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Sodoku : descrição de um caso.

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Academic year: 2017

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R e v i s ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 ( 2 ) : 1 3 5 - 1 3 8 , a b r - ju n , 1 9 9 2

RELATO D E CASO

SODOKU - DESCRIÇÃO D E U M CASO

Sylvia Lemos Hinrichsen, Suzana Ferraz, Marta Romeiro, Mário Muniz Filho, Ana Hygea Abath, Clene Magalhães, Francisca Damasceno, Carla Maria da Silva Araújo,

Christiane Monteiro de Siqueira Campos e Diana Patrícia Lamprea

A f e b r e p o r m o r d id a d e r a to r e s u lta d e u m a in fe c ç ã o c a u s a d a p e l o S p i r i l l u m m i n u s .

O s a u to r e s d e s c r e v e m u m c a s o d e p a c ie n te c o m f e b r e , a s te n ia e ú lc e r a n a r e g iã o f r o n t a l e s q u e r d a , a p ó s e x p o s iç ã o a u m r o e d o r . O m ic r o o r g a n is m o f o i id e n tific a d o a tr a v é s d e e x a m e e m c a m p o e s c u r o d e m a te r ia l o b tid o d o e x s u d a d o d a ú lc e ra . A p e n ic il i n a f o i u tiliza d a , c o m to ta l r e g r e s s ã o d o s s in to m a s .

P a la v r a s -c h a v e s : F e b re p o r m o r d id a d e ra to . S p i r i l l u m m i n u s . S o d o k u .

A febre por mordida de rato, tam bém conhecida com o Sodoku, é um a infecção bacteriana causada pela S p i r i l l u m m i n u s e que tem com o reservatório

p r in c ip a l o s ra to s2. A p resen ta d istr ib u iç ã o u niversal, sendo frequente na Á sia, especialm ente n o Japão e é rara n os Estados U nidos.

C linicam ente observa-se, no local da mordida, a presença d e um a reação inflamatória caracterizada por um a celu lite recoberta d e vesícu las, após um período de incubação de 1 a 4 sem anas (m édia de 2 sem anas). Esta lesão inicial (ponto de inoculação) cicatriza antes que se in iciem sinais ou sintom as, tais com o: linfadenopatia regional, linfangite, cefaléia, náuseas, vô m ito s e febre alta. A rtralgiae, m ais raramente, erupção cutânea do tipo m áculo-papular, esp ecialm en te em extrem idades (região palm ar e plantar) p od em ser tam bém encontrados. O ponto de inoculação inicialm ente cicatriza para d ep ois ulcerar. Cura espontânea pode ocorrer num p eríodo de 4 a 8 sem anas3 4.

O d ia g n ó stic o é pred om in an te c lín ic o e e p id em io ló g ico , entretanto a confirm ação se faz através da id en tifica çã o do S p i r i l l u m m i n u s

(pesquisa de cam po escuro o u pela coloração de W right).

O tratamento de escolh a é feito com penicilina, em bora a eritrom icina, estreptom icina, tetraciclina e clindam icina p ossam ser utilizadas1 4 9 . A m ortalidade n o s casos não-tratados varia de 10 a

13 % 6 .

S e r v i ç o d e D o e n ç a s I n f e c c i o s a s e P a r a s i t á r i a s , H o s p i t a l d a s

C l í n i c a s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d e P e r n a m b u c o , R e c i f e P E . E n d e re ç o p a r a c o rre sp o n d ê n c ia: D r a S y l v i a L e m o s H i n r i c h s e n . S e r v i ç o d e D I P d o H o s p i t a l d a s C l í n i c a s / U F P E . A v . P r o f ' M o r a e s R e g o s / n C i d a d e U n i v e r s i t á r i a 5 0 6 7 0 - 9 0 1 R e c i f e P E .

R e c e b i d o p a r a p u b l i c a ç ã o e m 1 6 / 0 1 / 1 9 9 1 .

Por ser a febre por m ordida de rato (Sodoku) pouco conhecida em n osso m e io , em bora as condições de moradia e seneam ento básico p rop iciem um a elevada população M urina, con sid erou -se pertinente a abordagem do tem a e relato de um caso. O bjetiva-se, assim , divulgar a entidade n o so ló g ica , com a finalidade de chamar a atenção para o diagnóstico e tratamento, com a precocidade que a infecção requer.

R E LA T O D O C A SO

L .M .S ., solteira, sex o fem inino , dom éstica, procedente d e Jaboatão-PE adm itida no Serviço de D oenças Infecciosas e Parasitárias - H ospital das C línicas - U F P E em 3 1 /0 1 /8 9 ; referia que 15 dias antes do seu internam ento havia sid o m ordida por um rato na região frontal, e que, após isto , n otou o aparecimento de lesão ulcerada no lo ca l, que cicatrizou e posteriorm ente ulcerou, além d e dificuldad e de abrir os olh os, febre alta, cefaléia, vô m ito s, astenia e anorexia.

A o e x a m e fís ic o a p r e se n ta v a -se b a sta n te desidratada, com edem a periorbitário, lesão ulcerada de bordos elevad os com secreção purulenta em região frontal esquerda, além d e lin fo n od os palpáveis em região cervical esquerda (Figura 1).

Pesquisa em cam po escuro ( S . m i n u s) foi positiva.

O leocogram a revelava: leu có cito s totais = 1 2 .7 0 0 p/ m m 3 de sangue; bastonetes 01 % (12 7 p / m m 3); segm entados 62% (7 8 7 4 p/m m 3); e o sin ó filo s 03% (381 p/m m 3); b a só filo sO l % (1 2 7 p/m m 3); lin fó citos

típicos 17 % (21 5 9 p/m m 3); lin fó cito s atípicos 01 % (1 2 7 p /m m 3); m o n ó cito s 15% (1 9 0 5 p /m m 3); p la sm ó c ito s 0 0 . O b serv a çõ es: sem a ltera çõ e s m orfológicas.

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R e la to d e C a s o . H in r ic h s e n S L , F e r r a z S , R o m e ir o M , M u n iz F ilh o M , A b a th A H , M a g a lh ã e s C , D a m a s c e n o F , A r a ú jo C M S , C a m p o s C M S , L a m p r e a D P . S o d o k u - D e s c r iç ã o d e u m c a so . R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 1 3 5 -1 3 8 , a b r - ju n , 1 9 92 .

F ig u r a 1 - L e s ã o u lc e r a d a d e b o r d o s e le v a d o s e m r e g iã o fr o n t a l, c a u s a d a p o r

S p i r i l l u m m i n u s .

Iniciada terapêutica com penicilina cristalina de 2 .5 0 0 .0 0 0 U I d e 4 /4 horas, intravenosa, por três dias, seguida de duas d oses intram usculares de p en icilin a benzatina 1 .2 0 0 .0 0 0 U I. A paciente evolu iu com m elhora clínica e desaparecimento da sintom atologia, assim com o involu ção total da lesão.

D IS C U S S Ã O

A síndrom e da febre por m ordida de rato

(Sodoku), produzida pelo S p i r i l l u m m i n u s , tem

sid o raram en te n o tific a d a e m n o s s o m e io , p ro v a v elm en te p e la apresen ta ção c lín ic a não esp ecífica e principalm ente d evid o às dificuldades laboratoriais em identificar o m icroorganism o.

A paciente relatada neste caso, apresentou m uitos dos sintom as de febre p or m ordida d e rato, incluindo súbito, astenia, febre alta, cefaléia e anorexia. C ontudo, o que m ais n os cham ou a atenção foi o fato de apresentar lesão ulcerada

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R e la to d e C a so . H in r ic h s e n S L , F e r r a z S , R o m e ir o M , M u n iz F ilh o M , A b a th A H , M a g a lh ã e s C , D a m a s c e n o F, A r a ú jo C M S , C a m p o s C M S , L a m p r e a D P . S o d o k u - D e s c r iç ã o d e u m c a so . R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 1 3 5 -1 3 8 , a b r - ju n , 1 9 92 .

infectada em região frontal, que a im possib ilitava de abrir os o lh o s, após a m ordida de rato há 15 dias. E ste últim o fato foi para nós de grande valia na h ipótese diagnostica e na solicitação de pesquisa de

S . m i n u s .

S abem os que o diagn óstico diferencial de S odoku se faz, c o m febre recidivante, tularem ia e princip alm ente com a febre de H averhill, causada p e lo S t r e p t o b a c i l l u s m o n i l i f o r m i s . E sta é

caracterizada por um período de incubação curto (7 a 10 d ias), ausência de supuração no local da m ordida, presença d e artralgia ou artrite, com m aior frequência e rash cutâneo do tipo m obiliform e e purpúrico em 75 % d os casos 5 7 8.

O S . m i n u s , bactéria gram negativa pequena (2

a 5 j i i m ) em form a de espiral, não cresce em m eios

de cultura artificiais e ex ig e inoculação em peritônio d e a n im a is para se r iso la d a c o m p o ste r io r identificação (aproxim adam ente 15 dias), em cam po escuro. É tam bém visualizada em coloração de W right.

O diagnóstico esp ecífico pode ser realizado utilizan d o -se a pesquisa de S . m i n u s em campo

escuro do material proveniente de lesão cutânea (local da m ordida) ou do sangue na fase inicial da in­ fecção (este após inoculação em peritônio de cobaio).

T e ste s lab orato riais d e rotina são pouco im portantes. A nem ia o u leu cocitose podem ou não estar presentes. F also-p o sitivo para sífilis (V D R L ) ocorre em aproxim adam ente 50% dos casos 6.

T e ste s d e im u n o flu o rescên cia , fixação de com plem ento e de soroaglutin ação, ainda não-d isp on íveis em n osso m eio, são tam bém não-de pouca utilidade no d iagnóstico de certeza.

A história prévia de m ordida de rato, com posterior aparecim ento de lesão ulcerada no local da m ordedura, d eve ser sem pre valorizada para que se p ossa pensar em estar diante de um caso de sodoku.

R E FER ÊNC IA S

1 . A n d e r s o n L C , L e a r y S L , M a m n i n g P l . R a t - b i t e

f e v e r i n a n i m a l r e s e a r c h l a b o r a t o r y p e r s o n n e l . L a b o r a t o r y A n i m a l S c i e n c e 3 3 : 2 9 2 - 2 9 4 , 1 9 8 3 .

2 . B r o w n T M , N u n e n e m a k e r J C . R a t - b i t e f e v e r : A r e v i e w o f t h e A m e r i c a n c a s e s w i t h r e e v a l u a t i o n o f

a n e t i o l g y . R e p o r t o f c a s e s . B u l l e t i n o f t h e J o h n s

H o p k i n s H o s p i t a l 7 0 : 2 0 1 - 3 2 7 , 1 9 4 2 .

3 . C e n t e r s f o r D i s e a s e C o n t r o l . R a t - b i t e f e v e r in a

O tratamento da m ordida do rato inicialm ente requer cuidados locais com o por exem p lo a lim peza da ferida, além do uso d e tox óid e tetânico quando não há história prévia de im unização. E m n osso caso, não realizam os im unização para tétano, por haver referência de vacinação n os últim os 5 anos.

O u so profilático dean tib iótico écontravertido, em bora seja recom endado o u so de penicilina V - 5 0 0 m g quatro vezes ao dia7.

A droga por nós utilizada foi a penicilina cristalina e com o a paciente apresentou rápida m elhora, ficando logo assintom ática, preferim os suspendê-la e fazer penicilina benzentina em regim e ambulatorial. Entretanto, s e é p o ss ív e l o diagnóstico rápido, anão-hosp italizaçãoépreferíveleapenicilina benzentina torna-se a droga ideal (3 d oses de

1 .2 0 0 .0 0 0 U I).

Orientação para evitar m ordidas d e rato devem ser observadas, prin cip alm en te por parte das autoridades sanitárias lo ca is, haja vista a im ensa quantidade de ratos que habitam a grande m aioria das moradias de baixa renda de n osso país.

A valiação clínica p recoce e apropriado estudo m icrobacteriológico podem levar ao diagnóstico correto com um grande pontencial d e resolução com a introdução da terapia esp ecífica.

SU M M A R Y

R a t - b i t e f e v e r r e s u l t s f r o m a n i n f e c t i o n w i t h t h e o r g a n i s m Spirillum m inus. T h e a u t h o r s r e p o r t a s y m p t o m a t i c p a t i e n t w i t h f e v e r , m a l a i s e , a n d u l c e r i n f o r e h e a d a f t e r a r o d e n t e x p o s u r e . T h e o r g a n i s m w a s i d e n t i f i e d i n d a r k f i e l d e x a m i n a t i o n o f t h e u l c e r e x s u d a t e . P e n i c i l i n w a s t h e d r u g u s e d w i t h c l i n i c a l i m p r o v e m e n t o f s y m p t o m s .

K e y - w o r d s : R a t - b i t e f e v e r . Spirillum minus. S o d o k u .

BIB LIO GRÁFIC AS

c o l l e g e s t u d e n t - C a l i f o r n i a . M o r b i d i t y a n d M o r t a l i t y

W e e k l y R e p o r t 3 3 : 3 1 8 - 3 2 0 , 1 9 8 4 .

4 . C o l e J S , S to ll R W , B u l g e r R J . R a t - b i t e f e v e r R e p o r t

o f t h r e e c a s e s . A n n a l s o f I n t e r n a l M e d i c i n e

7 1 : 9 7 9 : 9 8 1 , 1 9 6 9 .

5. M a c G i l l R C , M a r t i n A M , E d m u n d s PN. R a t - b i t e f e v e r d u e t o S tr e p to b a c illu s m o n ilifo r m is . B r i t i s h M e d i c i n e o f J o u r n a l 1 : 1 2 1 3 - 1 2 1 4 , 1 9 6 6 .

(4)

R e la to d e C a so . H in r ic h s e n S L , F e r r a z 5, R o m e ir o M , M u n iz F ilh o M , A b a th A H , M a g a lh ã e s C , D a m a s c e n o F, A r a ú jo C M S , C a m p o s C M S , L a m p r e a D P . S o d o k u - D e s c r iç ã o d e u m c a so . R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 5 : 1 3 5 -1 3 8 , a b r -ju n , 1 992.

6 . M u c h u g h T P , B a r t l e t t R L , R a y m o n d J . R a t - b it e

f e v e r : R e p o r t o f a f a t a l c a s e . A n n a l s o f E m e r g e n c y

M e d i c i n e 1 4 : 1 1 1 6 - 1 1 1 8 , 1 9 8 5 .

7 . P e r k e r R H . R a t - b i t e f e v e r . I n : H o e p r c h P D ( e d ) I n f e c t i o u s D i s e a s e s . H a r p e r a n R o w , P h i l a d e l p h i a .

p . 1 2 4 1 - 1 2 4 3 , 1 9 8 3 .

8 . R u m l u y R C , P a t r o n e N , W h i t e L . R a t - b i t e f e v e r a s

c a u s e o f s e p t i c a r t h r i t i s : a d i a g n o s t i c d i l e m m a .

A n n a l s o f R h e u m a t i c D i s e a s e s 4 6 : 7 9 3 - 7 9 5 , 1 9 8 7 .

Referências

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