CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Versão Preliminar de Dissertação de Mestrado apresentado por
RENATO DE CASTILHO GOMIDES
Título
A INTUIÇÃO NA FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR.
Professor Orientador Acadêmico
SYLVIA CONSTANT VERGARA
Versão Preliminar aceita, de acordo com o Projeto aprovado em:
DATA DA ACEITAÇÃO:______/_____/_____
Dedico
Ao meu filho, Felipe Diego, pelas incontáveis horas que deixei de ser pai e amigo, mas de quem sempre obtive inegáveis apoio, carinho e compreensão.
Ao meu saudoso pai, Olavo – in memoriam – que sempre está presente na minha vida.
À minha querida professora Sylvia Constant Vergara pela orientação e apoio precioso e, acima de tudo, pela compreensão nesta minha jornada acadêmica.
Ao final de mais esta etapa, gostaria de demonstrar minha gratidão a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para que eu concluísse meu mestrado.
Ao Vice-Almirante (EN) César Pinto Corrêa, Diretor do Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro e ao Capitão-de-Mar-e-Guerra (EN) Francisco Roberto Portella Deiana, Vice-diretor, pela autorização e incentivo inicial, sabedores que os conhecimentos adquiridos no mestrado contribuiriam para meu engrandecimento pessoal e profissional e, por conseguinte, para o da Marinha do Brasil.
À minha querida e amada orientadora, Professora Sylvia Constant Vergara: sua orientação me provocou reflexões e facilitou minha aprendizagem, permitindo meu desenvolvimento emocional, intelectual e espiritual. Nas nossas inúmeras idas-e-vindas, provou-me que a vida não
é um processo linear. Sinto-me enormemente gratificado e honrado com a nossa convivência e por todo apoio, compreensão, paciência e amizade que proporcionou e que me proporciona diariamente.
Ao meu saudoso pai, Olavo – in memoriam – à minha mãe Maria Tereza e aos meus irmãos Cássio e Leonardo e todos os meus oito sobrinhos, que mesmo não estando perto em
corpo, sempre me confortam em espírito, meu muito obrigado pelo carinho e afeto.
Aos meus colegas e amigos da Marinha, que acompanharam minha jornada: servidores civis e militares da Divisão de Gestorias de Material, do Departamento de Controle Financeiro e
do Departamento de Subsistência, meu obrigado e meu pedido de desculpas. Realizar um mestrado não é fácil e, por vezes, meu pensamento estava voltado para meus estudos em detrimento do meu trabalho. Todos tiveram a percepção e a paciência em compreender minhas falhas e omissões. Agradeço e retribuo este apreço: Jaqueline, Beth, Dirceu, Teixeira, Cristina, Creuza, Márcio, Ingrid, Alexandre, Govasky, Marcos, Júlio, Arcanjo, Alyne e Carol Niquini, meu
muito obrigado.
Patrícia), Marcelo Pimenta (e Janaína), Márcio, Marco Aurélio, Roberto (e Adélia), Robson, Rosa Marina e às meninas superpoderosas, Alexandra, Ana Paula, Gabriela e Luciana. O meu muito obrigado a vocês pelos momentos que compartilhamos e pelo privilégio indescritível de desfrutar da amizade que construímos em tão pouco tempo de convivência e que será eterna.
Aos funcionários da Ebape, que dignificam o nome da instituição, e que em muitas situações se mostraram muito mais como amigos do que como funcionários da FGV. Agradeço, especialmente, ao Joarez, José Paulo, Georgina, Cordélia, Joaquim, Ronaldo, Vera Lúcia, Vânia,
Aline e Denise, bem como a todos os funcionários da biblioteca pelo constante apoio.
Aos 44 professores da Ebape que responderam o questionário e que gentilmente concederam um pouco de seu precioso tempo na realização da pesquisa de campo: todos foram extremamente atenciosos e receptivos. Não posso deixar, no entanto, de prestar especial agradecimento aos professores Alketa Peci, Bianor Cavalcanti, Eduardo Ayrosa e Marcelo
Milano, que não mediram esforços e souberam me valorizar como aluno e pessoa.
Ao meu filho, Felipe Diego Murta Gomides: obrigado por tudo. Você é a fonte de minha inspiração e a razão da minha existência.
Ao meu time do coração, Clube Atlético Mineiro, que me traz tantas alegrias. Vivas ao Galo!
A todas as pessoas que não citei diretamente, mas que certamente também caberiam perfeitamente nesse agradecimento.
E, a Deus, que iluminou meu caminho e a cada obstáculo me faz acreditar Nele e agradecer o dom da vida.
O que realmente vale é a intuição.
Este estudo foi motivado pela percepção de que conhecimentos mais subjetivos não estão sendo
contemplados na formação acadêmica do administrador, entre eles a intuição. Ao mesmo tempo
em que se constata que a ciência positivista e a racionalidade instrumental permeiam o ensino
administrativo, espaços para novas formas de conhecimento estão se abrindo, embora as críticas
ao ensino da Administração sejam cada vez mais contundentes.
Temos, assim, um paradoxo: de um lado, uma faculdade subjetiva negligenciada e pouco
desenvolvida – a intuição – e, do outro, a formação acadêmica do administrador, objetiva e
racional.
A problemática investigada por essa dissertação examina esse hiato no sentido de responder às
seguintes perguntas: sendo a intuição um importante componente das decisões administrativas,
seu desenvolvimento está presente na formação acadêmica dos administradores? Se está, como o
desenvolvimento da intuição se manifesta nesse contexto? Responder a essas questões é o
objetivo final do presente trabalho.
O estudo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro explicita seus objetivos, as suposições
que nortearam a dissertação, a delimitação e a relevância do estudo, bem como a metodologia
empregada. No segundo investiga-se a intuição pelas dimensões filosófica, psicológica e
administrativa. É apresentada, também, uma crítica ao processo intuitivo, a partir dos
pensamentos de Simon e Bazerman, bem como o resultado de estudos sobre intuição
desenvolvidos por Parikh, Neubauer e Lank; Vergara e Vergara e Branco. No terceiro capítulo é
discutida a formação acadêmica do administrador, contextualizando-se as racionalidades
visão filosófica sobre o tema é apresentada a partir dos pensamentos de MacIntyre. O quarto
apresenta a análise dos resultados da pesquisa de campo, a partir do questionário aplicado aos
professores da EBAPE/FGV. O quinto e último capítulo consolida as conclusões do estudo e
A presente dissertação procura identificar se a intuição, sendo um importante componente das decisões administrativas, está presente na formação acadêmica dos administradores e como ela se
manifestaria nesse contexto. Para o estudo foi realizada pesquisa de campo, por meio de 44 questionários mistos com os professores da EBAPE/FGV. Os dados foram tratados quantitativamente, com a construção de tabelas que nos permitiram inferir sobre o assunto, e qualitativamente, utilizando o método de análise do conteúdo. O estudo identifica que a intuição está presente no processo decisório e na tomada de decisão gerencial, porém sem ter seu
desenvolvimento consubstanciado na formação acadêmica do administrador. Desse modo, é necessário um repensar na construção do conhecimento e no ensino administrativo, possibilitando uma formação acadêmica mais holística, que atenda aos anseios e as necessidades da sociedade, com rigor e relevância.
Abstract
This dissertation present search to identify the intuition, being a component important of the administrative decisions, always present in the academic formation of the managers and as it would be manifested in that context. For the study was carried out field work, by means of 44
mixed questionnaires with the EBAPE/FGV professors. The facts were treated quantitative, with the construction of tables that permitted us infer about the matter, and qualitative, utilizing the approach of analysis of the content. The study identifies that the intuition is present in the decisive trial and in the managerial decision-making, however with this development have not
Lista de tabelas:
Tabela 1 – Síntese estatística das respostas à pergunta “As decisões administrativas são
tomadas com base...” 70
Tabela 2 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Na sua opinião, o que é intuição?”
74
Tabela 3 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Caso a resposta anterior seja
positiva [o desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?],
como ela se manifesta no contexto acadêmico?” 77
Lista de figuras:
Figura 1 – Correlação entre os elementos constitutivos de racionalidade e a natureza de
cada processo organizacional 55
1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA ...12
1.1 AS QUESTÕES DESENCADEADORAS DA PESQUISA ... 12
1.2 SUPOSIÇÕES ... 13
1.2.1 Da racionalidade administrativa ... 14
1.2.2 Da tomada de decisão ... 14
1.2.3 Da intuição... 15
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO... 16
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ... 16
1.5 TIPOS DE PESQUISA... 17
1.6 UNIVERSO E AMOSTRA ... 17
1.7 COLETA DE DADOS ... 18
1.8 TRATAMENTO DOS DADOS... 18
1.9 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ... 20
2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO ...21
2.1 A DIMENSÃO FILOSÓFICA DA INTUIÇÃO ... 23
2.2 A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DA INTUIÇÃO... 27
2.3 A DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA INTUIÇÃO ... 31
2.3.1 O processo decisório e a tomada de decisão gerencial... 31
2.3.2 A intuição na administração ... 33
2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN ... 37
2.5 RESULTADOS DE ESTUDOS SOBRE INTUIÇÃO: A PESQUISA DE PARIKH, NEUBAUER E LANK (1998), VERGARA (1993) E DE VERGARA E BRANCO (1994) ... 41
3 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR ...48
3.1 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E SUAS CARACTERÍSTICAS: CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO ATUAL... 48
3.2 A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL: ÚNICO VIÉS ACADÊMICO? ... 50
3.4 O CAMINHO DAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO ... 56
3.4.1 Uma visão filosófica sobre o tema: o pensamento de Alasdair MacIntyre .. 60
3.5 O ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL... 63
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ...69
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA UMA NOVA AGENDA DE PESQUISA79 5.1 CONCLUSÕES ... 79
5.2 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES ... 87
REFERÊNCIAS ... 89
APÊNDICE – QUESTIONÁRIO APLICADO ... 95
ANEXO A – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 300 DO CFA ... 97
1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA
Este capítulo apresenta as questões que nortearam a pesquisa, introduz o papel da intuição
no campo organizacional e a sua relação na formação acadêmica do administrador, tema da
dissertação, as suposições que a direcionaram, a delimitação e a relevância da pesquisa, bem
como a metodologia empregada, isto é, os tipos de pesquisa realizada, o universo, a amostra e os
sujeitos da pesquisa, as formas de coleta e tratamento de dados que foram utilizados e as
limitações que tais escolhas apresentaram.
1.1 AS QUESTÕES DESENCADEADORAS DA PESQUISA
Embora a ciência positivista e a racionalidade instrumental da Administração tratem a
intuição com descrédito, ultimamente, os espaços para esse conceito estão se abrindo. Assim
como há novos caminhos e formas alternativas de conhecimento da realidade social, como remete
o assunto que é tratado na dissertação, as críticas ao ensino da Administração são cada vez mais
contundentes ao não vislumbrar esses caminhos alternativos de conhecimento.
Do ponto de vista da realidade atual brasileira no campo da Administração, questionam-se
as Resoluções Normativas 300 e 301 do Conselho Federal de Administração (CFA), que
restringem a área de atuação de profissionais nos cursos de Administração.1
Entretanto, as críticas aos cursos de Administração têm respaldo tanto no contexto
brasileiro quanto no internacional. Sobre o assunto, já trataram Ackoff (1992), Mintzberg (2004),
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Peters e Waterman (1986), Rowan (1986), entre outros.
Na visão brasileira, destacam-se Andrade e Amboni (2004), Braga (1987), Fischer (1993), Fleury
(1983), Guerreiro Ramos (1983a, 1983b, 1989), Kliksberg (1988, 1993), Leitão (1993a, 1993b,
1993c), Motta (1988, 1999), Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993), Prestes Motta (1983), Semler
(1988), Silva (1971), Vergara (1991, 1993) e Vergara e Branco (1993, 1994), entre outros.
Vivemos em uma sociedade complexa em que as mudanças são cada vez mais aceleradas.
Os decisores organizacionais estão diante de inúmeras informações com respaldo de toda ordem
tecnológica. Números, planilhas e cálculos matriciais inundam a organização.
Até que ponto ter mais informações contribui para a tomada de uma adequada decisão?
Será que não existem outras formas de se decidir? Estará o curso de Administração contribuindo
para a formação de decisores organizacionais?
Temos, assim, um paradoxo: de um lado, uma faculdade subjetiva negligenciada e pouco
desenvolvida – a intuição – e, do outro, a formação acadêmica do administrador, objetiva e
racional.
A problemática investigada por essa dissertação examina esse hiato no sentido de
responder às seguintes perguntas: sendo a intuição um importante componente das decisões
administrativas, seu desenvolvimento está presente na formação acadêmica dos administradores?
Se está, como o desenvolvimento da intuição se manifesta nesse contexto? Responder a essas
questões é o objetivo final do presente trabalho.
1.2 SUPOSIÇÕES
Vergara (2004, p. 28) ensina que “[...] suposições, são a antecipação da resposta ao
problema. [...] A investigação é realizada de modo que se possa confirmar ou, ao contrário,
refutar a [...] suposição.” Nesse sentido, parte-se três suposições:
1.2.1 Da racionalidade administrativa
A Administração Científica exerce ainda grande influência nas organizações. A visão
mecanicista, limitada tão-somente pela produtividade e pelo desempenho, é uma realidade.
Organizações caracterizadas como máquinas são uma constante, bem como o são as suas
estruturas altamente hierarquizadas e com pouca ou nenhuma autonomia das pessoas.
O princípio da racionalidade foi importado para o ensino e a prática da Administração
fundamentando seu estudo na ordem, no controle, na coordenação, no rigor e na uniformidade.
No entanto, o ambiente organizacional é imprevisível, improbabilíssimo e descontínuo.
Assim, a primeira suposição foi: a racionalidade administrativa está influenciando a
formação acadêmica dos administradores, sendo-lhes negadas formas alternativas de
conhecimento e de tomada de decisão.
1.2.2 Da tomada de decisão
O elemento fundamental da prática gerencial é a tomada de decisão. E é a informação
disponível aos decisores organizacionais que lhes possibilitará decidir.
Vergara (1993, p. 137) afirma que “no processo decisório a informação assume capital
Contudo, as decisões não são tomadas baseadas somente na racionalidade das
informações. Outros conteúdos subjetivos interferem no processo decisório, entre os quais se
destaca a intuição.
Mediante um mundo cada vez mais complexo e acelerado, há necessidade do estilo de
decisão gerencial passar por um redirecionamento, indo do racional e objetivo para o
extra-racional e subjetivo.
Nesse sentido, a segunda suposição foi: o uso da intuição está sendo negligenciado nas
tomadas de decisão dos administradores nas organizações.
1.2.3 Da intuição
Ao se estudar a intuição, não se deve desvalorizar a racionalidade, a razão. É importante
ao indivíduo alcançar o equilíbrio entre a intuição e a razão.
Entretanto, no processo decisório, pode-se não seguir as regras formais da lógica por
ausência ou insuficiência de informações, recorrendo-se a conexões intuitivas.
Assim, a intuição é imprescindível em qualquer prática gerencial.
Portanto, a terceira suposição foi: a intuição é um importante componente das decisões
administrativas, mas seu desenvolvimento não está presente na formação acadêmica dos
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Embora o termo intuição remeta a diversos campos do conhecimento, abrangendo, entre
outros, a Filosofia, a Psicologia e a própria Administração, o presente estudo se concentra em
discutir o termo intuição conectada a uma dimensão filosófica (intuição bergsoniana) e a uma
dimensão psicológica (intuição junguiana); em conectar a intuição ao processo decisório na
prática administrativa; e a discutir se o desenvolvimento da intuição está presente nos cursos de
formação acadêmica dos administradores.
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Em função do que já foi explanado até aqui, é necessário um novo repensar do campo
administrativo e da formação do futuro administrador.
Frente ao novo contexto que se configura, as decisões gerenciais devem buscar um
equilíbrio entre a razão e a intuição. Assim, esta dissertação visa contribuir para essa
reformulação que se faz necessária.
Além disso, seus resultados poderão servir como insumos para as práticas gerenciais no
dia-a-dia, bem como para a reconfiguração da formação acadêmica do administrador.
Para o administrador e os estudantes de administração nos níveis de graduação e
pós-graduação, este estudo procurará desvelar alguns caminhos e instigar outros a serem trilhados.
A comunidade acadêmica terá um estudo que contribuirá para a crítica das práticas
docentes que se desenvolvem e que poderão ser aperfeiçoadas, adequando-se o perfil do futuro
1.5 TIPOS DE PESQUISA
A definição dos tipos de pesquisa que foram utilizados segue a taxonomia proposta por
Vergara (2004), estando a seguir relacionados segundo seus fins e seus meios.
Quanto aos fins, a pesquisa é descritiva, buscando estabelecer correlações entre a tomada
de decisão, a intuição e a formação dos administradores; e explicativa, pois se propõe a esclarecer
o uso da intuição como importante componente na formação acadêmica dos administradores,
pressupondo-se a pesquisa descritiva como base para as explicações advindas.
No que se refere aos meios de investigação, foi realizada uma pesquisa de campo, com
profissionais vinculados a um específico curso de formação do administrador (professores da
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas – EBAPE – da Fundação Getulio
Vargas – FGV) e uma pesquisa bibliográfica, fazendo-se uma revisão da literatura de várias áreas
do conhecimento, como a Filosofia, a Física, a Psicologia, a Administração e a Educação,
buscando-se diferentes interpretações sobre o tema proposto, bem como para direcionar o estudo
e suportar as conclusões a que se chegou.
1.6 UNIVERSO E AMOSTRA
O universo da pesquisa de campo foram os 68 professores da EBAPE – FGV, sediada na
cidade do Rio de Janeiro – RJ.
Adotou-se o método de seleção da amostra por acessibilidade, que não considera a
validade estatística dos resultados. Tal amostragem é compatível com a presente dissertação, pois
acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo.” No caso, teve-se
44 respondentes.
1.7 COLETA DE DADOS
Tendo em vista a correlação dos objetivos aos meios para serem alcançados, os dados
foram, assim, coletados:
a) pesquisa bibliográfica em livros, dicionários, revistas especializadas, jornais, teses e
dissertações com dados pertinentes ao assunto; e
b) pesquisa de campo, realizada por meio de questionários mistos (ver apêndice) com os
ocupantes dos cargos indicados na seção 1.6.
Com base nas conclusões alcançadas pelas pesquisas bibliográfica e de campo,
procurou-se estabelecer a existência ou não de uma relação entre a formação acadêmica do administrador e
o desenvolvimento da intuição.
1.8 TRATAMENTO DOS DADOS
Como tratamento de dados, dois foram os escolhidos: um, quantitativo e outro,
qualitativo.
As perguntas fechadas do questionário aplicado foram tratadas estatisticamente,
Para as perguntas abertas foi utilizada a análise de conteúdo. Conforme ensina Vergara
(2005, p. 15) “a análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que
visa a identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema.”
Segundo Bardin (1977, p. 9):
[...] a análise de conteúdo oscila entre os dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absolve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não-aparente, o potencial de inédito (do não-dito), retido em qualquer mensagem.
Assim, considerou-se este método o mais indicado, pois se buscou com o estudo
identificar no curso de Administração se a intuição é vista como componente da prática gerencial,
bem como evidenciar a intuição como importante faculdade na busca do conhecimento
organizacional como um todo. Contudo, navega-se em mares pouco desvendados e em múltiplos
campos do saber.
Além disso, a abordagem pela análise de conteúdo presta-se aos fins descritivos e
explicativos e aos de verificação formulados no problema proposto.
No que tange aos procedimentos da pesquisa, seguiu-se as seguintes etapas: revisão da
literatura existente, visando dar suporte ao estudo; coleta de dados, por meio dos questionários
mistos; definição do tipo de grade para a análise de conteúdo, que, no caso, foi o de uma grade
mista, admitindo-se a flexibilidade de inclusão de categorias pertinentes no decorrer do processo
de análise; análise de conteúdo, confrontando-se os resultados obtidos com a teoria que dá
1.9 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
Como o tratamento de dados foi por meio da análise de conteúdo para as perguntas
abertas do questionário aplicado, ele pode ter sido influenciado pela interpretação do pesquisador.
Ressalta-se, contudo, que não existe neutralidade científica.
Com relação ao questionário, embora seja uma importante técnica de obtenção de dados,
possibilitando atingir um grande número de pessoas, ele apresenta algumas limitações. A grande
limitação no presente estudo é que o questionário não ofereceu a garantia de devolução,
implicando diminuição da representatividade da amostra. Outras limitações são a falta de
entendimento correto do que o pesquisador propõe e a objetividade, uma vez que as questões
formuladas podem ter significados diferentes para os sujeitos da amostra. Buscou-se minimizar
tais limitações com um pré-teste. Alerta-se que a realização de entrevistas poderiam enriquecer
ainda mais a dissertação, minimizando as limitações dos questionários.
Embora o autor dessa dissertação tenha partido do pressuposto básico que a EBAPE –
FGV representa uma elite estratégica do ensino em Administração, como o questionário foi
aplicado apenas aos professores dessa instituição, os resultados podem estar enviesados, uma vez
que representam a opinião de apenas uma instituição de ensino superior. Pesquisas em outras
instituições de ensino poderiam minimizar tal limitação.
Este capítulo tratou da apresentação da dissertação, o objetivo da pesquisa e das questões
a serem respondidas, das suposições que direcionaram a investigação, da delimitação e da
relevância do estudo. Foi apresentada também a metodologia da pesquisa: os tipos de pesquisa, o
universo, a amostra e os sujeitos, a coleta e o tratamento de dados, bem como as limitações dos
2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO
Neste capítulo investiga-se o termo intuição sob três dimensões – a filosófica, a
psicológica e a administrativa –, recorrendo-se a diversos autores, visando a esclarecer o seu
significado. A seguir, são apresentados os pensamentos de Simon e Bazerman que criticam o
processo intuitivo. Também são discutidos os resultados de vários estudos sobre intuição.
O filósofo Henri Bergson (apud VERGARA, 1993, p. 151) afirma que “não é fácil
explicar o que é intuição. Ela está no campo da vivência, não da explicação.” Goldberg (1992, p.
19) comenta: “no que se refere à intuição, os obstáculos têm sua raiz em conjecturas
epistemológicas arraigadas, perpetuadas pelas instituições que nos ensinam como usar nossa
mente.” Já Westcott (1968 apud GOLDBERG, 1992, p. 15) escreve que “a palavra final sobre
intuição se encontra tão distante quanto a primeira está num passado remoto.” Burden (1993)
confirma os pensamentos aludidos ao explanar que os esforços para se descrever verbalmente a
significação, natureza e função da intuição estão fadados ao fracasso, pela simples razão de que a
intuição deve ser compreendida pela própria intuição.
Diante dessas constatações, buscou-se respaldo em autores consagrados pela suas
experiências pessoais no campo do saber que já tenham tratado deste assunto tão controverso.
Vergara e Branco (1994, p. 132) dizem:
Apesar de cada vez mais citada no mundo da administração, a intuição parece não encontrar aí elementos consistentes que ajudem a clarificar seu significado, natureza ou mesmo seus momentos de manifestação. Tornou-se indispensável, portanto, buscar a contribuição de outras áreas do saber.
explicação e sem o estabelecimento de relações lineares de causa e efeito. Tem sua origem na consciência vital, segundo o sentido filosófico, ou no inconsciente individual e coletivo, segundo o sentido da psicologia transpessoal.
Corroborando com os autores mencionados, Fisher (1989) afirma que a intuição embora
amplamente usada por pessoas bem sucedidas, é tratada com descrédito, como um “artigo de
mercado paralelo”, pois ela é raramente discutida ou mesmo reconhecida. Para o autor, desde a
“idade da razão”, a intuição caiu em desuso e a maioria das pessoas sente-se envergonhada em
usá-la e mesmo em admitir isso para si mesmas.
Fisher (1989) define intuição como saber algo sem ter consciência disso, uma percepção
súbita, ou seja, um insight sem uma evidência racional ou mesmo lógica. Já Burden (1993),
embora afirme que não é possível rotular o termo intuição, a identifica como uma ordem de
inteligência superior que o homem tem acessibilidade no seu estado de sensibilidade aguda.
Penna (1987) afirma que Popper, embora faça uma crítica à intuição intelectual (que será
abordada na próxima seção), não a rejeita. Popper (1974 apud PENNA, 1987, p. 42) diz:
Persistem, de fato, posturas conservadoras da ciência empírica tradicional como a de
Popper. Ela continua presa a aplicações tecnológicas ou à função do experimento como elemento
de verificação de fatos. Mas nem os defensores mais ferrenhos da suposta objetividade científica
podem descartar as teorias resultantes da Física Quântica. Wilber (1991) nos alerta para a
realidade holográfica oferecida por cientistas como os físicos David Bohm e Fritjof Capra e o
neurocientista Karl Pribram, dentre outros.
Diante da encruzilhada que se apresenta, não há como negar a intuição.
Conforme aduz Wilber (1991, p. 7):
Os fatos reais da ciência, diziam [os cientistas de várias áreas do conhecimento – físicos, biólogos, fisiológicos e neurocirurgiões], os dados efetivos (da física à fisiologia) só parecem fazer sentido se presumimos algum tipo de fundamento implícito, ou verificador ou transcendental subjacente aos dados explícitos.
Se a ciência experimental começa pela intuição, pode-se concluir que o intuitivismo é a
base fundamental de todos os conhecimentos humanos oriundos das ciências empíricas.
Visando uma adequada categorização da intuição, ela será dividida em três dimensões: a
dimensão filosófica, a dimensão psicológica e a dimensão administrativa.
2.1 A DIMENSÃO FILOSÓFICA DA INTUIÇÃO
Morente (1980) afirma que a filosofia é o estudo do conhecimento universal. Embora a
exemplo, a ontologia e a gnosiologia, esta seção tratará, especificamente, da intuição, que permite
ao homem penetrar na essência da verdade, e, particularmente, da intuição bergsoniana.
Para Morente (1980) a intuição é o método fundamental da filosofia moderna. O autor
afirma que a intuição:
Consiste num único ato do espírito que, de repente, subitamente, lança-se sobre o objeto, apreende-o, fixa-o, determina-o como uma só visão da alma. Por isso a palavra ‘intuição’ tem relação com a palavra ‘intuir’, a qual significa, em latim, ‘ver’. Intuição vale tanto como visão, como contemplação. A intuição vai diretamente ao objeto. (MORENTE, 1980, p. 48)
Morente enumera dois tipos de intuições. A primeira é a intuição sensível que é a
comunicação direta entre o eu e o objeto, caracterizada como uma intuição de caráter mais
formal. A segunda é a intuição espiritual, que é aquela intuída diretamente pelo espírito, sem
necessidade de demonstração, sendo essa intuição, a observada pelos filósofos. Será por meio da
intuição espiritual que se toma contato com a realidade essencial e existencial dos objetos
(MORENTE, 1980).
A intuição espiritual se divide em três classes: intelectual, emotiva e volitiva. Morente
assim as denomina:
Por meio da intuição intelectual, propende o pensador filosófico a desentranhar aquilo que o objeto é. Por meio da intuição emotiva, propende a desentranhar aquilo que o objeto vale, o valor do objeto. Por meio da intuição volitiva, desentranha, não aquilo que é, senão que é, que existe, que está aí, que é algo distinto de mim. A existência do ser manifesta-se ao homem mediante um tipo de intuição predominantemente volitiva. (MORENTE, 1980, p. 51)
O autor comenta que existem três modalidades clássicas de se explicar a intuição: a
Bergson, segundo Morente (1980), diz que a filosofia não pode ter outro método que o da
intuição, uma vez que para aquele autor a atividade intuitiva se contrapõe à atividade intelectual,
essa estudada pelos cientistas, denotando um aspecto superficial e falho da realidade. Já a
atividade intuitiva se detém ao aspecto profundo e real do pensamento, que é o movimento e a
continuidade do fluir e do mudar, ao qual só com a intuição se pode chegar.
A intuição de Dilthey é caracterizada como volitiva. Morente (1980) comenta que tanto
para Dilthey como para Bergson, o intelectualismo, o idealismo, o racionalismo, ou seja, todos
aqueles sistemas filosóficos para os quais a última e mais profunda realidade é o intelecto, o
pensamento, a razão, são falsas e insuficientes. Para Dilthey, não é a razão que nos descortina a
realidade das coisas. Será por meio da utilização da intuição que, como agentes, se descobrirá a
existência das coisas.
Já a intuição de Husserl, chamada de intuição fenomenológica:
[...] consiste em olhar para uma representação qualquer, prescindindo de sua singularidade, prescindindo do seu caráter psicológico particular, colocando entre parênteses a existência singular da coisa; e então, afastando de si essa existência singular da coisa, para não procurar na representação senão aquilo que tem essencial, procurar a essência geral, universal, na representação particular. (MORENTE, 1980, p. 56)
A intuição bergsoniana será particularizada, uma vez que o autor dessa dissertação,
constatou que essa linha de pensamento é a que mais se identifica com o escopo do trabalho, pois
Bergson ao perscrutar os caminhos da intuição, o faz criticamente, na tentativa de pesquisar o
verdadeiro conhecimento humano, em oposição ao domínio do pensamento mecânico e imediato
da ciência.
Contudo, cabe o alerta de Robson Alves (2003) de que a intuição filosófica, e
reforça o caráter de magia que o termo pode remeter. A intuição é vista como um impulso que
estabelece um contato direto com o mundo exterior, ou seja, uma manifestação imediata de uma
condição interior da existência.
Bergson (1971, p. 264) utiliza-se de uma metáfora na sua tentativa de dizer o que é
intuição:
A intuição é uma luz quase apagada, que somente de quando em quando se reaviva, por alguns instantes apenas. Mas reaviva-se, realmente, quando está em causa um interesse vital. Sobre a nossa personalidade, sobre a nossa liberdade, sobre o lugar que ocupamos no conjunto da natureza, sobre a nossa origem e talvez também sobre o nosso destino, a intuição projeta uma luz vacilante e débil, mas que devassa não obstante a obscuridade da noite em que nos deixa a inteligência.
Destaca-se que o filósofo separa inteligência de intuição. Para ele, o papel da intuição é
emanar o espírito para a superfície, para que nela, se apresente como inteligência, alcançando-se
uma ciência livre de seu mecanicismo e pragmatismo. Bergson (apud ALVES, Robson, 2003)
afirma, assim, que a intuição só será comunicada por meio da inteligência.
Para Robson Alves (2003) intuir filosoficamente é conseqüência do aprendizado da
realidade na forma da consciência de penetrar na vida, como realidade individual e universal,
evidenciando ao ser humano que a função do “eu profundo” é a interação com a vida em sua
plenitude.
Ao expender sobre as observações de Bergson sobre a ciência moderna, Robson Alves
(2003) comenta que, ao se utilizar a intuição, o filósofo procura libertar a vida do domínio de um
pensamento exato e regrado, ou seja, de uma lógica que impõe ao pensamento o hábito de ser
mecânico, de uma inteligência pragmática que privilegia somente a matéria. Para o autor
enquanto na filosofia é o espírito que dá a direção, na ciência é a matéria, ou seja, na filosofia, o
real e sua apreensão são o modo de se conhecer o ser; na ciência o que se faz é uma interpretação
Bergson não confere à intuição um caráter vago e abstrato, pois para ele não há a
necessidade para se chegar à intuição de se transportar para fora dos domínios do sentido e da
consciência (BERGSON, 1974). A intuição bergsoniana articula-se com a ciência numa relação
em que o desenvolvimento desta última não pressupõe a depreciação da primeira, ou seja, a
intuição está atrelada à noção de movimento em direção ao reencontro da ciência.
Já Kant (1966) ao questionar a razão pura, advoga que a intuição é a relação imediata
entre o conhecimento e o objeto podendo-se empregar a faculdade cognoscitiva humana como
receptora de impressões e criadora de idéias.
Assim, tanto para Bergson como para Kant, a intuição é uma percepção simultânea de
objetos cuja origem está na consciência vital.
2.2 A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DA INTUIÇÃO
No campo da psicologia moderna, Carl Jung foi, talvez, o que mais se referiu à intuição.
A presente seção se concentra nos ensinamentos junguianos, corroborados pela depuração de
Goldberg (1992), Schultz (1998) e Vergara (1991).
Jung (1991, p. 36) define intuição como:
Schultz (1998), decantando o conceito de Jung para intuição assevera que para este a
intuição é uma capacidade inconsciente de se perceber possibilidades, de se ver o quadro geral ao
mesmo tempo em que se volta para a situação local.
Segundo a teoria dos tipos psicológicos de Jung (1987) a personalidade e o
comportamento podem ser entendidos em termos de quatro funções primordiais da mente:
pensamento, sentimento, sensação e intuição. Ele resume as quatro funções da seguinte maneira:
o pensamento é a função de cognição intelectual e formação de conclusões lógicas; o sentimento
é a função de avaliação subjetiva, que informa, por meio das cargas emocionais que cria, o valor
das coisas; na sensação estão todas as percepções feitas pelos órgãos dos cinco sentidos; e como
intuição, considera-se a percepção por meio do inconsciente ou a percepção de conteúdo
inconsciente, ou seja, uma forma de percepção indireta por meio do inconsciente, incorporando
idéias e associações que o inconsciente acrescenta às percepções do mundo exterior. Na sua
teoria, enquanto sensação e intuição são funções da percepção, pensamento e sentimento são
funções de julgamento, ou seja, a percepção determina o que sabemos, o processo de tomada de
consciência das coisas e o julgamento determina o que fazemos em relação ao que sabemos, ou
seja, envolve os processos por meio dos quais chegamos a conclusões a respeito do que foi
percebido.
Jung escreve que qualquer tipo isoladamente não é suficiente para que se tenha um
conhecimento acerca de si mesmo ou do mundo externo. Ele diz que:
Vergara (1991) nos esclarece que, segundo Jung, o pensamento e a sensação são
conscientes; já o sentimento pode ser consciente ou inconsciente, enquanto a intuição é
inconsciente. Para a autora, a consciência é a referência dos conteúdos psíquicos do ‘eu’,
entendido este como o complexo de representações que constitui o centro do campo consciente
do indivíduo, enquanto inconsciente são as referências do ‘eu’ não percebidas como tal. Enquanto
o pensamento e o sentimento são funções racionais, a sensação e a intuição são irracionais,
porque se baseiam não em juízos racionais, mas na intensidade da percepção.
Jung (1987) também introduz os conceitos de introversão e extroversão na sua
investigação sobre o homem como indivíduo e ser social. Esses conceitos falam do movimento
do interesse no sentido do objeto para o sujeito e o interesse deste em seus próprios processos
psicológicos e, no outro caso, do movimento do interesse no sentido do objeto. Por conseguinte,
cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado ou para o seu interior
ou para o exterior. Enquanto que a energia dos introvertidos segue na direção do mundo interno
do sujeito, a energia dos extrovertidos é mais focalizada no mundo externo. Para o autor,
ninguém é absolutamente introvertido ou extrovertido. Cada pessoa tende a favorecer uma ou
outra atitude de acordo com a sua adeqüabilidade com as situações que ocorrem. Essas situações
são mutuamente exclusivas, não sendo possível adotar ambas ao mesmo tempo. Não há uma
maneira melhor do que a outra, e o ideal é ser flexível, utilizando-as quando se fizer necessário.
Jung (1977, p. 92) sustenta que “imaginação e intuição são auxiliares indispensáveis ao
nosso entendimento [...] [exercendo na ciência] um papel de importância sempre crescente que
suplementa o da inteligência racional na sua aplicação a problemas específicos.” Contudo, o
psicólogo salienta que apesar da intuição agir por meio do inconsciente, torna-se possível mais
tarde reconstruir o processo lógico pelo qual se teria chegado aos mesmos resultados alcançados
quando se reduzem as intuições a uma apreciação exata dos fatos e das suas conexões lógicas”
(JUNG, 1977, p. 92).
Entretanto, Jung (apud GOLDBERG, 1992) comenta sobre a dificuldade de se explicar a
intuição, uma vez que nela, um conteúdo se apresenta todo e completo, sem termos a capacidade
de explicar ou descobrir como esse conteúdo veio à existência, sendo uma espécie de apreensão
instintiva, não importando qual o seu conteúdo.
Vergara (1991) coaduna dessa interpretação, pois para a autora tanto Bergson como Jung
acreditam que é difícil definir a essência da intuição. No entanto, eles sustentam que a intuição é
uma visão do todo que apreende e configura o objeto, que fornece referências e relações
impossíveis de serem obtidas pelas outras funções e que aspira à apreensão das possibilidades
máximas.
Schultz (1998) faz uma analogia do pensamento junguiano com o de Kant e Bergson:
enquanto Kant pensava que a intuição sintetizava o conhecimento passado e o presente e Bergson
a revelava como uma imagem total, Jung dizia que a intuição não era somente uma manifestação
metafísica, mas também, um processo ativo de se perceber no mundo físico. Vergara (1991) tem
o mesmo pensamento ao observar que termos como representações e visão do todo, presentes em
Kant e Bergson, também são encontrados em Jung, que acrescenta a eles o conceito de
2.3 A DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA INTUIÇÃO
Para uma adequada análise da dimensão administrativa intuitiva, se faz mister, a
princípio, investigar o processo decisório e a tomada de decisão gerencial. Feito esse exame, será
desenvolvida a dimensão proposta na seção.
2.3.1 O processo decisório e a tomada de decisão gerencial
Um processo clássico de tomada de decisão estende-se da identificação de um problema
até a concretização de uma proposta de solução encontrada. Pode-se dividi-la em quatro fases: a
primeira é a identificação de um problema, ou seja, a análise e avaliação de uma situação, o
esclarecimento e definição do conteúdo exato do problema e a determinação do objetivo
preliminar; a segunda fase é a busca por alternativas de ação e a coleta de informações sobre os
objetivos e parâmetros de decisão, com a devida projeção das conseqüências; a fase seguinte é a
tomada de decisão, por meio da análise das conexões e relações entre os vários problemas e
variáveis, construindo-se um plano apropriado, e na escolha dos níveis de ação das alternativas; a
última fase é a concretização, ou seja, a execução das alternativas escolhidas com a posterior
coleta das informações implementadas. O objetivo finalístico desse processo decisório é a
capacidade de se decidir certo num contexto de incertezas. Contudo, nem sempre se chega à
convicção da certeza pelo caminho lógico e racional.
Leitão (1993a) preconiza que a Teoria da Decisão tornou-se preponderantemente
prescritiva e normativa, sob a influência da Teoria Clássica da Administração, e dominada por
racional escolha, entre as alternativas possíveis, o melhor curso de ação com o objetivo de
melhorar a eficiência, ampliando-se, dessa maneira, a racionalidade.
Para Motta (1988, p. 88):
O processo decisório gerencial é normalmente retratado como fluido, variado, fragmentado, de curto prazo e não-programável. Essas conclusões, que coincidem também com as perspectivas desenvolvidas em pesquisas sobre o processo decisório, contradizem a maioria dos textos acadêmicos, oriundos das perspectivas funcionalistas de planejamento organizacional que descrevem a função gerencial como racionalmente programável, no sentido da definição de objetivos e do controle para obtenção de resultados.
Motta (1988), ao perscrutar esse processo conclui que ele é fragmentado e as ligações
entre os problemas e as soluções são assimétricos. Além disso, o autor afirma que o trabalho do
administrador é muito mais diversificado do que a mera dedução de formulação de políticas,
planejamentos e estratégias organizacionais.
A decisão é a base de todo o processo organizacional. No entanto, teóricos e
pesquisadores ainda sugerem a inexistência de uma teoria articulada que apresente uma
abordagem global sobre a questão do processo decisório nas organizações.
O que se pode afirmar é que as decisões não são baseadas apenas no seu aspecto racional
e objetivo envolvendo múltiplas dimensões. Tal concepção abre espaços para a irracionalidade,
ou seja, a emoção, o instinto, o impulso e para o não-racional.
Gladwell (2005) comenta que a tomada de decisão bem-sucedida depende de um
equilíbrio entre o pensamento deliberado e o instintivo e que para aquelas serem acertadas
depende-se da frugalidade, uma vez que o autor defende que “até mesmo [...] os problemas mais
complexos possuem um padrão inerente identificável”, ou seja, “sobrecarregar os tomadores de
decisões com informações dificulta a identificação desse padrão, ao invés de facilitá-la. Para
Admite-se, assim, no estudo ora empreendido, que variadas conexões – racionais ou não –
possam interagir no processo de tomada de decisão, ou, como afirma Leitão (1993a), que a
capacidade decisória de uma pessoa envolve coração, mente, emoção, intuição e intelecto. Os
processos que envolvem a tomada de decisão são, portanto, mais relacionais e holísticos do que
ordenados e seqüenciais, e mais intuitivos que intelectuais.
Infere-se, desse modo, que para a capacidade gerencial ser entendida em sua totalidade, há
a necessidade de se perscrutar tanto a dimensão racional como a cognitiva e a afetiva dos
indivíduos, pois são, indubitavelmente, indissociáveis.
É o que comenta Gladwell (2005) ao afirmar que a qualidade das decisões irá melhorar se
aceitarmos a natureza misteriosa dos julgamentos instantâneos.
Cabe, no entanto, deixar o alerta de Goldberg (1992, p. 28-29):
Uma abordagem exclusivamente racional-empírica à resolução de problemas e a tomada de decisões não nos possibilitará tratar adequadamente de considerações essenciais, porém não mensuráveis, como valores, princípios morais e vontade humana. Também encoraja uma mentalidade rasa que não consegue ver além de benefícios estreitos e mensuráveis. [...] Nós reduzimos a incerteza ao desconsiderar o imprevisível e espremer variáveis com múltiplos significados e nuanças sutis em compartimentos definidos, porém artificiais. E muitas vezes tendemos demais a analisar o passado porque o passado é mais fácil de quantificar.
2.3.2 A intuição na administração
Inicialmente, é necessário evidenciar o que, realmente, é a atividade gerencial.
Mintzberg (1990, p. 223) diz que “[...] ao se perguntar a um gerente o que ele faz, ele
prontamente responderá que: planeja, organiza, coordena e controla. Logo a seguir, passe a
observar o que ele faz. Não se surpreenda se você não conseguir encontrar nada do que ele
Rowan (1986) afirma que o gerenciamento não é uma ciência exata, definida como a arte
de se tomar decisões sem ter informações suficientes, pois para o autor até o empresário mais
ponderado às vezes se vê obrigado a agir rapidamente, baseado em impressões íntimas e
nebulosas.
Segundo Motta (1999, p. 26):
A gerência é a arte de pensar, de decidir e de agir; é a arte de fazer acontecer, de obter resultados. Resultados que podem ser definidos, previstos, analisados e avaliados, mas que têm de ser alcançados através das pessoas e numa interação humana constante.
De um lado, pode-se tratar a gerência como algo científico, racional, enfatizando as análises e as relações de causa e efeito, para se prever e antecipar ações de forma mais conseqüente e eficiente. De outro, tem-se de aceitar a existência, na gestão, de uma face de imprevisibilidade e de interação humana que lhe conferem a dimensão do ilógico, do intuitivo, do emocional e espontâneo e do irracional. Dirigentes devem entender a gestão moderna em ambos os sentidos.
Desenvolver e adquirir habilidades tanto para enfrentar o ambiente que o cerca quanto os
seus conflitos internos parece ser a rotina de quem opta pela tarefa de gerenciar. Há de se criar
formas para lidar-se com as novas solicitações organizacionais e do indivíduo. As pessoas estão
exigindo serem tratadas como sujeitos em seu próprio desejo e realização. O trabalho começa a
apresentar a perspectiva de ser um espaço onde se possa externalizar os valores pessoais, as
potencialidades, a criatividade, bem como o descontentamento, a insatisfação e a angústia por
situações vivenciadas, em prol do aprimoramento da tão comprometida relação indivíduo–
organização. De acordo com Motta (1999) as habilidades gerenciais contemporâneas têm que ser
desenvolvidas dentro de uma perspectiva de frugalidade, com base tanto na arte de julgamento
quanto na ciência dos fatos.
O grande problema de se falar sobre intuição na administração pode ser sintetizado pelo
O objetivo declarado de Isenberg era levar aos administradores algo que aliviasse o ônus da discrepância entre o modo como se ‘esperava’ que pensassem e a maneira como de fato processavam informações. Ele descobriu que a maioria dos administradores favorecia antes as abordagens intuitivas do que as mais analíticas, embora grande parte deles acreditasse que não era assim que as coisas normalmente se passavam.
Goldberg (1992), coadunando o pensamento de Schultz, assevera que apesar das
evidências, nos círculos acadêmicos e científicos existem muitos que insistem que a intuição não
tem nenhuma participação significativa no processo da descoberta ou da tomada de decisões: para
essas pessoas, o processo de conhecer é mecânico e os cientistas e executivos que elogiam a
intuição estão sendo indulgentes num sentido poético e romântico, talvez para contrabalançar sua
imagem pública de insensíveis.
Contudo, Goldberg (1992) afirma que existe um forte movimento na atualidade que
reconhece a intuição como uma faculdade mental natural e um elemento-chave na resolução de
problemas e na tomada de decisões.
Segundo Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993) é a partir da constatação que o modelo
racional-analítico aplicado ao processo decisório não consegue abarcar a complexidade dos
fenômenos contemporâneos que se inicia a assimilação do conceito de intuição.
Para Motta (1988, p. 78):
A teoria contemporânea de decisão gerencial procura demonstrar o valor do senso comum, da simplicidade e do juízo das pessoas, através do uso ativo dos instintos e percepções individuais. Refere-se muito à decisão intuitiva, isto é, àquela que não se baseia ou mesmo contradiz a lógica dos fatos explicitamente conhecidos e sistematizados. A intuição é vista como um impulso para ação em que não se faz uso do raciocínio lógico.
É nessa mesma linha de pensamento que Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993) afirmam
que o interesse no estudo da intuição se intensifica com a observação da falência dos modelos
organizacional. Esses autores conceituam a intuição da moderna teoria gerencial como uma
faculdade humana capaz de permitir o alcance dos objetivos de eficiência e eficácia, sem a
mediação de processos reflexivos ou discursivos, ou seja, as decisões tomadas sob sua égide
caracterizam-se justamente por ignorar, ou mesmo subverter, a estrutura lógica que sustenta as
teorias e os modelos de decisão dominantes.
Motta (1988, 1999) diz que a intuição proporciona uma visão global para os dirigentes,
capacitando-os a produzir idéias que se sobrepõem à lógica dos fatos, sendo uma força reativa a
imprevisibilidade e as contradições das empresas modernas.
Estudos já realizados por diversos autores, como Kotter (1982 apud KLIKSBERG, 1993),
Leitão (1993a), Mintzberg (2004), Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Parikh, Neubauer e
Lank (1998), Rowan (1986), Schultz (1998), Vergara (1993), Vergara e Branco (1994), entre
outros, já demonstraram que a intuição faz parte do cotidiano das decisões organizacionais.
Utilizar-se da intuição não deve constituir-se em desvalorização da racionalidade ou da
ciência empírica, considerando que é importante para o indivíduo alcançar um equilíbrio entre a
intuição e a racionalidade. Vivemos numa sociedade em busca do sentido da evolução. Isso
significa dizer que todos deveriam ter acesso a um desenvolvimento harmonioso de suas
faculdades na sua totalidade onde cada uma suplementaria e ampararia as forças da outra. A
intuição pode contribuir para o desenvolvimento de um senso de estabilidade interna do
administrador, que pode lhe permitir lidar mais facilmente com as incertezas e conflitos que
surgem. A integração entre a dinâmica interna do sujeito e a dinâmica externa do ambiente pode
ser alcançada por meio da intuição, a qual forneceria uma visão mais abrangente do todo.
É o que nos confirmam Parikh, Neubauer e Lank (1998, p. 71):
diversos tipos de energia física e mental e direcioná-las rumo às metas da organização. Para isso, os administradores vão precisar de algo mais do que cálculos e análises. Eles precisarão ser pessoas intuitivas que possam interpretar seus sentimentos e palpites de uma forma mais clara e apropriada à determinação dos rumos da empresa.
Motta (1999) alerta que há necessidade do questionamento do óbvio e que devemos
procurar alternativas para uma visão do futuro, sob novas bases para as tomadas de decisão e de
ação.
Kuhn (2003) afirma que a transição de um paradigma em crise para um novo está longe
de ser um processo cumulativo obtido por meio de uma articulação do velho paradigma. É uma
reconstrução da área de estudo, a partir de novos princípios, reconstrução essa que altera algumas
das generalizações teóricas mais basilares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e
aplicações. Para o autor, durante esse período de transição, haverá uma grande coincidência entre
os problemas que podem ser resolvidos pelo antigo paradigma e os que podem ser resolvidos pelo
novo.
A partir do pensamento de Kuhn, talvez seja o momento de construirmos uma nova teoria
gerencial que absorva os conceitos de intuição, formulando-se um quadro teórico-conceitual mais
amplo sob uma perspectiva mais crítica que amenize as angústias e incertezas que cercam os
administradores contemporâneos.
2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT
ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN
Herbert Simon, o mais importante e influente representante do racionalismo
comportamentos administrativos por variáveis não-lógicas. Para Simon (1979) o comportamento
do indivíduo no ambiente organizacional é dotado de uma racionalidade própria e as variáveis
não-lógicas são obstáculos ao alcance dos objetivos de uma organização. Para o autor, tais
variáveis representam ruídos que devem ser neutralizados em benefício do atendimento dos
objetivos organizacionais .
Simon (1979, p. 78) pontua que “a racionalidade ocupa-se da seleção de alternativas de
comportamento preferidas de acordo com algum sistema de valores que permite avaliar as
conseqüências desse comportamento.” Especificando mais a racionalidade, ele diz que “a decisão
é objetivamente racional se representa de fato o comportamento correto para maximizar certos
valores numa dada situação” (SIMON, 1979, p. 79).
Para evitar interpretações dúbias, e adequar o conceito de racionalidade às diversas
situações que possam existir, o autor acrescenta cinco advérbios à palavra “racional”. Ele afirma
que uma decisão é subjetivamente racional, se ela maximiza a realização com referência ao
conhecimento real do assunto; é conscientemente racional na medida em que o ajustamento dos
meios aos fins visados constitui um processo consciente; é deliberadamente racional na medida
em que a adequação dos meios aos fins tenha sido deliberadamente provocada (pelo indivíduo ou
pela organização); é organizativamente racional se for orientada no sentido dos objetivos da
organização; e, é pessoalmente racional se visar aos objetivos dos indivíduos (SIMON, 1979)
Simon (1979) diferencia o homem econômico do homem administrativo: aquele, ao
decidir, maximiza seus esforços, selecionando a melhor opção entre as apresentadas, enquanto
que esse contemporiza, buscando um curso de ação satisfatório. Enquanto o homem econômico
acredita lidar com o mundo real, o homem administrativo percebe um modelo simplificado do
Embora o autor classifique as decisões como programadas e não-programadas, estas
imprevisíveis e variáveis, enquanto que aquelas rotineiras e repetitivas, afirma que no futuro, os
computadores irão programar a maioria das decisões consideradas não-programáveis.
Motta (1988, p. 81-82) ao descrever sobre a linha de pensamento de Simon, sintetiza:
O ganhador do prêmio Nobel, Herbert Simon, que desenvolveu a visão de que o indivíduo racional é organizado e institucionalizado, dedicou a maior parte de sua obra á procura da explicação e conciliação de princípios de racionalidade econômica que influenciaram as teorias clássicas de organização e os limites da racionalidade nas escolhas humanas. Construiu, assim, uma teoria administrativa baseada na racionalidade limitada do ‘homem administrativo’ que se opõe à racionalidade do ‘homem econômico’, retratado pela eficiência máxima no alcance dos objetivos organizacionais. Em seus trabalhos, Simon é insistente no fato de serem as organizações influenciadas pelos limites humanos no ato de processar informações. Segundo ele, os indivíduos não maximizam ou otimizam as informações mas satisfazem-se em função do número de informações que suas mentes podem alcançar e processar. Assim, ninguém decide por um processo racional de considerar todas as alternativas possíveis, mas através de simplificações da realidade ajustáveis à mente humana.
Simon (1979) observa que as Ciências Sociais padecem de uma esquizofrenia aguda no
tratamento da racionalidade. Em um extremo, os economistas atribuem uma absurda
racionalidade onisciente ao homem econômico. No outro extremo, os psicólogos sociais tentam
reduzir toda a cognição, a afeto.
Ao realizar novos comentários sobre seu livro, Simon (1997) apregoa que embora se
difunda a noção de que o julgamento intuitivo tem diferentes propriedades do julgamento lógico,
ele ressalta que as evidências indicam que as habilidades intuitivas dos administradores carreiam
uma quantidade considerável de conhecimento absorvida pela experiência e pela participação em
treinamentos. Esse conhecimento é organizado na memória em termos de padrões reconhecíveis e
informações associadas, cuja recuperação ocorre quando o indivíduo reconhece possíveis opções
para um determinado problema. Esse mesmo conhecimento aliado com algumas capacidades
dedutivas do indivíduo, como é o caso da análise meio-fim, permite soluções rápidas e
Simon (1997) afirma que ao invés de existirem dois tipos de gerentes – o intuitivo e o
racional – o mais plausível é a existência de uma série de estilos de resolução de problemas e de
tomada de decisão como resultado da combinação dos dois tipos de habilidades. O que vai
determinar qual estilo usar na resolução de problemas e tomadas de decisão é a natureza do
problema. O autor frisa ainda que não se pode desconsiderar os modelos analíticos, por se
acreditar que a intuição seja um processo separado deles.
Já Bazerman (2004) aborda a questão do processo decisório sob o ponto de vista dos
vieses cognitivos e como eles influenciam o julgamento dos tomadores de decisão, alertando que
as decisões irracionais refletem a confiança em vieses intuitivos que desprezam as possíveis
conseqüências das ações tomadas deliberadamente. O autor é um crítico contundente da
heurística, pois para ele, esse mecanismo conduz as pessoas a se desviarem de um processo de
decisão racional, levando os administradores a cometerem erros sistematicamente induzidos por
vieses. Bazerman identifica treze vieses cognitivos que influenciam as decisões: facilidade de
lembrança (eventos mais facilmente recuperados da memória são considerados mais numerosos
com base na sua recentidade e vividez); recuperabilidade (a avaliação que os indivíduos fazem da
freqüência de eventos sofre um viés no processo de busca da informação na memória);
associações pressupostas (os indivíduos tendem a superestimar a probabilidade de dois eventos
ocorrerem concomitantemente); insensibilidade aos índices básicos (qualquer informação, mesmo
que irrelevante, influencia os indivíduos na sua avaliação da probabilidade de eventos);
insensibilidade ao tamanho da amostra (ao avaliar a confiabilidade de informações amostrais, os
indivíduos freqüentemente falham na avaliação do papel do tamanho da amostra); interpretações
erradas da chance (uma seqüência de dados gerada por um processo aleatório parecerá “aleatória”
mesmo não sendo estatisticamente válida); regressão à média (indivíduos são propensos a ignorar
conjunção (dois eventos ocorrendo concomitantemente – a conjunção – são mais prováveis de
ocorrer do que um conjunto mais global de ocorrências); ajuste insuficiente da âncora (tendência
da mente de ancorar os pensamentos irracionalmente, contra dados e informações que possam ser
relevantes); vieses de eventos conjuntivos e disjuntivos (indivíduos exibem um viés em relação à
superestimação da probabilidade de eventos conjuntivos e à subestimação da probabilidade de
eventos disjuntivos); excesso de confiança (indivíduos tendem a demonstrar excesso de confiança
quanto à infalibilidade de seus julgamentos ao responder a perguntas moderadas ou
extremamente difíceis); armadilha da confirmação (indivíduos tendem a buscar informações
confirmatórias para o que eles acham que é verdadeiro e deixam de procurar evidências
desconfirmatórias); previsão retrospectiva e maldição do conhecimento (superestimar o grau de
previsão de um resultado após o seu prévio conhecimento e não ignorar as informações que
possuem, mas que os outros não possuem, ao prever o comportamento dos outros).
Para o autor as decisões de alto risco não podem ser confiadas na intuição, havendo
necessidade de se reduzir o efeito das distorções provocadas pelos vieses cognitivos, por meio de
decisões baseadas na racionalidade.
2.5 RESULTADOS DE ESTUDOS SOBRE INTUIÇÃO: A PESQUISA DE PARIKH,
NEUBAUER E LANK (1998), VERGARA (1993) E DE VERGARA E BRANCO (1994)
Parikh, Neubauer e Lank (1998) realizaram um levantamento internacional sobre a
intuição. A pesquisa desenvolvida pelos autores foi realizada em nove países (Áustria, Brasil,
Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Japão, Reino Unido e Suécia) com 1.312
serviços. Para os autores, uma questão fundamental é a revitalização das organizações para que
elas possam sobreviver às alterações que estão sendo demandadas pelo atual contexto e sob esse
pensamento o trabalho realizado por eles pretende contribuir para aqueles que estão interessados
em investigar a intuição, a sua aplicabilidade e a sua validade no cenário organizacional.
O resultado global da pesquisa (PARIKH, NEUBAUER e LANK, 1998, p. 101-139)
revelou que a intuição é vista como um atributo positivo entre os gerentes mais maduros (idade
superior a 45 anos). Os executivos nos cargos mais elevados das empresas consideram-se
extremamente intuitivos (73,4%). Ressalta-se que no levantamento realizado, 39,4% dos
administradores entrevistados pertencem à área industrial e os demais ao setor de prestação de
serviços.
Pela orientação intuitiva, os administradores acreditam que se obtém: inovação (79%),
idéias (70,8%), criatividade (67,5%), visão (60%), imaginação (53,3%) e espontaneidade
(52,7%). A orientação racional contribuiria para as questões de: concretude (65,5%), realização
(53,8%), prática (48,8%) e sensibilidade (48,4%).
Na descrição do que seria intuição, a resposta mais freqüente (23,4%) diz que ela é uma
decisão/percepção sem a utilização dos métodos lógicos-racionais, seguida pelas respostas que a
intuição é uma percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação que vem de dentro com
17,1% e que ela é a integração de experiência anterior; processamento de informações
acumuladas com 16,8%. Assim, a percepção dominante é a de que a intuição é algo como uma
antítese da lógica/raciocínio. Há também conotação com conceitos populares como
pressentimento (12%), sexto sentido (7,4%), percepção/visão espontâneas (7,3%), introvisão