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"Pode chegar, freguês": a cultura organizacional do mercado público de Porto Alegre.

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Academic year: 2017

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T

E

“P

ODE

C

HEGAR

, F

REGUÊS

”:

A

C

ULTURA

O

RGANIZACIONAL

DO

M

ERCADO

P

ÚBLICO

DE

P

ORTO

A

LEGRE

*

N e u sa Ro lit a Ca v e d o n * *

R

ESUMO

st a p esq u i sa f ocal i zou o Mer cad o Pú b l i co d e Por t o Al eg r e e, ao p r ocu r ar d esv en -d ar a cu lt u r a or g an izacion al -d esse locu s, i-d en t if icou as p ecu liar i-d a-d es in er en t es a fat or es h ist ór icos, m ít icos e r elig iosos lig ad os ao m od o d e ser p or t o- aleg r en se e q u e se r ev elam n a ad m in ist r ação d as loj as d o Mer cad o, ev id en cian d o sig n if icad os qu e u n em o sagr ado e o pr of an o, o pú blico e o pr iv ado, a t r adição e a m oder n idade, o com ér cio e a af et iv idade. At r av és do m ét odo et n ogr áf ico, com a ida a cam po en t r e agost o de 2 0 0 0 e j an eir o de 2 0 0 1 , iden t ificou - se a r epr esen t ação do Mer cado com o u m av ô, qu e af aga os n et os, con t a- lh es h ist ór ias, é per m issiv o em r elação a cer t as br in cadeir as e, por m ais af eit o qu e sej a às m u dan ças, possu i h ábit os ar r aigados ao lon go do t em po de u m a v ida qu e pr ecisam ser r espeit ados. O at en dim en t o per son alizado, qu e poder ia ser im pes-soal, con f er e a esse espaço u m a sign if icação de casa. A sign if icação “ sh oppin g de pobr e” r ef let e a am bigü idade de u m espaço h igien izado pelo Poder Pú blico, m as qu e ain da ex ala os odor es f or t es das igu ar ias popu lar es. A r epr esen t ação qu e iden t if ica o Mer cado com o u m “ r efú gio” t r az à lem br an ça u m t em po qu e passa m ais len t o, o t em po dos an t igos ar m azén s, on de a v en da a gr an el e o u so do bar ban t e par a f ech ar o pacot e f aziam par t e do cot idiano.

A

BSTRACT

h is r esear ch f ocu sed on t h e Pu b lic Mar k et of Por t o Aleg r e an d , in seek in g t o f in d ou t t h e or gan izat ion al cu lt u r e of t h is locu s, it ident ified t he peculiar it ies inher ent t o h ist or ical, m y t h ical an d r eligiou s f act or s r elat ed t o t h e cit izen s w ay of bein g. Th ese fact or s r ev eal t hem selv es on t he m ar k et st or es adm inist r at ion, por t r ay ing significances t hat bond t he sacr ed and t he pr ofane, t he public and t he pr iv at e, t he t r adit ional and t he new , t he t r ade and t he affect iv it y . Thr ough t he et hnogr aphic m et hod, w it h t he fieldw or k fr om August , 2000 t o Januar y , 2001, it w as found t hat t he m ar k et r epr esent s t he figur e of a “ gr andfat her ” , t hat cuddles his gr andchildr en, t ells t hem st or ies and is per m issiv e as r egar ds t o cer t ain gam es, alt h ou gh , as m u ch fam iliar t o ch an ges as h e m igh t be, h e h as habit s acquir ed along a lifet im e t hat need t o be r espect ed. The cust om ized ser v ice, w hich cou ld be im per son al, con fer s a sign ifican ce of h om e u pon t h e place. Th e sign ificat ion “ m all of t he poor ” r eflect s t he am biguit y of a space w hose hy giene is m ade by t he Est at e, but st ill ex hales t he st r ong sm ells of t he popular delicat essen it em s. The represent at ion t hat ident ifies t he Mar k et as a r efuge, r ecalls a t im e t hat r uns slow ly , t he t im e of t he old gr ocer y st or es, w hen t he w holesale and t he pack age closed by st r ings w er e a par t of t he day .

* Est e t r abalho, em um a ver são um pouco m ais am pliada, foi vencedor do Pr êm io Top Ser Hum ano/ 2002 da ABRH- RS, cat egor ia pr ofissional. A pesquisa cont ou com r ecur sos do CNPq, da FAPERGS e da PROPESQ/ UFRGS.

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o & s - v . 1 1 - n . 2 9 - Ja n e i r o / A b r i l - 2 0 0 4 1 7 4

A

I

NTRODUÇÃO

p r od u ção d o con h ecim en t o ad m in ist r at iv o at r elad o aos asp ect os locais v em sen do debat ida por algu n s pesqu isador es br asileir os ( CALDAS, 1 9 9 7 ; FI SCHER E MCALLI STER, 1 9 9 9 ) ao lon g o d os ú lt im os an os. Tod av ia, a g er ação d e p es-q u isas com essa car act er íst ica, em se t r at an d o d as d im en sões d e u m p aís com o o Br asil, ain da se con f igu r a com o in ex pr essiv a, especialm en t e, com r elação a d et er m in ad as or g an izações cu j as in t er f aces r em on t am aos asp ect os h ist ór icos e cu lt u r ais p ecu liar es d e u m a d ad a localid ad e ou r eg ião. Sen d o assim , j u lg ou - se r elev an t e d esen v olv er u m t r ab alh o q u e m ost r asse as esp ecif icid ad es d e u m d e-t er m in ado u n iv er so com er cial de Por e-t o Alegr e: o Mer cado Pú blico.

Con st r u ído, em 1 8 6 9 , o Mer cado Pú blico sit u a- se n a Pr aça XV, bem n o cen t r o d e Por t o Aleg r e, p r óx im o à Pr ef eit u r a e ao cais d o p or t o. Em su a con f ig u r ação in icial possu ía u m ú n ico pav im en t o em f or m a de qu adr ilát er o, com pát io in t er n o e t o r r e õ e s n a s e sq u i n a s. Co m o p a ssa r d o s a n o s, ch a l é s d e m a d e i r a f o r a m con st r u íd os em seu p át io in t er n o, sen d o q u e, em 1 9 1 2 , h ou v e u m a r ef or m u lação n o p r éd io q u e p assou a con t ar com u m seg u n d o p iso, v isan d o ab r ig ar escr it ór ios com er ciais, in du st r iais e r epar t ições pú blicas. Um dos m ais t r adicion ais cen t r os de ab ast ecim en t o d a cid ad e, o Mer cad o Pú b lico f oi v ít im a d e q u at r o sin ist r os: a en -ch en t e q u e p r ov ocou u m a calam id ad e n a cid ad e em 1 9 4 1 ; e t r ês in cên d ios, u m em 1 9 1 2 , ou t r o em 1 9 7 6 e ain d a ou t r o em 1 9 7 9 . Passou a in cor p or ar o Pat r im ôn io Hist ór ico e Cu lt u r al do Mu n icípio em 1 9 7 9 . Em 1 9 9 0 , a adm in ist r ação pú blica do m unicípio com eçou a m obilizar a sociedade com v ist as à r est aur ação das edificações d o Mer cad o. As r ef or m as in t er n as d er am u m ar d e m od er n id ad e ao v elh o Mer cad o, sem , con t u d o, d esf ig u r ar su a f ach ad a ex t er n a. Essa r est au r ação f oi con clu íd a em 1 9 9 7 .

Mas o Mer cad o n ão p od e ser en t en d id o só sob o p on t o d e v ist a com er cial e t u r íst ico. Há t od o u m p assad o q u e p r ecisa ser r esg at ad o p ar a q u e se p ossa com -p r een d er a cu lt u r a or g an izacion al d aq u ele u n iv er so d e com ér cio.

Ao Mer cad o est ão lig ad as m u it as d as t r ad ições af r o- b r asileir as cu lt iv ad as n o su l do país. Os r ecém - in iciados n as r eligiões af r o- br asileir as dev em cu m pr ir u m r it u al d e id a at é o Mer cad o, seg u in d o os d og m as d os cu lt os. Af or a isso, alg u m as b an cas d o Mer cad o se d ed icam à v en d a d e p r od u t os p ar a as “ Casas d e Relig ião” ( NOGUEI RA, s/ d) . Esse at r elam en t o ao m u n do m ágico pode t er dim in u ído com o p assar d o t em p o, m as, sem d ú v id a, ain d a r est am t r ad ições q u e con t in u am f azen d o p ar t e d o lad o m ág ico q u e p ov oa esse esp aço d e sociab ilid ad e, com ér cio, cu lt u -r a e m alan d-r agem .

As ban cas do Mer cado são de per m ission ár ios; por t an t o, ex ist e u m a in t er f ace en t r e os com er cian t es e a Pr ef eit u r a, q u e é a in st ân cia m áx im a q u e con ced e a p er m isssão p ar a o ex er cício d as at iv id ad es d e com p r a e v en d a n o local.

Os ar om as se m ist u r am n esse esp aço; o p er f u m e d as esp eciar ias se con -f u n d e com o ar om a d e ca-f é m oíd o n a h or a, com o p er -f u m e ex alad o p elas -f r u t as e, ain d a, com o od or f or t e d e p eix e f r esco. Pessoas d e p osses e p ob r es, b r an cos e n eg r os, t u r ist as e cid ad ãos d a t er r a, t od os cir cu lam p elo Mer cad o. Vale d est acar q u e os clien t es d o Mer cad o são ad eq u ad am en t e ch am ad os d e u su ár ios; ist o se dev e ao f at o de qu e m u it os, além de con su m ir ben s e ser v iços n o local, u t ilizam o esp aço p ar a b r ev es m in u t os d e d escan so ou d esf r u t ar alg u m t ip o d e lazer cu lt u r al ( sh o w s, e x p o si çõ e s) . Já o s p e r m i ssi o n á r i o s sã o t a m b é m co n h e ci d o s co m o m er cad eir os. No d esen r olar d o r elat o f ar - se- á o u so d essas t er m in olog ias.

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p er m ission ár ios e d os f r eq ü en t ad or es d o Mer cad o f ace às m u d an ças f ísicas lev a-d as a ef eit o; a-d ) ia-d en t if icar os asp ect os a-d a cu lt u r a local q u e p er p assam o esp aço or g an izacion al; e e) d esv en d ar a r elação d o m ág ico com o p r of an o q u e ex ist e n o local e v er if icar de qu e m odo t al r elação in f lu en cia a cu lt u r a or gan izacion al.

Bu scou - se r esp on d er à seg u in t e in d ag ação: q u ais as esp ecif icid ad es ad m i-n ist r at iv as p r esei-n t es i-n a cu lt u r a or g ai-n izacioi-n al d o Mer cad o Pú b lico?

Os ob j et iv os f or am at in g id os p or q u e f oi p ossív el v iv en ciar o cot id ian o d o Mer cad o, at r av és d a ob ser v ação p ar t icip an t e ( com o u su ár ia/ clien t e) e t am b ém en t r ev ist ar u su ár ios ( clien t es) , f u n cion ár ios, r ep r esen t an t es d os p er m ission ár ios. A r ef or m a do local e o m ágico, est e ú lt im o at r elado às r eligiões af r o- br asileir as, a f l o r a r a m n o s d i scu r so s e em a çõ es, p er m i t i n d o a i n t er p r et a çã o d a cu l t u r a or g an izacion al d o Mer cad o.

A seg u ir d iscor r er - se- á sob r e as d if er en ças t eór icas r elat iv as à n oção d e cu lt u r a or g an izacion al, a m et od olog ia u t ilizad a n a colet a d os d ad os, os r esu lt ad os ob t id os, a an álise d os sig n if icad os e as con sid er ações f in ais.

C

ULTURA

O

RGANIZACIONAL

:

C

OMPREENDENDO AS

D

IFERENÇAS

T

EÓRICAS

Em t er m os d e cu lt u r a or g an izacion al, ap esar d as con ceit u ações se ap r esen t ar em com n u an ces e m esm o d if er en ças, em u m asp ect o p ar ece h av er cer t o con -sen so en t r e os est u d iosos, q u e é o d e at r elar cu lt u r a or g an izacion al ao con d icio-n am eicio-n t o d o s i icio-n t eg r aicio-n t es d e u m a d ad a o r g aicio-n i zação icio-n o q u e t aicio-n g e às açõ es e ao s com p or t am en t os socialm en t e aceit os p ela m esm a.

Par a pôr em ev idên cia o qu e f oi af ir m ado acim a sobr e cu lt u r a x com por t a-m en t o, f ar - se- á u a-m r esg at e d as con ceit u ações en t ab u lad as p or d if er en t es au t o-r es. Den t o-r e os au t oo-r es con sag o-r ad os, en con t o-r a- se Ed g ao-r Sch ein . Pao-r a esse au t oo-r ( 1 9 8 4 , p. 4 )

A cu lt u r a or g an izacion al é o m od elo d os p r essu p ost os b ásicos, q u e d e-t er m in ad o g r u p o in v en e-t ou , d escob r iu ou d esen v olv eu n o p r ocesso d e ap r en d izag em p ar a lid ar com os p r ob lem as d e ad ap t ação ex t er n a e in -t er n a. Ten do f u n cion ado bem o su f icien -t e par a ser em con sider ados v álid os, esses p r essu p ost os são en si n aálid os aos álid em ai s m em b r os com o sen -d o a f or m a cor r et a -d e se p er ceb er , -d e se p en sar e sen t ir em r elação a esses p r o b l em as.

Seg u n d o Sch ein ( 1 9 8 4 ) , p ar a q u e se p ossa com p r een d er a cu lt u r a d e u m a or g an ização h á q u e se t er em con t a:

o n ív el d os ar t ef at os e d as cr iações: a ar q u it et u r a, o layout , os m od elos d e com p or t am en t os v isív eis e in v isív eis, a m an eir a com o as p essoas se v es-t em , car es-t as, m apas;

• o n ív el d os v alor es, em g er al, v alor es m an if est os;

• o n ív el d os p r essu p ost os in con scien t es: as p essoas com p ar t ilh am v alor es q u e lev am a d et er m in ad os com p or t am en t os q u e ao se m ost r ar em ad eq u ad os n a solu ção ad e p r ob lem as v ão se t r an sf or m an ad o em p r essu p ost os in -con scien t es.

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Tan t o Mor g an ( 1 9 9 6 ) com o Th év en et ( 1 9 9 1 ) , en t r e ou t r os, p ost u lam a im pr at icabilidade de se m u dar a cu lt u r a de f or m a m ecan icist a. No dizer de Mor gan ( 1 9 9 6 ) a cu lt u r a é alg o v iv o, at iv o, d e sor t e q u e, at r av és d ela, as p essoas cr iam e r ecr iam os con t ex t os n os qu ais v iv em . Assim , a cu lt u r a é h ologr áf ica e os adm in is-t r ad or es, cien is-t es d as con seq ü ên cias sim b ólicas d as su as ações, p od em in f lu en ci-ar a cu lt u r a or g an izacion al, m as j am ais p od er ão p r escr ev er as m u d an ças a ser em r ealizadas. Nas palav r as de Mor gan ( 1 9 9 6 , p. 1 3 1 ) : “ A cu lt u r a n ão é algo im post o sob r e u m a sit u ação social. Ao con t r ár io, ela se d esen v olv e d u r an t e o cu r so d a in t er ação social” . Vale dizer qu e a cu lt u r a possu i u m a din âm ica qu e lh e é pr ópr ia, f r u t o d e u m p r ocesso con t ín u o d e r ep r esen t ação. Mor g an ( 1 9 9 6 ) r essalt a ain d a o ca r á t e r i n t e r p r e t a t i v o a se r d a d o q u a n d o se b u sca co n h e ce r u m a cu l t u r a or gan izacion al.

Seg u in d o esse m esm o con t or n o, Th év en et ( 1 9 9 1 ) ar g u m en t a q u e a em -p r esa t em u m a cu lt u r a e q u e ela é u m a cu lt u r a. No -p r im eir o caso, a id éia é d e q u e cad a em p r esa p o ssu i u m co n j u n t o d e el em en t o s q u e l h e são p r ó p r i o s, p o -d en -d o a cu l t u r a ser -d escr i t a; n o seg u n -d o caso , a em p r esa é co n si -d er a-d a co m o u m a socied ad e h u m an a, ap r esen t an d o sím b olos, sig n os q u e se con f ig u r am com o cr iações colet iv as e af ir m am a ex ist ên cia d a m esm a. O au t or v ê a m u d an ça d a cu lt u r a or g an izacion al com o in er en t e a t od a socied ad e h u m an a, con q u an t o n ão acr ed i t e n a p ossi b i l i d ad e d e u m a m u d an ça d en t r o d e u m a v i são car t esi an a d e ca u sa e ef ei t o .

Pet t igr ew ( 1 9 7 9 ) acr edit a qu e o h om em cr ia cu lt u r a e t am bém é cr iado pela m esm a, ou sej a, é u m a r elação d e m ão d u p la d o t ip o est ab elecid o p or Th év en et , d e q u e a em p r esa é u m a cu lt u r a e ao m esm o t em p o p ossu i u m a cu lt u r a. Pet t ig r ew ( 1 9 7 9 , p. 5 7 4 ) def in e cu lt u r a or gan izacion al com o: “ u m sist em a de sign if icados aceit os p ú b lica e colet iv am en t e p or u m d ad o g r u p o n u m d ad o t em p o. Esse sist e-m a d e t er e-m os, f or e-m as, cat eg or ias e ie-m ag en s in t er p r et ae-m p ar a as p essoas as su as p r óp r ias sit u ações” .

Por su a v ez, M. Fr eit as ( 1 9 9 7 ) at r ela a id éia d e cu lt u r a or g an izacion al a d e u m pr oj et o ao qu al os m em br os de u m a or gan ização qu er em e dev em ader ir . De acor d o com a au t or a, a cu lt u r a or g an izacion al é a r ef er ên cia q u e ir á d izer q u ais os com p or t am en t os e ações q u e d ar ão su p or t e a esse p r oj et o, ou sej a, a cu lt u r a ir á d ef in ir o q u e é ex em p lar id ad e, o q u e é d esv io social d en t r o d esse con t ex t o; a p alav r a ex t er n alizad a at r av és d as f est as e d as cer im ôn ias at u a n o sen t id o d e d esen v olv er a id éia d e or g u lh o, d e p er t en cim en t o a u m a d ad a or g an ização. Em ou t r o t r abalh o, M. Fr eit as ( 1 9 9 1 , p. 1 2 9 ) af ir m a qu e a cu lt u r a possu i f u n ções de co n t r o l e al t am en t e r ef i n ad as, sen d o “ n a co n q u i st a d o af et i v o q u e a cu l t u r a or g an izacion al m ar ca su a d if er en ça en q u an t o f or m a d e con t r ole” .

A associação d a cu lt u r a a com p or t am en t os t am b ém é f eit a p or Lu p p i ( 1 9 9 5 , p . 1 6 - 1 7 ) , q u e, n o en t an t o, a ex em p lo d e Mor g an e Th év en et , am p lia o con ceit o n a m ed id a em q u e con seg u e d esv in cu lá- lo d e u m a v isão m ecan icist a:

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Bar bosa ( 1996, p. 16) , buscando apoio nas t eor izações de Geer t z ( 1978) , as-sim define cult ur a or ganizacional ( que ela pr efer e cham ar de cult ur a adm inist r at iv a) :

Cu lt u r a [ . . . ] Do pon t o de v ist a m ais pr agm át ico pode ser en t en dida com o r eg r as d e in t er p r et ação d a r ealid ad e, q u e n ecessar iam en t e n ão são in -t er p r e-t ad as u n iv ocam en -t e p or -t od os, d e f or m a a p er m an en -t em en -t e es-t ar em associ ad os sej a a h om og en ei d ad e ou ao con sen so. Essas r eg r as p od em e são r ein t er p r et ad as, n eg ociad as e m od if icad as a p ar t ir d a r ela-ção en t r e a est r u t u r a e o acon t ecim en t o, en t r e a h ist ór ia e a sin cr on ia. Na m esm a lin h a d e Lu p p i, m as en f at izan d o m ais a q u est ão d o sig n if icad o t al q u al Bar b osa, t em - se a p osição d e Mot t a ( 1 9 9 6 ) . Par a esse au t or a cu lt u r a n ão se con st it u i em u m a cam isa d e f or ça d a q u al o in d iv íd u o n ão p ossa sair . No seu en t en -d er a cu lt u r a ag e -d e m o-d o a in f lu en ciar as ações -d e ca-d a p essoa q u e p r ocu r a ad eq u ar a b ag ag em cu lt u r al d isp on ív el aos seu s p r óp r ios in t er esses e às su as con v icções. Nas palav r as de Mot t a ( 1 9 9 6 , p. 2 0 1 ) :

A cu lt u r a é u m con t ex t o, u m sist em a de r elações. Por ém , a cu lt u r a n ão dev e ser v ist a com o u m poder qu e det er m in a os com por t am en t os. A cu l-t u r a é alg o q u e p er m il-t e q u e os com p or l-t am en l-t os sej am d escr il-t os d e m a-n eir a ia-n t eligív el, por qu e os seu s siga-n if icados v ar iam . Dest a f or m a, o f at o em si, ou o com por t am en t o em si, im por t am n a m edida do qu e sign ificam , e esses sig n if icad os v ar iam con f or m e a cu lt u r a. I st o q u er d izer q u e a cu lt u r a é u m con t ex t o de sign if icados.

Mot t a ( 1 9 9 6 ) salien t a, assim com o Lu ppi ( 1 9 9 5 ) , qu e a cu lt u r a n ão é algo q u e se p ossa m u d ar , p ois o q u e a d et er m in a são as in t er ações. Salien t a ele q u e a cu lt u r a, f r u t o d a v iv ên cia su b j et iv a d os in d iv íd u os, n ão p od e ser r econ st r u íd a t al q u al é in v iáv el a r econ st r u ção d e u m cér eb r o ap ós u m a lob ot om ia.

Par a Fisch er ( 1 9 9 7 , p . 2 6 7 ) , os est u d os sob r e cu lt u r a or g an izacion al b r asi-leir a p od em ser com p ar ad os à m et áf or a d o puzzle, on d e h á “ a com b in ação d e f r agm en t os dist in t os f or m an do u m t odo coer en t e; r econ f igu r ado. Puzzle é u m j og o, on d e h á p er d as e g an h os; g an h a q u em f or m a a f ig u r a, p er d e q u em n ão sab e r ecom binar , r econst r uir , r ev er t er a desconst r ução” .

Pr o cu r a n d o r esp a l d o n a s t eo r i za çõ es d e Geer t z e d e Lév i - St r a u ss, Mo t t a ( 1 9 9 6 , p . 1 9 8 - 1 9 9 ) d iz q u e a cu lt u r a “ d esig n a, classif ica, cor r ig e, lig a e coloca em o r d em . Assi m , a cu l t u r a d esen v o l v e p r i n cíp i o s d e cl assi f i cação q u e p er m i t em o r d e n a r a so ci e d a d e e m g r u p o s d i st i n t o s, g r u p o s t o t ê m i co s e a t é ca t e g o r i a s p r o f i ssi o n ai s “ .

De t od a essa leit u r a, a au t or a t ev e q u e f or m u lar su a p r óp r ia d ef in ição. As-sim , por cu lt u r a or gan izacion al é en t en dida a r ede de sign if icações qu e cir cu lam d en t r o e f or a d o esp aço or g an izacion al, sen d o sim u lt an eam en t e am b íg u as, con -t r ad i-t ór ias, com p lem en -t ar es, d ísp ar es e an álog as, im p lican d o r essem an -t izações q u e r ev elam a h om og en eid ad e e a h et er og en eid ad e or g an izacion al.

O Mer cad o Pú b lico d e Por t o Aleg r e se en q u ad r a com o u m a or g an ização lo-cal, cu j a cu lt u r a or gan izacion al r ev ela especif icidades da cu lt u r a por t o- alegr en se e g aú ch a, sen d o ain d a u m p on t o d e r ef er ên cia n o caso d a p r eser v ação d a cu lt u r a afr o- br asileir a- gaúcha ( nest e sent ido v er DANTAS, 1 9 9 6 ; SI QUEI RA, 1 9 9 6 ) . I st o t an t o é v er d ad e q u e n o f in al d e 1 9 9 9 , u m a ex p osição d e in d u m en t ár ias e ap et r e-ch os u sad os p elos or ix ás, b em com o d e ar t e r elacion ad a com a r elig iosid ad e d e cu n h o af r ican o, g an h ar am esp aço n o Mer cad o.

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so b r e a a b e r t u r a d o Me r ca d o a o s d o m i n g o s e f e r i a d o s. D e a co r d o co m o s per m ission ár ios, a af lu ên cia n ão ser á sign if icat iv a se n ão h ou v er u m a in f r a est r u -t u r a qu e per m i-t a ao cidadão se deslocar a-t é o local com u m m ín im o de con f or -t o e segu r an ça. Assim , as r ef or m u lações ain da im plicam discu ssões e m er ecem u m es-t u d o ap r of u n d ad o, a ex em p lo d o q u e ocor r eu com o Cen es-t r o Hises-t ór ico d e Salv ad or ( FI SCHER et alii, 1996) .

Par a q u e se p ossa com p r een d er a cu lt u r a or g an izacion al d o Mer cad o Pú b li-co d e Por t o Aleg r e, h á q u e se at en t ar p ar a o sist em a cu lt u r al, p ar a o sist em a sim bólico e par a o sist em a im aginár io que per m eia a or ganização ( ENRI QUEZ, 1996) . Est e est u d o v ai ao en con t r o d os t r ab alh os d esen v olv id os p or d iv er sos au -t or es ( en-t r e eles, FI SCHER e-t alii, 1 9 9 3 ; SI QUEI RA, 1 9 9 3 ; SANTOS, 1 9 9 6 ; FI SCHER e DI AS, 1 9 9 8 ; VERGARA et alii, 1 9 9 7 ) qu e pr ocu r ar am desv en dar as especificidades d as or g an izações locais car iocas e sot er op olit an as.

M

ÉTODO

A p esq u isa d e cam p o f oi r ealizad a d e ag ost o d e 2 0 0 0 a j an eir o d e 2 0 0 1 . O m ét od o u t ilizad o f oi o et n og r áf ico ( PEI RANO, 1 9 9 5 ) t en d o p or t écn icas a ob ser v a-ção sist em át ica e a obser v aa-ção par t icipan t e ( MALI NOWSKI , 1 9 7 8 ; FOOTE- WHI TE, 1 9 9 5 ) , en t r ev ist as sem i- est r u t u r adas, e o m an u seio de m at er ial docu m en t al.

I nicialm ent e, pr ocur ou- se j unt o aos ar quiv os do Jor nal Zer o Hor a dados que per m it issem conhecer par t e da hist ór ia cot idiana do Mer cado. O r esgat e da gênese do Mer cado f oi obt ida j u n t o ao Mu seu Hipólit o José da Cost a e do m an u seio de m at e-r iais disponibilizados pelo Mem oe-r ial do Mee-r cado Público. Os aspect os e-r elacionados à r eligiosidade afr o- br asileir a for am pesquisados na bibliot eca das Ciências Hum anas e Sociais da Univ er sidade Feder al do Rio Gr ande do Sul, em liv r os e disser t ações.

A in ser ção n o cam p o d eu - se at r av és d o Mem or ial d o Mer cad o Pú b lico, loca-lizad o n os alt os d o Mer cad o ( seg u n d o p av im en t o) e q u e é v in cu lad o à Secr et ar ia d a Cu lt u r a d o Mu n icíp io d e Por t o Aleg r e, e p ela Associação d o Com ér cio d o Mer ca-d o Pú b lico Cen t r al ca-d e Por t o Aleg r e. Op t ou - se p ela en t r aca-d a em cam p o at r av és ca-d es-sas d u as in st it u ições em v ir t u d e d a r elação d os p er m ission ár ios com a Secr et ar ia d e I n d ú st r ia e Com ér cio d o Mu n icíp io se ap r esen t ar u m p ou co con f lit u ad a, seg u n -d o in f or m ações ob t i-d as a p r ior i. A ob ser v ação p ar t icip an t e ocor r eu n a con -d ição -d e u su ár ia do Mer cado, t an t o n aqu ilo qu e o m esm o of er ece sob a ót ica cu lt u r al ( sh ow s, ex p osições) com o con su m id or a d e ar t ig os d isp on ív eis n as m ais v ar iad as Ban cas. Dois b olsist as d e I n iciação Cien t íf ica e n ov e alu n os d o cu r so d e Mest r ad o Acad êm i-co se en v olv er am n o t r ab alh o d e cam p o. Com o se t r at a d e u m a p esq u isa q u alit a-t iv a, b u scou - se a r ep r esen a-t aa-t iv id ad e p ela d iv er sid ad e d e p er f is d os aa-t or es en a-t r e-v i st a d o s. Fo r a m e n t r e e-v i st a d o s u su á r i o s, f u n ci o n á r i o s e r e p r e se n t a n t e s d o s p er m ission ár ios, t an t o v in cu lad os às Ban cas in t er n as ao Mer cad o com o aq u eles at r elad os a Ban cas cu j a ab er t u r a se d á p ar a f or a d o m esm o. For am r ealizad as 4 9 en t r ev ist as com u su ár ios, 2 3 en t r ev ist as com f u n cion ár ios e 1 0 en t r ev ist as com os r ep r esen t an t es d os m er cad eir os j u n t o à Associação d o Com ér cio d o Mer cad o Pú b lico Cen t r al d e Por t o Aleg r e. Visan d o a ef et u ar - se a an álise d as f alas, p r oce-d eu - se a t r an scr ição oce-d as f it as n a ín t eg r a, p ar a p ost er ior ioce-d en t if icação oce-d aq u ilo q u e f oi m ais r ecor r en t e n os d iscu r sos.

O M

ERCADO E

AS

R

ELIGIÕES

A

FRO

-B

RASILEIRAS

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e u m Ob ocu m ( Ox alá v elh o, p ai d e t od os os or ix ás) , j u n t am en t e com m oed as e b ú zios. O Bar á é con sid er ad o o d eu s “ d on o d os cam in h os e d os cr u zeir os ( en cr u -zilh adas) ” , ele sim boliza o m ov im en t o. Par a Cor r ea ( 1 9 8 8 , p. 2 9 3 ) : “ Depen den do d e com o f or t r at ad o, ele p od e ‘f ech ar ’ ou ‘ab r ir ’ os cam in h os d as p essoas, f acilit an -d o- lh es a v i-d a ou cau san -d o- lh es g r an -d es ab or r ecim en t os” .

Par a os in iciad os n o Bat u q u e, o ciclo r it u al t er m in a com o “ p asseio” q u e in clu i u m a v isit a ao Mer cado. A en t r ada se dá pela por t a pr in cipal do Mer cado, a m ãe ou p ai d e San t o acom p an h a os n ov os f ilh os. A aq u isição d e f r u t as e h or t aliças r ep r esen t a a f ar t u r a, assim , q u an t o m ais f or com p r ad o, m aior ser á a f ar t u r a em casa. Moed as são j og ad as n o cen t r o d o Mer cad o, b em com o o ch ão é b eij ad o. A saíd a d o g r u p o se d á p ela p or t a op ost a, d e f r en t e p ar a o Rio Gu aíb a, a q u ad r a é con t or n ad a e o g r u p o en t r a n ov am en t e n o Mer cad o, p elo acesso d a Ru a Siq u eir a Cam p os, sain d o p ela p or t a q u e d á acesso a Pr aça Par ob é. Assim , o t r aj et o p er cor -r id o assu m e a f o-r m a d e c-r u z. Na ép oca em q u e n ão h av ia o m u -r o d a Av en id a Mau á sep ar an d o- a d o r io Gu aíb a, m oed as, h or t aliças e f r u t as com p r ad as n o Mer cad o er am j og ad as n as ág u as d o r io p ar a Ox u m , or ix á d on a d a r iq u eza.

Par a Gu ar an i San t os ( Jor na l do Ce nt r o, p . 1 1 ) : “ Est a v isit a ao Mer cad o Pú -b lico é f eit a p ar a q u e a p essoa, d ali lev e u m Ax é, u m a en er g ia p osit iv a e q u e sej a ab er t o o cam in h o d ele a p ar t ir d o m om en t o em q u e ele p assa n as q u at r o saíd as do m er cado e f az aqu ele cr u zeir o. Ali t em a f ar t u r a, a alim en t ação” .

Seg u n d o con st a n o Jor na l dos Cult os Afr o- br a sile ir os ( fev./ 1993, n. 8) : “ Se est u d ar m os a ar q u it et u r a d o Mer cad o v er if icar em os q u e o p r éd io se com p õe d e u m q u ad r ad o em old u r ad o p or u m ou t r o on d e se localizam as b an cas d e acesso d ir et o q u e f or m am u m a cr u z, cu j o p on t o cen t r al é, at u alm en t e, ocu p ad o p or u m a b an ca, a p r in cíp io r ed on d a, e h oj e ost en t an d o u m f or m at o q u ad r an g u lar , b an ca est a q u e se celeb r izou p ela cir -cu n st ân cia d e ser ob j et o d e r ev er ên cia q u an d o d o p asseio r it u alíst ico d os in iciad os n o Cu lt o ao Mer cad o e q u e é p ar t e in t eg r an t e d a n ossa t r adição” .

Esse r it u al ain d a h oj e é ex ecu t ad o p elas p essoas d e “ r elig ião” . O d ep o-im en t o de u m a f u n cion ár ia ( 4 8 an os) en t r ev ist ada com pr ov a t al f at o: “ Eu sou , eu er a de r eligião de Qu im ban da; en t ão assim , qu an do a gen t e f az os t r abalh o, qu an do a g en t e t er m in a os t r ab alh o, a g en t e t em q u e v im aq u i n o Mer cad o, t od os f azem isso [ . . . ] A g en t e t em q u e v im n o Mer cad o, en t r ar p elas q u at r o p or t as d o Mer cad o, p assar p elo m eio d ele. É o r it u al d a r elig ião, q u an d o f az o t r ab alh o t em q u e f azer o passeio den t r o do Mer cado, passar pelo m eio dele. [ . . . ] ” .

Os clien t es ( u su ár ios) t am b ém f azem r ef er ên cia aos asp ect os sag r ad os d o Mer cado: “ [ . . . ] eu sou or iu n do da r eligião afr ican a n é. E [ . . . ] aqu i con t a a h ist ór ia q u e n o cen t r o d o m er cad o, n o p on t o cen t r al d o Mer cad o ex ist e u m Bar á assen t a-d o n é, e an t es a-d e eu n ascer a m in h a m ãe h av er ia p er a-d ia-d o a-d ois f ilh os, n é, e log o q u e eu n asci eu t iv e a m in h a [ . . . ] a op ção d e r elig ião p r é d ef in id a n é, p elos m eu s f am iliar es, qu e m e colocar am n a r eligião af r ican a, m e t r ou x er am aqu i n o Mer cado, n é, f izer am t od o o r it u al n é, en t ão é com o eu d isse, acr ed it o q u e d esd e q u an d o, log o q u e eu n asci u m d os p r im eir os lu g ar es q u e eu f u i v isit ar ach o q u e f oi o Mer ca-do Pú blico de Por t o Alegr e ( clien t e, 2 8 an os) ” . Segu n ca-do ou t r a clien t e ( 4 5 an os) : “ [ . . . ] eu m e lem br o n o in ício qu an do foi a r efor m a lá em 8 9 , h ou v e u m pr oblem a m u it o gr an de com r elação à [ . . . ] às escav ações n o Mer cado, qu e com eçar am a en con t r ar ob j et o assim q u e ser iam d e [ . . . ] d e an t ig os escr av os, en t ão isso aq u i t em algu m , u m v alor m íst ico pr o pessoal da r aça n egr a, en t ão com eçou u m m ov i-m en t o i-m u it o g r an d e, p olêi-m ica q u e n ão d ev er ia se cav ocar , cav ar q u e p od er ia ser um cem it ér io, né” .

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esi-o & s - v . 1 1 - n . 2 9 - Ja n e i r esi-o / A b r i l - 2 0 0 4 1 8 0

d en t e d o Est ad o, Bor g es d e Med eir os; com o am b os est ão m or t os, o “ sen t am en t o” t er ia p er d id o o ef eit o. O “ sen t am en t o” d e Bar á con sist e em p ed r as b asált icas em f or m at o pir am idal ou côn icas qu e dev em poder ocu par , n at u r alm en t e, a posição er et a ( CORREA, 1 9 8 8 ) .

Dep ois d a r ef or m a, a Ban ca q u e ocu p av a o cen t r o d o Mer cad o f oi d eslocad a, sen d o q u e n o local d o ‘sen t am en t o’ o ch ão f oi d em ar cad o; e n esse local f oi coloca-d o u m est r acoloca-d o sob r e o q u al f ica u m seg u r an ça, ist o p or q u e, coloca-d essa p osição, é p ossív el v isu alizar o Mer cad o em t od as as d ir eções. Bast a p er m an ecer p or alg u n s m in u t os n as p r ox im id ad es d esse p on t o cen t r al p ar a se ob ser v ar o r it u al d e j og a-r em m oed as n o cen t a-r o d o Mea-r cad o.

Qu an d o d a r ef or m a d o Mer cad o h ou v e u m a p r eocu p ação com a t r ad ição, t en d o sid o av en t ad a, in clu siv e, a p ossib ilid ad e d e ser er eg id o u m m on u m en t o, n o cen t r o d o Mer cad o, em h om en ag em ao p ov o af r ican o, v isan d o p r ot eg er o Ax é p lan t ad o p elo Pr ín cip e Cu st ód io. Tal p r oj et o en v olv eu os m em b r os d a Fed er ação da Religião Afr o- Br asileir a ( AFROBRAS) , qu e con cor dar am com a ex ecu ção do m es-m o. Mas, es-m eses-m o assies-m , a obr a n ão ch egou a se con cr et izar .

Vale ain d a d est acar q u e as Ban cas q u e v en d em p r od u t os r elig iosos est ão localizad as sem p r e à esq u er d a d e q u em en t r a p or q u alq u er u m d os p or t ões p r in -cip ais, ou a d ir eit a d e q u em sai. Tod as as Ban cas q u e v en d em ar t ig os d e r elig ião são as p r im eir as, à ex ceção d e u m a d as Ban cas, q u e é a seg u n d a em seu cor r e-d or , n o sen t ie-d o e-d e f or a p ar a e-d en t r o e a p en ú lt im a n o sen t ie-d o e-d e e-d en t r o p ar a f or a. En t r e os p op u lar es cir cu la a cr en ça d e q u e ao se com p r ar p r od u t os n o Mer cad o, p or eles est ar em sob r e os ef eit os “ m ág icos” d o “ sen t am en t o” , at r ai- se a f ar t u r a p ar a o am b ien t e d om ést ico.

O M

ERCADO

P

ÚBLICO E SEUS

A

TORES

O

S

F

UNCIONÁRIOS

Os f u n cion ár ios possu em u m a v in cu lação com o Mer cado qu e u lt r apassa a n ecessidade de gar an t ir a su a su bsist ên cia at r av és de u m a r elação capit al/ t r aba-lh o. Não é in com u m en con t r ar fiaba-lh os, sobr in h os, t ias, at u an do n as Ban cas n a con di-ção de f u n cion ár ios. Per cebe- se n as f alas desses t r abalh ador es, em v ir t u de dos laços fam iliar es que os ligam aos per m issionár ios, um a pr edom inância dos aspect os af et iv os r elacion ados com as su as at iv idades pr of ission ais ex er cidas n o Mer cado. De qu alqu er f or m a, a n oção de preservação da Banca com o u m n egócio qu e n ão pode per ecer apar ece n a f ala desses t r abalh ador es- par en t es: “ Oh , por ex em plo, o m eu ser v iço m e agr ada m u it o, o qu e eu f aço, n é. Est ou m e dedican do pr a isso aqu i, fut ur am ent e isso aqui v ai ser m eu, esper o que sej a m eu isso aqui, né. [ . . . ] Por que isso aqu i é do m eu pai, essa loj a aqu i [ . . . ] . Pr a f u t u r am en t e isso aqu i n ão t á qu e-br ando, né, não quee-br ar , né” ( filho de per m issionár io, 2 1 anos) .

O Mer cado é per cebido por algu m as pessoas, qu e são f u n cion ár ios das m ais difer ent es Bancas, com o um Pat rim ônio Hist órico e com o t al d ev e ser p r eser v ad o, um a v ez que r epr esent a a m em ór ia, a t r adição. Nas palav r as de um funcionár io ( 3 1 anos) : “ Aqui é um Pat r im ônio Hist ór ico, né, e o pessoal fr eqüent a bast ant e, e [ . . . ] é [ . . . ] com o é qu e eu posso t e ex plicar [ . . . ] o pessoal gost a do at en dim en t o” .

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No q u e con cer n e ao t a m a nho da s Ba nca s: “ Um d os p r ob lem as d o Mer cad o são as Ban cas, est ão m u it o p eq u en as. Ficou m u it o p eq u en as as Ban cas, só o ú n ico p r ob lem a f oi as Ban cas, f icou m u it o ap er t ad o p r as p essoas, n ão t em esp aço pr os clien t es” ( f u n cion ár io, 1 9 an os) .

Relat iv am en t e à m uda nça de loca liza çã o: “ Mu dou pela f or m a qu e f oi m odi-ficada a plan t a. É [ . . . ] é [ . . . ] t em m u it os fr egu eses qu e [ . . . ] n ão en con t r am m ais as Ban cas qu e est av am acost u m ado, n é. En t ão t ev e algu m as m odif icações [ . . . ] as Ban cas q u e er am ali d en t r o, p assar am aq u i p r o lad o d e f or a. En t ão isso aí d eu [ . . . ] d eu u m t r an st or n o e eles p r ocu r ar am e n ão ach ar am e n ão r et or n ar am m ais p r a pr ocu r ar ” ( fu n cion ár io, 5 2 an os) .

Por ou t r o lad o, as p osit iv id ad es en alt ecid as est ão r elacion ad as com a higi-ene, a orga niza çã o, a im a gem de “shopping”. Qu an t o à or ga niza çã o: “ Ah, m e-lh or ou q u e t á m ais or g an izad o, t á t u d o or g an izad in h o, an t es n ão er a or g an izad o, er a t u d o b ag u n çad o, ag or a t á t u d o or g an izad in h o” ( f u n cion ár io, 3 3 an os) . A higi-e nhigi-e t am bém é phigi-er chigi-ebida: “ Na r higi-ealidadhigi-e, an t higi-es da r higi-ef or m a higi-er a u m lix o! Er a u m a por car ia aqu i, m u it o r at o, essas coisas. Depois da r ef or m a m elh or ou m u it o. Ficou m ais bon it o, dá pr a lazer , as pessoas v isit am m ais e é m elh or ” ( f u n cion ár io, 2 2 an os) . No dizer de ou t r o f u n cion ár io ( 2 3 an os) : “ Ah , er a t er r ív el, n é, car a. Tin h a r at o, t in h a t u do n o Mer cado . . . Essa r ef or m a aí [ . . . ] f oi n ot a m il pr a eles. Melh or ou m uit o o m ov im ent o” . A im agem de um “shopping” é lem br ada: “ Pr a m im n ão m odi-f icou n ada, o qu e t á m odiodi-f ican do é o pú blico. O Mer cado de an t igam en t e [ . . . ] com o t em po t á m or r en do, n é [ . . . ] em r elação ao v elh o, ao idoso, isso qu e alim en t ou o Mer cado. Hoj e j á t á en t r an do u m pú blico m ais j ov em , isso é im por t an t e, n é in clu si-v e, eu ach o q u e a r ef or m a si-v ai ser p r a esse p ú b lico n osi-v o, esse ar d e ‘sh op p in g ’ [ . . . ] n ão é ‘sh op p in g ’, é o ‘sh op p in g d o p ov ão’ q u e é com o a g en t e ch am a. Mas f icou legal, pr o pú blico j ov em f icou m elh or . At é por qu e est á m elh or a par t e de r est au -r an t e, ba-r [ . . . ] qu e j á t -r az o pú blico j ov em , eu ach o qu e ficou m elh o-r , est á com ca-r a de n ov o. Est av a m u it o f eio, m u it o caído” ( f u n cion ár io, 2 6 an os) . No dizer de u m a f u n cion ár ia ( t ia de u m per m ission ár io, 4 3 an os) : “ O Mer cado er a h or r ív el, agor a par ece u m ‘sh oppin g’. Est á m u it o m ais bon it o, m ais lim po, m ais clar o, a gen t e t em m ais v isão, p or q u e an t es er a m u it o escu r o, e é m ais seg u r o” .

O t r ab alh o n o Mer cad o é d if er en t e d o t r ab alh o em q u alq u er ou t r o lu g ar e as r azões são m u it as: o sa lá r io, a s a m iza de s, os clie nt e s, o pa t rã o, a s br inca de ir a s “ É im p or t an t e f alar q u e p ag a b em , t od o m u n d o p ag a b em n o Mer cad o. Ach o q u e o Mer cado é u m dos lu gar es qu e m ais pagam bem n a cidade. Tu t r abalh a bem [ . . . ] t u v ai n u m ‘sh op p in g ’ o p essoal t r ab alh a m u it o m ais e g an h a m en os, é b em p u x ad o. E o f at o d e v ocê se acost u m ar aq u i, n é, eu m e acom od ei, eu g ost o. Eu g ost o d a am izade, de t r abalh ar com o pú blico, n é, eu gost o” ( f u n cion ár io, 2 6 an os) .

Ain d a o sa lá r io: “ Ah , eu ach o, o lu g ar q u e eu m ais g ost ei d e t r ab alh ar é o Mer cado, e paga u m pou qu in h o m ais, n é, t r abalh a m ais m as gan h a m ais. Tr aba-lh ar n essas ou t r as f ir m as aí [ . . . ] n ão v ale a pen a” ( f u n cion ár io, 2 9 an os) . E n as p alav r as d e ou t r o f u n cion ár io ( 3 3 an os) : “ Salár io, q u e é b em m elh or q u e o d a r u a, n é, e o p essoal, q u e t u f ica con h ecen d o t od o m u n d o, n é, t od o m u n d o, d a Ban ca d o lad o, t od o m u n d o se con h ece” .

As a m iza de s: “ I h , t em clien t es qu e são n ossos am igos [ . . . ] ” ( f u n cion ár io, 3 6 an os) . Ou t r a f ala: “ O q u e m ais m e ag r ad a? O q u e m ais m e ag r ad a são os am ig os, né, bast ant e am izade, sem pr e conv er sando com , com out r o” ( funcionár io, 2 9 anos) . Dep oim en t o d e u m f u n cion ár io ( 3 3 an os) : “ É b em d if er en t e esse sist em a d e t r ab lh ar , n é, [ . . . ] . Aqu i o pessoal é m ais u n ido, se t u pr ecisar at é de din h eir o em pr est a-do, com qu alqu er u m t u ar r u m a e aí f or a n ão t em n ada disso. Tr abalh ei aí f or a e é b em d if er en t e, n ão t em n ad a a v er . Aq u i t u con h ece t od o m u n d o, se t u ch eg ar n u m a Ban ca e p ed ir p r a p ag ar am an h ã n ão t em p r ob lem a” .

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n or m a, n or m a t u a m esm o, ser ed u cad o, ser ag r ad áv el, ser sim p át ico com as p es-soas. Eu acr edit o qu e a m aior ia, com pou cas ex ceções, a m aior ia do Mer cado at en de b em , in d ep en d en t e d a su a f u n ção, sej a b ar , açou g u e ou r est au r an t e, é p or aí, o p essoal é m ais acon ch eg ad o aq u i “ ( f u n cion ár io, 4 2 an os) .

O pa t r ã o: “ É [ . . . ] é com o u m a f am ília, n é, por cau sa qu e a gen t e passa m aior t em po n o ser v iço do qu e em casa, n é. O r elacion am en t o é com o u m a f am ília” ( f u n cion ár io, 3 1 an os) . O depoim en t o de ou t r o f u n cion ár io ( 2 2 an os) : “ Olh a, a r elação do f u n cion ár io com o don o da Ban ca é ót im a. É u m car a com pan h eir o, u m car a qu e aj u da m u it o, n ão t em com par ação” . E m ais: “ É ót im a. É ex celen t e. É com o u m a fam ília, o qu e a gen t e pr ecisa a gen t e t em [ . . . ] é ót im o. Já é u m cr it ér io pr o f u n cion ár io at en d er b em o clien t e, t em q u e ser , f u n cion ár io q u e est á t r ab alh an d o in sat isf eit o [ . . . ] n ão v ai f azer bem seu ser v iço” ( f u n cion ár io, 3 0 an os) . Nas pala-v r as d e ou t r o f u n cion ár io ( 1 9 an os) : “ Olh a, n o m eu caso ali, eu m e d ou m u it o b em com ele, ele é p at r ão, m as t r ab alh a j u n t o com n ós, ali, é com o se n ós f osse t u d o d a m esm a alt u r a, n ão t em essa d e só p or q u e ele é p at r ão ele [ . . . ] é t u d o a m esm a coisa” . Com r elação à n oção d e f am ília, con st an t e n os d iscu r sos d os f u n cion ár ios d o Mer cad o, é p ossív el p en sar - se com o Colb ar i ( 1 9 9 6 ) , q u e ev id en cia, em seu est u d o, o f at o d e as im ag en s f am iliar es p r esen t es n a cu lt u r a or g an izacion al f av o-r eceo-r em a d issim u lação d as con t o-r ad ições in t eo-r n as d o t o-r ab alh ad oo-r , f om en t an d o a est ab ilid ad e em ocion al n o am b ien t e d e t r ab alh o.

As br inca de ir a s, n o dizer de u m f u n cion ár io ( 2 3 an os) : “ As br in cadeir as, n é car a, t em m u it a br in cadeir a [ . . . ] t em bast an t e br in cadeir as. É n a h or a de fech ar , é dir et o, n é, n ão t em [ . . . ] n ão t em esse n egócio de f icar em bu r r ado” .

Den t r e as r eclam ações r elacion ad as com o am biente , t em - se aqu eles f u n ci-on ár ios q u e r eclam am d o som m u it o alt o, p an o d e f u n d o p or ocasião d e cer t os ev en t os lev ad os à p ú b lico n o Mer cad o. A ad v er t ên cia d ecor r e d a im p ossib ilid ad e d e at en d er em o clien t e d e m od o ap r op r iad o f ace à alt u r a d o som . No d izer d e u m f u n cion ár io: “ At r ap alh a. Não d á p ar a at en d er b em u m a p essoa, n ão d á p r a con -v er sar , p r a d ar at en ção, a g en t e n ão escu t a, n é. É q u e n em est ar n u m Ban co com r ád io m u it o alt o, t u n ão con seg u e con t ar o d in h eir o” ( 2 6 an os) .

O odor de pe ix e , q u e t om a con t a d o Mer cad o, é m ot iv o d e d escon f or t o p ar a u m a f u n cion ár ia en t r ev ist ad a. No seu en t en d er o ch eir o p en et r a n a r ou p a e q u an d o d ep ois d e u m d ia d e at iv id ad es, ela en t r a n o ôn ib u s com d est in o à su a r esid ên -cia, sen t e- se m al, p ois acr ed it a q u e as p essoas f icam olh an d o p ar a ela em v ir t u d e d o o d o r d e p ei x e q u e ex al a d as su as v est es.

O hor á r io, d as 6 h às 2 0 h , p ar a alg u n s, é con sid er ad o “ p u x ad o” . Com o su -g est ão d e m elh or ias, os f u n cion ár ios acr ed it am q u e ser ia im p or t an t e t er e st a cio-nam ent o d isp on ív el p ar a os clien t es e m aior v olu m e d e publicida de en v olv en do o Mer cad o.

O

S

U

SUÁRIOS

(

CLIENTES

)

Os u su ár ios d o Mer cad o ap r esen t am v isões m u lt if acet ad as acer ca d o m es-m o. Con h ecer o Mer cad o, d e acor d o coes-m os u su ár ios, é alg o ob r ig at ór io t an t o p ar a as p essoas q u e são n at u r ais d e Por t o Aleg r e e d a Gr an d e Por t o Aleg r e, com o par a os t u r ist as qu e v isit am a capit al gaú ch a. “ Pr im eir o é u m pr édio qu e ch am a a at en ção d o p essoal, é h ist ór ico. E é u m p on t o d e r ef er ên cia d e Por t o Aleg r e, o Mer cad o Pú b lico, en t ão é u m a at r ação t u r íst ica p r a aq u eles q u e n u n ca v ier am a Por t o Aleg r e, eles são at r aíd os a v isit ar o Mer cad o Pú b lico” ( u su ár io, 5 5 an os) . Par a ou t r o u su ár io ( 3 1 an os) o Mer cad o “ É u m sím b olo h ist ór ico, n é. Eu n ão sou , eu n ão sou b r asileir o [ é p or t u g u ês e v eio p ar a o Br asil com 1 4 an os] , m as, é u m sím bolo h ist ór ico por qu e eu con h eço m u it o bem isso aqu i, n é. É u m sign if icado m u it o bom [ . . . ] pr a qu em é gaú ch o, pr a qu em v em de for a, n é” .

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ex posição, en f im , ele [ . . . ] ele sai daqu i com boas lem br an ças, n é? Ele ch ega a m an d á car t a p r á cá, p r os p er m ission ár ios. [ . . . ] con h eço v ár ias p essoas q u e t em essa r elação assim [ . . . ] qu an do o car a [ . . . ] lá n a cidade dele, ele m an da n ot ícia da sau d ad e q u e ele lev ou d o Mer cad o, isso aí é m u it o com u m ” .

Antes e depois da r ef or m a r em et em às n oções de sujo e d e lim po, r espect i-vam ent e; “ [ ...] era deprim ent e, era deprim ent e [ ...] , m uit o suj o [ ...] , né? E [ ...] hoj e é fashion, vim t om a café no Mer cado. [ ...] hoj e é fashion , hoj e é chique, t u olha, t u en x er ga, t u v ê gen t e de t odos os t ipos, de t odas as idades” ( u su ár ia, 3 2 an os) .

Nas p alav r as d e u m u su ár io ( 4 5 an os) , “ O esp aço p ú b lico d o Mer cad o an t es, ele er a com p let am en t e d et er ior ad o, ele er a p od r e, er a u m lab ir in t o, er a u m a su j ei-r a, eei-r a [ . . . ] ãh [ . . . ] , eu paei-r t o do segu in t e pei-r in cípio: t oda a ei-r efoei-r m a n u m pei-r édio h ist ór ico, sej a ele u m pr édio h ist ór ico ou qu alqu er edif icação, ela [ . . . ] ela v ai t r azer [ . . . ] ela pr ecisa de u m a r ef or m a pr a r en ov ar o seu espír it o in t er ior , en t en deu ? Os per m ission ár ios con t in u ar am os m esm os. [ . . . ] Mas, o Mer cado se r en ov ou , o Mer -cad o f icou u m esp aço ab er t o, u m esp aço m ais aleg r e, u m esp aço m ais t r an q ü ilo, acab ou aq u ela [ . . . ] , aq u ele esp aço f ech ad o, lú g u b r e q u e er a, n é? En t ão, o Mer ca-do hoj e é um [ . . . ] é um espaço super legal de v ir , m uit o bom de v ir , apr eciar [ . . . ] ” . Mas h á q u em en t en d a q u e u m esp aço com o o Mer cad o t em q u e t er u m pou co de desor gan ização, pois isso é o qu e im pr im e u m dif er en cial ao local. “ Ãh [ . . . ] , às v ezes, eu ach o qu e f ica u m pou co, v am os dizer assim , escu lh am bado o local, m as p or ou t r as v ezes eu ach o q u e essa p r óp r ia, u m p ou co d e an ar q u ia assim , é car act er íst ica de u m Mer cado, sen ão ele v ir a u m su per m er cado m oder n o, aí, n é, in t er n acion al. En t ão eu ach o q u e a car act er íst ica local d ele t em isso” ( u su -ár io, 5 8 an os) .

O M e r c a d o , s o b o e f e i t o d a r e f o r m a , t a m b é m é p e r c e b i d o c o m o descar act er izado, m uit o pr óx im o do padr ão, do est ilo super m er cado. Par a dar cont a d essa p er d a d e car act er íst icas p r óp r ias, u m u su ár io d e 5 1 an os assim se ex p r essou : “ o Mer cad o p er d eu o ch eir o” . Essa f ala é cu r iosa n a m ed id a q u e f az r ef er ên -cia, d e cer t o m od o sau d osa, ao od or car act er íst ico d o Mer cad o e q u e p ar a b oa p ar t e d os en t r ev ist ad os er a alg o, n o p assad o, con sid er ad o d esag r ad áv el: “ Ah , an t es er a [ . . . ] p or cau sa d o n eg ócio d o ch eir o d o p eix e t am b ém n é, ele d eix av a a gen t e m u it o a [ . . . ] assim , in com odada, aqu ele ch eir o, depois eles com eçar am a ar r u m ar , com eçou a sair ; por ex em plo aqu i, an t igam en t e a gen t e n ão podia f icá aq u i d en t r o p or cau sa d o ch eir o q u e er a in su p or t áv el, ag or a q u an d o t u sai p r a r u a t u n ão sen t e t an t o, an t ig am en t e t u sen t ia aq u eles, o ch eir o q u an d o t u saía, t e lem b r a q u e t u sen t ia u m ch eir o d e p eix e assim p od r e n é, ag or a eles m elh or ar am , t á bom , pelo m en os aqu i den t r o dá pr a t i f icar ( u su ár ia, 3 7 an os) ” .

Seg u n d o u m a ou t r a u su ár ia ( 5 1 an os) : “ Bom , ele er a m ais ap er t ad in h o, m ais eu ach o q u e ele t in h a b em m ais [ . . . ] v ar ied ad es, ele t in h a m ais Ban cas. Eu ach ei, assim , q u e ele f icou , p elo m en os q u e eu con h eci, n é, f icou assim , m eio q u e d escar act er izad o, at é p assei u m b om t em p o sem v ir , ag or a q u e eu p assei a v ir d e n ov o” .

Há qu em con siga per ceber u m a cer t a am bigü idade n o Mer cado, t al com o ele se en con t r a h oj e: “ An t es ele er a pior o espaço m as er a m elh or a [ . . . ] assim , t in h a m ais v ida, m ais alm a, agor a t á m u it o elit izado [ . . . ] . Melh or ou a qu alidade dele em si, m as ficou m uit o, m uit o [ . . . ] . Eu v ej o ele com o um a casa assim , um a casa que t em b ast an t e cr ian ça, an t ig am en t e, sab e u m a casa q u e t em b ast an t e cr ian ça q u e t em aq u ela aleg r ia, aq u ela f est a, cr ian çad a f azen d o b ag u n ça. Hoj e eu v ej o com o u m a casa assim , com o u m a m an são gr an de, u m m óv el n u m can t o, n o ou t r o sem , sem alegr ia” ( u su ár io, 4 0 an os) .

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gr ande cent r o com er cial assim m ais ãh [ . . . ] , m ais hum ano, né, as pessoas escolhem o pr odut o, discut em né, um a gr ande feir a né [ . . . ] pechicham as m er cador ias, conhe-cem os v en dedor es, são clien t es assim , h ist ór icos” ( u su ár ia, 4 5 an os) .

No en t en der de ou t r o u su ár io ( 5 8 an os) , “ [ . . . ] é u m lu gar de lazer , ele é u m lu g ar p r a g en t e sen t ar , b at er p ap o, j og ar con v er sa f or a. Volt a e m eia eu en con t r o aqu i am igos, am igas qu e com bin am alm oços, u m a j an t a, u m f in al, n é. Qu e t em aq u i a Ban ca 2 6 , p ar ece q u e é o n om e, ali em cim a, q u e eu g ost o d e ch eg ar ali e com er [ . . . ] ficar t om an do u m t r agu in h o e com en do u m peix in h o fr it o e con v er san -do. Pr in cipalm en t e pr a n am or ar , lá é u m can t in h o bom , n ão é? Tem can t in h o bom , aqu i t em can t o pr a n am or ar , t em can t o pr a bat er papo, t em can t o pr a discu t ir polít ica, t em can t o pr a cu r t ir , ãh [ . . . ] alim en t ação, pr a t r azer v isit a, e o in t er essan -t e q u e eu v ej o aq u i, sej a ao m eio- d ia, sej a ao f in al d a -t ar d e, a q u an -t id ad e d e casais, d e n am or ad o, ou d e p essoas q u e f icam assim , n a b alau st r e, p or aí sen t a-d o con v er san a-d o, n ão t ão con su m in a-d o n aa-d a. As p essoas est ão se [ . . . ] se [ . . . ] sab e, con v er san do, pr in cipalm en t e, casais de n am or ados, é in cr ív el isso. [ . . . ] Eu ach o q u e d e cer t a f or m a, em p r im eir o lu g ar são p essoas d escon t r aíd as ( q u em f r eq ü en -t a o Mer cad o) . Aq u elas p essoas q u e d u r an -t e o d ia, com o eu , -t em q u e às v ezes -t á com gr av at a, o casaco, u m a f or m alidade, aqu i é o m elh or lu gar pr a descon t r ação” . O Mer cado com o “shopping do pobre”, p r esen t e n o d iscu r so d os f u n cion ár i-os, r eap ar ece n as f alas d os u su ár ios: “ [ . . . ] p r a m im , o Mer cad o é o sh op p in g d o pobr e, e do r ico t am bém , por qu e ele m ist u r a t odo. . . ( u su ár io, 4 0 an os) ” .

O at en dim en t o personalizado pr esen t e n o discu r so dos f u n cion ár ios t am bém apar ece n as f alas dos u su ár ios. Par a u m u su ár io ( 5 1 an os) : “ Qu em v em ao Mer cado ele quer , ele quer m ais cont at o com o v endedor [ ...] do pr odut o, do dono [ ...] ” . No depoim en t o de ou t r o clien t e v ê- se a im por t ân cia at r ibu ída ao at en dim en t o qu e ev i-den cia a pessoa e n ão o in div ídu o: “ Podia com pr ar t am bém n o su per m er cado, m as su per m er cado t am bém n ão é a m esm a coisa. Aqu i v ocê ch ega, os balcon ist as j á t e con h ecem [ . . . ] ( u su ár io, 7 2 an os) ” Essa n ecessidade do br asileir o de ser t r at ado com o pessoa e n ão com o in div ídu o foi est u dada por DaMat t a ( 1 9 8 3 ) .

Um u su ár io ( 6 3 an os) t am b ém f ez q u est ão d e en alt ecer a h on est id ad e d o p er m ission ár io d a Ban ca n a q u al est av a f azen d o com p r as: “ Olh a, eu n ão sou m u i-t o, m u ii-t o an i-t igo, m as eu com pr o aqu i, e com pr a- se bem , são m u ii-t o cor r ei-t os, m u ii-t o h on est os v iu , são g en t e f in a” .

Asp ect os af et iv os e d e cen t r alid ad e d o Mer cad o em r elação à cid ad e ap ar e-cem sob a f or m a d e d it os t ais com o: “ É o cen t r o d e Por t o Aleg r e, é o cor ação d e Por t o Alegr e, pr a m im é o cor ação ( u su ár io, 4 0 an os) “ ou “ O Mer cado Pú blico é a alm a d e Por t o Aleg r e, e q u an d o é a alm a d e u m a cid ad e q u e é a cap it al d o Rio Gr ande do Sul [ . . . ] ( usuár io, 6 1 anos) ” .

O Mer cado com o local de boem ia ig u alm en t e ap ar ace n as f alas; n o p assa-d o, er a p on t o assa-d e en con t r o assa-d e p r ost it u t as e seu s clien t es e, p elo q u e se p ôassa-d e lev an t ar em alg u m as ob ser v ações r ealizad as, ain d a se v er if ica a p r esen ça d e “ g a-r ot as d e p a-r og a-r am a” n o âm b it o d o Mea-r cad o, sen d o q u e u m a d elas, in clu siv e, con ce-d eu en t r ev ist a a u m ce-d os alu n os en v olv ice-d os n a p esq u isa.

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O Mer cad o f oi con sid er ad o p or alg u n s u su ár ios com o u m r ef ú g io p ar a q u em se en con t r a n o Cen t r o d a cid ad e e, p ar a ou t r os u su ár ios, com o u m m u seu . No Mer cad o é p ossív el en con t r ar Ban cas com sit e n a I n t er n et , v en d en d o a g r an el e f in alizan d o o em p acot am en t o d as m er cad or ias d os clien t es com b ar b an t e, ou sej a, n ov o e an t ig o con v iv em lad o a lad o.

Os u su ár ios d o Mer cad o sin alizam com o im p or t an t es as seg u in t es m od if ica-ções a ser em im p lem en t ad as: a) m aior seg u r an ça, n ão só d en t r o d o Mer cad o Pú b lico, m as n o en t or n o d o m esm o, sen d o q u e alg u n s u su ár ios ap on t am a n eces-si d ad e d e as au t or i d ad es at en t ar em n o sen t i d o d a ad oção d e m ed i d as q u e v i sem a r ecu p er ar o Cen t r o d a cap it al g aú ch a q u e se en con t r a sob a ação d e assalt an -t es; b ) q u e sej a d es-t in ad a u m a ár ea p r óx im a ao Mer cad o p ar a o es-t acion am en -t o d os v eícu los d e q u em p r ocu r a o Mer cad o p ar a f azer su as r ef eições ou com p r as; c) u m a u su ár ia su g er iu a r ealização d e b ailes n a p ar t e su p er ior d o Mer cad o; d ) f oi su g er id a a cr iação d e u m esp aço d est in ad o às cr ian ças; d ) u m u su ár io su g er iu q u e o p od er p ú b lico est ab eleça u m a m aior p ar cer ia com os p er m ission ár ios, n ão só n a p r est ação d e ser v iços, m as in clu siv e n a t om ad a d e d ecisões, o q u e lev ar ia a u m a m aior d em ocr at ização d as d ecisões.

A

SSOCIAÇÃO DOS

P

ERMISSIONÁRIOS

A Associ ação d o Com ér ci o d o Mer cad o Pú b l i co Cen t r al d e Por t o Al eg r e ( ASCOMEPC) r eú n e os com er cian t es d o Mer cad o Pú b lico q u e t êm a p er m issão, con ced id a sob Licit ação, p ela Pr ef eit u r a, p ar a r ealizar at os d e com ér cio n aq u ele local. Tr ês car g os são p r een ch id os at r av és d e v ot ação: Pr esid en t e, Pr im eir o Vice-Pr esid en t e, e Seg u n d o Vice- Vice-Pr esid en t e. A ch ap a eleit a, p or seu t u r n o, escolh e o Pr im eir o Tesou r eir o e o Segu n do Tesou r eir o, o Pr im eir o Secr et ár io e o Segu n do Secr et ár io. O Con selh o Con su lt iv o é escolh id o em u m a r eu n ião ab er t a a t od os os p er m ission ár ios.

A Associação, alg u m as v ezes, en con t r a en t r av es às p r op ost as ap r esen t a-d as ao Poa-d er Pú b lico. A b u r ocr acia q u e p er p assa o esp aço a-d o Mer caa-d o, m ea-d iaa-d a p e l a s a çõ e s d a Pr e f e i t u r a , p o d e , e m ce r t o s ca so s, g e r a r co n f l i t o s. Ce r t o s p osicion am en t os são p er ceb id os com o au t or it ár ios p elos r ep r esen t an t es d a As-sociação; é o caso d as d elib er ações acer ca d a ocu p ação d os p on t os com er ciais e o u so d o s esp a ço s.

As d iv er g ên cias in t er n as t am b ém p od em ser cap t ad as n os d iscu r sos d os r ep r esen t an t es q u e at u am n a Associação: “ Se os com er cian t es sou b essem se u n ir t er iam m u it o m ais f or ça. Mas o car a q u e t em p or t a p ar a a r u a n ão q u er p ag ar a ilu m in ação in t er n a, en t ão eu q u e est ou n o esp aço in t er n o n ão v ou q u er er p ag ar a p in t u r a ex t er n a? I st o é u m a m en t alid ad e m u it o cu r t a, f azem os p ar t e d e u m t od o q u e é o Mer cad o Pú b lico” ( Con selh eir o su p len t e) .

Seg u n d o os r ep r esen t an t es, ex ist em d u as cor r en t es d e Per m ission ár ios, os d a “ v elh a” g er ação e os d a “ n ov a” g er ação, m as d e q u alq u er f or m a, m u it os d os r ep r esen t an t es en t r ev ist ad os d izem b u scar com os m ais an t ig os a ex p er iên cia n ecessár ia p ar a su p er ar p ossív eis p r ob lem as a ser en f r en t ad os. O em b at e se d á n a v isão d e n eg ócio; p ar a os “ v elh os” ( n ão em id ad e) a in ef iciên cia n ão é alg o q u e d ev a ser com b at id o com t an t a v eem ên cia, p ois o p at er n alism o j u n t o ao Pod er p ú b lico ain d a se in st au r a com o p r át ica n a ob t en ção d e f av or es. Essa q u est ão d o p at er n alism o n ão d if er e d as car act er izações f eit as p or Mot t a ( 1 9 9 7 ) , A. Fr eit as ( 1 9 9 7 ) , Pr at es e Bar r os ( 1 9 9 7 ) . Par a os “ j ov en s” , a con cor r ên cia dos su per m er ca-d os e h ip er m er caca-d os n ão ca-d eix a m ar g em p ar a a in ef iciên cia, n em p ar a a p r át ica ca-d e f av or es g r an j ead os j u n t o à Pr ef eit u r a; n o en t en d er d os m esm os, h á q u e cap acit ar os f u n cion ár ios, p r at icar p r eços com p et it iv os e se p r eocu p ar com a q u alid ad e d os ser v iços e p r od u t os of er t ad os.

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o & s - v . 1 1 - n . 2 9 - Ja n e i r o / A b r i l - 2 0 0 4 1 8 6

sej a, o d e lu t ar e r eiv in d icar d ir et am en t e j u n t o aos d em ais ór g ãos d a Pr ef eit u r a aq u ilo q u e j u lg am ser d e in t er esse d os Per m ission ár ios.

Os p er m ission ár ios p er ceb em q u e ap ós a r est au r ação h ou v e u m a r ed u ção n o n ú m er o d e clien t es e r ep u t am t al f at o à d if icu ld ad e q u e o clien t e en con t r a p ar a est acion ar o seu v eícu lo n o Cen t r o d a cid ad e e em v ir t u d e d e alg u m as Ban cas t er em m u d ad o d e lu g ar , o q u e acab ou p or con f u n d ir os u su ár ios, f azen d o com q u e eles n ão as localizassem m ais.

O M

ERCADO

P

ÚBLICO E AS SUAS

S

IGNIFICAÇÕES

A p esq u isa sob r e a cu lt u r a or g an izacion al d o Mer cad o Pú b lico d e Por t o Ale-g r e p er m it e q u e se v er if iq u e ser aq u ele esp aço u m local q u e em m u it o ex t r ap ola a v isão u t ilit ár ia d e u m esp aço d e com p r a e v en d a d e m er cad or ias. A r ep r esen t ação q u e p ar ece p au t ar a m en t e d aq u eles q u e p or lá cir cu lam , sej a com o d on os d e Ban cas, u su ár ios ( clien t es) , f u n cion ár ios e m esm o t u r ist as é a do a v ô; aq u el e q u e af ag a os n et os, con t a- lh es est ór ias, é p er m issiv o em r elação às b r in cad eir as d if i-cilm en t e con ced id as p elos p ais, e q u e a t u d o p er d oa; af in al os n et in h os p r ecisam de com pr een são e car in h o. Essa im agem f oi dest acada em u m a ch am ada pu blici-t ár ia d iv u lg ad a n o Nablici-t al d o an o d e 2 0 0 0 , on d e se lia: “ MERCADO PÚBLI CO O BOM VELHI NHO: Há 1 3 1 an os o m elh or Nat al” . Par a qu e se possa ger ir esse ‘Bom Velh i-n h o” é p r eciso lev ar em coi-n t a as car act er íst icas d e u m a p essoa id osa q u e, p or m ais q u e sej a af eit a às m u d an ças, p ossu i os seu s h áb it os, alg u n s d eles b ast an t e ar r aig ad os, f or j ad os ao lon g o d e u m a v id a, e q u an d o essa v id a é cen t en ár ia, m ais f or t e são essas cr ist alizações. Há q u e se t er p r esen t e as f r ag ilid ad es q u e se acen -t u am com o p assar d os an os, m as -t am b ém o r esp ei-t o p ar a com u m v elh in h o q u e t em m u it o a en sin ar . Em t er m os adm in ist r at iv os, é pr eciso ger ir est e espaço com o r esp eit o q u e a id ad e im p õe e ist o só ser á p ossív el r esp eit an d o as d iv er sid ad es in er en t es ao local e m ed ian t e u m p r ocesso d em ocr át ico on d e o p er m ission ár io, o u su ár io e os f u n cion ár ios p ossam ser con su lt ad os. Se os at or es q u e d ão v id a ao Mer cado r em et em a im agem do av ô, a Pr ef eit u r a, at r av és da Secr et ar ia Mu n icipal d e I n d ú st r ia e Com ér cio, r ep r esen t a o p ai, q u e est ab elece lim it es, q u e d et êm a au t or id ad e e q u e, em cer t as sit u ações, é v ist o com o au t or it ár io.

Um aspect o in t egr ador da cu lt u r a or gan izacion al do Mer cado é o at en dim en t o per son alizado, r ef er en ciado pela m aior ia dos en t r ev ist ados e qu e dá a con ot ação d e casa a u m esp aço q u e p od er ia ser im p essoal e f r io. Con h ecer os g ost os d os clien t es e as par t icu lar idades das su as v idas, t r az par a o am bien t e com er cial u m a im agem de afet iv idade, de r econ h ecim en t o a ser es ú n icos qu e m er ecem defer ên cia ( DAMATTA, 1991) . Essa sit uação é r efor çada pelos laços ent r e pat r ão e funcionár io, pelas br in cadeir as ex per im en t adas n o local de t r abalh o. Em bor a se possa pen sar q u e t ais p ost u r as são t íp icas d e m icr o e p eq u en as em p r esas, h á q u e se t er em con t a o f at o de ser em in ú m er as m icr o e pequ en as em pr esas r eu n idas em u m m es-m o espaço, algo qu e lees-m br a u es-m sh oppin g, r efer en ciado in clu siv e por v ár ios en t r e-v ist ados, em t er m os de ocu pação espacial, m as qu e em m u it o dif er e dada a n oção de colet iv idade, de fam ília ex t ensa, ao cont r ár io do shopping cuj a im agem r em et e à n oção de f am ília n u clear . A n oção de f am ília ex t en sa do Mer cado é qu e dá su st en t a-ção par a a pr esen ça da f igu r a do av ô qu e, por ser per m issiv o, r equ er a pr esen ça dos pais par a est abelecer em algu n s lim it es, m as ist o dev er á ser r ealizado com o cu idado qu e u m a r elação pais/ av ós/ n et os ex ige.

(15)

A sig n if icação d e “ r ef ú g io” at r ib u íd a ao Mer cad o p od e ser p en sad a sob a ót ica d e u m esp aço d if er en ciad o p ar a o h ab it an t e d a cid ad e, cap it al d o Est ad o. Por t o Aleg r e, j u n t am en t e com a su a p u j an ça e u r b an id ad e, t r az a v iolên cia, a v elocid ad e d as ações, a im p essoalid ad e d as r elações, a v isão p r of an a d o m u n d o. No “ r ef ú g io” Mer cad o Pú b lico, o t em p o p assa m ais len t o, a p essoalid ad e t íp ica d as cid ad es m en or es se f az p r esen t e, a v iolên cia n o in t er ior d esse esp aço p ar ece ser con t id a d e m od o ad eq u ad o, a v en d a a g r an el r em et e ao im ag in ár io d os an t ig os ar m azén s ex ist en t es em Por t o Aleg r e e q u e ain d a p er sist em em alg u n s locais d o in t er ior d o Est ad o. A r elig iosid ad e é ob ser v ad a e r esp eit ad a, b ast a p er m an ecer alg u n s m in u t os p r óx im o ao cen t r o d o Mer cad o p ar a se t er d ian t e d os olh os a im ag em d as p essoas j og an d o su as m oed as ao or ix á, d on o d as En cr u zilh ad as. É o sag r ad o em m eio ao p r of an o, é o “ r ef ú g io” q u e g u ar d a os seg r ed os, os p ed id os ín t im os d e cad a f r eq ü en t ad or d o Mer cad o, p or t an t o, g er ir esse local r eq u er a im p lem en t ação d e est r at ég ias q u e lev em em con t a essa sin g u lar id ad e, d e m od o a p er m it ir q u e “ a alm a” , ex p r essão u t ilizad a p or u su ár ios, se p er p et u e.

C

ONSIDERAÇÕES

F

INAIS

O Mer cad o ap r esen t a u m a cu lt u r a or g an izacion al m u lt if acet ad a. Esse esp a-ço r ev ela u m h ib r id ism o en t r e a t r ad ição e a m od er n id ad e, en t r e o p r of an o e o sag r ad o, en t r e o p ú b lico e o p r iv ad o, en t r e os asp ect os com er ciais e os d e or d em af et iv a, en t r e pat er n alism o e pr of ission alism o.

A ad m in ist r ação d o Mer cad o r eq u er u m a in t er locu ção con st an t e d a in st ân cia

pública com a iniciativa privada, especialmente por se tratar de um

locus de f or m

a-ção d a id en t id ad e p or t o- aleg r en se. Essa con st r u a-ção id en t it ár ia é r ev elad a em f alas com o a d o u su ár io q u e d iz: “At é par odian do eu dir ia assim , oh : v ir a Por t o Aleg r e e n ão v ir ao Mer cad o Pú b lico ser ia com o ir a Rom a e n ão t en t ar u m con t at o com o Pap a” ( u su ár io, 5 5 an os) .

Con h ecer o Mer cad o, com p r ar n o m er cad o, alm oçar n os r est au r an t es q u e lá se en con t r am in st alad os, sig n if ica r ef or çar os laços com a cid ad e e, p or t an t o, q u alq u er in t er v en ção q u e se v ier a f azer n essa cu lt u r a or g an izacion al r ep er cu t ir á n o âm bit o local.

R

EFERÊNCIAS

AKTOUF, Om ar . O sim bolism o e a cu lt u r a de em pr esa: dos abu sos con ceit u ais às lições em pír icas. I n: CHANLAT, Jean- Fr ançois. O indivíduo na or ga niza çã o. São Pau lo: At las, 1 9 9 4 .

BARBOSA, Lív ia. Cu lt u r a Adm in ist r at iv a: u m a n ov a per spect iv a das r elações en t r e an t r op olog ia e ad m in ist r ação. Revist a de Adm inist ra çã o de Em presa s. São Paulo, v . 35, n. 4. p. 6- 19, out . / nov . / dez. 1996.

CALDAS, Migu el P. San t o de casa n ão f az m ilagr e: con dicion an t es n acion ais e im plicações or gan izacion ais da f ix ação br asileir a pela f igu r a do “ est r an geir o” . I n : MOTTA, Fer nando Pr est es; CALDAS, Miguel P. Cult ur a Or ga niza ciona l e Cult ur a Br a sile ir a . São Pau lo: At las, 1 9 9 7 .

COLBARI , An t ôn ia d e Lou r d es. I m ag en s f am iliar es n a cu lt u r a d as or g an izações. I n : DAVEL, Edu ar do e VASCONCELOS, João. Re cur sos H um a nos e subj e t ivida -de. Pet r óp olis: Vozes, 1 9 9 6 .

Referências

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