Tecnologia 1-Wire
TMAplicada ao Controle em Tempo
Real de Sistemas de Aeração de Grãos
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, para obtenção do título de “Doctor Scientiae”.
VIÇOSA
Tecnologia 1-Wire
TMAplicada ao Controle em Tempo
Real de Sistemas de Aeração de Grãos
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, para obtenção do título de “Doctor Scientiae”.
Aprovada em: 27 de fevereiro de 2002.
_________________________
________________________
Prof. Delly Oliveira Filho (Conselheiro)
Prof. Paulo César Corrêa (Conselheiro)
_________________________
________________________
Prof. José Emanuel Lopes Gomes Dr. Wathney Hermsdorff
________________________
ii
Aos meus pais, Ney e Zina, e a Clarisse, que me ensinaram o mais importante
iii
Nada é oco, nada é vazio.
Atrás da grade, sempre um segredo vigia.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao concluir este trabalho, sinto-me na obrigação de registrar meu
reconhecimento a todos que, com sua acolhida e apoio, me acompanharam, direta
ou indiretamente, durante sua realização. Estes podem não ter sido meus
melhores momentos, mas, com certeza, vocês foram imprescindíveis para tornar
horas difíceis menos árduas. Eu lhes manifesto, aqui, meu agradecimento mais
sincero. Entretanto, a alguns, eu gostaria de fazê-lo nominalmente.
Ao Departamento de Engenharia de Controle e Automação (DECAT) da
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, na pessoa do professor
Jaime Roberto Teixeira Rios, por ter me liberado para fazer este curso e, em
especial, aos professores José Emanuel Lopes Gomes, Luís Fernando Rispoli
Alves e Sávio Augusto Lopes da Silva, por assumirem minhas atividades
acadêmicas durante este afastamento.
À CAPES e à FAPEMIG pelo apoio financeiro.
Ao Departamento de Eletrónica e Telecomunicações da Universidade de
Aveiro, Portugal, na pessoa do Prof. José Alberto Fonseca, por me permitir fazer
um estágio no Laboratório de Controle e, em especial, ao Prof. Alexandre Manuel
M. N. da Mota que me orientou durante este estágio e me iniciou no estudo da
tecnologia 1-wireTM.
Ao Centro de Treinamento e Transferência de Tecnologia da Fundação
Gorceix, na pessoa do engenheiro Rogério Raimundo de Souza, pelo suporte na
v
Aos companheiros Wathney Hermsdorff, José Márcio Costa e Roberto
Precci Lopes pela amizade e atenção com que sempre me escutaram e pelo
interesse e disposição com que me ajudaram a solucionar problemas. Aos demais
colegas, pelo convívio e amizade ao longo destes quatro anos.
Aos meus conselheiros, professores Delly Oliveira Filho, Paulo César
Corrêa e Sérgio Zolnier, pelo constante estímulo, acompanhamento e sugestões.
Ao Prof. José Helvecio Martins, por ter aceitado orientar este trabalho e
pela forma como o fez. Com certeza, sem sua dedicação, empenho e,
principalmente, paciência ele jamais teria sido concluído. Obrigado por seu apoio e
compreensão, suas idéias e seu incentivo constante; principalmente, quando tudo
vi
BIOGRAFIA
Paulo Marcos de Barros Monteiro, filho de Ney de Albuquerque Monteiro e
Maria Joana de Barros Monteiro, nasceu em Ouro Preto, MG, em 09 de março de
1954. Graduou-se em Engenharia Eletrônica na PUC - MG, fez cursos de
especialização em Metodologia de Ensino e de Cultura e Arte Barroca na UFOP.
Mestre em Engenharia Mecânica pela UFU em 1994, concluiu, em fevereiro de
2002, o doutorado em Engenharia Agrícola na área de Controle de Processos
Agrícolas, na Universidade Federal de Viçosa.
Profissionalmente, é professor do Departamento de Engenharia de Controle
e Automação da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, desde
vii
Í N DI CE
List a de Figura s
xiList a de Qua dros
xvRESU M O
xviABST RACT
xvii1.
SI ST EM A DE AERAÇÃO DE GRÃOS
11.1. INTRODUÇÃO 1
1.2. O PROCESSO DE AERAÇÃO 2
1.3. SISTEMAS DE AERAÇÃO 6
1.4. MANEJO DO SISTEMA DE AERAÇÃO 8
1.5. FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE AERAÇÃO 11
2.
CON T ROLE DE SI ST EM AS DE AERAÇÃO
142.1. INTRODUÇÃO 14
2.2. CONTROLE E MONITORAMENTO DO SISTEMA DE AERAÇÃO 16
3.
PSI CROM ET RI A
223.1. INTRODUÇÃO 22
3.2. DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS E PROCESSOS DA MISTURA AR-VAPOR D’ÁGUA
25
3.2.1 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS DO AR
26
3.2.2 AQUECIMENTO OU RESFRIAMENTO DE UMA MASSA DE AR 27
viii
4.
SI ST EM AS DE CON T ROLE
314.1. INTRODUÇÃO 31
4.2. SISTEMAS DE CONTROLE 32
4.3. ESTRATÉGIAS DE CONTROLE 36
4.4. CONTROLE LIGA-DESLIGA 37
4.5. CONTROLE PROPORCIONAL 38
4.6. CONTROLE PROPORCIONAL E INTEGRAL 41
4.7. CONTROLE PROPORCIONAL, INTEGRAL E DERIVATIVO 43
4.7.1 PARÂMETROS DE UM CONTROLE PROPORCIONAL
INTEGRAL DERIVATIVO (PID)
46
4.7.2 ANÁLISE DE UM SISTEMA DE CONTROLE PID
IMPLEMENTADO COM AMÇLIFICADORES OPERACIONAIS
47
4.8. APLICAÇÕES DOS CONTROLADORES 49
4.9. CONTROLE ADAPTATIVO 51
5.
SI ST EM A 1 -WI RE
525.1. INTRODUÇÃO 52
5.2. CONFIGURAÇÃO DE HARDWARE 56
5.3. SEQÜÊNCIA DE TRANSMISSÃO DE DADOS 57
5.3.1 INICIALIZAÇÃO 57
5.3.2 COMANDOS DE FUNÇÃO ROM 58
5.4. SINALIZAÇÃO DE ENTRADA E SAÍDA 64
5.5. FUNÇÕES DE COMANDO DE MEMÓRIA 65
5.5.1 WRITE SCRATCHPAD (4Eh) 69
5.5.2 READ SCRATCHPAD (BEh) 69
5.5.3 COPY SCRATCHPAD (48h) 69
5.5.4 CONVERT T (44h) 69
5.5.5 RECALL E2 (B8h) 70
ix
5.6. READ/WRITE TIME SLOTS 70
5.6.1 WRITE TIME SLOTS 71
5.6.2 READ TIME SLOTS 71
5.7. SEQÜÊNCIA DE ACESSO 72
6.
DS1 8 2 0 – T ERM ÔM ET RO DI GI T AL 1 -WI RE
756.1. INTRODUÇÃO 75
6.2. GENERALIDADES 77
6.3. ALIMENTAÇÃO PARASITA 79
6.4. FUNCIONAMENTO DO DS1820 82
6.5. SINALIZAÇÃO DE ALARME 86
6.6. MEMÓRIA ROM DE 64 BITS GRAVADA A LASER 86
6.7. VERIFICAÇÃO DE REDUNDÂNCIA CÍCLICA (CRC) 87
6.8. MEMÓRIA 88
7.
OBJ ET I V OS
908.
M AT ERI AL E M ÉT ODOS
918.1. INTRODUÇÃO 91
8.2. DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS DE TEMPERATURA
92
8.3. DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE COMANDO PARA ACIONAMENTO AUTOMÁTICO DE MOTORES ELÉTRICOS
96
8.4. DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL 98
8.5. TESTE DO SISTEMA COMPUTACIONAL E DO SISTEMA DE CONTROLE PROPOSTA
108
8.5.1 O SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS 108
8.5.2 O PROTÓTIPO DO SILO 109
8.5.3 VAZÃO DE AR DE AERAÇÃO 112
x
9.
RESU LT ADOS E DI SCU SSÃO
1139.1. SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS DE TEMPERATURA 113
9.2. COMANDO DO MOTOR DO VENTILADOR 113
9.3. TESTES EXPERIMENTAIS DE AERAÇÃO 114
10.
RESU M O E CON CLU SÕES
128xi
LISTA DE FIGURAS
FI GU RA T Í T U LO PÁGI N A
1.1 - Migração de umidade em grãos armazenados quando a temperatura externa está decrescendo
5
1.2 - Migração de umidade em grãos armazenados quando a temperatura externa é maior que a temperatura da massa de grãos
5
1.3 - Elementos básicos de um sistema convencional de controle de aeração
8
1.4 - Diagrama de condução da aeração e conservação de grãos 10
1.5 - Diagrama de conservação de grãos 11
1.6 - Temperatura das camadas de grãos durante pequeno período de aeração
12
2.1 - Diagrama de perdas por atividades biológicas 14
3.1 - Gráfico psicrométrico mostrando o ponto de estado 27
3.2 - Processo de aquecimento ou resfriamento do ar a calor sensível
28
3.3 - Processo de aquecimento ou resfriamento adiabático do ar 28
3.4 - Temperatura de bulbo seco 29
3.5 - Mistura de duas massas de ar 29
4,1 - Sistema de controle em malha aberta 33
4,2 - Sistema de controle em malha fechada 34
4.3 - Sistema de controle digital em malha fechada 35
4.4 - Sinais em um sistema de controle liga-desliga 38
4.5 - Sinal de controle de um controlador proporcional 39
4.6 - Diagrama de blocos de um sistema de controle convencional
40
4.7 - Sinais de controle de um controlador proporcional de temperatura
41
4.8 - Sinal de erro integral 42
xii
4.10 - Situação de controle PI em que os sinais de saída são idênticos
44
4.11 - Efeito dos três elementos sobre o sinal de erro 45
4.12 - Diagrama de blocos de um controlador PID 47
4.13 - Controlador PID implementado com amplificadores
operacionais
48
4.14 - Sinais de um controlador PID 49
5.1 - DS1411 – Interface da porta serial RS232C com a linha
1-wireTM
53
5.2 - Esquema do conector DS1820 54
5.3 - Código de identificação dos dispositivos 54
5.4 - Níveis lógicos utilizados no sistema 1-wireTM 55
5.5 - Configuração de hardware 56
5.6 - Lógica de execução das funções de memória apenas de leitura
63
5.7 - Procedimento de inicialização do DS1820: pulsos de inicialização e de presença
64
5.8 - Lógica de funcionamento dos comandos de função memória
66
5.9 - Seqüência de pulsos 70
5.10 - Pulsos de escrita e leitura 72
6.1 - Sensores de temperatura DS1820 76
6.2 - Diagrama de blocos do DS1820 78
6.3 - Circuito de alimentação parasita do DS1820 80
6.4 - Utilização da linha I/O para alimentação do DS1820 80
6.5 - Polarização robusta (strong pull up) para alimentação do DS1820 durante a conversão de temperatura
81
6.6 - Utilização da fonte externa para alimentação do DS1820 82
6.7 - Diagrama de Blocos do circuito de medição de temperatura do Ds1820
84
6.8 - Gerador de código de CRC do sistema 1-wireTM 88
6.9 - Organização da memória do DS1820 89
xiii
8.2 - Níveis lógicos CMOS/TTL 93
8.3 - Seqüência de comunicação entre o mestre e um escravo 94
8.4 - Sensor de temperatura DS1820 alimentado por uma fonte externa
95
8.5 - Circuito com o sensor de temperatura DS1820 e o
regulador de tensão 7805 alimentado por uma fonte externa
95
8.6 - Circuito impresso com o DS1820 instalado em condulete 96
8.7 - Circuito de comando do motor que aciona o ventilador 97
8.8 - Fluxograma do programa computacional 105
8.9 - Conexão da linha de transmissão de dados 1-wireTM com a porta serial do computador por meio do conector DS1411
109
8.10 - O silo protótipo para testes experimentais 110
8.11 - Distribuição de sensores no interior do silo 111
9.1 - Variação da temperatura máxima e média da massa de grãos durante 342 hora de aeração e estado do motor. Data do teste: 28/12/2001; horário de início: 9 h 13 min; produto: milho; teor de umidade inicial: 13% bu; Fluxo de ar: 0,065 m3/min.t
116
9.2 - Variação da temperatura máxima da massa de grãos durante as primeiras 100 horas de aeração
116
9.3 - Variação da temperatura máxima da massa de grãos entre a 100a e a 200a hora de aeração
117
9.4 - Variação da temperatura máxima da massa de grãos entre a 200a e a 300ahora de aeração
117
9.5 - Variação da temperatura máxima da massa de grãos entre a 300a e a 350ahora de aeração
118
9.6 - Variação da temperatura e da umidade relativa do ar e da temperatura de entrada do ar durante 342horas de aeração. Data do teste: 28/12/2001; horário de início: 9 h 13 min; produto: milho; teor de umidade inicial: 13% bu; Fluxo de ar: 0,065 m3/min.t
118
9.7 - Variação da temperatura máxima da massa de grãos e estados do motor entre a 140a e 170a hora de aeração
119
9.8 - Variação da temperatura e da umidade relativa do ar ambiente e da temperatura de entrada do ar durante as primeiras 100 horas de aeração
xiv
9.9 - Variação da temperatura e da umidade relativa do ar ambiente e da temperatura de entrada do ar durante a 100a e a 200a hora de aeração
121
9.10 - Variação da temperatura e da umidade relativa do ar ambiente e da temperatura de entrada do ar durante a 200a e a 300a hora de aeração
121
9.11 - Variação da temperatura e da umidade relativa do ar ambiente e da temperatura de entrada do ar durante a 300a e a 350a hora de aeração
122
9.12 - Progressão da frente de resfriamento no interior da massa de grãos durante 342 horas de aeração. Data do teste: 28/12/2001; horário de início: 9 h 13 min; produto: milho; teor de umidade inicial: 13% bu; Fluxo de ar: 0,065 m3/min.t
123
9.13 - Progressão da frente de resfriamento no interior da massa de grãos durante as primeiras 100 horas de aeração
124
9.14 - Progressão da frente de resfriamento no interior da massa de grãos entre a 100 a e a 200a hora de aeração
124
9.15 - Progressão da frente de resfriamento no interior da massa de grãos entre a 200 a e a 300a hora de aeração
125
9.16 - Progressão da frente de resfriamento no interior da massa de grãos entre a 300 a e a 350a hora de aeração
xv
LISTA DE QUADROS
QU ADRO T Í T U LO PÁGI N A
1.1 - Recomendação de fluxos de ar para aeração de grãos 6
2.1 - Tempo em horas para se obter uma elevação de 5oC na massa de grãos (LASSERAN, 1981)
15
3.1 - Composição aproximada de ar seco (SILVA 2000) 22
5.1 - Conjunto de comandos de memória do DS1820 65
5.2 - Seqüência de comandos de conversão de temperatura 73
5.3 - Seqüência de comandos de gravação de dados na
memória temporária
74
6.1 - Descrição dos terminais dos sensores de temperatura DS1820
76
6.2 - Relação entre os dados de saída e a temperatura medida mostrando o byte menos significativo (LSB) e o byte mais significativo (MSB)
84
6.3 - Exemplos de alguns valores de temperatura convertidos em binário
85
6.4 - Código de identificação de memória ROM de 64 bits gravada a laser
xvi
RESUMO
Monteiro, Paulo Marcos de Barros, DS, Universidade Federal de Viçosa, fevereiro
de 2002. Tecnologia 1-wireTM aplicada ao controle em tempo real de
sistemas de aeração de grãos. Orientador: José Helvecio Martins.
Conselheiros: Delly Oliveira Filho, Paulo César Corrêa e Sérgio Zolnier.
Neste trabalho, desenvolveu-se um sistema de controle inteligente, em
tempo real, para aeração de grãos armazenados, utilizando-se a tecnologia
1-wireTM da Dallas Semiconductor. No lugar dos termopares convencionais,
utilizaram-se sensores de temperatura DS1820. Esta tecnologia, proposta pela
Dallas Semiconductor, permite uma transferência bidirecional de dados ao mesmo
tempo em que alimenta dispositivos remotos por meio da própria linha de dados.
Cada um destes dispositivos pode ser endereçado, pois possui um código de
endereçamento individual e único. Trata-se de um sistema com um mestre e
múltiplos escravos ligados por meio de um único condutor, com saída em dreno
aberto, alimentado por uma fonte de 5 V CC, através de um resistor de
polarização. Para testar o sistema de controle proposto, construiu-se um silo
protótipo e desenvolveu-se um programa computacional que realiza a aquisição
de dados de temperatura em tempo real, faz os cálculos necessários e, baseado
nas condições psicrométricas do ar e da massa de grãos, juntamente com a
xvii
ABSTRACT
Monteiro, Paulo Marcos de Barros, DS, Universidade Federal de Viçosa, February,
2002. The 1-wireTM technology applied to real time control of grain aeration systems. Adviser: José Helvecio Martins. Committee Members: Delly
Oliveira Filho, Paulo César Corrêa and Sérgio Zolnier.
In this work, a real time intelligent control system for stored grain aeration
systems was developed, employing the 1-wireTM technology developed by Dallas
Semiconductor. The standard thermocouples, commonly used in aeration systems,
were replaced by DS1820 digital temperature sensors. This technology allows for a
half duplex data transfer and each device connected to the system can be
addressed, because each one contains a unique individual identification code. The
1-wireTM system is an open drain master-slave system connected by a single
conductor and powered by a 5 V DC, through a pull up resistor, at the master. For
testing the control system, a grain bin prototype was built and a software was
developed to perform real time temperature data acquisition. The program makes
the necessary calculations and, based on psychrometric conditions of the air and
of the grain mass, and the aeration strategy used, monitors the control system.
Keywords: Control Systems, 1-WireTM System, Automation, Grain Aeration,
1 . SI ST EM A DE AERAÇÃO DE GRÃOS
1.1. INTRODUÇÃO
Grãos são armazenados por diversos motivos, até mesmo para
especulação de melhores preços no mercado e uso na alimentação de animais.
Por serem organismos vivos e estarem sujeitos a diversas transformações,
durante o período de armazenamento, um programa de gerenciamento
adequado é necessário para manter a qualidade do produto, inibindo a ação de
fungos, insetos, ácaros e roedores. A respiração dos grãos também contribui
para a perda de matéria seca, embora estas perdas sejam pequenas quando
comparadas com aquelas causadas por organismos vivos (CHANG e STEELE,
1995).
A interação entre as variáveis químicas, físicas e biológicas do sistema
de armazenamento resulta na deterioração do produto armazenado. A
deterioração dos grãos é um processo complexo, lento e pouco perceptível no
início. Porém, poderá acelerar-se se as variáveis químicas, físicas e biológicas
estiverem favoráveis à atividade biológica do grão e de outros organismos
vivos que compõem o meio ecológico criado pela massa de grãos (FOCKINK,
1994).
O segredo para que os grãos sejam armazenados em condições
adequadas consiste em armazená-los limpos e em ambiente seco e de baixa
temperatura (MAIER e MONTROSS, 1997; SINÍCIO e MUIR, 1998), pois
baixas temperaturas diminuem as atividades biológicas no ecossistema dos
grãos e previnem contra migração de umidade.
Em unidades armazenadoras mais antigas, sempre que se verificava
qualquer problema de armazenagem relacionado à não uniformidade do teor
de umidade na massa de grãos ou aumento de temperatura que pudesse
comprometer a qualidade do produto, fazia-se a transilagem, isto é, a
movimentação dos grãos através do ar ambiente. Este processo, ainda hoje
perdas quantitativas e qualitativas durante a movimentação dos grãos,
necessidade de sempre haver uma célula de estocagem vazia que permita a
remoção do produto transilado, tempo de execução elevado e um alto custo
operacional (WEBER, 1995; SILVA, 2000).
Para solucionar alguns problemas oriundos da transilagem, surgiu a
técnica de aeração, que consiste na passagem forçada de ar, com um fluxo
adequado, através da massa de grãos. Esta técnica, conhecida desde o século
XVIII, tornou-se uma prática comum em todo o mundo, mas somente nas
últimas décadas começou a ser utilizada no Brasil (PEREIRA, 1998).
Entretanto, depois de aplicações sucessivas do processo de aeração,
sempre que houver formação de blocos de grãos e concentração de finos, que
dificultam a passagem do ar, é imprescindível submeter o produto a uma
transilagem e, se possível, passá-lo pelo sistema de limpeza (SILVA, 2000).
O uso da aeração, em absolutamente nada, melhora a qualidade do
produto estocado, apenas preserva suas características iniciais por mais
tempo. Portanto, a aeração é uma técnica de conservação para ser usada de
maneira preventiva. Entretanto, no Brasil ela tem sido empregada para
solucionar problemas de aquecimento da massa de grãos, ou seja, como uma
técnica corretiva, aplicada depois da ocorrência dos problemas (PEREIRA,
1998).
1.2. O PROCESSO DE AERAÇÃO
A aeração consiste, basicamente, na circulação forçada do ar ambiente
através da massa de grãos armazenados com a finalidade de estabelecer e
manter uma temperatura moderadamente baixa e uniforme em todo o volume
de grãos (HARA e CORRÊA, 1981). Visa reduzir a taxa de deterioração e
prevenir perdas no armazenamento, pois a deterioração dos grãos
armazenados é causada pelo desenvolvimento de mofo e atividade de insetos,
e está relacionada com o teor de umidade e a temperatura do produto (CLOUD
e MOREY, 1991).
Dependendo do fluxo de ar, a aeração também pode ser empregada
ambientais são adequadas, pode ocorrer uma pequena secagem do produto.
Entretanto, segundo MAIER e MONTROSS (1997), a vazão de ar utilizada na
aeração é tão baixa que a variação no teor de umidade do grão não ultrapassa
0,5 ponto percentual.
As técnicas de aeração podem ser aplicadas em qualquer estrutura de
armazenamento de grãos a granel. Porém, tanto em silos quanto em
graneleiros, sem a utilização de um sistema de aeração bem projetado e
conduzido corretamente, a armazenagem eficiente de grãos durante períodos
prolongados torna-se impraticável.
Embora seu emprego não melhore em nada a qualidade do produto
estocado, a aeração preserva suas características iniciais por mais tempo.
Com relação à transilagem, a principal vantagem da aeração consiste na
possibilidade de supervisionar o sistema e o produto durante o período de
operação, por meio da monitoração e controle do sistema de aquisição de
dados de temperatura da massa de grãos, dados climáticos e atuação no
sistema de movimentação do ar (SILVA, 2000).
Como, em sistemas de aeração de grãos, as vazões de ar normalmente
utilizadas são muito pequenas, o processo de resfriamento e uniformização da
temperatura do produto é lento e exige muitas horas para ser plenamente
realizado. Porém, para se usufruir de todos os benefícios que esta técnica pode
oferecer, é necessário que o ar ambiente insuflado através da massa de grãos
esteja em condições de temperatura e umidade relativa adequadas pois,
dependendo das condições em que se encontram o ambiente e o produto, a
aeração pode ter efeitos prejudiciais sobre os grãos armazenados (PEREIRA,
1998).
Segundo WEBER (1995), os principais objetivos para utilização das
técnicas de aeração em um sistema de armazenagem são:
- diminuição da temperatura e do teor de umidade dos grãos;
- controle de insetos e fungos;
- aplicação de fumigantes (expurgo);
- evitar as correntes de ar de convecção (migração de umidade);
- evitar danos mecânicos aos grãos;
- conservar as qualidades químicas, físicas e biológicas dos grãos.
PUZZI (1986) considera ainda a redução de maus odores e a
seca-aeração, embora a principal função da aeração seja o resfriamento da massa
de grãos e, conseqüentemente, a criação de um microclima que favoreça a sua
conservação, inibindo a atividade de insetos e o desenvolvimento da microflora.
Os grãos, depois de terem sido secados, resfriados e colocados no
armazém com teor de umidade entre 13 e 15% b.u. (base úmida), têm sua
temperatura, freqüentemente, superior à temperatura média do ambiente.
Assim, os grãos próximos às paredes do silo e os da superfície começam a
resfriar-se até atingirem uma temperatura inferior à temperatura do interior da
massa de grãos (FOSTER e TUITE, 1983). Segundo LASSERAN (1981), com
este teor de umidade é conveniente manter a temperatura da massa de grãos
em torno de 18oC.
Variações na entalpia do ar ambiente criam gradientes de temperatura
nos grãos armazenados. Por esta razão, ocorre a convecção natural do ar
intergranular. A umidade tende a deslocar-se de regiões mais quentes para
regiões mais frias, podendo provocar condensação de umidade na superfície
mais fria da massa de grãos.
O acúmulo de umidade em determinadas áreas da massa de grãos
estimula o aparecimento e o desenvolvimento de fungos e o encrustamento da
massa no centro do silo. Portanto, pelo exposto, vê-se que temperatura e
umidade são os principais fatores que, direta ou indiretamente, afetam a
qualidade do grão durante o período de armazenamento (FOSTER e TUITE,
1983). As Figuras 1.1 e 1.2 ilustram a localização de um ponto úmido causado
pela migração de umidade quando a temperatura do ambiente está diminuindo
AR QUENTE AR
QUENTE
GRÃO ÚMIDO DEVIDO AO ACÚMULO DE UMIDADE GRÃO
QUENTE
GRÃO QUENTE GRÃO
FRIO
FIGURA 1.1 - Migração de umidade em grãos armazenados quando a temperatura externa é inferior à temperatura da massa de grãos.
GRÃO ÚMIDO DEVIDO AO ACÚMULO
DE UMIDADE
AR FRIO AR
FRIO
GRÃO FRIO
GRÃO FRIO GRÃO
QUENTE
1.3. SISTEMAS DE AERAÇÃO
Um sistema de aeração é constituído, basicamente, por um ventilador
acionado por um motor elétrico, um duto de suprimento de ar, dutos de aeração
ou fundo perfurado, e dispositivos para monitorar, acionar e controlar o sistema
(SILVA, 2000). Eles podem variar desde um simples controlador liga-desliga,
operado manualmente, até um sistema controlado por um computador de
última geração (MAIER e MONTROSS, 1997).
O ventilador deve fornecer a quantidade de ar necessária para vencer a
resistência à passagem do ar através da massa de grãos (BROOKER et al.,
1992). Ele pode ser do tipo centrífugo ou radial, dependendo da pressão
estática e do fluxo de ar demandado pela unidade de armazenamento
(ARAÚJO, 1998). Nos ventiladores axiais, o ar entra e sai paralelamente ao
eixo. São mais indicados quando se necessitam de baixas pressões e elevadas
vazões de ar. Caso contrário, os ventiladores centrífugos são mais eficientes.
Nestes, o ar entra paralela e sai perpendicularmente ao eixo do ventilador.
Porém, o importante é que o ventilador seja corretamente dimensionado para
poder fornecer o fluxo de ar necessário para cada situação.
Tabelas e programas computacionais podem ser consultados para
dimensionamento de novas unidades ou adequação das instalações já
existentes (MAIER e MONTROSS, 1997). O Quadro 1.1 apresenta a indicação
de alguns fluxos de ar para a aeração. Podem ocorrer algumas variações em
função do tipo de grão, finalidade e tempo de aeração, entre outros.
QUADRO 1.1 - Recomendação de fluxos de ar para aeração de grãos
Fluxo de ar (m3/min.t de grãos) Tipo de armazém /
Finalidade Regiões frias Regiões quentes
Horizontais 0,05 a 0,10 0,10 a 0,20
Verticais 0,025 a 0,05 0,05 a 0,10
Manter grãos úmidos 0,30 a 0,60 0,30 a 0,60
Seca-aeração 0,50 a 1,00 0,50 a 1,00
Quanto ao movimento do ar, este pode ser ascendente ou descendente.
No primeiro caso, o ventilador é instalado na base do silo e o ar é insuflado no
interior do silo. No segundo, há uma sucção. Diversos pontos devem ser
analisados antes de se decidir por qualquer um deles, pois há na literatura
bastante controvérsias sobre as vantagens e desvantagens de cada um.
Entretanto, deve-se considerar que todo ventilador e sistema de distribuição de
ar promovem um aquecimento, devido ao atrito e à compressão, que pode
atingir até 5oC (PEREIRA, 1998).
O ar é distribuído no interior do silo por meio de dutos de aeração ou
fundo perfurado, que são ligados ao ventilador por meio de dutos de
suprimento. Os dutos de aeração, embora mais baratos, não distribuem o ar
tão uniformemente quanto o fundo perfurado. Porém, uma distribuição correta
dos dutos de aeração no armazém contribui para diminuir esta não
uniformidade (SILVA, 2000).
O monitoramento do sistema de aeração em silos ou em graneleiros é
feito, normalmente, por meio de um sistema de termometria, constituído por um
conjunto de sensores de temperatura dispostos de forma regular no interior da
estrutura de armazenagem.
Os sensores de temperatura ou elementos termossensíveis são
constituídos por termopares, termistores ou resistores de platina (LASSERAN,
1981). Na prática, porém, os termopares de liga de cobre-constantan são os
mais utilizados. Utilizam-se diversos fios de cobre ligados a um único fio de
constantan, suportados por um cabo de aço (LACERDA FILHO e AFONSO,
1992).
A instalação destes cabos é feita em pontos estratégicos da massa de
grãos, determinados por critérios técnicos e econômicos. Entretanto, WEBER
(1995) recomenda uma distância máxima de 6,0 m entre cabos e 2,0 m entre
pontos de um mesmo cabo. Desta forma, cada sensor faz o monitoramento de
um raio de 3,0 m.
Os sensores de temperatura servem para verificar as condições dos
ambientes internos e externos da massa de grãos. Sempre que se detectar que
do ambiente, o conjunto motor-ventilador deve ser acionado, a fim de se fazer a
circulação de ar através da massa de grãos, em quantidade suficiente para
promover o seu resfriamento (SILVA, 2000). O sistema de aeração, ao ser
acionado, deve funcionar o tempo necessário para remover a frente quente da
massa de grãos. A Figura 1.3 apresenta os componentes básicos de um
sistema de aeração em um silo, conforme descrito anteriormente.
Saídas de Ar
Massa de Grãos Cabos de
Termometria
0 1
Sensor de Temperatura
Ambiente
Indicador da Temperatura do
Grão
Chave on/off
Marcador de Horas de Operação do
Ventilador
Ventilador Plenum
Termostato
FIGURA 1.3 - Elementos básicos de um sistema convencional de controle de aeração.
1.4. MANEJO DE SISTEMAS DE AERAÇÃO
O princípio básico para a condução da aeração é a necessidade de se
reduzir a temperatura da massa de grãos. O processo deve ser conduzido
sempre que a temperatura do ambiente for inferior, em alguns graus, à
relativa do ar ambiente e a diferença entre esta e a umidade relativa do ar
intergranular.
Dependendo das condições de temperatura, da umidade relativa e da
diferença de temperatura entre a massa de grãos e o ar, o efeito da aeração
pode ser de secagem, de reumedecimento ou de manutenção do equilíbrio
higroscópico do produto. Portanto, antes de se optar pelo uso de um sistema
de aeração, deve-se avaliar as condições climáticas para atender aos objetivos
propostos (SILVA, 2000).
Baseado no gráfico psicrométrico e nas curvas de equilíbrio entre a
umidade relativa do ar e o teor de umidade da massa de grãos, LASSERAN
(1981) desenvolveu um método bastante simples para conduzir racionalmente
o processo de aeração. Por meio dele, pode-se predizer a natureza dos riscos
a que o produto ficará sujeito durante o processo (SILVA, 2000).
Para utilizar este método, é necessário definir três parâmetros: (i) a
temperatura da massa de grãos, (ii) a temperatura do ar ambiente e (iii) a
umidade relativa do ar ambiente. Colocando-se a umidade relativa do ar na
abscissa e a diferença entre as temperaturas do grão e do ar na ordenada, o
ponto de interseção destes dois valores define a situação em que o produto se
encontra.
Desta forma, tem-se que:
- resfriamento inferior a 3o C implica em aeração sem interesse;
- resfriamento compreendido entre 3 e 5o C implica em aeração
possível;
- resfriamento compreendido entre 5 e 7o C implica em aeração
recomendada;
- resfriamento superior a 7o C implica em aeração recomendada com riscos de condensações locais ou de sobre-secagem geral.
Neste diagrama, verifica-se que a melhor condição para armazenar a
FIGURA 1.4 - Diagrama de condução da aeração e conservação de grãos.
LACERDA FILHO e AFONSO (1992) apresentam um diagrama proposto
por Burgs e Burrel em 1973 que estabelece outras variáveis que permitem uma
análise técnica sobre o uso da aeração. Com ele, é possível prever a natureza
dos riscos dos grãos armazenados por meio das relações entre a temperatura
e o teor de umidade de uma massa de grãos. Por este diagrama, mostrado na
Figura 1.5, pode-se estabelecer as seguintes condições:
- A área superior, definida pela linha de 18o C, indica as condições favoráveis ao desenvolvimento de insetos;
- A área à direita da linha B indica as condições da perda de
germinação;
- A área superior de B, acima da linha A indica as condições em que a
perda de germinação e o ataque de insetos podem ocorrer
simultaneamente;
- A área à esquerda da linha B e abaixo da linha A indica as melhores
Deve-se salientar que, em nenhuma hipótese, deve-se armazenar grãos
nas condições estabelecidas pela área delimitada à direita da linha C.
Zona de boa conservação
Insetos A
Germinação B
Fungos C
Teor de Umidade dos Grãos, % b.u.
T
e
m
p
e
ra
tur
a
da
Mass
a
de
G
rão
s,
oC
FIGURA 1.5 - Diagrama de Conservação de grãos.
1.5. FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE AERAÇÃO
O acionamento do sistema de aeração por poucas horas não irá resfriar
toda a massa de grãos contida em um silo, a não ser que ele esteja carregado
com uma camada de grãos muito pequena. Em um silo cheio, os grãos
próximos à entrada de ar serão resfriados à temperatura do ar de entrada
enquanto a temperatura dos grãos nas camadas superiores permanecerá
praticamente nas mesmas condições iniciais, exceto na faixa em que está
ocorrendo o resfriamento, conforme mostrado na Figura 1.6. A operação deve
durar até que a frente de resfriamento tenha varrido toda a massa de grãos e a
Saída de ar
Cobertura do silo
Produto quente
Frente de resfriamento
Produto frio
Fundo perfurado
Câmara plenum
FIGURA 1.6 - Temperatura das camadas de grãos durante o processo de aeração.
Caso a aeração seja interrompida antes da frente de resfriamento varrer
toda a massa de grãos, as diferenças de temperatura entre as camadas
resfriadas, camadas em resfriamento e camadas ainda não resfriadas podem
provocar migração de umidade e acelerar o processo de deterioração do
produto.
Uma vez que um dos principais objetivos da aeração é manter a
temperatura da massa de grãos o mais uniforme possível e próxima das
condições do ar exterior, o processo de aeração só pode ser interrompido
quando a frente de resfriamento atingir a superfície do produto.
Para evitar a migração de umidade e promover o resfriamento da massa
de grãos, deve-se operar o sistema de aeração sempre que a temperatura
externa cair 7o C abaixo da temperatura dos grãos, considerando-se que a umidade relativa média do ar de resfriamento deve ser igual ou ligeiramente
inferior à umidade relativa de equilíbrio do produto. Entretanto, devido à
sempre que a umidade relativa do ar estiver 10 pontos percentuais acima da
umidade relativa de equilíbrio do grão (SILVA, 2000).
Segundo LASSERAN (1981), aerações realizadas com grandes
diferenças de temperatura entre o ar e o grão são desaconselháveis. Nestas
condições corre-se o risco de produzir condensação de água sobre as paredes
e na superfície da massa de grãos, provocando a formação de crostas
2 . CON T ROLE DE SI ST EM AS DE AERAÇÃO
2.1. INTRODUÇÃO
Para garantir as condições de conservação dos grãos, não deve haver
elevação de temperatura. Qualquer aumento de temperatura indica que está
havendo perda de produto causada por fungos, bactérias, insetos ou mesmo a
própria respiração dos grãos. Portanto, medindo-se e acompanhando-se a
variação de temperatura da massa de grãos têm-se, indiretamente,
informações, sobre o estado do produto armazenado (S. Filho, 1996).
Embora a elevação de temperatura seja conseqüência dos processos
biológicos, ela desencadeia ou acelera outros processos de deterioração,
agindo, assim, como causa de perdas. Portanto, se o problema existente na
massa de grãos não for corrigido tão logo seja detectado, em pouco tempo,
perde-se todo o produto, principalmente se os grãos apresentarem alto teor de
umidade.
O diagrama de perdas por atividades biológicas, apresentado por S.
Filho (1996) e mostrado na Figura 2.1, ilustra este fato. Se o problema for
detectado na fase I, com pouca aeração consegue-se reduzir a temperatura
antes de a fase II ser atingida e evitar a evolução do ciclo (fases II e III).
FIGURA 2.1 - Diagrama de perdas por atividades biológicas (S.
O Quadro 2.1, apresentado por LASSERAN (1981), mostra o tempo
teórico para se obter uma elevação de temperatura de 5oC na massa de grãos armazenados, para vários teores de umidade, a partir de uma determinada
temperatura inicial. Verifica-se que, para grãos com teor de umidade superior a
20% bu, a uma temperatura de 15oC, dependendo do grão, gastam-se cerca de 10 a 15 dias para aumentar a temperatura em 5oC. Nesta situação, bastam mais cinco ou 10 dias para aumentar a temperatura em mais 5oC. Depois de atingir a faixa de 25oC, a temperatura aumenta em 5oC a cada um ou dois dias (WEBER, 1995).
QUADRO 2.1 - Tempo em horas para se obter uma elevação de 5oC na
massa de grãos
Temperatura inicial da massa de grãos ( oC) Grãos
Teor de Umidade
(% b.u.) 5 10 15 20 25
16 1.500 750 400 175 100
20 540 270 145 60 36
24 360 180 100 40 24
Milho
35 175 90 150 20 12
16 4.100 2.000 1.000 480 240
Trigo e
Cevada 20 1.200 600 300 145 72
Colza 10 11.500 2.000 700 170 50
Para medir e monitorar a temperatura em diversos pontos da massa de
grãos armazenados utiliza-se um sistema de termometria. O sistema de
termometria convencional é constituído por termopares instalados em cabos de
aço fixados na estrutura de sustentação do armazém. Na prática, o termopar
cobre-constantan é o mais empregado. Utilizam-se diversos fios de cobre
ligados a um único fio de constantan (LACERDA FILHO e SILVA, 1995).
A quantidade mínima e a distribuição dos termopares em um armazém
devem obedecer às normas estabelecidas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT). WEBER (1995) recomenda, porém, uma distância
forma, todos os sensores ficam imersos na massa de grãos e cada um deles
monitora um raio de, aproximadamente, 3 m em torno de si.
2.2. CONTROLE E MONITORAMENTO DO SISTEMA DE
AERAÇÃO
O resfriamento da massa de grãos por meio de aeração tem sido uma
maneira bastante comum de conter a deterioração do produto armazenado,
uma vez que, reduzindo-se a temperatura da massa de grãos, o mofo,
atividade de insetos e o deslocamento de umidade são minimizados ou mesmo
suprimidos. Porém, para ser eficiente, a aeração precisa ser controlada com
precisão. Isto significa que o sistema de aeração deve ser ligado e desligado
em situações que garantam os melhores resultados possíveis (FUSAE, 1999).
Controle e ajuste manuais tradicionais do sistema de aeração de grãos
ainda existem em muitas instalações. Verifica-se, porém, que a eficiência
destes sistemas de aeração é reduzida porque, como dados de desempenho
relevantes não são corretamente apresentados e interpretados pelo operador,
o sistema acaba sendo acionado durante períodos em que as condições
ambientais não são as mais adequadas (ELDER, 1971; CHANG e STEELE,
1995).
Segundo FUSAE (1999), o pior tipo de sistema de controle automático
de aeração é o temporizador. Ele, simplesmente, liga e desliga os ventiladores
em instantes pré-determinados, não levando em consideração as condições
ambientais. Muitas vezes, acionando-se o sistema de aeração, consegue-se
desfazer algumas vantagens obtidas em aerações anteriores. Como o
temporizador aciona o sistema de aeração independentemente da temperatura
ambiente, pode-se produzir, alternativamente, frentes quentes e frias na massa
de grãos, provocando justamente as diferenças de temperatura que se deseja
evitar.
Sistemas de aeração são normalmente controlados por meio de
termostatos e umidistatos capazes de colocar o sistema em operação sempre
que a temperatura e umidade relativa do ambiente caírem abaixo de um valor
para garantir que os pontos de operação ajustados reduzirão a temperatura a
um nível satisfatório em um período de tempo adequado (ELDER, 1971).
Com os avanços na tecnologia de sensores e a queda no preço de
equipamentos de instrumentação baseados em microprocessadores,
controladores auto-reguláveis estão sendo estudados, buscando eliminar a
necessidade do operador para tomada de decisões (ELDER, 1971). O
desenvolvimento destes sistemas permite economia de energia e trabalho e
garante a qualidade do produto armazenado.
O uso de controladores automáticos para otimizar o tempo de operação
deveria ser uma tecnologia largamente utilizada no gerenciamento dos
sistemas de armazenamento de grãos. Seu principal objetivo seria fazer com
que a temperatura da massa de grãos acompanhasse a temperatura média do
ar ambiente com uma tolerância de cinco a 10º C, sem alterar o teor de
umidade médio do grão (MAIER e MONTROSS, 1997).
Controladores simples para aeração, feitos com temporizadores que
comandam ventiladores baseados na temperatura de ajuste de um termostato,
costumam ser eficientes para controlar a temperatura da massa de grãos.
Costuma-se ajustar dois limites de temperatura, inferior e superior, a fim de se
manter a diferença de temperatura entre o ambiente e a massa de grãos entre
cinco e 10o C.
Enquanto nos sistemas de aeração comandados manualmente, dois ou
três ciclos completos de aeração, com os ventiladores funcionando
continuamente, seriam necessários para reduzir a temperatura da massa de
grãos, nos sistemas automáticos a mesma temperatura seria atingida com os
ventiladores funcionando de maneira intermitente. Esses sistemas de controle
são simples, de baixo custo e se pagam, geralmente, com menos de um ano
de uso (MAIER e MONTROSS, 1997).
Controles de umidade acrescentam custos ao sistema e não são
necessários para o controle da maioria dos grãos armazenados, exceto,
possivelmente, nos trópicos úmidos ou então quando se necessita de um
controle muito preciso das condições da massa de grãos. Umidistatos são
suas informações não forem corretamente entendidas, podem causar mais
problemas do que solução (MAIER e MONTROSS, 1997).
Outra estratégia empregada para controle de aeração é baseada no teor
de umidade da massa de grãos. Ela implica no uso de um microprocessador
para calcular o teor de umidade dos grãos baseado em medidas da
temperatura e da umidade relativa do ambiente e são programados para
acionar o ventilador sempre que as condições forem favoráveis. A maioria dos
controladores utiliza as condições de umidade relativa e temperatura como
referências para manter um teor de umidade desejado dos grãos.
Estes controladores costumam também ser programados para operar o
sistema a fim de se obter um determinado teor de umidade, aumentando ou
diminuindo o teor de umidade médio da massa de grãos. O sucesso desta
estratégia depende, principalmente, da exposição dos grãos a uma
combinação adequada de temperatura e umidade relativa, durante um intervalo
de tempo conveniente.
Para executar o controle do sistema de aeração, um controlador
comandado por microprocessador precisa avaliar, com precisão, por meio de
sensores, a temperatura e a umidade relativa do ar para calcular o teor de
umidade e definir o tempo necessário de operação do ventilador para se obter
a temperatura e a umidade dos grãos desejadas.
Alguns controladores são programados pelo usuário, com informações
sobre a temperatura desejada da massa de grãos para cada mês do ano.
Outros monitoram, constantemente, a temperatura do ambiente e operam o
ventilador, sempre que necessário, para manter os grãos a esta temperatura.
Existem aqueles que medem continuamente a temperatura da massa de grãos
e a comparam com a temperatura desejada, previamente ajustada, a fim de
decidir quando é necessário acionar o sistema de aeração, e os que são
programados para atuar o menor tempo de operação possível, em função da
vazão do ar de aeração. Há ainda os programados para operar o sistema
somente fora dos períodos de ponta, de modo a aproveitar as melhores tarifas
Estratégias de controle mais sofisticadas exigem, além de sensores
precisos calibrados regularmente, microprocessadores programáveis que tanto
podem ser baseados em computadores convencionais quanto em
componentes dedicados.
FERREIRA et al. (1993) estudaram, por meio de simulação, quatro
métodos de controle de aeração para grãos de milho, a saber: controle por
umidistato, controle por termostato, controle manual e controle por
microprocessador.
O controle por umidistato permite a operação do ventilador somente se a
umidade relativa do ar ambiente for inferior à umidade relativa de controle
previamente ajustada no dispositivo controlador.
O controle por termostato só permite a operação do sistema de
ventilação se a temperatura do ar ambiente for igual ou inferior à temperatura
de controle previamente calibrada.
O controle por microprocessador faz a monitoração contínua do sistema
por meio de um programa computacional que calcula a diferença de
temperatura entre o ar e o grão e aciona o ventilador sempre que a
temperatura cai abaixo de um valor preestabelecido.
Embora todas as opções de controle analisadas tenham apresentado
redução do teor de umidade e resfriamento, a simulação dos procedimentos de
acionamento do ventilador por meio de microprocessador mostrou-se a mais
eficiente (FERREIRA et al., 1993).
Segundo SINÍCIO e MUIR (1998), os cinco métodos mais comuns para
controle dos sistemas de aeração de grãos e os problemas relacionados com
cada um deles são:
1. Controle por termostato baseado somente na temperatura do grão.
Neste caso, a temperatura e umidade relativa do ar ambiente e o
teor de umidade da massa de grãos não são considerados.
2. Controle do tempo de operação do sistema. Este processo não
considera a temperatura e umidade relativa do ar ambiente nem a
3. Termostato, umidistato ou utilização simultânea de ambos. Neste
caso, as variações climáticas de ano para ano e as condições dos
grãos armazenados não são consideradas.
4. Termostato diferencial baseado na temperatura média da massa de
grãos. O teor de umidade da massa de grãos e a umidade relativa
do ar ambiente não são considerados.
5. Termostato diferencial baseado na temperatura da camada
superficial. Não considera as modificações que ocorrem no interior
da massa de grãos durante o período de armazenamento.
Por meio de simulação de sistemas de distribuição de fluxo de ar em
climas tropical e subtropical, SINÍCIO e MUIR (1998) concluíram que o método
mais eficiente para controle do sistema de aeração é o termostato diferencial.
Uma outra estratégia de controle do ventilador do sistema de aeração
baseia-se no teor de umidade de equilíbrio do grão. Ela exige um
microprocessador para se calcular o teor de umidade de equilíbrio em função
da temperatura e umidade relativa do ar ambiente. Esses microprocessadores
podem ser programados para operar os ventiladores do sistema de aeração
sempre que as condições climáticas forem favoráveis (MAIER e MONTROSS,
1997).
Na maioria das vezes, os controladores são ajustados para manterem as
condições de temperatura e umidade relativa adequadas para uma
determinada umidade da massa de grãos. Entretanto, às vezes eles são
programados para se conseguir teores de umidade pré-determinado. Neste
caso, atua-se nos ventiladores fazendo-se com que o teor de umidade médio
da massa de grãos seja aumentado ou reduzido adequadamente até se atingir
o valor desejado (MAIER e MONTROSS, 1997).
No Brasil, o método tradicionalmente empregado para controlar os
ventiladores dos sistemas de armazenamento de grãos utiliza termostatos e
com base exclusivamente na temperatura da massa de grãos. O termostato é
regulado para acionar o ventilador quando a temperatura da massa de grãos
determinar os ajustes ideais do termostato para este método tradicional
(SINÍCIO e MUIR, 1998).
Segundo FUSAE (1999), em sistemas de aeração com ar natural, a
determinação do tempo de operação do ventilador é de uma importância tão
vital que levou a Agridry Rimik Pty, da Austrália, a desenvolver o TPC, um
controle de tempo proporcional, ao mesmo tempo simples e confiável.
No Brasil, a Dryeration, do Rio Grande do Sul, desenvolveu um sistema
automático para controlar e fazer o gerenciamento operacional de secagem,
resfriamento e conservação de grãos armazenados, denominado GISMAR -
Gerenciador Inteligente de Sistema de Manutenção da Qualidade da Massa de
3. PSI CROM ET RI A
3.1. INTRODUÇÃO
O ar é uma mistura gasosa composta por nitrogênio, oxigênio, dióxido
de carbono e outros gases. Considera-se que o vapor de água, proveniente da
evaporação de água da superfície, embora existente na atmosfera, não faz
parte de sua composição. Utiliza-o apenas como meio de transporte (CUNHA,
2000).
Quando se removem todo o vapor de água e os contaminantes do ar,
tem-se o ar seco, cuja composição é relativamente constante, apesar de
pequenas variações devido à localização geográfica e à altitude.
No Quadro 3.1, apresenta-se a composição percentual média do ar
seco.
QUADRO 3.1 - Composição aproximada do ar seco00 (SILVA, 2000)
Componente Fórmula Conteúdo
(% por volume)
Nitrogênio N2 78,084
Oxigênio O2 20,948
Argônio Ar 0,934
Dióxido de carbono CO2 0,033
Outros - 0,001
O conhecimento das condições de umidade do ar, isto é da mistura de
ar seco e vapor de água, é de grande importância para a secagem,
armazenamento, processamento e conservação de grãos. O estudo detalhado
desta mistura é denominado psicrometria. Psicrometria é, portanto, a parte da
termodinâmica que estuda as propriedades e os estados do ar, bem como os
Existem quatro propriedades utilizadas para definir a quantidade de
vapor de água contida no ar seco e três referentes à temperatura da mistura:
1. pressão parcial de vapor;
2. pressão de vapor saturado;
3. umidade relativa;
4. umidade absoluta;
5. temperatura de bulbo seco;
6. temperatura de bulbo molhado;
7. temperatura de ponto de orvalho.
Além destas, a entalpia e o volume específico são propriedades do ar
úmido normalmente utilizadas. A seguir, definem-se estas nove propriedades.
Pressão de vapor (Pv) é a pressão parcial exercida pelas moléculas de
vapor de água no ar úmido. A pressão parcial de vapor pode ser calculada pela
seguinte expressão:
(
)(
)
fg bs bm bs vm v h 273 T T T A PP = − − + (3.1)
em que
v
P = Pressão parcial de vapor, Pa;
vm
P = Pressão de saturação de vapor à temperatura de bulbo
molhado, Pa;
bs
T = Temperatura de bulbo seco, °C;
bm
T = Temperatura de bulbo molhado, °C;
A = Constante psicrométrica, 8,6189x105 J2/kg m3oC2);
fg
h = Entalpia de evaporação da água líquida à temperatura de
ponto de orvalho, J/kg.
Quando o ar está completamente saturado (4% de vapor de água), sua
pressão de vapor é chamada pressão de vapor de saturação (Pvs).
A pressão de vapor de saturação, em Pa, pode ser calculada pelas
expressões a seguir:
(
)
⎭ ⎬ ⎫ ⎩ ⎨ ⎧ + − + −= 5,17ln T 273
273 T 27 , 6834 43 , 60 exp P bs bs vs (3.2)
(
)
⎭ ⎬ ⎫ ⎩ ⎨ ⎧ + − + −= 0,46ln T 273
273 T 6270 96 , 31 exp P bs bs vs (3.3)
para –18 ≤ T ≤ 0oC.
Umidade relativa (UR) do ar é a relação entre a pressão parcial de vapor
(Pv) exercida pelas moléculas de água presente no ar e a pressão de saturação
(Pvs) à mesma temperatura. Normalmente é expressa em porcentagem.
100 P P U vs v
R = × (3.4)
Umidade absoluta (w) é a razão entre a massa de vapor de água e a
massa de ar seco em um determinado volume da mistura. É expressa em kg
de vapor por kg de ar seco.
(
at v)
v P P P 622 , 0 w − = (3.5) em que
w = Umidade absoluta, kg.m-3;
at
P = Pressão atmosférica local, Pa.
Temperatura de bulbo seco (Tbs) do ar é a temperatura do ar úmido,
medida com termômetro comum.
Temperatura de bulbo molhado (Tbm) é a temperatura do ar medida em
um termômetro comum com o bulbo coberto por um tecido de algodão
embebido em água destilada, e ventilado com ar cuja temperatura se deseja
medir, a uma velocidade mínima de 3,5 m/s. Pode ser expressa pelas
seguintes equações:
B P P T
T vm v
bs bm − + = (3.6)
(
)
[
( )
]
fg P P h 0,622 0,156 1 at v + −=1007Pvm Pat
Temperatura do ponto de orvalho (Tpo) é a temperatura em que o ar
úmido se torna saturado, isto é, a temperatura em que o vapor de água começa
a condensar-se por um processo de resfriamento.
⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ − ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ = 78 , 610 P ln 294 , 17 78 , 610 P ln 3 , 238 T v v po (3.8) em que po
T = Temperatura do ponto de orvalho, °C;
v
P = Pressão de vapor atual, Pa;
Quando o ar está saturado, as temperaturas de bulbo seco, de bulbo
molhado e de ponto de orvalho são idênticas.
Entalpia (h) de uma mistura de ar seco e vapor de água é a energia
contida no ar úmido por unidade de massa de ar seco, para temperaturas
superiores a uma determinada temperatura de referência (0o C). É expressa em J por kg de ar seco.
(
bs)
6
bs w 2,5 10 1876T
T 1007
h= + × + (3.9)
Volume específico (ve) é o volume de uma mistura de ar seco e vapor de
água por unidade de massa de ar seco, medido em m3 por kg de ar seco.
(
)
v at bs e P P 273 T 287 v − + = (3.10)Medindo-se a temperatura de bulbo seco (Tbs) e de bulbo molhado (Tbm),
por meio de um psicrômetro, e conhecendo-se a pressão atmosférica do local
(P ), é possível calcular todas as propriedades do ar que o envolve. at
3.2. DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS
E PROCESSOS DA MISTURA AR-VAPOR D’ÁGUA
Com base nas equações psicrométricas descritas anteriormente, podem
processos de aquecimento e de resfriamento de uma massa de ar, e o
processo de mistura de duas massas de ar, dentre outros. A metodologia para
obtenção dessas propriedades e a realização de alguns dos processos,
utilizando o gráfico psicrométrico, é descrita a seguir. Essa metodologia
também foi implementada em várias sub-rotinas computacionais, em linguagem
C++, especialmente desenvolvidas para este trabalho.
3.2.1 Determinação das Propriedades Psicrométricas do Ar
As propriedades psicrométricas do ar podem ser, facilmente,
determinadas utilizando-se um gráfico psicrométrico ou equações que as
descrevem. Propriedades do ar, tais como temperaturas de bulbo seco e de
bulbo molhado, umidade relativa, umidade absoluta, volume específico,
temperatura de ponto de orvalho e entalpia estão, todas, relacionadas no
gráfico psicrométrico.
Com apenas duas destas propriedades é possível caracterizar o ar, pois
o ponto de interseção destas duas propriedades no gráfico psicrométrico define
o ponto de estado do ar. Com o ponto de estado determinado, obtêm-se,
diretamente, no gráfico, as outras propriedades (STROBEL e STROWELL,
1999). A Figura 3.1 mostra um gráfico psicrométrico feito para uma
determinada pressão atmosférica. Fazendo-se as devidas correções, este
gráfico poderá ser utilizado em qualquer condição.
A temperatura do ar, medida em um termômetro de bulbo seco, é
representada no eixo das abscissas e serve como um indicador da quantidade
de calor contida nele. Linhas perpendiculares partindo deste eixo definem
pontos do gráfico de temperatura de bulbo seco constante.
No eixo das ordenadas, tem-se, à direita, a umidade absoluta, expressa
em kg de vapor d’água por kg de ar seco, e à esquerda a pressão de vapor,
expressa em Pa. As linhas perpendiculares a este eixo são linhas de umidade
FIGURA 3.1 - Gráfico psicrométrico mostrando o ponto de estado.
As linhas curvas entre os três eixos, que vão da parte esquerda inferior
para a direita superior, são linhas de umidade relativa constante. A linha curva
mais alta é a linha de umidade relativa de 100%, chamada de curva de
saturação, sobre a qual se lêem as temperaturas de bulbo molhado e de ponto
de orvalho. Em qualquer ponto desta linha tem-se ar saturado.
Nos segmentos de reta situados acima da curva de saturação lê-se a
entalpia, isto é, a quantidade de calor envolvida na mudança de estado, em J
por kg de ar seco. Finalmente, partindo-se do eixo das abscissas e inclinadas
para a esquerda, tem-se as linhas de volume específico do ar seco em m3 de ar por kg de ar seco.
3.2.2 Aquecimento ou Resfriamento de uma Massa de Ar
A Figura 3.2 representa um processo de aquecimento ou resfriamento
sensível. Neste processo, a temperatura de bulbo seco do ar aumenta ou
diminui, enquanto a umidade absoluta do ar permanece constante. Neste
FIGURA 3.2 - Processo de aquecimento ou resfriamento do ar a calor sensível.
Na Figura 3.3 tem-se um processo adiabático. Neste caso, tanto a
temperatura de bulbo seco do ar quanto a umidade absoluta variam, porém não
há troca de calor com o meio externo. Nota-se que, neste caso, o ponto de
estado desloca-se sobre linha de entalpia constante.
FIGURA 3.3 - Processo de aquecimento ou resfriamento adiabático do ar.
3.2.3 Mistura de Duas Massas de Ar
Em diversos processos é preciso misturar-se duas massas de ar com
fluxos e propriedades termodinâmicas diferentes. As condições finais desta
conforme mostrado na Figura 3.4, ou equações de balanço de massa e
energia.
FIGURA 3.4 - Processo de mistura de dois fluxos de ar.
Sejam dois fluxos de ar, respectivamente, com massa m1 e m2,
temperatura T1 e T2, entalpia h1 e h2 e de umidade absoluta w1 e w2, que se
misturam resultando um fluxo de massa m3, com temperatura T3, entalpia h3 e
umidade absoluta w3, conforme mostrado na Figura 3.5.
FIGURA 3.5 - Mistura de duas massas de ar.
Para este processo, os balanços de energia e de massa podem ser
escritos como segue:
3 2
1 m m
3 3 2 2 1
1w m w m w
m& + & = & (3.12)
3 3 2 2 1
1h m h m h
m& + & = & (3.13)
Substituindo-se a equação (3.11) nas equações (3.12) e (3.13), tem-se:
(
3 1)
2(
2 3)
1h h m h h
m& − = & − (3.14)
(
3 1)
2(
2 3)
1 w w m w w
m& − = & − (3.15)
Desta forma obtém-se:
1 3 3 2 1 3 3 2 2 1 w w w w h h h h m m − − = − − = & & (3.16)
As condições finais da mistura ar-vapor d’água podem ser obtidas
algebricamente, utilizando-se a equação (3.16) ou por meio do gráfico
psicrométrico, conforme mostrado na Figura 3.4.
O ponto A representa o ponto de estado do fluido de fluxo de massa m&1,
definido pelo encontro das linhas h1 e w1, enquanto o ponto B, ponto de
encontro das linhas que partem de h2 e w2, define o ponto de estado do fluido
de fluxo de massa m&2. O ponto de estado do fluido resultante desta mistura
encontra-se sobre a linha que une os pontos A e B e pode ser determinado
4. SI ST EM AS DE CON T ROLE
4.1. INTRODUÇÃO
Um sistema pode ser definido como um conjunto de componentes
interconectados capaz de realizar uma determinada tarefa. Estes componentes
tanto podem ser elementos discretos de uma instalação, quanto elementos de
um destes componentes (SCHWARZENBACH e GILL, 1984). Por exemplo, o
sistema de interesse pode ser uma usina hidroelétrica, uma turbina desta usina
ou mesmo um dispositivo qualquer desta turbina. Portanto, o sistema deve
englobar somente aquilo que é de interesse para a análise que se pretende
realizar.
Um sistema pode ser considerado também como sendo uma caixa preta
com uma ou mais entradas, uma ou mais saídas, e as relações entre estas
entrada e saídas (BOLTON, 1995).
Nenhum sistema é estanque. Ele interage com o ambiente no qual está
inserido. Portanto, é preciso definir claramente o que é o sistema e o que é o
seu entorno, ou seja, é necessário limitar suas fronteiras, bem como
caracterizar os sinais de interesse que as atravessam e ajudam a descrever e
definir seu comportamento.
Em particular, um sistema é dito de controle quando sua saída é
controlada para assumir um valor particular ou seguir uma determinada entrada
(BOLTON, 1995). O termo é usado para caracterizar as interações específicas
entre homem e máquina como, por exemplo, dirigir um automóvel. Neste caso,
como o homem intervém diretamente no processo, tem-se um controle manual.
O controle é dito automático quando é feito sem intervenção humana, como no
caso do controle da temperatura de uma sala por meio de um termostato
(FRANKLIN et al., 1991). Atualmente, os sistemas de controle manuais, que
exigem a presença de um operário para acioná-los, vêm sendo, cada vez mais,
substituídos por controles automáticos.
Um sistema de controle apresenta uma ou mais variáveis controladas ou
também uma ou mais variáveis que controlam o processo e ainda as
perturbações ou distúrbios, que tendem a alterar as variáveis controladas.
A função do sistema de controle é regular o valor da variável
controlada, quando perturbações a modificam, por meio de um dispositivo
controlador (HUMPHIES e SHEETS, 1999).
Em escala industrial, o primeiro sistema de controle automático surgiu
em 1788, quando James Watt desenvolveu um regulador centrífugo para o
controle da velocidade de uma máquina a vapor (SILVEIRA e SANTOS, 1999).
Aos reguladores mecânicos, seguiram os controladores pneumáticos e
hidráulicos.
Ao fim da segunda guerra mundial, surgiram os controladores
eletrônicos baseados em circuitos analógicos e, posteriormente, os digitais.
Estes, além de utilizarem um circuito eletrônico, exigem ainda um programa
para comandá-los.
4.2. TEORIA DE CONTROLE
A teoria de controle convencional ou controle clássico é, usualmente,
aplicável somente a sistemas monovariáveis, lineares e invariantes no tempo,
normalmente denominados de sistemas de Entrada Única e Saída Única (SISO
- Single Input, Single Output) e está centrada no domínio da freqüência
complexa (OGATA, 1998).
O surgimento de sistemas de engenharia cada vez mais complexos, a
necessidade de satisfazer requisitos cada vez mais rigorosos quanto ao
desempenho do sistema de controle e a facilidade de acesso aos
computadores deram ensejo ao desenvolvimento, na década de 60, da teoria
de controle moderno (OGATA, 1998).
A teoria de controle moderno apresenta uma nova forma de analisar e
projetar sistemas de controle complexos, baseados nos conceitos de estado e
variáveis de estado e pode ser aplicada a sistemas de entradas e saídas
múltiplas, lineares ou não, variantes ou invariantes no tempo. Além disto, está