NUTRIÇÃO M I N E R A L DO MAMOEIRO (Carica papaya L) VI INFLUÊNCIA DA CALAGEM E DE NÍVEIS DE C A L
-CÁRIO NA COVA, SOBRE A CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES NAS FOLHAS E O DESENVOL¬
V I M E N T O INICIAL DA P L A N T A *
Rubens José Pietsch C u n h a * * Henrique Paulo H a a g * * * Gabriel Ganme E l i a s * * * *
RESUMO
Com o o b j e t i v o de estudar o efeito da c a l a g e m e de diferentes q u a n t i d a d e s de c a l c á r i o na cova de plantio sobre o d e s e n v o l v i m e n t o inicial do m a m o e i
-ro e a c o n c e n t r a ç ã o de nutrientes nas f o l h a s , d e s e n v o l v e u s e o p r e s e n -te trabalho na Estação Experimental
* Entregue para publicação e m 1 0 / 1 0 / 8 3
-** D e p a r t a m e n t o de H o r t i c u l t u r a , F.C.A., U N E S P , C a m p u s de B o t u c a t u .
*** D e p a r t a m e n t o de Q u í m i c a , E.S.A. "Luiz de Q u e i r o z " , U S P , P i r a c i c a b a .
"Presidente M é d i c i " , m u n i c í p i o de Bo¬ t u c a t u , SP.
Dentre os resultados obtidos c o n s t a touse q u e : (a) A calagem c o m c a l c á rio d o l o m í t i c o favoreceu o d e s e n v o l -vimento inicial do m a m o e i r o ; (b) A adição de calcário dolomítico na co-va de plantio não teve n e n h u m efeito sobre o d e s e n v o l v i m e n t o inicial do m a m o e i r o ; (c) A calagem realizada du¬
rante o preparo do solo para o p l a n tio teve maior influência nas v a r i a ções das concentrações dos n u t r i e n -tes nas folhas do m a m o e i r o do que a a d i ç ã o de calcário na cova por o c a
-sião da adubação f u n d a m e n t a l ; (d) Na competição iônica dos nutrientes c a tiónicos Ca e M g , o Mg foi mais e f e -tivo.
INTRODUÇÃO
O incremento da cultura do mamoeiro e m alguns esta dos do B r a s i l , a a c i d e z quase generalizada dos solos bra sileiros principalmente aqueles sob vegetação de c e r r a -d o , tornam -de m á x i m a importância o uso -de calcário como corretivo do solo e como fonte de cálcio e m a g n é s i o .
Segundo A W A D A e t alii ( 1 9 7 5 ) , a faixa de pH ideal para a cultura é de 5 , 5 a 6 , 7 , entretanto muitos m a m o e i -ros estão sendo instalados e m solos mais á c i d o s .
Poucos pesquisadores têm se preocupado e m estudar a influência da c a l a g e m sobre o desenvolvimento e a pro-dutividade do m a m o e i r o .
cova de plantio sobre o d e s e n v o l v i m e n t o inicial das plan tas e a concentração de nutrientes nas f o l h a s .
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CARVALHO (1966) afirma que a produção do mamoeiro é prejudicada e m solos cujo pH é inferior a 5,5 e o teor de a l u m í n i o é superior a 0,5 e.mg/100 ml de TFSA. Para AWADA et alii (1975) a faixa de pH ideal para cultura do m a m o e i r o em o x i s s o l o s , varia entre 5,5 e 6,7.
Y O U N G E 6 PLUCKNETT (1964) e s t u d a n d o a resposta do m a m o e i r o ã calagem e m solos do H a v a í , o b t i v e r a m um aumen
to da produção total de frutos de sete vezes em relação ãs parcelas que nao receberam c a l c á r i o . A l é m do aumento da p r o d u ç ã o , houve um a u m e n t o da qualidade dos f r u t o s , a c r e s c e n d o e m 10% a p o r c e n t a g e m dos frutos c o m e r c i á v e i s . As parcelas que não receberam calcário a p r e s e n t a v a m um pH e m torno de 5,5 e a p r o x i m a d a m e n t e 500 ppm de cálcio disponível que foi c o n s i d e r a d o pelos a u t o r e s uma quantia de média a baixa para a p r o d u ç ã o . As parcelas que rece-beram calcário na base de 5,6 t/ha p a s s a r a m para um pH 6,2.
AWADA et a l ü (1975) e s t u d a r a m o efeito de três n_í veis de c a l a g e m (0, 5 e 11,2 t/ha) sobre o desenvolvimen t o , p r o d u ç ã o e c o n c e n t r a ç ã o de nutrientes nos pecíolos de m a m o e i r o s cv " S o l o " .
M A T E R I A I S E MÉTODOS
O ensaio foi c o n d u z i d o no município de B o t u c a t u , SP, na Estação Experimental "Presidente M e d i c i " , de c l i -ma Cf.b e solo pertencente ao grande grupo Terra Roxa Ejs t r u t u r a d a .
As mudas foram o b t i d a s de sementes de m a m o e i r o h e £ m a f r o d i t a elongata de polpa rosada.
0 plantio no campo experimental foi realizado em 19 de d e z e m b r o de 1978 com mudas de a p r o x i m a d a m e n t e 15cm de a l t u r a .
As a d u b a ç õ e s realizadas no ensaio foram: um mês a £ tes do plantio colocou-se e m cada cova de 30 x 30 x 30 c m , 3 litros de c o m p o s t o de e s t e r q u e i r a , 300 g de superfosfa to s i m p l e s , 80 g de c l o r e t o de potássio e mais as quant_i^ dades v a r i á v e i s de c a l c á r i o dolomítico conforme os trata m e n t o s .
Um mês após o p l a n t i o , fezse uma a d u b a ç ã o em c o -bertura de 150 g de sulfato de amónio e 5 g de bórax por p l a n t a . Aos dois m e s e s após o plantio foi realizada uma segunda a d u b a ç ã o e m c o b e r t u r a com as seguintes q u a n t i d a -des e f e r t i l i z a n t e s : 150 g de sulfato de a m ó n i o , 250 g de superfosfato simples e 150 g de cloreto de p o t á s s i o .
Os tratamentos fitossanitários para o c o n t r o l e de pragas e doenças foram realizados periódica e preventiva_ m e n t e .
0 d e l i n e a m e n t o e s t a t í s t i c o empregado foi o de b l o -cos ao a c a s o com quatro r e p e t i ç õ e s , cinco tratamentos e três plantas úteis por p a r c e l a , num espaçamento de 3 x 2m.
A análise de variância dos resultados foi feita a t r a v é s da a n á l i s e c o n j u n t a das duas áreas (com e sem ca
Os tratamentos utilizados no ensaio foram: a área experimental foi dividida em duas m e t a d e s . Na primeira
foi feita uma c a l a g e m c o m calcário dolomítico na base de 6,5 t/ha dois meses antes do plantio por ocasião do pre-paro do solo. Na segunda metade foi realizada a calagem. No dia do plantio foram retiradas amostras de solos para a d e t e r m i n a ç ã o do p H . A área que não recebeu calcário a p r e s e n t a v a um pH médio de 4,9 e a parte com c a l a g e m um pH m é d i o de 6,2. Em cada uma destas áreas foram executa dos os seguintes t r a t a m e n t o s : um mês antes do p l a n t i o , junto com a a d u b a ç ã o fundamental na cova foram colocadas q u a n t i d a d e s crescentes de calcário d o l o m í t i c o : 0, 200 g, 400 g, 600 g e 800 g por c o v a .
Os dados foram obtidos através de tomadas de a l t u -ras mensais das plantas a partir do plantio no c a m p o .
As d e t e r m i n a ç õ e s das c o n c e n t r a ç õ e s de nutrientes nas folhas foram baseadas nos métodos descritos em SARRU GE & HAAG (1974). As a m o s t r a s para as análises químicas foram c o n s t i t u í d a s de folhas recém-maduras coletadas das parcelas aos 60 e 150 dias do p l a n t i o . Foram analisados separadamente limbo e p e c í o l o , d e t e r m i n a n d o - s e as concen trações de P, K, C a , M g , B e Z n .
0 e n s a i o e n c e r r o u - s e em 31 de maio de 1979 em vir-tude de forte geada que prejudicou o prosseguimento da pesqu i s a .
RESULTADOS E DISCUSSÕES
D e s e n v o l v i m e n t o v e g e t a t i v o
na área c a l c a r e a d a com un pH 6,2 em relação â á r e a que não recebeu c a l c á r i o e a p r e s e n t a v a um pH 4,9. No mês de fevereiro não foi significativa a diferença de crescimeji to das plantas e n t r e as duas áreas (com e sem c a l a g e m ) , devido m u i t o provavelmente e s t a r e m as plantas ainda m u i -to pequenas e desta forma a maior parte do sistema radi-cular e s t a v a c o n t i d o no torrão de solo que a c o m p a n h a a muda no plantio e por isso não sofreu muita influência da c a l a g e m realizada na á r e a .
O b s e r v a - s e também na Tabela 1 que no mês de abril o c r e s c i m e n t o do m a m o e i r o sofreu uma grande redução devj^ do ãs baixas precipitações que o c o r r e r a m neste m ê s .
0 c r e s c i m e n t o inicial do m a m o e i r o não foi influenciado pelas q u a n t i d a d e s crescentes de calcário d o l o m f t i co que foram a d i c i o n a d a s às covas por o c a s i ã o da a d u b a -ção f u n d a m e n t a l , um mês antes do p l a n t i o , como se pode o b s e r v a r na Tabela 2. Não foi significativa a interação c a l a g e m x níveis de c a l c á r i o na cova m o s t r a n d o que em am bas as á r e a s , c o m e sem c a l a g e m , as q u a n t i d a d e s c r e s c e n -tes de c a l c á r i o nas covas não tiveram e f e i t o .
C o n c e n t r a ç ã o de n u t r i e n t e s
Observa-se pelas Tabelas 3 e 4 que as quantidades crescentes de calcário colocadas nas covas de plantio não influenciaram na c o n c e n t r a ç ã o dos m a c r o n u t r i e n t e s nas folhas do m a m o e i r o tanto nas amostragens de 60 como 150 dias após o p l a n t i o . Houve apenas uma exceção que foi a variação da c o n c e n t r a ç ã o de Ca no pecíolo das plantas com 150 dias de plantio (Tabela 4 ) . Houve uma diminuição da c o n c e n t r a ç ã o de Ca da d o s a g e m " 0 " até 400 g de c a l c á
-rio por cova para aumentar até a dosagem de 800 g. As c o n c e n t r a ç õ e s dos m i c r o n u t r i e n t e s B e Zn m o s -tram-se variáveis com as diferentes q u a n t i d a d e s de c a l c a rio na c o v a . A c o n c e n t r a ç ã o de boro no pecfolo diminuiu quando se a d i c i o n o u calcário na c o v a , tanto na a m o s t r a -gem de 60 dias como na dos 150 dias após o plantio (Tabe
las 3 e 4 ) . ~~ As c o n c e n t r a ç õ e s de boro no limbo foliar nao varia
ram com as q u a n t i d a d e s crescentes de calcário na cova de p l a n t i o , tanto nas amostragens de 60 como nas de 150 dias após o p l a n t i o .
A c o n c e n t r a ç ã o média de Zn no limbo de folhas amos tradas aos 60 dias (Tabela 3) foi maior quando as p l a n tas receberam 200 g de calcário dolomítico na c o v a , e n quanto que no pecfolo as c o n c e n t r a ç õ e s de Zn não v a r i a
-ram e s t a t i s t i c a m e n t e entre s i .
Na a m o s t r a g e m dos 150 dias (Tabela 4 ) , houve a p e -nas variações -nas c o n c e n t r a ç õ e s de Zn no período sendo maior a c o n c e n t r a ç ã o das plantas que receberam 800 g de calcário na c o v a , e m b o r a o resultado não tenha sido dife
bação fundamental como pode ser o b s e r v a d o nas Tabelas 5 e 6.
Na a m o s t r a g e m de folhas a o s 60 dias do plantio (Ta_ bela 5 ) , v e r i f i c a s e q u e a c a l a g e m reduziu a c o n c e n t r a -ção de K e C a , embora q u e , para o Ca a diferença somente foi s i g n i f i c a t i v a no p e c f o l o . A c a l a g e m também provocou a u m e n t o d a s c o n c e n t r a ç õ e s de Mg e Zn e n ã o a l t e r o u signj^ f i c a t i v ã m e n t e a s concentrações de P e B.
Estes resultados m o s t r a m provável a n t a g o n i s m o e n -tre Mg x Ca e Mg x K. A q u a n t i d a d e de Mg a d i c i o n a d a ao solo a t r a v é s do calcário d o l o m f t i c o , embora e m q u a n t i d a de inferior a de C a , fez c o m q u e aumentasse a c o n c e n t r a ção de Mg e reduzisse a de Ca e K. Estes resultados d i -vergem dos o b t i d o s por AWADA e t alii ( 1 9 7 5 ) q u e verifica ram c o m a c a l a g e m u m aumento da c o n c e n t r a ç ã o de Ca e uma diminuição de K e Mg n o s pecíolos do m a m o e i r o . Esta d i -vergência de resultados p r o v a v e l m e n t e se prende a o fato de AWADA e t alii ( 1 9 7 5 ) u t i l i z a r e m como c o r r e t i v o coral mordo ( C a C 0 3 e m pó) e neste trabalho foi a p l i c a d o ao s o -lo c a l c á r i o d o l o m í t i c o .
Nas a m o s t r a g e n s dos 150 dias após o plantio (Tabe-la 6 ) , o u s e j a , a p r o x i m a d a m e n t e 210 dias após a c a l a g e m , esta m o s t r a ainda seus efeitos sobre a c o n c e n t r a ç ã o dos n u t r i e n t e s n a s folhas do m a m o e i r o . V e r i f i c a - s e , entretaji t o , que o efeito da c a l a g e m sobre a c o n c e n t r a ç ã o de K se
inverteu, isto é , nas amostras d o s 60 dias (Tabela 6 ) , a c a l a g e m p r o v o c o u uma diminuição da c o n c e n t r a ç ã o de K e nas a m o s t r a s dos 150 d i a s , a c a l a g e m favoreceu um a u m e n to da c o n c e n t r a ç ã o de K. Esta d i v e r g ê n c i a pode ser e x plicada pelo fato de que a o s 60 dias do plantio o K s o -freu m a i o r c o m p e t i ç ã o iõnica por estar mais próxima da é p o c a da a p l i c a ç ã o do calcário n o solo e nas amostragens dos 1 5 0 dias o e f e i t o da c a l a g e m pode ser e x p l i c a d o p e
ocorria e , p o r t a n t o , aumentando a concentração deste n u -triente nos órgãos da p l a n t a .
CONCLUSÕES
Dos resultados obtidos nas condições do presente trabalho permitem observar q u e :
a) A c a l a g e m com calcário dolomítico favoreceu o d e s e n v o l v i m e n t o inicial do m a m o e i r o .
b) A adição de calcário dolomítico na cova de p1 ar^ tio não teve nenhum efeito sobr o desenvolvimen to inicial do m a m o e i r o .
c) A calagem realizada durante o preparo do solo para o plantio teve maior influência nas v a r i a ções das concentrações dos nutrientes do m a m o -e i r o , do qu-e a adição d-e calcário na cova por ocasião da adubação f u n d a m e n t a l .
d) Na competição iônica dos nutrientes catiônicos Ca e M g , o Mg foi mais e f e t i v o .
SUMMARY
MINERAL NUTRITION OF PAPAYA T R E E (Carica papaya L.) VI Effects of liming on early plant d e v e -lopment and nutrients concentration in the leaves
The e x p e r i m e n t was set out in B o t u c a t u , São Paulo S t a t e , B r a z i l.
It is c o n c l u d e d that: (a) Liming w i t h dolomitic li¬ me p r o m o t e d early papaya plant d e v e l o p m e n t ; (b) liming
in the hole before planting had no effect on early plant d e v e l o p m e n t ; (c) lime spreading during soil preparation for planting had a higher influence on nutrient c o n c e n -tration of the leaves than liming in the h o l e ; (d) on
ionic c o m p e t i t i o n between cation of Ca and M g , the later was more e f f e c t i v e .
LITERATURA CITADA
A W A D A , M . ; SUESHISA, R.; K A N E H I R O , Y., 1975. Effects of lime and phosphorus on y i e l d , growth and petiole com-position of p a p a y a . J . A m e r . S o c . H o r t . S c i . 1 0 0( 3 ) : 2 9 4 - 2 9 8 .
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