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Incorporação das ciências sociais na produção de conhecimentos sobre trabalho e saúde.

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Academic year: 2017

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Incorporação das ciências sociais na produção

de conhecimentos sobre trabalho e saúde

Incorporation of the social sciences in the

production of knowledge about work and health

1 Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz. Rua Leopoldo Bulhões 1480, Manguinhos, 21041-230, Rio de Janeiro RJ. minayogo@ensp.fiocruz.br Carlos Minayo-Gomez 1

Sonia Maria da Fonseca Thedim-Costa 1

Abstract This article presents a bibliograph-ical revision on the influence of the social sci-ences to overcom e the reducing conceptions of relationship work-health, in the last two decades. It is a type of diagnosis of the scien-tific production, in which outstanding aspects are: the contributions for the characterization of the worker’s health, as knowledge field and of intervention, and for the analysis of the pol-itics and of the practices of the public institu-tions; the com prehensive approaches and gen-der questions. It was conducted an assessm ent of indexed journals and m asters degree disser-tations and doctoral thesis. It was consulted: the bank of dissertations and thesis organized by the Coordination of Improvement of the High-er Education and for the Brazilian Institute of Information in Science and Technology; the Vir-tual Library in Health of the Regional Library of Medicine and Scientific Electronic site On-line Library. It was verified the predom inance of studies on specific them es and certain cate-gories of workers, in opposition to attem pts of totalizing approaches. In spite of the out-standing progresses in knowledge term s and of enlargem ent of study objects, significant lack of investigations exists on segments of the work-ing population that present larger social vul-nerability.

Key wo rds W orker’s health, Social sciences and worker’s health, Humanities and worker’s health

Resu m o Este artigo apresenta um a revisão bibliográfica sobre a influência das ciências so-ciais para a superação de concepções reducio-nistas de relação trabalho-saúde, nas duas úl-timas décadas. Trata-se de um tipo de diagnóstico da produção científica, no qual destacam -se: as contribuições para a caracterização da saúde do trabalhador, com o cam po de conhe-cim ento e de intervenção, e para a análise da política e das práticas das instituições públicas; as abordagens com preensivas e as questões de gênero. Efetuou-se um levantam ento de arti-gos de periódicos indexados e de dissertações e teses de pós-graduação. Foram consultados: o banco de dissertações e teses da Coordenação de Aperfeiçoam ento do Ensino Superior e do Instituto Brasileiro de Inform ação em Ciência e Tecnologia; a Biblioteca Virtual em Saúde da Biblioteca Regional de M edicina e o site do Scientific Electronic Library On-line. Consta-tou-se a predom inância de estudos sobre te-m áticas específicas e deterte-m inadas categorias de trabalhadores, em contraposição a tentati-vas de abordagens totalizadoras. Apesar dos notáveis avanços em term os de conhecim ento, existe carência significativa de investigações sobre segm entos da população trabalhadora que apresentam m aior vulnerabilidade social.

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Introdução

A incorporação das ciências sociais na produ -ção de con hecim en tos sobre a rela-ção traba-lho-saúde adquire um n ovo en foque, a partir dos anos 70 do século passado, em decorrência do entendimento do processo saúde-doença in-troduzido pela Medicina Social Latino-Ameri-cana. Sob o primado das teorias da determina-ção social, colocou-se em foco a relevância do trabalho na reprodução social das populações. No Brasil, dentro do processo da reforma sani-tária, a problemática da atenção à saúde dos tra-balhadores passou a fazer parte das atribuições próprias da saúde pública.

O salto qu alitativo, qu e perm itiu apreen -der a complexidade das questões relativas à saú-de dos trabalhadores, se saú-deu com a apropriação do conceito nucleador de processo de trabalho, extraído da econom ia política, na sua acepção marxista. Esse conceito passou a constituir re-ferência central e um sólido alicerce para o en-tendimento dos padrões de desgaste dos traba-lhadores no marco dinâmico do processo de va-lorização do capital (Laurell, 1985). A utilização do referido conceito em toda a sua extensão – que inclui contemplar a subjetividade dos ato-res envolvidos – configura o marco definidor do que denominamos Campo da Saúde do Traba-lhador (Lacaz, 1996; Mendes & Dias, 1991; Mi-nayo-Gomez & Thedim-Costa, 1997). A rigor, trata-se de um campo que não pode prescindir do potencial interpretativo das ciências sociais. É delas que se extrai um corpo de con ceitos e categorias centrais para uma abordagem inter-disciplinar da intercessão entre as relações so-ciais e técnicas que configuram os processos de trabalho com o con dicion an tes da saú de e da doença em coletivos de trabalhadores. Tais con-ceitos e categorias são decisivos para a interpre-tação da gênese dos agravos à saúde dos traba-lhadores e para a compreensão dos distintos ní-veis de determ in ação, im bricados n a relação trabalho-saúde.

Ao in trodu zir a con tribu ição das ciên cias sociais na com preensão da saúde do trabalha-dor, o campo da saúde coletiva estabeleceu uma ru ptu ra com as con cepções hegem ôn icas da m edicin a do trabalho e da saúde ocupacion al que, dentro de uma perspectiva positivista, for-mulam articulações simplificadas entre causa e efeito, desconsiderando a dimensão social e his-tórica do trabalho e do processo saúde/doença. O novo m arco ultrapassa, tam bém , um a visão am bien tal restrita aos locais de trabalho qu e,

sob um a com preensão unicausal, vincula um a doença a um agente. Ou, mesmo indo além des-sa concepção, avança para um enfoque m ulti-causal, mas continua a interpretar a doença co-mo resultante de um grupo de fatores de risco, em que a dimensão social é entendida como va-riável socioeconôm ica individual, ou seja, co-mo um mero componente a mais entre esses fa-tores.

Neste artigo, propomo-nos a apresentar um panorama da apropriação do referencial das ci-ências sociais e hum anas, na produção cientí-fica de autores latino-americanos no campo da saúde dos trabalhadores, observando, sobretu -do, os avanços conseguidos nesse processo.

Material e métodos

A coleta de dados bibliográficos teve como fon-te principal de referência artigos de periódicos indexados, teses de doutorado e dissertações de m estrado, produzidos n as duas últim as déca-das, com particular ên fase n as publicações da área de saúde coletiva. Consultamos as seguin -tes fon-tes: o Banco de Dissertações e Teses or-ganizado pela Coordenação de Aperfeiçoamen-to do Ensino Superior – Capes e pelo InstituAperfeiçoamen-to Brasileiro de Inform ação em Ciência e Tecno-logia – IBICT; a Biblioteca Virtual em Saúde da Biblioteca Regional de Medicina – Birem e e o sitedo Scien tific Electron ic Library On -lin e – SCIELO, organizado pela Fundação de Ampa-ro à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp. Tentamos ainda localizar diretamente a produ-ção científica dos programas de pós-graduaprodu-ção stricto sensuem saúde coletiva, m as seus acer-vos, n a gran de m aioria, n ão se en con travam disponibilizados por meio eletrônico.

A produção acessível n os diversos ban cos corresponde a diferentes períodos nesse inter-valo de duas décadas, o que n ão perm ite um a visão de continuidade. A maior dificuldade en-contrada, no entanto, se refere à falta de clareza e à pouca capacidade informativa dos resumos disponíveis nas fontes de dados. É im portante ressaltar que, sobretudo, no caso das teses e dis-sertações, grande parte dos resum os apresenta absoluta falta de rigor, de seqüência lógica e de precisão na linguagem. Seus conteúdos oscilam entre estender-se nos pressupostos ou na meto-dologia e deter-se na descrição dos resultados, tecendo apenas considerações de caráter geral.

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vislum bram os a possibilidade de obter m ate-rial suficiente para estabelecer um a espécie de “estado da arte” da in corporação das ciên cias sociais n o cam po da saúde do trabalhador n a América Latina. No entanto, frente à pouca dis-ponibilidade, nas bases de dados consultadas, de trabalhos dos estudiosos latino-americanos, a maior parte do material analisado provém de pesquisadores e pós-graduados brasileiros, em um un iverso bastan te restrito. Para aten der a nossa expectativa inicial, teria sido necessário um investimento, para o qual não tivemos tem -po e nem recurso, de busca ativa nos próprios locais de produção das publicações de professo-res e alun os dos program as de pós-graduação de outros países latino-americanos, com área de con cen tração em saúde e trabalho. Sen tim os, por exemplo, não poder contemplar, à altura, a produção existente na Universidade Autônoma Metropolitana – Xochomilco do México, insti-tuição pioneira nessa área, a não ser a que esta-va disponível nas bases de dados acima citadas.

Apesar de todas as limitações, a análise apre-sentada a seguir tem como fonte de dados, nada desprezível, um total de 404 estudos, dos quais, após uma leitura mais cuidadosa, selecionamos 102. En tre esses, n os detivem os n aqueles que focalizavam tem as específicos das ciências so-ciais e hum an as ou in corporavam categorias, conceitos e noções próprios da área. A escolha pautou-se ain da n a priorização dos trabalhos com texto completo ou daqueles cujos resumos forneciam elementos satisfatórios para a com -preensão da temática abordada. Em sua imensa maioria, tais estudos são resultados de pesqui-sas de cunho eminentemente qualitativo.

A abordagem do material constituiu-se, pri-m eirapri-m en te, n upri-m tipo de diagn óstico que le-vasse em conta a natureza dos estudos; os enfo-ques presentes na formulação e no tratamento dos problemas; as temáticas predominantes; os novos objetos e as tendências teóricas de abor-dagem . Frente ao conjunto de conteúdos e tem as aportados n o tem aterial etem an álise e pon -deradas as várias possibilidades de articulação, optamos por concentrá-los em grupos temáti-cos capazes de configurar um quadro inicial a ser am pliado. Sob essa lógica, adotam os a se-guinte caracterização: reflexões sobre a constru-ção e características do campo de conhecimen-to da saúde do trabalhador; política de saúde do trabalhador e práticas institucionalizadas; abor-dagens compreensivas; questões de gênero e te-máticas decorrentes da precarização do merca-do de trabalho.

Análise da produção distribuída por temáticas e enfoques

Construção e características do campo de conhecimento da saúde do trabalhador

Trata-se de um conjunto de estudos que ca-racterizam o contexto latino-americano que pro-piciou a emergência da área de saúde do traba-lhador, com o cam po de conhecim ento. Abor-dam o distan ciam en to de con cepções cau sais simplificadas – na prática ainda hegemônicas – no entendimento do processo saúde-doença em coletivos de trabalhadores. Os autores fun da-mentam suas análises nos pressupostos das re-lações complexas entre os processos históricos, os processos de trabalho, o protagonism o dos trabalhadores e as repercussões dessas dinâmi-cas em sua saúde.

O estudo m ais com pleto sobre a trajetória do movimento que, no Brasil, contribuiu para a construção do conjunto de saberes e práticas da saú de do trabalhador foi realizado por Lacaz (1996). O autor parte de uma análise crítica das concepções – particularm ente as de cunho hi-gienista – e dos rum os seguidos nas form as de compreender os ambientes de trabalho e neles intervir, que precederam as visões sustentadas nos referenciais teóricos oriundos da medicina social latino-americana. Utilizando-se do mo-delo criado por Foucault para recuperar a his-tória arqueológica das organizações e das idéias, interpreta as práticas discursivas sobre a relação trabalho-saú de n a produ ção acadêm ica, n os serviços e no movimento sindical. Avalia, entre outros aspectos, as repercussões que esse novo campo de conhecimento trouxe para o ensino e a pesquisa da saúde pública e da medicina pre-ventiva e social.

Antecedendo a Lacaz, Mendes e Dias (1991), efetuam uma revisão sintética da evolução dos con ceitos e práticas que regem a m edicin a do trabalho, posteriormente ampliados com a com-preensão introduzida pela saúde ocupacional, e cujas limitações a visão da saúde do trabalhador busca ultrapassar. Os autores, além de interpre-tarem as razões dessa evolução, descrevem o con-texto em que a área de saúde do trabalhador sur-ge, no Brasil, no espaço da saúde pública, e suas principais características. Destacam, entre ou -tros aspectos, o empenho em contemplar os va-lores culturais dos trabalhadores concomitante-mente com o estudo dos processos de trabalho.

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prem issa que os processos produtivos con sti-tuem determinantes do conjunto de riscos e exi-gências a que estão submetidos os trabalhado-res, analisam as repercussões na sua reprodução física e social, decorrentes da expansão e esgo-tamento de um modelo de acumulação vincu-lado à política neoliberal. Segundo os autores – que focalizam a sociedade mexicana, cientes das peculiaridades das diferentes formações sociais –, as profundas transformações derivadas desse modelo produzem impactos decisivos no terre-no político, ideológico, sindical, cultural e, até, científico. Em sintonia com outros estudos anteriores, Cuellar (1995), Noriega (1995) e Sán -chez & Yanes (1995) ressaltam que as transfor-mações provocadas pela gestão flexível da força de trabalho exigem incorporar, na investigação, novas dim ensões para análise. Cham am aten -ção para a necessidade de contemplar, no esta-belecimento de relações gerais entre processos produtivos e saúde, entre outros fenômenos: a deterioração e a agudização da heterogeneida-de do m ercado heterogeneida-de trabalho; o crescim en to heterogeneida-de formas de subcontratação, do subemprego e do desem prego aberto; a queda da capacidade de n egociação das en tidades represen tativas dos trabalhadores e a elevação do n úm ero de tra-balhadores desprotegidos socialm ente. Consi-deram que a precarização do trabalho, em suas diversas faces, ten de a con verter-se em traço estru tu ral da econ om ia e vem agravar velhos problem as de saúde e segurança, representan -do a seqüela m ais m arcante dessas m udanças. Concluem que, em decorrência desses fenôme-nos, cabe entender, tanto o elevado incremento de determ in adas m an ifestações patológicas – transtornos psíquicos e psicossom áticos – re-lacionadas com o stresse a fadiga, com o o au -mento significativo da morbi-mortalidade deri-vada da violência. Advertem que tais efeitos são cada vez m ais com un s e m en os diferen ciáveis entre os setores industriais e os de serviços.

Finalm ente, incluím os o estudo de Freitas (1996) que, a partir da tem ática específica dos acidentes químicos ampliados, explicita, como metodologia de investigação, a contribuição das ciências sociais para o desenvolvimento de aná-lises de risco mais abrangentes. Estabelece o ne-cessário diálogo entre as diversas abordagens das ciências sociais e as disciplinas das áreas tecno-lógicas e biomédicas, além de incorporar a par-ticipação tanto dos trabalhadores como das co-munidades, por vivenciarem, no seu dia-a-dia, os riscos desses acidentes.

Política de saúde do trabalhador e práticas institucionalizadas

Referim o-n os aqui a algun s estu dos que abordam questões relativas à com preensão do papel do Estado e das organizações da socieda-de civil na formulação e implementação socieda-de po-líticas dirigidas ao controle e melhoria do quadro de saúde da população trabalhadora. In -cluím os tam bém publicações que an alisam as práticas implantadas em programas, centros de referência e órgãos de vigilância, sob a concep-ção de saúde do trabalhador, como movimento e prática social que engloba uma multiplicida-de multiplicida-de sujeitos e espaços institucionais. Em seu conjunto, relacionam as possibilidades de êxi-to dessas ações à incorporação dos trabalhado-res como sujeitos no espaço público, co-parti-cipan tes legítim os n as decisões relativas a seu trabalho e a sua saúde, e atores fun dam en tais no exercício do controle social das medidas que lhes são destinadas.

Partem de uma revisão crítica da política de saúde ocupacional vigente e propõem estraté-gias para a con strução de um a política n acio-nal de saúde do trabalhador cuja centralidade caberia ao setor saúde, com base nas premissas do movimento de Reforma Sanitária e na bagagem de conhecim entos e inform ações acum u -ladas em organismos internacionais e no movi-mento sindical (Mendes, 1986).

Lacaz (1997) contextualiza a proposta pro-gram ática da saúde do trabalhador no Brasil e descreve suas características com o política so-cial, a partir dos anos 80, identificando impasses para sua im plem entação. Aponta, tam bém , os desafios institucionais e sociais para superar a crise da proposta no interior do setor saúde, que tem sua origem , com o frisam Oliveira & Vas-concellos (2000), na form a m arginal de trata-mento dispensada à política nacional de saúde do trabalhador no âmbito da política nacional de saúde. Em conseqüência, dizem os autores, perpetu a-se a histórica fragm en tação de res-ponsabilidades entre instituições e órgãos com atribuições de intervenção na área, embora al-gumas iniciativas de integração interinstitucio-nal tenham surgido, como a criação da Comis-são In tersetorial de Saúde do Trabalhador do Conselho Nacional de Saúde e as recom enda-ções contidas na Norma Operacional Básica do SUS, para uma articulação intersetorial que tor-ne mais eficiente a execução das ações na área.

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estu-dos. Pereira (2001) interpreta a fragilidade da política de saúde do trabalhador no Ceará fren-te às transformações políticas, sociais e econô-micas ocorridas nos últimos anos nesse Estado. Atribui tal fragilidade – refletida na dispersão e descontinuidade das ações – à m orosidade do poder público e à própria desarticulação do mo-vimento sindical.

No caso da Paraíba, essa situação se rever-te quando, a partir da iniciativa da universida-de, se desencadeia um movimento pela constru-ção de uma política de saúde do trabalhador no âm bito estadual, que conseguiu aglutinar for-ças sociais e instâncias públicas im plicadas na questão (Silva, 1998). Como o autor refere, o en-volvimento dos diversos atores, embora de for-m a heterogên ea, foi decisivo para con seguir avanços significativos na implantação de ações nesse campo. Sob a mesma perspectiva, Carva-lho (1997) destaca a criação e o desenvolvimen-to do serviço de referência em saúde do traba-lhador do Sistem a Ún ico de Saúde – SUS, n a Bahia, fru to do em pen ho de gestores in stitu -cionais e dirigentes sindicais. Com alto grau de legitimação entre os trabalhadores, esse serviço conquistou reconhecimento nacional devido à notória competência na implementação de suas atribuições.

No que diz respeito à questão específica da vigilância em saúde do trabalhador, constata-mos uma expressiva contribuição, tanto no pla-no conceitual como na análise de experiências desenvolvidas no país. Para Machado (1996), a vigilância em saúde do trabalhador, no âmbito da saúde pública, é concebida como campo de prática articu ladora de ações voltadas para o controle de atividades, riscos e agravos, tendo por referência, a relação entre processo de tra-balho e saúde. Engloba diversos níveis de inter-venção – em presa, ram o de atividade, territó-rio – bem como diferentes órgãos do poder pú-blico e instituições da sociedade civil. Com base em algum as experiências nacionais que alcan -çaram m aior repercussão, o autor descreve as influências e características dessas práticas de vigilância, fundadas na intercessão de aborda-gens sociais, tecnológicas e epidemiológicas.

Nessa mesma linha, Pinheiro (1996) analisa o processo histórico que conduziu à em ergên -cia da vigilân -cia em saú de do trabalhador n o SUS, assinalando os principais marcos teóricos e as experiências nacionais e internacionais que in spiraram ou con tribuíram para sua form u -lação. Ressalta a natureza anti-hegemônica e os lim ites dessa prática no Brasil, pelos conflitos

que provoca, ao fundam entar-se na participa-ção dos trabalhadores como sujeitos e protago-nistas das estratégias de melhoria e transform a-ção dos processos de trabalho. A im portân cia dessa participação é evidenciada em estudos que revelam avanços pontuais em estados, como Es-pírito Santo, onde se conseguiu estabelecer uma articulação entre o movimento sindical e deter-minadas instâncias públicas (Santos, 2001).

Oliveira (1994) já havia efetuado uma análise crítica e propositiva do modelo de interven -ção do Estado brasileiro na inspe-ção dos ambi-entes de trabalho. Tendo por referência tal prá-tica n o Rio de Jan eiro, discute algum as alter-n ativas visaalter-ndo toralter-nar a ialter-nspeção do trabalho mais eficiente e consoante com as necessidades contem porâneas. Para tanto, aponta que seria preciso enfrentar, entre outras limitações, a bai-xa capacidade em atender às demandas, as defi-ciências de recursos materiais e humanos, a au-sência de hom ogeneidade de critérios e m éto-dos, a escassa participação dos trabalhadores nos processos de inspeção e a disputa contem -porânea entre os setores da saúde e do trabalho quanto às atribuições e ao poder de intervir nos ambientes laborais.

Ao qu estion ar o pen sam en to dom in an te que submete os problemas contemporâneos da população trabalhadora a m itos tecn ológicos e econômicos, Lieber (1991) introduz uma di-m ensão crucial na avaliação dos adi-m bientes de trabalho. Em lugar de cingir-se a efetuar medi-ções instrumentais precisas, seria mais correto – segundo o autor – contemplar, numa perspec-tiva mais ampla, a promoção da dignidade hu-mana.

Abordagens compreensivas

Estas abordagens se distanciam de um a vsão m arxista m eram en te estru tu ral, m ecan i-cista, em que os trabalhadores são concebidos apenas como força de trabalho, capital variável, agen te econ ôm ico e coletivo subordin ado ao capital, obscurecendo a influência das m ediações culturais e existenciais. Propõemse a com -preen der a práxis social dos trabalhadores, o sentido que conferem ao cotidiano do trabalho, suas form as de ser, sentir, perceber e agir. Fo-calizam o trabalhador como sujeito – com sua singularidade, com sua história – que, ao inte-ragir com as condições objetivas, elabora cate-gorias próprias de pensamento e ação.

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pensar as dim ensões sim bólicas, econôm icas e políticas presentes nas relações entre processo de trabalho e saúde. Confronta as diversas ma-trizes in terpretativas, com o in tuito de subli-nhar a “centralidade dos sujeitos e da subjetivi-dade operária”, preocupação explicitada ou sub-jacente ao longo de sua tese. Insere a tem ática da saúde dos trabalhadores no interior das lu -tas travadas entre “a voz do dono” e o “dono da voz” (os detentores do capital e os produtores diretos) pelo con trole e dom ín io do processo produtivo. Tendo o chão da fábrica como lugar crucial da experiência operária, o autor revela – com base em narrativas individuais, das quais extrai u m a história coletiva, u m sign ificado com partilhado – as form as de resistência e de enfrentamento dos riscos, bem como dos agra-vos deles decorrentes. Esse estudo, ao desvelar o universo da experiência operária, oferece um a excelente contribuição à trajetória da saúde co-letiva e do movimento sindical, particularmen-te – como o autor afirma – quando preparticularmen-tende as-sumir sua função de “intelectual orgânico” e in-terlocutor legítimo das “diversas vontades” pre-sentes no cotidiano fabril.

É numa perspectiva similar que Sato (1997), em estudo etnográfico, analisa os processos in-terativos cotidianos de barganha que conduzem ao replanejam ento do trabalho, no âm bito do chão da fábrica, com o estratégia para preven -ção dos problem as de saúde. Dos dois estudos emergem fragmentos de uma questão apontada por Lacaz (2000): a qualidade de vida como as-piração hum an a que n ão pode ser barrada n o portão das fábricas. Efetivá-la supõe, para o au-tor, garantir canais efetivos de negociação, por meio dos quais a problemática da produtivida-de e da qualidaprodutivida-de do produto seja subordinada à defesa da vida e da saúde.

Numerosos estudos inspiram-se nos postu-lados da Psicologia do Trabalho e, mais recente-mente, da Psicodinâmica do Trabalho (Dejours & Abdoucheli, 1994), em que a escuta do traba-lhador – a mediação da linguagem – é conside-rada essencial para apreender o significado que dá a suas vivências. Tais análises se propõem a compreender a dinâmica dos processos mobili-zados pela confrontação do sujeito com a reali-dade do trabalho. Focalizam os conflitos surgi-dos do encontro entre um sujeito portador de história singular – que precede esse encontro – e su a situ ação de trabalho fixada, em gran de parte, in depen den tem en te de sua von tade. A questão do sofrim en to, con cebido com o a vi-vência subjetiva intermediária entre o conforto

ou bem-estar psíquico e a doença mental, per-meia a maioria desses estudos. Tal compreensão do sofrim en to im plica u m estado de lu ta do sujeito contra a organização do trabalho, cujas forças o impelem em direção à doença mental. Nesse sen tido, as in vestigações referidas a se-gu ir cen tram -se em determ in adas dim en sões da organização do trabalho nas ocupações es-tudadas.

Foram desen volvidas diversas pesqu isas sobre profission ais de saúde, em con tin uida-de ao trabalho pion eiro de Pitta (1989) sobre determinantes psicossociais dos agravos à saú -de m ental dos trabalhadores -desse setor. Silva (1994) estuda a organização do trabalho em enfermarias clínicas de um hospital público, ten -tan do descobrir os fluxos de in ven tividade e prazer que o trabalho produz. Constata, no en -tanto, que a intensa fragmentação das tarefas e as escassas oportunidades de participação, alia-das a con flitos corporativos e de iden tidade, tornam fugazes as possibilidades de expansão da vida e de redução do sofrimento.

São vários os trabalhos qu e focalizam os problemas de saúde dos trabalhadores da infor-mática. Rocha (1996) estuda, especificamente, as contingências do trabalho de analistas de sis-temas. Analisa as manifestações de sofrimento, com repercussões na vida pessoal e fam iliar. E aponta suportes, no ambiente profissional e no âm bito fam iliar, capazes de m inorar os efeitos adversos da situação laboral. Em outro estudo sobre essa categoria profissional, Uchida (1996) investiga o im pacto da inform atização sobre a subjetividade, ressaltan do a relação de am bi-güidade que os an alistas de sistem a estabele-cem com o computador. O desejo e o prazer de resolver enigmas confronta-se com o temor de viver “uma temporalidade destrutiva”, gerando estratégias defensivas centradas no estabeleci-m ento de liestabeleci-m ites no envolviestabeleci-m ento coestabeleci-m o tra-balho. A relação entre prazer e sofrim ento vi-venciada por operadores de sistemas de compu-tação é tam bém estudada por Ribeiro (1992), levando-o a concluir que a organização do tra-balho é m uito m ais n ociva ao trabalhador do que as peculiaridades impostas pelas novas tec-nologias.

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Oliveira (1998) interpreta, numa perspecti-va fenomenológica, o sentido que a leucopenia adquire, com o doen ça do trabalho. Apon ta a insuficiência da narrativa da “condição leuco-pênica” construída pelos trabalhadores pela in-junção da “experiência da enfermidade” com as narrativas produzidas pelo conhecim ento m édico e as em anadas de diversas fontes: instân cias públicas, em presas, sin dicatos, en tre ou -tras. Apresenta a necessidade de recorrer a ou-tra abordagem, a narrativa do campo da Saúde do Trabalhador, em que ao modelo biomédico de entendim ento do fenôm eno da leucopenia associa-se o potencial explicativo das ciências sociais.

Verthein (2001) m ostra, em estudo sobre portadores de lesões por esforços repetitivos – LER, determinados componentes que confluem n a cultura da doen ça e abalam os alicerces da identidade desses trabalhadores. Destaca o so-frim en to provocado pela falta de recon heci-mento social e institucional das peculiaridades dessa enfermidade, o que – como ressalta Mu-rofose (2000) – agrava as lesões e am plia as li-m itações ili-m postas na vida cotidiana e laboral. À dor crônica alia-se a causada pelo descrédito, pela discrim in ação e, até m esm o, pelo trata-mento recebido dos peritos do Instituto Nacio-nal de Seguro Social que culpam o próprio tra-balhador pelo seu problema (Aguiar 1998). Na descaracterização do nexo das LER com as exi-gências do trabalho, esse Instituto recorre, co-mo estratégia de redução de despesas, a discur-sos próprios da neuropsiquiatrização e da pre-disposição às doen ças osteom u scu lares (Ver-thein & Minayo-Gomez, 2001).

Diversas experiências de equipes m ultidis-ciplinares, como a analisada por Merlo, Jacques & Hoefel (2001), vêm contribuindo para dimi-nuir o sofrimento desses trabalhadores e fomentar sua independência e autonomia. Represen -tam soluções emergenciais, até o momento em que conquistas já obtidas pelos que realizam as funções m ais repetitivas e m onótonas (pausas regulares, lim itação nas cadências, redução da jornada de trabalho) se estendam efetivamente a todos os trabalhadores (Merlo, 1990).

Na in vestigação de Thedim -Costa (1995), encontramos uma análise do confronto dos tra-balhadores com o hidrargirism o, um a doença silenciosa e silenciada, durante mais de quatro décadas, num a em presa subm etida, à época, a um conflituoso processo de vigilância. A autora reconstitui a gênese e os mecanismos de manu-ten ção desse silên cio coletivo e de im un idade

ao controle público que permitiram, por tanto tempo, encobrir uma situação de extrema gra-vidade e abortar as tentativas de m obilização. Mostra, n esse un iverso hostil dom in ado pelo m edo e pelos m ais variados subterfúgios utili-zados pela em presa, a dialética presente na re-cusa ou resistência dos trabalhadores a aceitar o diagnóstico contundente da doença. Prem i-dos pela necessidade de manterem um trabalho que contraditoriamente lhes subtrai a saúde, os trabalhadores alternam atitudes isoladas de re-sistên cia e de con ivên cia com os m ecan ism os instaurados para imobilizá-los diante da adver-sidade. As repercussões individuais, fam iliares e sociais compõem o quadro que a autora qua-lifica com o a contam inação que se estende da fábrica à vida.

O caso particular das seqüelas decorrentes da violência inerente ao exercício de determ i-n adas ocupações é ai-n alisado por Vascoi-n celos (2000), em estudo sobre agentes de segurança penitenciária. Retrata um cotidiano, repetida-mente conflitante com o trabalho prescrito, que oscila en tre o recurso a práticas repressivas e acordos com o coletivo dos presos. A violência que permeia tal atividade, segundo a autora, pe-netra a vida desses trabalhadores. Insegurança, angústia e m edo invadem a casa e o m undo, o dentro e o fora, o antes e o depois do trabalho.

Um a parte con siderável dos estudos dessa natureza é suscetível de crítica, por adotar uma vertente fenomenológica que, na explicação dos fenômenos sociais, leva em conta apenas os sig-nificados construídos a partir das intenções dos sujeitos. Entretanto, não deixam de contribuir significativamente na compreensão dos proces-sos, das relações e das situações em análise, sob a ótica dos próprios sujeitos.

Questões de gênero

Nos últim os anos, a perspectiva de gênero vem se consolidando nas investigações da área de saúde do trabalhador com vistas a prom o-ver o reconhecimento social e a visibilidade dos trabalhos executados pelas m ulheres. A partir do pressu posto de qu e os papéis atribu ídos a homens e mulheres são construções sociais que n ão se restrin gem às diferen ças de sexo, essas investigações explicitam a necessidade de trans-form ação das relações entre am bos, no traba-lho e na sociedade.

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n as pesqu isas sociológicas qu e visam rom per com idéias preconcebidas e naturalizadas a res-peito da situação da m ulher. Tem com o eixo principal evidenciar as características e exigên-cias do trabalho fem in in o e su as im plicações para a saúde, como fatos coletivos e sociais que ultrapassam a percepção dual e estereotipada de oposição m asculino/fem inino, na qual a dife-rença não justifica a desigualdade, nem a igual-dade nega as diferenças. A autora revela que nos espaços de trabalho existem também condições diferenciadas e assim étricas que subm etem as m ulheres a exposições e adoecim entos específicos. Dar visibilidade a esses problemas e com -preender o processo saúde-doença consideran-do a dim en são de gên ero – com o a au tora se propôs na pesquisa sobre experiências coletivas objetivas e subjetivas de operárias da indústria química – significa questionar os lugares desti-nados às m ulheres, as desigualdades artificial-mente atribuídas à condição feminina. E que se refletem na tensão para conciliar trabalho, fun-ções dom ésticas, m aternais e reprodutivas; na subtração do tempo indispensável à manuten -ção da saúde física, emocional e psíquica; na ex-posição a diversas form as de violência, incluí-das as de expressão simbólica.

Neves (1999) acentua a “centralidade da di-visão sexual do trabalho”, ao an alisar a saú de mental de professoras primárias, suas vivências de prazer e sofrimento e as formas como cons-troem e desconscons-troem o sentido de um traba-lho desenvolvido em condições adversas. Ob-serva que a “feminização” desse nível de magis-tério vem con dicion ada pela com bin ação das relações sociais de gênero e das necessidades de sobrevivência fam iliar. Elucida algum as ques-tões relativas à precarização e degradação do trabalho docente e suas implicações na identi-dade e n a saúde dos profission ais en volvidos nessa atividade. Aponta um conjunto de fato-res, referentes tanto à organização do trabalho como às condições materiais nas quais se reali-za, qu e geram u m a sen sação gen eralizada de m al-estar próxim a da síndrom e patológica de burn-out. Destaca, particularmente, a desquali-ficação e a ausência de reconhecimento social, detectadas também em outros estudos sobre es-sa categoria profissional. Encontra movimentos de resistência contra a insatisfação, bem como dimensões de prazer, sobretudo na relação afe-tiva com os alunos e ao perceberem os resulta-dos de suas atividades, o que foi observado por Nunes (2000) em investigação sobre o trabalho das merendeiras em escolas da rede pública.

A problem ática da condição social fem ini-n a associada ao exercício profissioini-n al e seu s reflexos na saúde de m ulheres-trabalhadoras-en ferm eiras é ulheres-trabalhadoras-en fatizada por Pedrosa (1999). Sua pesquisa integra o amplo leque de questões abordadas em elevado núm ero de estudos so-bre essa categoria profissional. Desde o de Dou-glas (1992), que question a a prática da en fer-magem na América Latina inspirada no mode-lo da medicina do trabalho, e defende a neces-sidade de adequá-la aos princípios da Medici-na Social Latino-AmericaMedici-na, aos que aMedici-nalisam as representações sociais sobre o trabalho exer-cido em diversas in stituições e especialidades (Oliveira, 1996; Matos Filho, 1997).

As repercussões na saúde das mulheres de-correntes da interseção entre a esfera produtiva e a dom éstica tam bém são apontadas por Ro-cha e Derbert-Ribeiro (2001). Em pesquisa so-bre analistas de sistemas, ao estabelecer compa-rações entre hom ens e m ulheres, dem onstram a influência das dimensões de gênero – expres-sas na distribuição desigual de funções, tarefas e responsabilidades – no m aior desgaste físico e psíquico. O caso específico do trabalho em ho-rários não usuais (noturno) é elucidativo dessas diferenças, quando se evidencia que seus efeitos m ais prejudiciais ocorrem em m ulheres, espe-cialmente nas que têm filhos (Rotenberg et al., 2001). Situ ação an áloga é observada n o setor agrário por Brochado (1998), ao analisar a pro-blemática particular de saúde da mulher bóia-fria, cortadora de cana, sobretudo no que se re-fere às form as de exploração do trabalho e de reprodução de sua condição feminina.

Temáticas decorrentes da precarização do mercado de trabalho

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tra-balho in fan til é paradigm ática, in cluem -se as situações que remetem à exclusão social signi-ficativos contingentes das classes populares, so-bretudo da juven tude, e à expan são de m an i-festações diversas de violência, na contra-m ão do direito à vida.

Araújo (2001) avalia a terceirização implan-tada num a grande refinaria e identifica a “fra-tura social” gerada no seu interior, ao confron-tar as condições de vida e trabalho de contratados diretos e indiretos. Tais diferenças esten demse, até mesmo, ao modo de gerenciamen -to dos sistem as de seguran ça. Con seguir um a mobilização que integre o conjunto dos traba-lhadores, a despeito do tipo de vínculo, para se opor a esse padrão de terceirização representa – na opinião do autor – um grande desafio para o m ovim ento sindical, com escassas possibili-dades de sucesso no curto prazo.

O desem prego de lon ga duração, em seus reflexos na sociabilidade e na saúde, é objeto de estudo de Selligmann-Silva (2001). Sua investi-gação corrobora as interpretações encontradas em estudos internacionais, citados pela autora, sobre as repercussões psicossociais e psicopato-lógicas da subtração do emprego. Tais impactos correspon dem a processos de degradação da saúde mental que podem começar em situações desfavoráveis de trabalho e ter continuidade ao longo do período de inatividade forçada. Nessa trajetória, a autora identifica várias fases – re-traim en to, afastam en to e isolam en to social – que afetam, de forma concomitante, a vida ma-terial, a sociabilidade e a subjetividade. Mostra que essa din âm ica, dom in ada pelo desân im o, pode levar a estados graves de depressão. Os múltiplos e complexos mecanismos de exclusão social, acionados pelo prolongado afastamento das atividades laborais, segundo a autora, exigi-riam a implantação de programas intersetoriais execu tados por u m a rede articu lada de agên -cias. A seu ver, as ações terapêuticas dos servi-ços de atenção à saúde dos trabalhadores deve-riam ser conectadas às de apoio social e forma-ção, com o propósito de propiciar a reinserção laboral e com un itária. A prem ên cia de in cor-porar essa questão na agenda dos programas de saúde do trabalhador tam bém é apontada por Sant´Anna (2000), ao analisar a diversidade de estratégias organizativas e de geração de renda encontradas por trabalhadores desempregados num município que passou por diversas ondas de demissão em massa.

O dilem a enfrentado pelos jovens dos seg-m en tos de seg-m aior vuln erabilidade social –

ur-dido na fragilidade das políticas públicas vol-tadas para a juventude – entre aceitar um tra-balho precário ou inserir-se em atividades ile-gais, particularmente no narcotráfico, foi inves-tigado por Meirelles (1998). A autora identifica uma elevada concentração de adolescentes que acabam optando pela segunda alternativa, em graus diversos de envolvimento. Ressalta a pre-dom inância de um a visão hedonista e im edia-tista, engendrada num presente totalizante, que ofusca a idéia de projeto de futuro e tem, como desfecho, a morte prematura.

Diversas iniciativas endereçadas a esses jo-vens, desenvolvidas por organizações não-go-vernam entais, ONGs, vêm abrindo um espaço para a ruptura desse dilema aprisionador. Um cam po produ tor de n ovas su bjetividades, n o embate contra as teias do conformismo ao meio social. Pesquisas de Lima (2002) e Costa (2001) revelam a im portância de alguns desses proje-tos, considerados verdadeiros laboratórios so-ciais, que fomentam novas formas de sociabili-dade, além da perspectiva profission alizan te. Tais in vestigações n ão se detêm apen as n a re-flexão sobre situações-problema. Propõem-se a dar visibilidade a experiências de sucesso que, por m eio de parcerias com o Estado, podem subsidiar políticas de atenção a essa juventude.

A gravidade da incorporação precoce de cri-an ças e adolescen tes n o m ercado de trabalho, perante a qual, como argumentam Minayo-Go-m ez &aMinayo-Go-mp; Meirelles (1997), não se sustenta qual-quer justificativa social, é ilustrada em dois es-tudos. Dias et al. (2002) mostram as condições degradantes presentes na produção artesanal de carvão vegetal, em que esse segmento da popu-lação é, ainda hoje, forçado a inserir-se. Situa-ção semelhante é apresentada por Abreu (2001) em relação a adolescentes que, na condição de “empregados irregulares, com ínfimas remune-rações, realizam “atividades informais para ter-ceiros” na lavoura da cana-de-açúcar. Jornadas exaustivas de trabalho, em condições aviltantes, concorrem para a conform ação de um a “vitri-ne de riscos e acidentes”.

Considerações finais

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selecionar e tentar aproveitar os conteúdos das publicações a que tivemos acesso, consideradas as limitações já referidas.

Com o evidencia este trabalho, o cam po de con hecim en to den om in ado “saú de do traba-lhador”, da m esm a form a que outros da saúde coletiva, requer a mediação explícita ou implí-cita do corpo con ceitual das ciên cias sociais e humanas. Tal aporte retira o caráter eminente-mente higienista conferido à relação trabalho-saúde, a partir do momento em que o trabalho, concebido como uma categoria social, é resul-tante de um emaranhado de relações econômi-cas, sociais, políticas e tecnológicas que se rea-lizam de forma conflituosa e interdependente.

A m udança e am pliação dos objetos de es-tudo que se incluem no campo são notórias na década de 1990, principalmente a partir da sua segunda m etade, com a introdução do instru -mental das ciências sociais. Entre outras razões, podem ser atribuídas ao fato de que, nesse pe-ríodo, começam a tornar-se visíveis os resulta-dos da incorporação dessa abordagem na área de concentração de alguns program as de pós-graduação ou, individualm ente, por pesquisa-dores de outros program as ou áreas. Além das temáticas relativas à política e serviços de aten-ção à saúde dos trabalhadores, intensificaram-se as pesquisas qualitativas e com eçaram a intensificaram-ser con tem pladas categorias de trabalhadores até então não estudadas. As pesquisas relativas ao setor de serviços – que enfatizam, na análise dos processos de trabalho, as questões derivadas da organ ização do trabalho – adqu irem im por-tância significativa em com paração às que, de cunho eminentemente epidemiológico, vinham sendo efetuadas sobre trabalhadores industri-ais, focalizan do sobretudo os riscos e agravos decorrentes dos ambientes de trabalho.

A tôn ica predom in an te n as in vestigações, quer n a defin ição dos objetos de estudo e n a m etodologia adotada, qu er n a in terpretação dos resultados, é contribuir para a mudança das situações en con tradas. O caráter propositivo dessas pesquisas contrasta, no entanto, com o escasso empenho em efetivar as transformações necessárias, num descompasso entre avanço do conhecim ento e perpetuação das práticas ins-tauradas.

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Artigo apresentado em 21/11/2002 Aprovado em 6/1/2003

Referências

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