo, que ele tivesse um a crise após um a visita da esposa, que sem pre lhe dizia algo rejeitador. Pude tam bém observar que suas am eaças ou ataques concretos, fora da crise, a m édicos ou a outros pacientes, sem pre tiveram algum fundam ento.

Foi durante esse período que ele com eçou a falar das vozes que escutava conti-nuam ente. Revelou que agora estava prestando m ais atenção a elas, pois ele pró-prio tinha quem o escutasse. A constituição do lugar do analista possibilita ao sujeito encontrar significantes para o gozo. As vozes eram acom panhadas de des-cargas elétricas que iam de um a orelha para outra. Às vezes conseguia entendê-las, às vezes não. Quando as entendia, elas diziam : “ataque!”, “destrua!”. E aí conse-guia se opor. Quando não as entendia, era m ais perigoso.

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Fabrício foi piorando, o que atribuí a um a série de razões. Entre elas, ao desen-volvim ento de idéias delirantes de perseguição em relação a seu psiquiatra. Logo após um exam e m édico, que sentira com o extrem am ente invasivo, ele m e falou de sua atração sexual pelo psiquiatra; em seguida, este se deslocou de um a série pater-na, m ais acolhedora, para a série m aterpater-na, e a perseguição se desencadeou. Além disso, Fabrício estava percebendo com m aior clareza o abandono por parte da esposa. Não falava claram ente sobre isso, m as o m anifestava de algum as m aneiras. Passou a não reconhecê-la e cham á-la de “doutora da roupa”, com referência a um a das funções que ela ainda desem penhava em seu cotidiano. Vi nisso tam bém um a m aneira de barrar sua agressão dirigida a ela.

Se antes ele falava sobre o gozo, agora este passava a se presentificar em sua fala, interrom pendo-a. O gozo se apresenta sobretudo com o um riso do tipo que os psiquiatras cham am de im otivado.

Com eçou a falar em suicídio com o solução para sua vida. Disse tentar o suicí-dio desde criança. Bebia detergente, água sanitária... Divertia-se com a cara dos médicos, que olhavam para ele preocupados, perguntando por que teria feito aquilo. Gostava tam bém de botar fogo no colchão. Essas narrativas eram interrom pidas por risos desproporcionais.

Em termos do nó borromeano, essa é mais uma evidência da ruptura dos registros, ficando solto o elo do real — o que se manifesta também nos arremessos contra a porta da enfermaria. Fabrício tentava restaurar a articulação dos registros mediante uma reconstrução retrospectiva de sua história. Tipicam ente, projetava no passado elem entos do presente, visando a estabelecer um a continuidade tem poral.

Quando voltei de férias, ele custou a se lem brar de m im . Reafirm ei a convicção de que de algum a form a ele se lem brava. Dias depois, declarou: “Você vem conver-sar com igo. Isso quer dizer que não estou abandonado.”

Surgiu um a nova fantasia gozosa: queria m atar gatinhos e pom binhos, dar-lhes com ida para que voltassem a viver, e depois m atá-los de novo... Queria ver sangue. Queria sorvete de gatinho, sorvete de pom binho... Sem pre ria quando fa-lava disso. “Se o seu sangue cair na terra, será que podem nascer bichinhos?”

A concepção de que o sangue poderia fecundar a terra, para esse sujeito, parece advir com o efeito da foraclusão do Nom e-do-Pai e da conseqüente carência fálica. O falo localiza o sujeito na partilha dos sexos com o hom em ou m ulher. O sangue não traz a m arca dessa diferenciação. Nascido de um estupro, que derram a sangue, Fabrício seria então fruto do sangue, e não do sêm en.

Quando, ao se separar da m ãe, ele criou cenas em que estuprava virgens, estaria efetuando um a identificação im aginária com seu pai?

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Um dia, já decorridos seis m eses de internação, encontrei-o assustado. Con-tou-m e que viera um auditor lhe dizer que ele estaria am eaçado de alta adm inis-trativa por ter batido em um a m édica.

Esse “auditor” era, de fato, o diretor clínico do hospital. Quanto ao ato agressi-vo de Fabrício, ele fora dirigido à psiquiatra que tinha ido buscá-lo para um a apresentação de pacientes — ele se recusava a ir e foi levado “no susto”. Mais um a vez, o com portam ento agressivo de Fabrício fora m otivado. Reagira contra um ato de violência institucional e provocara, em resposta, um outro ato de violência institucional. Mas, com o costum a acontecer em casos sem elhantes, a pecha de vio-lento coube a ele.

Detalho esse evento porque m e parece que ele contém o germ e de m uito do que irá se suceder no tocante à instituição. A perm anência de Fabrício desafiava as concepções de cura e o saber m édico. O diagnóstico oscilava, sem se firm ar, entre esquizofrenia, epilepsia ou m esm o um grave transtorno dissociativo, histérico. Além disso, se a rem issão de sintom a não se dá com presteza, supõe-se que a inter-nação esteja tendo um efeito cronificador sobre o paciente. Ou seja, assim com o a esposa, a instituição não o estava sustentando. Esse foi, a m eu ver, o determ inante fundam ental da direção que o caso tom ou.

Com eçou nessa época um a série infindável de questionam entos: “Por que tom a-m os banho coa-m sabonete e lavaa-m os a cabeça coa-m xaa-m pu e não o contrário? Por que sai água da torneira e não refrigerante?” Perguntas que incidem sobre elem entos básicos da realidade, cujo contorno, com o sabem os, é sim bólico. Elas indicam um desatrelam ento do significante, evidenciam que o elo do sim bólico está solto. Para Fabrício, a realidade e seu contorno sim bólico não estavam se sustentando.

Em vários m om entos deste relato clínico, pontuei fenôm enos que dem ons-tram que o nó pelo qual Fabrício se sustentara na existência estava se desfazendo.2 O desatrelam ento do sim bólico inclui, além das vozes que fazem do m undo desse sujeito um viveiro de pássaros,3 as am nésias e as perguntas que dirige à ana-lista, concernentes aos significantes que contornam o cam po da realidade. A ruptura do elo do real se m anifesta nas passagens ao ato e nos acessos de riso desconectados do significante. O elo do im aginário é sustentado pela esposa ou pela instituição psiquiátrica, que estavam se retirando.

2 Desde o início do ensino de Lacan ( 1953-1954/ 1975) , está presente a concepção de que a

qualidade específica da experiência hum ana é dada pela articulação dos três registros hetero-gêneos que são o im aginário, o sim bólico e o real. Em sua últim a form ulação ( 1975-1976) , Lacan passa a considerar esses registros com o sendo equivalentes, interdependentes cada um dos outros e dependentes da articulação de um nó que os enlaça. O desencadeam ento da psicose faz com que os elos que com põem o nó se desprendam deste. As várias m odalidades de tentativas de cura que a partir de então se colocam em ação correspondem a tentativas distintas de recom por o nó.

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Ao assistir ao noticiário na televisão, esta tentou sugá-lo para seu interior, para m atá-lo. Decidiu que não m ais veria televisão. Rom peu-se m ais um elo de sua liga-ção com os hum anos.

Um dia, recebeu-m e alegrem ente, dizendo que era seu aniversário. Estava fazen-do três aninhos. Estava na creche, ganhara uns bolinhos... descreveu os rem édios. Gostava de seu bercinho. Não queria sair dali. Ficava de quatro, olhando as form i-gas. As vozes lhe diziam que devia observar as form ii-gas. Elas deviam ter razão.

Quando ele diz: “estou fazendo três aninhos”, parece-m e que há todo um endereçam ento aos m édicos e aos burocratas, um pedido institucional, m as há tam -bém um grande rigor. É um a m aneira de falar de um a regressão profunda.

A partir de então, tornaram -se freqüentes suas referências à creche. E passou a brincar de controle rem oto com form igas. Penso que, possivelm ente, se identifi-cou com elas: é com o se fosse um a form iga teleguiada sonhando com a liberdade. Essas e outras produções de Fabrício são m esclas de elem entos fantasiosos e de idéias delirantes e se apóiam em diversas m odalidades de alucinações verbais ( au-ditivas, visuais, cenestésicas) . Elas são construídas em contraponto às suas vivên-cias no hospital psiquiátrico, a partir do valor sim bólico que estas adquirem para ele, e m e fazem pensar em um a versão esquizofrênica do teatro particular de Anna O. São frágeis tentativas de cura, a partir das quais Fabrício não consegue sistem a-tizar um a construção que o estabilize.

Com o o eu está posto fora de ação, Fabrício não consegue discernir a fantasia da realidade. Além disso, parece-m e que os dois planos da realidade em que vive — nesse exem plo, a creche e o hospital psiquiátrico — perm anecem em com par-tim entos estanques. Aquilo que para o neurótico poderia aparecer um a divisão não se articula na psicose em virtude da foraclusão do Nom e-do-Pai. No entanto, esses fenôm enos produzem , para quem os observa, um sem blante de divisão que aum enta a possibilidade da confusão diagnóstica entre esquizofrenia e histeria.

Na véspera de Natal, contou-m e um sonho, e a partir daí se lem brou de que tinha este sonho desde criança. Sonhou com um anim al grande, peludo e de chi-fres. Ele lhe dava ordens e ele as obedecia.

Esse anim al o acom panhava desde criança. Era ele que o fazia irritar sua m ãe e m ais tarde m altratar a esposa. Achava que ele era o diabo. O diabo eram nossos defeitos. Eram dele as vozes que ouvia, desde criança, dizendo-lhe para atacar e destruir.

Na verdade, é m ais do que um sonho: ele tam bém escuta e vê esse anim al e tem que obedecer a ele.

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Apesar da gravidade de sua condição — há um perigo de apagam ento do sujei-to — Fabrício se lançou com dedicação a um trabalho com a fala. Por vezes, era de um a enorm e lucidez. Reconhecia, por exem plo, que havia dez anos vivia um surto contínuo. Atualm ente, o m áxim o que conseguia ter eram surtos de lucidez dentro do surto de loucura.

Em sonhos e fantasias, Fabrício passeou com a grande árvore do pátio da en-ferm aria. Um a noite ela o levou até Salvador; em outra ocasião circundou com ele a Estátua da Liberdade.

Um dia, sonhou que estava conversando com igo no m esm o banco em que costum ava atendê-lo no pátio da enferm aria e as telhas viravam telhas vam piras. Elas criavam dentes e partiam voando para cim a de nós. Conseguiu fugir correndo para o posto de enferm agem .

Essa foi a prim eira vez que ele relatou um sonho com igo. Perseguido por um Outro im placável, Fabrício reservou para a analista o lugar de com panheira.

Tanto o bicho peludo com o as telhas vam piras foram inicialm ente produzidas em sonhos. Depois, m antiveram um a existência na vigília.

Freud com para o sonho à esquizofrenia, dado o caráter alucinatório desta afecção.4 Nesse paciente esquizofrênico, sonho e vigília estão em continuidade. Os sonhos de Fabrício têm o m esm o conteúdo que suas fabulações autísticas, são am bos produzidos a partir das vivências no hospital psiquiátrico.

Fabrício sonhou com o dragão do rei. Tal m onstro se m anifestara havia pouco tem po e queria tirá-lo daquela creche para levá-lo para outra. No sonho, ele briga-va com o dragão do rei e conseguia vencê-lo, m as saía todo m achucado.

Traduzo: ele queria lutar para ficar na instituição onde estava. Esta era um a escolha do sujeito — que não se sustentou.

Ao contar outro sonho, produziu-se um lapso: “Sonhei com o m onstro alto. Ele m e dava um pontapé e dizia: Aqui você não entra m ais.” Quando falou sobre esse sonho, verifiquei que sua intenção era dizer “m oço”. “Moço alto” era com o ele costum ava cham ar o diretor clínico. Ficava então claro para m im que o Dragão do Rei era o diretor clínico, o m esm o que o am eaçava com a alta adm inistrativa e a transferência para outro hospital.

Com o pensar essa seqüência de m onstros? Ao perceber que a instituição tam -bém poderia desertá-lo, ele recorreu a um enxam e de significantes. A pluralização

4 Em Com plem ento m etapsicológico à doutrina dos sonhos ( 1917 [ 1915] / 1979) , Freud afirm a que tanto

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dos S15 nesse analisando esquizofrênico aponta para a ausência deste term o. É um a tentativa de instaurar um vazio — em vão, já que, para ele, todo sim bólico é real ( FREUD, 1915/ 1979; LACAN, 1954/ 1966; MILLER, 1985) .6 Era a partir da cons-tituição desse vazio que o sujeito poderia se sustentar.

A queixa de ouvir vozes se intensificou. Quando elas lhe diziam para m atar, respondia: “m atar não”. Mas, em sonhos, obedecia. Era m uito desejo de m atar. “Desejo de quem ?”, perguntei. Não sabia; das vozes. Deixei isto com o questão na qual ele talvez pudesse pensar.

Durante um a sessão, assustou-se. Havia um vam piro atrás de sua orelha direita, querendo chupar seu sangue. Esse vam piro, que ele não conseguia ver nem tocar, passou a ser um a presença habitual na vida de Fabrício.

Um a sessão subseqüente inaugurou um m arco. Nela deu-se um passo decisi-vo7 no sentido de barrar o gozo do Outro. Conversando com a voz, Fabrício repetiu algum as vezes: “sangue hum ano, não”. Perguntei a ele do que se tratava: o vam -piro estaria lhe dizendo para ele cortar m eu pescoço e beber m eu sangue. Reiterei: sua resposta foi não.

A partir daí, esse diálogo com a voz se tornou habitual. Fabrício passou a levar um a garrafa d’água para a sessão. Quando o vam piro lhe dizia para beber m eu sangue, respondia: “Quer sangue?” — e bebia a água. Um dia, sublinhei: “Você o engana.” Fabrício m e respondeu, rindo: “Sim , esses dem ônios são m uito burros.” Ele conseguiu aí introduzir alguma barra no Outro, de quem o vampiro é uma figuração. Cabe ao psicótico, sujeito do gozo (LACAN, 1966), fazer a lei do Outro. Fabrício não consegue construir um conceito elaborado e estável como o da Ordem do Mundo de Schreber, que faz suplência da lei. Só lhe resta o recurso ao engano.

A burrice é uma falta, de inteligência ou de esperteza. Momentaneamente, o sujeito consegue “constituir a hiância de um vazio”. Mas, para Fabrício, “todo simbólico é real” e o engano, vão. E assim é que os demônios vão se tornando mais e mais poderosos.

Pouco depois, inaugurou-se um a série de sonhos de enterros. O único enterro ao qual Fabrício de fato com pareceu foi o de seu pai. Sentira então um m isto de tristeza e de estranha alegria.

Os personagens desses sonhos, que testem unham o anim ism o crescente que invade o m undo do sujeito, são os objetos inanim ados que o circundam na enfer-m aria. Tipicaenfer-m ente, uenfer-m a pilastra está no caixão, para ser enterrada. Ao enterro com parecem pilastras, telhas e lajotas.

5 S

1, em francês faz hom ofonia com essaim, enxam e.

6 “ O esquizofrênico busca constituir a hiância de um vazio. Em vão, porque para ele todo

sim bólico é real” ( LACAN, 1954/ 1966, p. 92) .

7 Esse passo, infelizm ente, não se sustenta. Com o já dissem os, além de sua gravidade,m otivos

de ordem institucional tiveram um enorm e peso no desenlacedo caso de Fabrício, m as não

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Em um desses sonhos, um poste do pátio tinha m orrido. O caixão era em for-m a de cruz, cofor-m o o próprio poste. Durante o enterro ufor-m a telha caiu dentro do caixão e se espatifou. Fabrício sabia que era um suicídio.

Nessa época, queixou-se de estar triste. Sobretudo após os sonhos com enter-ros, acordava deprim ido, com um a sensação de m orte, com o se a m orte o estives-se rondando.

Teve início um a nova série de sonhos. Sonhou que estava deitado e chegavam o dragão do rei e o vam piro, arrancavam seu coração, dividiam -no em dois e cada um com ia um a m etade. Acordava angustiado.

Outro sonho terrorífico: o dragão do rei vinha por trás, pegava-o pelo pescoço com as garras e levava-o até a pedra que se via da enferm aria, deixando-o cair de um a grande altura. Ele ainda estava vivo m as sem conseguir se m exer, quando o m onstro se aproxim ava e ficava com endo seus braços, suas pernas, seus órgãos internos. E ele sentia toda a dor.

Em sua tentativa de reconstruir o m undo, o esquizofrênico recorre às palavras, m as não consegue fazê-las ancorar-se sobre o corpo. Sem a m ediação da lingua-gem , o corpo real fica confrontado ao real do gozo do Outro. Esses sonhos, que m e evocam a violência dos rituais astecas, o dem onstram .

As construções de Fabrício se revelam insuficientes, inadequadas para barrar o gozo. É só depois dos sonhos em que as coisas do m undo se suicidam que surgem esses sonhos m ortíferos, ápice da dissolução im aginária, em queo corpo do sujei-to é desm em brado e seus órgãos sujei-tom ados com o objesujei-to do gozo do Outro. Essa é um a hipótese, m as ela se im põe.

Mesm o nesse m om ento de perigo m áxim o, Fabrício reconhecia que nom ear as vozes anônim as constituía um cam inho. Os m onstros, frágeis pontos de susten-tação de sua existência com o sujeito, eram construídos sob transferência.

Surgiu, então, o bebê vam piro: ele era m uito m au, ficava no bercinho chupan-do ovo de cobra, de m orcego... À noite, vinha lam ber o pescoço de Fabrício, pre-parar a m ordida. Se ele o derrubasse da cam a, voltava a subir. Era m uito forte.

A psiqu iatra qu e, a pedido do próprio Fabrício, tin h a assu m ido seu caso, estava grávida. Ele via isso, com m u ito sen so de realidade, com o u m a en orm e am eaça à sua perm anência na instituição. O bebê vam piro era, assim , um a encar-nação do m al.

Um dia, encontrei-o na cam a. Não fez nenhum gesto para se levantar, parecen-do em estupor. Consegui que dissesse apenas quatro frases, que seguiram o m es-m o padrão. Cito ues-m a delas: “aquela porta vai explodir” ( apontou para a janela) . Disse ainda, segurando a cabeça com am bas as m ãos: “dor”.

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falado de seu conteúdo. De qualquer m aneira, levando-se em conta o que estava ocorrendo na instituição, o desenlace não poderia ter sido diferente do que foi.

Aos poucos, surgiram indícios de que a relação transferencial estaria preserva-da ou, pelo m enos, sendo retom apreserva-da. Em um a ocasião, ele encostou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos, o que tom ei com o indicativo de que estaria encer-rando a sessão, com o de hábito. Outra vez, quando cheguei no horário com bina-do, tive a im pressão de que estava m e aguardando. Ao lhe perguntar com o estava, obtive com o resposta: “arrebentado”. E justificou: “aquelas telhas caíram do chão” ( olhou o teto) “e m ergulharam no teto” ( olhou o chão) .

As poucas frases que Fabrício enunciou foram indicativas de um profundo desm antelo do sim bólico. Era com o se ele retom asse as perguntas que m e fizera antes, m as agora afirm ando o lado que antagonizava o sim bólico.

Aos poucos, seu pensam ento foi ficando m ais organizado. Nessa época, ele assim com entou o nascim ento do filho da psiquiatra: “O bebê vam piro tem per-turbado m uito. Ele estava preso num subterrâneo do castelo. A princesa gostava dele, m as o carcereiro, não.” Contou tam bém que estava sendo perseguido pela m am adeira envenenada. Ela queria que ele a bebesse. Depois, ele se refugiou em seu quarto e conseguiu escapar. Assinalei, tentando colocar algum lim ite, que algo ele conseguia barrar.

Lem brei-lhe de que m e tinha dito que os dem ônios eram burros. Não daria então para ele os vencer? Fabrício então revelou que por trás deles estava a Cabeça de Legião, que pensava por todos. Nessa época, ele já sabia que o diretor da insti-tuição estava se ocupando de seu caso.

Falou-m e então da últim a batalha que estava para travar contra o dem ônio. Se perdesse, perderia sua alm a e nunca m ais veria sua am ada. Se vencesse m orreria, m as estaria livre do dem ônio e livraria dele a hum anidade. Enquanto nossos aten-dim entos durassem — pela prim eira vez m encionou a possibilidade de sua inter-rupção — , queria falar de sua luta contra esse dem ônio, o m ais forte de todos. Nesse m om ento, m udou subitam ente de registro, falou da realidade factual. Não sabia quanto tem po perm aneceria ali, pois, sendo aquele um hospital-escola, os pacientes ficavam por pouco tem po.

Entre os dois term os dessa seqüência, pareceu-m e não haver um a associação no sentido neurótico; a visada associativa, nesse caso, equivaleria a um a tentativa de com preensão por parte daquele que escuta. Em bora possam os observar que o que se passa na realidade tem efeitos sobre o m undo autístico de Fabrício e vice-versa, a conjunção entre am bos é m ínim a. Sobretudo, não hápossibilidade de dialetização.8

8 Segundo Bleuler ( 1971) , que introduziu a esquizofrenia e o autism o no vocabulário

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Em um a de nossas últim as conversas, Fabrício explicitou sua posição subjeti-va. Sabia que era culpado do que estava lhe acontecendo. Sem pre fora covarde, deixara-se m anipular pelos dem ônios.

Nessa época, seu destino já estava selado: ele seria transferido para outra insti-tuição.

Não pude m e despedir dele. As últim as palavras que dele escutei foram : “o rato está com endo o gato”, e “a vingança será terrível”.

Recebido em 19/ 2/ 2002. Aprovado em 8/ 5/ 2002.

em um m undo im aginário em que se realiza todo tipo de desejos e surgem idéias de persegui-ção. Am bos os m undos constituem para eles realidade, e às vezes podem m antê-los conscien-tem ente separados. Outras vezes, o m undo autístico é para eles o real, o outro é m era aparên-cia. Os seres hum anos autênticos são ‘m áscaras’, ‘som bras’, etc. Segundo a constelação do m om ento, e em casos de m ediana gravidade, ora um dos mundos está em prim eiro plano, ora o outro” ( p. 436) .

BIB LIOGRAFIA

BLEULER, E. ( 1971) Tratado de psiquiatría, 3. ed., Madri, Espasa-Calpe.

FREUD, S. ( 1979/ 1980) Obras com pletas, Buenos Aires, Am orrortu.

( 1915) “ Lo inconciente” , v. 14, p. 153-214.

( 1917 [ 1915] ) “ Com plem ento m etapsicológico a la doctrina de los sueños” , v. 14, p. 215-234.

( 1937) “ Construcciones en el análisis” , v. 23, p. 255-270.

LACAN, J. ( 1953-1954/ 1975) Le Sém inaire, livre I, Les écrits techniques de Freud,

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. ( 1955-1956/ 1981) Le Sém inaire, livre III, Les psychoses, Paris, Seuil.

. ( 1957-1958/ 1966) “ D’une question prélim inaire à tout

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. ( 1968-1969) D’un autre à L’Autre. Sem inár io inédito.

Referências

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