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INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS CENTRO DE POS-GRADUAÇ~O EM PSICOLOGIA
DUPLA JORNADA DE TRABALHO: CONFLITO DE PAPtIS SOCIAIS DA MULHER
DELFINA DA CONCEIÇAO PIMENTA
FGV/ISOP/CPGP
INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS CENTRO DE PÓS -GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DUPLA JORNADA DE TRABALHO: CONFLITO
DE PAPÉIS SOCIAIS DA MULHER
por
DELFINA DA CONCEiÇÃO PIMENTA
Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de
MESTRE EM PSICOLOGIA
o
presente trabalho utilizou conceitos da Ps i cologia Social de George H. Mead realativosã
interiorização da real i dade social. Utilizou tambem a teoria da construção social do indivfduo de Berger e Luckmann, que considera a construção do sujeito a partir da socialização primária e secundária. Fi nalmente, utilizou a teoria do papel, de Goffman.A
pesquisa procurou verificar a presença de maior antago~ismo frenie ao exercTcio da dupl~ jo~nada de trabalho,em
. .
mulheres que irabalham frira na faixa de 20-30 anos em relação a mulheres na faixa de 41-60 anos. Para tanto, utilizou-se um questionário constituTdo de duas ' part~s: a primeira, ' apresen-· tou itens que ' ~evantaram areas de conflito frente ao .
exercT-cio dos pap~is dom~sticos ~ do ·trabalho fora de casa.
A
segu~da, 'detectou os estereótipos que as mulheres possuem sobre a mulher domestica e a m~lher que trabalha fora.
o
grupQ. experimental constituiu':se de 144 mulheres da cidade do Rio de Janeiro, ' pertencente~ã
classe m~dia, di-vididas em quatro gr.upos .de 36 mulheres cada, distribuTdos àssim: dois grupos de 20-30 anos, um trabalhando fora e outro nao; dois grupos de 41-60 'anos, um trabalhando fora e outro nao.Os resultados obtidos mostraram que . o exercTcio da dupla jornada de trabalho e vivenciado de forma mais confliti va .por part ~ . das mulheres de 41'-60 anos, do que pelas
mulhe-res de 20-30 anos.
This research work has made use of concepts of George H. Mead's Social Psychology regarding the inner nature of social reality. Berger e Luckmann's theory of individual social cons-truction, which accounts for onels construction through primary and secondary socia1iz~tiont has a1so been used as well as Goff-manls role theory.
This research has tried to test the existence of greater antagonism for those submited to a dai1y 'double working routine. The test group 'consisted of emp1oged . women in the range of . 20-30 years of age and 41-60 years of age. A· list of questions divided in two parts has been used . The first parte consisted of questions dealing with conflict areas in the performance of . both domestic · services · and employment tasks , The second part tried to detect the stereotypes held by . women regarding thOS2 of ' thei~ sex p~rfoming domestic services and those working as employees .
The test group consisted of 144 midd1e-c1ass women li ving in the city Rio de Jan~iro. They were divided
,
in four groups of 36 people each, with the fo11owing distribution: two groups in the 20-30 years of agels. 'range in which one of them was constituted by emp10yed women and the other by women per-o forming only domestic services, and another two groups of the same kind but in the range Of 41-60 years of age.double working routine i~ felt with greatér intensity and con-f 1 ; c t con-f o r t ho s e w o m e n i n t h e r a n g e o f 4 1 - 6 O Y e a r s o f a 9 e t h a n for those in the 20-30 years of agels range.
Agradecimentos--- · -~---iii
Resumo--- iv
Summary---~ vi
I · - INTRODUÇ~O---~---~- 1
11 - IDENTIDADE FEMININA--- 4
2.1 - Determinantes hist6ricos--- · ---~--- 4
2 • 2 - I de n t i da d e da m u 1 h e r b r a s i 1 e i, r a - - - ..; - - - 1 6 2.3 - Es~udo dos pap~is antag6nicos femininos---:--27
111 - PAPtlS ANTAGÔNICOS FEMININOS: REVIS~O BIBLIOGRAFICA--29
3.1 - A construçio do eu e a co~stru~io do mundo---29
3.1.1 - Os outros ~ignificativos---32
3.l.2 - O outro generalizado---34
3.1.3 - A identidade como ~ma construçio que se di ' na relação com o mundo---~---~-36
3.2 Os pap~is do homem e da mulher---53
3.3 - Pap~is antag6nicos da mu1her---57
IV PESQUISA SOBRE O CONFLITO DE PAPrIS SOCIAIS DA . MULHER
,
NA rrUPLA JORNADA DE TRABALHO---69 .. I 4.1 - M~todo---70
4.1.1 - , lnstrumento---~---70
VI
5.1 - Dados relati"vos aos itens da ·prfmeira parte
. do questionirio---~--- 81
5.2 - Discussão dos dados relativos aos itens da primeira parte do questionirio---122
5.3 - Dados relativos aos itens da segunda parte do questionirio: escala de diferencial semintica--- 14l 5.4 ~ Discussão dos dados relativos aos itens da segunda parte do question~rio: escala de diferencial semintica---151
-
CONCLOSnES---~ . - -- - ---~-~---~161 .BIBLIOGRAFIA--- - ---~--- · --- - ---165
ANEXOS~---~--~---169
. .
-
.
. 1 - Questlonarlo---~~----~---1712 - Tabeias--~---~---~---177
A realidade cotidiana é construlda socialmente: o ho-mem se produz a si mesmo e a referência para esta produção e sociocultural, a partir da interação com os outros. Os outros também apreendem , a real idade e a forma tipificada como ' cada um influi e é influenciado, o que vai constituindo a realidade de cada um. Para Berger e· Luckinann .(1978L o ambiente humano e constituldo pelo homem a partir de uma totalidade sociocultu-ral e psico16gica . Assim, o eu é um produto social , 'com um ap! rato psico16gico e se dã a partir do desenvolvimento orgânico com ó processo · social, mediatizados pelos ~ outros.
Pa'ra G.eorge H. Mead (19 '53), a interiorização da rea-lidade social i~plica · · adoçãQ da atitude dos outros signifi-cativos, por parte do sujeito.
r
adotándo a atitude do outro queo indivlduo desenvolv~ a personalidade e torna-~e membro da . sociedade, desenvolve a consciência de si . Este processo se dã por intermédio da li .nguagem: adotando papéis dos membros do grupo, o indivlduo alcança suas atitudes, identifica-se, e in-terioriza assim .os· valores pertencentes ao grupo, constr6i sua personalidade. Para George H ~ Mead, o prfnclpio bãsico para a organização social humana é a comunicaç~o: O indivlduo idénti-fica-se com o outro, adquire consc'iência de si (pensa) e comu-nica o que representou internamente para o mundo. Desta forma, o indivlduo vai interiorizando, pela conduta, a relação entrêSegundo Berger e Luckmann (1978), a interiorjza~ão da realidade .socia1 no indiv1duo se dã segundo duas fases: socia-1ização primãria e socialização secundãria. Na socialização primãria, hã uma aprendizagem cognitiva e afetiva da realida-de, que e interiorizada mediante a identificação com o adulto. A socialização secundãria representa a fnteriorização das di-versas instituições sociais.
Mediante o exerclcio de papeis sociais, o indivlduo
par~icipa do mundo social: ao internalizã-los, o mundo
torna-se subjetivamente real para o sujeito. Para Berger e Luckmann ( ·1978), apr~~der' a desempenhar um papel significa apreender os conhecimentos referentes' a ·ele, ·a nlvel cognitivo e afeti.vo. A partir da social ização secundãria, o indivld·uo interioriza · os papeis sociais.
Segundo Goffman (1975), a conduta do sujeito na so-ciedade se ori~nta pelos papeis que tem a. desempenhar. Tais p! peis se caratterizam por áçõesc6nstituldas "de atitudes, carre . gadas de emoções. O sujeit.o e · llatorUcuja representação do pa-pel dotado de IIscript ll expressa um IIpersonagem" inserido no
11 d r a mas o c i a 1 11. O ho m e m r e p r e s e n ta < pa p e i s d r a m ã t i c os nas o c i e - .
dade, conferindo-lhe ~erta ideniid~de, expressa uma imagem no
11 p a 1 c o 11 · que . o personagem representado leva os outros a t e r e ma
seu r~speito. A identidade e · atribulda e transformada so~ial-mente.
.
.3
clusive a diVisão sexual ~o trabalho. O processo de socializa-' ção tonstr6i o masculino e o feminin~ de acordo com a identida
de de genero, estabelecendo assimetrias.
Alem da assimetria entre os sexos, onde a mulher tra-dicionalmente assume papeis desvalorizados pela sociedade, a realidade brasileira representa a vida cotidiana segundo uma d'icotomia onde predomi~am d9iS mund~s bãsicos e opostos: a ca-sa e a rua. A mulher vista segundo estes mundos, ou pertence
ã
casa com uma ' realidade controlada onde lhe cabe ser mae ou vir-
-gem · e representa a pureza, ou pertence a ,rua, e, como tal, e
~und~na e representa a impureza.
A pesquisa deste estudo voltou-se para o confronto da mulher frente ao · exercTcio dos papeis tradicionais e nao tra-dicionais em relação ao trabalho ~ VisQu obter dados relativos
ã
forma como á mulher vive a dupla jornada de trabalhú : comodomestica (ocupando a categoria casa) e trabalhando ' fora (ocu-pando a · catego·ria rua, nao como prostituta mas buscando outra forma de relação com o trabalho), Interessou averiguar de que maneira ela se confronta com o acumulo de tarefas, decorrente
dos papei~ estabelecidos pela socialização primãria, em
con-~
traste com os ' papeis estabelecidos pela socialização secun-dãria.
Em virtude da quantidade de dados contidos nos itens
do instrum~nto .utilizado, optou-se por trab~lhar com algu~a~
11
IDENTIDADE FEMININA
2.1 Determinantes Históricos
o
que se obs~rva ao se rever a História, e que a mu-lher foi relegadai
esfera dom~stica a partir da divisâo do trabalho entre os sexos. Paralelamente, desenvolveu-se um con-junto de id~ias que determinou não só sua imagem, como seu pa-pel na sociedade. O processo ~e socialização do indivlduo, por interm~dio das relações sociais, a partir da infância, vai re-presentando o masculino e o feminino atrav~s da identificação de · g~nero que se ~onfigura pela assimetria sexual, assimilando pap~is sociais e expectativ~s de .compdrtamento que tendo ori-.gens socioculturais se legitimam segundo um determinismo bio-lógico, como ideologicamente se deseja crer, gerandoexpecta--'
tivas de pap~is~ comportamentos ispecTficos para cada termo. A divisão sexual do trabalho resulta desta construção sociocul-tural, que varia em cada sociedade.
Os pap~is sociais ref~rentesa cada sexo vao sendo
cri~talizados atrav~s da sua institucionalização por
identifi-caça0 de g~nero. O cultural traduz o .biológico numa ótica pró-pria, legitimando expectativas de papeis opostos que considera como sen·do mais adequados para cada sexo, fundamentando, assim,
"posições assim~tricas na distribuição social ·do poder entre os sexos" (Romani, 1982, p.70~
na origem do ~odo social de produção.
Desta forma, atribuiram-se qualificativos agrupados como femin;"lidade em oposição
ã
masculinidade, conferindo-se mais uma posição privada no que se refereã
força de trabalho: assim, enquanto a mulher seria passiva, frâgil, libil emocio-nalmente, o homem seria agressivo, forte, dinâmico. Este pro-cesso de formação da i~entidade demarca o eS .paço pertinente ou "próprio" de cada sexo, segundo a representação simbólica do masculino e feminino, cabendo ao homem o espaço externo, pu-b 1 i co, eã
m u 1 h e r , o e s p a ç o i n t e r no, dom e s t i c o .o
e n t r e o s p a -peis sociais esperados,"as culturas consideram milernamente que o destino · 'natural' da mulher
e
o de esposa, conferindo a tal papel uma pre-disposição bio-lógica, e não social" . (pra?o, . 1979, p . 188). ·A identidade sexual nio se di a partir dos caracteres sexuais anatõmicos trpicos,
limas e adquirida pela criança atraves da cul-tura própria do grupo social a que pertence e~ a maneira mais segura para qu~ a criança
o con~iga, e determinar-lhe o próprio sexo
atraVes de atitudes e modelos de .comporta-me n t
°
que nã o p e rrn i t a rn e q u 1 vo c°
s" . (B e 1 o t ti,19Z9, p.26). .
"desde os primeiros anos de inf~ncia se eli-mina tudo aquilo que pode torná-las seme '!han-tes e se exalta . tudo aquilo que pode tornã-las diferentes" (Belotti, 1979, p.26).
Uma evidência destas afirmações estã nousoqueacrian-ça faz do brinquedo. A tendência ao jogo é "inata" porém a ma-neira como o utiliza e "cultural". Assim, nos jogos, na manei-ra como usa ~s brinquedos, também são expressos a diferencia-çao com base no sexo, nos papeis e nas expectativas sociais,
atra~es da reprodução, neles, da realidade social.
"PQsteriormente, se .hã de· insistir para que as meninas continuem brincando com ,bonecas, pois esse jogo e considérado um verdadeiro aprendizado para a futura função materna, ao passo que o garotinho que manifestasse pre-ferência como esta, seria dissuadido e esti-mulado pata se ocupar com outros tipos de jo-g o s a jo-g r e s s i vos e c o m p e t i t i vos" (Be.l ó t ti, 1 979,
P • 73) •
Na literatura. infantil tambem se observa a tipificação de pa-pêis sexuais 9 como determinantes da conduta masculina no homem e femini.n.a na mulher. As crianças jã aprenqein que os homens do-minam . e as mulheres obedecem. Os personagens idealizados das histõria's infantis são ' reprodutores · das concepções e y'a1ores da cultura .do mundo adulto.
"O mal-estar dà sociedade em face da mulher .reve1a-se .nessas histórias. As meninas
As sim,
"as figuras femininas das hist6rias infantis pertencem a duas categorias bãsicas: as boas e lncapazes e as malvadas. Não existe uma fi-gura feminina inteligente, corajosa, ativa e
leal. As fadas benfazejas não usam os prõ-prios recursos pessoais, mas um poder mãgico que lhes foi conferido e é positivo sem mo-tivos lógicos, assim como nas bruxas
e
mau. Falta absolutamente a figura de uma mulher c h e i a de mo t i va çõ
e s . hum a nas, a 1 t r u 1 s tas ,. que escolha lucidamente e co~ coragem o pr6prio comportamento" (Belotti, 1979, p.103/l04).7
Portanto e através do universo que caracteriza a criança que
"percebemos na infância as regras socias que determinam a distinção de sexos" (Grupo Ce-res, 1981, p.330) .
·Temos na declaração
ã
seguir, o exemplo de como este fato se dã: . "Eu sempre preferia coisa de menina. Coisade me n' i n o é b o 1 a, é . .. f o r ç a. A me n i n a é j e i -tosinha, é delicada, bonequinha ll
(depoimento de · Mariana em Espelho de Vênus,198l, p.330).
Esta ideologia milenar que influenciou o comportamen-to da mulher. interfe~iu no desenvolvime~to da sociedade de classes onde a tarefa fundamental da mulher. foi a produção da força de trabalho. Ao . longo deste processo desenvolveram-se es-truturas jur1dicas .e aspectos culturais que ajustavam a moral, a legislação e a cultura a uma consolidação e sustentação dos tipos o~ostos masculino e feminino: pa.ra a tipologia feminina
ti-pologia masculina, seu principal trabalho seria a troca e de-fesa jurldica dos bens cri~dos.
liA identidade de gênero e moldada por rela-ções sociais complexas e dinãmicas e expres-sa as contradiç6es das re1aç6e~ de poder de classe, de sexo, de raça. Ela e parte dodis-curso polltico de uma sociedade" (Romani, 1982, p . 70).
Nas sociedades pre-capita1istas, onde a famllia exis-tja como unidade de produção, as mulheres e as · crianças pos-suiam papel econ6mico fundamental .. Nâo havia a noçao de inde-pe~dência ecpn6mica, uma vez que esta veio com o capitalismo. PortantQ, a mulher não eia alheia ao mundo econ6mico. Ao con-t r
ã
ri o, s e.u p a p e 1 n e s te s e n t i do e r a f u n da ri1 e n tal, p o r p a r t i C i -par intensamente do sistema produtivo . Principalmente a -partir da Revoluçâo Industrial~ a atribuição domestica vai sendo des-valorizada e seu centro de produçâo se desloca da esfera pri-vada para a publica . A familia, ate então, e~a a unidade de produção e a mulher/criança tinham papel importante sem dife -renciação do trabalho masculino e feminino. O deslocamento ge-ra 'lIdivisão sexual" do tge-rabalho com o homem tge-rabalhando fora do lar e sendo remunerado . A mulher · trabalha no lar sem remu-neração~ e e assim que esta atividade vai sendo socialmente incorporadaã
"naturezallfeminina. (ntão, ocorre a valori~ação
"fora do processo capitalista de produçio e cfrculaçio ' de mercadorias (Moraes~ 1979,
p.75).
A instauraçio do sistema capitalista, propicia a di-visio da sociedade em classes sociais e a exploraçio econômi-ca, coloca barreiras
ã
integraçio social da mulher. Com a "in-di"vidualizaçio" ela fic,a em desvantagem social "frente-
a su-premacia masculina". A partir da transformaçio na famllia e na s i tua ç i o f e m i' n i na, o c a p i tal i s mo, a t r a ve s d a i n d u s t r i, a 1 i z a ç i o , criou a classe operiria cujos trabalhadores"nio possulam bens materiais de importância" (Lorguia e Dumoulin, 1981, p.34).
"A herança e a paternidade, pilares da faml-lia classista~ perderam ,importância economi-ca. A industrializaçio exigiu , um aumento d6 nivel cultural das c1asses exploradas. A bur-guesia. impulsionou o ensino bãsico para a mas-sa, o que significou a interve~çio obrigat~~
ria do Estado na formaçio de nova geraçâo de trabalhadores~ compartilhando-a com a faml-- lia" tLorguia e Dumoulin, 1981, p.34).
o
status jurldico da mulher no casamento tambem sofre mudan-ças: a produçio capitalista transforma topas as coisas em mer-' cadorias, criamer-' o "livre" contrato . Assim, o ser humano passatambem a ter direito de escolha do , ~arceiro segundo suas
in-clinaç~es pessoais, t~nto o homem como a mulher. Todas as for- '
"O proletariado feminino ~ uma nova força na hi ,stória, de gran·de peso para o desenvolvi-mento da sociedáde" (Lorguia e Dunioul'in, 1981,
p.34).
A presença da mulher na produção fabril foi uma necessidade da revolução industrial, fato de peso relevante no desenvolvimen-to da história.
A miquina , e~igia pouco esforço muscular, grande fle-xibiTidade. Assim, oferecia possibilidade de absorver mão-de-obra não só feminina co mó infantil. Mas a exploração de todos
(homem, mulher" c'riança) tem, como , componente principal, a ob-... . . . . tenção de lucro. A revolução industriál, pois, desloca o .cen-,tro de produção , da esfera privada para a esfera p~blica.
Reti-ra a mulher do confinamento dom~stico, onde desenvolve pap~;s
de mae, esposa e dom~stica, para novas necessidades, localiza-das fora de casa, introduzindo-a no mercado de trabalho, qua-lificando-a como mão-de-obra barata . O impulso da industriali-zaçao e urbanização modifica, pois, o papel de esposa. Portanto,
"os bens de consumo ind~strializados substi-tuem os servi ,ços prestados pela esposa. A mu-lher vai exercer sua força , de trabalho fora do lar em função da elevação do poder aqui-sitivo que gera novas necessidades de consu-mo" , (P ra do, 1979, p. 6 O) .
Reforçando a concepçao do papel fundamental ,da mulher no as-pecto econômico, Galbraith afirma:
econo-mica modernall (Prado, 1979, p.61)
Ocorre que este deslocamento do centro de produção fe-minino da esfera privada p.ara a esfera publ i ca, pode sofrer re-trocessos e manipulações . Betty Friedan (1971) mostra que durante a guerra as mulheres se desdobravam entre as atividades da casa e profissional . Ao findar a guerra, elas retornam aos lares, dando lugar, ' nos empregos aos ex-combatentes que regressavam e necessitavam trabalhar . Assim, caracterizou-se neste momento histórico um retrocesso na evolução americana, no que diz res-peito ao retorno dos preconceitos. anti-femin i stas das profis-sões liberais, legitimando, assim~ a tomada de posição das mu-lheres.
IINo após-guerra a necessidade de aumentar a natalidade impôs a valorização da mulher/ mãe, tallto em relação ao homem (reintegrar o mi-litar que retorna ao lar) como em relação
ã
nece~sidade de renovar a população dizimada
pela guerra". (Prado, 1979, p.242).
Portanto s a manipulação que ocorre no papel ' da mulher
.
~ tamb~ma de "reprodutorall em maior escala quando assim se faz
neces-sirio ao contexto social. Por outro lado,
lias esposas tornam-s,e um exercito de mão-de-obra, sempre que prontas a voltar ao lar em mo m e ri tos de' c r i s e e c o n
ô
m i c a e de sem p r e g o "(Prado» 1979, p . 84).
necessidades de sua permanência no lar. Por tradição,
"a esposa constitui a reserva de m~o-de-obra
de . cada pais. Representa massa fãci 1 . de ser manipulada, jã que o ape10 ide01ógico de vol-ta ao lar teria um impacto t~o significativo quanto os apelos aos sentjmentos de naciona-lismo e paternanaciona-lismo .. . " (Prado,1979, p . 17l) .
No ~ntanto, a experiência existiu e marcou novos
pa-drões de exigência · com ela mesma, jã n~o comportando apena$ a
atri~uição doméstica. Partilhar com o mundo dos homens também
a coloca em confronto com desejos e necessidades, aié entio nio · express·as.
exigências
"O século XX se constituiu em conquistas fe-mlnlnas de um terreno antes apenas masculi-no: · sai de casa, adquire competência profis-sional, invade o mundo do trabalho, passa a não de p e n d e r ma i s e c o n o m i c a m e n te dom a r i do 11
(situaç~o que a mantinha do~inada) (Muraro, 1970, p.30).
O movimento feminista . confere um espaço reivindicador das · limitações sucessivas quanto
ã
liberdade de ação das mu-lheres, para a continuidade das atribuições nia mais reserva-das somente ao cuidado · da casa e da famllia~ A aquisição des-te espaço, n~ entanto, nao tem sido conquista fãcil,"as modificações que v~o ocorrerido no senti-·do de afrouxarem proibições e do impedimento
Coloca-se a necessidade de revisão de valores em prol da aqui-sição de n6vos pap~is que lhe abram espaço no sentido da rea-lização tambem profissional, outrora embotada. Isto levou a
mulher~ em dado momento deste processo, negar valores antigos,
radicalizar a nova proposta. Num outro momento da reivindica-ção do feminismo, houve reformulações da proposta questionado-ra ji no sentido não mais de negar valores como familia, rea~ '
lização afetiva, por~m não negligenciar, em função de1esa aquisição de ,novos pap~is sociais. Assim,
"os movimentos feministas colocam a mulher na luta pela libertação como , pessoa, após a liberdade econômica ll
(Muraro, 1970, p.39).
Os prime'iros movimentos feministas no Brasil locali-zam-se na segunda metade do seculo XIX~ então. atraves da edi-ção de diversos - jornais, que reivindicavam igualdade e'ntre ho- , mens e mulheres, o direito e a ~mport~nc~a da educação para a libertaçio feminina" a import~ncia do desenvolvimento da cons-ciência feminina, e a ênfase na dependência econômica como de-termi~ante de subj~gação feminina. Reconheciam a magnitude do papel de mãe e esposa, mas no' final do seLulo XIX o movimento enfatizava a luta por direitos iguais aos homens, pelo direito ao sufrigio, direito
ã
participação pOlitica.o
movimentQ de mulheres no s~culo XX, no Brasil, teve como primeiro lider feminista Berta Lutz, representante do mo-vimento sufragista brasileiro. O direito de voto foi afeminis-tas, consagrando o sufrigio em 1934. Com isso adquiriram o
"~~conhecimento de seu direito ao voto e
â
propriedade: isto ~, de seu acesso
i
cidadania. Ingressar na cidadania significa exata mente ser reconhecida como individuo, porta dor de direitos definidos em função de leis gera i s pa ra toda a soc i edade" (Durham, 1983,
p. 36).
Segundo Saffioti (1979) as diversa~ ' tend~ncias do mo
vimento feminista brasileiro não tiveram ampla penetração por
não constituir verdadeiro marco histórico para a maioria
na-ciona1 feminina, cujos direitos "são abstratos ainda hoje",
não encontraram ' soluções satisfatórias para a questão
femini-na. A a ç ã o dom o v i me n t o e s t a v am a i s voltada para os "estratos
medios da sociedade", e sua ação "expandia a estrutura
capita-1istall
• Tais ideias não conscientizavam e não abrangiam maior
numero de mulheres,' portanto não era um movimento realmente
gerador de mudanças, nem a nivel politico nem social. O
inte-resse damu)h~r ,estava voltado para a familia, educação,saude,
etc. Camuflavam, na verdade, o cotidiano real atraves de uma
mistificação da consciÊncia critica. Desta forma,
•
"o voto feminino era um movimento de classe
m~dia ' por direitos politicos, por uma refor
ma juridica que garantisse o voto is mulhe~
res, das mesmas qualificações que os homens.
Nunca foi uma tentativa de revolucionar o
papel da mulher na sociedade" (Hahner, 1978,
p. 99).
Simo 'ne de Bauvoir enfatizou a condição de "opressãoll
Po
-rem quando afirma que IInão se nasce mulher, torna-se . . . mulher"
(B'e.auvoir ' , 1980, p.13) deixa a possibilidade de pensar que a
mulher e uma construção social, o que autoriza a uma
relativi-zação de sua condição de opressao .
"Assim, a submissão secular da identidade so-cial da mulher aparece como um dado arbitrã-rio, acidental, e portanto passivel de trans-formação ll (Franchetto, 1981, p.19).
S'e p o rum 1 a d o a o p r e s s a o e uma c o n di ç ã o uni ver s Q 1 da m u 1 h e r ,
por outro lado as mulheres tem em .comum sua natureza
fisio16-gica. Desta forma,
"'0 organismo feminino, subjugando
função reprodutora, ser i a uma das bre · a qual se teria constituido a ção da mulher ll (Franchetto, 1981,
-a mulher -a
bases
so-
subordina-p . 20) .
Po~em quando se considera, dentro da ~ondição . feminina, que
to 'r n a r m u 1 h e r , o que s e e s t ã c o n te s ta n do
-
e, e 1 a possa se a
aceitação dos atributos do papel fe~inino: passividade,
emo-cionalidade, dependência, etc., como IInaturais ll a sua condição
e sim que se caracterizam por aquisições cuJturais. liA mulher
e assim uma construção social ll
(Franchetto, 1981, · p.33').
Por-tanto, esta condição pode ser mudada '. Para Por-tanto, o feminismo
procuraria uma identidade para lia mulher particular e as
liA ~uestão feminista parte da afirmação de
s~r a identidade feminina socialmente produ-zid~. A partir desta permissão estrutura-se uma pritica polftica transformadora . das for-mas como esta identidade se constrói, oer-cebidas como agressivas
ã
mulher" (Franche'tto, 1981, p.42) .2.2 - Identidad~ da mulher brasilei~a
Analisando-se o processo de colonização b ra s il e i ro , ele se deu dentro de uma economia colonial dependente, servin-do aos interesses servin-do trescente capitalismo mercantil europeu. E ra uma
"economi a exportadora de ' produtos primiri os, agrTcolas e minerais, o que conferia grandes lucros ao mercantilismo europeu" (Saffioti, 1979, p.14l) .
Fato importante que propiciou tal tipo de exploração econômica foi .a p·resença . do .escravismo brasileiro. A rentabi-lidade da empresa agrlcola baseada na mâo-de-obra escrava de-cresce na medida em que novas del{beraç~es se estabeleçam no mundo capitalista de produção dos. países po'ssuidores de estru-tura ~conômicasemelhante e que aqui dominavam. A utilização de mão-de-obra escrava, após três séculos e meio, vai-se tor-'nando incompatlvel com a nova economia capitalista que se
fa-zia necessária, substituindo 'a grande empresa agrária exporta- ', dora e vital para o 'capita1ismo mercantil internacional.
"momento final do longo processo d~ .desinte-gração do sistema escravista-senhorial"
(Saf-fioti, 1979, p.150).
e inaugura a
IIconstituição da etapa ,superior 'da , ,economia capitalista brasileira, cujos efeitos mar-cantes se fazem sentir após a crise mundial de 1929, quando o mercado interno dinamizava o sistema econômico nacional" (Saffioti; 1979,
p. 150 ) .
Incrementa-se, pois, a industrialização brasileira. Portanto, a libertação dos escravos marcou a desintegração do p t O c e s s o de" o r de m s e n h o r i a 1 - e s c r
à
v i S' t a 1\ e p r o p i c i o u a " c o n s-t i -t u i ç ã o das o 'c i e d a d e d e c 1 a s s e s" (S a f f i O ti, 1 9 7 9, p. 1 5 2 ) .
As caracterlsticas colonizadoras do Brasil não se as-semelharam
a
evolução burguesa européia e seu mundocapitalis-. ,
ta. Na medida do êxodo rural crescente nas ultimas décadas, es-tabeleceu-se o estereótipo e a dicotomia das famflias 'em ru-rais e urbanas. Desta form~, a famll 'ia urbana seria considera-da como' inovadora na mediconsidera-da emqueaarea correspondente sofreu efeito da industrialização, comunicação, cres~imento popula-cional, aquisiçã~ de idéias importadas, influência de imigran-. tes, etcimigran-. Julgar-se-fa em função disto que o conservadorismo
pertence ao patriarcado rural. Maria ' 1. P. de Quei roz ao anali-sar a problemãtica da mulher brasileira,' declara que
ela se realiza seguindo a diretrizes traça-das no passado" (Neto, 1980, · p.35).
A questão do patria:rcado e entendida a n,vel social e econômico, pela compreensão da história da evolu~ão da vida co-lonial que, conforme jã foi dito, "não obedeceu ao percurso es-cravismo-feudalismo-capitalismo" (Neto, 1980, p.35). Os senho-res de escravos e ris produtosenho-res rurais constitulam uma catego-ria social q~e se caracterizava por uma economia colonial ser-vindo ao capitalismo mercantil europeu.
O padrão de dupla moralidade . era o que dominava · no patriarcado. A mulher do senhor se limitava ã vida familiar,
ã
procriação de filhos e contacto com escravos .e amas, parentes e padres. Era o elemento "conservador". Quanto ao direito de . propriedade, comparava-se aos escravos, pois seu maridoadm1s-trava seus bens.
liAs mulheres brancas da epoca escravista sub-metiam-se ao poder patriarca, aliando
ã
ig-norãncia uma imensa maternidade. Normalmente casavam-se jovens. Escapavam ao dom,nio ri-goroso "do ' pai e, no casamento, caiam no do-m·, n i o dom a r i do. R a r a me n te saí a
m
ã s rua s, com exceção da idaã
igreja semEre acompanhadas. Sua autoridade limitava-se a escravaria do-mestica" (Saffioti, 1979, p.168) . .confec-çao de rendas, cuidados com crianças e animais, etc.
Antonio C. de M. e Souza,
"tudo isto q~e constituia o dominio pr5prio,
o universo social e cultural da mulher difi-cilmente permitiria às mães indolência e
pas-sividade atribuida a elas. Em quase todo o
pais a vida era dura para a maioria e da
mu-lher esperava-se que desempenhasse seu
pa-pel. · .. não somente houve casos freqt.lentes em que viuvas tomaram a direção dos neg5cios da
familia com energia e sucesso, revelando-se
lideres genulnas, mas tambem casos em que a
esposa de um homem incapaz tomou um lugar na chefia da familia. Mesmo na hist5ria polfti-ca do pais há vários exemplos de mães de
fa-milia co~ vigorosas habilidades para a
lide-rança, como por exemplo, Dna. Josefa C. de
Mendonça, um dos lidere$ da revoluçã'o
libe-r a 1 de 1 8 4 2, e m ~1 i nas G e r a i s 11 ( S a f f i o ti,
1979, p.17l).
Segundo
o
que se pode constatar como universal na sociedadebrasileira escrâvista, era a aceitação da completa supremacia
do homem sobre a mulher no grupo familial, ' quer ela
desempe-nhasse papeis ~tei~, quer levasse vida ociosa.
Ji
no seculo XIX a mulher da camada .senhorial passapor um processo de modificação, com q advento da urbanização.
Não sendo mais reclusa à casa-gránd~, ampliam-se seus
contac-tos soci'ais ~mbora carente de instrução. Permanece alienada dos
fatos .que ocorrem à sua volta ', na ~l tiina decada do Imperio, . em
torno da Abolição. "f.. mulher negra,. como escrava, cabia uma
fun-ção no sistema produtivo de bens e serviçQs e um papel sexual
(satisfação do senhor , patriarca), o que lhe conferia carâter
a v~lorização do papel sexual. Com a abolição, a mulher n~gra adquiriu a liberdade formal a partir da
"deterioração da ·sociedade de castas cende, neste sentido, tanto quanto o (Saffioti, 1979, p.177).
e as-ne g ro"
Porim, como a mulher branca, ocupa uma posição de inferiorida-de na. medida em :q\.le no processo inferiorida-de emancipação da raça negra, nao atinge direitos da pessoa humana. ·
Com a desagregação da famllia escravista-senhorial, por efeito da abolição, houve o deslo~amento de parte da população b~anca, me~tiça e .ne·gra que vivia ~ sombra da casa-grande, com aquisição de autonomia social, domistica·. Gradualmente, orga-niza-se tendo 'saldo das "condiçõ~s de quase anomia a que esta-va entregue" (Saffioti, 1979, p.177) e aos poucos esta-vai-se cons-tituindo nas novas camadas inferiores da nova sociedade, ge-rando famllias Monogim{cas, o que ' vai cara'cterizar o . proleta~
}' i a d o e sub - p r o 1 e t a r i a dou r b a no .
Ainda hoje, a organização familial brasileira preen-che uma variação que vai do sistema semi-patriarcal ati a fa-milia conjugal moderna (distante da parentela e da tradição), . descaracterizada da prepotên~ia patriarcal, cuja autoridade ba- ,
seia-se na qualidade de mantenedor econômico do grupo familial.
o que pode ser verificado . na educação ' espetifica para menino e
menina, atraves da aquisição dos diferentes padrões de conduta.
"A mudança d~ papeis e atividades das
mulhe-res continua a se processar mais rapidamente nas cidades que no campo, e mais para as
mu-lheres melhor situadas que para as pobresll
(Hahner, 1978, p.168),
"a mudança veio mai~ râpido para as mulheres
das classes media e alta das cidades"
(Hah-ner, 1978~ p.174).
Ainda quanto às mulheres , da cidad~, ocorreram modificações no
t{po de instrução dado nas escolas'. Aos poucos desenvolve-se a
ideia de que as mulheres ' podem ter trabalho ativo e
remunera-do. Porem a instrução feminina se desenvolveu no sentido de
educã-las para o papel de esposas e maes, e as primeiras
esco-las normais no seculo
irx
foram discriminadas, pois muitos seopunham
ã
profissionalização da mulher.Assim, o processo de escolarização da mulher bras;- '
leira foi lento e ate 1930 o numero ' delas nas uni vers idades
brasileiras não era significativo. O preconceito
estabeleceu-se em detrimento da valorização do p~pel de dona de casa.
Se-gundo Eva Blay,
l i a escolarizaç.ão estã associada ao nivel
so-cioeconômico, assim, mulheres de nivel mais
· alto, têm indices maiores de participação e ingressam mais no mercado de trabalho
A va"lorização do papel de dona-de-casa prejudicou (e "ainda I?re-judica} no sentido do preconceito quanto ao trabalho,
i
esco-larização. A formação familiar ainda está voltada para apre
-paraçao da mulher para o c"asamento.
Os ultimos 15 anos sao marcados por uma procura de cursos superiores maior por parte das mulheres, mas ainda
-
e presente o preconceito pelo risco de mudança nos pap~is tradi-cionais. Os ultimos 50 anos se caracterizaram pelo crescimento da participação da mulher como força de trabalho. Tamb~m se preparam em maior numero para as carreiras de nível superior, embora carrega"das ainda de discriminações quanto ãs escolhasdas profis~ões que. estão voltadas para aquelas consideradas
co-mo femininas (enfermagem, serviço s6cial~ pedagogia, psicologia).
liA área "denominada de ciências human "as supõe-se feminina, por oposição
ã
área de ciências exatas, suposta masculinall(Neto,"1980, p.42).
letras,
Numa pesquisa sobre o si~tema educacional brasileiro, S~rgio C. Ribeiro conclui que
lias carreiras de baixo prestígio social, sao essencialmente femininas, enquanto as de al-to prestígio são maicadamente masculinas"
Observa tambem que hã um
" d e c 1 i n i o de p r e s t -; g i o das c a r r e i r a s n a m ed i
-da€m que passam a ser mais procuradas por
mu-lheres . A discriminação da mulher no mer-cado de trabalho se dã desdé a escolha
1n1-cia1 de uma carreira" (Ribeiro, 1983, p.53).
O~tro aspecto observado e o ~e que na escolha da carreira,
"as ' influências SOClalS fazem com aue o can-: didato se identifique com carreirai compati-veis, dentro da escala de prestigio social, com sua origem e com o fato de serem carrei-ras para homens ou para mulheres" (Ribeiro, 1983, p.54) .
A urbanização a partir da segunda metade do secu10 XIX e a industriali~ação incrementada nos anos 30 deste secu-lo, .repercutiram na fam;lia de forma significativa. Tais pro-cessos nao ocorreram de maneira· uniform~, com a reestrutufação familiar" a partir da. modernização da vida econômica. No setor ' rural este efeito não se fez sentir tão eficãz, porem no meio urbano, a vida feminina ganha novas dimensões, co~ alteração profunda em seus papeis . Rompe-se o isolamento, modifica-se a postura do contingente feminino, a partir do trabalho nas fã-bricas, nas lojas, nos escritõrios~
"Minando o · sistema de segregação sexual e o de reclusão da mulher no lar, decrescem as diferenças de participação cultural dos ele-mentos masculinos e femininos ll
Desta maneira, atrav~s do alargamento ' de horizontes . cult~rais
e profissionais, da limitação da natalidade, ' da mudança subs-tancial na relação entre os conjuges, ~ possivel uma . redefini-ção constante da posiredefini-ção social da mulher dos grandes centros
urbanos.
r
evidente que o sexo e um elemento discriminador e estratificatario na força de trabalho feminina, caracterizando o co~tingente feminino com um aproveitamento parcial de mão~de~bra e inversamente proporcional ao crescimento . "econômico-so-cial. Os crit~riQs utilizados para tanto são a debilidade fl-sica, a insia~ilidade emociorial, a pouca inteligência, tornan-do o tr~balho feminino secundiri~,
6
desempenho das funções no ' lar, então, equivale a certa "poupança" no orçamento dom~stico. As funções dom~sticas, embora econõmicas, inibem a deter-minação da mulher como ~essoa economicamente independente na sociedade urbana industrial capitalista. Nas entrevistas apre-sentadas em Espel~o de Vênus (1981), enccntrbu-se virios rela- . tos de mulheres que
Portanto, a partir do momento que a família nao e mais o
cen-tro da economia (tipico das sociedades pre-capitalistas) e
fi-cam divididas as funções dom~sticas e econ6micas entre os
se-xos, o homem adquire grande independ~ncia econ6mica e a mulher
pequena.
A condição feminina de trabalho ainda se
"carregada de preconceitos em torno dos
pa-p~is tradicionais, com ambigüidades, que s~
refletem no mercado de trabalho, na
estrutu-ra educacional e familiaru
(Neto, 1980, p.42).
encontra
A revolução que o capitalismo propiciou, separou . a
produção social · e a reprodução dos homens. Assim como separou
estas duas atividades sociais em espaços fisicos distintos,
tamb~m isolou a mulher na vida dom~sti · ca . Portanto, o
capita-lismo promoveu -a cisão ent.re o pub1ico 'e o privado e,xc luindo a
mulher da esfera publica, mantendo-a em casa subordinada.
Ocor-re que esta ~ uma das facetas da realidade. Por outro lado, a
mulher tamb~m foi incluída na esfera publica, de forma
contra-dit5ria . Na esfera ' publica ela esti em contacto com um sistema
que descar'acteriza o sexo enquanto força 'de trabalho, e a
in-clui "no mercado de ,trabalho" na categoria ,indiferenciaàa de
"individuo port .ador de força de trabalhoU, constituindo a
"Dessa forma, a condição feminina 'passou
a
sofrer de uma amb'igllid a de (ou con,traçiição)fun-damenta1: a percepção de sua igualdade
en-quanto indivlduo na esfera do mercado de tra-balho e de sua desigualdade enquanto mulher,
ancorada na esfera domestica da produção"
(Durham, 1983, p.34).
Portanto, a inserção da mulher na esfera do publico e
do privado tr~z-lhe ambigllidades e contradições, pois,
enquan-to e percebida coma igual na esfera pfib1ica, na esfera privada
vjve ~esigua1dades e discriminações. Uma vez ocorrida a cisão
publico/privado
lia igualdade no 'nlve1 de emprego criou o
fe-nômeno da dupla jornada de trabalho e gera,
pDrtanto, nova desig~aldade (ou aumenta a
desigualdade anterior), promovendo a
contes-tação da divisão sexual do trabalho que se
mantem na esfera domestica" (Durham, 1983,
p. 36) .
" ... Acho que essa emancipaç~o feminina, vejo
como uma grande sobrecarga. Porque o que se
espera hOje de uma mulher emancipad~?.. do
homem que ' seja bom profissional e ganhe
di-nheiro, da mulher hoje espera-se que seja
profissionalmente ativa, feminina, bonita,
arrumada, mantenha casa arrumada, ,faça prato
especial, a educação dos filhos fita ainda
com e1a". (Sofia) (Ceres, 1981, p.365-366).
Esta declaração e uma constatação de que
"em geral o que se observa e q~e a entrada
,no mundo do trabalho externo nao representa
uma ruptura com a responsabilidade pelas
ta-refas domesticas.
A mulher passa'a
desenvol-ver uma dupla jornada, a sofrer , uma dupla
carga, jã que se lhe exige responsabilidade
Em sua pesquisa de campo, Eva Blay iohclui~
"n~ sociedade burguesa o duplo papel econ6~
mico da mulher - o domesti co e o industrial-aparece ao nlvel da consciência social atra-ves de uma ideologia que justifica e glori-fica o primeiro deles e que endossa o segun-do. Não hã uma nova ideologia do papel so-cial da mulher, pois as condiç~es materiais, as relaç~es de produção, ainda se apóiam na exploração do trabalho domestico" (Neto,
1980, p.39).
2.3 ~ Estudo dos papeis antag6nicos femininos
Este estudo baseia-se no ,fato de se verificar o in-g re s s o c a d a vez m a i o r de ' m u 1 h e r e s d a
c
1 as sem e d i a no m e r. c a do · de trabalho. A partir deste f~to, sup~e-se que este acon teci-mento deve acarretar uma serie de .conseqUencias em relação
-
as mulheres que, em decadas anteriores, exerciam apenas os papeis tradicionais . O. movimento · histórico dessas diferentes geraç~essofreu al~era~~es assim co~o a maneira de perceber o mundo e a si mudou. Atualmente o trabalho fora de casa para ' a mulher ad-quire força e motivo de realização e libertação. Mas envolve tambem ruptura com a construção do que seja o feminino. O que ocorreu 'então? Serã que a mulher . adaptou-se ' às · mudanças exter-nas? Serã que as a1teraç~es suscitaram nelas ' perguntas, con-flitos realmente?
mu-lheres pequeno-burguesas gerou oposiç ã o da so~iedade ' que lhes conferi~ meno r dotação intelectual, aus~ncia de condições para competir com o homem, violando então lias leis naturais e his-tóricas" (Lafargue, 1979, p.39-44).
Tudo leva a crer que estas mudanças confrontadas tam-bem foram resultado de necessidades internas. Partiu-se do su-posto de que não apenas as exigências externas levam as mulhe-res ao mercado de trabalho mas suas aspirações, desejos, ne-cessidades, impulsionaram-na de encontro a caminhos diferentes dos convencionais.
III - PAPtIS ANTAGDNICOS FEMININOS: REVIS~O BIBLIOGRAFICA
3 ' .~ - A Construçio do eu e a construção do mundo Ampliando a abordagem desta trabalho, i n i 'c i a r - s e - ã agora um estudo acerca de como o individuo se coloca e e colo cado na sociedade, quais os componentes individuais e quais as forças sociais que constituem as regras a serem cumpridas na relação dos 1ndividuos .com o' mundo: que tipo de leitura faz destas regras, pelo exercicio dos papeis soci~is que se vi~bi
liza~ atraves da comunicaçio. Particularm~nte, interess a r ã o os papeis sociais desempenhados pelas mulheres, especificame~
te a vivencja de papeis antagônicos no que se refere ao tra-balho fora do lar e ao t~abalho ~omestico .
Para tanto, e importante que se compreendam as condi
, .
çoes de ingresso do individuo na sociedade, como ele adquire a condição de ser humario .. Diversas teorias psicológicas abor-dam a maneira como se processa a construção do individuo.
Po-. .
rem a vertente deste trabalho s~gue pressuposto de autores como George Herbert Mead, Berger e Luckmann~ cuja teoria so-cial considera a orientação sociopsicolõgi~a para a constru-çao do individuo.
. se completa apos o nascimento, jâ na relação com o meio ambi-ente, at~ úm ano ap6s o nascimento:
"O processo de t~rnar-se . homem efetua-se na correlação com o meio ambiente" (Berger e Luckmann, 1978, p.71) .,
Ocorre que este processo de "humanização" nao se relaciona ape-nas ao "ambiente natural" mas subordina-se tamb~m a uma "ordem cultural e social", mediatizada pelos "outros" que lhe são "sig-nificativos".
"Desde o momento do nascimento o desenvol
vi-me~to orgânico do homem ê de grande parte de
seu ser bio16gico estâ continuamente subme-tido a urna interferência social determinada"
(Berger e Luckmann, 1978, p.71r.
Portanto não hâ uma natureza biologicamente fixa: o organi.smo humano ·· manifes·ta "'plasticidade" em suas respostas as forças socioculturais que atuam sobre ele. Diante disto vale concluir que
" em b o r a se j a p o s s i ve 1 diz e r que o h om em te -nha uma natureza, ~ mais significativo dizer que o h. o me m c o n s t r 6 i a sim e s m o 11 (B e r g e r e Luckmann, 1978, p.72).
I
"a estrutura social ~ o elemento essencial
da realidade da ~ida cotidi~~a, ~ ' a soma das
tfpificações e dos padrões recorrentes de in-teração estabelecidos por meio deles" (Berger e Luckmann, 1978, p.52).
A apreensao que se faz do outro se . dã segundo tipificações, que
padronizam a rotina, afetam a interação com o outro. O outro
apreende tamb~m segundo uma forma tipificada, influenciando
os s u j e i tos d a r e l ' a ç ã o d e f o r m a m
u
tua n a r e 1 a ç ã o "f a c e a f a ce " .As formações sociocu1turais são variada~ mas s emp re
interferem no processo de humanização. O homem se p roduz a si
e esta autoprodução ~ um empreendi~ento social:
"'Os homens produzem um ambiente a totalidade de suas formações rais e psicológicas" (Berger e 1978, p . 75).
humano, com
so c iocultu-Luckm a nn,
O desenvolvimento do eu se dã no continuo desenvolvimento
or-gãnico com o proce~so social, mediatizados pelos outros signi- '
ficativos. Hã pressupostos gen~tico~ do eu, . por~m são os
pro-cessos sociais que lhe conferem uma identidade reconhecida
ob-jetiva e subob-jetivaménte . Os processo~ socia~s influem na
cons-tituição do organismo e do eu dentro de uma dada cultura.
"O caráter do eu como produto social nao se
limita
ã
confiauracão particular que oindi-' vlduo identifica cómo sendo ele mesmo, mas
com o equipamento psicológico que serve de
complemento
ã
essa particular configuração"George H. Mead (1953) considera que no processo
so-cial da experiência, primeiro o sujeito experimenta seu corpo
atrav~~ de sensaç5es e sentimentos, como parte imediata de seu
meio, não possui ainda "consciência de si". A consciência de
si refere-se
ã
capacidade que o sujeito adquire dedesenvol-ver nele as reaç5es pertencentes aos outros componentes do gr~
,
.
po.
r
a adoção ou experimentação da atitude do outro.Ao surgir a consciência de si, as experiencias sao
identificadas com a p~5pria pesso~ que integra, então, o ambi
'ente, seu corpo se converte em estimu10s aos quais reage: co~
verte-se num objeto para si em virtude das relações sociais.
Cada indivfduo possui um modelo pelo qual representa
a si mesmo (eu) e ao mundo. O sujei,to não opera diretamente no
mundo mas atrav~s d~ representação q~e desenvolveu dele. Esta
representação vai determinar a experiência no mundo, a perceE
cão do m~ndo e as escolhas que se faz nele. Portanto, a repr!
sentacão ~ diferente , do mundo, e particu1ar"especifica, indi
vidua1. Isto quer dizer que cada ~ndividuo possui uma maneira
de representar o mundo ~ a si (eu), inf1uericiada por
determi-nantes constitucionais, determidetermi-nantes de ,filiação a um grupo,
determinantes situacionais, etc .••
A estrutura da linguagem expressa o conteudo da
per-sona1idade, representando, com um modelo pr5prio do
indiv;-duo, o eu e o mundo.
3.1.1 - Os Outros Significativos
encontra outros individuos a sua volta que aqui serao . denomi-n a d·o s d e 11 ou t r o s s i g n i f i c a· t i vos 11. O sou t r o s s i g n i f i c a t i vos são impostos ao sujeito e oferecem a realidade objetiva por meio de definições. Os outros significativos mediatizam o mundo para o sujeito, modificando-o (apresent~m aspectos do mundo refe-rentes a localização do individuo, assim como o que e pr5prio de sua biografia), e filtrando-o para o individuo. O aprendi-zado que o sujeito faz do mundo, por intermedio dos outros sig-nifiçativos, não e apenas cognoscitivo mas tambem afetivo, exa-tamente porque esti rela~ionado ã presença significativa do outro, facilitand~ o processo de ~prendizado: ·
liA criança identifica-se com os outros sig-nificativos por uma multiplicidade de modos emocionais. A interiorização s5 se realiza quando hi identificação. A criança absorve papeis e atitudes dos outros significativos, interioriza-os, tornando-os seus. Assim, e capaz de ident~ficar-se, adquirir uma id~n
tidade subjetiva, retratar as atitudes toma-das pela primeira vez pelos outros signifi-cativos com relação ao individuo ll (8·erger e Luckmann, 1978, p.177).
que se darão nas mesmas.
Os outros significativos sao agentes de conservaçao da realidade subjetiva do sujeito, que
é
interiorizada e man-tida na consciência pelo processo social .liA conservação e a confirmação da realidade implicam a totalidade áa situação social, em-bora os outros significativos ocupem uma po-sição privilegiada nestes processosll
(Berger e Luckmann, 1978, p . 201).
Segundo Mead (1953),_ o de~envolvimento pleno da pessoa im-plica a organização das atitudes . dos outros, . adotando-as (o que se di a nlvel do · sistema nervoso · central). Quando o indi-v 1 duo a d O t a a a t i tu d e d o o u t r o (d e n· o m i n a·d o 11 s i g n i f i c a t i v o 11 n o inlcio do processo de socialização), terã condições de deter-minar o que fazer frente ~ um objetivo comum, sendo então mem-bro orgânico da sociedade, incorporando a moral dela. Tornan-do-se membro da sociedade, a pessoa ãdquir~a personalidade, viabilizada pela linguag~m _ atravês do gesto vocal. Assim, a linguagem ê um ~eio de aquisição'da personalidade: adotando papéis dos membros do grupo, o individu~alcança suas atitu-des. Isto quer dizer que a personalidade do indivlduo se
cons-tltui da reaçao que o seu gesto provoca no outro.
3.1.2 - O Outro Generalizado
Desta forma,
lia comunidade ou grupo social organizado que
proporciona ao indivlduo sua unidade de pes-soa, pode ser chamado de outro generalizado" (Mead, 1953, · p . 184) .
Isto quer dizer que adotar a atitude do "outro generalizado"
e adotar uma atitude comum ao grupo organizado a que pertence
o indivlduo . Por exemplo, a equipe de futebol e o outro
gene-r:alizado pois intervem na atitude de qualquer jogador da eq ui pe.
No processo de socialização, a pessoa organizada se
caracteriza pela
.1 o r g a n i z a ç ã o d e a t i tu d e s c o m uns a o 9 r u P o : a
pessoa e uma personalidade porque pertenc e a
uma comunidade, incorpora suas instituições
à sua conduta" (Mead, 1953, p.191).
Atraves do outro, oresente. numa fase mais av~.rnçada da
socializa-çao, denominada secu.ndãria, os processos sociais interferem na conduta
dos . indivlduos envolvidos. A comunidade (o~ grupo social)
exer-ce controle sobre o comportamento de seus membros,
no pensimento do sujeito.
influindo
o
outro generalizad? forma~se na consci~ncia esigni-fica que o indivlduo não se i'dentisigni-fica mais apenas com os
tros concretos (significativos) mas com a generalidade dos
ou-t r o sou a s o c i e d a de, c o n f e r i n d o a o s u j e i ou-to, e s ou-ta b i 1 i da d e e
con-tinuidade em virtude .da identidade constante. mesmo que os
"Est~ identidade - incorpora os vãrios pap~is e atitudes interiorizados"o
(Berger e Luck-mann, 1978, p.179).
A formação do outro generalizado na consciência, e um indica-tivo de que por meio da socialização já ê possivel interiori-zar a realidade e a identidade subjetiva.
"A sociedade, a identidade e a realidade cristalizam-se subjetivamente no mesmo pro-cesso de interiorização, que inclui tambem a interiorização da linguagem" (Berger e Luck-:-mann, 1978, p. 179),
permitindo a tradução da realidade o~jetiva em subjetiva e vice-versa.
"A pessoa organizada se caracteriza pela or~ 9 a n i
3
a ç ã o d e a ti tu d e s c o m u'n s a o g r u p o: a pe s -s o a e _ uma p e r s o n a 1 i da d e p o r que. p e r te n c e a uma c o m uni d a de, i n c o r· p o r a sua s i n s t i tu i ç õ e s a sua conduta" (Mead, 1953,p. 191).3.L3- A Identidade como uma Construção que se dã na
Relação com o Mundo
rr
ser humano possui ' um equipamerrto bio16gico instãve1 que lhe confere a n~cessidade de se exteriorizar pela ativida-de, buscando, no ambiente, a estabilidade para sua"embora nenhuma ordem social derive de dados bio16gicos, a necessidade de ordem social pro-vem do equipamento biológico do homem" (Ber-ger e Luckmann, 1978, p.77).
Assim, a atividade humana gera estabilidade, ordem e direção
-para a conduta . Estes aspectos da condut~ não são constituidos
pelo organismo, mas aquisições dele. O fator ' biolõgico gera
or-dem so.ci a 1 .
Um outro aspecto da conduta e a objetivação.
Objeti-vaçao e o processo pelo qual
"os produtos exteriorizados da atividade
hu-mana adquirem carãter de objetividadell
(Ber-ger e Luckmann, 1978, p.87).
As objetivações expressam as intenções subjetivas do individuo
e viabiliza~ a realidade. As objetivações seriam, por exemplo,
a postura do corpo, o movimento dos braços e pernas, os
siste-mas de sfnais.
A ~inguagem e o sistema de sinais (gestos e slmbolos
significantes ' pa~a Mead)' mais importantes da sociedade humana,
uma vez que propicia ' a expressividad~ voca~ . Atraves da
lin-guagem e do aparelho cognoscitivo a ,sociedade objetiva o
mun-do, ordenando-o de forma a que s~us objetos sejam apreendidos.
Ela objetiva o mundo, ordena a experien~ia de forma a
apreen-der e produzir o mundo coerentemente: objetiva a experiencia
por fntermedio de tipificações, do,tando a experiencia de
sig-nificado real , para o sujeito ' (que se comunica), e para os ou- '
"A tonversação e a atualização des~a eficã-cia realizadora da lin9uagem nas situações 11 f a'c e a f a c e 11 d a e x i s te n c i a i n d i v i d u a 1 . Na conversa, as objetivações da linguagem tor-nam-se objetos da consciência individual. O fato fundamental conservador da reaiidade e o uso continuo d~ mesma lTngua para objeti-var a experiência biogrãfica reveladora" (Berger e Luckmann, 1978, ·p.204).
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Portanto, o simbolismo e a linguagem simb61ica . cons-tituem os componentes essenciais da realidade cotidiana, e de sua apreensão pelo senso comum: provoca no sujeito que emite a fala a mesma reação que provoca no outro que ouve. Assim, o e m i s s o r e a f e ta do p e 1 a c o m uni c a ç ã·o da me s
m
a f o r ma que o r e c e p -t 9 r •I:s:
to qu e r' diz e. r qu e p ~ o P f c i a '. uma c o n d u ta ' a o n d e o i n d i v i -duo pode. conve.rter-se. em · objeto para si ou seja, nao apenas se dirige. aos outros c~mo a si mesmo. O significado do que o su-je.ito comunfca es-tã na reação do outro. Os gestos vocais
emi-tidos pelo suje i to compõem a linguagem e levam-no a adotar a. .
~titude, o papel do outrd. Seu gesto provoca reaçao no outro e
tal reaçio vai constituir o conteQdo de sua personalidade.
Na relação com o grupo, ~ criança se comunica, adota a atitude dos outros membros do grupo, converte-se num membro consciente de si, da comunidade a que pertence, desenvolve sua ·personalidade. Mead (1953) considera a comunicação como sendo
se identifica na situação social e reage a ela.
Para Mead (1953 '), o princTpio bâ~icb para a
organiza-çao social humana e a comunicação que implica participação e
identificação com o o~tro, e obtenção de consciência de si: o
indivTduo adquire consciência de s'l pois conversa consigo, quer
dizer, pensa .
A li'nguagem constitui a representação do mundo dentro
do sujeito, como tambem comunica esta representação ao mundo.
liA lTngua e tanto um sistema representativo
do mund~ dentro do sujeito, como tambem o
meio ou processo de comunicar nossa .
repre-sentação do mundo. Os processos pelos quais
passamos para comunicar nossa experiência são os mesmos processos por que passamos ao criar
rios:;a experiênciall
(Bêndler e Grinder, 1977,
p. 73) .
Desta forma,
1105 processos pelos quais as pessoas
empo-brecem sua representação do mundo são os mes-mos processos pelos quais empobrecem sua
ex-pressão de sua representação do mundoll
(Bend-ler e Grinder, 1977, p.72),
o mesmo valendo para o enriquecimento da representação" do
mun-do, cuja expressa0 tambem estarã en~iquecida.
Quando se usa a linguagem como um sistema
representa-tivo, e que se denomina pensamenfo, raciocTnio, fantasia e
nar-rativa, estã se criando um modelo , da experiência. O modelo
, do mundo. As percepçoes sao tambem, parcialmente, determinadas pelo modeló nu representação.
, "
Quando se usa a linguagem para se comunicar aos ou-tros o modelo ou representação que se tem do mundo, está"::se fa-zendo a representaçio da representação da prõprfa experi~ncia,
, ,
-o que c-onstituf um pr-ocess-o s-ocfal. A lfnguà~em como comunica-ção apresenta o modelo do sujeito aos outros. Assim, a comuni-caçio da experi~ncia no mundo (representação do mundo) se dã pela representação linguistica co~pleta da experf~ncia do
su-j e f to .
Me~d '(19531 considera que a organização humana de-pende da linguagem com os gestos vocais, assim como dos gestos resultantes da manipulação de objetos pela mão. Linguagem e mãos proporcionam mecanismo para que ' o ato social se d~ de for-ma i nte 1 i,gente e sej a desenvo 1 vi do.
o
processo pelo qual propicia a criança tornar-se membro da sociedade, desenvolvendó-se e organizando-se,deno-mina-se socialização . A socializa~ão se realiza em duas fases:
socialização primária e socialização secundária. Enquanto a socialização primária tem inicio nos primeiros anos de vida, a .socialização secundária introduz o individuo em novos setores
\
ou interpretação imediata -dé um acontecimento objetivo dotado
de sentido~
"como manifestação de processos subjetivos de
outrem, que desta forma torna-se
subjetiva-mente significativo para o sujeito" (Berger
e Luckmann, 1978, p.174).
A apreensão se di porque o i -ndiv,duo assume o mundo tal qual
os outros vivem, podendo recrii-lo de maneira criativa. Na
in-teriorização; o indivlduo se identifica com o outro,
absorven-do seus papeis e atitudes e interiorizanabsorven-do-os, torn anabsorven-do-os seus.
A personalidade - reflete as atitudes tomadas pelo outro
signi-ficativo, o sujeito torna-se o que e pela ação do outro, ' para
ele significativo.
Segundo Me~d (1953), a pessoa se constitui nesta
in-t e r a ç ã o e n in-t r e "-0 r 9 a n i s m o 11 e o sou t r os, .q u e vai s e n do 11 i n t e r n a
-1 i z a da" n a c o n d u t a d o i n d i v, duo', p o r m e i o dali c o n ver s a ç ã o Ir do
"e'u" e d'o "mim" . "Eu e mim" constituem a personalidade tal qual '
surge no pro~esso socia,l e nada mais são do que a
representa-ção do eu e do mun~o no sujeito. ' Quando o indivlduo adota
ati-tudes organizadas do outro, tem-se o "mi~". Porem ao despertar
em si tais atitudes ,(adoção de atitudes alheias) surgem reaçoes
organizadas nele que se denominam "eu" . O eu e a reaçao do
in-dividuo à atitude da ,comunidade,
é
a reaçao ao "mim" (aomun-do), e responsãvel pelas mudanças na socieda ,de uma vez que rea-:
ge a ela. A real i zação da pessoa, então s'e dã na relação com os
ou-tros. O "mim" corresponde às atitudes organizadas do outro que