• Nenhum resultado encontrado

Crianças no pátio escolar :a utilização dos espaços e o comportamento infantil no recreio

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Crianças no pátio escolar :a utilização dos espaços e o comportamento infantil no recreio"

Copied!
113
0
0

Texto

(1)

CRIANÇAS NO PÁTIO ESCOLAR: A UTILIZAÇÃO DOS

ESPAÇOS E O COMPORTAMENTO INFANTIL NO RECREIO

Odara de Sá Fernandes

(2)

Odara de Sá Fernandes

CRIANÇAS NO PÁTIO ESCOLAR: A UTILIZAÇÃO DOS ESPAÇOS E

O COMPORTAMENTO INFANTIL NO RECREIO

Natal

2006

Dissertação elaborada sob orientação

do Profa. Dra Gleice Azambuja Elali

e apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Psicologia da

Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em

(3)

Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca Setorial Especializada do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Fernandes, Odara de Sá.

Crianças no pátio escolar : a utilização dos espaços e o comportamento in- fantil no recreio / Odara de Sá Fernandes. - Natal, RN, 2006. 112 f.

Orientadora : Profª Drª. Gleice Azambuja Elali.

Dissertação (Mestrado em Psicologia ) – Universidade Federal do Rio Gran- de do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós- Graduação em Psicologia. Área de Concentração : Psicologia ambiental. 1. Desenvolvimento infantil – Dissertação. 2. Psicologia ambiental – Dis- sertação. 3. Mapeamento comportamental – Dissertação. 4. Pátio escolar – Dis- sertação. I. Elali, Gleice Azambuja. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

(4)

: O interesse pela compreensão do relacionamento da criança com seu ambiente vem aumentando nos últimos anos, em todo o mundo. Diversos

pesquisadores, utilizando a Psicologia Ambiental como base, têm analisado a

importância dessas relações para o desenvolvimento infantil e suas

implicações na organização de espaços lúdicos. Por ser um local onde as

crianças passam grande parte do seu tempo e desenvolvem muitas habilidades

intelectuais e sociais, a escola torna-se um dos principais focos dessas

pesquisas. Partindo desse pressuposto, investigaram-se as diferentes áreas do

pátio do Núcleo de Educação Infantil (NEI), durante o recreio, analisando a

utilização do espaço e os comportamentos de interação entre crianças nesses

locais, através da observação do comportamento infantil (mapeamento

centrado-no-lugar e centrado-na-pessoa). Os resultados revelaram que a área

livre da escola e seus equipamentos permitem grande possibilidade de escolha

às crianças, contudo sua ocupação não é uniforme, existindo áreas muito

utilizadas e outras quase sem uso. De modo geral, essa heterogeneidade se

repete em relação à distribuição dos estados interacionais pelos setores, sendo

o comportamento associativo amigável o mais encontrado. A observação do

comportamento das crianças favoreceu não só a uma melhor compreensão da

utilização dos espaços, como também, contribuiu para a discussão sobre os

ambientes que esses usuários necessitam para um desenvolvimento saudável,

até mesmo no que se refere às diferenças em relação ao gênero, idade e

turnos. Apesar do pátio estudado ser grande, agradável e variado, ele

necessita de uma melhor distribuição dos seus equipamentos e de um

planejamento que permita maior participação das crianças na organização do

lugar.

Palavras-chaves: Psicologia Ambiental; Pátio Escolar; Desenvolvimento Infantil;

Mapeamento Comportamental.

Ano do Depósito: 2006

Palavras-chaves: Psicologia Ambiental; Pátio Escolar; Desenvolvimento Infantil; Ma

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

A dissertação “Crianças no pátio escolar: a utilização dos espaços e o comportamento infantil no recreio”, elaborada por “Odara de Sá Fernandes”, foi considerada aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA.

Natal, RN, ____ de___________de 200_.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Gleice Azambuja Elali (orientadora) _________________________

Profa. Dra. Isolda de Araújo Günther _________________________

(5)

“As brincadeiras das crianças deveriam ser consideradas suas atividades mais sérias.”

Montaigne

(6)

Agradecimentos

À Deus, por ser a fonte de força e iluminação, sempre;

Aos meus pais, pelo apoio, afeto e dedicação;

Aos meus irmãos, em especial à Cynara pela contribuição efetiva com este trabalho,

através dos seus conhecimentos arquitetônicos;

À Mario Rúbio, pelo carinho, atenção, apoio e ajuda constantes;

À todos meus familiares pelo grande incentivo, em particular a Marília pelo esforço em

contribuir com este trabalho;

À professora e orientadora Gleice Elali, pela imensa disponibilidade, paciência e

incentivos;

À base de pesquisa Inter-Ações Pessoa-Ambiente, pelas imensas contribuições,

principalmente à Profa. Dra. Susana Alves e ao Prof. Dr. José Pinheiro pelas sugestões

essenciais à dissertação;

Aos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em especial aqueles

com quem trabalhei diretamente, em pesquisas, projetos de extensão e estágios, pelos

conhecimentos transmitidos;

À todos os professores, funcionários e colegas que compõem o Programa de

Pós-Graduação em Psicologia;

À CAPES pela concessão da bolsa de estudos.

(7)

Sumário

Lista de Figuras ...

Resumo ...

Abstract ...

Apresentação ...

Introdução ...

Capítulo 1- Psicologia Ambiental e o Desenvolvimento Infantil ...

1.1. Situando a Psicologia Ambiental ...

1.2. Desenvolvimento Infantil: enfoque da Psicologia Ambiental ...

Capítulo 2 – Ambiente Escolar ...

2.1. A importância do Ambiente Escolar ...

2.2. O ambiente na Educação Infantil ...

2.3. A relação comportamento infantil e ambiente escolar...

Capítulo 3 - Os Pátios Escolares ...

3.1. Aspectos importantes ...

Capítulo 4 – Método ...

4.1. Escolha da instituição ...

4.2. Caracterização do Local ...

4.3. Etapas para realização da pesquisa de campo ...

4.4. Tratamento dos dados ...

Capítulo 5– Resultados ...

5.1. Estudos preliminares ...

5.2. Mapeamento centrado-no-lugar ...

(8)

Capítulo 6 – Discussão ...

6.1. Estudos preliminares ...

6.2. Mapeando o lugar ...

Capítulo 7 - Considerações finais ...

Referências bibliográficas ...

Apêndices ...

Apêndice A: Roteiro de Entrevista ...

Apêndice B: Ficha do Mapeamento Centrado-no- lugar...

Apêndice C: Quadro de Observação ...

Apêndice D: Ficha do Mapeamento Centrado-na-criança...

86

86

87

96

102

108

108

109

110

(9)

Lista de Figuras

Figura Página

1. Esquema de Desenvolvimento Humano segundo Bronfenbrenner... 2. Mapa do Campus Universitário ... 3. Planta baixa atualizada do Núcleo de Educação Infantil – NEI ... 4. Planta baixa com a divisão das áreas do pátio e seus setores ... 5. Foto do Pátio de Entrada ... 6. Planta baixa setorizada (Pátio de Entrada) ... 7. Foto do Pátio Central ... 8. Planta baixa setorizada (Pátio Central) ... 9. Foto do Pátio de Areia 1 ... 10. Planta baixa setorizada (Pátio de Areia 1) ... 11. Foto e Planta baixa setorizada do Pátio de Areia 2 ... 12. Foto do Painel Interativo na XII Semana de Humanidades da UFRN

(julho/2004) ... 13. Porcentagem de ocupação das áreas observadas por turnos ... 14. Porcentagem dos registros de utilização do Pátio de Entrada por setores .... 15. Porcentagem dos registros de utilização do Pátio de Entrada por setores .... 16. Fotos da Beyblade ... 17. Porcentagem dos registros de utilização do Pátio Central por setores

(Manhã)... 18. Porcentagem dos registros de utilização do Pátio Central por setores (Tarde)... 19. Porcentagem dos registros de utilização do Pátio de Areia 1 por setores

(10)

23. Mapa de ocupação total por turno ... 24. Média do número de crianças por setores no Pátio de Entrada (Manhã)... 25. Média do número de crianças por setores no Pátio de Entrada (Tarde)... 26. Média do número de crianças por gênero (Pátio de Entrada –Setor 3-Tarde)... 27. Média do número de crianças por setores no Pátio Central (Manhã)... 28. Média do número de crianças por setores no Pátio Central (Tarde)... 29. Média do número de crianças por gênero (Pátio Central-setor 5- Tarde)... 30. Média do número de crianças por setores no Pátio de Areia 1 (Manhã)... 31. Média do número de crianças por gênero (Pátio Areia 1 -setor 6- Manhã)... 32. Média do número de crianças por setores no Pátio de Areia 1 (Tarde)... 33. Média do número de crianças por gênero (Pátio Areia 1 -setor 7- Tarde)... 34. Média do número de crianças por setores no Pátio de Areia 2 (Manhã)... 35. Média do número de crianças por setores no Pátio de Areia 2 (Tarde)... 36. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio de Entrada- Manhã).. 37. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio de Entrada- Tarde)... 38. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio Central- Manhã)... 39. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio Central- Tarde)... 40. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio de Areia 1- Manhã).. 41. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio de Areia - Tarde)... 42. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio de Areia 2- Manhã).. 43. Distribuição dos Estados Interacionais por setores (Pátio de Areia 2- Tarde).... 44. Mapas de Comportamento Associativo por turno... 45. Mapas de Comportamento Solitário por turno... 46. Mapas de Comportamento Paralelo por turno ... 47. Mapas de Comportamento de Deslocamento por turno... 48. Mapa dos percursos de todas as crianças observada ... 49. Mapas dos percursos em função do gênero... 50. Distribuição das atividades principais quanto ao gênero... 51. Mapas dos percursos em função do turno... 52. Distribuição das atividades principais quanto ao turno ... 53. Tempo de permanência na principal atividade (idade) ... 54. Mapa dos percursos por idade ...

(11)

Fernandes, O. S. (2006). Crianças no pátio escolar: a utilização dos espaços e o comportamento infantil no recreio. Dissertação de mestrado não-publicada,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.

Resumo

O interesse pela compreensão do relacionamento da criança com seu ambiente vem aumentando nos últimos anos, em todo o mundo. Diversos pesquisadores, utilizando a Psicologia Ambiental como base, têm analisado a importância dessas relações para o desenvolvimento infantil e suas implicações na organização de espaços lúdicos. Por ser um local onde as crianças passam grande parte do seu tempo e desenvolvem muitas habilidades intelectuais e sociais, a escola torna-se um dos principais focos dessas pesquisas. Partindo desse pressuposto, investigou-se as diferentes áreas do pátio do Núcleo de Educação Infantil (NEI), durante o recreio, analisando a utilização do espaço e os comportamentos de interação entre crianças nesses locais, através da observação do comportamento infantil (mapeamento centrado-no-lugar e centrado-na-pessoa). Os resultados revelaram que a área livre da escola e seus equipamentos permitem grande possibilidade de escolha às crianças, contudo sua ocupação não é uniforme, existindo áreas muito utilizadas e outras quase sem uso. De modo geral, essa heterogeneidade se repete em relação à distribuição dos estados interacionais pelos setores, sendo o comportamento associativo amigável o mais encontrado. A observação do comportamento das crianças não só favoreceu a uma melhor compreensão da utilização dos espaços, como também, contribuiu para a discussão sobre os ambientes de que esses usuários necessitam para um desenvolvimento saudável, até mesmo no que se refere à diferenças em relação a gênero, idade e turnos. Apesar do pátio estudado, ser grande, agradável e variado, ele necessita de uma melhor distribuição dos seus equipamentos e de um planejamento que permita maior participação das crianças na organização do lugar.

Palavras-chaves: Psicologia Ambiental; Pátio Escolar; Desenvolvimento Infantil;

Mapeamento Comportamental.

(12)

Fernandes, O. S. (2006). Children in the school’s outdoor area: the use of spaces and the children behavior in recess time. Unpublished master´s thesis, Federal University of

Rio Grande do Norte, Natal.

Absctract

The interest for understanding the relationship of the child with its environment has increased in the whole world during the last few years. Several researchers, using Environmental Psychology as basis, have analyzed the implications of this relation for the child development and the organization of playful spaces. Being a place where children spend a great part of their time and develop many intellectual and social abilities, the school becomes one of the main focus of this research. This study investigated different sectors of the outdoor area of NEI - UFRN, during the recreation time, in which the use of space and the interaction between children were analyzed, through the observation of the child behavior (place-centered and individual-centered mapping). The results had disclosed that the school’s outdoor area and its equipments presents a great range of choices possible to the children, however its occupation is not uniform: there are areas very used and others almost without use. Generally, this heterogeneity happens again in relation to the distribution of the interaction states in the sectors, the friendly associative behavior being the most present. The observation of children behaviors favored a better understanding of the use of the spaces, and contributed for discussion about the environment what these users really need for a healthy development, including differences in related to gender, age and daytime. In spite of the studied outdoor areas being vast, pleasant and varied, it needs a better distribution of its equipments and a plan that allows greater children participation in the place organization.

Word-keys: Environmental Psychology; Outdoor School Area; Child Development;

Behavioral Mapping.

(13)

Apresentação

Pesquisar foi uma atividade que me interessou desde a época do segundo grau,

quando os professores propunham buscas de temas, seja em livros ou em campo.

Porém, naquela época, não possuía a melhor noção do que realmente é fazer pesquisa e

quantos desafios existem no processo investigatório.

A decisão de que curso prestar no vestibular foi bastante difícil, o dilema entre

psicologia e arquitetura era enorme, mas acabei optando pela Psicologia por achar que

poderia ter mais abertura para investigar e compreender questionamentos sobre a mente

humana. Ao entrar no curso, deparei-me com a realidade: encontrar respostas era muito

mais difícil do que imaginava e as dúvidas aumentavam à medida que estudava.

Ao iniciar o terceiro ano do curso, achei que poderia me engajar efetivamente

em uma pesquisa e procurei a base de Ecologia e Comportamento Animal.

Interessei-me pela investigação sobre o cuidado (como ocorria a relação entre mãe e filhote de

Callithrix Jacchus - Sagüi, em ambiente natural), desenvolvida pela Profa. Dra. Maria

de Fátima Arruda, do Departamento de Fisiologia. Permaneci durante dois anos, sendo

bolsista de iniciação científica do CNPq, indo semanalmente a Nísia Floresta (RN), na

reserva do IBAMA, observar o comportamento dos animais. Considero este período

como sendo de fundamental importância para minha formação acadêmica, pois pude

entrar em contato com o fazer pesquisa, aprender os percursos e peculiaridades que

somente na prática se pode absorver. As discussões com minha orientadora, os

ensinamentos que recebi, os trabalho apresentados, proporcionaram-me um

amadurecimento não só como pesquisadora, mas também como profissional.

Paralelo a esse trabalho, atuei como aluna voluntária do Projeto de Extensão:

Ampliação do Núcleo de Psicodiagnóstico no Centro de Reabilitação Infantil- CRI.

(14)

avaliação psicológica de crianças portadoras de necessidades especiais. Era um trabalho

bastante difícil, pois nem sempre o que aprendíamos na teoria podia ser aplicado com o

tipo de paciente que estávamos avaliando. Aprendi a lidar com situações inesperadas, a

utilizar novos recursos de avaliação e buscar os conhecimentos essenciais a cada caso.

Foi muito gratificante, pois pude ajudar diversas crianças que necessitavam de avaliação

e também por compreender que a Psicologia possui muitos caminhos a serem utilizados

e, com estudo e dedicação, se pode ampliar a atuação do psicólogo.

Ao chegar no último ano do curso, decidi estagiar na área de Psicologia Clínica

Infantil. Sempre me interessei bastante pelos assuntos da infância e resolvi que a clínica

infantil deveria ser minha área. Durante o estágio, fazíamos atendimento no Serviço de

Psicologia Aplicada –SEPA e no Centro de Reabilitação Infantil- CRI. Entrar em

contato com a prática profissional foi extremamente enriquecedor, as discussões dos

casos atendidos com as outras alunas e com a orientadora, Simone Melo, traziam as

diversas possibilidades de atuação e os estudos sobre a infância proporcionavam um

aprofundamento teórico necessário para a realização da prática.

Ao concluir o curso, fui convidada pela Profa. Dra. Maria Emília Yamamoto

para ser sua bolsista de apoio técnico (CNPq). Permaneci durante um ano, ajudando nas

pesquisas por ela desenvolvidas e participando das discussões da base de pesquisa

Ecologia e Comportamento Animal. Nesse período, colaborei efetivamente com a

pesquisa sobre influência da cor dos alimentos sobre o comportamento de escolha em

crianças. No Núcleo de Educação Infantil- NEI (UFRN) aplicamos testes com gelatina

em crianças entre 02 e 06 anos de idade. Os resultados foram apresentados na XXXI

Reunião Anual de Psicologia, no Rio de Janeiro e no XIX Congresso Brasileiro de

Etologia, em Juiz de Fora. Foi uma experiência extremamente interessante, pois pude

(15)

o período que passei interagindo com as crianças, para que elas se adaptassem à minha

presença, que surgiu o questionamento que motivou a realização do meu mestrado.

Enquanto observava os alunos brincando no parque, percebi que a interação

deles com os brinquedos ou com o espaço disponível, às vezes favorecia a brincadeira,

às vezes causava conflitos. Comecei, então, a refletir sobre as possibilidades do

ambiente interferir na atividade e no comportamento das crianças. Foi essa inquietação

que me fez buscar uma nova área de conhecimento dentro da Psicologia que pudesse me

ajudar a entender melhor como ocorre essa relação criança-ambiente. E o caminho foi a

(16)

Introdução

As relações com o ambiente físico e social são essenciais para o

desenvolvimento das crianças, representando estímulos que propiciam comportamentos,

gerando desafios à enfrentar e possibilitando suas interações com outras pessoas, dentro

de um contexto sócio-histórico específico. Essas inter-relações são dinâmicas, ou seja, a

criança é capaz de explorar, descobrir e iniciar ações em seu ambiente, além de

selecionar parceiros, objetos e áreas para suas atividades, ao mesmo tempo em que o

meio atua reforçando positiva ou negativamente tais comportamentos (Meneghini &

Campos-de-Carvalho, 1997).

Reforçando esta idéia, Bronfenbrenner (19961) afirma que desenvolvimento

implica em processos através dos quais características da pessoa e do ambiente

interagem, produzindo tanto continuidade quanto mudança no indivíduo durante o curso

de vida e no modo como o mesmo percebe e negocia com seu entorno. Isto é, de acordo

com o autor, durante a vida, as pessoas desenvolvem inúmeras capacidades para

descobrir, manter ou alterar as propriedades do lugar, as quais, por sua vez, também

exercem influência nas características delas próprias.

A Psicologia Ambiental é uma das áreas do conhecimento que estuda estas

inter-relação entre o ambiente e o comportamento humano. Ela vê o homem como um ser que

atua sobre o seu ambiente e que, reciprocamente, sofre a influência deste, ou seja, ao

modificar o lugar em que está, modifica a si mesmo (Ittelson, Proshansky, Rivlin &

Winkel, 1974).

Atualmente, tem crescido o interesse em estudar o relacionamento da criança

com o espaço com o qual convive. Sob essa perspectiva, diversos pesquisadores

(Campos-de-Carvalho & Ferreira, 1993; Fedrizzi, 2002; Koller, 2004; Legendre, 1995;

(17)

Liempd, 1999; entre outros) vêm analisando as implicações desse relacionamento para o

desenvolvimento infantil e para o planejamento de espaços lúdicos (Bastianini, Chicco

& Meia, 2002), de modo a refletir sobre suas conseqüências comportamentais e

potencialidades.

Apesar desse reconhecimento, de modo geral os ambientes destinados à criança

continuam a ser planejados e organizados pelos adultos, de acordo com seus objetivos

pessoais, sendo construídos com base em suas expectativas sócio-culturais sobre os

comportamentos e desenvolvimento infantis (Campos-de-Carvalho & Rubiano, 1994;

Lima, 1989; Weinstein, 1987).

A escola é um local extremamente privilegiado para tais estudos. No ambiente

escolar, a maioria das pesquisas para compreensão da relação ambiente-interação

infantil é realizada em espaços fechados, como salas de aulas. Ainda são poucas as

investigações sobre a influência de espaços abertos e a disposição dos objetos sobre os

comportamentos infantis e seus relacionamentos (Fedrizzi, 2002). Porém, esses espaços

vêm se tornando cada vez mais importantes para o desenvolvimento infantil, já que com

o crescimento das cidades e da violência urbana, são nos pátios escolares que as

crianças podem brincar, socializar-se e interagir com a natureza (Elali, 2003). Pensar

sobre esses espaços pode contribuir para sua melhor organização de maneira a favorecer

as interações entre crianças, já que no período escolar a socialização começa a se

apresentar como forte elemento para o desenvolvimento humano.

Especificamente em Natal-RN, em uma pesquisa desenvolvida por Elali (2002),

verificou-se que o ambiente para educação infantil não tem sido planejado

adequadamente e que as áreas livres são, geralmente, escassas e com poucos

equipamentos e recursos naturais. De acordo com a autora, esse fato é preocupante, já

(18)

afetivo, cognitivo e social, além disso, segundo os mestres na área de desenvolvimento

infantil, nessa idade as bases da personalidade são construídas, nela também ocorrendo

grande parte do aprendizado total.

Tendo como base este tipo de constatação e a fim de auxiliar a compreensão da

dinâmica de interação infantil nos espaços abertos da escola, subsidiando o

planejamento de espaços mais propícios ao desenvolvimento saudável das crianças, este

trabalho tem uma pergunta de partida: Como acontece a utilização e o comportamento

de interação entre crianças nas diferentes áreas e equipamentos de um pátio de

pré-escola?

Para responder à pergunta de partida foi definido como objetivo geral da

dissertação: investigar a utilização das diferentes áreas de um pátio de pré-escola e

analisar os comportamentos de interação entre as crianças nesses locais. É importante

salientar que: (i) o comportamento de interação das crianças foi discutido com base na

classificação proposta por Parten (1932, corroborado e citado por Sager, Sperb, Roazzi

& Matins, 2003) (ver item 3.3.5 do Método); (ii) o ambiente de pátio corresponde ao

conjunto das características do espaço (dimensões, elementos constitutivos – água,

areia, cimento, etc), equipamentos disponíveis (tipo, quantidade e disposição dos

brinquedos, lixeiras, telefones) e elementos naturais (árvores, plantas, etc.) existentes na

área livre utilizada pelas crianças.

Os objetivos específicos são:

- Observar o uso do pátio durante o recreio;

- Analisar os diferentes estados interacionais entre as crianças durante o uso do pátio

em atividades livres no horário do recreio;

- Analisar os tipos de brincadeiras realizadas em função da área do pátio na qual as

(19)

Como reflexo do percurso apresentado, a dissertação está dividida em seis

capítulos. O primeiro, intitulado Psicologia Ambiental e o Desenvolvimento Infantil,

apresenta um breve resumo sobre a essa área, revelando aspectos como campo de

estudo, métodos utilizados e interesses, além de conter uma discussão sobre o

desenvolvimento infantil, sob o ponto de vista da Psicologia Ambiental. No segundo

capítulo (Ambiente escolar), é abordada a importância dos espaços escolares,

destacando a educação infantil e as pesquisas sobre a relação criança-ambiente escolar.

O capítulo seguinte discute os pátios escolares, enfatizando alguns aspectos importantes

a serem considerados em seu estudo, como tamanho, qualidade e tipo de brinquedo,

idade e gênero das crianças. A próxima seção trata do método utilizado para realização

da pesquisa, no qual são descritos a instituição escolhida e os procedimentos adotados.

Em seguida, encontra-se o capítulo com os resultados obtidos a partir dos estudos

preliminares e do mapeamento comportamental centrado-no-lugar e

centrado-na-criança. O sexto capítulo corresponde à discussão dos resultados, sendo seguido pelas

(20)

Capítulo 1- Psicologia Ambiental e o Desenvolvimento Infantil

Grande parte dos estudos sobre o processo de desenvolvimento humano

reconhece a importância do ambiente para a formação dos invidíduos. Teóricos como

Piaget, Vygotsky e Wallon atribuíram, implícita ou explicitamente, importância à

interação de fatores cognitivos-afetivos, relacionais e sociais para o completo

desenvolvimento do indivíduo. Piaget afirma que a criança desenvolve a sua capacidade

intelectual interagindo com objetos do ambiente onde ela vive e utilizando diversos

mecanismos de aprendizagem, os quais não lhe precisam ser explicitamente ensinados.

Justamente por isso torna-se cada vez mais necessária a criação de locais estimulantes,

que convidem a criança a aprender, a descobrir, a pesquisar (Zabalza, 1998).

Apesar deste reconhecimento sobre a importância do ambiente no

desenvolvimento humano, grande parte das teorias sobre este tema não discute a relação

indivíduo-ambiente na elaboração de suas idéias.

1.1 Situando a Psicologia Ambiental

Na busca pela compreensão da inter-relação entre o ambiente e o

comportamento humano surgiu a Psicologia Ambiental, cujas primeiras publicações

ocorreram a partir da década de 50 nos Estados Unidos, sendo considerada, portanto,

uma disciplina bastante jovem. Entre suas linhas de pesquisa está a análise do modo

como o indivíduo percebe e avalia o ambiente, tanto natural quanto construído, tomando

como ponto de partida a idéia de uma relação bidirecional entre homem e ambiente.

Essa inter-relação é dinâmica (Moser, 1998; Proshansky, Ittelson & Rivlin, 1970), pois,

ao mesmo tempo em que os indivíduos agem sobre o ambiente (por exemplo,

construindo-o ou simplesmente mudando a posição de uma cadeira), este influencia as

(21)

enquanto uma avenida movimentada dificulta tal contato, mesmo que estando em

calçadas opostas, essas pessoas possam ver uma a outra).

Dessa forma, o objeto de estudo dessa área de pesquisa enfatiza problemas

específicos e soluções, a partir da ênfase na influência mútua de elementos do ambiente

e fatores comportamentais. Nesse sentido, a todo instante, o ambiente atua sobre o

modo como se apreendem os fatores contextuais, assim como os sentimentos,

percepções e ações dos indivídos/grupos afetam os componentes sócio-físicos do lugar.

De um lado há o espaço objetivo, composto de elementos físico-quimicos que

influenciam as sensações, percepções e ações das pessoas; e de outro, os seres humanos

alterando a composição dos lugares (Corral-Verdugo, 2005).

O ambiente físico é considerado como um aspecto essencial na Psicologia

Ambiental (Altman & Rogoff,1987), cuja organização, elementos constituintes e o

desing influenciam de maneira significativa na forma como o indivíduo irá agir. Por

outro lado, o comportamento humano afeta o ambiente físico de modo que a interação

humano-comportamento tem implicações sobre a dimensão químico-física da realidade

(Corral-Verdugo, 2005).

Diversos são os temas abordados pela Psicologia Ambiental, segundo Gifford

(1987), eles podem ser organizados em três grandes grupos: processos individuais

(percepção e avaliação do ambiente, personalidade e ambiente), processos sociais

(espaço pessoal, territorialidade, aglomeração, privacidade) e processos societais

(comunidade, ambientes específicos como trabalho, viagem, lazer, planejamento de

ambientes apropriados, e promoção ambiental/ecológica).

Diante da variação temática, e para abarcar o estudo da interrelação

pessoa-ambiente, as pesquisas na área, geralmente, adotam uma postura interdisciplinar

(22)

trabalhar com arquitetos, geógrafos, biólogos, paisagistas, antropólogos, médicos, entre

outros. Pode-se citar como exemplo, a troca de conhecimentos entre a Psicologia

Ambiental e a Arquitetura. Como esta trabalha com o planejamento do espaço físico,

lugares onde o indivíduo irá se desenvolver, criar uma família, ter filhos, tornando-se

bastante importantes para sua vida (Moser, 1998), ao tratar com os arquitetos sobre esse

espaço construído, os psicólogos ambientais podem contribuir para uma compreensão

mais aprofundada da dinâmica ocupacional dos espaços, no que se refere à

reciprocidade homem-ambiente. Apenas a perspectiva interdisciplinar pode assegurar

que as pesquisas e práticas nesta área sejam realmente válidas e relevantes (Uzzel,

2005), e só se faz eficaz se todas as áreas envolvidas colaborarem sobre bases explícitas

e o façam de forma igualitária (Moser, 2005).

A presença de profissionais de diversas áreas, combinando diversos objetivos

práticos e teóricos, contribuiu para uma grande variação dos métodos empregados na

área (Holahan, 1991). É preciso destacar que os psicólogos ambientais procuram estudar

os seres humanos em seus contextos diários, buscando analisar o comportamento tal

como ele aparece, com o ambiente exercendo papel integral no processo (Ittelson et al.,

1974). Nesse sentido, a pesquisa ambiental analisa o mundo real e somente utiliza o

laboratório quando realmente necessário (Stokols, 1978). Devido a essa amplitude dos

estudos, não se pode utilizar uma abordagem metodológica única, sendo incentivada a

utilização de multimétodos (adoção simultânea de diferentes fontes e técnicas para

coleta de dados), o que colabora para o enriquecimento da avaliação, aumentando

significativamente o âmbito dos elementos envolvidos no processo analítico (Sommer

(23)

Para tanto, além de utilizar métodos da Psicologia e áreas afins, a Ambiental

desenvolveu métodos próprios, como é o caso da análise de behavior setting (Barker,

1968), e do mapeamento comportamental.

Finalmente, verifica-se que a Psicologia Ambiental apresenta-se como uma

disciplina múltipla em suas abordagens, contemplando diversos temas e metodologias,

cujas intervenções buscam promover à saúde e bem-estar dos indivíduos, seja ao nível

do espaço privado, do habitat coletivo, do bairro, dos parques e espaços verdes, das

cidades, assim como da relação com o ambiente em sua totalidade (Moser, 2005). Dessa

forma, a partir de sua interdisciplinaridade, ela compromete-se com a qualidade de vida

humana.

1.2 Desenvolvimento Infantil: enfoque da Psicologia Ambiental

1.2.1 A Psicologia do Desenvolvimento

O desenvolvimento humano pode ser definido como um conjunto de mudanças

relativamente duradouras e ordenadas que acontecem ao longo da vida, tanto nas

estruturas físicas e neurológicas, como nos processos cognitivos e comportamentais.

Baseando-se nessa idéia, os estudos da psicologia do desenvolvimento possuem três

objetivos principais: entender as mudanças que parecem ser universais, explicar as

diferenças individuais, e compreender como o comportamento humano é influenciado

pelo contexto ou situação (Mussen, Conger, Kagan & Huston, 1995).

Para Piaget, o desenvolvimento é um processo que ocorre quando acontecem

ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando um desequilíbrio, resultam em

assimilação (processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o

organiza, possibilitando a ampliação das estruturas do próprio sujeito), ou acomodação

(24)

objeto a ser assimilado) e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Dessa

forma a criança é uma participante ativa no desenvolvimento, construindo seu próprio

entendimento e buscando adaptar-se ao mundo que a cerca de maneiras cada vez mais

satisfatórias (Bee, 1996; Piaget, 1967/1991).

Porém, para que este processo aconteça de modo adequado, segundo Wallon, as

interações com as outras pessoas são essenciais, pois objetivam não só a satisfação das

necessidades básicas, como também a construção de novas relações sociais, com o

predomínio da emoção sobre as demais atividades. As interações emocionais devem se

pautar pela qualidade, a fim de ampliar o horizonte do indivíduo e levá-lo a transcender

sua subjetividade e inserir-se no social. Na concepção walloniana, tanto a emoção

quanto a inteligência são importantes no processo de desenvolvimento humano (La

Taille, Dantas & Oliveira, 1992; Wallon, 1945/1989).

Dessa forma, é a partir do ambiente em que a criança se encontra, que ela

constrói seus conhecimentos e comportamentos sociais. Para explicar esse processo

Vygotsky criou um conceito chamado zona de desenvolvimento proximal, que se refere

à distância entre o nível atual – determinado a partir da solução de problemas pela

criança, sem ajuda de alguém mais experiente – e o nível potencial de desenvolvimento

– medido através da solução de problemas sob a orientação de adultos ou em

colaboração com crianças mais experientes. Nesse sentido, o desenvolvimento surge em

dois níveis, primeiro no nível social, entre as pessoas (interpsicológico), e depois,

dentro da criança (intrapsicológico) (Oliveira, 1995; Vygotsky, 1930/1984).

Apesar de revelarem o contexto como elemento importante, observa-se que a

maioria das teorias do desenvolvimento humano tem a relação indivíduo-ambiente

como pano de fundo para estudos mais diretamente focados na criança e seus processos

(25)

1.2.2 O enfoque da Psicologia Ambiental

Dentro da vasta amplitude temática da área ambiental, a interação das crianças

com os contextos em que elas atuam e o modo como esses contextos afetam suas

interações, têm despertado o interesse de muitos pesquisadores ambientais (Sager et al,

2003).

Para se compreender como ocorre essa interrelação criança-espaço, é preciso

esclarecer o conceito de desenvolvimento infantil dentro dessa área, salientando-se que

a integração entre a Psicologia Ambiental e a do Desenvolvimento surge como

necessária para a compreensão do processo de formação humana (Campos-de-Carvalho

& Ferreira, 1993; Moore, 1987; Stokols, 1978). Este pode ser definido como "o

conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente

interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de

sua vida" (Bronfenbrenner, 1989, p. 191). O ambiente inclui aspectos físicos, tanto

quanto aspectos sociais e, assim, o desenvolvimento pode ser estabelecido como um

processo de interação recíproca entre a pessoa e o seu contexto, no decorrer do tempo.

Segundo Bronfenbrenner (1996), o ambiente deve ser entendido como uma série

de estruturas encaixadas, uma dentro da outra, sendo estas referentes à interação de

quatro níveis: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema.

Quando a criança nasce, ela torna-se, primeiramente, membro da família. Este é

para ela seu primeiro sistema, o microssistema, que é definido como um padrão de

atividades, papéis e relações interpessoais experenciados pela pessoa em

desenvolvimento em um ambiente com características físicas e materiais específicas

(berço, quarto). Experienciados significa dizer que estão incluídas não apenas as

propriedades objetivas do local, como também o modo como a pessoa percebe essas

(26)

Com o crescimento, a criança começa, gradativamente, a freqüentar novos

contextos, e assim interagir com vários microssistemas; o conjunto destes é o que se

chama de mesossistema. Podem ser incluídas as inter-relações entre dois ou mais

ambientes, nos quais a pessoa participa ativamente (as relações na escola, com amigos

da vizinhança). Esse sistema vai sendo ampliando à medida que o indivíduo passa a

freqüentar outro espaço, ocorrendo uma influência mútua entre os diversos contextos

utilizados pela pessoa. Dessa forma, quando a criança está em um determinado lugar,

por exemplo, na escola, ela também sofre influências da família.

O próximo nível é o exossistema, que está relacionado com aqueles ambientes

em que a pessoa em desenvolvimento não atua ativamente, mas que a influenciam de

alguma maneira. Por exemplo, são as decisões tomadas pela diretoria da escola da

criança, que acabam por afetá-la, bem como os acontecimentos no local de trabalho dos

pais.

Todas as pessoas estão sujeitas à cultura, aos valores e às crenças que estão

presentes no lugar onde vivem. Esse conjunto de aspectos forma o macrossistema, que

abrange aspectos pouco palpáveis do contexto no qual a pessoa está inserida (por

exemplo, elementos culturais), e que são vivenciados e assimilados no decorrer do

processo de desenvolvimento. Numa sociedade específica, locais como agências

bancárias ou os playgrounds das escolas, são muito parecidos e funcionam de forma

semelhante entre si, mas talvez possuam grandes diferenças quando comparados com

outros países. De acordo com Bronfenbrenner (1996), é como se em cada país, os vários

ambientes tivessem sido construídos a partir do mesmo conjunto de plantas ou

esquemas, que podem ser bastante diferentes quando comparado com os de outros

países. Dessa forma, as relações estabelecidas nas escolas de um país podem ser

(27)

Esses quatro sistemas, microssistema, mesossistema, exossistema e

macrossistema, interagem de forma dinâmica influenciando decisivamente o

desenvolvimento (Figura 1). Mais recentemente, Bronfenbrenner e Ceci (1994)

apresentaram o modelo biológico, que é resultado da combinação

processo-pessoa-contexto e cronossistema (relativo ao aspecto temporal).

Figura 1. Esquema de Desenvolvimento Humano segundo Bronfenbrenner

Fonte: Adaptado de Bronfenbrenner, U. (1996) A Ecologia do Desenvolvimento Humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas

A criança se constrói a partir desta interação com o ambiente, incluindo os

aspectos físicos e os sociais que fazem parte do contexto no qual se encontra. É através

do conjunto de relações, nos diferentes sistemas, que ela constrói seus conhecimentos e

suas habilidades (Koller, 2004).

(28)

Dessa forma, o indivíduo está, a todo momento, lidando com novos contextos e

espaços, o que proporciona o que Bronfenbrenner (1996) chama de transição ecológica,

ou seja, a mudança de papel e/ou ambiente fazendo com que a pessoa altere sua posição

no contexto em que está. Esse fenômeno acontece ao longo de toda a vida e implica no

processo de mútua acomodação do indivíduo e seus ambientes, que marca o

desenvolvimento humano.

A criança é agente de seu próprio desenvolvimento, na medida em que atua

selecionando as suas atividades, seus lugares preferidos, seus colegas; mas também é

influenciada pelo mesmo ambiente, que atua sobre ela, facilitando, contribuindo e, até

(29)

Capítulo 2- Ambiente escolar

2.1 A importância do ambiente escolar

O ambiente exerce impacto direto e simbólico sobre o comportamento das

pessoas que o usam, seja de modo a facilitar ou dificultar certas atividades, seja

comunicando mensagens simbólicas acerca das expectativas das pessoas que o

organizam e o dirigem (David & Weinsten, 1987).

Os espaços para criança, em sua maioria, são planejados e organizados pelos

adultos. Isso faz com que muitas vezes esses locais supram muito mais as expectativas

dos próprios adultos do que dos reais usuários, as crianças, embora estas sejam capazes

de participar ativamente do processo de elaboração e modificação dos locais nos quais

se inserem, oferecendo sugestões e indicações para a distribuição de mobiliário e

objetos (Sanoff, 1992). Para isso, faz-se necessário organizar o espaço de maneira a

estimular a curiosidade e a imaginação da criança, provendo a existência de elementos

inacabados para que ela possa transformar esse espaço através de sua própria ação

(Lima, 1989). Por exemplo, em uma sala-de-aula, as crianças podem ajudar na

organização dos objetos e também na decoração, introduzindo desenhos e escolhendo as

cores para o lugar (Weinsten, 1987).

A partir disso, e também partindo da compreensão de que desenvolvimento

infantil ocorre nessa interação com o ambiente, vários pesquisadores vêm estudando os

espaços para crianças de forma a contribuir para a elaboração de lugares saudáveis para

seu crescimento e também suprir as necessidades que elas próprias possuem (David &

Weinsten, 1987). Assim, estudos da relação criança-espaço tornaram-se importantes

porque valorizam os interesses das pessoas que usam o local, como também favorecem

um maior conhecimento das relações que esses estabelecem entre si. Nesse tipo de

(30)

nele as crianças passam grande parte de seu tempo ativo, vivenciando importantes

momentos de suas vidas e desenvolvendo as suas primeiras habilidades sociais e

intelectuais (Sager et al., 2003).

Várias questões surgem diante do tema ambiente escolar. Na escola, quais os

aspectos que favorecem ou dificultam o processo de aprendizagem? Como o ambiente

escolar pode auxiliar o desenvolvimento do desempenho social de seus alunos e

professores? Como a comunidade escolar pode utilizar o espaço físico para promover o

as capacidades dos seus alunos? Que fatores podem contribuir para o fortalecimento da

relação entre escola-família-comunidade?

De acordo com Lima (1989), a escola é uma organização que envolve uma

grande complexidade de relações formais e informais, as quais permitem inúmeras

interações entre seus membros. Tais relações caracterizam-se pela interdependência e

fazem parte da construção da história de vida de cada um, podendo ser ampliadas

individual e coletivamente para outros ambientes ou organizações. Nesse sentido, a

escola configura-se como um dos maiores agentes socializadores de nossa cultura, pois,

além de promover a divulgação dos conhecimentos, também permite a transmissão dos

valores entre gerações (Martin-Baró, 1992).

O meio físico é um elemento da escola que atua de forma não-verbal,

possibilitando aos alunos compreenderem as intenções e valores dos professores, e até

mesmo incorporarem as normas sociais ali presentes (Horne, 1999; Loureiro, 1999).

Levando em conta a cultura na qual a pessoa está inserida, os ambientes construídos

pelo homem fornecem aos usuários informações sobre a maneira como aquele lugar

pode ou deve ser utilizado. Segundo Elali (2003), os móveis existentes e sua

organização nas salas de aula comum, oferecem as expectativas de ocupação do lugar.

(31)

mútuo professor-alunos e das normas institucionais. Além disso, o arranjo espacial da

mobília e as condições ambientais da classe (acústica, temperatura, insolação,

ventilação, luminosidade) podem atuar sobre o aluno, em aspectos como sua

sociabilidade, seu desempenho acadêmico (Sommer, 1973) e mesmo suas condições de

saúde. Crianças de pré-escola, por exemplo, precisam de um lugar que lhe ofereça

segurança e conforto, e, ao mesmo tempo, mostre claramente limites e diferenças com

relação à moradia familiar. Segundo Weinsten (1987), existem várias maneiras para que

o ambiente físico contribua nesse aspecto, como, a existência de lugares próximos à sala

da criança, onde os pais possam conversar e se despedir do filho.

2.2 O ambiente na Educação Infantil

2.2.1 Objetivos da Educação Infantil

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada

em 20 de dezembro de 1996, a Educação Infantil é a 1ª etapa da Educação Básica e tem

como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus

aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da

comunidade. As instituições que oferecem esse tipo de ensino são as creches, para as

idades entre 0 e 3 anos, e as pré-escolas, entre 4 a 6 anos.

Historicamente, no Brasil, a função da Educação Infantil tem sido encarada de

diversas formas: como assistência social, como ação sanitária ou higiênica e, mais

recentemente, como atuação pedagógica.

Com esse intuito pedagógico, a Educação Infantil tem como um de seus

objetivos preparar a criança para o ingresso no Ensino Fundamental. Por isto é preciso

desenvolver suas habilidades cognitivas: treina-se a coordenação motora; ensina-se o

aluno a reconhecer e copiar letras e números; e, a fim de promover a boa saúde,

(32)

pré-escola procurar proporcionar, o desenvolvimento da autonomia do estudante, isto é, a

capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e

possam ser negociadas com outras pessoas, sejam eles outros colegas ou adultos.

Obviamente, esta construção não se esgota no período dos 0 aos 6 anos de idade, devido

às próprias características do desenvolvimento infantil, mas tal elaboração necessita ser

iniciada naquele momento (Figueiredo, 2002).

Na organização desse trabalho pedagógico, o adulto/educador e os alunos têm,

ambos, papéis ativos. Cabe ao primeiro pesquisar e conhecer o desenvolvimento infantil

a fim de poder organizar atividades nas quais seus alunos possam experimentar diversas

situações, e atuar sobre elas. Para que o estudante possa alcançar estes objetivos, o

modelo pedagógico deve proporcionar-lhe ocasiões em que necessite fazer escolhas,

tomar decisões, socializar conquistas e descobertas. O espaço é um dos fatores que pode

favorecer tal processo.

2.2.2 Os espaços na pré-escola

À medida que a pessoa cresce, além de sua residência, ela passa a ter contato

com novos lugares e contextos, e o ambiente escolar passa, geralmente, a ser o segundo

espaço de maior utilização. Nesse sentido, a escola de educação infantil deve ser

planejada e organizada de modo a suprir as suas necessidades e expectativas.

A interação da criança com os lugares, objetos e com as pessoas na pré-escola,

proporciona algumas de suas primeiras construções sobre habilidades, relações com os

outros e conhecimentos a respeito do mundo em que vive. Para que isto ocorra, é

preciso que a criança não se sinta limitada, nem por barreiras espaciais do lugar, nem

por restrições da equipe pedagógica, embora precise aprender a lidar com regras e

normas. Suas diferenças e experiências individuais, principalmente na pré-escola,

(33)

A educação infantil comporta uma intensa variedade de atividades, que

possibilitam o contato dos alunos com vários aspectos intelectuais e sociais. Para

proporcionar isso, a pré-escola precisa ser organizada de maneira a garantir uma

flexibilidade dos ambientes (internos e externos) e, com isso, possibilitar as necessárias

variações nos programas estabelecidos, o que é facilitado por arranjos espaciais

constituídos de materiais leves que possam ser rearranjados por adultos ou crianças

(Elali, 2002).

Outro aspecto importante são os brinquedos. Brincar é uma experiência

fundamental para qualquer idade, especialmente para as crianças entre 3 e 6 anos, que

descobrem o mundo que as cerca, se organizam e socializam através dos papéis que

desempenham nas brincadeiras (Moraes & Carvalho, 1987). Portanto, é imprescindível

que os alunos encontrem na escola um lugar propício para o desenvolvimento de suas

brincadeiras. Os espaços e a quantidade de brinquedos disponíveis devem ser

suficientes para que todos os estudantes consigam elaborar suas atividades com

tranquilidade. Além disso, as relações de densidade assumem grande importância, já

que em ambientes excessivamente densos (muita criança para o espaço disponível)

podem surgir problemas, como o estresse individual, conflitos, tumultos (Souza, 2005;

Elali, 2002). Quando uma pré-escola está lotada de alunos ou apresenta-se

inadequadamente equipada, pode-se produzir agressividade e irritabilidade. Para evitar

tais dificuldades, os espaços devem ser cuidadosamente organizados, de forma a

impedir aglomerações e facilitar até mesmo a cooperação entre os estudantes, por

exemplo, fazendo-os aprender a dividir os materiais (Mussen et al., 1995).

Observando-se esses fatores na elaboração dos espaços na pré-escola, a vivência

do aluno torna-se mais rica e maiores serão as possibilidades de experiências positivas

(34)

2.3 A relação comportamento infantil e ambiente escolar

Diversos estudiosos têm investigado como acontece a relação comportamento

infantil - ambiente escolar. Moore (1986) buscou entender essa interação analisando 14

creches, nas quais observou a existência de locais em que o comportamento exploratório

ocorria com maior freqüência. Ele relacionou isso à área com uma maior definição

espacial, onde existiam barreiras acústicas e visuais separando-a dos demais espaços.

Em outro estudo, Moore (1987) verificou a relação entre comportamento infantil e os

ambientes de seis diferentes creches, que classificou em abertas, com poucas paredes

dividindo o local em compartimentos; fechadas, espaços totalmente formado por salas;

e com ambientes aberto-modificado, comunicação entre salas pequenas e grandes,

permitindo às crianças visão e acesso a vários ambientes. Este último foi aquele que

mais contribuiu para a ocorrência de comportamentos cognitivamente orientados, como

engajamento em atividades educacionais, comportamentos exploratórios e socialização.

Em uma de suas pesquisas, Legendre (1995) analisou, em sala de aulas, a

influência de zonas circunscritas (áreas localizadas em cantos, delimitadas em pelo

menos três lados por barreiras formadas por mobiliário, paredes, ou diferenças no nível

do solo) nas interações infantis, considerando três tipos de arranjos espaciais:

semi-aberto (caracterizado pela presença de zonas circunscritas, oferecendo à criança uma

visão ampla e total do espaço), aberto (ausência de zonas circunscritas, havendo um

espaço central vazio) e fechado (presença de barreiras físicas que dividem o ambiente

em duas ou mais áreas, impedindo a visão total do lugar). Foi verificado que, em

arranjos espaciais abertos, as crianças escolhiam brincar em áreas próximas ao

educador, em contrapartida com arranjos semi-abertos. Observando as áreas mais

(35)

Em pesquisa semelhante realizada no Brasil, Campos de Carvalho e

Rossetti-Ferreira (1993) modificaram o arranjo espacial de salas de aula de duas pré-escolas,

com o objetivo de analisar as interações infantis nos locais. Também nesse caso, as

crianças mostraram preferência pelas zonas circunscritas, nas quais formaram pequenos

grupos, realizando suas próprias atividades sem necessidade de um adulto presente e

sem a interrupção dos colegas. As autoras indicam que essas zonas seriam preferidas

por gerarem proteção e aconchego, além de proporcionarem aos alunos maior

concentração em suas atividades e no comportamento de seus pares, facilitando as

(36)

Capítulo 3- Os pátios escolares

Apesar de sua importância em termos de dimensão (m2) e como local de

atividade e interação social, na maioria das escolas brasileiras, os pátios escolares ainda

são vistos apenas como um lugar onde as crianças podem ficar quando não estão

desenvolvendo suas atividades em sala de aula, e por isso, de maneira geral, não seguem

um projeto definido (Fedrizzi, 2002). O Ministério da Educação não estabelece critérios

específicos para a construção dos pátios das escolas, sua única recomendação é que a

área livre da escola deva ocupar 50% do terreno disponível (Brasil, 1998, 1993, 1985).

Porém, não é suficiente julgar somente a metragem do terreno, é preciso buscar a

qualidade do espaço.

Nos últimos anos, o interesse no estudo das áreas livres das escolas tem crescido

em todo mundo, sendo a qualidade de vida das crianças associada à existência de pátios

escolares amplos e diversificados (Fedrizzi, 2002; Moore, 1986; Sanoff & Sanoff,

1981). A maior atenção a esses espaços provavelmente deve-se à gradativa diminuição

das áreas para brincadeira tanto nas residências das famílias, quanto na cidade, devido

ao adensamento da área urbana e ao crescimento da criminalidade e do tráfego de

veículo nas ruas, de modo que a presença de áreas livres, com riqueza de estímulos e

possibilidades de realização de múltiplas atividades, tem assumido cada vez maior

importância na delimitação dos ambientes destinados à educação infantil (Elali, 2003;

Hart, 1987).

Um pátio escolar atrativo e bem organizado pode facilitar o desenvolvimento

social, cultural e intelectivo (Fedrizzi, 2002). Para maior conhecimento sobre a

ocupação desse ambiente, os pesquisadores na área têm analisado: (i) seu tamanho e

densidade física; (ii) a quantidade e o tipo de brinquedos disponíveis; (iii) gênero e

(37)

3.1 Aspectos importantes

3.1.1 O tamanho e a densidade física do pátio

O tamanho do pátio é um fator que começou a ser discutido visando definir-se a

dimensão ideal para a área livre da escola. Segundo Moore (1986), a partir de estudos

feitos em centros de cuidado de crianças entre 2 a 5 anos nos Estados Unidos e Canadá,

existem três tipos de pátios2: mínimo (7,5 m2/criança), recomendado (10m2/criança) e

generoso (20m2/criança). Essas dimensões ainda estão sendo discutidas e o tamanho

ideal para o pátio continua sendo analisado, já que outros aspectos (organização do

lugar, tipos de brinquedos, idade das crianças, entre outros) também precisam ser

estudados no planejamento desses espaços.

Para Liempd (1999), os pátios deveriam ter mais de 6m2 por aluno, pois em

lugares menores as crianças não podem brincar livremente, sendo preciso organizar um

sistema de rodízio de grupos para a realização das brincadeiras, além de evitar certos

tipos de atividades, por se tornarem perigosas pela falta de espaço e possibilitarem a

ocorrência de colisão e acidentes entre os participantes.

Vários problemas podem surgir a partir da falta de espaço em contextos

escolares. Segundo Hart e Sheenam (1986), quando se limitam os espaços, o tempo e as

oportunidades oferecidas aos alunos nos intervalos, aumenta-se a correria, os conflitos,

a aglomeração, a apropriação dos melhores espaços pelas crianças mais velhas e

disputas, ou seja, ocorre uma redução da socialização e das interações saudáveis.

De modo geral, a quantidade de conflitos e agressões verificadas em diversos

estudos em sala e pátios escolares aumenta quando o número de crianças é maior nesses

locais. Em uma pesquisa realizada através de entrevistas com professores, foi

observado que o aumento da quantidade de alunos nas salas gerava um crescimento de

2 Medidas aproximadas, calculadas em função do sistema métrico decimal, sendo o original em

(38)

problemas nas relações entre eles, com presença de angústia e altos níveis de irritação e

frustração (Campbell & Dill, 1985).

De acordo com o estudo de Smith e Connolly (1980), a formação de grupos de

brincadeiras foi menos comum em ambientes com um alto número de estudantes.

Quando os alunos foram colocados em locais com menos de 1,0 m2 por criança,

verificou-se uma diminuição das interações e afetos positivos, além de um aumento nos

níveis de agressão.

Porém, para Lindholm (1995, citado em Fedrizzi, 2002), o tamanho não é o

único elemento que deve ser verificado, a forma dos lugares também influencia as

atividades desenvolvidas. Para tornar o pátio mais aconchegante, especialmente para

crianças mais novas, faz-se necessária a organização das grandes áreas em espaços

menores. Os locais divididos devem ter uma variação em escala: alguns podem ser

pequenos e íntimos, outros podem ser grandes e desafiantes, e isso parece aumentar as

possibilidades de utilização. A combinação de espaços com diferentes qualidades,

tamanhos e formas é importante para permitir diferentes atividades e proporcionar

múltiplos acontecimentos. Nos pátios escolares pequenos, também é preciso criar áreas

para diferentes atividades, já que isso irá favorecer a sensação de aconchego e ampliar

as possibilidades de uso (Fredizzi, 2002).

Analisando os padrões de conflitos nas interações de crianças da escola infantil

com o ambiente físico em função do gênero e dos tipos de brinquedos, Sager e Sperb

(1998) observaram diferenças entre os dois contextos estudados: sala de aula e pátio. No

primeiro, os atritos associaram-se, de forma geral, às brincadeiras simbólicas (por

exemplo, brincadeira de casinha), enquanto no outro os conflitos relacionaram-se às

atividades físicas (como o futebol). Por sua vez, discutindo interações entre crianças,

(39)

são mais freqüentes do que em ambientes fechados, característica que pode beneficiar

mais alguns indivíduos do que outros, caso o espaço não proporcione variedade de

atividades. Por exemplo, quando a área livre da escola apresenta um espaço pouco

diferenciado, as crianças tendem a brincar permanentemente de uma atividade, a qual

pode ser dominada sempre pelo mesmo grupo, impedindo a participação mais ativa dos

outros colegas. Segundo Liempd (1999), a existência de locais para atividades variadas

e bem definidas facilita brincadeiras mais diversificadas do que em pátios sem áreas

definidas, pois os alunos distribuem-se pelo espaço, formam pequenos grupos e os

episódios de agressão diminuem. Além disso, ele verificou que os estudantes tendem a

se concentrar mais em suas atividades quando encontram espaços organizados e bem

definidos.

3.1.2 A quantidade e o tipo de brinquedos

A disponibilidade ou quantidade de brinquedos é outro fator do ambiente que

influencia as interações infantis (Ladd & Coleman, 1992). Analisando o brincar e

associando-o à quantidade de brinquedos disponíveis, Smith e Connolly (1980)

verificaram que quanto menor era o número de brinquedos mais as crianças brigavam

ou permaneciam em atividades paralelas. Por outro lado, quando a quantidade de

objetos era muito grande, elas acabavam brincando sozinhas.

Além da disponibilidade de brinquedos, o tipo de equipamento existente também

influencia as interações entre crianças. Gilmartin (1998) afirma que a natureza do

equipamento disponível no pátio está extremamente relacionada com os

comportamentos de interação e atividades que nele ocorrem. Ela classifica esses

brinquedos como: tradicionais (balanço, escorrego, carrosel e similares),

contemporâneos (exploram materiais mais novos e contam com elementos alternativos

(40)

outros lugares onde as crianças pudessem inventar suas atividades). No Brasil, de modo

geral, as áreas livres das escolas possuem basicamente equipamentos tradicionais, só

atualmente, com o início da preocupação com esses espaços, começou-se a alterar tal

quadro.

Smith (1974, citado por Ladd & Coleman, 1992) analisou crianças brincando em

três contextos diferentes: no primeiro havia um equipamento grande, como uma casa de

brincar; no segundo havia um pequeno brinquedo (exemplo, um quebra-cabeça ou uma

boneca); e o terceiro era composto por ambos. Nesse estudo, ele verificou que as

interações e o comportamento cooperativo ocorriam com maior freqüência no ambiente

com um grande aparato, enquanto o comportamento desocupado e o brincar orientado

por adultos apareceram em maior número no contexto composto por objetos pequenos.

Em uma pesquisa feita por Rubin e Howe (1985), foi observado que materiais

como argila, areia e água proporcionavam brincadeiras de tipo mais solitárias e

paralelas, enquanto bonecas, carrinhos e jogos de chá facilitavam o faz-de-conta e a

liberação da imaginação. Além disso, Vieira (1994) verificou que as crianças

permaneciam durante mais tempo brincando com objetos que possibilitavam o

faz-de-conta, do que com outros.

A qualidade do pátio está intimamente relacionada com a quantidade de

atividade que ele pode gerar, o que, segundo Liempd (1999), não é alcançado somente

através da utilização de equipamentos prontos. Ele sugere que materiais como bolas,

cordas, sucata, podem possibilitar uma multiplicidade de brincadeiras e jogos. Outro

elemento que pode ajudar é a variedade nos tipos de solo (areia, grama, ladrilhos), o que

promove uma modificação da atividade de acordo com o lugar. Além disso, o autor

levanta a importância dos equipamentos que permitem usos variados. Para ele, as

(41)

balanço que é bastante utilizado pelas mesmas. A preferência é por equipamentos que

combinam diferentes atividades, principalmente quando há partes que possibilitam a

mudança de função. Lee (1977) também refere-se a este aspecto, afirmando que a

flexibilidade funcional, possibilitada pela presença de materiais que permitem mudanças

e novas combinações, produzem mais interação e comunicação verbal entre os pares.

Discutindo o espaço físico de pátios escolares, Sager et al. (2003) defendem que

os mesmos nunca devem ser considerados prontos e acabados, necessitando ser

constantemente modificados para atender rapidamente às necessidades das crianças,

quer por intervenção de adultos, quer por iniciativa dos próprios usuários. Segundo Hart

(1987), a participação da criança na organização desses espaços contribui não somente

para o seu bem-estar como também para a coesão do grupo de usuários. Para tanto, é

preciso disponibilizar uma variedade suficiente de materiais e equipamentos, a fim de

abarcar a diversidade de interesses e habilidades das crianças, bem como criar zonas

definidas por limites funcionais e visuais (com o intuito de facilitar as brincadeiras),

incluir espaços para atividades passivas e ativas, e ainda, áreas sociais que permitam

atividades individuais e em grupos.

Discutindo essa necessidade de constante alteração dos locais do pátio, pode-se

refletir sobre a idéia proposta por Hall (1977). Segundo o autor, existem espaços de

características fixas, semifixas e informais. Fixas, como em um banheiro, tudo tem uma

função definida e, dificilmente muda de lugar. Semifixas, como em uma sala de aula,

com mobiliário solto, podendo-se alterar a posição das cadeiras e objetos. Informais,

quando nada está definido, e são as relações que vão sugerindo os usos. Isso pode variar

de acordo com a cultura de cada lugar, como o quarto, que para os ocidentais,

geralmente, é fixo, e para um japonês semi-fixo. Para Hall, espaços com características

(42)

possibilitar organização do ambiente pelos usuários, proporcionam um maior

sentimento de integração ao lugar. O pátio pode, assim, ser planejado com

características semifixas para favorecer a identificação das crianças com as áreas

elaboradas.

3.1.3 O pátio e o gênero das crianças

Outro ponto importante que tem sido investigado é a relação entre o espaço

físico dos pátios e o gênero das crianças. Pesquisando sobre este aspecto, Smith e Inder

(1993) avaliaram a interação social de meninos e meninas de 3 a 5 anos em salas de aula

e pátios escolares, dividindo-os em grupos de mesmo gênero. Eles verificaram que os

grupos se diferenciavam mais, de acordo com o gênero, quando brincavam no pátio do

que na sala. Os grupos dos meninos se dissolviam com mais facilidade do que os das

meninas e também apresentavam mais conflitos físicos. Por outro lado, o estudo revelou

que as garotas procuravam muito mais as professoras para a realização de suas

atividades do que os garotos, demonstrando um comportamento de dependência. Os

autores levantaram a hipótese de que isso ocorreu porque, geralmente, as pessoas que

trabalham com as crianças da pré-escola são mulheres, e isso aproximaria mais as

meninas das professoras, enquanto os meninos seriam desencorajados a solicitarem seu

auxílio.

Quanto à ocorrência de conflitos e analisando a manifestação verbal dos

participantes, Hartup, French, Laursen, Johnston e Ogawa (1992, citados por Sager &

Sperb, 1998) verificaram que, para resolver os atritos, as garotas utilizaram mais a

argumentação, enquanto os garotos, geralmente, fizeram uso das ameaças e da força

física. As meninas, também, aparentaram estar mais preocupadas com o bem-estar das

interações, enquanto os meninos procuraram demonstrar dominação em relação aos

(43)

cooperação entre o grupo e eles demonstram comportamentos voltados para finalidades

individuais e bem-estar próprio.

Para Sebba (1994), as mudanças nos estágios de desenvolvimento dos meninos

são acompanhadas por significativas modificações no uso dos locais, enquanto as

meninas mantêm uma maior continuidade em relação aos lugares utilizados. Assim,

espaços usados pelos dois gêneros precisam possuir variedade, mas também

continuidade. Além disso, os garotos, a partir dos quatro anos de idade, utilizam locais

maiores que os das garotas, o que também necessita ser levado em consideração. O

planejamento e a organização dos pátios escolares precisam considerar as características

tantos dos meninos como das meninas para construção de ambientes que contribuam

para os dois gêneros.

3.1.4 Presença de natureza

Para tornar as escolas lugares mais atrativos e aconchegantes, a melhoria do

pátio é uma alternativa bastante interessante, não só para as crianças como para a

comunidade escolar como um todo. Um dos elementos que pode favorecer a qualidade

desses espaços é a existência de uma vegetação bem planejada, condensando valores

estéticos e condições de conforto (Fedrizzi, 1997).

A existência de uma vegetação adequada no pátio escolar favorece a construção

de uma perspectiva mais ecológica, fazendo com que seus usuários se conscientizem

que fazem parte de um ecossistema bastante sensível. Nesse sentido, o pátio torna-se

uma ferramenta valiosa para os trabalhos de educação ambiental, além de favorecer

atividades como cultivar plantas e induzir discussões sobre temas como os ciclos da

natureza, a qualidade e produção de alimentos, entre outros (Fedrizzi, 1999).

Segundo Korpela (2002), diversos estudos revelam a importância dos ambientes

Imagem

Figura 1.  Esquema de Desenvolvimento Humano segundo Bronfenbrenner
Figura 2.   Mapa do Campus Universitário
Figura 3.  Planta baixa atualizada do Núcleo de Educação Infantil – NEI
Figura 4:  Planta baixa com a divisão das áreas do pátio e seus setores
+7

Referências

Documentos relacionados

Figura A.43 Simulação para 10 horas de aquecimento efetivo na reabilitação da parede exterior com aplicação do isolamento pelo exterior (fachada ventilada e ETICS) para atingir

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,

Starting out from my reflection on the words cor, preto, negro and branco (colour, black, negro, white), highlighting their basic meanings and some of their

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

Fonte: elaborado pelo autor, 2018. Cultura de acumulação de recursos “, o especialista E3 enfatizou que “no Brasil, não é cultural guardar dinheiro”. Ainda segundo E3,..

Ou seja, o fenômeno transnacional acaba por repercutir também no mundo jurídico de determinado Estado, tendo em vista que as relações promovidas por um mundo conectado

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados