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Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
Fatores
de
risco
associados
à
intensidade
de
dor
nas
costas
em
escolares
do
município
de
Teutônia
(RS)
Matias
Noll
a,∗,
Rodrigo
Arruda
Fraga
b,
Bruna
Nichele
da
Rosa
ce
Cláudia
Tarragô
Candotti
daInstitutoFederalGoiano,CampusCeres(IFGoiano),Ceres,GO,Brasil
bCursodeLicenciaturaPlenaemEducac¸ãoFísica,UniversidadeLuteranadoBrasil(Ulbra),Canoas,RS,Brasil
cCursodeFisioterapia,EscoladeEducac¸ãoFísica,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),PortoAlegre,RS,Brasil dDepartamentodeEducac¸ãoFísica,EscoladeEducac¸ãoFísica,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),PortoAlegre,
RS,Brasil
Recebidoem21denovembrode2012;aceitoem2demaiode2014 DisponívelnaInternetem28dejaneirode2016
PALAVRAS-CHAVE
Dornascostas; Saúdedo adolescente; Epidemiologia; Postura
Resumo Esteestudotevecomoobjetivoverificaraprevalênciaeintensidadededornas cos-tas(DC)eosfatoresderiscoassociadosaumníveldeelevadaintensidadededoremescolares doEnsinoFundamentaldeTeutônia,RS.Participaramdesteestudoepidemiológico1.597 esco-laresde5aa8aséries.Osdadosforamcoletadospormeiodeumquestionárioautoaplicável
eanalisadosapartirdeumaanálisemultivariáveledocálculodasrazõesdeprevalência(RP) (␣=0,05).Verificou-sequeaprevalênciadeDCnosúltimostrêsmesesfoide55,7%(n=802)e queaelevadaintensidadedeDCestáassociadacomasvariáveis:frequênciadedor(RP=1,37;
p=0,001),impedimentoaofazeratividadesdodiaadia(RP=1,25;p=0,001)emeiode trans-portedomaterialescolar(RP=1,10;p=0,026).Estesresultadospodemauxiliarosprofessores deeducac¸ãofísicaaplanejarsuasatividadescurriculares.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
KEYWORDS
Backpain; Adolescenthealth; Epidemiology; Posture
Riskfactorsassociatedwiththeintensityofbackpaininschoolchildren ofTeutônia(RS)
Abstract Theaimofthisstudywasverifytheprevalenceandbackpain(BP)intensity,andrisk factorsassociatedwithanelevatedlevelofpainintensityinschoolchildrenofbasiceducation fromTeutônia,RS.1597studentsfrom5thto8thgradeparticipatedinthisepidemiologicalstudy.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:matiasnoll@yahoo.com.br(M.Noll).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.12.014
Datawerecollectedthroughaself-administeredquestionnaireandanalyzedfroma multivaria-bleanalysisandfromthecalculationofprevalenceratios(PR)(␣=0.05).Wereverifiedthatthe prevalenceofBPinlastthreemonthswas55.7%(n=802)andtheelevatedlevelofBPis asso-ciatedwithvariables:painfrequency(PR=1.37;p=0.001),impedimenttoperformactivities ofdailylife(PR=1.25;p=0.001)andtransportationofschoolsupplies(PR=1,10;p=0,026). Theseresultsmayassistphysicaleducationteacherstoplantheirteachingactivities.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.
PALABRASCLAVE
Dolordeespalda; Saluddelos adolescentes; Epidemiología; Postura
Factoresderiesgoasociadosconlaintensidaddeldolordeespaldaenescolares deTeutônia(RS)
Resumen Elestudiotuvocomoobjetivodeterminarlaprevalenciaylaintensidaddeldolorde espalda (DE),y los factoresde riesgo asociados con un alto nivel de intensidad del dolor enlosestudiantesdelaescuelaprimariadeTeutônia, RS.Elestudioepidemiológicoincluyó a1.597 estudiantesdelosgradosquintoaoctavo.Losdatosserecopilaronconuncuestionario autoadministradoyseanalizaronmedianteunanálisismultivariableyelcálculodelastasasde prevalencia(TP;␣=0,05).SeencontróquelaprevalenciadelaDEenlosúltimos3mesesfueel 55,7%yunaDEdealtaintensidadestáasociadaconvariables:frecuenciadeldolor(TP=1,37;
p=0,001),impedimentopararealizarlasactividadesdelavidadiaria(TP=1,25;p=0,001)y eltransportedematerialescolar(TP=1,10;p=0,026).Estosresultadospuedenayudaralos profesoresdeeducaciónfísicaaplanificarsusactividadesdeense˜nanza.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.
Introduc
¸ão
Naatualidade,aocorrênciadedornascostasedealterac¸ões posturais está entre os maiores problemas enfrentados pelospaísesemdesenvolvimento(Serranheiraetal.,2009; Balagué et al., 1999). Grande parte dapopulac¸ão desses paísesqueixa-sededoresnacolunavertebral,quedeixam precocementeincapacitadaagrandemaioriadosadultosem suasatividadesdavidadiária(AVD’s)(Alperovitch-Najenson etal.,2010).Gurgueiraetal.(2003),avaliarama prevalên-ciadesintomasmusculoesqueléticosem105trabalhadoras deenfermagemeencontraram que59%das trabalhadoras queixaram-sededornaregiãolombarnosúltimos12mesese que31,4%queixaram-sededornamesmaregiãonosúltimos setedias.
Játemsidoreferenciadoqueadornascostas,alémde estarpresentenapopulac¸ãodeadultos,acometetambém apopulac¸ãodeescolares.Martinez-Crespoetal.(2009),ao investigar887jovensescolaresemSevilha,naEspanha, veri-ficaram que 66% desses manifestaram a presenc¸a de dor nas costas no último ano. Skoffer (2007), ao avaliar ati-vidade física e dor nas costas em 546 escolares de 14 a 17 anos de uma cidade da Dinamarca, verificou que 60% dos estudantes apresentaram prevalência de dor nas cos-tasnosúltimos12meses.Domesmomodo,García(2009), aoavaliar61escolaresentrenovee12anosemumcolégio públiconazonaruraldeumacidadedaEspanha, demons-trouque 62,3%dos alunosqueixavam-se dedorna coluna vertebral.
Achados na literatura demonstram que a dor nas cos-tas em jovens pode ter causas multifatoriais, como, por exemplo,excessodepesodomaterialescolar(Neto,1991) e transporte de modo inadequado (Detsch et al., 2007), mobíliascom o tamanhoinadequado, postura inadequada nasAVD’s (Vanderthommen etal., 1999),postura sentada porperíodosprolongados(ToscanoeEgypto,2001), seden-tarismo(Polito etal., 2003),postura ao dormire colchão inadequado(Neto, 1991),práticadeexercíciofísicoentre outros (Shehab e Jarallah, 2005; Paananen et al., 2010; Auvinenetal.,2010).
Em síntese, parecehaver umconsenso tanto deque a prevalênciadedornascostasem jovenséalta, próximaà dos adultos,quanto de quais são os principais fatoresde riscoassociadosaela. Nãoobstante, essasevidências não têmsido relacionadascoma magnitudedessa dor.Assim, considerandoessalacunaexpostanaliteratura,acredita-se importanteavaliarquaissãoosfatoresderiscoassociados àmagnitudedadornascostas,ouseja,aintensidadedessa dor,vistoqueamesmaestádiretamenterelacionadaà inca-pacidadedefazernormalmenteasatividadesdodia adia dosescolares(Jonesetal.,2004).
Tabela1 Frequênciaepercentualdosescolaresavaliados estratificadosporsexoeidade
Idade MasculinoN(%) FemininoN(%) TotalN(%)
11 99(11,6) 107(14,4) 206(12,9) 12 192(22,4) 181(24,4) 373(23,4) 13 197(23) 179(24,2) 376(23,5) 14 203(23,7) 172(23,2) 375(23,5) 15 120(14) 83(11,2) 203(12,7) 16 45(5,3) 19(2,6) 64(4) Total 856(100) 741(100) 1597(100)
serrelevanteo desenvolvimentodeestudosque busquem compreenderessasrelac¸ões,umavezquepoderãoserúteis parasubsidiarac¸õesdepromoc¸ãodasaúde.Aindaquenão sepossaeliminaroproblemadaocorrênciadedornascostas emescolares,éimportanteconhecerosfatoresqueestão associadosaumamaiorintensidadedessador,paraquese possaintervirpositivamentesobreessasquestões.Portanto, justifica-seopresenteestudo,oqualtevecomoobjetivos verificar(1)aprevalênciadedornascostas,(2)osníveisde intensidadedessadore(3)quaisosfatoresderisco associ-adosaumníveldeelevadaintensidadededoremescolares doEnsino Fundamental de 5a a 8a séries domunicípiode Teutônia,EstadodoRioGrandedoSul.
Material
e
métodos
Trata-sedeumestudodebasepopulacional,feitoemagosto esetembrode2011,aprovadonoComitêdeÉticaePesquisa daUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,sobnúmero 19.832.Foramconvidados aparticipar doestudo todosos 1.720escolaresdoEnsinoFundamental,de5aa8aséries,de todasasescolas(n=11)domunicípiodeTeutônia,Estadodo RioGrandedoSul,Brasil.Participaramdopresenteestudo 1.597escolares, apenas7,2% (n=123)do totalde escola-resserecusaramaparticipardopresenteestudoe/ounão compareceramna escolano dia daavaliac¸ão. Dessetotal deescolares,835(52,3%),628(39,3%)e134(8,4%)sãode escolasdasredesmunicipal,estadualeparticulardeensino, respectivamente.Atabela1descreveosparticipantes estra-tificadosporsexoeidade.
Instrumento
Paraverificar aprevalência eintensidade dedor nas cos-tas (DC) e os fatores de risco associados a um nível de elevadaintensidadededoremescolaresfoiusadoo questi-onárioautoaplicávelBackPainandBodyPostureEvaluation Instrument(BackPEI) (Nollet al., 2013). O BackPEIé um questionárioválidoereprodutível,constituídopor21 ques-tões fechadas, que tem uma versão para cada sexo (Noll etal.,2013).Oquestionárioabordaquestõessobre:(1)dor nascostas nosúltimos três meses(ocorrência, frequência eintensidade);(2)demográficas(idade esexo);(3) socio-econômicas(escolaridade dos pais/responsáveis e tipode escola);(4)comportamentais(atividadefísica,ler/estudar nacama,horas/diaassistindotelevisãoeaocomputador); (5) posturais (modo de sentar para escrever e usar com-putador,mododetransportedomaterialescolar,modode
dormiremododesentarparaconversar)e(6)hereditárias (ocorrênciadedornascostasnospais).
Procedimentodecoletaedeanálisededados
Foi feita uma reunião com a Secretaria Municipal de Educac¸ão(SME/Teutônia)naqualtodasasescolasdo municí-pioforamconvidadasaparticipardopresenteestudo.Após oconsentimento,tanto daSME/Teutôniaquantodas esco-las, foram agendadas as datas das avaliac¸ões. As turmas dasrespectivasescolasforamavaliadasindividualmenteem sua própriasalade aula. Inicialmente, o pesquisador dis-tribuiu os questionários aos alunos e orientou quanto ao adequado preenchimento, o qual deveria ser respondido individualmente.Opesquisadorpermaneceunasaladurante o preenchimentodos questionários, oque em médiateve durac¸ãode20minutos,eosrecolheuquandotodosos esco-laresterminaram.
Os dados foram tabulados no software Excel por dois pesquisadores treinados. Para as análises estatísticas foi usado o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão20.0.Osdadosforamanalisadosapartirde estatís-ticadescritivae docálculodasrazõesdeprevalência(RP) e seusrespectivosintervalos deconfianc¸ade95%(IC95%). As RP foram calculadas a partir de uma análise multiva-riável feita a partir do modelo de regressão de Poisson, comvariânciarobusta(␣=0,05).Paraessaanálise
multiva-riável foram incluídos apenas os escolares que referiram dornas costasnosúltimos três meses.Aamostrafoi divi-dida em doisgrupos (o grupo comintensidade maisbaixa de dor e o grupo com intensidade mais alta de dor) a partirdamedianadeintensidadededor.Avariável depen-dente (desfecho)foia intensidadede dornas costase as variáveis independentes (exposic¸ão) foram os fatores de risco.
Resultados
Aprevalênciadedornascostasnosúltimostrêsmesesfoi de55,7%(n=802),44,3%(n=637)referiramnãotersentido dore158avaliadosnãoresponderamaessaquestãoeforam excluídosdapresenteanálise.Noentanto,vistoqueo obje-tivodopresenteestudofoiavaliarosescolaresquereferiram sentirdornosúltimostrêsmeses,foramincluídosnaanálise apenasesteescolares.
Emrelac¸ãoàfrequênciadador,verificou-seque 43,5% dosescolaresreferiramtersentidoadorcomfrequênciade umavezpormêseque16,4%dos escolaresreferiram que essadornascostasosimpediudefazeratividadesdodiaa dia,comobrincar,estudarepraticaresportes(tabela2).
Osresultadosdemonstraramqueamaioriadosescolares praticaexercíciofísicoregularmente(90,9%),amaioriacom frequênciadeumadoisdiasporsemana(53,1%)edeforma nãocompetitiva(57,3%).Verificou-setambémqueamaioria dosescolaresassisteàtelevisãoeusaocomputadoratétrês diariamente(tabela2).
Tabela2 Resultadosdeassociac¸ão(2)erazõesdeprevalênciaparaavariáveldependentedornascostaseparaasvariáveis independentes
Variáveis N◦(%) Intensidade
elevadaN◦(%)
pa Razãodeprevalência
(IC95%)
Frequênciadador(n=717)
Apenas1vez 231(32,2) 83(35,9) 0,001b 1
1vezpormês 312(43,5) 154(49,4) 1,10(1,04a1,16)
1vezporsemana 79(11) 42(53,2) 1,13(1,03a1,23)
2a3vezesporsemana 60(8,4) 42(70) 1,25(1,15a1,36) 4vezesoumaisporsemana 35(4,9) 30(85,7) 1,37(1,26a1,48)
Impedimentodefazeratividadesdodiaadia(n=743)
Nãoimpedimento 621(83,6) 259(41,7) 0,001b 1
Impedimento 122(16,4) 94(77) 1,25(1,19a1,31)
Sexo(n=784)
Masculino 361(46) 168(46,5) 0,21 1
Feminino 423(54) 216(51,1) 1,03(0,98a1,08)
Idade(n=784)
11 92(11,7) 42(45,7) 0,35 1
12 175(22,3) 79(45,1) 1(0,91a1,09)
13 195(24,9) 94(48,2) 1,02(0,93a1,11)
14 191(24,4) 104(54,5) 1,06(0,97a1,15)
15 97(12,4) 45(46,4) 1(0,91a1,11)
16 34(4,3) 20(58,8) 1,09(0,96a1,24)
Práticadeexercíciofísico(n=783)
Sim 712(90,9) 348(48,9) 0,946 1
Não 71(9,1) 35(49,3) 1(0,092a1,09)
Frequênciasemanaldeexercíciofísico(n=708)c
1a2diasporsemana 376(53,1) 184(48,9) 0,978 1
3a4diasporsemana 179(25,3) 86(48) 0,99(0,94a1,05) 5oumaisdiasporsemana 153(21,6) 75(49) 1(0,94a1,07)
Práticacompetitivadeexercíciofísico(n=702)c
Sim 297(42,3) 139(46,8) 0,421 1
Não 405(57,7) 202(49,9) 1,02(0,97a1,07)
Tempoassistindoatelevisãopordia(n=782)
0a3horapordia 459(58,7) 225(49) 0,953 1
4a7horaspordia 247(31,6) 122(49,4) 1(0,95a1,05) 8oumaishoraspordia 76(9,7) 36(47,4) 0,99(0,91a1,07)
Tempousandoocomputadorpordia(n=774)
0a1horapordia 330(42,6) 155(47) 0,38 1
2a3horaspordia 235(30,4) 112(47,7) 1(0,95a1,06) 4a5horaspordia 129(16,7) 71(55) 1,05(0,99a1,13) 6oumaishoraspordia 80(10,3) 42(52,5) 1,03(0,96a1,12)
Tempodesonopornoite(n=672)
0a7horaspordia 234(34,8) 118(50,4) 0,25 1
8a9horaspordia 335(49,9) 150(44,8) 0,96(0,91a1,02) 10oumaishoraspordia 103(15,3) 54(52,4) 1,01(0,94a1,09)
Lere/ouestudarnacama(n=784)
Não 138(17,6) 67(48,6) 0,912 1
Sim 646(82,4) 317(49,1) 1(0,94a1,07)
Posturaparadormir(n=783)
Decúbitodorsal 42(5,4) 17(40,5) 0,115 1
Tabela2 (Continuac¸ão)
Variáveis N◦(%) Intensidade
elevadaN◦(%)
pa Razãodeprevalência
(IC95%)
Posturasentadaparaescrever(n=783)
Adequada 97(12,4) 43(44,3) 0,325 1
Inadequada 686(87,6) 341(49,7) 1,04(0,96a1,11)
Posturasentadaemumbancoparaconversar(n=784)
Adequada 90(11,5) 36(40) 0,073 1
Inadequada 694(88,5) 348(50,1) 1,07(0,99a1,16)
Posturasentadaparausarocomputador(n=780)
Adequada 145(18,6) 62(42,8) 0,107 1
Inadequada 635(81,4) 319(50,2) 1,05(0,99a1,12)
Posturaparapegarobjetodochão(n=778)
Adequada 64(8,2) 30(46,9) 0,76 1
Inadequada 714(91,8) 349(48,9) 1,01(0,93a1,11)
Meiodetransportedomaterialescolar(n=784)
Mochilaescolardeduasalc¸as 735(93,8) 353(48) 0,026b 1
Outromeiodetransporte(pasta,bolsaeoutros) 49(6,3) 31(63,3) 1,10(1,01a1,20)
Mododetransportedamochilaescolar(n=728)c
Adequado(alc¸assimétricassobreosombros) 627(86,1) 299(47,7) 0,47 1
Inadequado(modonãosimétrico) 101(13,9) 52(51,5) 1,03(0,96a1,1)
aAnálisemultivariável(TesteWaldChi-Square). b Associac¸ãoestatísticasignificativa(p<0,05).
c Somenteparaosescolaresaosquaisavariávelseaplica.
Emrelac¸ãoàsposturassentadasepegarobjetosdosolo, observou-sequegrandepartedosescolares(>80%)executa atarefa demaneirainadequada. Entretanto,os escolares (93,8%)utilizammochilaeessaétransportadapelamaioria (86,1%)demodoadequadocomasalc¸assimétricassobreos ombros.
Em relac¸ãoà intensidade dador, a médiageral foide 3,3cme amédiaporsexofoide3,5cmparaofemininoe 3,1cmparao masculino.O totaldeescolaresfoidividido apartirdamediana dedor,aqualfoide2,8cm.Os esco-laresqueapresentaramintensidadededorabaixoeacima damedianaforamincluídosnosgruposcaracterizadoscomo ‘‘baixaintensidade’’e‘‘intensidadeelevada’’, respectiva-mente.Apartirdaanálisemultivariávelverificou-sequea elevadaintensidadededornascostasestáassociadacomas variáveisfrequênciadedor,impedimentoaofazer ativida-desdodiaa diae meiodetransportedomaterialescolar (tabela2).
Discussão
Dosescolaresavaliados,55,7%(n=802)referiramsentirdor nosúltimostrêsmeses.Estudosemelhantefoifeitona Ale-manhaporRoth-Isigkeit etal.(2004), que,ao avaliar735 escolares entre10 e 18 anos, observaram que 38,6% dos estudantes apresentaram dor nas costas nos últimos três meses.Outroestudo, feitocom 120 estudantes doensino fundamentaldacidadedeSãoPaulo,observouumaumento de61%naprevalênciadedornascostasdosescolaresque aumentavacomaidade,associadaasituac¸õesdavidadiária,
principalmente notransportedamochila escolar(Rebolho etal.,2011).
Em relac¸ão à intensidadedador, avaliada nopresente estudo, as meninas apresentaram uma intensidade maior dedor(3,5cm)em comparac¸ão comosmeninos(3,1cm).
AoavaliaroimpedimentodefazerasAVD’s,foiobservado quea dornascostas impediaapenas16,4% dosescolares.
Newcomere Sinaki (1996) observaram queapenas 8% das
crianc¸astinhamsidolimitadaspelador,queasimpediude fazerasAVD’s.Noentanto,Masieroetal.(2008),que tam-bémavaliaramainfluênciadedor nasatividadesdodia a dia, verificaram que 34% dos entrevistadosque relataram doralegaraminterrupc¸ãotemporáriadasatividades espor-tivas, apresentaram uma prevalência de impedimento de fazeratividadessuperioràencontradanopresenteestudo. No presente estudo, a análise multivariável demonstrou associac¸ãosignificativaemrelac¸ãoaoimpedimentodefazer atividades dodia a dia coma elevadaintensidadede dor nas costas. Os escolares que relataram impedimento de fazeratividadesdodiaadiaapresentarammaior prevalên-cia(RP=1,25;p=0,001)deintensidadeelevadadedornas costas.
Aliteraturatemdemonstradoque osescolaresdosexo feminino apresentam maiorchance de ter dor nascostas (Feldman etal., 1999;Shehabe Jarallah,2005; Martinez--Crespoetal.,2009;Yaoetal.,2011)emaiorintensidadede doremcomparac¸ãocomosmeninos(Korovessisetal.,2005; Masieroetal.,2008).Nessesentido,apesardeosdados des-critivos teremdemonstrado umamaiorintensidade média dedornascostasnasmeninasemcomparac¸ãocomos meni-nos,osresultadosdaanálisemultivariávelfeitanopresente estudodemonstraramquenãohouveassociac¸ãosignificativa entreosexodosescolareseaintensidadededornascostas. Corroborandoessesachados,Yaoetal.(2011),aoinvestigar aprevalênciadedorlombarem2.083alunosentre10e18 anos em umaescola da China,observram que não houve diferenc¸asignificativaentreossexosparaaintensidadede dor.
Emrelac¸ãoàidadedosescolaresavaliados,achadosna literaturatêmassociadoaprevalênciadedornascostascom o aumento da idade (Taimelaet al., 1997). Porém, esses estudosnãotêmrelacionadoaidadecomaelevada inten-sidadede dor nascostas. Referente a essa informac¸ão,o presenteestudo demonstraque a variávelidade nãoestá associadacomumaintensidadeelevadadedor.
Noqueconcerneàprática,frequênciaecaráter competi-tivodeexercíciosfísicos,opresenteestudonãodemonstrou associac¸ão significativa dessas variáveis com a elevada intensidadedadornascostas.Complementandotais acha-dos,Balaguéetal.(2012)demonstraramqueosedentarismo porfaltadeexercíciosnãoestáassociadoàelevada inten-sidadededornascostas.
Ao avaliar o tempo em que os escolares de Teutônia assistemàtelevisãoeusamocomputador,observou-seque 58,7% assistem à televisão e 73% usam o computador por um período de até três horas por dia, respectivamente.
Vittaetal.(2011),emseuestudo,demonstraramque73% e67,1%dosescolaresassistiamàtelevisãoporumperíodo acimadeduas horasdiáriase usamo computadorporum período de até duas horas diárias, respectivamente. Os resultadosdopresenteestudodemonstraramquenãohouve associac¸ãosignificativaentreotempoassistindoàtelevisão eusandoocomputadorpordia comaelevadaintensidade dedornascostas.Essesachadossãorelevantes,poiseste é o primeiro estudo que verificaa associac¸ão entre esses hábitoseaintensidadededor.
Emrelac¸ãoaotempodesonopornoite,hánaliteratura poucosestudosquerelacionamessavariável comportamen-tal com a prevalência ou intensidade de dor nas costas. Opresenteestudonãodemonstrouassociac¸ãosignificativa entre a intensidade de dor nas costas e o tempo diário desono,foiverificadoqueamaioriadosescolares(49,9%) dorme de oito a nove horas por noite, período recomen-dado pela literatura como de sono ideal para crianc¸as e adolescentes(Auvinenetal.,2010).
Quantoaomeiodetransportedomaterialescolar,93,8% dosescolares usam mochila deduas alc¸as e desses 86,1% usamamochilademodoadequado (alc¸assimétricassobre osombros). Essesachados estão de acordocom os resul-tadosencontradosporCandottietal.(2012),osquais,ao avaliarescolaresdoensinofundamentaldacidadedeDois Irmãos/RS,verificaramque75%usavammochilaescolarea transportavamdemodoadequado.
Amochiladeduasalc¸aséomeiodetransporteadequado paracarregar o material escolar,uma vez que mantém a cargaimposta pelo material escolar próxima dacoluna e quandousadosimetricamentesobreosdoisombrosfavorece aestabilidadecorporal(Akram,2009).Aanálise multivariá-veldemonstrou umaassociac¸ãosignificativa entreo meio de transporte do material com a elevada intensidade de dornascostas,umavez queosescolaresque nãousaram amochila escolarcomo meiode transporteapresentaram maiorprevalência(RP=1,10;p=0,026)deintensidade ele-vada de dor nascostas. Complementando, Akram (2009), ao avaliar a intensidade de dor nas costas em escolares queusammochilademodonãosimétrico,observaramque 13%apresentaram dorcom intensidademoderada agrave (Akram,2009).
Aoavaliar asposturassentadas(paraescrever, conver-sareusarocomputador),bemcomoaposturaparapegar objetodochão,observou-sequeamaioriadosescolares ava-liadosexecuta-as deformainadequada. Domesmo modo,
Detschetal.(2007)observaramque89,9%dasalunas senta-vamdemaneira inadequadaem saladeaula e 72,5% das escolares mantinham uma postura inadequada ao usar o computador.Rebolhoetal.(2011)encontraramresultados semelhantesaoobservarque amaioriadas crianc¸as(69%) pegavaobjetodochãodemodoinadequado.Contudo,esses estudosencontradosnãoobjetivaramrelacionarseus acha-dos com a variável dor nas costas. Em relac¸ão à análise multivariável,opresenteestudonãoencontrouassociac¸ão entreavariáveldependenteintensidadededorelevadae asvariáveisindependentesposturassentadaparaescrever, paraconversareusarocomputadorepegarobjetodochão. Observou-setambémumamaiorprevalênciadepostura adequada ao dormir. No entanto, em estudo semelhante, observou-seque amaioria dosescolaresavaliados(66,4%) dormiademodo inadequado(decúbitoventral),resultado discrepante do presente estudo (Rebolho et al., 2011). Indicac¸ões na literaturaafirmam que nãoé recomendado dormirem decúbitoventral,pois essa posic¸ão aumentaa curvaturadalordoselombar,érecomendadoqueasposic¸ões adotadasparadormir,entreastrêsposic¸õesmaiscomuns, sejamemdecúbitolateraledorsal(Furtadoetal.,2009).
adotadas por elesao lerou estudar sobrea cama. Nesse sentido,opresenteestudoprocurouavaliaressasvariáveis, observouque82,4%dosescolaresavaliadosleemouestudam sobrea camaedesses 49,1%apresentamumaintensidade elevadadedor.Noentanto,essesachadosnãoapresentaram associac¸ãosignificativa.
Tendo em vista a alta prevalência de postura inade-quada nas AVD’s, alguns estudos têm sugerido que essas crianc¸as sejam integradas a programas educativos e pre-ventivos (Candotti et al., 2011). Além disso, a literatura tem referenciado que jovens participantes de Programas deEducac¸ão Postural (PEP), em diferentesfaixas etárias, tendema modificar positivamente suapostura durante as atividades da vida diária (Cardon et al., 2000; Candotti etal.,2011; Rebolhoetal.,2009; Candottietal.,2011). Além da execuc¸ão desses programas, tem sido recomen-dado,também,aleituradepalestrasparapaiseprofessores nasescolas,afimdeconscientizarsobreaimportânciade manterbonshábitosposturais (Candottietal.,2011; Noll etal.,2014).
Conclusão
Osresultadosdemonstraram associac¸ão significativaentre umaelevadadornas costascom osfatoresfrequênciade dor, impedimento de fazer as AVD’s e modo de carregar omaterialescolar. Espera-se queosresultadosaqui apre-sentadospossamauxiliarosprofessoresdeeducac¸ãofísica e outras disciplinas, incluindo a própria escola, a plane-jarsuasatividadescurriculares,contemplarnelasatividades voltadasparaaeducac¸ãoposturaldosescolaresdoensino fundamental.
Financiamento
Coordenac¸ão de Aperfeic¸oamento de Pessoal de Nível Superior(Capes),modalidadebolsademestrado,e Conse-lhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),modalidadefinanciamentodeprojetodepesquisa.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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