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Estudo da regeneração de lesões no sistema nervoso central por terapia celular combinada à terapia gênica

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(1)

YVETTE MAY COULSON-THOMAS

Estudo da regeneração de lesões no sistema

nervoso central por terapia celular

combinada à terapia gênica

Tese preparada no Departamento de Bioquímica

durante o curso de Pós-Graduação em Biologia

Molecular e apresentada à Universidade Federal de São

Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do

título de Doutor em Ciências

Orientadora: Profa. Dra. Marimélia A. Porcionatto

(2)

YVETTE MAY COULSON-THOMAS

Estudo da regeneração de lesões no sistema nervoso

central por terapia celular combinada à

terapia gênica

Tese preparada no Departamento de Bioquímica durante

o curso de Pós-Graduação em Biologia Molecular e

apresentada à Universidade Federal de São Paulo –

Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de

Doutor em Ciências

Orientadora: Profa. Dra. Marimélia A. Porcionatto

(3)

Coulson-Thomas, Yvette May

Estudo da regeneração de lesões no sistema nervoso

central por terapia celular combinada à terapia gênica.

São Paulo, 2008.

211p

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo,

Escola Paulista de Medicina.

(4)

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Marimélia Porcionatto, pelos ensinamentos adquiridos, conduta científica exemplar e amizade.

À Profa. Dra. Helena Bonciani Nader e ao Prof. Dr. Carl Peter von Dietrich (“in memoriam”) pela oportunidade para a realização deste trabalho e exemplo de conduta profissional e dedicação à pesquisa.

À minha mãe, Margaret, pelo amor, amizade, dedicação e apoio na minha carreira profissional. Você é muito especial.

À minha irmã, Vivien, pelo amor, amizade e constante disposição em me ajudar. Você é muito querida.

Ao meu pai, Colin, pelo amor, confiança depositada em mim e interesse constante no meu trabalho.

Ao meu irmão, Trystan, por seu amor e amizade.

Aos meus tios, Christine e Valter, e meus primos, Heidi e Bill, pelo amor, carinho e apoio.

(“In memoriam”) Aos meus avós, Temple, Delcie, Coulson e Elsie, pelo carinho que tenho por eles.

(5)

Aos meus amigos Aline, Amanda, Carol Bessa, James, Juliana Dreyfuss, Rafael, Tarsis, Theo e Vinício pelo carinho e amizade.

A todos os amigos da Biologia Molecular, pelo convívio agradável: Ângela, Arnaldo, Bruno, Camila, Carol Córdula, Carol Bonaldi, Cilene, Clarice, Cris, Daniela, Duda, Eloah, Fábio, Gabriel, Giovani, Itatiana, Juliana Dominato, Keila, Nelson, Pamela, Renan, Ricardo, Rodrigo, Sarah, Tábata, Thais Jarrouge, Thais Peretti, Thérèse, Valquíria.

À Ana Paula, Azuléia, Carol Ariza, Carol Meloni, Carol Moreira, Daniela Suzuki, Flávia, Gui Mi Ko, Maria Emília, Michelle, Ritchelli, Thais Filippo, Valderez e Vladimir pelo companheirismo.

À Elsa e Isabel pela disposição em ajudar e dedicação ao trabalho.

Às secretárias, Patrícia, Juliana, Ana Maria, Sônia, Márcia e Bete, pelo convívio alegre e disposição a ajudar.

Ao Paulo Michelacci pela simpatia.

Aos funcionários Felipe e José Airton, pela dedicação ao trabalho.

À Dona Ju e à Dona Vera, pelo convívio alegre e por proporcionar as condições ideais para o nosso trabalho diário.

À Dona Hilda pela ajuda técnica e alegria.

À Caroline, Elizabeth e Fernanda pela ajuda técnica e convívio alegre.

Ao Prof. Dr. Edvaldo Trindade pelos ensinamentos.

(6)

Ao CNPq pela bolsa de estudos e pelos recursos oferecidos para elaboração deste trabalho de tese (inclusive os recursos financeiros do projeto de células tronco #552178/05-5, MCT/CNPq, DECIT/MS, Fundo Setorial de Biotecnologia/CT-BIOTECNOLOGIA).

(7)

Índice

Índice

1 Introdução... 1

1.1 Injúria ao sistema nervoso central... 1

1.2 Estrutura, classificação e localização dos glicosaminoglicanos e proteoglicanos... 5

1.2.1 Glicosaminoglicanos... 5

1.2.2 Estrutura e propriedades do glicosaminoglicano condroitim sulfato... 8

1.2.3 Estrutura, classificação e localização dos proteoglicanos... 10

1.3 Proteoglicanos de condroitim sulfato no sistema nervoso central... 14

1.4 Condroitinases... 18

1.5 Inibição da regeneração neuronal por proteoglicanos de condroitim sulfato.... 22

1.6 Outros componentes da matriz extracelular que podem participar na inibição da regeneração neuronal... 22

1.7 Regeneração do sistema nervoso central após terapia celular... 24

2 Objetivos... 27

3 Material e Métodos... 28

3.1 Reagentes... 28

3.2 Desenho dos primers para amplificação do gene que codifica para a condroitinase AC a partir do DNA genômico de Flavobacterium heparinum... 28

3.3 Reação em cadeia da DNA polimerase (PCR)... 29

3.4 Clonagem do produto de PCR no plasmídeo de expressão pcDNA3.1(+)... 30

3.5 Seqüenciamento do segmento de DNA que codifica para a condroitinase AC clonado no plasmídeo pcDNA3.1(+)... 30

(8)

Índice

3.7 Obtenção e cultivo de células mononucleadas derivadas da medula óssea de

camundongo adulto... 33

3.8 Cultivo de células ovarianas de hamster chinês... 34

3.9 Cultivo de células de gliosarcoma de rato... 34

3.10 Transfecção... 35

3.11 Análise da expressão da condroitinase AC... 36

3.12 Marcação metabólica de condroitim sulfato com [35S]-sulfato de sódio... 36

3.13 Obtenção do extrato celular e meio condicionado de células CHO e 9L, contendo glicosaminoglicanos metabolicamente marcados com [35S]-sulfato de sódio... 37

3.14 Análise da secreção e atividade enzimática da condroitinase AC... 37

3.15 Marcação de proteoglicanos e glicosaminoglicanos de células mononucleadas derivadas da medula óssea de camundongo adulto... 38

3.16 Degradação in vitro de glicosaminoglicanos de células mononucleadas derivadas da medula óssea adulta, utilizando as enzimas condroitinase AC, condroitinase ABC, heparitinase I e heparitinase II, ou extrato bruto... 38

3.17 Produção de lesões no SNC de camundongos C57Bl/6 e transplante de células mononucleadas derivadas da medula óssea de camundongo GFP+ adulto.. 39

3.18 Imunofluorescência... 41

3.19 Coloração por cresil violeta e hematoxilina/eosina... 42

3.20 Análise funcional (teste da marcha)... 43

4 Resultados... 45

4.1 Construção de um vetor para expressão eucariótica contendo o gene da condroitinase AC bacteriana... 45

(9)

Índice

eucarióticas... 54

4.4 Células eucarióticas transfectadas com o vetor contendo o gene para condroitinase AC secretam a enzima ativa in vitro... 56

4.5 Células mononucleadas derivadas da medula óssea adulta não sintetizam condroitim sulfato... 59

4.6 Clonagem do gene da condroitinase AC no vetor de expressão pEGFP-N1... 62

4.7 Secreção de condroitinase AC ativa em lesão no SNC murino... 66

4.8 Efeitos da secreção de condroitinase AC sobre a distribuição de glia reativa na região próxima à lesão... 70

4.9 Efeitos do transplante de células mononucleadas derivadas da medula óssea secretando condroitinase AC sobre a organização tissular do SNC na região próxima à lesão... 79

4.10 Avaliação funcional dos animais submetidos à combinação de terapia celular e terapia gênica... 80

5 Discussão... 96

6 Conclusão... 104

7 Referências Bibliográficas... 105

8 Resumo... 127

9 Abstract... 128

10 Abreviaturas... 129

(10)

Índice

12 Anexo 1... 138

(11)

Índice

Índice de Figuras

Figura 1. Representação esquemática de uma lesão por corte, na medula espinhal... 2

Figura 2. Proteoglicanos de condroitim sulfato inibem a regeneração axonal e induzem a formação de terminais distróficos nos axônios... 3

Figura 3. Unidades estruturais dos glicosaminoglicanos... 7

Figura 4. Região de ligação da cadeia de glicosaminoglicano ao esqueleto protéico... 11

Figura 5. Estrutura dos proteoglicanos de condroitim sulfato do sistema nervoso central... 14

Figura 6. Esquema hipotético da composição das redes perineuronais... 18

Figura 7. Especificidade das condroitinases ABC, AC e C... 21

Figura 8. Vetor de expressão pcDNA3.1(+)... 29

Figura 9. Vetor de expressão pEGFP-N1... 33

Figura 10. Coordenadas das lesões... 41

Figura 11. Teste de marcha... 44

Figura 12. Clonagem do gene da condroitinase AC no vetor pcDNA3.1(+)... 47

Figura 13. Verificação da inserção do gene da condroitinase AC no vetor pcDNA3.1(+)... 47

Figura 14. Seqüenciamento do gene da condroitinase AC clonado no vetor pcDNA3.1(+)... 50

Figura 15. Teste do protocolo de transfecção: determinação da quantidade de lipofectamina... 52

Figura 16. Teste do protocolo de transfecção para a linhagem celular de gliosarcoma e para células mononucleadas derivadas da medula óssea... 53

Figura 17. Teste do tempo de expressão de GFP por células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com plasmídeo pEGFP-N1... 54

Figura 18. Células de gliosarcoma de rato transfectadas com o vetor pcDNA3.1(+)-condroitinase AC expressam RNAm da enzima... 55

Figura 19. Células mononucleadas derivadas da medula óssea de camundongos transfectadas com o vetor pcDNA3.1(+)-condroitinase AC expressam RNAm da enzima... 55

(12)

Índice

Figura 21. Células de gliosarcoma e CHO transfectadas com o vetor contendo o gene da condroitinase AC secretam a enzima recombinante na forma ativa... 58 Figura 22. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressam

glicosaminoglicanos com migração diferente dos glicosaminoglicanos padrões... 59 Figura 23. Glicosaminoglicanos expressos por células mononucleadas da medula

óssea não são degradados por condroitinases bacterianas... 61 Figura 24. Clonagem do gene da condroitinase AC no vetor de expressão pEGFP-N1. 63 Figura 25. Células CHO transfectadas com o vetor pEGFP-condroitinase AC

secretam a enzima com baixa atividade... 64 Figura 26. A expressão da quimera condroitinase AC-GFP diminui com o tempo... 65 Figura 27. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressam

condroitinase AC ativa quando transfectadas com o vetor pcDNA3.1(+)-condroitinase AC... 67 Figura 28. Células mononucleadas derivadas da medula óssea transplantadas no local da lesão migram para regiões internas do córtex cerebral... 69 Figura 29. Células mononucleadas derivadas da medula óssea podem migrar para

longe do local de transplante... 69 Figura 30. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressando

condroitinase AC promovem aumento da glia reativa em torno da lesão... 71 Figura 31. A resposta inflamatória a células derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC persiste duas semanas após transplante... 72 Figura 32. Células mononucleadas derivadas da medula óssea expressando

condroitinase AC mantêm o aumento da glia reativa em torno da lesão após 4

semanas... 73 Figura 33. Neurônios presentes em lesão tratada com transplante de células derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC expressam GAP-43... 75 Figura 34. Neurônios presentes em lesão tratada com transplante de células derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC expressam sinaptofisina... 76 Figura 35. Co-localização de sinaptofisina e β-tubulinaIII em neurônios presentes em lesão tratada com transplante de células derivadas da medula óssea expressando

(13)

Índice

Figura 36. Em regiões sem lesão axônios apresentam orientação que é perdida em

regiões próximas à lesão... 78

Figura 37. Transplante de células mononucleadas derivadas da medula óssea expressando condroitinase AC causam piora da lesão, com desorganização do tecido... 80

Figura 38. Medida do ângulo da inclinação formada entre a pata dianteira e a pata traseira em cada passo... 81

Figura 39. Impressão das patas de animais controle e animais submetidos a transplante de células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com pcDNA3.1(+)-condroitinase AC... 82

Figura 40. Distribuição dos ângulos formados entre a pata dianteira e a pata traseira em cada passo de animais controle e animais submetidos a transplante de células mononucleadas derivadas da medula óssea transfectadas com pcDNA3.1(+)-condroitinase AC... 83

Figura 41. Avaliação funcional acessada pela quantificação de passos apresentando angulação anormal entre as patas dianteira e traseira de um mesmo lado durante o teste de marcha... 86

Figura 42. Avaliação da ocorrência de passos com angulação normal oito semanas após a lesão... 91

Índice de Tabelas

Tabela 1. Características estruturais dos glicosaminoglicanos... 6

Tabela 2. Proteínas que se ligam ao condroitim sulfato... 9

Tabela 3. Características estruturais e localização de alguns proteoglicanos... 12

(14)
(15)

Introdução

1

1 Introdução

1.1 Injúria ao sistema nervoso central

Dados da literatura mostram que a incidência anual de traumatismo

crânio-encefálico (TCE) fatal e não fatal é de 200/100.000 habitantes nos EUA (Kraus, 1993),

281/100.000 habitantes em Aquitaine, França (Tiret e col., 1990), 100/100.000 habitantes

na Austrália (Tate e col., 1998) e 341/100.000 habitantes em Brasília (Masini, 1994).

Koizumi e col. (2000) mostraram que a taxa de internação por TCE na rede hospitalar do

município de São Paulo em 1997 foi de 0,36/1000 habitantes, com um tempo de internação

predominante de até 7 dias e uma taxa de mortalidade hospitalar de 10,2%. Estima-se que a

mortalidade por TCE, em nível populacional, seja de 26 a 39/100.000 habitantes. As

seqüelas neurológicas resultantes do TCE incluem distúrbio cognitivo, seqüela motora em

hemicorpo, paralisia facial periférica, monoparesia, tetraparesia, distúrbio visual, afasia,

estrabismo e ataxia da marcha. O tratamento baseia-se em fisioterapia e obtêm-se ligeira

melhora dos pacientes. Entretanto, não existem drogas disponíveis para reparar injúria à

medula espinhal ou ao encéfalo. Assim, o estudo de injúria e regeneração do sistema

nervoso é importante para o desenvolvimento de futuros tratamentos.

Do ponto de vista celular e molecular, lesões no sistema nervoso central (SNC),

ocasionadas por traumas ou condições patológicas, resultam em reação glial, levando

eventualmente à formação de uma cicatriz glial (Fawcett e Asher, 1999; Silver e Miller,

2004). A resposta glial à lesão recruta precursores de oligodendrócitos, astrócitos, células

meningiais e micróglia que irão constituir a cicatriz glial. As primeiras células a chegarem

ao local lesado são os macrófagos vindos da corrente sanguínea e micróglia migrando do

tecido circundando a lesão. Após três a cinco dias, precursores de oligodendrócitos são

recrutados à região da injúria, vindos do tecido circundante. Se a lesão rompe as meninges,

células meningiais e fibroblastos também migram para a região para cobrirem a superfície

exposta do SNC. Finalmente, os astrócitos migram para a região lesada e se dividem para

preencher o espaço resultante da lesão (Fawcett e Asher, 1999; Silver e Miller, 2004)

(16)

Introdução

2

Figura 1. Representação esquemática de uma lesão por corte na medula espinhal.

Devido ao rompimento das meninges, fibroblastos invadem a lesão. Cavitação ocorre no centro da lesão que é preenchida por macrófagos vindos da corrente sanguínea. O alinhamento dos astrócitos é alterado na região da lesão e estas células sofrem hipertrofia se tornando astrócitos reativos. Os astrócitos reativos produzem proteoglicanos de condroitim sulfato, que inibem o crescimento axonal e induzem a formação de axônios distróficos. MEC: Matriz extracelular. Figura modificada de Silver e Miller, 2004.

No local lesado, as células secretam fatores inibitórios da extensão axonal

impedindo a regeneração neuronal. Até o momento temos o conhecimento de quatro

moléculas inibitórias secretadas por oligodendrócitos que apresentam atividade inibitória

do crescimento axonal: PGCS (proteoglicanos de condroitim sulfato), MAG (

myelin-associated glycoprotein), OMgp (oligodendrocyte myelin glycoprotein) e Nogo. Estas

últimas três são proteínas de superfície celular que interagem com o complexo NgR (Nogo

receptor)/p75 (p75 neurotrophin receptor)/LINGO-1 (leucine rich repeat transmembrane

protein). Os PGCS além de inibirem o crescimento axonal induzem a formação de cones de crescimento distróficos (Davies e col., 1999; Tom e col., 2004; Silver e Miller, 2004)

(Figura 2). Estes terminais distróficos foram primeiro descritos por Ramón y Cajal (1928) e

são dinâmicos (Kerschensteiner e col., 2005), reciclando a membrana na extremidade guia

e alterando o repertório de integrinas (Tom e col., 2004). Assim, o crescimento axonal é

(17)

Introdução

3 influência inibitória dos PGCS pode ser eliminada pela administração de condroitinase

ABC, uma enzima que degrada a porção açúcar desses proteoglicanos sem alterar a cadeia

protéica (McKeon e col., 1995; Zuo e col., 1998; Yu and Bellamkonda, 2001; Grimpe e

col., 2005). Já foi demonstrado que o tratamento do SNC com condroitinase ABC após

injúria promove recuperação funcional (Moon e col., 2001; Bradbury e col., 2002; Yick e

col., 2003, 2004; Caggiano e col., 2005; Fouad e col., 2005; Steinmetz e col., 2005; Houle

e col., 2006; Yang e col., 2006; Cafferty e col., 2007).

Figura 2. Proteoglicanos de condroitim sulfato inibem a regeneração axonal e induzem a formação de terminais distróficos nos axônios. Em (a), neurônios do gânglio da raiz dorsal (verde) foram transplantados rostralmente a uma lesão e estenderam axônios que alcançaram a periferia da lesão, mas não o centro devido aos PGCS (azul). A seta em (b) mostra um cone de crescimento distrófico. L: Lesão por corte na medula espinhal. Barras de escala 250μm em (a) e 25μm em (b). Figura modificada de Silver e Miller, 2004.

Dados da literatura mostram que todos os tipos de células da glia produzem PGCS

em resposta à injúria neuronal. Por exemplo, as células precursoras de oligodendrócitos

produzem NG2 (Asher e col., 2001) e versicam (Asher e col., 2002), os oligodendrócitos

produzem NG2, DSD-1/fosfacam e versicam (Asher e col., 2002), os astrócitos produzem

brevicam e neurocam (Matsui e col., 2002) e as células meningiais produzem NG2

(18)

Introdução

4 O local lesado também contém restos de oligodendrócitos e mielina. Diferente do

sistema nervoso periférico (SNP), no SNC ocorre uma ativação insuficiente da micróglia e

o aparecimento de fagócitos pode levar semanas (Perry e col., 1987; Stoll e col., 1989;

George e Griffin, 1994). Assim, a produção por oligodendrócitos das proteínas associadas à

mielina citadas acima persiste por mais tempo do que no SNP (Kidd e col., 1990).

A injúria axonal inicia um processo de degeneração no local lesado, denominado de

degeneração walleriana (Waller, 1850). A incapacidade das fibras nervosas regenerarem

leva à morte do corpo celular correspondente. Além disso, fibras não danificadas, mas

próximas aos axônios danificados, são afetadas pelo espalhamento lateral da injúria (Yoles

e Schwartz, 1998a) e sofrem degeneração secundária (Yoles e Schwartz, 1998a; Faden,

1993; McIntosh, 1993; Hovda e col., 1991; Zivin e Choi, 1991). A degeneração secundária

parece ser mediada por agentes como glutamato (Yoles e Schwartz, 1998b), radicais livres

ou mediadores de toxicidade, alguns dos quais relacionados exclusivamente com injúria

axonal do SNC e não injúria direta a corpos celulares (Yoles e Schwartz, 1998b; Yoshino e

col., 1991; Liu e col., 1994; Bazan e col., 1995; Ransom e col., 1990).

Quando a glia reativa é seletivamente removida a degeneração secundária é

exacerbada (Bush e col., 1999; Faulkner e col., 2004). Estes autores observaram que a

cicatriz glial serve para reparar a barreira hematocerebral, prevenir infiltração de leucócitos

e estabelecer uma barreira entre a região da lesão e o resto do SNC, ainda não danificado,

impedindo maiores danos. Assim, embora as células da cicatriz glial produzam moléculas

inibitórias da regeneração do SNC, a formação da cicatriz glial pode ser encarada como um

(19)

Introdução

5

1.2 Estrutura, classificação e localização dos glicosaminoglicanos e proteoglicanos

1.2.1 Glicosaminoglicanos

Glicosaminoglicanos receberam esta denominação de acordo com a nomenclatura

proposta por Jeanloz (1960), mas foram inicialmente denominados de mucopolissacarídeos

por Meyer (1938). São heteropolissacarídeos longos, não-ramificados, formados por

unidades repetidas de dissacarídeos constituídos por um ácido urônico (D-glucurônico ou

L-idurônico) ou açúcar neutro (galactose no queratam sulfato) e uma hexosamina

(D-glucosamina ou D-galactosamina). Além da carboxila, esses compostos apresentam

grupamentos sulfato (exceto ácido hialurônico), o que lhes atribui carga negativa elevada.

Isto atrai cátions e com isso água, explicando a alta hidrofilia desses compostos.

Os glicosaminoglicanos são classificados em seis tipos de acordo com suas

composições monoméricas, tipo de ligações glicosídicas intra- e inter-dissacarídicas, grau e

posição da sulfatação (Figura 3). Os tipos são: condroitim 4- e 6- sulfato (C4S, C6S),

queratam sulfato (KS), ácido hialurônico (AH), dermatam sulfato (DS), heparina e heparam

sulfato (HS) (Tabela 1).

Os glicosaminoglicanos sulfatados aparecem amplamente distribuídos na escala

filogenética, desde espongiários até mamíferos superiores (Dietrich e col., 1989; Medeiros

e col., 2000). HS, condroitim sulfato (CS) e DS apresentam uma distribuição específica em

cada tecido, independente da espécie estudada. A heparina apresenta uma distribuição

(20)

Introdução

6

Tabela 1. Características estruturais dos glicosaminoglicanos

Glicosaminoglicano (Jeanloz, 1960)

Açúcares* Posição do Sulfato

Ligação Glicosídica

Ácido hialurônico N-acetilglucosamina ácido glucurônico

- -

β(1→4) α(1→3)

Condroitim 4-sulfato N-acetilgalactosamina ácido glucurônico

4 -

β(1→4) α(1→3)

Condroitim 6-sulfato N-acetilgalactosamina ácido glucurônico

6 -

β(1→4) α(1→3)

Dermatam sulfato N-acetilgalactosamina ácido idurônico ácido glucurônico 4 - - β(1→4) α(1→3) β(1→3)

Queratam sulfato N-acetilglucosamina galactose

6 -/6

β(1→3) β(1→4)

Heparam sulfato glucosamina N-acetilglucosamina ácido glucurônico ácido idurônico 2/6 6 - - α(1→4) α(1→4) β(1→4) α(1→4) Heparina glucosamina ácido glucurônico ácido idurônico 2/6 - 2 α(1→4) β(1→4) β(1→4) *

(21)

Introdução

7

HO3SO

OH

NAc NAc OH

O O

COOH

OH O OH

O O

COOH

OH

OH O OH

O O COOH OH OH O HEPARINA CH2OSO3H CH2OSO3H OSO3H OSO3H CH2OSO3H NSO3H NSO3H NSO3H O O OH O COOH OH OH O O O COOH OH OH O O OH

R2 = H, SO3 H R1 = Ac, SO3 H O

CH2OR 2

CH2OR 2 HEPARAM

SULFATO

N - R1 N - R1

O OH OH OH O NAc O O OH OH OH O O NAc O CH2OSO3H

CH2OSO3H CH2O-R CH2O-R

R = H, SO3 H QU ERATAM SULFATO OH

NAc NAc OH

ACIDO HIALURÔNICO O OH OH O O O COOH OH O O O COOH CH2OH CH2OH OH O COOH OH O O O COOH OH O O O CH2OH HO3SO DERMATAM SULFATO O COOH OH OH O NAc O O COOH OH OH O O NAc O O COOH OH OH OH O NAc O O COOH OH OH OH O O NAc O CH2OS3OH CH2OH CH2OH HO3SO CH2OSO3H HO3SO CONDROITIM

4 - SULFATO CONDROITIM 6 - SULFATO

CH2OH

(22)

Introdução

8

1.2.2 Estrutura e propriedades do glicosaminoglicano condroitim sulfato

O CS é formado pela polimerização de uma unidade dissacarídica repetida

constituída de um ácido glucurônico (GluA) e uma N-acetil-galactosamina (GalNAc)

(Figura 3) (revisado em Sugahara e Kitagawa, 2000). Estes heterodímeros podem ser

sulfatados em diferentes posições por enzimas denominadas CS sulfotransferases (CSSTs)

(revisado em Properzi e col., 2003). As CSSTs conhecidas até o momento são três

isoformas de condroitim 4 sulfotransferase (EC 2.8.2.5), duas isoformas de condroitim 6

sulfotransferase (EC 2.8.2.17), uronil 2-sulfotransferase (EC 2.8.2.-) e

N-acetilgalactosamina 4-sulfato 6-O-sulfotransferase (EC 2.8.2.33) (Habuchi, 2000). O CS

pode ser sulfatado no carbono (C) 4 da GalNAc (conhecido como CS-A ou C4S), no C6 de

GalNAc (CS-C ou C6S), no C6 de GalNAc e C2 de GluA (CS-D), ou no C4 e C6 de

GalNAc (CS-E). Esta sulfatação torna o glicosaminoglicano polianiônico, e o padrão de

sulfatação fornece uma estrutura carregada que define suas propriedades de ligar proteínas

(23)

Introdução

9

Tabela 2. Proteínas que se ligam ao condroitim sulfato

Proteína Tipo de

CS Referências

Pleiotrofina/Midkine CS-D, CS-E

Zou e col., 2000, 2003; Maeda e col., 2003; Deepa e col., 2004; Umehara e col., 2004

FGF (fibroblast growth factor) -2, -7, -10, -16, -18 CS-B, CS-E

Penc e col., 1998; Deepa e col., 2002;

Trowbridge e col., 2002 HGF/SF (hepatocyte growth factor/scatter factor) CS-B Lyon e col., 1998

HB-EGF (heparin-binding EGF-like growth factor) CS-E Deepa e col., 2002

BDNF (brain-derived neurotrophic factor) CS

Nandini e col., 2004 GDNF (glial cell line-derived neurotrophic factor) CS Nandini e col., 2004

SLC (quimocina secondary lymphoid-tissue), IP-10 (quimocina

chemokine interferon-gamma-inducible protein-10), SDF-1b

(quimocina Stromal cell-derived factor 1)

CS-E Hirose e col., 2001; Kawashima e col., 2002

MCP-1 (monocyte chemotactic protein-1) CS-A Distler e col., 2006

TNF-α (tumor necrosis factor-α) CS-E Tully e col., 2006

ADAMTS5 (aggrecanase-2) CS Zeng e col., 2006

MT3-MMP (membrane-type 3 matrix metalloproteinase) CS Iida e col., 2007

Pro-MMP-2 (pro-matrix metalloproteinase-2) CS Iida e col., 2007

Co-fator de heparina II CS-B Tollefsen e col., 1986

Fator plaquetário 4 CS-B, CS-E

Petersen e col., 1999; Kawashima e col.,

2002

CD44 CS Kawashima e col.,

2002 TSG-6 (necrosis factor-α stimulated gene-6) CS Wisniewski e col.,

2005

L-, P-selectina CS-B, CS-E

Kawashima e col., 2002

Opticin CS-A,

CS-B Hindson e col., 2005

WISP-1 (wnt-1 induced secreted protein 1) CS-B Desnoyers e col., 2001

Anexina VI CS Takagi e col., 2002

Semaforina 5A CS Kantor e col., 2004

(24)

Introdução

10

1.2.3 Estrutura, classificação e localização dos proteoglicanos

Com exceção do ácido hialurônico, os glicosaminoglicanos são encontrados nas

células sob a forma de proteoglicanos. Proteoglicanos de HS, DS, C4S e C6S são

componentes ubíquos de células de mamífero e de suas superfícies (Dietrich, 1984). São

importantes componentes constituintes da matriz extracelular e da membrana basal,

podendo se localizar também na superfície das células ou em grânulos citoplasmáticos.

Os proteoglicanos são macromoléculas constituídas por uma ou mais cadeias de

glicosaminoglicanos, covalentemente ligados a diferentes esqueletos protéicos, originando

estruturas de alto peso molecular, com diferentes combinações (Kjellén e Lindhall, 1991).

As cadeias de glicosaminoglicanos, com exceção do KS, são covalentemente ligadas a um

resíduo de serina do esqueleto protéico através do tetrassacarídeo:

xilose-galactose-galactose-ácido urônico (Figura 4). A xilose é a extremidade redutora, envolvida na ligação

O-glicosídica com o grupo hidroxila, proveniente do aminoácido serina. A porção não

redutora corresponde ao ácido glucurônico, e está envolvida na continuidade da cadeia do

glicosaminoglicano. A síntese da cadeia do glicosaminoglicano é iniciada após a adição do

tetrassacarídeo, e os monossacarídeos da cadeia são adicionados alternadamente (revisado

por Sugahara e Kitagawa, 2000).

Apenas o KS não se liga ao esqueleto protéico de modo convencional. Sua ligação

pode ocorrer de duas formas, sendo estas responsáveis pela distinção entre eles. O KS do

tipo I se liga por ligação N-glicosídica entre uma N-acetilglucosamina e a amida da cadeia

lateral da asparagina (Baker e col., 1975). O KS do tipo II se liga por ligação O-glicosídica

(25)

Introdução

11

SER

ASP

SER - O - GalNac

GlcNac Gal

-Gal - AS

- N - GlcNAc - GlcNAc - Man

Man - GlcNAc -

Man - GlcNAc -

- O - Xil - Gal - Gal - GlcA - (CS, DS, HS ou Hep)

(KS - cartilagem)

(KS - córnea)

Figura 4. Região de ligação da cadeia de glicosaminoglicano ao esqueleto protéico.CS: condroitim sulfato; DS: dermatam sulfato; HS: heparam sulfato; Hep: heparina; KS: queratam sulfato; Xil: xilose; Gal: galactose; GlcA: ácido glucurônico; GalNAc: N-acetilgalactosamina; GlcNAc: N-acetilglucosamina; Man: manose; AS: ácido siálico; SER: serina; ASP: asparagina.

Os proteoglicanos são compostos de alta heterogeneidade quanto ao tamanho e

natureza de seu esqueleto protéico e ao número e tipo de cadeias de glicosaminoglicanos

ligados. A atividade biológica de cada proteoglicano depende das propriedades do seu

esqueleto protéico, da estrutura química do(s) glicosaminoglicano(s) ligados e também de

sua localização. Assim, as funções biológicas dos proteoglicanos são muito variadas e não

existe um denominador comum.

A nomenclatura dos proteoglicanos está intimamente atrelada ao seu papel biológico,

ou ao aminoácido predominante, como por exemplo, o agrecam, que facilita a agregação

dos componentes da matriz da cartilagem e o serglicim, que apresenta um esqueleto com

repetições dos aminoácidos serina e glicina.

Atualmente, são conhecidos mais de 30 tipos diferentes de proteoglicanos. A Tabela 3

mostra a classificação de alguns proteoglicanos quanto à composição e localização em

(26)

Introdução

12

Tabela 3.Características estruturais e localização de alguns proteoglicanos

Nome Tamanho do esqueleto protéico (kD) Tipo de GAG N° de cadeias Localização Ref.

Família Hialectans ou lecticans

Agrecam ~220 CS, KS 20-30 Cartilagem, SNC e vasos sangüíneos

MEC Esko, 1991; Iozzo, 1998 Brevicam ~100 CS 1-3 SNC MEC Iozzo e Murdoch,

1996; Iozzo, 1998 GPI-brevicam 64 CS 0-5 SNC SC Seidenbecher e col.,

1998 Neurocam ~136 CS 3-7 SNC e cartilagem MEC Iozzo e Murdoch,

1996; Iozzo, 1998 Versicam 5/26-360 CS, DS 10-30 SNC e tecidos

embrionários

MEC Landolt e col., 1995; Iozzo, 1998

Família dos proteoglicanos pequenos ricos em leucina

Biglicam 38 CS, DS 1-2 Tecido conjuntivo, SNC

MEC Fisher e col., 1989; Esko, 1991; Stichel e col., 1995; Iozzo,

1998, 1999 Decorim 36 CS, DS 1 Tecido conjuntivo,

SNC, ossos e dentes

MEC Stichel e col., 1995

Epificam 35 CS, DS 2-3 Cartilagem epifisária

MEC Shinomura e Kimata, 1992; Iozzo, 1998, 1999 Fibromodulina 42 KS 2-3 Adesão celular e

fibrinogênese

MEC Oldberg e col., 1989; Esko, 1991; Iozzo, 1998, 1999 Lumicam 38 KS 3-4 Córnea, intestino,

fígado, músculo e cartilagem

MEC Esko, 1991; Blochberger e col.,

1992; Iozzo e Murdoch, 1996; Iozzo, 1998, 1999 Mimecam ou

osteoglicina

35 KS 2-3 Córnea e tecidos conjuntivos

MEC Funderburgh e col., 1997; Iozzo, 1998,

1999 Osteoaderina 42 KS 2-3 Ossos MEC Sommarin e col.,

1998; Iozzo, 1998, 1999 PRELP 44 KS 2-3 Tecido conjuntivo MEC Bengtsson e col.,

1995; Iozzo, 1998, 1999

Família do fosfacam/RPTP

Fosfacam 173 CS, KS 3-4 SNC MEC Maurel e col., 1994; Grumet e col., 1996; Garwood e

col., 2003 RPTPβ 253 CS 3-4 SNC SC Maurel e col., 1994;

Garwood e col., 2003

(27)

Introdução

13

sindecans fibroblasto,

endotélio, sistema nervoso e células

musculares lisas

1987; Nader, 1991; Bernfield e col.,

1992, 1999

Família dos glipicans

62 HS 2-4 Epitélio,

fibroblasto e SNC

SC Esko, 1991, Bernfield e col.,

1999

Proteoglicanos facultativos

Colágeno a2 (IX) 68 CS, DS 1 Cartilagem e humor vítreo

MEC Esko, 1991

Apicam 75-83 CS 1 SNC SC Shioi e col., 1995 Integrina α5β1 nd CS, HS nd Célula de

melanoma humano (Mel-85) e células

CHO

SC Veiga e col., 1997

Betaglicano 110 CS, HS 0-4 Fibroblastos SC Ruoslahti e Yamaguchi, 1991; Wang e col., 1991 CD44 32-38/49 CS, HS 0-4 Linfócitos e

epitélio

SC Stamenkovic e col., 1989; Iozzo e Murdoch, 1996 Neuroglicam-C 56 CS 3-5 SNC SC Oohira e col., 2004

Receptor de transferrina

2-90 HS 4-6 Fibroblastos SC Fransson e col., 1984

Trombomodulina 58-60 CS 0-1 Endotélio SC Esko, 1991

Outros proteoglicanos

Testicam 44 CS, HS 1-2 Testículos e cérebro

MEC Alliel e col., 1993; Iozzo e Murdoch,

1996

Agrim 250 HS 3 Junções

neuromusculares, MB renal e de

pulmão

MB Tsen e col., 1995; Iozzo, 1998; Cotman e col., 1999

Bamacam ~138 CS 3 Praticamente todas as MBs, exceto dos

glomérulos

MB Wu e Couchman, 1997; Iozzo, 1998

Leprecam ~220 CS nd MBs dos vasos sangüíneos e

musculatura lisa

MB Wassenhove-Mccarthy e Mccarthy,1999 Perlecam 400-467 HS, CS 3 MB e cartilagem MB Hassel e col., 1980;

Iozzo, 1998 NG2 300 CS 2-3 Células neurais e

mesenquimais

SC Esko, 1991, Stallcup, 2002

(28)

Introdução

14

1.3 Proteoglicanos de condroitim sulfato no sistema nervoso central

Os quatro maiores grupos de PGCS no SNC estão apresentados na Figura 5 e são:

1) lecticans ou hialectans (uma família que inclui agrecam, versicam, neurocam e brevicam); 2) fosfacam/RPTPβ (receptor-type protein-tyrosine phosphatase β); 3)

proteoglicanos pequenos e ricos em leucina (por exemplo, decorim e biglicam); 4) outros

PGCS incluindo neuroglicam-C e NG2.

(29)

Introdução

15 Os PGCS são secretados para a matriz extracelular por diferentes tipos celulares,

neurônios e células da glia (Tabela 4). Alguns PGCS são inseridos na membrana plasmática

dessas células e são conhecidos como proteoglicanos de superfície celular. PGCS da matriz

extracelularincluem os hialectans, fosfacam e os proteoglicanos pequenos ricos em leucina

enquanto que os proteoglicanos de superfície possuem um domínio transmembrânico, por

exemplo, NG2 e neuroglicam-C, ou uma âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI), por

exemplo, brevicam.

Os hialectans ou lecticans são a maior família de PGCS no SNC. Se ligam a AH

pelo domínio N-terminal (Hascall e Heinegard, 1974a,b; LeBaron e col., 1992; Rauch e

col., 1992; Day e Prestwich, 2002) e a tenascinas pelo domínio C-terminal (Aspberg e col.,

1995, 1997; Day e col., 2004). As tenascinas fazem ligações cruzadas entre complexos

PGCS-AH, formando estruturas complexas na matriz extracelular (Lundell e col., 2004).

Durante o desenvolvimento, os hialectans regulam a migração celular e o direcionamento

(30)

Introdução

16

Tabela 4. Proteoglicanos de condroitim sulfato do sistema nervoso central

Nome Tipo de

GAG Célula Referências

Matriz

extracelular

Agrecam CS Neurônios Hockfield e McKay, 1983; Asher e

col., 1995

Brevicam CS Neurônios, astrócitos e glia Yamada e col., 1997; Seidenbecher

e col., 1998; Thon e col., 2000

Neurocam CS Neurônios, astrócitos e OPC

Oohira e col., 1994; Engel e col.,

1996; Haas e col., 1999; McKeon e

col., 1999; Asher e col., 2000

Versicam CS OPC Asher e col., 2002; Beggah e col.,

2005

Fosfacam CS/KS Neurônios, astrócitos e glia

Maeda e col., 1995; Engel e col.,

1996;Snyder e col., 1996; Hayashi

e col., 2005; Heck e col., 2005

Biglicam CS/DS Astrócitos e glia Stichel e col., 1995

Decorim CS/DS Astrócitos e glia Stichel e col., 1995

Membrana

GPI-brevicam CS Glia da substância branca Seidenbecher e col., 1998

NG2 CS OPC Levine, 1994; Horner e col., 2002

RPTPβ CS Neurônios, astrócitos e glia Canoll e col., 1993; Snyder e col.,

1996; Hayashi e col., 2005

Neuroglicam-C CS Neurônios Watanabe e col., 1995

Apicam CS Astrócitos Shioi e col., 1995

CS: condroitim sulfato; KS: queratam sulfato; DS: dermatam sulfato; OPC: células precursoras de oligodendrócitos. Tabela modificada de Crespo e col., 2007.

PGCS são componentes de redes perineuronais, no SNC (Fujita e col., 1989;

Zaremba e col., 1989; Atoji e col., 1990; Bertolotto e col., 1991). Estas redes encapsulam

as sinapses no parênquima do SNC e foram descritas primeiro por Golgi (1893). A rede

perineuronal é formada por matriz extracelular condensada e especializada, que previne

(31)

Introdução

17 (Hartig e col., 1999) e fornece neuroproteção (Bruckner e col., 1999; Morawski e col.,

2004). Os principais componentes da matriz extracelular da rede perineuronal são

proteoglicanos, AH, proteínas fibrosas (por exemplo, colágeno e elastina), glicoproteínas

adesivas (por exemplo, fibronectina, laminina e tenascina) e fatores de crescimento. A

matriz extracelular do SNC é única na sua composição no sentido de que possui baixas

quantidades de proteínas fibrosas e altas quantidades de proteoglicanos e AH (Novak e

Kaye, 2000) (Figura 6).

Redes perineuronais em diferentes regiões do cérebro contêm diferentes PGCS. Por

exemplo, agrecam está ausente nas redes perineuronais na substância branca enquanto

versicam é encontrado principalmente na substância branca (Asher e col., 1995). Neste

exemplo, a distribuição é influenciada pela localização das células produtoras de agrecam

(neurônios) e de versicam (células precursoras de oligodendrócitos) (Tabela 4).

A administração de condroitinase ABC no SNC induz a plasticidade no cérebro

adulto de ratos (Pizzorusso e col., 2002; Tropea e col., 2003; Rhodes e Fawcett, 2004;

Corvetti e Rossi, 2005; Barritt e col., 2006) e, portanto, a regeneração do SNC poderia ser

devida à degradação das redes perineuronais. Além disso, como alguns PGCS (hialectans)

são ancorados nas redes perineuronais através de AH (Bignami e Asher, 1992; Bignami e

col., 1992) (Figura 6), e sendo a condroitinase ABC capaz de degradar este

glicosaminoglicano, alguns autores acreditam que parte da regeneração axonal observada

pela administração dessa enzima se deve à degradação do AH e não somente à degradação

(32)

Introdução

18

Figura 6. Esquema hipotético da composição das redes perineuronais. O AH é retido na superfície celular dos neurônios por meio da enzima AH sintase, por meio de receptores (por exemplo, layilin) ou de proteoglicanos de superfície celular (por exemplo RPTPβ). Os

hialectans ligam o AH pelo domínio N-terminal G1 e estas interações são estabilizadas por proteínas de ligação. Os hialectans ligam tenascina-R pelo domínio C-terminal G3 formando as redes. O hialectan agrecam tem papel importante na formação das redes perineuronais e embora outros hialectans, por exemplo, neurocam, versicam e brevicam, estejam presentes, não são críticos. Fosfacam também é um componente das redes perineuronais por meio da sua interação com tenascina-R, mas não é capaz de ligar o AH. AH: ácido hialurônico; PL: proteína de ligação. Figura modificada de Galtrey e Fawcett, 2007.

1.4 Condroitinases

Enzimas que degradam CS já foram purificadas de várias espécies de bactéria entre

elas, Flavobacterium heparinum, Proteus vulgaris, Arthrobacter aurescens e Bacteroides

stercoris (Hoffman e col., 1957; Linker e col., 1960; Yamagata e col., 1968; Hiyama e

Okada, 1975; Michelacci e Dietrich, 1974 e 1975; Michelacci e col., 1987; Hong e col.,

2002). Algumas destas enzimas são expressas constitutivamente enquanto outras devem ser

(33)

Introdução

19

lyase; EC 4.2.2.4) foi purificada de Proteus vulgaris e caracterizada por Yamagata e col.

(1968). Posteriormente, Hamai e col. (1997) isolaram duas condroitinases ABC de Proteus

vulgaris; uma endoeliminase capaz de despolimerizar o CS, produzindo uma mistura de

tetra e dissacarídeos contendo uma insaturação entre os carbonos 4 e 5 do ácido urônico e

uma exoeliminase que age preferencialmente em tetra e hexassacarídeos para formar

dissacarídeos. Estes autores sugerem que a enzima convencionalmente denominada de

condroitinase ABC, que despolimeriza completamente CS produzindo dissacarídeos

insaturados é, na verdade, uma combinação da endoeliminase (condroitim-sulfato-ABC

endolase, EC 4.2.2.20) e da exoeliminase (condroitim-sulfato-ABC exolase, EC 4.2.2.21).

A condroitinase ABC disponível comercialmente (Seikagaku Corp., Tokyo, Japan) e

utilizada em estudos sobre regeneração no SNC, não possui a atividade exoeliminase e seus

produtos finais são, portanto, tetra e dissacarídeos (Sugahara e col., 1994; Hamai e col.,

1997). Assim, seu uso in vivo, condição em que a concentração da enzima diminui

rapidamente, provavelmente não resulta em despolimerização completa do CS.

As condroitinases AC-I (chondroitin AC lyase; EC 4.2.2.5) de Flavobacterium

heparinum (Yamagata e col., 1968) e AC-II de Arthrobacter aurescens (chondroitinase AC

II; Hiyama e Okada, 1975) clivam a ligação entre acetilgalactosamina e ácido glucurônico.

A condroitinase AC-II é uma exoeliminase (Hiyama e Okada, 1975) e por isso não

consegue degradar glicosaminoglicanos híbridos de CS/DS (Figura 7). A condroitinase

AC-I por sua vez, possui atividade endoeliminase e, portanto, consegue clivar em qualquer

ponto da cadeia de C4S ou C6S.

Condroitinase B (chondroitin B lyase, EC 4.2.2.19) também foi isolada de F.

heparinum e é induzida pela adição de um dos CS (C4S ou C6S) ou DS ao meio de cultura

desta bactéria (Michelacci e Dietrich, 1974 e 1975). A condroitinase B cliva a ligação entre

N-acetilgalactosamina e ácido idurônico, e os produtos da clivagem são oligo- e

tetrassacarídeos, e um dissacarídeo 4-sulfatado insaturado. Os oligossacarídeos, por sua

vez, são suscetíveis à condroitinase AC e os produtos são principalmente dissacarídeos

4-sulfatados. Os produtos de degradação do DS também são capazes de induzir a expressão

da enzima por F. heparinum.

A condroitinase C de F. heparinum (EC 4.2.2.-) também é induzida pela adição de

(34)

Introdução

20 1976). A condroitinase C degrada CS, produzindo dissacarídeos insaturados sulfatados

apenas na posição 6, e AH, produzindo dissacarídeos não-sulfatados. Esta enzima cliva a

ligação β(1→4) entre a hexosamina não-sulfatada ou 6-sulfatada e o ácido glucurônico,

portanto não degrada C4S.

Dada a especificidade dos substratos (Figura 7), a condroitinase AC-I seria,

teoricamente, tão efetiva quando a condroitinase ABC na degradação de CS em ensaios in

vivo para criar um ambiente permissivo à regeneração do SNC. Estas enzimas também são

capazes de degradar AH. O AH é estruturalmente similar ao CS, consistindo de um

dissacarídeo repetido de ácido glucurônico e N-acetilglucosamina (Tabela 1 e Figura 3).

Entretanto difere por não existir covalentemente ligado a um esqueleto protéico e por não

ser sulfatado. Como já mencionado, alguns autores acreditam que a regeneração axonal

observada pela administração de condroitinase ABC deva-se, em parte, à degradação do

(35)

Introdução

21

(36)

Introdução

22

1.5 Inibição da regeneração neuronal por proteoglicanos de condroitim sulfato

A expressão de NG2 e neurocam (Asher e col., 2000); brevicam, decorim e biglicam

(Asher e col., 2001); e versicam (Asher e col., 2002) aumenta no tecido nervoso após

injúria. Além do aumento da quantidade de PGCS expressos, a injúria neuronal também

parece alterar a estrutura da cadeia de CS. A expressãodas enzimas CS sulfotransferases,

envolvidas na diversidade estrutural desses glicosaminoglicanos, aumenta após injúria na

região da cicatriz glial, sugerindo a implicação de diferenças nos padrões de sulfatação na

atividade inibitória de PGCS (Properzi e col., 2003). Gilbert e col. (2005) documentaram

que no córtex não lesado de ratos adultos, o principal CS presente é o C4S (91%), seguido

de condroitim não sulfatado (5%) e C6S (4%). Após uma lesão no córtex, o principal CS na

região lesada, ou seja, na cicatriz glial, se torna o C6S (50%), seguido do C4S (25%) e

aparecem dois CS; o condroitim 4,6-sulfato (17%) e um condroitim 2-sulfato (8%).

Properzi e col. (2005) observaram a expressão de C6S em células inibitórias da regeneração

axonal, mas não em células permissivas, realçando o possível papel da sulfatação na

posição 6 da galactosamina na inibição. O C6S é particularmente inibitório (Snow e col.,

1990), enquanto condroitim 2,6-sulfato e condroitim 4,6-sulfato promovem elongação in

vitro de axônios de precursores neuronais embrionários (Clement e col., 1998, 1999).

Entretanto, Gilbert e col. (2005) mostraram que o condroitim 4,6-sulfato é o GAG sulfatado

mais inibitório em um sistema de cultura em 3D.

1.6 Outros componentes da matriz extracelular que podem participar na inibição da

regeneração neuronal

A expressão de outros componentes da matriz extracelular também aumenta após

injúria no SNC e pode contribuir para os efeitos inibitórios da cicatriz glial (revisado por

Busch e Silver, 2007). Semaforina 3A (Sema 3A) é expressa por fibroblastos meningiais e

se liga a neuropilina 1, cuja expressão é aumentada em neurônios projetando axônios para a

região da lesão, causando colapso do cone de crescimento (Sandvig e col., 2004). Sema 3A

também é expressa na superfície de neurônios e interage com proteoglicanos podendo

contribuir para a atividade inibitória da matriz extracelular e também pode estar envolvida

no controle da invasão do SNC por células de Schwann (De Wit e col., 2005). As

(37)

Introdução

23 glicosaminoglicanos de PGCS e modificam seus efeitos em axônios em crescimento

(Kantor e col., 2004).

O receptor de efrina e seu ligante, efrina, são mediadores de migração celular,

direcionamento axonal e distribuição tecidual durante o desenvolvimento, e sua expressão

aumenta após injúria no SNC. A expressão de efrina-B2 e de seu receptor estão

correlacionados com a segregação de astrócitos reativos e fibroblastos meningiais na lesão

(Bundesen e col., 2003). Além disso, foi demonstrado que efrina-B3, que é expressa em

oligodendrócitos pós-natais na medula espinal, é inibitório para neurônios expressando o

receptor para efrina-4A, sugerindo que pode participar na falência de regeneração após

injúria (Benson e col., 2005).

As proteínas Slit regulam o direcionamento de axônios e migração celular (Brose e

Tessier-Lavigne, 2000). A expressão destas proteínas e de seu receptor glipicam-1 aumenta

em astrócitos reativos após injúria, indicando que podem participar na falência de

regeneração (Hagino e col., 2003).

Tenascina-R é uma proteína de adesão celular, cuja expressão está aumentada no

SNC após injúria e pode agir como barreira à regeneração (Deckner e col., 2000).

Camundongos deficientes em tenascina-R mostram uma recuperação funcional maior do

que animais normais após injúria à medula espinhal (Apostolova e col., 2006). Estes

autores sugerem que a falta de tenascina-R nas redes perineuronais permite a remodelação

de sinapses após injúria explicando a recuperação funcional observada.

A expressão de proteoglicanos de queratam sulfato (PGKS) aumenta após injúria ao

SNC (Krautstrunk e col., 2002) e foi visto que KS inibe crescimento axonal in vitro (Dou e

Levine, 1995). Aparentemente, o único PGKS do SNC é o fosfacam, que possui cadeias de

KS e CS (Tabela 4) sendo considerado um proteoglicano híbrido. Butler e col. (2004)

trataram culturas organotípicas de hipocampo com condroitinase ABC ou queratanase e

observaram que apenas o tratamento resultando na degradação de cadeias de KS promoveu

regeneração de fibras musgosas. KS consiste de dissacarídeos de galactose e

N-acetilglucosamina, com grupamentos sulfato na posição 6 da galactose e da GlcNAc

(Tabela 1 e Figura 3). A enzima N-acetilglucosamina 6-O-sulfotransferase (GlcNAc6ST) é

crítica para a síntese de KS. Camundongos deficientes em GlcNAc6ST apresentam uma

(38)

Introdução

24 glia reativa em lesões no SNC, comparado aos animais sem deficiência (Zhang e col.,

2006). Assim, enquanto os PGCS formam uma barreira física para a regeneração axonal e

participam das redes perineuronais, os PGKS induzem o acúmulo de astrócitos reativos na

cicatriz glial. PGKS são expressos, após injúria à medula espinal, por macrófagos,

micróglia reativa e células progenitoras de oligodendrócitos, mas não por astrócitos, e sua

expressão antecede a de PGCS (Jones e Tuszynski, 2002).

1.7 Regeneração do sistema nervoso central após terapia celular

O SNC de adulto é capaz de incorporar células-tronco ou progenitoras durante a

regeneração. Estas células podem ser originárias de embrião (Brüstle e col., 1999;

Lundberg e col., 1997) ou de tecido adulto (Gage e col., 1995). Além disso, o transplante

dessas células pode promover recuperação funcional (McDonald e col., 1999; Yoshihara e

col., 2007).

Existem diversos relatos na literatura sobre a incorporação de células-tronco no

SNC. Brüstle e col. (1999) cultivaram células-tronco embrionárias na presença de FGF2 e

PDGF e transplantaram essas células na medula espinhal de ratos de 1 semana de idade,

deficientes em mielina, modelo animal para a doença humana hereditária Palizaeus-

Merzbacher. Duas semanas após a realização do transplante, foi observada a presença de

bainha de mielina. Além disso, os precursores gliais derivados de células-tronco

embrionárias haviam se diferenciado em oligodendrócitos e astrócitos. Esses autores

também transplantaram as células intraventricularmente. Após 3 semanas, observaram a

presença de bainha de mielina no córtex, corpo caloso, comissura anterior, hipocampo, teto

mesencefálico, tálamo e hipotálamo. Lundberg e col., (1997) injetaram células-tronco

imortalizadas derivadas do estriado primordial e hipocampo de embrião de rato, em

neoestriado de rato adulto e observaram que as células sobreviveram, migraram e

integraram-se ao neoestriado. Nesse estudo, a grande maioria das células se diferenciou em

células da glia (6-14% apresentaram marcação para GFAP, glial acidic fibrillary protein), e

uma proporção pequena diferenciou-se em neurônios (1-3% expressaram MAP-2).

McDonald e col. (1999) cultivaram células-tronco de embrião de camundongo na presença

de ácido retinóico e transplantaram estas células na medula espinal de rato, 9 dias após

(39)

Introdução

25 diferenciaram em astrócitos, oligodendrócitos e neurônios e migraram 8mm a partir da

lesão. Além disso, os animais recuperaram parte da coordenação motora e capacidade de

apoiar o peso do corpo sobre as pernas. Chiba e col. (2004) também cultivaram

células-tronco de embrião de camundongo na presença de ácido retinóico. Estes autores

transplantaram as células tratadas no córtex motor uma semana após a injúria e observaram

recuperação funcional evidente 4 dias após o transplante.

Células progenitoras isoladas do hipocampo de rato adulto, uma região sabidamente

neurogênica, cultivadas em meio contendo FGF-2 e transplantadas em hipocampo de rato

adulto migram para o giro denteado, onde se diferenciam em neurônios da camada granular

(Gage e col., 1995). Webber e col. (2007) expandiram células progenitoras neurais obtidas

da medula espinhal em cultura e, a seguir transplantaram as células na medula espinhal

lesada. Observaram que as células ficaram principalmente na região lesada e 40% das

células se diferenciaram em glia e 8% em neurônios. Entretanto, não observaram

regeneração axonal ou recuperação funcional e sugerem que terapias com células-tronco

devem ser associadas a outras terapias.

Células-tronco implantadas em um hemisfério cerebral controle, sem injúria, são

capazes de migrar em direção à lesão no hemisfério contralateral. Hoehn e col. (2002)

observaram a migração de células-tronco embrionárias em cérebro adulto por um

mecanismo não invasivo. Células tronco embrionárias marcadas com GFP foram

lipotransfectadas com um agente de contraste para MRI e implantadas no hemisfério não

lesado em cérebro de rato, 2 semanas após isquemia. Após 3 semanas, as células migraram

ao longo do corpo caloso para as paredes ventriculares e povoaram o tecido cerebral lesado

no hemisfério contralateral.

Embora ainda seja controverso, alguns autores demonstraram que células

progenitoras originárias da medula óssea podem se diferenciar em células neurais em

cultura e in vivo. Sanchez-Ramos e col. (2000) cultivaram células-tronco estromais

humanas e de camundongo na presença de EGF ou BDNF. Os autores verificaram que,

após o tratamento, essas células expressaram tanto a proteína quanto o RNAm de nestina,

marcador para precursor neuronal, além de GFAP, marcador de células da glia e NeuN

(neuron-specific nuclear protein) marcador de neurônio. Mezey e col. (2000) cultivaram

(40)

Introdução

26 que após algumas semanas, 18% das células marcavam para nestina (marcador de células

progenitoras do SNC). Essas células, derivadas da medula óssea de camundongos

selvagens machos, foram injetadas intraperitonealmente, em fêmeas homozigotas para uma

mutação no gene PU.1 (deficientes em células mielóides e linfóides). Após 4 meses, os

autores observaram que 2,3-4,6% das células do SNC eram positivas para o cromossomo Y

e estavam distribuídas regularmente em diferentes regiões do cérebro tanto na substância

negra quanto na branca. Destas células, 0,3-2,3% haviam se diferenciado em células

expressando antígenos neurais (NeuN), e estavam presentes no córtex, hipotálamo,

hipocampo, amígdala, periaqueduto cinza e neoestriado. Brazelton e col. (2000) injetaram

células derivadas da medula óssea de camundongo adulto transgênico expressando GFP,

intravascularmente, em camundongos adultos irradiados. Após 2-3 meses, células

expressando GFP estavam presentes no SNC; no bulbo olfatório, no hipocampo, córtex

cerebral e cerebelo. Na medula óssea, todas as células que expressavam GFP também

expressavam CD45, marcador para células sanguíneas. Entretanto, uma subpopulação de

células expressando GFP, no SNC, não expressava CD45 e sim produtos gênicos típicos de neurônio (NeuN, neurofilamento 200kDa e β-tubulina III) além de serem capazes de ativar

o fator de transcrição CREB (cAMP response element binding protein). CREB em

neurônios é ativado em resposta a fatores extracelulares, tais como glutamato,

neurotrofinas, trauma e estresse. Dois a três meses após a injeção das células derivadas da

medula óssea GFP positivas, 0,2-0,3% do número total de neurônios no SNC eram células

expressando GFP. Yoshihara e col. (2007) injetaram células mononucleadas derivadas da

medula óssea no quarto ventrículo de ratos 1 hora após lesão na medula espinhal.

Observaram que as células secretaram HGF (hepatocyte growth factor), que teve um efeito

antiapoptótico, impediram a cavitação progressiva que ocorre após uma lesão, e

(41)
(42)

Objetivos

2 Objetivos

Objetivos Gerais

Combinar a utilização de terapia celular com a degradação de condroitim sulfato por condroitinase AC na regeneração de lesões no sistema nervoso central, através do transplante de células mononucleadas derivadas de medula óssea de camundongos adultos transfectadas com vetor contendo o gene que codifica para a condroitinase AC.

Objetivos específicos

1. Produzir um vetor de expressão contendo o gene que codifica para a enzima condroitinase AC de Flavobacterium heparinum.

2. Verificar a expressão e secreção de condroitinase AC ativa in vitro pela transfecção de células em cultura.

3. Transplantar células mononucleadas derivadas de medula óssea expressando condroitinase AC no local da injúria no SNC e verificar a secreção e atividade da enzima in vivo.

4. Analisar a regeneração neuronal e resposta inflamatória na região lesada após o transplante de células mononucleadas derivadas de medula óssea expressando condroitinase AC.

5. Avaliar a recuperação funcional de animais após receberem transplante de células mononucleadas derivadas de medula óssea expressando condroitinase AC.

(43)
(44)

Material e métodos

3 Material e métodos

3.1 Reagentes

Tris, uréia e glicina foram obtidos da GibcoBRL (Grand Island, NY, EUA) e

brometo de etídio da GE Healthcare Life Sciences (Piscataway, NJ, EUA). Agarose e

EDTA foram obtidos da USB (Cleveland, OH, EUA). Os componentes para o meio de

cultura para o crescimento das bactérias, tais como peptona, extrato de levedura e triptona

foram adquiridos da BD (Sparks, MD, EUA). Ácido ε-amino capróico, benzamidina,

iodoacetamida e fenil-metil-sulfonil fluoreto (PMSF) foram obtidos da Sigma (St. Louis,

MO, EUA). Os demais reagentes químicos, tais como sais, ácidos, bases e solventes

orgânicos foram todos adquiridos da Merck (Darmstadt, Alemanha). Todos os primers

utilizados foram sintetizados pela IDT (Coralville, IA, EUA), exceto o primer antisense

para amplificação do gene da condroitinase AC a partir de DNA genômico de

Flavobacterium heparinum (item 3.2), adquirido da Invitrogen (Carlsbad, CA, EUA).

3.2 Desenho dos primers para amplificação do gene que codifica para a condroitinase

AC a partir do DNA genômico de Flavobacterium heparinum

O gene que codifica para a condroitinase AC foi obtido a partir de amplificação por

PCR utilizando como molde DNA genômico de Flavobacterium heparinum ressuspenso em água deionizada purificada em sistema Milli-Q (Millipore Corporation, Billerica, MA,

EUA) estéril. No primer sense foi incluído o sítio para a enzima de restrição KpnI e no

antisense foi incluído o sítio para a enzima de restrição EcoRI, para posterior clonagem do segmento de DNA no plasmídeo de expressão pcDNA3.1(+) (Figura 8, Invitrogen,

Carlsbad, CA, EUA). A seqüência de DNA que codifica para a condroitinase AC já se

inicia com o códon ATG e termina com o códon TAG, portanto não foi necessário

incorporar códons de início e término nos primers. Entretanto, no primer sense foi incluída uma seqüência inicial de tradução Kozak (1987, 1990, 1991) de acordo com as

considerações de clonagem que vêm com o manual dos plasmídeos pcDNA3.1(+). Assim,

os primers utilizados para clonagem no plasmídeo pcDNA3.1(+) foram:

sense 5´GGG GTA CCA TGG GGA AAT TAT TTG TAA CCT3´

antisense 5´GGA ATT CCT ATT TCA GTT CAA CCG TTG C3´

(45)

Material e métodos

Figura 8. Vetor de expressão pcDNA3.1(+). Este plasmídeo possui o promotor CMV, resistência a ampicilina para selecionar E. coli transfectadas com o vetor e resistência a neomicina para selecionar células de mamífero.

3.3 Reação em cadeia da DNA polimerase (PCR)

As condições da reação de PCR para amplificação do gene da condroitinase AC

foram 30 ciclos de 95ºC por 30 segundos, 50ºC por 30 segundos e 72ºC por 4 minutos e 30

segundos, na presença da enzima Pfu DNA polimerase (Fermentas, Glen Burnie, MD,

EUA). Fragmentos com sítios de restrição compatíveis aos do plasmídeo foram gerados

pela degradação do produto de PCR com as enzimas KpnI e EcoRI (item 3.4). O molde de

DNA utilizado na reação de amplificação foi obtido a partir de Flavobacterium heparinum

ressuspendida em água deionizada purificada em sistema Milli-Q estéril. Para a obtenção

do DNA genômico, F. heparinum foi coletada de uma cultura em meio sólido (tryptic soy broth without dextrose, com ágar), utilizando-se uma alça de inoculação e as bactérias foram ressuspendidas em 250μl de água deionizada purificada em sistema Milli-Q estéril.

Desta suspensão, 1μl foi utilizado nas reações de PCR. Os produtos obtidos pelas reações

de PCR foram analisados por eletroforese em gel de agarose para DNA (1% de agarose em tampão TAE [Tris-acetato 40mM; EDTA 1mM], contendo brometo de etídio 0,5μg/ml).

(46)

Material e métodos

3.4 Clonagem do produto de PCR no plasmídeo de expressão pcDNA3.1(+)

O inserto e o plasmídeo foram digeridos pelas enzimas de restrição KpnI

(Fermentas, Glen Burnie, MD, EUA) e EcoRI (Fermentas, Glen Burnie, MD, EUA), a

37°C por 16 horas. A reação de ligação foi realizada na proporção 1:13 (vetor: inserto), a

16°C por 16 horas com a enzima T4 DNA ligase (Fermentas, Glen Burnie, MD, EUA). A

reação de ligação foi utilizada na transformação de bactérias E.coli DH5α quimicamente competentes, de acordo com o protocolo proposto por Inoue e col., (1990) (30 minutos no

gelo, 1 minuto a 42°C e 2 minutos no gelo). A seleção dos transformantes foi feita em LB

ágar contendo ampicilina (USB, Cleveland, OH, EUA) 100μg/ml e a identificação dos

clones com inserto foi feita por PCR de DNA obtido de cada colônia, utilizando os primers

descritos em 3.2 (Sambrook e Russel, 2001). O plasmídeo de uma das colônias positivas foi

purificado por mini-preparação (miniprep, Qiagen, Valencia, CA, EUA; Promega, Madison, WI, EUA)e a incorporação do gene foi confirmada por análise de restrição. Para

a análise de restrição, o plasmídeo purificado por miniprep foi incubado a 37°C por 2 horas com as enzimas de restrição utilizadas na digestão prévia à ligação e os produtos foram

analisados por eletroforese em gel de agarose para DNA.

3.5 Seqüenciamento do segmento de DNA que codifica para a condroitinase AC

clonado no plasmídeo pcDNA3.1(+)

Para verificar se ocorreu a ligação correta do inserto no plasmídeo pcDNA3.1(+), os

primers sense e antisense utilizados na reação de PCR foram utilizados nas reações de seqüenciamento. Como a reação de seqüenciamento amplifica até aproximadamente 600pb

sem erros, o gene foi seqüenciado em 5 partes e as seqüências obtidas foram comparadas à

seqüência descrita por Tkalec e col. (2000), utilizando o aplicativo SeqMan Pro da

DNAstar (Madison, WI, EUA). Assim, desenhamos primers para regiões internas na seqüência da condroitinase AC:

sense 5’CTG GTG GCG AAG ATG ATC3’ (equivale aos pares de base 905-922 do gene da condroitinase AC)

(47)

Material e métodos

antisense 5’CAT CAG CCC ATT CTT CAG3’ (equivale aos pares de base 947-964 do gene da condroitinase AC)

antisense 5’CAT CGT GCA ACA ACC AGA AC3’ (equivale aos pares de base 1551-1570 do gene da condroitinase AC)

Em primeiro lugar, foi realizada uma reação de PCR utilizando como molde 1μl de

plasmídeo recombinante diluído 1:10. As condições da reação de PCR e os primers

utilizados foram os mesmos descritos no item 3.2. A banda correspondente ao tamanho

esperado para o produto do gene da condroitinase AC foi purificada utilizando kit de

extração de gel (Promega, Madison, WI, EUA). Na reação de PCR de seqüenciamento, os

primers foram utilizados numa concentração final de 0,5μM. Foram utilizados 2μl do reagente DyeNamic (Amersham Biosciences, Buckinghamshire, Reino Unido), 2μl do

tampão 2,5x (Tris-HCl, pH8,0, 200mM e MgCl2 5mM), 1,6μl da banda eluída (105ng) e

água milli-Q para um volume final de 10μl. As condições da reação de PCR foram 30

ciclos de 95ºC por 20 segundos, 50ºC (primers para a região interna da seqüência) ou 55ºC (primers para as extremidades) por 20 segundos e 60ºC por 1 minuto. Os produtos da reação de PCR foram transferidos para tubos de microcentrífuga de 1,5ml e precipitados

com 1μl de acetato de sódio 1,5M contendo EDTA 0,25mM, pH8,5, e com 25μl de etanol

100% a temperatura ambiente por 15 minutos. Os tubos foram centrifugados a 12000rpm

por 20 minutos à temperatura ambiente e o sobrenadante desprezado. O precipitado foi

lavado com 200μl de etanol 70% e seco em estufa a 60ºC por 15 minutos. O precipitado foi

ressuspenso em tampão de amostra contendo formamida e corante (formamide loading dye, Amersham Biosciences, Buckinghamshire, Reino Unido) e aplicado ao gel de

poliacrilamida para seqüenciamento no seqüenciador ABI Prism 377 (Applied Biosystems,

Warrington, Reino Unido).

3.6 Clonagem do gene da condroitinase AC no vetor de expressão pEGFP-N1

O primer sense foi o mesmo desenhado para a clonagem do gene da condroitinase AC de F. heparinum no plasmídeo de expressão pcDNA3.1(+), e foi descrito no item 3.2. No primer antisense foi incluído o sítio para a enzima de restrição BamHI, para posterior clonagem do segmento de DNA no pEGFP-N1 (Figura 9, Clontech, Mountain View, CA,

EUA). Além disso, o primer antisense foi construído sem um códon de término, pois o

Imagem

Figura 2.  Proteoglicanos de condroitim sulfato inibem a regeneração axonal e  induzem a formação de terminais distróficos nos axônios
Figura 3. Unidades estruturais dos glicosaminoglicanos.
Figura 4. Região de ligação da cadeia de glicosaminoglicano ao esqueleto protéico. CS:
Figura 5.  Estrutura dos proteoglicanos de condroitim sulfato do sistema nervoso  central
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Referências

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