Linguística-RevistadeEstudosLinguísticosdaUniversidadedoPorto-Vol.5-2010,pp.241-245
InaBORNKESSEL-SCHLESEWSKY;MatthiasSCHLESEWSKY.
Processingsyntaxandmorphology.Aneurocognitive
perspective.
Oxford:OxfordUniversityPress.2009.360pp.
ISBN:978-0-19-920782-4(Paperback)
AlexandraSoaresRodrigues
InstitutoPolitécnicodeBragançaCentrodeEstudosdeLinguística GeraleAplicadadaUniversidadedeCoimbra(Portugal)
A obra foca o processamento de estruturas morfológicas e sintácticas e os seus eventuais correlatos neuronais, evidenciando-se métodos não invasivos que permitem o estudo da relação entre a linguagem e as regiões neuronais em indivíduos saudáveis. Esses métodos possibilitam a observação do processamento temporal e espacialdalinguagemnocérebro.
Olivroéconstituídoporumaintroduçãoseguidadeumcapítulo explicativosobremétodosexperimentais(cap.2)equatropartes.
AvisãonovecentistadequeaáreadeBrocaéresponsávelpela produçãoedequeaáreadeWernickeéresponsávelpelacompreensão éhojepreteridaafavordeumavisãomaisintegradora,namedidaem que a complexidade do processamento da linguagem aponta para umainterdependênciaentreasduasregiõesparaoprocessamentodas duasactividades.Umdosproblemasdessavisãonovecentistareside nofactodeasváriasestruturasdalinguagem-fonologia,semântica, sintaxe,morfologia-estaremenvolvidastantonacompreensãocomo na produção. Para além disso, subsiste o problema da localização dessasestruturasemregiõescorticais.
OsAA.defendemqueénecessárioterocuidadodenãorelacionar em termos absolutos regiões cerebrais com actividades cognitivas, dado que os métodos actualmente disponíveis o não permitem, mas antes comparar, contrastar e interpretar usando diferentes perspectivasemétodosexperimentais.Outrosmétodosexperimentais sãocomportamentais(testesdeaceitabilidade/gramaticalidade;testes demovimentoocular).Esteúltimoéusadosobretudoparadeterminar processamentolexical,masnãomorfológico,nemsintáctico.
A parte I do livro é dedicada ao processamento morfológico e sintáctico ao nível da palavra. São endereçadas questões como: as diferençascategoriaisentrenomeeverbo(cap.3),eassuasrelações com domínios não exclusivamente linguísticos, onde cabem as representaçõesde‘objecto’e‘acção’;oarmazenamentonamemória sob a forma de unidades ou de regras de processos de morfologia flexional (cap. 4) e derivacional (cap. 5); a existência ou não de correlatosneuronaisdessesprocessos.
Relativamenteàquestãodarepresentaçãoaonívelcerebralde verbosenomes,osAA.sugeremqueasdiferentesregiõesquesão tendencialmenteactivadasnoprocessamentodeverbosenomessão devidasàsdiferençasflexionaisentreambosenãopropriamenteàs categorias em si mesmas. O processamento de verbos evidencia a activaçãoderegiãofrontalinferioresquerda.
O capítulo 5 dedica-se à morfologia derivacional.Testes com pseudo-palavras constituídas por morfemas verdadeiros activaram asmesmasregiõesactivadasporverdadeiraspalavrascompósitas,o que aponta para o processamento decomposicional da morfologia derivacional.
AParteIItemporobjectoasintaxeeamorfologianoprocessamento dacompreensãodafrase.Nocapítulo7discute-seaarquitecturado processamentodafrasesobopontodevistadacompreensão.Para quedecorraumainterpretaçãoincrementaldafrase,énecessárioque osistemadeprocessamentoresolvaasseguintestarefas:a)construção deumaestruturacombasenoinput,seguindoosconstrangimentos dagramáticadalíngua;b)ligaçãodeinterpretaçãoaessaestrutura; c)prediçãodeinputsequentecombasenasestruturasjáprocessadas (estruturas sintácticas, morfológicas, argumentais, etc.); d) processamentodeambiguidades;e)resoluçãodeconflitosqueadvêm dasambiguidades;f)armazenamentotemporáriodosconstituintesjá tratadosatéqueafrasesejaprocessadanasuatotalidade.
Estesníveisdoprocessamentosãodiscutidossobváriasperspec- tivaspsicolinguísticas(serialvs.paralela;modularvs.interactiva;pro-babilistas) e neurocognitivas.As abordagens neurocognitivas, ainda quenãocompletamentesatisfatórias,salientamosAA.,permitemdis-cernirquaisosmecanismosprocessuaisinerentesàlinguagemequais os partilhados por outros sistemas de carácter geral (por exemplo, juízosdevalor,controlocognitivo,etc.).
O capítulo 8 trata da estrutura de constituintes, ou seja do problema da integração de palavras em unidades mais extensas. Avalia-se a hipótese de o processamento sintáctico ser ou não predominanteemrelaçãoaoprocessamentodeoutrasestruturas(e.g. temáticas). Correlatos neuronais apontam para a dissociação das estruturassintácticasemrelaçãoàsestruturassemânticas.
Ocapítulo10focalizaoprocessamentodeestruturascomplexas, comoasoraçõesrelativasedependênciasdelongadistância.
Ocapítulo11trataoprocessamentodosmodificadores.
No capítulo 12 equaciona-se a relação entre um determinado efeito ERP (potenciais cerebrais relacionados com evento, i.e. mudanças potenciais no electroencefalograma relacionadas em termos temporais com eventos sensoriais ou cognitivos) - o P600 - comosprocessamentossintácticoesemântico.
A Parte III do livro aborda os domínios de interface da sintaxe edamorfologia:aprosódia(cap.13)easestruturasdeinformação (cap.14).Aprosódiaéavaliadanoseupapelcoadjuvantedacons-truçãodeestruturasaoníveldacompreensão.Quantoàsestruturas deinformação,éanalisadaaimportânciadainformaçãonovaeda informaçãodadanoprocessamentoquerdaprosódia,querdasintaxe edamorfologia.Especificamente,aborda-seaco-referênciaeosseus correlatosneuronais.
AparteIVdedica-seàdiscussãodemodelosneurocognitivosdo processamentosintácticoemorfológicoeàavaliaçãodefuturaslinhas de investigação. O capítulo 15 centra-se nos modelos explicativos sobreoprocessamentodacompreensão.Osmodelosfocadossão:o modelodeclarativo/procedimentaldeUllmann;oquadrodememória, unificação e controlo de Hagoort; o modelo neurocognitivo da compreensãoauditivadefrasesdeFriederici;eomodeloaumentado dedependênciadeargumentodeSchlesewskyeBornkessel.
Este último modelo, da autoria dos AA. do livro sob escopo, equacionaoprocessamentodeestruturasqueselocalizamnainterface entreasemânticaeasintaxe,comoéocasodaestruturaargumental. Os AA. desenvolvem escalas de proeminência que possibilitam a ligaçãodefunçõeseconstituintessintácticosapapéis-temáticos.Essas escalasoperamcomamarcaçãomorfológicadeCaso,aordemdos argumentos, a animacidade, a definitude/especificidade e a pessoa gramatical.
dalinguagem,énecessáriodesenvolversoluçõesmetodológicas.Uma possívelsoluçãoestáemutilizarníveismaisfinosdeanálisedesses componentes(e.g.frequência,amplitude,fronteirizaçãodafase,etc.), assim como a filtragem mais aguda dos dados e uma maior inter-relaçãoentremétodosneurocognitivosemétodoscomportamentais. Poroutrolado,osAA.chamamaatençãoparaanecessidadedeos métodosneurocognitivosassentarememmodelosteóricosprópriose nãoserestringiremafuncionarcomoumameravalidaçãoounãode modelosteóricosdalinguística.