ARTIGO ORIGINAL
/ ORIGINAL
ARTICLE
QUALIDADEDEVIDADO
DOADORAPÓSTRANSPLANTE
HEPÁTICOINTERVIVOS
JúlioCezarUili
COELHO
1,MônicaBeatriz
PAROLIN
1,GiorgioAlfredoPedroso
BARETTA
2,
SilvaniaKlug
PIMENTEL
1,AlexandreCoutinhoTeixeirade
FREITAS
1eDaniel
COLMAN
3RESUMO-Racional-Aqualidadedevidadodoadorapóstransplantehepáticointervivosaindanãofoiavaliadaemnosso meio.Objetivo-Avaliaraqualidadedevidadodoadorapóstransplantehepáticointervivos.Métodos-Deumtotalde300 transplanteshepáticos,51foramdedoadoresvivos.Doadorescomseguimentomenordoque6meseseosquenãoquiseram participardoestudoforamexcluídos.Osdoadoresresponderamaumquestionáriode28perguntasabordandoosvários aspectosdadoação,sendotambémavaliadosdadosdemográficoseclínicosdosmesmos.Resultados-Trintaesetedoadores aceitaramparticipardoestudo.Destes,32eramparentesdeprimeirooudesegundograudoreceptor.Oesclarecimentosobre ocarátervoluntáriodadoaçãofoiadequadoparatodospacientes.Apenasum(2%)nãodoarianovamente.Adorpós-operatória foipiordoqueoesperadopara22doadores(59%).Oretornoàsatividadesnormaisocorreuemmenosde3mesespara21 doadores(57%).Vinteeumdoadores(57%)tiveramperdafinanceiracomadoaçãodevidoagastoscommedicamentos, exames,transporteouperdaderendimentos.Trintaetrês(89%)nãotiverammodificaçãooulimitaçãonasuavidaapósa doação.Osaspectosmaisnegativosdadoaçãoforamadorpós-operatóriaeapresençadecicatrizcirúrgica.Amaioriadas complicaçõespós-operatóriafoiresolvidacomotratamentoclínico,mascomplicaçõesgravesoupotencialmentefatais ocorreramemdoispacientes.Conclusões-Amaioriadosdoadoresapresentouboarecuperaçãoeretornoucompletamente assuasatividadesnormaispoucosmesesapósadoação.Oaspectomaisnegativodadoaçãofoiadorpós-operatória.
DESCRITORES-Qualidadedevida.Transplantedefígado.Obtençãodeórgãos.Doadoresvivos.
1ServiçodeTransplanteHepáticodoHospitaldeClínicasdaUniversidadeFederaldoParaná(HC-UFPR);2DepartamentodeCirurgiadoAparelhoDigestivodoHC–UFPR. 3ServiçodeAnestesiadoHC–UFPR,Curitiba,PR.
Endereçoparacorrespondência:Dr.JúlioC.U.Coelho-RuaBentoViana,1140-apt.2202-80240-110–Curitiba,PR.E-mail:juliocoelho@bbs2.sul.com.br
INTRODUÇÃO
Com a expressiva melhora dos resultados do transplante hepático nas últimas décadas, número elevadodepacientescomhepatopatiacrônicaeaguda passou a procurar os serviços de transplante(10, 18, 26).
Conseqüentemente, o tempo em lista de espera e a mortalidadedepacientesaguardandoesteprocedimento aumentaramexponencialmentenosúltimosanos(21,26).A
escassezdedoadorescadavéricosestimulouarealizaçãode transplantehepáticointervivos,inicialmenteemcrianças e posteriormente em adultos(6, 7, 20).Desdeoprimeiro
transplantehepáticointervivos,realizadoporRAIAet al.(20)naUniversidadedeSãoPauloem1989,onúmero
dessetipodetransplantevemcrescendoemváriospaíses. NoBrasil,onúmerodetransplantehepáticointervivos aumentoude6em1997para177em2003(21).
Notransplanteintervivos,éessencialapreservação dasaúdedodoador.Estesempreépessoasaudável, semproblemasmédicossignificantes(19).Paraosucesso
doprogramadetransplanteintervivoséfundamental
que as complicações dos doadores sejam mínimas e que a mortalidade seja nula ou muito próxima a ela.Alémdomais,otransplantedevealterarmuito pouco a qualidade de vida do doador, permitindo rapidamente o retorno completo a todas atividades usuais(12, 24).A qualidade de vida do doador após o
transplantehepáticointervivosaindanãofoiavaliada no nosso meio. O objetivo do presente estudo foi avaliaraqualidadedevidadodoadorapósestetipo detransplantenoHospitaldeClínicasdaUniversidade FederaldoParanáenoHospitalNossaSenhoradas Graças,Curitiba,PR.
MÉTODOS
pós-operatório menor do que 6 meses e os que não quiseram participardoestudo.
Todososdoadoresforamsubmetidosaavaliaçãomédica completa para excluir doenças significantes. Doenças transmissíveisforamexcluídasatravésdeexameslaboratoriais padronizados.Ressonânciamagnéticaearteriografiaforam realizadasparadeterminarotamanhovolumétricodofígado eestudaraanatomiadasviasbiliares,artériahepáticaeda veia porta e hepáticas. Biopsia hepática foi realizada para determinar a presença de esteatose hepática somente nos indivíduoscomíndicedemassacorpóreasuperiora30kg/m2
oucomexamedeimagemsugestivodessacondição.Osvários aspectos da doação, inclusive de evolução pós-operatória foram completamente esclarecidos por, pelo menos, três membrosdaequipemédica(umcirurgião,umhepatologista eummédicoresidente)emdatasdiferentes.Osdoadores foram submetidos a avaliação psicológica e social.Após obtençãodeconsentimentoinformado,foiobtidaautorização doMinistérioPúblicodetodospacientes.Paraosdoadores nãoaparentadosdoreceptor,foiobtidaautorizaçãojudicial, emconformidadecomalegislaçãobrasileiraatual.
Osdoadoresresponderamcompletamenteaumquestionário pessoalmenteouvialigaçãotelefônicaaumentrevistador. Oquestionáriocontinha28perguntasabordandoosvários aspectos da doação: avaliação e cuidados pré-operatórios eevoluçãoecomplicaçõespós-operatórias(Figura1).As perguntas avaliavam aspectos orgânicos, psicológicos e sociais.Asalteraçõesorgânicasepsicossociaisatribuídas pelo paciente à doação foram registradas. Opiniões dos doadores sobre a orientação e esclarecimento pré e pós-operatóriosesobredoaçãodeórgãosforamconsideradas. Oentrevistadoreraummédicocomformaçãocompletaem cirurgiadosistemadigestórioeemtransplantedeórgãos, quenãotinhaparticipadodostransplantesenoscuidados dos pacientes. O protocolo de estudo computadorizado também foi revisado para se obter dados demográficos e clínicosdosdoadores.
Os dados foram analisados estatisticamente usando o programa JMP, versão 501 (SAS Institute, EUA).As variáveisforamanalisadasatravésdotesteQui-quadrado. Os valores foram expressos em média ± desvio padrão e intervalodeconfiançade95%(IC95%).Foramconsiderados estatisticamente significativos valores deP menores ou iguaisa0,05(5%).
RESULTADOS
Dos51doadores,37foramincluídosnoestudo.Osdados demográficosdessesdoadoressãomostradosnaTabela1.A maioriadosdoadores(n=32;86%)eraparentedeprimeiro ou segundo grau do receptor.Todos os quatro doadores não-familiares (11%) eram indivíduos que participavam ativamente de atividades religiosas. Seis doadores foram submetidosaexcisãodosegmentolateralesquerdo(segmento IIeIII)e31dolobohepáticodireito(segmentosVaVIII). Otempomédiodeafastamentodasatividadesnormaisno
pré-operatóriofoide9dias(IC95%de6a26dias)epós-operatóriofoide87dias(IC95%de70a164dias).Aduração médiadeinternaçãofoide6dias(IC95%de4a13dias).O seguimentomédiodosdoadoresfoide1,88±1,46ano(IC 95%de1,6e2,8anos).
Asobrevidadosreceptoresfoide77%em1anoede70% em3anose5anos,determinadapelacurvadeKaplan-Meier.
A principal motivação para a doação foi salvar a vida doreceptorem22(59%),vontadedeajudaroreceptorem 5 (14%), diminuir o sofrimento do receptor em 4 (11%), vínculofamiliarcomoreceptorem3(8%)eoutrosmotivos em3(8%).
Apenastrêsdoadores(8%)referiramqueoesclarecimento pré-doaçãofoiinsuficiente.Essesdoadoresmencionaramque gostariamdetertidomaisinformaçõessobreosresultadosdo transplante,doisdelessobreosriscosdadoaçãoeumsobrea doresofrimentopós-operatório.
Todosreferiramqueforambemesclarecidossobreocaráter voluntáriodadoaçãoenenhumsentiuqualquerformade pressãopararealizá-la.Apenasum(2%)mencionouquenão doarianovamente.Estefoioúnicopacientequeapresentou complicações pós-operatórias graves, insuficiência de múltiplosórgãosesistemassecundáriosàúlceraduodenal perfurada.Dois(5%)nãorecomendariamadoaçãointervivos. Todoseramfavoráveiserecomendariamadoaçãodeórgãos postmortem.
Osdoadoresatribuíramnotamédia de8±2(IC95% de 7 a 8,6) para a avaliação geral do pós-operatório em escalade0a10,sendo0opiore10omelhor.Quantoao sofrimentopós-operatório,osdoadoresatribuíramnotade 7±2,3(IC95%de6a7,7)emescalade0a10,sendo0o menore10omaior.
Em relação à expectativa pré-operatória, a evolução e recuperação pós-operatórias foram piores do que o esperado para19(51%)dosdoadores,melhorespara15(41%)eiguais aoesperadopara3(8%).Quantoàdorpós-operatória,22(59%) tiverammaisdordoqueoesperado,9(24%)menose6(16%) igualaoesperado.
Oretornoaotrabalhoeouàsatividadesescolaresocorreuem menosde2mesespara14(38%),2a3mesespara7(19%),de 3a6mesespara7(19%)eapós6mesespara8(22%).Somente um doador (3%) com 10 meses de pós-operatório ainda não retornouaotrabalho.Estefoioúnicodoadorqueapresentou complicaçãopós-operatóriagrave.
Quantoaosuportefinanceiroparaajudaracustearos gastos durante o período de avaliação pré-operatória e o períododerecuperaçãopós-operatória,5(14%)receberam auxíliodafamília,4(11%)diretamentedoreceptor,4(11%) doINSS,4(11%)doempregador,7(19%)deoutrasfontese 13(35%)nãoreceberamauxílio.Ototalde21doadores(57%) referiu perda financeira com a doação devido a gastos com medicamentos,exames,transporteouperdaderendimentos.
Nome:________________________________________Sexo________Idade_______Escolaridade_______________Profissão______________Datadotransplante_______
Datapreenchimentoquestionário___________Endereço:_____________________________________________________________CEP_________Fone_________________
Relaçãocomoreceptor____________Nomedoreceptor______________________Situaçãoatualdoreceptor:a)recuperaçãototal;b)óbito;c)complicação.Quais:_____________
1. Oquemotivouafazeradoação_______________________________________________________________________________________________________________
2. Foiadequadamenteesclarecidosobreadoaçãopelaequipedetransplante:a)sim;b)não.Quaisesclarecimentosnãoforamfeitos_____________________________________
3. Vocêfoiesclarecidoqueasuadoaçãoeratotalmentevoluntáriaequepoderiaserinterrompidaaqualquermomentoantesdotransplante:a)sim;b)não
4. Vocêachaquesofreuqualquerpressãodiretaouindiretaparadoardo: I) Receptor:a)não;b)sim
II) Familiares:a)não;b)sim
III) Amigos:a)não;b)sim
IV) Equipetransplante:a)não;b)sim
5. Vocêdoarianovamente:a)sim;b)não
6. Vocêconcordaemserdoadordeórgãosapósasuamorte:a)sim;b)não.Casoafirmativo,jádiscutiuasuaopiniãocomseusfamiliares:I)sim;II)não
7. Vocêrecomendariaparaoutrapessoaadoaçãointervivos:a)sim;b)não
8. Vocêrecomendariaparaoutrapessoaadoaçãodeórgãosapósamorte:a)sim;b)não
9. Tempodeafastamentodotrabalhoantesdotransplanteparaavaliaçãopré-operatória:_____________________________________________________________________
10. Tempodeafastamentodotrabalhoapósotransplante:_____________________________________________________________________________________________
11. Tempodeinternaçãohospitalar:_______________________________________
12. Re-internaçãohospitalarporproblemasrelacionadosaotransplante:a)não;b)sim.Tempodere-internação:______________Indicação:______________________________
13. Complicaçãoperioupós-operatória:a)não;b)sim.Qual_____________________________________________________________________________________________
14. Nasuaavaliaçãogeral,dêumanotade0a10paraoperíodopós-operatórioimediato,sendo0opiorpossívele10omelhorpossível:__________________________________
15. Baseadonosofrimentonopós-operatórioimediato,deumanotade0a10,sendo0omelhorpossívele10opiorpossível:___________________________________________
16. Baseadonasuaexpectativapré-operatória,aevoluçãoearecuperaçãopós-operatóriasdeumamaneirageralfoi:a)melhor;b)igualouc)pior.
17. Baseadonasuaexpectativapré-operatória,adorpós-operatóriafoi:a)pior;b)igualouc)melhor.
18. Quantotempoapósotransplante,vocêretornouassuaatividadesde:a)trabalho_______(senãotrabalhar,colocarNA;nocasodedonadecasa,considerarretornoas atividadescotidianas);b)estudo_________;c)físicas,inclusiveesportes_________;d)total________________________________________________________________
I) <1mês;
II) 1a2meses;
III) 2a3meses;
IV) 3a6meses;
V) 6a12meses;
VI) >12meses.
19. Duranteoperíododeavaliaçãopréepós-operatória,obtevesuportefinanceirodo:a)nãorecebeu;b)empregador;c)INSS;d)seguro;e)receptordotransplante;f)outras: ________________________________________________________________________________________________________________________________________
20. Vocêtevealgumaperdafinanceiracomotransplante:a)não;b)sim.Comoque:I)exames;II)medicamentos;III)transporteeestadia;IV)salário/rendimento;V)outras __________________________________________________________Quantofoiogastototalpagoporvocê________________________________________________
21. Vocêobservoualgumamodificaçãooulimitaçãonasuavidadeumaformageralapósotransplante:a)não;b)sim.Qual________________________________________
22. Vocêobservoualgumamodificaçãooulimitaçãonasuavidasexualapósotransplante:a)não;b)sim.Qual__________________________________________________
23. Vocêobservoualgumamodificaçãooulimitaçãonasuavidanoaspectopsicológicoapósotransplante:a)não;b)sim.Qual______________________________________
24. Vocêobservoualgumamodificaçãoemrelaçãoaoseudesempenhonoempregoounorelacionamentocomoscolegasdetrabalhoapósotransplante:a)não;b)sim.Qual___
25. Nopós-operatório,oseurelacionamentocomoreceptor:a)melhorou;b)piorou;c)nãomudou
26. Adoaçãomodificouqualqueraspectodasuavida:a)não;b)sim.Qual______________________________________________________________________________
27. Qualfoioaspectomaisnegativodadoação:a)dor;b)cicatriz;c)medoeestresse;d)seqüelaoulimitaçãopós-operatória.Qual____________________________________ e)outras:_____________________________________________________________________________________________________________________________
28. Qualfoioaspectomaispositivodadoação:___________________________________________________________________________________________________
29. Vocêtemqualqueroutrocomentárioousugestão:a)não;b)sim.Quais_____________________________________________________________________________
TABELA1-Aspectosdemográficosdosdoadores
Característica n
Númerodedoadores 37
Idade 34±11anos
Sexo
masculino 28(76%)
feminino 9(24%)
Escolaridade
primário 11(30%)
secundário 17(46%)
terciário 9(24%)
Relaçãocomoreceptor
filhos 11(25%)
pais 8(22%)
irmãos 5(14%)
cônjuge 4(11%)
amigos 4(11%)
primos 1(3%)
sobrinhos 1(3%)
avós 1(3%)
tios 1(3%)
cunhados 1(3%)
Segmentosexcisados
segmentosIIeIII 6(16%) segmentosVaVIII 31(84%) Tempodeafastamentopré-operatório(dias) 9,2±12
Duraçãodainternação(dias) 6±4,7
Tempodeafastamentopós-operatório(dias) 87±71
Seguimentopós-operatório(ano) 1,88±1,46
n=Valoresexpressoscomonúmero(percentagem)oumédia±desviopadrão
TABELA2-Complicaçõespós-operatóriasdosdoadores
Complicação n* %
Náuseasevômitos 14 37,8
Infecçãodaferidaoperatória 8 21,6
Diarréia 3 8,1
Derramepleural 3 8,1
Coleçãointra-abdominal 2 5,4
Atelectasiapulmonar 2 5,4
Fístulabiliar 2 5,4
Úlceraduodenal 2 5,4
Pneumonia 2 5,4
Pneumotórax 1 2,7
Hérniaincisional 1 2,7
Trombosedaveiaporta 1 2,7
Disfunçãodemúltiplosórgãosesistemas 1 2,7 *Algunspacientestiverammaisdoqueumacomplicação
oreceptorem4(11%),medoeestressepara1(2,7%)eseqüela paraodoadorem1(2,7%).Nove(24%)nãorelataramnenhum aspectonegativo.Oaspectomaispositivofoiarecuperação doreceptorem19(51%)doscasos,sensaçãodeterajudado em12(32%),melhoradaauto-estimaem3(8%)emelhorado relacionamentocomoreceptorem1(2,7%).Doispacientes negaramqualqueraspectopositivodadoação.
Ascomplicaçõespós-operatóriasestãoevidenciadasna Tabela2.Ascomplicaçõesmaisfreqüentesforamdemenor relevânciaeresolveramcomotratamentoclínico.Náuseas evômitosforamdecurtaduração,geralmentemenosdoque 24horas,namaioriadosdoadores.
A complicação mais grave foi a de um doador que apresentou úlcera duodenal perfurada no 3º dia de pós-operatório.Apesardopacientetersidooperadocompoucas horasdeevoluçãodacomplicação,evoluiucomsepticemia einsuficiênciademúltiplosórgãosesistemas.Estedoador recebeualtahospitalarapós2mesesdeinternaçãohospitalar, comhemiparesiasecundáriaàisquemiacerebral.
Outrodoadorapresentoutrombosedaveiaporta,complicação potencialmentegrave,possivelmentedevidoàanomaliacongênita detrifurcaçãoenãobifurcaçãodestevaso.Opacienteteveboa evolução,semnenhumaoutraintercorrência.Ultra-sonografia comDopplercoloridorealizadano3ºmêsdepós-operatório evidenciourecanalizaçãodaveia.
DISCUSSÃO
O número de transplante de órgãos com doadores vivos aumentouexpressivamentenosúltimosanos(5, 17, 22 ,27).Dados
dosEstadosUnidos,EuropaeÁsiaevidenciamquequasetodos doadoresficaramsatisfeitoscomadecisãodeteremdoadoparte do fígado e apresentaram excelente recuperação, retornando assuasatividadesnormaissemrestriçõesesemseqüelasem poucosmesesapósotransplante(12,24).Opresenteestudomostrou
resultadossimilares.Amaioriadosdoadoresretornouatodasas suasatividades,inclusivedetrabalhoeescolares,emmenosde 3mesesdotransplante.Entretanto,doisquintosdospacientes destasérieretornaramasatividadesnormaissomente3meses apósadoação.Estedadoéimportantenopreparodepotenciais doadores,quedevemserorientadossobreapossibilidadedeum períododerecuperaçãoprolongado.
Aquasetotalidadedospacientesdestacasuísticaficou satisfeitacomoesclarecimentopré-operatóriosobretodo processodedoação,inclusivesobreasinformaçõessobre dor,complicaçõeseevoluçãopós-operatórias.Quesitode fundamentalimportânciaéticaserefereaocarátervoluntário da doação. Em serviços onde o presente trabalho foi desenvolvido,estepontofoienfatizadoporváriosmembros daequipeduranteoprocessodeavaliaçãopré-operatória. Esclareceu-se que qualquer forma de pressão, inclusive psicológica,comoinsinuaçõesdotipo“sevocênãodoar, fulano(oreceptor)vaimorrer”,deveriasercomunicadoà equipe.Todospacientesreferiramtersidobemesclarecidos sobre o caráter voluntário da doação e nenhum se sentiu pressionadooucoagidoafazê-lo.
dorelacionamentocomomarido.Modificaçãooulimitaçãodo aspectopsicológicofoirelatadaporseis(16%)doadores.
Orelacionamentocomoreceptornãomodificouem20(55%) doadores,melhorouem14(39%),piorouemapenas1(3%)enão podeseravaliadoem2(5%),pormorteprecocedoreceptor.
No presente estudo, como em vários outros da literatura internacional,amaioriadosdoadoreseraparentesdosreceptores, principalmentedeprimeirograu(1,4,16,23).Estedadotemimportância
naorientaçãodoreceptor.Apossibilidadedeumamigoserdoador épequena.Naexperiênciadosautoresdesteestudo,ospoucos doadoresnãoaparentadosforampessoasamigasdoreceptor, quefreqüentementeparticipavamdereuniõesecultosdasua religiãoecujamotivaçãoparadoaçãoerasalvaravida,ajudar oualiviarosofrimentodopaciente.
Apesardaressecçãohepáticaparadoaçãoserprocedimento degrandeporte,necessitandoincisãoampla,aquasetotalidade dosdoadoresavalioupositivamenteopós-operatório.Entretanto, amaioriareferiuqueadorfoipiordoqueantecipadoantesdo procedimento.TROTTERetal.(24)tambémrelataramque2/3dos
seusdoadorestiverammaiordorpós-operatóriadoqueeles tinhamantecipado.Essesautoresobservaram,também,que adorpós-operatórianoreceptorémenordoquenodoador. Algumasexplicaçõestêmsidopropostasparajustificaramaior percepçãodolorosapós-operatórianosdoadores.Primeiro, enquanto que a hepatectomia no doador é realizada em indivíduossadios,aoperaçãonoreceptoréfreqüentemente feita em pacientes com sofrimento e dor crônica que, na maioriadasvezes,jáforamsubmetidosaváriosprocedimentos prévios(23,25).Alémdomais,psicologicamente,oreceptortem
consciênciaqueaoperaçãoéasuaúnicaesperançadevida, enquantoqueparaodoador,oprocedimentoéumaopção. Segundo,ocorticóideadministradonoreceptornoperíodo perioperatório pode ter algum efeito benéfico: ele reduz a doratravésdadiminuiçãodaproduçãodeprostaglandinas, reduçãodabradicininatissularediminuiçãodaliberaçãode neuropeptídios das terminações nervosas(3, 15). Finalmente,
é possível que a explicação da equipe de transplante para algunsdoadoressobreaintensidadedadorpós-operatória tenhasidoinsuficienteouincompleta.
Exceto um, os demais doadores referiram que seriam doadores intervivos novamente.A mudança de opinião desseúnicodoadorprovavelmentefoidevidaàocorrência desofrimentointensoedecomplicaçõesgravesnoseupós-operatórioimediato.Estepacienteapresentouinsuficiência demúltiplosórgãosesistemas,secundáriaàúlcerapéptica perfurada,necessitandointernaçãoprolongadanaUTI,com riscodemorte.Entretanto,todos,inclusiveessedoador,eram favoráveisàdoaçãopostmortem.
A maioria dos doadores não apresentou modificações oulimitaçõesnasuavidaapósoprocedimento.Entretanto, poucos referiram alterações físicas ou psicológicas, como intolerância alimentar ou piora do relacionamento com o receptor.Essasalteraçõessãoinespecíficasedifíceisdese correlacionarcomadoação.
Apesardamaioriadosdoadoresdestasérieterobtido suporte f inanceiro para ajudar a custear as despesas duranteoprocessodedoação,maisdametadeteveperdas financeiras com despesas para compra de medicamentos, realizaçãodeexamescomplementares,transporteouperda de rendimentos pela ausência no trabalho. No Brasil, os custosmédicosdeavaliaçãodosdoadoressãototalmente cobertospeloSistemaÚnicodeSaúde(SUS)ouporalguns convênios,masasdespesasindiretaseascommedicamentos não-hospitalaresnãoosão.Estaperdafinanceirapodeser fatorlimitanteimportanteparaobtençãodedoadorespara receptores carentes, principalmente para os que residem distantedoscentrostransplantadorespeloscustoselevados comtransporteehospedagemduranteoprocessodeavaliação ederecuperaçãopós-operatória.
Algunsautoresdescrevemqueahepatectomiaparadoaçãodo fígadoparatransplantehepáticoéoperaçãosimplesepodeser realizadacompoucotempodeinternaçãohospitalar,comtaxas decomplicaçõesmínimas(9,13,14,28).Entretanto,pararealização
desteprocedimentoénecessáriaequipemultidisciplinarcom grandeexperiênciaemtransplantehepáticoehepatectomias(1, 8).Alémdomais,oprocedimentoéassociadocomsignificante
morbidade,inclusivecomváriosóbitosrelatadosnaliteratura(2,6,8, 11).Naexperiência,complicaçõesmenores,comofebre,atelectasia
pulmonareinfecçãodeferidaoperatória,foramcomuns.Um dospacientesapresentouriscodemortedevidoacomplicações graves.Apossibilidadedecomplicaçõespotencialmentefatais deveserclaramenteexplicadaaospotenciaisdoadores.
CONCLUSÕES
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Recebidoem20/9/2004. Aprovadoem17/12/2004.
CoelhoJCU,ParolinMB,BarettaGAP,PimentelSK,FreitasACT,ColmanD.Donorqualityoflifeafterlivingdonorlivertransplantation. ArqGastroenterol2005;42(2):83-8.
ABSTRACT-Background.QualityoflifeofthedonorafterlivingdonorlivertransplantationhasnotbeenevaluatedinBrazilyet.Aim-To evaluatethequalityofliveofthedonorafterlivingdonorlivertransplantation.Methods-Ofatotalof300livertransplantations,51were oflivingdonors.Alldonorswithlessthan6monthsoffollow-upandthosewhodidnotwanttoparticipatewereexcludedfromthestudy. Thedonorsansweredaquestionnairecontained28questionsaboutseveralaspectsofdonation.Demographicandclinicaldatafromthe donorswerealsoevaluated.Results-Thirty-sevendonorswereincludedinthestudy.Thirty-twowerefirstorseconddegreerelativesofthe receptor.Onlyonedonorwouldnotdonateagain.Twenty-twodonors(59%)experiencedmorepostoperativepainthantheyhadpreviously anticipated.Returntoregularactivitiesoccurredinlessthan3monthsfor21donors(57%).Twenty-onedonors(57%)referredfinancial losswiththedonationduetoexpenseswithmedications,exams,transportationorlostwages.Thirty-three(89%)hadnomodificationor limitationintheirlivesafterdonation.Themostnegativeaspectsofdonationwerepostoperativepainandthepresenceofasurgicalscar. Mostpostoperativecomplicationsresolvedwithclinicaltreatment,butsevereorpotentiallyfatalcomplicationsoccurredintwopatients.
Conclusions-Mostdonorshadgoodrecoveryandreturnedtoregularactivitiesfewmonthsafterdonation.Themostnegativeaspectof donationwaspostoperativepain.