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Características morfo-anatômicas e bromatológicas de folhas de amoreira em relação às preferências do bicho-da-seda.

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Características morfo-anatômicas e bromatológicas de folhas

de amoreira em relação às preferências do bicho-da-seda

Fumiko Okamoto(1) e Roberto Antonio Rodella(2)

(1)Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Gália, Caixa Postal 16, CEP 17470-000 Gália, SP. E-mail: updgalia@aptaregional.sp.gov.br (2)Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho", Instituto de Biociências de Botucatu, Caixa Postal 510, CEP 18618-000 Botucatu, SP. E-mail: rodella@ibb.unesp.br

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar, quantitativamente, as características morfo-anatômicas e bromatológicas das folhas de dez cultivares de amoreira, e estabelecer as relações de preferência do bicho-da-seda, por essas cultivares. Foram coletadas as folhas superior (5a) e mediana (15a) da planta, contadas a partir do ápice. As cultivares foram comparadas pelos métodos estatísticos multivariados de análise de agrupamento e análise de componentes principais. As cultivares Korin, Calabresa, IZ 5/2 e IZ 15/7 foram consideradas as mais recomendáveis para a alimentação das lagartas do bicho-da-seda, pois apresentaram valores altos de porcentagem de folha consumida, atribuídos à ocorrência de características desejáveis nas folhas, tais como menor teor de fibra bruta, menor quantidade de idioblastos de cistólito e de mucilagem, menor proporção de epiderme e maior de parênquima, comparativamente, às outras cultivares estudadas. As cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2 foram consideradas as menos recomendáveis. As demais cultivares comportaram-se como intermediárias na preferência do bicho-da-seda.

Termos para indexação: análise quantitativa, cultivares de amoreira, Morus, sericicultura.

Mulberry leaf morphological, anatomical and bromatological characteristics

in relation to silkworm preferences

Abstract – The objective of this work was to evaluate quantitatively the morphological, anatomical and bromatological characteristics of leaves of ten mulberry cultivars, and to establish the preferences shown by the silkworm. The upper (5th) and median (15th) leaves were collected taking branch top into account. In order to compare cultivars, multivariate statistic methods of cluster analysis and principal component analysis were used. The cultivars Korin, Calabresa, IZ 5/2 and IZ 15/7 were considered as the most appropriate to feed silkworms, since they presented high percentage values of eaten leaves, due to certain characteristics such as lower crude fiber contents, lower quantity of cystolith and mucilage idioblasts, lower proportions of epidermis and higher quantities of parenchyma, in relation to the other studied cultivars. Cultivars IZ 13/6 and IZ 57/2 were considered as less recommendable. The other cultivars formed an intermediate group, in relation to silkworm preferences. Index terms: quantitative analysis, mulberry cultivars, Morus, sericulture.

Introdução

Existem 35 espécies de amoreira, distribuídas nas diversas regiões do globo terrestre, das quais Morus alba L., M. lhou Koidz e M. bombycis Koidz são as

mais freqüentes (Fonseca & Fonseca, 1988).

A exploração da cultura da amoreira visa, principalmente, sua utilização na nutrição das lagartas do bicho-da-seda (Bombyx mori L.), que se alimentam

exclusivamente de suas folhas. Hazama (1968) caracterizou as folhas da amoreira, por meio de medidas do comprimento, largura e espessura.

A espessura da folha contribui consideravelmente na manutenção da turgescência, nos períodos compreendi-dos entre a colheita compreendi-dos ramos e o armazenamento no depósito de folhas, e durante o tempo em que as folhas permanecem sobre as esteiras de criação até o consumo pelas lagartas do bicho-da-seda. Segundo Okino (1982), esta espessura varia em função da variedade e da forma de cultivo.

Metcalfe & Chalk (1957) caracterizaram a anatomia foliar de plantas da família Moraceae, tendo constatado, na epiderme de Morus spp., a presença de idioblastos

(2)

a função de proteção contra a herbivoria (Fahn, 1979) e representam, portanto, a porção foliar não desejável para alimentação das lagartas do bicho-da-seda. Katsumata (1971) e Fujita & Uchikawa (1986) também observa-ram idioblastos de cistólitos na epiderme foliar de amoreira.

Cappellozza et al. (1996) estudaram os aspectos anatômicos das folhas de dez cultivares de amoreira e destacaram a presença de idioblastos de cistólito na epiderme da face adaxial, e de idioblastos de mucilagem em ambas as faces da epiderme. Concluíram que o número de cistólitos afeta a palatabilidade da folha e a sua concentração aumenta com o amadurecimento dela. Observações semelhantes foram verificadas em trabalho realizado por Sugimura et al. (1999).

São escassos os trabalhos que relacionam a ana-tomia foliar de amoreira com a composição bromatológica. Entretanto, para plantas forrageiras, especialmente gramíneas, tais trabalhos são nume-rosos, o que possibilita determinar o valor nutricional das plantas, conforme Rodella et al. (1982, 1984), Akin (1989), Wilson (1993), Jung & Allen (1995), Brito et al. (1997a, 1997b, 1999, 2003, 2004), Ventrella et al. (1997) e Brito & Rodella (2002).

As cultivares de amoreira podem também diferir quanto à qualidade das folhas, ocorrendo variações em sua composição química, em função da altura de inserção da folha no ramo, do estádio de desenvolvi-mento da planta e de práticas de manejo (Ide, 1969; Porto & Okamoto, 2000; Miranda et al., 2002; Porto et al., 2004).

O teor de proteína da folha de amoreira, recomendado para nutrição do bicho-da-seda, situa-se entre 20 e 30%, de acordo com Hamano & Okano (1989). Valores semelhantes foram também constatados por Hirano (1982), em 17 variedades japonesas, e por Thangamani & Vivekanandan (1984), em cultivares da Índia. No Brasil, híbridos de amoreira apresentaram teores de proteína entre 21,98 e 26,60% (Mendonça, 1994). Entretanto, o emprego de práticas de adubação pode elevar o teor para 24,8 a 28,8% (Takahashi & Kronka, 1989).

O objetivo deste trabalho foi avaliar, quantitativamente, as características morfológicas, anatômicas e bromatológicas das folhas de dez cultivares de amoreira, situadas em dois níveis de inserção no ramo, e estabele-cer relações de preferência do bicho-da-seda por essas cultivares.

Material e Métodos

O trabalho foi conduzido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Gália, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) Regional Centro Oeste, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. As avaliações anatômicas e morfológicas das folhas foram efetuadas no Lab. de Morfologia e Anatomia Vegetal, do Dep. de Botânica, Inst. de Biociências de Botucatu, Unesp. A composição bromatológica foi determinada no Lab. de Forragicultura do Dep. de Nutrição e Produção Animal, da Fac. de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu, Unesp.

O solo do local do experimento foi classificado como predominantemente Argissolo Vermelho-Amarelo e apresenta baixos teores de nutrientes. A análise química do solo revelou os seguintes valores: P resina, 9 µg cm-3;

MO, 0,6%; pH(CaCl2), 4,9; V, 34,18%; K,

0,06 meq 100 cm-3; Ca, 0,6 meq 100 cm-3; Mg,

0,3 meq 100 cm-3; Al, 0,00 meq 100 cm-3; H+Al,

1,8 meq 100 cm-3; SB, 0,96 meq 100 cm-3; T,

2,81 meq 100 cm-3.

Provenientes da coleção do Instituto de Zootecnia (IZ), foram utilizadas dez cultivares de amoreira (Morus

spp.): Calabresa, Korin, IZ 40, IZ 64, IZ 5/2, IZ 13/6, IZ 15/7, IZ 23/3, IZ 56/4 e IZ 57/2.

Os tratos culturais foram realizados, seguindo-se as recomendações técnicas usuais de campo, de acordo com Hanada & Watanabe (1986), tendo-se promovido a uniformização das plantas, por meio do corte ao nível do solo; efetuado o controle de plantas invasoras e de formigas cortadeiras; e aplicado adubo e corretivo, com base na análise de solo, para a manutenção da produ-ção. As plantas apresentavam idade média de dez anos, estavam estabelecidas em espaçamento de 2,0x0,5 m e ocupavam 2 ha de área.

A amostragem do material vegetal foi realizada na primavera (novembro), em plena safra sericícola, aos 90 dias depois do corte de uniformização. Coletaram-se as lâminas foliares de dois níveis de inserção no ramo – 5a e 15a folhas, contadas a partir da primeira folha

ex-pandida do ápice, representando, respectivamente, os níveis superior e mediano do ramo. Essas folhas foram utilizadas nas avaliações morfo-anatômicas e bromatológicas.

(3)

As características morfológicas avaliadas foram: área da lâmina foliar, porcentagem de folhas não consumidas e número total de nervuras secundárias. As mensurações da área foliar e da área da porção não consumida das folhas foram efetuadas com auxílio de integralizador automático de área. A área da porção não consumida das folhas foi transformada em porcentagem, em relação à área foliar total, tendo sido determinada depois de 30 minutos de alimentação pelas lagartas do bicho-da-seda. Para as avaliações anatômicas foram tomadas por-ções da região mediana da lâmina foliar, fixando-as em FAA 50 (formaldeído + ácido acético glacial + álcool 50%), durante 48 horas, tendo sido, posteriormente, con-servadas em álcool 70% (Johansen, 1940).

As amostras referentes às regiões da nervura secun-dária e internervural foram infiltradas em resina glicol-metacrilato, de acordo com a técnica de Gerrits (1991). Em seguida, os materiais foram seccionados transver-salmente, em micrótomo rotatório com espessuras de 8 a 10 µm, na nervura secundária, e de 5 a 6 µm na

região internervural, e corados com azul de toluidina (O’Brien et al., 1964). Os limites e os contornos dos tecidos foram desenhados com auxílio de microscópio de projeção, tendo-se determinado as áreas por meio de mesa digitalizadora acoplada com programa computacional (Corrêa & Rodella, 2002).

Foram mensuradas as seguintes características, com relação à nervura secundária: área da secção transver-sal, espessura do conjunto compreendido pela epiderme

e colênquima, e porcentagem do conjunto compreendido pelo parênquima e floema. Quanto à região internervural, as características mensuradas foram: espessura da folha; porcentagem de epiderme, de idioblastos de mucilagem e de parênquima clorofiliano; número de idioblastos de mucilagem e de cistólito; e área compre-endida pelo idioblasto de cistólito.

Para a determinação da composição bromatológica, coletaram-se 300 g de folhas, sem o pecíolo, que foram colocadas em estufa com circulação forçada de ar a 65oC, por 72 horas. Foram determinados os teores,

em porcentagem, de matéria seca, proteína bruta, fibra bruta e matéria mineral, de acordo com a metodologia descrita por Wende, citado por Silva (1981).

Os dados obtidos das 17 características morfológicas, anatômicas e bromatológicas foram submetidos aos tes-tes estatísticos multivariados de análise de agrupamento e análise de componentes principais (Sneath & Sokal, 1973).

Resultados e Discussão

Os valores médios referentes às características quan-titativas da folha superior (5a folha), das dez cultivares

de amoreira, foram empregados na análise de compo-nentes principais e de agrupamento (Tabela 1).

Na Tabela 2 estão descritos os coeficientes de cor-relação entre as l7 características da folha superior e os dois primeiros componentes principais (Y1 e Y2),

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tantes da análise de componentes principais. No conjunto, esses componentes foram responsáveis por 70,29% da informação (variância) acumulada pelos caracteres avaliados, constituindo-se em indicadores eficientes de dissimilaridade, permitindo, portanto, dife-renciar as cultivares de amoreira. A intensidade da con-tribuição dessas características, para a discriminação das cultivares, está relacionada à ocorrência de maio-res valomaio-res absolutos em Y1 e Y2, que se caracterizam

por apresentar maior poder discriminatório.

As características da folha superior que mais contri-buíram para a diferenciação das cultivares, para o pri-meiro componente (Y1), foram: porcentagem de folha

não consumida, de fibra bruta, de idioblastos de mucilagem e de epiderme, bem como número de idioblastos de mucilagem e de idioblastos de cistólito (Tabela 2). Quanto ao segundo componente (Y2), as

características com maior poder discriminatório foram: área da secção transversal da nervura secundária, por-centagem de proteína bruta e espessura da epiderme mais colênquima da nervura secundária. O primeiro com-ponente, por apresentar valor de informação retida mai-or que do segundo componente, foi considerado mais satisfatório, para explicar a contribuição das caracte-rísticas avaliadas na formação dos agrupamentos das cul-tivares de amoreira, relacionadas à qualidade da folha superior para a alimentação das lagartas do bicho-da-seda.

O dendrograma resultante da análise de agrupamento e a dispersão gráfica referente à análise de componentes principais (Figura 1) permitiram agrupar as dez cultivares de amoreira, com base nas características morfo-anatômicas e bromatológicas da folha superior, de forma que as cultivares pertencentes a um mesmo grupo apresentaram maior similaridade que aquelas de grupos diferentes. Verificou-se a formação de três grupos principais: o primeiro grupo foi formado pelas cultivares Calabresa e IZ 15/7, consideradas, pela qualidade da folha superior, como recomendáveis para a alimentação

Característica quantitativa Y1 Y2

Área da lâmina foliar (cm2) 0,5856 0,0167

Espessura da folha (µm) -0,2015 0,5120 Folhas não consumidas (%) 0,9416 -0,0628 Número de nervuras secundárias -0,4117 0,3985 Área da nervura secundária (mm2) 0,0928 0,9798

Espessura epiderme + colênquima (µm) 0,4868 0,7349 Parênquima + floema (%) -0,1075 0,6605

Epiderme (%) 0,6834 -0,0809

Idioblasto de mucilagem (nomm-1) 0,8263 0,1821

Idioblasto mucilagem (%) 0,7184 -0,1926 Idioblasto cistólito (nomm-2) 0,6291 -0,3834

Área de cistólito (x10-3mm-2) 0,1869 0,4715

Parênquima clorofiliano (%) -0,4202 0,0457 Matéria seca (%) -0,3049 -0,7052 Proteína bruta (%) -0,3209 0,7640

Fibra bruta (%) 0,8109 0,2681

Matéria mineral (%) -0,0264 0,6531 Informação retida (%) 43,29 27,00 Informação acumulada (%) - 70,29 Tabela 2. Coeficientes de correlação entre as 17 características morfo-anatômicas e bromatológicas da folha superior (5a folha), das dez cultivares de amoreira e os dois primeiros componentes principais (Y1 e Y2).

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das lagartas do bicho-da-seda; o segundo grupo, considerado como intermediário, foi constituído por dois subgrupos, um deles formado pelas cultivares Korin, IZ 40 e IZ 5/2, e outro foi composto por IZ 64, IZ 23/3 e IZ 56/4; o terceiro grupo foi formado por IZ 13/6 e IZ 57/2, consideradas como pouco recomendáveis.

A análise conjunta do primeiro componente (Tabela 2) e da dispersão gráfica (Figura 1) mostrou que a folha superior das cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2 apresentou maiores porcentagens de folha não consumida, de fibra bruta, de epiderme e de idioblastos de mucilagem, nú-meros de idioblastos de mucilagem e de idioblastos de cistólito, maior espessura do conjunto epiderme mais colênquima da nervura secundária, bem como menor porcentagem de proteína bruta (Tabela 1). A presença dessas características, de acordo com Fahn (1979) e Cappellozza et al. (1996), confere às folhas maior pro-teção contra a herbivoria, e as torna indesejáveis para a alimentação do bicho-da-seda; conseqüentemente, es-sas cultivares foram consideradas como pouco reco-mendáveis ao consumo. Resultados contrários foram verificados em Calabresa e IZ 15/7, as quais foram con-sideradas recomendáveis, pois se demonstraram como forrageiras com alta qualidade da folha superior e de maior preferência para a alimentação.

Essa maior qualidade foliar, atribuída à Calabresa, também foi constatada por Takahashi (1996), que destaca a ocorrência, nesta cultivar, de elevado teor de proteína (Thangamani & Vivekanandan, 1984; Hamano & Okano, 1989; Mendonça, 1994), que desempenha papel fundamental nos processos metabólicos, sendo limitante para o crescimento de insetos (Scriber & Slansky Junior, 1981) e para a produção do fio de seda (Hanada & Watanabe, 1986). A cultivar IZ 15/7 foi também considerada recomendável ao consumo, por apresentar características quantitativas foliares desejáveis, provavelmente, pelo fato de sua progenitora feminina ser a cultivar Calabresa.

Portanto, essas cultivares podem apresentar boa pro-dução de casulos, pois segundo Periasamy & Radhakrishnan (1985), Mendonça (1994) e Qader (1995), um dos fatores determinantes da produção é a qualidade nutricional das folhas de amoreira, que apre-senta grande importância para o crescimento das lagartas do bicho-da-seda (Tinoco & Almeida, 1992).

As cultivares Calabresa e IZ 15/7 (do primeiro grupo), e Korin, IZ 40 e IZ 5/2 (subgrupo do segundo grupo) podem ser consideradas mais apropriadas para alimentação das lagartas, uma vez que apresentaram

maior consumo foliar, o que foi atribuído, principalmente, à ocorrência de características quantitativas desejáveis na folha superior (Tabela 1). Resultados diferentes verificaram-se nas cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2 (do terceiro grupo), que apresentaram menor consumo foliar, em virtude de presença de características não desejáveis na folha (Katsumata, 1971; Fahn, 1979; Fujita & Uchikawa, 1986; Cappellozza et al., 1996; Sugimura et al., 1999), que tornam essas cultivares pouco recomendadas. As cultivares IZ 64, IZ 23/3 e IZ 56/4 foram consideradas como sendo de grupo intermediário, em relação à qualidade da folha superior.

Atualmente, os sericicultores pouco utilizam a Calabresa, pois de acordo com Fonseca et al. (1987), essa cultivar apresenta baixo volume de produção de folhas por ha por ano. Porém, face aos resultados obti-dos, com base na qualidade da planta como forrageira, é viável o seu emprego, principalmente na alimentação de lagartas de primeiro e segundo instares, quando o volume de folhas consumidas é pequeno e a seletividade dos insetos é alta, optando as lagartas por alimentos mais palatáveis.

As médias das características quantitativas da folha mediana (15a folha), das dez cultivares de amoreira,

empregadas para a realização da análise de componen-tes principais e análise de agrupamento, estão apresen-tadas na Tabela 3.

Os coeficientes de correlação entre as l7 características da folha mediana e os dois primeiros componentes principais (Y1 e Y2), resultantes da análise

de componentes principais, encontram-se na Tabela 4. No conjunto, estes componentes foram responsáveis por 76,10% da informação (variância) acumulada pelos caracteres avaliados, revelando que eles são indicado-res eficientes de dissimilaridade, permitindo, diferenciar as cultivares de amoreira.

Para o primeiro componente (Y1),as características

com maior poder discriminatório das dez cultivares de amoreira foram: porcentagem de folha não consumida, de parênquima clorofiliano, de epiderme, de fibra bruta e de idioblastos de mucilagem, bem como número de idioblastos de cistólito e de idioblastos de mucilagem (Tabela 4). Com relação ao segundo componente (Y2),

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apre-sentar valor da informação retida maior que do segundo componente, foi também considerado mais satisfatório para explicar a contribuição das características ava-liadas na formação dos agrupamentos das cultivares de amoreira, relacionadas com a qualidade da folha mediana para a alimentação das lagartas do bicho-da-seda.

O dendrograma resultante da análise de agrupamen-to e a dispersão gráfica referente à análise dos compo-nentes principais (Figura 2) revelaram que as caracte-rísticas avaliadas da folha mediana, com maior poder discriminatório, foram as responsáveis pela formação de quatro grupos principais entre as cultivares de amoreira estudadas. O primeiro grupo foi formado iso-ladamente pela cultivar Calabresa, considerada como recomendável isoladamente pela qualidade da folha medi-ana. O segundo grupo, considerado também como reco-mendável para a alimentação do bicho-da-seda, foi consti-tuído pelas cultivares Korin e IZ 5/2. O terceiro grupo, considerado intermediário, foi composto pelas cultivares IZ 40, IZ 64, IZ 15/7, IZ 23/3 e IZ 56/4. O quarto grupo foi formado pelas cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2, considera-das pouco recomendáveis para o consumo considera-das lagartas.

A análise conjunta do primeiro componente (Tabela 4) e da dispersão gráfica (Figura 2) mostrou que as folhas medianas das cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2 apresentaram maiores porcentagens de folhas não consumidas, de fibra bruta, de epiderme e de idioblastos de mucilagem, maior número de idioblastos de cistólito e de mucilagem, bem como menor porcentagem de parênquima clorofiliano (Tabela 3). Essas cultivares, conseqüentemente, são consideradas pouco recomendáveis ao consumo. As cultivares Calabresa, Korin e IZ 5/2 apresentaram resultados diferenciados, sendo caracterizadas como recomendáveis para o consumo, constituindo-se em forrageiras com alta qualidade da folha mediana e de maior preferência pelo bicho-da-seda.

Tabela 3. Valores médios de 17 características morfo-anatômicas e bromatológicas da folha mediana (15a folha), de dez cultivares de amoreira.

Tabela 4. Coeficientes de correlação entre as 17 característi-cas morfo-anatômicaracterísti-cas e bromatológicaracterísti-cas da folha mediana (15a folha), das dez cultivares de amoreira e os dois primeiros componentes principais (Y1 e Y2).

Característica quantitativa Cultivar

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A maior qualidade foliar, presente na cultivar Korin, tam-bém constatada por Porto et al. (2004), revela que a ali-mentação de lagartas, com esta cultivar, propicia melhores desempenhos biológico e produtivo ao bicho-da-seda.

Portanto, as cultivares Calabresa (primeiro grupo), Korin e IZ 5/2 (segundo grupo) podem ser considera-das as mais apropriaconsidera-das para alimentação do bicho-da-seda, como também constatou Mendonça (1994), uma vez que apresentaram maior proporção de folha

consumida, atribuída, principalmente, à ocorrência de ca-racterísticas quantitativas desejáveis na folha mediana (Tabela 3). Resultados diferentes foram verificados nas cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2 (quarto grupo), que asentaram consumo foliar reduzido, em virtude da pre-sença de características indesejáveis na folha (Katsumata, 1971; Fahn, 1979; Fujita & Uchikawa, 1986; Cappellozza et al., 1996; Sugimura et al., 1999). As cul-tivares IZ 40, IZ 64, IZ 15/7, IZ 23/3 e IZ 56/4 foram consideradas como pertencentes ao grupo intermediá-rio, em relação à qualidade da folha mediana.

Deve-se ressaltar que na classificação das cultivares de amoreira, quanto à qualidade das folhas, não foi con-siderado o seu desempenho produtivo (kg ha-1 de folhas

por ano).

A espessura da folha é característica importante para a manutenção da turgescência, condição imprescindível no consumo pelas lagartas do bicho-da-seda, devendo-se também obdevendo-servar essa característica na escolha das cultivares de amoreira (Hazama, 1968; Tinoco & Almeida, 1992; Takahashi, 1996). As cultivares Calabresa e Korin caracterizaram-se pela maior espes-sura das folhas superior (Tabela 1) e mediana (Tabela 3), permitindo considerá-las, também por esse motivo, como as mais recomendáveis ao consumo. Esta característica contribuiu para a inclusão de Calabresa e Korin no grupo das cultivares mais consumidas pelo bicho-da-seda.

Conclusões

1. As cultivares Korin, Calabresa, IZ 5/2 e IZ 15/7 apresentam características foliares desejáveis e são as mais consumidas pelas lagartas do bicho-da-seda.

2. As cultivares IZ 13/6 e IZ 57/2 são as menos re-comendáveis para o consumo e as cultivares IZ 40, IZ 64, IZ 23/3 e IZ 56/4 são consideradas intermediárias, em relação à preferência pelo bicho-da-seda e qualidade das folhas.

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1

7 2 5 3

4

9 6 10 8

Y1 1

6 10

2 5

9 4 8

7

3 Y2

A

B

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Tabela 1. Valores médios de 17 características morfo-anatômicas e bromatológicas da folha superior (5 a  folha), de dez cultivares de amoreira.
Tabela 2. Coeficientes de correlação entre as 17 características morfo-anatômicas e bromatológicas da folha superior (5 a  folha), das dez cultivares de amoreira e os dois primeiros componentes principais (Y 1  e Y 2 ).
Tabela 3. Valores médios de 17 características morfo-anatômicas e bromatológicas da folha mediana (15 a  folha), de dez cultivares de amoreira.
Figura 2. Dendrograma resultante da análise de agrupamento das 17 características quantitativas da folha mediana (15 a ), utilizando-se a distância euclidiana média entre dez cultivares de amoreira (A) e dispersão gráfica das dez cultivares de amoreira (B)

Referências

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