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Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
A
economia
das
trocas
simbólicas
no
campo
do
Taekwondo
Thiago
Farias
da
Fonseca
Pimenta
a,b,∗e
Alexandre
Janotta
Drigo
aaProgramadePós-graduac¸ãoemCiênciasdaMotricidade,UniversidadeEstadualPaulistaJuliodeMesquitaFilho(Unesp),São
Paulo,SP,Brasil
bCentroUniversitárioUnibrasileUniversidadePositivo(UP),Curitiba,PR,Brasil
Recebidoem6dejulhode2012;aceitoem5desetembrode2012 DisponívelnaInternetem4demarçode2015
PALAVRAS-CHAVE
Campoesportivo; Trocassimbólicas; Artesmarciais; Taekwondo
Resumo Opresenteartigoobjetivouidentificarcomoseconstituiaeconomiadastrocas sim-bólicas nocampo esportivodoTaekwondo.Analisaram-secincoentrevistassemiestruturadas dos‘‘mestres’’dessaartemarcial,agentesatuantesnoEstadodeSãoPaulo(2007),para iden-tificaressaeconomiapossivelmentereproduzidanessecampo.Usou-seoreferencialteóricode PierreBourdieuparaanálisedasentrevistas.Considerou-sequeessasimposic¸õessimbólicassão reproduzidaseressignificadaseservemcomoferramentademanutenc¸ãodepodereposic¸ões nointeriordocampoesportivodoTaekwondo.
©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
KEYWORDS
Sportsfield;
Symbolicexchanges; Martialarts;
Taekwondo
ThesymbolictradeeconomyinTaekwondofield
Abstract Thepresent articleaimedtoidentifyhow theeconomyofsymbolicexchangesis constitutedinthesportfield ofTaekwondo.Weanalyzed fivesemi-structuredinterviewsof the‘‘masters’’ofthismartialart,agentsintheStateofSãoPaulo(2007),inordertoidentify thiseconomywhichispossiblyreproducedinthisfield.Weusedthetheoreticalframeworkof PierreBourdieutoanalyzetheinterviews.Itwasconsideredthatthesesymbolicimpositionsare reproducedandresignified,andtheyserveasatoolformaintainingbothpowerandpositions withinthesportsfieldofTaekwondo.
©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:fonsecapi@yahoo.com.br(T.F.F.Pimenta).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2012.09.001
PALABRASCLAVE
Campodedeportes; Intercambios simbólicos; Artesmarciales; Taekwondo
LaeconomíadelosintercambiossimbólicosencampodelTaekwondo
Resumen Esteartículotienecomoobjetivoidentificarcómolaeconomíadelosintercambios simbólicosseconstituyeenelcampodeldeportedeTaekwondo.Seanalizaroncincoentrevistas semi-estructuradasdelos‘‘maestros’’deesteartemarcial,agentesenelEstadodeSãoPaulo (2007),conelfindeidentificaraestaeconomíaque,posiblemente,sereproduceenestecampo. SeutilizóelmarcoteóricodePierreBourdieuparaanalizarlasentrevistas.Seconsideróque estasimposicionessimbólicassereproducenyseresignifican,ysirvencomounaherramienta paramantenertantopodercomoposicionesdentrodelcampodedeportesdeTaekwondo. ©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.
Introduc
¸ão
Descreveraimportânciadepráticascorporaisnasociedade moderna e exemplificar fatos que possam comprová--la é perigoso, pois o risco imediato é a explicac¸ão por especulac¸ões. Isso decorre da constante presenc¸a ‘‘esportiva’’ que permeia a fala do ser social acometido pelasdiversasformasdetransmissõesporpartedosmeios decomunicac¸ãodemassa.Portanto,hánecessidadede cri-tériosclarosparaoestudodoensinodoesporte,inclusive noqueserefereaseusfenômenosexploradospelasciências humanas,dadoquesãofatossociais,poisnãodeixamdeser: ‘‘[...]todamaneiradeagirfixaounão,suscetíveldeexercer
sobreoindivíduoumacoerc¸ãoexterior;ouentão,ainda,que égeralnaextensãodeumasociedadedada,apresentauma existênciaprópria, independentemente dasmanifestac¸ões individuaisquepossater’’(Durkheim,1968,p.12).
Paraseevitaremtaispercalc¸os,torna-senecessário evi-denciar que tais práticas podem ser reconhecidas como fenômenosdetentores deorganizac¸ões definidas,tomadas comopráticascoletivasrepletasdecrenc¸asetendências.
Comoeixocentral doobjetodeestudo,toma-se agora umdessesespac¸osdepráticascorporaisrepletasdecrenc¸as etendências, que,dada suamultiplicidade dedefinic¸ões, expressasentidosdiferentese repercutenoimagináriode praticantes e nãopraticantes de maneira ímpar:as artes marciais.1
Otermo artes marciaisengloba umconjuntode moda-lidadesque sãoreconhecidaspopularmente comopráticas relacionadasamanifestac¸õescorporaisetêmsuasvariac¸ões centradasem métodosqueexerceminfluênciatécnicaem defesapessoal,‘‘bem-estar’’eesportedealtonível.
Por uma análise superficial, há a impressão inicial de que suas variac¸ões encontram-se em um quadro bipo-larizado: do misticismo religioso oriental (característica
1Reconhece-seapluralidadedotermo.Provavelmente‘‘esporte
decombate’’insere-semaisapropriadamentenoTaekwondo,mas otermoartemarcialescolhidoaquirevela-setambémpertinente mais pelas estratégias usadas pelos agentes para divulgac¸ão da modalidade,oqueseráevidenciadocommaispropriedadeaolongo dotrabalho.
principalmente dasartes marciais doextremo oriente)de suascriac¸õescomoformadeataqueedefesaparaaguerra e da desmistificac¸ão quando associado ao conjunto do esporteformaledefine-secomoesportesdecombate.Mas aoaveriguar-seodiscursodosagentesdessasmanifestac¸ões corporais em trabalhos anteriores (Pimenta e Marchi Jr., 2009) é possívelevidenciarumapossível relac¸ãodialética entre essas aparentemente tão distintas estruturas de pensamento.
Cabe, portanto partir-se de um sentido prévio: de que artes marciais de origem no Extremo Oriente são manifestac¸ões corporais decaracterísticas culturais ímpa-res---algumasdeorigemreligiosa---criadaspelanecessidade bélica dedefesa territorial, pela racionalizac¸ão de movi-mentosqueaprimoramoatodeimobilizar,ferire/oumatar o oponente e que, hoje, convém-se chamar de práticas queproporcionamcondicionamentofísicopormeiode exer-cícios corporais específicos e/ou esporte. Nesse sentido, compreende-se que a estruturaesportivae religiosa--- de algumasdessasmanifestac¸ões---foiconstituídamuitomais porcontinuidadesdoqueporrupturaspropriamenteditas.
É fato que a disseminac¸ão dessas práticas no Brasil, sem intencionalidade ou com intencionalidade e objeti-vos evidentes de disseminac¸ão das práticas, dá início à criac¸ãodeumlocosregidoporcontradic¸ões:esporte pro-fissional versus práticas com finsvoltados para a saúdee o bem-estar; prática de exercício físico para embeleza-mentocorporalversusbuscadeumautoconhecimentopelo estudodeseuspossíveisprincípiosfilosóficos;buscadepaz interior versus defesapessoal. Portanto, dando sentido a este trabalho, é necessário explicitar que essas práticas seinseremnaculturacorporalpossuidoradeumasériede sentidos.
espac¸o específico,como,porexemplo: fazerreverência a umafotonaparedeantesedepoisdeadentrarumlocalde prática,aumabandeiradeoutropaís,usarroupas especí-ficasenadaconvencionaisrequeridaspelaprática,contar eserobrigadoadecoraranomenclaturadeexercícios cor-poraisem outraslínguas,oquesópodesercompreendido pelorecursoteóricodecampo,que,paraBourdieu(1983,p. 90),significa:‘‘[...]Umestadodarelac¸ãodeforc¸aentreos
agentesouasinstituic¸õesengajadasnalutaou,se preferir-mos,dadistribuic¸ãodocapitalespecíficoque,acumuladono cursodaslutasanteriores,orientaasestratégiasulteriores. Essaestrutura,queestánaorigemdasestratégias destina-dasatransformá-la,tambémestásempreemjogo:aslutas cujoespac¸oéocampotêmporobjetivoomonopólioda vio-lêncialegítima(autoridadeespecífica)queécaracterística docampoconsiderado,istoé,emdefinitivo,aconservac¸ão ouasubversãodaestruturadadistribuic¸ãodocapital espe-cífico’’.‘‘Falaremcapitalespecíficoédizerqueocapital valeemrelac¸ãoaumcertocampo,portantodentrodos limi-tesdessecampo,equeelesóéconversívelemoutraespécie decapitalsobcertascondic¸ões’’.
Portanto, como hipótese tem-se que a ideia da constituic¸ão do campo das artes marciais não se limita às buscas de poder e espac¸os, mas complementam-se no capital inicial legitimado dos ‘‘mestres’’, professores que os autorizam a propor interditos e tipos de compor-tamento que irão, ao longo da prática, formar um ethos
específiconos praticantes e nos predisporà obediência ---e até mesmo subserviência --- dos ditames regidos pelos mesmossejaqualforamodalidadedeartemarcial.
Ao adentrar esseespac¸o, opraticante adota, inconsci-entemente, uma gama de condutas que devem mantê-lo nasuadevidaposic¸ãonocampo.Há,portanto,um investi-mentoinicialporpartedopraticante,investimentoesseque seobjetivana observânciadosditamesdeterminados pelo campo e para o campo.Tais determinantes são definidos geralmente de forma explícita pelos ‘‘princípios filosófi-cos’’,comoéocasodoTaekwondo---cortesia,perseveranc¸a, integridade,domíniosobresimesmo,espíritoindomável ---oumesmonãotãoexplícito, massimplesmenteaparecem pelasexigênciasdo‘‘mestre’’eprofessor.
O presenteestudo procurouelucidar comose processa a conquista e a manutenc¸ão de postos no interior do campodamodalidadeesportivaTaekwondoe evidenciaro processodemediac¸ãoeapropriac¸ãodecapitaissimbólicos porpartedeseusagentes.
Portanto,oobjetivodopresentetrabalhoéode eviden-ciarcomoseprocessaaeconomiadastrocassimbólicasno Taekwondo,modalidadepossuidoradeagentesespecíficos que possivelmenteesforc¸am-se por seupertencimento no campoelutamporsualegitimidadepormeioda observân-ciadepossíveisditamesmoraisexigidospelocampoepara ocampo,comoformadeviolênciasimbólica.
Ou seja, neste trabalhoambiciona-se algo próximo do quepropôsSautchuk(2002,p.180):‘‘Nãoestou,assim, inte-ressadoapenasnadimensãosimbólicaemsi,masemcomo, pormeiodaeficáciasimbólica,épossívelatuarsobreoreal atravésdarepresentac¸ãodoreal.Emsuma,tentoapontar oqueéarbitrárioesefazpassarpornatural,poisestaéa essênciadopodersimbólico’’.
Material
e
métodos
A pesquisa visou à não manipulac¸ão do ambiente e caracterizar-secomoumapesquisanãoexperimental.Éde naturezaqualitativa,aqualobjetivacompreender pressu-postosdeumarealidadequenãopodemserquantificados, com vistas a descrever as características de determi-nada populac¸ão ou fenômeno ou o estabelecimento de relac¸ões entre variáveis e se caracteriza também como umapesquisa descritiva.E, doponto de vista dos proce-dimentos técnicos, classifica-se como levantamento, pois usou a interrogac¸ão direta dos agentesenvolvidos com o fenômeno.
Paradarsentidológicoaotrabalho,énecessáriopensar que as técnicas precisam estar articuladas com os pro-cedimentos e métodos. Portanto, a de maior relevância para a pesquisa é a técnica de entrevista semiestrutu-rada, aplicada aos agentes responsáveis pelo processo de ensino e disseminac¸ão do Taekwondo no Brasil --- os ‘‘mestres’’.
A técnica de entrevista semiestruturada busca ofere-cer respostas às questões factuais de como se exerce a imposic¸ão de uma violência simbólica por parte desses professores---‘‘mestres’’---emseusalunos;aquestões evo-lutivas, tais como a existência de um possível padrão e mesmoreproduc¸ão deimposic¸ãodeditamesmorais exigi-dosaolongodoperíodoemquetaispráticasseinseremno contextobrasileiro;eaquestõesteóricas,comooporque essaimposic¸ãosefaznecessária.
As entrevistas foram feitas em 2006 como necessárias paraadissertac¸ãodemestradodefendidaem2007no Pro-grama de Pós-Graduac¸ão em Sociologia da Universidade FederaldoParaná.
A análise dos dados obtidos nas entrevistas pautou-se peloreferencial teórico de PierreBourdieu no sentidode respeitar-seoobjetivodeanalisarocampodasartes mar-ciais como um possível espac¸o de constantes imposic¸ões simbólicas. O uso de seu referencial teórico é capaz de evidenciar que: ‘‘[...] As relac¸ões sociais não poderiam
serreduzidasarelac¸õesentresubjetividadesanimadaspor intenc¸ões ou ‘motivac¸ões’ porque se estabelecem entre condic¸ões e posic¸ões sociaise porque, ao mesmo tempo, sãomaisreaisdoqueossujeitosqueestãoligadosaelas’’ (Bourdieuetal.,2004,p.28).
O critério de inclusão dos entrevistados parte de suas experiências na área --- mais de 20anos de prática. Analisaram-setrês entrevistas. Todososentrevistadossão atuantes no Estado de São Paulo, ícones do Taekwondo mundial,têmo grau de‘‘mestre’’--- denominac¸ão simbó-licalegítima no interior do campo das artes marciais de elevado reconhecimento, que classifica hierarquicamente o agente específico que tem muitos anos de prática no campo--- etêm emseuscurrículosa autoridade deserem técnicos da selec¸ão brasileira, paulista e um deles ser um dos responsáveis pela introduc¸ão do Taekwondo no Brasil.
A
economia
das
trocas
simbólicas
no
campo
do
Taekwondo
Ahistóriadamodalidadejáestárepletadeelementos pas-síveisdeseremobservadosnoquecontemplaasestruturas demanutenc¸ãodepostosnocampoesportivo.
Após sua criac¸ão oficial em abril de 1955, o primeiro campeonatodeTaekwondodomundofoifeitonaCoreiado Sulem 1964.Em 1965 criou-seaKoreanTaekwondo Asso-ciation,quetevecomoprimeiropresidenteogeneralChoi Hong Hi,que em 1966 fundoua International Taekwondo Federation (ITF), a primeira federac¸ão de Taekwondo. Em 1968 inicia-se um processo de ocidentalizac¸ão dessa arte marcial com sua divulgac¸ão para Europa e Estados Unidoseem1970há suaintroduc¸ãonoBrasil.Em1971,o presidente daCoreiado Sul,Park Chung-hee,proclama o Taekwondocomoesportenacionalcoreano.
Percebe-se uma ordem cronológica de acontecimentos nãomuitodistantesquecaminhamparaumfim:acriac¸ãoe legitimac¸ãodeumesporte.Asartesmarciaiscoreanassaem deumaesferabélicaecontemplativaparainserir-seemum
locusdeconcorrênciaporformasdeapropriac¸õesdeespac¸os definidosemumcampoagoramaissecular:oesportivo.
Épossívelafirmar,portanto,queparaqueoTaekwondo fossepropagadomundialmentecomoumesporte,deforma rápida,serianecessáriaumarupturadaCoreiadoSul---país deinfluênciacapitalista--- aqualquerespéciede‘‘mancha’’ comunista,oquedemandariaumasériedeacordose guer-ras.
Omeioqueosagentesresponsáveisporessaartemarcial encontraramfoimuitomaissimbólico.Apartirdesse ínte-rimahistóriadoTaekwondocomec¸aumafaseconturbada, permeadaporcontradic¸õesesuposic¸õesreferentesaoseu criador.
A história relata que generalChoi Hong Hi,criador do Taekwondo,éobrigadoasairdaCoreiadoSulem1972por supostas ligac¸ões com o comunismo e estabelecer-se no Canadá. Kim (2000, p. 20), em seu livro, explica como a imagem de Choi Hong Hi é estigmatizada no interior do subcampo do Taekwondo: atualmente o general é criti-cado na Coreia, como marginal, comunista e traidor da pátria por alguns dirigentes; porém devemos reconhecer sua importância por ter sido ele o grande responsável pelareformulac¸ãodoTaekwondomoderno.
Masreferenciaisorais relatamque suafuga paraoutro paíspossaterocorridopormotivosmuitomaisenraizados noimagináriocoreanodoquepolíticospropriamente:‘‘Eu acho que esse simples político, eu não entendo bem por que,como,qualatritotenha...Eletinhaatritocom
presi-dentedaCoreiaaquelaépocaporque...[...]ChoiHongHié
maisvelhodoqueopresidentePark,entãoahierarquia,ele erageneral,eleeraainda,porexemplo,coronel,nãosei...
[...]Egeneraljáerageneralnaépocaporquemaisnovodo
queopresidente.Então,comoestavafalando,aquela hie-rarquia,aquelesistemacoreanodos filhos,entreosfilhos temhierarquiaqueseobedeceetal.Masacho queéesse atritoquetinha,outrochegoupresidentedanac¸ãoeChoi HongHientroulá,erajovemopresidente,entãoelequeria ser,receberaquelerespeitodevelhoeooutroqueria rece-beraquelaposturadopresidente,entãoachoque...Então
podesermalentendido,nãoseidesituac¸ão,quegentefala.
Éfalavaque‘faltourespeito’.Entãoassimcomec¸ouumtipo dedissidência.2
Aspalavrasdo‘‘mestreA’’,discípulo dopróprio gene-ral ChoiHongHi,explicamque omotivo peloqualsedeu suasaídadaCoreiapoderiatersidopermeadoporfatores queestãointrinsecamentepresentesnaculturaena identi-dadecoreana:orespeitoàhierarquiaetáriaemilitarcomo fator preponderante em suas ac¸ões cotidianas, frutos de umacontingênciasimbólica.
Opresidente Park Chung-hee, queassumiu o poderna CoreiadoSulem1963até1979,exigia‘‘respeito’’porparte dogeneral,quehierarquicamenteencontrava-seemposic¸ão inferior àdopresidente e ogeneral Choi HongHi,que já ocupavaocargodeembaixadornaMalásiadesde1963,por sua vez, exigiarespeito porparte do presidente,que era maisnovoemidadeedeposic¸ãomilitarinferior.
A motivac¸ão da saída de seu país natal pode ter sido maquiada pela afirmac¸ão de suas possíveis relac¸ões com o comunismo, ouocasionada poruma‘‘confusão’’ hierár-quica nospadrões deordem estabelecidos pelasociedade coreana,ou,maisainda,porumaestratégiacalculadaque pressupunha a saída do general por sua provável relac¸ão conturbadapresidencial.
Masdescobrirevidências depossíveisconspirac¸ões que culminaramcom o exíliodocriadordoTaekwondode seu paíse,porconsequência,comaretiradadeseunomedos registros oficiais referentes ao Taekwondo, não é intento destetrabalho,esim,apartirdoreconhecimentodeatos como esse, procurarelaborarumalinhaderaciocínio que permita distinguir umalógica noexercer do poderio sim-bólicoereconhecerqueosagentessociaisnãofazematos desinteressados.ParaBourdieu(2005,p.138),háumarazão para os agentes tomarem determinadas atitudes: ‘‘[...]
razãoquesedevedescobrirparatransformarumasériede condutasaparentementeincoerentes,arbitrárias,emuma sériecoerente,emalgoquesepossacompreenderapartir deumprincípioúnicooudeumconjuntocoerentede prin-cípios. Nesse sentido,a sociologia postulaque osagentes sociaisnãofazematosgratuitos.
Posteriormente o reconhecimento do Taekwondo como modalidadeesportivaesuaconsiderac¸ãopeloComitê Olím-picoInternacional(COI)em1980dãooelementosimbólico necessário para sua afirmac¸ão oficial nocampo esportivo de alto rendimento, pois exerce uma violência simbólica sobreseusespectadores, praticantese nospraticantes de outras artes marciais, umavez que a aquisic¸ão do status
deesportenacionaledeesporteolímpicoélegitimadopelos mecanismoslegaisqueamparamaexistênciadeumcampo esportivo,porsuavez,deumsubcampodoesporte.
Deimediato, torna-se imprescindível observar como o poder simbólico pode ser evidenciado na introduc¸ão do TaekwondonoBrasil. Para vocêsetornar umfaixapreta, você tem que ter o diploma da federac¸ão mundial, o taekwondistasóéconsideradotaekwondistaquandoelese forma,faixacoloridasóéumcurso,umestágioatévocêse tornarumtaekwondista,faixapretaétaekwondista,faixa coloridanãoéconsiderado,entendeu?Quandovocêtemo diplomadafederac¸ãomundial,vocêéreconhecidoeissofaz
entrardivisas,setentadólaresoprimeirodan,até quinhen-tos,queéosextodan,omeu.Entãoimaginaomundotodo, estãoentrandodivisasparaafederac¸ãomundialevocêestá divulgando o nomeda Coreiatambém. Então, quer dizer, esseera o intuito de você divulgar, colocar umpouco da culturacoreanaemtodosospaíses[...].
3
ÉpossívelconstatarqueoTaekwondoarticulousua estru-tura paraangariar osfundos necessários paraa formac¸ão de uma base técnica que represente seu país como uma manifestac¸ãoquesefac¸apresenteereconhecida:oesporte. Estudos anteriores (Pimenta e Marchi Jr., 2009) já trataram dotemareferente ao processo históricode per-tencimento do Taekwondo no campo esportivo, portanto intenta-se observar no presente momento como os agen-tesdoTaekwondovariamdeacordocomasquantidadese acapacidadedearticularoscapitaissimbólicosdeacordo comseusinteressesnointeriordocampo,oqueevidenciaa maleabilidadedocampo,oqueoparticulariza:‘‘[...]Como
umespac¸o onde se manifestamrelac¸ões depoder, o que implicaafirmarqueeleseestruturaapartirdadistribuic¸ão desigualdeumquantumsocialquedeterminaaposic¸ãoque umagenteespecíficoocupaem seuseio.[...]Aestrutura
docampopodeser apreendidatomando-secomo referên-ciadoispolosopostos:odosdominantesedosdominados’’ (Ortiz,1983,p.21).
Já as manifestac¸ões de ordens religiosas orientais aparentemente não se constituíam como o fator prepon-derante em sua criac¸ão. A func¸ão detransmitir a cultura coreana por meio do bélico constitui-se em uma forma de manifestac¸ão simbólica de violência. A história da introduc¸ãodoTaekwondonoBrasilconfirma:porque1968? PorqueoBrasilachaqueestavasofrendoporcausade ter-rorismo.Aínessaépocacoreanoficoufamosoporcausade guerra do Vietnã: umsoldado matou 28 vietcongues sem arma,assim,notícianomundointeiro.Entãocomoé?‘‘Ah, elesestãotreinandoTaekwondo.’’Cabec¸adosoldado core-ano tem prec¸o igual ao de um oficial americano para o vietcongue,secortaeselevacabec¸aporqueelesrecebiam prêmio.Entãoestavavalorizado.4
Osrepresentantesdominantesdasestruturasesportivas (empresários, dirigentes, ‘‘mestres’’ de alto grau hierár-quico) usam a violência simbólica como estratégia de mercado,poisavendadosprodutosesportivosselegitimana medidaemqueocompradorencontraumvalor---simbólico ---noprodutocomamarcadafederac¸ão,marcadamodalidade aqualrepresenta,ouseja,a quallheconferehabilidades ecaracterísticasqueelereconhecenoatletaou represen-tantecomopeculiares.
Aviolênciasimbólicaexercidapelamodalidadetorna-se ferramenta de imposic¸ão dos ideais dominantespor meio dasmanifestac¸õesespecíficasdessefenômenosocial.Tanto manifestac¸õesadvindasdointeriordocampoparaseus pró-priosagentes---dosdirigentes,‘‘mestres’’paraosatletas, como do campopara fora dele (das estruturas esportivas paraamídia,posteriormenteparaopúblico):‘‘Paraalém desuavontadeedaconsciênciaquepossamteraesse res-peito,taldefinic¸ãoselhesimpõecomo umfatoepassaa comandarsuaideologia’’(Bourdieu,2004a,p.154).
3Entrevistafornecidapelo‘‘mestre’’Bemmarc¸ode2006. 4Entrevistafornecidapelo‘‘mestre’’Aemmarc¸ode2006.
Comessa perspectivaépossível afirmarque oscódigos nãosãoimutáveis,masseguemprocessos dereadaptac¸ão, poissãocriadosporagentesrepletosdeinteresses especí-ficose suamanutenc¸ãonojogo dependerádaquantidade dejogadoresaoseu favor.Nessesentido,Sanfelice(2010, p.144)lembracomotaiscódigospodemsermóveise vali-dados.Oscódigosatualizam-se,ganhamexistênciapública, visibilidadesocial,enamedidaemquesãopostosem funcio-namentopelaspráticasdossujeitosepelamídiaapartirdas regrasinstituídas,elaborameconstroemnovasestratégias paraproduzirsentidos.
Reconhecendo-se aforc¸acoercivadas estratégias e da imposic¸ãodeumpodersimbólico---desempenhadodecima parabaixo no processo educativousado pelos agentesdo campoesportivo---épossívelafirmarqueeleexerceafunc¸ão delinhanorteadoraparaoconhecimentoimediatooupara umconformismo lógico. Bourdieu (2004c,p. 7-8)ressalta anecessidadede:‘‘[...]Descobri-loonde elesedeixaver
menos,ondeeleémaiscompletamenteignorado,portanto, reconhecido:o podersimbólicoé, comefeito, essepoder invisívelo qual sópode serexercido com a cumplicidade daquelesque nãoqueremsaberque lheestãosujeitos ou mesmoqueoexercem’’.
Evidencia-sedeformapertinentetalrelac¸ãoentreo pro-fessor, o aluno e o espectador que vê esse agente como detentorde diversos outros valores, além das qualidades necessárias para a feitura de seu trabalho. Esse ‘‘poder carismático’’ transmitido pelo ‘‘mestre’’ e mesmo pelo atletaadvémdasmanifestac¸õesdopodersimbólicoexercido e mantido pelos agentes no topo da hierarquia burocrá-ticadocampoesportivo.Eessepodercarismáticoé:‘‘[...]
Conferidoaindivíduossupostamentedotadosdequalidades especiaisquelhesasseguramumairradiac¸ãosocial excepci-onal,estábaseadonumadelegac¸ãodepoderdosdominados embenefíciododominante,quesófazexercersobre aque-leso poderque elesprópriosdepositaramemsuasmãos’’ (Bonnewitz,2003,p.103-104).
A influênciada hierarquiamilitar e o conceito de res-peitoàsgraduac¸õesformamoimaginário dopraticantede Taekwondoedosleigos,queencontramnessamanifestac¸ão corporal uma forma de prática que exerc¸a influência na formac¸ãodeindivíduos‘‘completos’’:Poisbem,minha his-tória,basicamente,eueraumgarotomeiorebelde,apesar de não parecer assim na minha fisionomia, eu era meio rebelde,meiobagunceiro?Emeuspaisresolveram,falaram ‘‘vouprocuraralgumacoisaparaelefazer,mastemdeser algumaartemarcial’’,porquesempreartemarcialospais lembramqueenvolveumafilosofiahierárquica,umrespeito mútuo[...].
5
Muitos são os que iniciam a prática acreditando que a estrutura dessa manifestac¸ão corporal pauta-se pelos preceitos de defesa pessoal e da disciplina às exigên-cias militares e religiosas orientais, o que evidencia que essasinfluências contribuíram para o estabelecimento de uma pedra marcial e espiritual que será responsável pela formac¸ão do conteúdo simbólico das subsequentes artes marciais coreanas, que aparentemente reproduzem
a necessidade de imposic¸ão e visualizac¸ão das estruturas constituídasdessesubcampodoesporte.
Ainfluênciasimbólicadessesagentes,essencialmenteno interior do campo religioso, foi sendo deixada à margem do‘‘jogo’’ àmedidaque omovimentosocial foi margina-lizando o místico e sualigac¸ão comas artes marciais: Eu achoqueaindanãoformoufilosofiadoTaekwondo,porque o de que estamos falando é de filosofia de artes marci-ais da Coreia. [...] Quem colocou nome foi mestre Choi,
general Choi colocou princípios: tem de ter integridade, perseveranc¸a,espíritoindomável,eleescreveucomonome dele,euviqueeleestavaescrevendo,certo?Masédefinido deTaekwondoumpensamento,umapessoadele.6
‘‘Mestre’’Aéenfáticoaoreconhecerquetaisprincípios, alémdeserfrutosdeumprocesso evolutivo social,sãoa criac¸ãodeumindivíduoisolado,dotadodealtocapital sim-bóliconointeriordocampodasartesmarciaiscoreanasque, cientedeumanecessidadedeconcepc¸ãodeumatradic¸ão queexaltasseanacionalidadedoscoreanosedivulgassesua cultura,criou oalicerce‘‘filosófico’’queaindahojepaira sobreoTaekwondo.
Omovimentodasideiasnateiadeinter-relacionamentos docampojurídico,político,esportivo,docampodasartes marciaiscoreanasedosubcampoesportivoTaekwondofoi dadoporumgrupodeagenciadoresdecapitais,liderados porumindivíduocomoobjetivodedivulgaraCoreiadoSul. Fazerpartedocorpodeagentesdeumesportenacional coreanodealtonívelecomauxíliodogovernopareceser umaideiainteressanteparaagentessociaisqueresolveram orientarsuasvidasaoensinodoTaekwondo.Amassificac¸ão doesporteé conhecimentocompleto daspessoas,vocêsó consegueissopormeiodamídiaedaartemarcial,vocênão vai conseguir colocar na mídia, só quando é competic¸ão. A primeira página que a pessoa lê no jornal é esporte, certo?Apessoa vailá e lênoesporte, masninguém quer anunciar na página esportiva, mas eles gostam de ler a páginaesportiva, então temosdeir atrásdoesporte,isso nóstemosdeter,parapodermanteroTaekwondovivo.Se forsóartemarcialnãovaicontinuarvivo.Nãodá,nãovive.7
Aintegrac¸ãodoTaekwondoeseureconhecimentocomo modalidade esportiva parecem receber seus méritospela necessidade de adaptac¸ão ao universo de uma economia globalizada,naqualoacúmulodecapitalpormeioda evi-dênciadoméritopessoaltorna-seaconstante,afinal:[...]
comovocêvaipoderdivulgarumaartemarcialemum jor-nal? Dizendo que é para defesapessoal? Isso todo mundo sabe,agorasetemumacompetic¸ão,duaspessoaslutaram, foicampeãopan-americano,aívocêtemnotícia.8
Oselementossimbólicosexercidosporumamodalidade esportiva passam a ser o cerne que liga o Taekwondo à valorizac¸ãodocapitaleconômico.
Portanto,odesenvolvimentoatualdeumladoespiritual pela prática da arte marcial torna-se uma busca secular de apropriac¸ão de títulos e bens simbólicos, encontra no esporteomeiofuncionalparatal,deixaalgunspraticantes e admiradores confusosquanto à transmissão dos valores religiosos filosóficosorientaisassociados aostreinamentos
6Entrevistafornecidapelo‘‘mestre’’Aemmarc¸ode2006. 7 Entrevistafornecidapelo‘‘mestre’’Bemmarc¸ode2006. 8Entrevistafornecidapelo‘‘mestre’’Bemmarc¸ode2006.
físicos,metódicoseracionaisexigidospeloesportedealto nível.[...]Vocêfazoesporte,lanc¸aascompetic¸õesepor
meiodascompetic¸õesoesporteficaconhecido,pormeiodas competic¸õesvocêtrazoalunoparadentrodaacademia,aí équevocêvaicomec¸araaplicarosprincípiosfilosóficos,a filosofiatodadoesporte.9
Posteriormente à selec¸ão racional dos praticantes que ‘‘aparentam’’ ser os mais preparados para uma rotina incessantedetreinoseabstinência,os‘‘mestres’’, conco-mitantemente ao treino racional e metódico, transmitem os valores do Taekwondo arte marcial, uma vez que sua divulgac¸ãodiretainspiradaempreceitosreligiososorientais nãosedemonstrarálucrativa,massãodeextrema necessi-dadeparaaatrac¸ãodosnovospraticantes,bemcomopara aestratégiademanutenc¸ãodeposic¸ões.
Considerac
¸ões
Parece certo que os sujeitos buscam a prática do Taekwondo invariavelmente por motivos distintos, mas a essa manifestac¸ão corporal atribuemfunc¸ões característi-casrepletasdesignificadosqueossujeitosesforc¸am-sepor agregaremsuasvidasparadarsentidoàsuainterpretac¸ão demundo,umainterpretac¸ãoque,nãoporseruma possí-velreproduc¸ãodeumcotidianomarcial,oriental,ancestral, devaserconsiderada‘‘globalizada’’,mas,pelocontrário,é extremamenteúnica,pessoaleintransferível,reproduzida pelosgestoserequeridapelasnormasdepertencimentoao grupodepraticantes.
Oquesetornoufundamentalaquifoiacompreensãoda formac¸ãodeumespac¸oespecíficoquesecaracterizacomo umconjuntoestruturadodelicitac¸õesedesolicitac¸ões,um espac¸o que atua como umsistema depossibilidade e até mesmo impossibilidade de expressão, proíbe e encoraja processospsíquicosdiferentesentresieinteiramente dife-rentes domundocotidiano,faz tudoisso pormeiodeum sistemadesatisfac¸õesque o próprioespac¸opropõe (Lins, 2005,p.16).
Esseespac¸o dospossíveisforma-se porumprocessode ressignificac¸ão,recíprocaentreagentedivulgadoreagente receptor,dosvaloresatribuídosàsartesmarciaisorientais, nessecasooTaekwondo.Portanto,essesubcampo,herdeiro deumafilosofiaencantadamística,nãosecular,agrega-se a umcampopróprioe impõeo seguimento decódigosde condutas e regras de comportamento que apenas os que estãonocampoconhecemereproduzem,ouseja,são defi-nidaspormeiodeumconjuntodeimposic¸õesobjetivasde ordenamentos simbólicos, pela imposic¸ão de um formato decorpoespecífico pormeiodareproduc¸ãode exercícios impostos ao mando do‘‘mestre’’. Osincontáveis atos de reconhecimento que são a moeda de adesãoconstitutiva dopertencimentoenoqualseengendracontinuamenteo desconhecimentocoletivosãoaomesmotempoacondic¸ão e o produto do funcionamento docampo e representam, portanto,muitosdosinvestimentosnaempresacoletivade criac¸ãodo capital simbólicoque nãopodese fazersenão sobacondic¸ãodequealógicadefuncionamentodocampo comotalpermanec¸adesconhecida(Bourdieu,2009,p.111).
Observa-seque asconstruc¸õessimbólicasdetais práti-casnãopodemserministradassemaconivênciadequemas busca.Essepodersimbólicoexigidonãodeixade constituir--se em um conjunto subjetivo de hipóteses tais como processos de mudanc¸as sociais substantivas que exercem afunc¸ãodeconduzirospadrões desensocomumquesão transmitidos pelo extrato dominante, detentordos meios necessários de transmissão, para a consecuc¸ão do obje-tivofundamentaldominante:amanutenc¸ãodostatusquo. É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicac¸ão edeconhecimento queos‘‘sistemas simbó-licos’’cumprem a suafunc¸ão política deinstrumentos de imposic¸ãooudelegitimac¸ãodadominac¸ão,quecontribuem para assegurar a dominac¸ão de uma classe sobrea outra (violênciasimbólica)edãooreforc¸odasuaprópriaforc¸aàs relac¸õesdeforc¸aqueasfundamentamecontribuemassim, segundoaexpressão deWeber,paraa‘‘domesticac¸ãodos dominados’’(Bourdieu,2004c,p.11).
Énessesentidoqueocampodeproduc¸ãosimbólicaéum microcosmodalutasimbólicaentreosgrupos---dominantes edominados---ouseja,éevidenteemumpequenoespac ¸o--temposocialrefleteasdiversasmanifestac¸õesdepoder.Por issooptar-sepeloTaekwondocomorecortemetodológicodo presenteestudo.
Opodersimbólicoexercidotemacapacidadede modi-ficar e criar as visões do mundo, fundamentar-se como ferramenta essencial de imposic¸ão de ideais dominantes transfigurados nas manifestac¸ões da indústria cultural e esportiva e das instituic¸ões educacionais. Assim, não são possíveisdeserevidenciadosfacilmente,namedidaemque controlam a absorc¸ão de capital culturalpela populac¸ão, pois:‘‘Opodersimbólico,podersubordinado,éumaforma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada,dasoutrasformasdepoder:[...]poder
simbó-lico,capazdeproduzirefeitosreaissemdispêndioaparente deenergia’’(Bourdieu,2004c,p.15).
É possível considerar que no campo do Taekwondo a economiadastrocassimbólicaspodeserobservadaemsua conjunturaprópria, nosdiversosatosdepertencimentoao campoqueseprocessamcomoastrocasdefaixas,astrocas devestimentas,ostestesparaaumentarahierarquia,bem como as posturas corporais que demonstram respeito e
submissão ao maisgraduadoe formas defalar e agir que seriamconsideradasincomunsforadocampoemquestão.
As análises dos processos que envolvem a imposic¸ão dopoderdemanipularnovasvisõesdemundopormeiode práticascorporaistãocaracterísticas,vêmasetornar fun-damentais para a sociologia do esporte, pois contri-buemdeformaconsiderávelparacompreenderaevoluc¸ão dos gostos e das necessidades dos praticantes por tais manifestac¸ões corporais, avanc¸a em estudos de práticas populares,masaindatãopoucoestudadaspelasociologia,e afastaessaspráticascorporaisdoplanodeumconformismo lógico.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
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