REVISTA
BRASILEIRA
DE
REUMATOLOGIA
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Artigo
original
Características
da
marcha
de
mulheres
com
fibromialgia:
um
padrão
prematuro
de
envelhecimento
Suelen
M.
Góes
a,∗,
Neiva
Leite
b,
Ricardo
M.
de
Souza
a,
Diogo
Homann
a,
Ana
C.V.
Osiecki
a,
Joice
M.F.
Stefanello
ae
André
L.F.
Rodacki
aaSetordeCiênciasBiológicas,CentrodeEstudosdoComportamentoMotor,UniversidadeFederaldoParaná,Curitiba,PR,Brasil
bSetordeCiênciasBiológicas,CentrodeQualidadedeVida,UniversidadeFederaldoParaná,Curitiba,PR,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem1deagostode2013 Aceitoem12denovembrode2013 On-lineem6dejulhode2014
Palavras-chave: Dorcrônica Envelhecimento Marcha
r
e
s
u
m
o
Introduc¸ão: Fibromialgiaéumacondic¸ãoqueenvolvedorcrônicageneralizada.Alémdisso, mulheres de meia idade com fibromialgia apresentam alterac¸ões no padrão de mar-cha,expondo-seprematuramenteaumpadrãodemarchasemelhanteaoencontradona populac¸ãoidosa.
Objetivo:Determinarosparâmetrosespaciais(lineareangular)damarchademulherescom fibromialgiaecompará-loscomidosassemessacondic¸ão.
Métodos:25mulheres(10nogrupocomfibromialgiae15nogrupodeidosas)sequalificaram comovoluntáriasparaparticipardoestudo.Aanálisecinemáticafoirealizadapormeiode umsistemaoptoeletrônico,easvariáveislineareseangularesforamdeterminadas. Resultados: Ambososgruposapresentaramsimilaridadesnavelocidadedamarcha, tama-nhodapassada,cadênciaeamplitudedemovimentodoquadril,joelhoetornozelo(p>0,05), excetoparaarotac¸ãodapelve,naqualogrupocomfibromialgiaapresentoumaiorrotac¸ão dequadril(p<0,05)quandocomparadoaogrupodeidosas.Alémdisso,houvecorrelac¸ão negativanogrupocomfibromialgiaentrerotac¸ãodoquadriledornoglúteo(r=–0,69;p< 0,05),eentreobliquidadedapelveedornaregiãodotrocantermaior(r=–0,69;p<0,05). Conclusão:Mulheresdemeiaidadecomfibromialgiaapresentaramumpadrãodemarcha similaraodeidosas,oqualé caracterizadoporamplitudedemovimento,tamanhoda passadaevelocidadedamarchareduzidos.
©2014ElsevierEditoraLtda.Todososdireitosreservados.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:su.goes@gmail.com(S.M.Góes). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2013.11.003
Gait
characteristics
of
women
with
fibromyalgia:
a
premature
aging
pattern
Keywords: Chronicpain Elderly Gait
a
b
s
t
r
a
c
t
Background: Fibromyalgiaisaconditionwhichinvolveschronicpain.Middle-aged indivi-dualswithfibromyalgiaseemtoexhibitchangesingaitpattern,whichmayprematurely exposethemtoagaitpatternwhichresemblesthatfoundintheelderlypopulation. Objective: Todeterminethe3Dspatial(linearandangular)gaitparametersofmiddle-aged womenwithfibromyalgiaandcomparetoelderlywomenwithoutthiscondition.
Methods: 25women(10inthefibromyalgiagroupand15intheelderlygroup)volunteered toparticipateinthestudy.Kinematicswasperformedusinganoptoelectronicsystem,and linearandangularkinematicvariablesweredetermined.
Results: Therewasnodifferenceinwalkingspeed,stridelength,cadence,hip,kneeand ankle jointsrange ofmotionbetweengroups,except thepelvicrotation,in whichthe fibromyalgiagroupshowedgreaterrotation(P<0.05)comparedtotheelderlygroup.Also, therewasanegativecorrelationwithpelvicrotationandgluteuspain(r=–0.69;P<0.05),and betweenpelvicobliquityandgreatertrochanterpain(r=–0.69;P<0.05)inthefibromyalgia group.
Conclusion: Middle-agedwomenwithfibromyalgiashowedgaitpatternresemblancesto elderly,women,whichischaracterizedbyreducedlowerlimbROM,stridelengthand wal-kingspeed.
©2014ElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Fibromialgia(FM) éumadoenc¸a incapacitantequeenvolve dor sistêmica crônica; sua patogênese e sua etiologia ainda nãoestão completamente esclarecidas.1,2 Funcional-mente, FMé umacondic¸ão frequentemente acompanhada por reduc¸ão da capacidade de trabalho físico3,4 e por fadiga muscular.5 Também foram informadas dificuldades emmanteraconcentrac¸ãodurantetarefascognitivas, quei-xas neurológicas (p.ex., rigidez matinal, dores eespasmos musculares) e comprometimento mecânico (p.ex., fadiga e fraqueza) em pacientes com FM.5,6 Esses sintomas podem afetar a capacidade em realizar tarefas cotidianas sim-ples, causando um impacto negativo na qualidade de vida.7
Problemasdamarchaforamlistadoscomoqueixacomum entrepacientes com FM.8 Com efeito, quandocomparados com um grupo de controle compatível, pacientes com FM exibemparâmetrosdemarchaalterados,caracterizadospor reduc¸õesda velocidadede marcha,frequênciadosciclos e comprimentodapassada,9–11oquetambéméobservadoem idosos.12,13
Odesconfortomuscular,conformepodeserobservadona FM,sefazacompanharpeladiminuic¸ãodaamplitudede movi-mentoeporfraquezamuscular,estandopositivamente cor-relacionadocommudanc¸asnamarcha.12–14 Exemplificando, Paschalisetal.15demonstraramquepacientescomdor persis-tente(induzidapordoresmuscularesretardadasemresposta aepisódiosintensosdeexercíciosexcêntricos)alteram diver-sosparâmetrosdamarchacomoumaformadeevitarmaior lesão e/ou desconforto muscular. Em geral, o desconforto
eadormuscularessãoacompanhadosporumadiminuic¸ãona amplitudedemovimentoepordebilidademuscular,queestão positivamente correlacionadoscomalterac¸õesda marchae talvezrelacionadosàincidênciadequedas.12,16–18
Assim, pacientes de meia-idade com FM estão cronica-mente expostos à dor e também demonstram diminuic¸ão da amplitude de movimento articular, podendo ainda apresentar-se com alterac¸ões no padrão de marcha, de maneiraparecidacomamarchadepessoasidosas. Pesquisa-doresverificaramquemulherescomFM(entre40e50anosde idade)exibemlentavelocidadedemarcha,9–11queédescrita como omelhorpreditorde quedasnapopulac¸ãoidosa.19,20 Alémdisso,estudosdemonstraramelevadaincidênciade que-dascomunicadasporanoentremulheresdemeia-idadecom FM(40%-50%),17,21,22 sendoaindamaisaltaquando compa-rada comapopulac¸ãoidosa.23,24 Alémdisso, indivíduosde meia-idade comFMpodemficarprematuramenteexpostos aumpadrãodemarchaqueseparececomoobservadoem idosos.
Métodos
Participantes
Vinteeumamulheresdemeia-idadesedentárias diagnosti-cadascomFM,emconformidadecomoscritériosdoAmerican CollegeofRheumatology(1990)emumservic¸ode reumatolo-gia,seofereceramcomovoluntáriasparaparticiparnoestudo. Vinteecincoidosas(commaisde65anosdeidade)comestilo devidasedentárioesemsintomasdeFMforamconvidadasna comunidadelocal,tendosidoalocadasnogrupodecontrole.
Foramaplicados algunscritérios para ambosos grupos: (a)presenc¸ade artrite,(b)artritereumatoide,(c)alterac¸ões nãocontroladasnatireoide,(d)IMC>39kg/m2,(e)históriade fraturas,(f)cirurgiaarticular,ou(g)qualqueroutroproblema clíniconosseismesesanterioresaoiníciodesseestudoque pudesseminterferirnodesempenhodamarcha.Alémdisso, ogrupo dasidosas (IDO)nãoinformousintomas dolorosos quepudesseminterferiremsuasatividadescotidianasouna marchaduranteacoletadedados.
Depoisde aplicadosos critérios de inclusão eexclusão, 10mulheresdemeia-idadecomfibromialgiaforamalocadas nogrupoFM,enquanto15idosassemFMcompuseramogrupo IDO.Otamanho daamostrafoi calculadoparacada grupo; paraambososgrupos,foiaceitávelumerromáximodecinco pontose␣=0,05.Utilizamosumdesviopadrãode10
unida-desparaogrupoIDO,edeoitounidadesparaogrupoFM. Portanto,15mulheresnogrupoIDOe10mulheresnogrupo FMforamconsideradascomotamanhosdeamostraválidos. Todasasmulheresqueconcordaramemparticiparnoestudo assinaramumformuláriodeconsentimentoinformado, pre-viamenteaprovadopelaComissãodeÉticadaUniversidade.
Aplicamos o International Physical Activity Questionnaire25 comoobjetivodeavaliaroníveldeatividadefísicae segui-mososcritériosdoAmericanCollegeofSportsMedicine26para determinarumestilodevidasedentário(<150minutospor semana).
Avaliac¸ãodador
ParacaracterizarogrupoFM,asparticipantesresponderam auminquéritosobredorglobaledoremtrêsáreas especí-ficas(regiõesdepontossensíveis)comousodeumaescala visualanalógica(EVA)de10cm,naqualclassificaramoatual níveldedor,variandode0cm(ausênciadedor)até10cm(a piordorimaginável).Astrêsáreasdedorespecífica(joelho, trocantermaioreglúteomáximo)tambémforam avaliadas comEVA,poispodeminfluenciarnodesempenhodamarcha. Essasáreasespecíficasforamdenominadas:dornojoelho,dor notrocantermaioredornoglúteo.
Análisedamarcha
Aanálise da marchafoi feita emum trecho medindo seis metrosporumsistemacinemático3D(ViconMX13+,Vicon MotionSystemInc.,EUA)a100Hz.Asparticipantestiveram permissãoparacaminhardescalc¸asaolongodotrecho(três acinco tentativas),àguisadeaquecimentoetambémpara queficassemfamiliarizadascomoprotocolodoexperimento.
ASIS
GT
KNEE
MALL META CALC
Figura1–Marcosdocorpoeconvenc¸õesdedeslocamento angular.Representac¸ãodosmarcosanatômicos,dos segmentosdocorpo,dasarticulac¸õesedaconvenc¸ão movimento:ASIS-cristailíacaanterossuperior,GT-a protuberânciamaisproeminentedotrocântermaior, JOELHO-epicôndilofemorallateral,MALL-maléololateral, eMETA-aquintaarticulac¸ãodometatarso,CALC -calcâneo.
Após oaquecimento, cada participantepercorreuo trajeto 10vezes,semajuda,emsuavelocidadeconfortável.
Doze marcadores reflexivos foram presos aos membros inferiores direito e esquerdo, posicionados na crista ilíaca súpero-anterior,aprotuberância maissalientedotrocanter maior,noepicôndilofemorallateral,nomaléololateral,naV articulac¸ãometatarsianaenoscalcanhares.Afigura1ilustra os locaisde posicionamentodosmarcadores. Os marcado-resforamaplicadosnosdois ladosdocorpo;masapenaso ladodireitofoiutilizadoparaaanálise.Duranteacoletade dados, umavestedelycra foiusadapelasparticipantes na tentativademinimizarartefatosdemovimentocausadospela movimentac¸ãodosmarcadores.Combasenessespontosde referência, foi realizada uma reconstruc¸ão de movimento tridimensional.Esses procedimentosjáforamaplicadosem outrosestudos.13,27Ociclodamarchafoideterminadocomo o intervalo entre dois apoios de calcanhar consecutivos. Oapoiodecalcanharfoivisualmentedefinidopeloinstante emqueomarcadorposicionadonocalcanharchegavaaochão. Calculamosoconjuntodasmédiasdetrêsciclosdemarcha corretosporparticipante,pararepresentarpadrões individu-ais.Consideramoscomoumciclodemarchacorretoaquele emquetodososmarcadoresestavamvisíveisduranteociclo damarchaeaparticipantenãoefetuounenhummovimento estranho(p.ex.,arrastarospés).Emseguida,osdados cinemá-ticosforamprocessadosparaquefossemobtidasestimativas das variáveislineares(velocidadedemarcha,comprimento da passada, cadência) e angulares (amplitude de movi-mentodasarticulac¸õesdoquadril,joelhoetornozeloeseus valoresmáximoemínimo).
Tabela1–Variáveisdaanálisedamarchaentregruposdefibromialgiaedeidosas
FM IDOSAS ValorP
Média DP Média DP
Idade(anos) 50,2 2,35 68,1 2,45 <0,001a
Altura(m) 1,54 0,07 1,58 0,08 0,195
Massa(kg) 77,35 8,87 74,66 8,32 0,448
IMC(kg/m2) 32,62 3,37 31,23 4,57 0,177
Atividadefísica(min/semana) 160,6 131,2 125,5 111,9 0,231
Comprimentodapassada(m) 0,96 0,16 1,03 0,14 0,241
Velocidadedemarcha(m/s-1) 0,93 0,15 0,96 0,16 0,677
Cadência(passo/min) 58,19 2,84 55,36 4,87 0,112
ADMtotaldotornozelo(◦) 25,37 3,94 23,27 3,62 0,182
ADMtotaldojoelho(◦) 54,35 4,09 49,93 3,30 0,107
ADM1dojoelho(◦) 6,94 4,11 6,75 3,03 0,135
ADM2dojoelho(◦) 9,23 4,57 6,99 3,22 0,164
ADMtotaldoquadril(◦) 26,45 6,55 24,41 3,14 0,306
ADMtotaldarotac¸ãopélvica(◦) 14,3 9,59 5,08 1,53 0,001a
ADMtotaldeobliquidadepélvica(◦) 4,71 1,59 6,29 2,86 0,125
Resultadosdaanáliseunicaudaldotestedevariância.
IMC,índicedemassacorporal;ADM,amplitudedemovimento;(◦),graus. a P<0,05.
doimpulso(emqueosdedosdopédeixamochão).ADM1e ADM2permitemdeterminarsediferentesestratégiasforam aplicadasnarespostaàcarga(paraaabsorc¸ãodeforc¸asde impacto)eàfasedeimpulsodomovimento(paraagerac¸ão de forc¸as propulsivas). Amplitude de movimento da articulac¸ão foi definida como a distância entre os deslo-camentosmáximosemextensãoeemflexão.Rotac¸ãopélvica foidefinidacomoosmovimentospélvicosnoplano transver-salemtornodeumeixoderotac¸ãoverticalfixonocentroda articulac¸ãodoquadril.Obliquidadepélvicafoidefinidacomo a elevac¸ão e o abaixamento da pelve ocorrentes no plano frontaleemtornodeumeixoderotac¸ãohorizontal.
Análiseestatística
Foi efetuada umaanálise estatística descritiva. O testede Shapiro-Wilkconfirmouanormalidadedosdados,enquanto otestedeLeveneconfirmouahomogeneidadedosdados.As diferenc¸asnasvariáveisespaciaisdamarchaforam compara-dasporANOVAunilateralmédia,comosgruposcomofatores fixos.Ocoeficiente decorrelac¸ãodeSpearmanfoi aplicado paraidentificararelac¸ãoentreparâmetrosdamarchaenível dedornogrupoFM.Osprocedimentosestatísticosforam rea-lizadoscomousodoprogramadecomputadorSTATISTICA 7.0®eoníveldesignificânciafoideterminadoemp<0,05.
Resultados
AdorgeralmédianogrupoFMfoi8,70(2,00);dornojoelho, 6,43(3,54);dornotrocantermaior,6,23 (3,77);edorno glú-teo,7,29(3.54)comousodaescalavisualanalógica.Osdois grupostiveramresultadossimilaresparaIMCenívelde ati-vidadefísica.Nãohouvediferenc¸asnavelocidadedamarcha, nocomprimentodapassada,nacadência,enaamplitudede movimentodasarticulac¸õesdoquadril,dojoelhoedo torno-zeloentreosgrupos,excetonocasodarotac¸ãopélvica,em
queogrupoFMdemonstroumaiorrotac¸ão(p<0,05),quando comparadocomogrupoIDO(tabela1).Oconjuntodemédias dedeslocamentosdasarticulac¸õesdotornozelo,dojoelhoe doquadrildosgruposFMeIDOestáapresentadonafigura2.
Ocorreucorrelac¸ãonegativaentrerotac¸ãopélvicaedorno glúteo(r=–0,69;p<0,05),eentreobliquidadepélvicaedor notrocantermaior(r=–0,69;p<0,05)nogrupoFM.Nenhuma outracorrelac¸ãosignificativafoidetectadaentrepontos sen-síveiseparâmetroscinemáticos(p>0,05).
Discussão
Fibromialgia éumacondic¸ãocrônica caracterizadapordor e fraqueza musculares disseminadas,1 que podem causar mudanc¸asnamarcha,assemelhando-seaumpadrãode mar-chadeidoso.Oprincipalachadodoestudofoiquemulheres comFMapresentaramumpadrãoqueseparececomaquele geralmenteobservadoemidosos.
Avelocidadedemarchafoipropostacomoumdos melho-respreditorescinemáticosparaaocorrênciadequedas.12,19,20 Foi proposto que uma reduc¸ão na velocidade de marcha da ordem de 0,1m.s–1 representa um decremento de 10% na capacidade de realizar atividades cotidianas úteis.28 A análise cinemática demonstrou que as mulheres com FM neste estudoexibiram lentavelocidade demarcha, similar (0,93 m.s–1)a outrosestudosque avaliaram mulherescom FM(de0,9a1,1m.s–1)equefizeramcomparac¸õescomum grupodecontrole.9,10
100 80
60 40 20
100 80 60 40 20
0 0 20 40 60 80 100
100 80 60 40 20 0 40
0 20 40 60
100 80 60 40 20 0
20 40 60
100 80 60 40 20 0 90 100 110
100 80 60 40 20 0 80 85 90 50
60 70 80 90
50 60 70 80 90 100
50 60 70 80 90 100
100 80 60 40 20 0 50
40 60 70 80
Ângulo do tor
noz
elo (
º)
Grupo FM Grupo IDO
Percentual do ciclo da marcha Percentual do ciclo da marcha
Ângulo do joelho (
º)
Ângulo do quadr
il (
º)
Percentual do ciclo da marcha
Percentual do ciclo da marcha
Ângulo de rotação pélvica (
º)
Percentual do Ciclo da Marcha
Ângulo do joelho (
º)
Ângulo do quadr
il (
º)
Percentual do ciclo da marcha
Percentual do ciclo da marcha
Ângulo de rotação pélvica (
º)
Percentual do ciclo da marcha
Ângulo do tor
noz
elo (
º)
Figura2–Conjuntodemédiasdedeslocamentosdasarticulac¸õesdotornozelo,dojoelhoedoquadrilerotac¸ãopélvica dosgruposdefibromialgia(FM)edeidosas(IDO).
foicomparávelentreosgrupos,reforc¸andoaideiadequeo padrãodemarchaemindivíduoscomFMsofredeteriorac¸ão prematuraemsuasvidas, quandocomparadoa indivíduos saudáveiscomidadesequivalentes.9
Assim, não deve surpreender a publicac¸ão de relatos demonstrandoqueonúmerodequedasentrepacientescom FM é maior do que em idosos.17,21,22,29 Pode-se especular
significativasnaamplitudedemovimentodojoelhoem res-postaàdormuscularinduzida.Curiosamente,acomparac¸ão entreosgruposIDOeFMrevelouumaamplitudede movi-mento dojoelho comparável;mas, nas mulheresde meia-idadecomFM,comumpadrãomuitodiferentedosvaloresde dadosnormativosdeindivíduossaudáveiscomidades equiva-lentes.Exemplificando,indivíduosnormaisapresentamuma amplitudedemovimentodesde20◦ (ADM1)até15◦ (ADM2), enquantoogrupoFMexibiuumaamplitude65,3%(ADM1)e 38,5%(ADM2)menordoqueogruposaudável.30
Curiosamente, no presente estudo não ocorreram diferenc¸as entre grupos no que tange à articulac¸ão do joelho, mas na articulac¸ão doquadril e na pelve. A pelve reveloumaiorrotac¸ãonasmulherescomFM,emcomparac¸ão com as idosas. Outros estudos enfatizaram a importância doquadril e da pelve no desempenhoda marcha.13,31 Um incremento na rotac¸ão da pelve faz com que o segmento debalanc¸odamarchaavanceumpoucomaisparaafrente, aumentando com isso o comprimentoda passada.13,32 Em consequência, amaior rotac¸ão pélvicaobservada em indi-víduos com fibromialgia pode ser considerada como uma estratégiaparaaumentarocomprimentodapassada,como ummecanismo compensatório para a manutenc¸ão de um padrão.OsachadosdePierrynowskietal.33corroboramesses argumentos,poisessesautoresdemonstraramumareduc¸ão napotênciadotornozeloacompanhadaporumaumentona potênciadoquadrilnafasedeimpulsoemmulherescomFM. Aampliac¸ãodarotac¸ãopélvicaéachadointrigante,pois observamosumacorrelac¸ãonegativa entreaamplitude de movimento(rotac¸ão eobliquidadepélvicas)eaintensidade dador(dornoglúteoenotrocantermaior)nogrupoFM.Caso existaumarelac¸ãoentreamplitudedemovimentoe inten-sidadedador, aarticulac¸ãodoquadril devesermobilizada emmenorextensãoemmulherescomFM,emcomparac¸ão comidosas,enãoooposto.Tambémpodeserpossível que indivíduoscomFMlancemmãodeac¸õesmaispronunciadas emtornodoquadril,apesardodesconfortocausadoporsua condic¸ãodedorcrônica.
Portanto,talvezossintomasclínicosnãoreflitam comple-tamenteasestratégiascompensatóriasrealizadaspara que sejaalcanc¸adodeterminadodesfecho.Conformefoiproposto porPierrynowskietal.,33issopodeserconsideradocomouma estratégiadosistemaneuromuscular,queseapoiamaisnos músculos proximais,doque nosmúsculos distais,durante amarcha. Éprovável que estratégiasaplicadas na área do tornozelosejamimportantesparaareduc¸ãodoimpactode movimentoslimitadospelador.
O presente estudo sofre de diversas limitac¸ões: (a) o pequeno tamanho da amostra, o que diminui a possibili-dade de generalizar seus achados; (b) a inexistência de umgrupo de controle saudável, apesar de afinalidade do estudotersidoverificarsemulherescomFMapresentavam, ounão, um padrãode marchaprematuro assemelhado ao observado em idosos, além da literatura ter demonstrado quemulherescomFMapresentamumpadrãodiferente,em comparac¸ãocomogrupodecontrole;9,10(c)anãoavaliac¸ãoda dornogrupodasidosas,compossívelinterferênciaemseus parâmetrosdamarcha,emboraessasparticipantesnão tives-seminformadoapresenc¸adeumadorquepudesseinfluenciar seupadrãodemarcha;finalmente,(d)oIMCdosdoisgruposfoi
relativamente elevado, refletindo sobrepeso/obesidade. Assim,o padrãodemarchatambém podetersofrido certa influência da massa corpórea, embora os grupos fossem equivalentesemrelac¸ãoaoIMC.
Conclusão
Emconclusão,opadrãodemarchademulheresdemeia-idade comfibromialgiafoiconsideradocomparávelaopadrão apre-sentadoporidosas.Esseachadotrazapreocupac¸ãodeque tais mulheresfiquemprematuramenteexpostasaosefeitos adversos da síndrome,que incluireduc¸ão da mobilidadee aumento doriscode quedas.Preocupatambémo fatoque mulheresdemeia-idadecomFMjáapresentamumpadrão similaraodas idosas,quesabidamentedemonstrammaior propensão para quedas,emcomparac¸ão com mulheresde meia-idade.Nofinalda vida,oriscodequedas em pacien-tescomfibromialgiapodeseraindamaior,causandotalvez umintenso impactona qualidadede vida. Hánecessidade deestudoscomamostrasmaisrobustas,paraqueseja pos-síveldeterminar seprogramasregularesdeatividade física são efetivosem termos da modificac¸ãodos parâmetrosde marchaempacientescomfibromialgia.Tambémsefaz neces-sáriaumaanálisedopadrãodemarchaeda incidênciade quedasemidosascomfibromialgia,pormeiodeabordagens longitudinais.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Os autoresdesejam agradecera ajudafinanceiradaCAPES (Coordenac¸ãodeAperfeic¸oamentodePessoaldeNível Supe-rior), umaagênciadoGovernoBrasileiro quepossibilitou o treinamentoeapreparac¸ãoderecursoshumanos;agradecem também àsparticipantes eàequipede pesquisaenvolvida nesteestudo.
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