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Sudorese em pacientes com moléstia de chagas crônica.

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Academic year: 2017

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SUDORESE EM PACIENTES COM MOLÉSTIA DE CHAGAS CRÔNICA

E D Y M A R JARDIM

N a moléstia de C h a g a s crônica h á comprometimento do sistema ner-voso central ou periférico, evidenciado pela considerável redução do n ú m e r o d e neurônios e m vários setores do organismo (animal e h u m a n o ) , nos quais tem-se aplicado o método de c o n t a g e m neuronal. N o cerebelo, no coração, no esófago, na b e x i g a e na medula espinal essa redução do número de neu-rônios foi verificada de maneira categórica. N o entanto, apesar dos rele-vantes fatos demonstrados pelos trabalhos anátomo-patológicos, diante dos quais não podem permanecer dúvidas de que a moléstia de C h a g a s é, real-mente, u m a afecção que atinge primariamente o sistema nervoso, n ã o é sempre fácil detectar as expressões clínicas das estruturas parcialmente de-nervadas. Resta-nos, para melhor compreensão da enfermidade, procurar estabelecer as relações clínico-patológicas destes achados, realizando estu-dos semiológicos apuraestu-dos estu-dos vários aparelhos e sistemas, a f i m de que, conjugando estudos anátomo-patológicos e funcionais, possamos estabelecer os parâmetros da questão.

É nesse sentido que pretendemos, com o a t u a l trabalho, verificar even-t u a i s aleven-terações funcionais do siseven-tema nervoso aueven-tônomo, eseven-tudando c o m o se comporta a sudoração nos pacientes chagásicos crônicos.

M A T E R I A L E M É T O D O S

Foram estudados 10 pacientes registrados no Hospital das Clínicas da Facul-dade de Medicina de Ribeirão Preto, com reação de Machado-Guerreiro positiva no sangue periférico, com títulos vários. N ã o levamos em consideração o tipo de al-teração chagásica que os pacientes apresentavam, sendo que no grupo estudado havia casos de cardiopatias, de megacolo e de megaesôfago.

O grupo controle foi constituído de 10 pacientes com síndrome convulsiva. E m todos eles a reação de Machado-Guerreiro mostrou-se negativa (tabela 1).

Para a obtenção de sudoração empregamos estímulo calórico mediante coloca-ç ã o dos pacientes no interior de um gabinete de madeira aquecido por lâmpadas de filamento de carvão, de modelo por nós idealizado. O s pacientes permaneciam no interior do gabinete em decúbito dorsal, sendo permanentemente observados através de visores de vidro existentes nas paredes laterais da caixa. A tempera-tura foi controlada por um termômetro instalado internamente.

Para o estudo da distribuição topográfica da sudoração usamos o teste de amido-iôdo em toda a superficie ventral dos pacientes.

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A verificação ponderal foi feita mediante pesagens antes e depois das provas. Como dados correlatos da pesquisa anotamos as variações da pressão arterial, do pulso e da temperatura axilar.

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R E S U L T A D O S

Do ponto de vista topográfico não verificamos diferenças fundamentais nos dois grupos estudados. Todos os pacientes apresentaram sudoração difusa em todos

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mem-bros inferiores ou superiores. Praticamente em todos os casos houve nítido predo-mínio de sudoração do tronco, avaliado pela intensidade de coloração. O membro superior direito em muitos pacientes apresentou maior intensidade de coloração que o esquerdo.

Não verificamos áreas com ausência de sudoração em qualquer dos casos es-tudados.

O estudo ponderai foi realizado pesando-se os pacientes no início e no fim dos testes, calculando-se a diferença entre as pesadas (tabela 2). Esta diferença foi di-vidida pela superfície corporal, dando-nos como resultado a perda hídrica em g / m2 de superfície corporal. O grupo chagásico perdeu em média 68,5 g / mJ

e o grupo controle 115,2 g / m2

.

A verificação da pressão arterial não mostrou diferenças significativas, sendo as variações praticamente idênticas para ambos os grupos, como pode ser visto na tabela 3.

O pulso mostrou uma variação (média) de 9,5 batimentos por minuto para o grupo chagásico e de 14,3 batimentos por minuto para o grupo controle, em rela-ção ao seu valor Inicial.

O aumento médio da temperatura axilar foi de 1,19°C para o grupo chagásico e de 1,27°C para normal.

No decorrer das provas, alguns pacientes queixaram-se de tonturas e mal-estar geral. N ã o houve referências a outras alterações.

C O M E N T Á R I O S

A análise dos resultados leva-nos à conclusão de que os pacientes com moléstia de C h a g a s crônica, submetidos à mesma temperatura ambiente durante u m tempo determinado, apresentam perda hídrica significativamente menor que aquela dos indivíduos não chagásicos. O s valores corresponden-tes a essas perdas constam da tabela 2 e deixam em evidência a diferença de quantidade de sudoração, para menos nos chagásicos, e m r e l a ç ã o aos n ã o chagásicos, pois percentualmente sua média de sudorese corresponde a ape-nas 59,4% dos valores do grupo controle. D i a n t e deste resultado devemos então dar nossa interpretação.

S c h w a r t z b u r d e K õ b e r l e4

, em estudos experimentais em ratos, demons-t r a r a m exdemons-tensas lesões medulares, pardemons-ticularmendemons-te na subsdemons-tância cinzendemons-ta, representadas por grande redução do número de neurônios. V i c h i7

, confir-mando os achados de S c h w a r t z b u r d e K õ b e r l e , demonstrou o intenso para-sitismo da medula espinal de ratos, mediante estudo quantitativo de pseudo-cistos leishmanióticos. B r a n d ã o e m estudo quantitativo de neurônios em gânglios simpáticos e parassimpáticos de ratos, n ã o encontrou redução es-tatisticamente significante nos gânglios simpáticos. T a f u r i e R a s o5

, estu-dando os gânglios simpáticos de camundongos albinos infectados experiment a l m e n experiment e pelo T. cruzx, enconexperimentraram lesões nesexperimentes gânglios, porém de m a -neira muito irregular e imprevista.

V i e i r a6

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ou seja, da hipersensibilidade das estruturas denervadas aos estímulos quí-micos.

D i a n t e de nossos resultados e baseados nos trabalhos experimentais a que nos referimos, parece-nos razoável atribuir a nítida redução de sudo-r a ç ã o que encontsudo-ramos no gsudo-rupo chagásico, a u m psudo-rocesso de denesudo-rvação parcial e m nível pré-ganglionar medular.

É verdade que alterações neuronais ao nível do hipotálamo poderiam, pelo menos teoricamente, explicar os resultados encontrados. A destruição neuronal n ã o fica, na moléstia de C h a g a s , adstrita apenas a o nível medular,

mas compromete estruturas superiores, como demonstramos em 1962 2

, evi-denciando considerável destruição das células de P u r k i n j e e m camundongos infectados experimentalmente pelo T. cruzi. N o entanto, estudos patológi-cos quantitativos em níveis diencefálipatológi-cos não foram ainda realizados.

C o m r e l a ç ã o à diferença na m é d i a de freqüência c a r d í a c a entre o grupo c h a g á s i c o e o controle, que foi respectivamente de 9,5 e 14,3 batimentos por minuto, parece-nos que o achado possa ser explicado por u m a menor capa-cidade de resposta do coração chagásico a estímulos vários. T a l hipótese encontra apoio no quadro do bloqueio sinoatrial autonómico, descrito por Brasil 2

.

R E S U M O

Foi estudada a sudoração em pacientes com moléstia de C h a g a s crô-nica, mediante estímulo térmico (teste de M i n o r ) . A s perdas hídricas dos pacientes chagásicos foram significativamente menores do que as dos pa-cientes n ã o chagásicos.

S U M M A R Y

Sweating in patients with chronic Chagas' disease

The sweating in patients with chronic C h a g a s ' disease by using thermic stimulus (Minor test) is studied. T h e loss of water w a s significantly lower in the patients w i t h C h a g a s ' disease when compared with the loss in non chagasic patients.

R E F E R Ê N C I A S

1. B R A N D Ã O , H . J . S. — E s t u d o q u a n t i t a t i v o de neurônios simpáticos e paras¬ s i m p á t i c o s na moléstia de C h a g a s e x p e r i m e n t a l e m ratos. Tese de doutora-mento, F a c u l d a d e de M e d i c i n a de R i b e i r ã o Prêto, 1961.

2 . B R A S I L , A . — A u t o n o m i c a l sino-strial b l o c k : a new disturbances of the h e a r t m e c h a n i s m . A r q . B r a s . C a r d i o l . 8:159-212, 1955.

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4. S C H A R T Z B U R D , H . & K Ö B E R L E , F . — C h a g a s M y e l o p a t h i c Zeitschr. f. T r o ¬ penmed. u. P a r a s i t . 10:309-314, 1959.

5 . T A F U R I , W. L . & R A S O , P . — Lesões do sistema nervoso a u t ô n o m o do c a m u n ¬ d o n g o a l b i n o n a tripanosomiase. H o s p i t a l ( R i o de J a n e i r o ) 62:1325-1342, 1962.

6. V I E I R A , C . B . — H i p e r s u d a ç ã o p r o v o c a d a pela p i l o c a r p i n a n a m o l é s t i a de C h a -g a s crônica. H o s p i t a l ( R i o de J a n e i r o ) 64:1335-1345, 1963.

7 . V I C H I , F . L . — E s t u d o do p a r a s i t i s m o n a m e d u l a espinal de r a t o s n a fase a g u d a da m o l é s t i a de C h a g a s . R e v . Inst. M e d . T r o p . S ã o P a u l o 3:37-42, 1961.

Referências

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