A AUTO E HETEROI MAGEM PROFI SSI ONAL DO ENFERMEI RO EM SAÚDE PÚBLI CA:
UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCI AI S
Ant onio Mar cos Tosoli Gom es1 Denize Cr ist ina de Oliv eir a2
Gom es AMT, Oliveira DC. A aut o e het er oim agem pr ofissional do enfer m eir o em saúde pública: um est udo de r epr esen t ações sociais. Rev Lat in o- am En fer m agem 2 0 0 5 n ov em br o- dezem br o; 1 3 ( 6 ) : 1 0 1 1 - 8 .
O obj et o dest e t r abalh o é a im agem pr of ission al con st r u ída por en f er m eir os de saú de pú blica e o ob j et iv o d escr ev er e an alisar as im ag en s p r of ission ais p r esen t es n as r ep r esen t ações d e en f er m eir os q u e d e se n v o l v e m cu i d a d o d i r e t o à cl i e n t e l a . O r e f e r e n ci a l t e ó r i co - m e t o d o l ó g i co a d o t a d o f o i a Te o r i a d a s Repr esen t ações Sociais. Tr at a- se de u m est u do qu alit at iv o, desen v olv ido n a cidade de Pet r ópolis – Rio de Janeiro/ Brasil. Foram realizadas ent revist as em profundidade com 30 enferm eiros. A análise lexical foi realizada at r av és do sof t w ar e Alcest e 4 . 5 . Os r esu lt ados r ev elam a ex ist ên cia de au t o- im agem pr of ission al com t r ês grupos de significados, ser referência para a equipe, a im agem não específica e a im agem de argam assa, e a het eroim agem profissional com quat ro grupos de significados, o de adm inist rador, de invisível, im agem posit iva e de sobr eposição. Conclui- se que o est udo da im agem pr ofissional r eflet e a pr ópr ia const r ução da ident idade do enferm eiro, bem com o dest aca a Teoria das Represent ações Sociais com o ferram ent a út il ao desenvolvim ent o de pesqu isas em en f er m agem .
DESCRI TORES: enfer m agem em saúde pública; pr át ica pr ofissional; saúde pública
THE PROFESSI ONAL SELF AND HETERO I MAGE AMONG PUBLI C HEALTH NURSES:
A STUDY OF SOCI AL REPRESENTATI ONS
The obj ect of t his st udy is t he professional im age const ruct ed by public healt h nurses and t he obj ect ive is t o descr ibe and analyze t he pr ofessional im ages pr esent in t he r epr esent at ions of nur ses w ho deliver dir ect care t o t his client ele. The t heoret ical – m et hodological reference fram ework adopt ed was Social Represent at ions Theor y . A qualit at iv e st udy w as dev eloped in Pet r ópolis – Rio de Janeir o/ Br azil, t hr ough in- dept h int er v iew s w it h 30 nur ses. Alcest e 4. 5 soft w ar e w as used for t he lex ical analy sis. The r esult s r ev eal t he ex ist ence of a professional self- im age w it h t hree groups of m eanings: being a reference for t he t eam , t he non- specific im age and t he im age of plast er; and a professional het ero- im age wit h four groups of m eanings: adm inist rat or, invisible, posit iv e im age and super posit ion. The st udy of t he pr ofessional im age r eflect s t he const r uct ion of t he nur se’s ident it y in it self and em phasizes Social Represent at ions Theory as a useful t ool for nursing research developm ent .
DESCRI PTORS: public healt h nur sing; pr ofessional pr act ice; public healt h
LA AUTO Y HETERO I MAGEN PROFESI ONAL DEL ENFERMERO EN LA SALUD PÚBLI CA:
UN ESTUDI O DE REPRESENTACI ONES SOCI ALES
El obj et o de est e t rabaj o es la im agen profesional const ruida por los enferm eros de salud pública y el obj et iv o descr ibir y analizar las im ágenes pr ofesionales pr esent es en las r epr esent aciones de enfer m er os que desar r ollan cu idado dir ect o a la clien t ela. El r ef er en cial t eór ico- m et odológico adopt ado f u e la Teor ía de las Repr esent aciones Sociales. Se t r at a de un est udio cualit at ivo, desar r ollado en la ciudad de Pet r ópolis – Rio de Janeir o/ Br asil. Fuer on r ealizadas ent r evist as en pr ofundidad con 30 enfer m er os. El análisis léxico fue r ealizado a t ravés del soft ware Alcest e 4.5. Los result ados revelan la exist encia de una aut o im agen profesional con t res gr upos de significados: ser r efer encia par a el equipo, la im agen inespecífica y la im agen de ar gam asa; y la het ero im agen profesional con cuat ro grupos de significados: el de adm inist rador, de invisible, im agen posit iva y de sobr e posición. Se concluy e que el est udio de la im agen pr ofesional r eflej a la pr opia const r ucción de la ident idad del enfer m er o, y t am bién dest aca la Teor ía de las Repr esent aciones Sociales com o her r am ient a út il al desar r ollo de inv est igaciones en enfer m er ía.
DESCRI PTORES: enfer m er ía en salud pública; pr áct ica pr ofesional; salud pública
1
I NTRODUÇÃO
A
área da saúde no Brasil vem apresent ando a l t e r a ç õ e s i m p o r t a n t e s n a a t u a l i d a d e c o m oc o n s e q ü ê n c i a d e i n ú m e r o s f a t o r e s e x t e r n o s e
in t er n os, d en t r e os q u ais cit a- se o su r g im en t o d e
n ov as p r of issões, o con st an t e d esen v olv im en t o d e
especializações, a t ent at iva de uso do poder legislat ivo
com o norm at izador das relações na equipe de saúde,
o p lan ej am en t o est r at ég ico e op er acion al p r op ost o
pelo Minist ério da Saúde brasileiro, o desenvolvim ent o
da t ecnologia em saúde e a progressiva pauperização
da população m undial.
Nesse cont ext o, o enferm eiro t em const ruído
s u a e v o l u ç ã o p r o f i s s i o n a l , t a n t o e m e s p a ç o s
d est in ad os ao d esen v olv im en t o d e esp ecializações
que apr im or am sua pr át ica, à elabor ação de t eor ias
e t eses q u e su b sid iam seu sab er / f azer, q u an t o n a
a b e r t u r a / o c u p a ç ã o d e e s p a ç o s n ã o o c u p a d o s
an t er ior m en t e p elos m esm os, sej a n as in st it u ições
pr iv adas, sej a nas públicas.
Reconhece- se que, ao lado desse cam inhar,
a en fer m agem possu i con t r adições in t er n as em seu
saber / fazer, com o a assist ência de enfer m agem que
não é pr est ada ex clusiv am ent e pelos enfer m eir os, a
d if icu ld ad e em m en su r ar m er cad olog icam en t e su a
f o r ç a d e t r a b a l h o e a s i n ú m e r a s a t i v i d a d e s
desenvolvidas que nem sem pre possuem relação com
a enferm agem ou com o client e, sit uações essas que
s e a p r e s e n t a m c o m o b a s e p a r a u m c o t i d i a n o
c o n f l i t a n t e e , à s v e z e s , f r u s t r a n t e s p a r a o s
p r of ission ais.
O pr esen t e ar t igo apr esen t a- se com o par t e
de um est udo m aior. Nesse est udo m aior buscou- se
a r epr esent ação social da aut onom ia pr ofissional da
enferm agem em saúde pública( 1) e surgiu a part ir das
in q u iet ações d os au t or es acer ca d a con st r u ção d a
iden t idade pr ofission al com base em su as v iv ên cias
cot id ian as.
D e l i m i t a - s e , e n t ã o , c o m o o b j e t o d e s t e
t r a b a l h o , a i m a g e m p r o f i s s i o n a l c o n s t r u íd a p o r
en f er m ei r o s q u e d esen v o l v em su a s a t i v i d ad es n o
âm bit o da saúde pública, e t r açou- se com o obj et ivo:
d e s c r e v e r e a n a l i s a r a s i m a g e n s p r o f i s s i o n a i s
pr esent es nas r epr esent ações sociais de enfer m eir os
d e sa ú d e p ú b l i ca q u e d esen v o l v em a t i v i d a d es d e
cuidado dir et o à client ela.
METODOLOGI A
N e s t e e s t u d o , u t i l i z o u - s e a Te o r i a d a s
Represent ações Sociais( 2- 3), no cont ext o da psicologia
social. As r ep r esen t ações sociais são con sid er ad as
c i ê n c i a s c o l e t i v a s s u i g e n e r i s, d e s t i n a d a s à
int erpret ação e elaboração do real( 2). Tam bém podem
s e r d e f i n i d a s c o m o f o r m a d e c o n h e c i m e n t o
s o c i a l m e n t e e l a b o r a d a e p a r t i l h a d a , t e n d o u m a
or ien t ação pr át ica e con cor r en do par a a con st r u ção
de um a r ealidade com um a um conj unt o social( 3).
Par a a colet a de dados for am r ealizadas 30
en t r ev ist as em p r of u n d id ad e com en f er m eir os em
um a cidade do int er ior do Est ado do Rio de Janeir
o-Br asil, no per íodo de nov em br o de 2001 a fev er eir o
de 2002. Os suj eit os são profissionais que t rabalham
n a r e d e b á s i c a d e a s s i s t ê n c i a e d e s e n v o l v e m
at iv idades de at en ção dir et a à cr ian ça, n o con t ex t o
d o Pr o g r a m a d e Assi st ê n ci a I n t e g r a l à Sa ú d e d a
Cr i a n ç a ( PA I S C) , r e s s a l t a n d o , d e n t r e e s s a s , a
con su lt a de en f er m agem .
A análise de dados foi r ealizada at r av és da
análise lexical pelo soft w ar e Alcest e 4.5, que r ecor r e
à co- ocorrências das palavras cont idas nos enunciados
q u e co n st i t u e m o t e x t o , d e f o r m a a o r g a n i za r e
sum ar iar infor m ações consider adas m ais r elev ant es,
e possui com o referência em sua base m et odológica,
a a b o r d a g e m c o n c e i t u a l l ó g i c a e d o s m u n d o s
lex icais( 4 ).
Est e soft ware foi criado na França, em 1979,
p o r Ma x Re i n e r t , p a r a s e r u t i l i z a d o n o s i s t e m a
operacional Window s. Ele apresent a um a organização
dos dados possibilit ada at ravés de análises est at íst icas
e m at em át icas, f or n ecen do o n ú m er o de classe, as
r el açõ es ex i st en t es en t r e as m esm as, as d i v i sõ es
r ealizadas no m at er ial analisado at é a for m ação das
classes, as form as radicais e palavras associadas com
seus r espect iv os v alor es de qui- quadr ado ( x2) , além
do con t ex t o sem ân t ico de cada classe. O sof t w ar e,
a p e sa r d e o r i g i n a l m e n t e t r a b a l h a r co m a l ín g u a
fr ancesa, possui dicionár ios em out r os idiom as, fat o
q u e p e r m i t e s u a u t i l i z a ç ã o c o m m a t e r i a i s e m
p or t u g u ês.
Cabe dest acar, ainda, que o Alcest e segm ent a
o m a t e r i a l a se r a n a l i sa d o e m g r a n d e s u n i d a d e s
den om in adas Un idades de Con t ex t os I n iciais ( UCI ) ,
q u e p o d em co n si st i r d e en t r ev i st as d e d i f er en t es
suj eit os r eunidas em um m esm o cor pus, r espost as a
p e r g u n t a s e sp e cíf i ca s, n o r m a l m e n t e a b e r t a s, d e
O t ex t o com plet o é for m at ado nov am ent e e
d i v i d i d o e m s e g m e n t o s d e a l g u m a s l i n h a s ,
r esp eit an d o, se p ossív el, os cor t es p r op ost os p ela
p o n t u a ç ã o . Es s e s s e g m e n t o s s ã o d e n o m i n a d o s
u n i d a d e s d e c o n t e x t o s e l e m e n t a r e s ( U CE) e
co r r e sp o n d e m a o m a t e r i a l d i scu r si v o o u e scr i t o
r efer en t es à for m ação das classes.
O p r o g r am a f o r n ece, en t ão , o n ú m er o d e
classes result ant es da análise, assim com o as form as
r e d u z i d a s , o c o n t e x t o s e m â n t i c o e a s U CE
car act er íst icas de cada classe consolidada. De posse
d esse m at er i al , o s au t o r es ex p l i ci t am o co n t eú d o
p r esen t e n o m esm o, d en om in an d o e in t er p r et an d o
c a d a c l a s s e a p a r t i r d e t o d a s a s i n f o r m a ç õ e s
for n ecidas pelo sof t w ar e.
Fo r a m o b e d e c i d a s , n e s t a p e s q u i s a , a s
o r i e n t a çõ e s co n st a n t e s d a Re so l u çã o 1 9 6 / 9 6 d o
Mi n i st é r i o d a Sa ú d e , t a n t o n o q u e co n ce r n e a o s
asp ect os ét icos com a in st it u ição q u e au t or izou a
r ealização da pesquisa, quant o com os suj eit os que
ceder am à r ealização das ent r ev ist as após leit ur a e
a s s i n a t u r a d o t e r m o d e c o n s e n t i m e n t o l i v r e e
esclar ecid o.
RESULTADOS E DI SCUSSÃO
Os r esu lt ados obser v ados n a an álise lex ical
das 30 ent r ev ist as r efer idas r ev elar am a dist r ibuição
dos cont eúdos em 5 cat egor ias discur siv as ( classes) .
Essas classes ( Figur a 1) apont am par a os seguint es
t em as: cl asse 1 : co n f l i t o s n o p er f i l p r o f i ssi o n al –
universidade e m ercado de t rabalho; classe 2: lim it es
d a p r á t i ca p r o f i ssi o n a l n o s p r o g r a m a s d e sa ú d e ;
classe 3: cont or nos e especificação do papel pr ópr io
d o en f er m eir o; classe 4 : con st r u ção e or g an ização
d o e s p a ç o p r o f i s s i o n a l ; e c l a s s e 5 : a u t o e
h et er oim ag em p r of ission al.
%.#55'%QPHNKVQUPQRGTHKN RTQHKUUKQPCNWPKXGTUKFCFGG OGTECFQFGVTCDCNJQ WEGŌ 8CTK¶XGKUFGUETKVKXCU 'PVTGXKUVCFQUG 5GZQHGOKPKPQ 6GORQFGHQTOCFQGPVTGG CPQU 6GORQFG2#+5%OGPQUFG CPQGCEKOCFGCPQU 2CNCXTCUFGOCKQTCUUQEKCÁºQ
2CNCXTC (TGS :
*QURKVCN (CEWNFCFG 2T¶VKEC &GHKPKÁºQ 'PHGTOCIGO /GTECFQ 2TQHGUUQT 6GQTKC 2ÎUITCFWCÁºQ %KÄPEKC 2TQHKUUºQ 4GUKFÄPEKC 5CKT %CTCEVGTÈUVKEQ %QPEGKVQ #NWPQ #TVG %.#55'%QPUVTWÁºQG QTICPK\CÁºQFQGURCÁQ RTQHKUUKQPCN WEGŌ 8CTK¶XGKUFGUETKVKXCU 'PVTGXKUVCFQU G +FCFGCEKOCFGCPQU 6GORQFGHQTOCFQCEKOCFG CPQU 6GORQFG2#+5%CEKOCFG CPQU 2CNCXTCUFGOCKQTCUUQEKCÁºQ
2CNCXTC (TGS :
#$'P %14'P %QPSWKUVC 'URCÁQ 2GVTÎRQNKU 'URCÁQ 2TQHKUUKQPCN )QXGTPQ 'PHGTOCIGO %NCUUG 1EWRCT /WPKEÈRKQ 2QFGTRÕDNKEQ (CDÈQNC 2QNÈVKEC 5KNOCT 5W\CPC (¶VKOC 2TQITCOCU /KTKCO %.#55'.KOKVGFCRT¶VKEC RTQHKUUKQPCNPQURTQITCOCUFG UCÕFG WEGŌ 8CTK¶XGKUFGUETKVKXCU 'PVTGXKUVCFQUG 5GZQOCUEWNKPQ +FCFGCPQU 6GORQFGHQTOCFQGPVTGG CPQU 2ÎUITCFWCÁºQPºQRQUUWGO 6GORQFG2#+5%GPVTGG CPQU 2CNCXTCUFGOCKQTCUUQEKCÁºQ
2CNCXTC (TGS :
4QVKPC .KDGTFCFG #ÁºQ 2QFGT 'PHTGPVCT %QPJGEKOGPVQ %KGPVÈHKEQ 2TQITCOC 2TGUETGXGT 4GEGKVCFGDQNQ 2TGUETKÁºQ #IKT 6GQTKCFG GPHGTOCIGO %.#55'#WVQG JGVGTQKOCIGORTQHKUUKQPCN WEGŌ 8CTK¶XGKUFGUETKVKXCU 'PVTGXKUVCFQUG 5GZQOCUEWNKPQ +FCFGGPVTGCPQU 6GORQFGHQTOCFQGPVTGC CPQU 6GORQFG2#+5%GPVTGG CPQU 2CNCXTCUFGOCKQTCUUQEKCÁºQ
2CNCXTC (TGS :
'SWKRGFG UCÕFG 2QRWNCÁºQ &GRQUKVCT #WZKNKCTFG GPHGTOCIGO 'PHGTOGKTQ %TGFKDKNKFCFG &QWVQT 'SWKRGFG GPHGTOCIGO 'ZENWUKXC #ÁÐGU /ÃFKEQ 'ZENWUKXQ %QPHWPFKT %QPLWPVQ )TWRQ %.#55'%QPVQTPQUG GURGEKHKECÁºQFQRCRGNRTÎRTKQ FQGPHGTOGKTQ WEGŌ 8CTK¶XGKUFGUETKVKXCU 'PVTGXKUVCFQUG +FCFGGPVTGCPQU 6GORQFGHQTOCFQGPVTGG CPQU 6GORQFG2#+5%GPVTGG CPQU 2CNCXTCUFGOCKQTCUUQEKCÁºQ
2CNCXTC (TGS :
%TKCPÁC /ºG 2#+5% (KNJQ 2GUCT #NKOGPVCT #EQORCPJCT &GUGPXQNXK /GPVQ /WNJGT *KIKGPG *KRGTVGPUºQ &QGPVG )GUVCPVG &QT &KCDGVGU 8GTKHKECT 2TÃPCVCN $CKZQRGUQ #XCNKCÁºQ #76101/+#241(+55+10#. (QTOCÁºQCDUQTÁºQRTQHKUUKQPCN 2T¶VKECRTQHKUUKQPCN
Figur a 1 - Classificação hier ár quica descen den t e ( dendogr am a)
Visualizando o dendogr am a per cebe- se que,
a part ir do cont eúdo t ot al analisado, o soft ware dividiu
o m a t e r i a l e m d o i s g r a n d e s b l o c o s , o c o r r e n d o
p o s t e r i o r m e n t e t r ê s g r a n d e s n o v a s d i v i s õ e s e ,
f in alm en t e, d u as ú lt im as. Assim , as classes 1 e 4
possuem significados com uns que as diferenciam das
classes 2, 5 e 3, um a vez que são originadas dos dois
gr andes gr upos r esult ant es da pr im eir a segm ent ação
das UCE. Ao m esm o t em po, possuem sent idos e idéias
esp ecíf icas q u e j u st if icam a sep ar ação em classes
d i st i n t a s, u m a v e z q u e se d i v i d i r a m e m e t a p a s
sim ilar ocor r eu com as classes 2, 5 e 3, sendo que,
n e sse ca so , a cl a sse 3 a p r e se n t a u m se n t i d o d e
oposição fort e em relação ao bloco de significado que
gerou t ant o a classe 2 quant o a 5.
O Alcest e, no processo de análise, ident ificou
30 unidades de cont ext os iniciais, o que corresponde
ao n ú m er o d e en t r ev i st as i n cl u íd as n o co r p u s d e
an ál i se. O so f t w ar e d i v i d i u o co r p u s su b m et i d o à
a n á l i s e e m 3 . 1 4 1 U CE. Co n t u d o , o p r o g r a m a
classif icou p ar a an álise 2 . 2 4 3 UCE, r ep r esen t an d o
7 1 , 4 1 % d e ap r ov eit am en t o d o m at er ial ex p ost o à
an ál i se. A p ar t i r d est e q u an t i t at i v o t o t al , as UCE
f i c a r a m d i v i d i d a s e n t r e a s c l a s s e s d a s e g u i n t e
m aneir a: classe 1: 337 UCE, r epr esent ando 15,03% ;
classe 2 : 4 0 9 UCE, sign if ican do 1 8 , 2 4 % ; classe 3 :
4 8 3 UCE, ex pr essando 2 1 , 5 3 % ; classe 4 : 5 0 7 UCE,
c o n t a b i l i z a n d o 2 2 , 6 0 % ; e c l a s s e 5 : 5 0 7 U CE,
r epr esen t an do 2 2 , 6 0 % .
Par a fins dest e t r abalho, ser ão ex plor ados e
discut idos os cont eúdos pr esent es na classe 5, um a
v ez que o obj et o do est udo é m elhor focalizado em
seu int er ior. Cont udo, out ras im agens do pr ofissional
t am b ém f or am d est acad as a p ar t ir d e u m a leit u r a
t r ansv er sal do conj unt o das classes.
Os result ados gerados pelo program a Alcest e
4 . 5 ( Tab ela 1 ) in f or m am as p alav r as q u e p ossu em
m aior qui- quadr ado ( x2) , ou sej a, m aior associação
est a t íst i ca à cl a sse, b em co m o a s UCE q u e m a i s
cont r ibuír am par a a for m ação das m esm as.
Tabela 1 – For m as r edu zidas e con t ex t o sem ân t ico
com m aior gr au de associação à classe.
As for m as r eduzidas e o cont ex t o sem ânt ico
apr esent ados for am aqueles r elacionados à classe 5.
Da t ot alidade das palavras explicit adas pelo soft ware,
f or am escolh id as aq u elas q u e p ossu em m aior q u
i-quadrado, represent ando, dessa m aneira, o cont eúdo
pr esen t e n a classe.
Os s u j e i t o s e m s u a s f a l a s d e m o n s t r a m
i m a g e n s d i v e r g e n t e s a c e r c a d o p r o f i s s i o n a l
e n f e r m e i r o , q u e p o d e m se r o b se r v a d a s e m d o i s
g r u p o s g e r a i s , a a u t o e a h e t e r o i m a g e m . Ca b e
dest acar que a het er oim agem r eflet e a for m a com o
os ent revist ados acredit am que os out ros profissionais
e a client ela vêem a sua prát ica. A aut o- im agem é a
f o r m a co m o o s p r o f i ssi o n a i s r e p r e se n t a m a su a
pr ópr ia pr át ica pr ofission al.
Essa classe ap r esen t a f or t e r elação com o
conj unt o social no qual o t rabalho do enferm eiro est á
in ser ido, ex pr essas em equ ipe- de- saú de, popu lac+,
au x iliar - d e- en f er m ag em e eq u i p e- d e- en f er m ag em.
Ao m esm o t em po, os ent revist ados dest acam a form a
c o m o s ã o p e r c e b i d o s p o r e s s e c o n j u n t o s o c i a l ,
dem onst r ado pelos t er m os cr edibilidade e confund+.
Con t u d o, com o o p r og r am a t r ab alh a com r ad icais,
ele r eú n e f or m as r edu zidas gr af icam en t e idên t icas,
apesar da difer ença, em algum as sit uações, de seus
si g n i f i ca d o s. Esse f a t o p o d e se r o b se r v a d o , p o r
exem plo, nas palavras m ede, m edir, m édio e m édico
em um m esm o cont ex t o sem ânt ico.
Com r elação à aut o- im agem , t r ês blocos de
s i g n i f i c a d o s e m e r g e m d a s f a l a s d o s s u j e i t o s : o
e n f e r m e i r o c o m o r e f e r ê n c i a p a r a a e q u i p e d e
enferm agem , a aut o- im agem inespecífica e a im agem
d e ar g am assa.
Os enfer m eir os não são unânim es quant o a
a f i r m a r em q u e sã o r ef er ên ci a p a r a a a t u a çã o d a
eq u i p e d e en f er m ag em , o q u e ser i a esp er ad o em
f u n ç ã o d a p r ó p r i a d e f i n i ç ã o f u n c i o n a l d e s s e
p r o f i s s i o n a l . Es s a f a l t a d e c o n s e n s o r e f l e t e a s
d if icu ld ad es v iv en ciad as n o cot id ian o p r of ission al o
que gera t ensões int ernas a essa cot idianidade. Essas
t ensões são det erm inadas, dent re out ras coisas, pelo
est abelecim ent o da hier ar quia, pelo afast am ent o do
en f er m ei r o d o f azer p r o f i ssi o n al , n a d i f er en ci ação
salar ial e p elo n ão r econ h ecim en t o d o en f er m eir o
com o lider ança t écnico- cient ífica pela equipe.
As UCE a b a i x o e x e m p l i f i c a m e s s a a u t o
-im agem : A equipe de enfer m agem t em o enfer m eir o com o
referência ( SUJ. 3) . Porque m esm o a equipe de enferm agem não ent ende m uit o bem o grau de um enferm eiro ( SUJ. 12) .
S A R V A L A P / S A M R O
F X² CONTEXTOSEMÂNTICO
e d ú a s -e d -e p i u q
E 193,93 Equipe-de-saúde o ã ç a l u p o
P 159,59 População
+ t i s o p e
D 97,42
a t i s o p e D m a t i s o p e D r a t i s o p e D m e g a m r e f n e -e d -r a il i x u
A 91,76 Auxiilar-de-enfermagem
+ r i e m r e f n
E 87,22
a r i e m r e f n E s a r i e m r e f n E o r i e m r e f n E e d a d il i b i d e r
C 80,95 Credibiildade m e g a m r e f n e -e d -e p i u q
E 71,33 Equipe-de-enfermagem
+ a v i s u l c x
E 69,10
a v i s u l c x E e t n e m a v i s u l c x E s a v i s u l c x E s e õ ç
A 65,44 Ações
+ d e
M 57,63
a c i d é M r a c i d e M o c i d é M s o c i d é M o v i s u l c x
E 46,63 Exclusivo
r i d n u f n o
C 37,81 Confundir
+ o p u r
G 31,48 Grupo
Os su j eit os n ão r espon der am de pr on t idão,
e at é dem on st r ar am dú v idas, qu an do qu est ion ados
sobr e as at iv idades ex clusiv as do enfer m eir o. Essas
r espost as var iar am de um ext r em o, ou sej a, aqueles
q u e af ir m am q u e n ão sab em ou q u e n ão ex ist em
a t i v i d a d e s e x cl u si v a s d o e n f e r m e i r o , a t é o o u t r o
ex t r em o, cit ando pr ont am ent e as at iv idades, com o a
c o n s u l t a d e e n f e r m a g e m e a s u p e r v i s ã o d a s
at iv idades dos aux iliar es e t écnicos de enfer m agem .
Co m i st o , o s su j e i t o s d e m o n st r a r a m u m a a u t o
-im agem não consensual em suas concepções do papel
p r óp r io p r of ission al, com o p od e ser p er ceb id o n as
falas a seguir. A consult a de enfer m agem é ex clusiv a do profissional enferm eiro, é a t arefa m ais grit ant e na m inha área, exclusiva, dent ro do post o de saúde. At ividade exclusiva só a consult a de enferm agem e a supervisão do t rabalho do auxiliar de enferm agem ( SUJ. 9) . Não exist e nenhum a at ividade exclusiva do enferm eiro, porque educar t odos podem , t alvez o diagnóst ico de enferm agem e a condut a de enferm agem ( SUJ. 10) .
Out r a im agem im por t ant e a ser dest acada é
a de argam assa. Essa im agem t raduz a represent ação
de aglut inador a par t ir das at iv idades desenv olv idas
n o p r ocesso t ecn ológ ico d e t r ab alh o em saú d e, ao
m esm o t em po em qu e dest aca a r epr esen t ação do
t r abalho do enfer m eir o inser ido nos “ espaços v azios”
deix ados pela equipe m ult ipr ofissional. A UCE abaix o
t raz essa represent ação: Porque o auxiliar de enferm agem t em o papel próprio m uit o bem definido, o m édico t am bém , assim com o o odont ólogo. O enferm eiro é a argam assa e isso é difícil, ele t em que preencher o que est á nos espaços vazios, só que, às vezes, o enferm eiro est á preenchendo um espaço que não est á vazio, apesar de parecer e a quem pert ence aquele espaço se sent e incom odado ( SUJ. 28) .
Há qu e se con sider ar qu e as au t o- im agen s
apr esent adas for am const r uídas a par t ir da v iv ência
cot idian a dos pr of ission ais, poden do t er se in iciado
ain d a n a v iv ên cia acad êm ica e se alim en t ad o d as
e x p e r i ê n c i a s d o p r e s e n t e . N e s s e a s p e c t o , a s
r epr esen t ações sociais podem ser dest acadas com o
u m a c a r t o g r a f i a d e d e t e r m i n a d o g r u p o s o c i a l ,
in flu en cian do n a for m a com o esse gr u po per cebe a
r ealidade e se r elaciona com ela( 2- 3,5). Cabe dest acar
ainda, que os referidos aut ores ressalt am as im agens
com o u m a d as d im en sões d as r ep r esen t ações, ao
lado das at it udes, conhecim ent os e pr át icas.
O enfer m eir o absor ve t udo com o sendo seu,
sem um a especificidade de ação ou a delim it ação de
um papel pr ópr io, o que t ende a t or ná- lo inv isív el à
in st it u ição, à eq u ip e d e saú d e e à socied ad e. Ou ,
a i n d a , c a r a c t e r i z a - s e c o m o a m a l g a m a d o r d a s
diversas prát icas profissionais da inst it uição, ou sej a,
o cim en t o qu e r ealiza a j u st aposição adequ ada n ão
só de cada profissional, com o t am bém de suas ações.
As i m a g e n s ca r a ct e r i za d a s r e f l e t e m u m a
visão de t r abalho em que t udo e t odos são assunt os
p er t in en t es ao en f er m eir o e, p or t an t o, d ev em ser
resolvidos pelo m esm o. Nesse sent ido, os enferm eiros
t êm se ap r op r iad o d aq u eles q u e são con sid er ad os
com o espaços próprios de t rabalho de form a confusa,
apr esent ando m uit o m ais um com por t am ent o polít ico
do que t écnico em si( 6).
Por out ro lado, ganha dest aque a im port ância
do enfer m eir o com o coor denador e cent r alizador do
p r o ce sso t e cn o l ó g i co d e t r a b a l h o n a s u n i d a d e s,
const it uindo- se com o elo e referência para a equipe( 7-9 )
. Assim , o desem pen h o dessa f u n ção sobr ev iv e à
c o n t r a d i ç ã o c o m a i n e s p e c i f i c i d a d e d a a ç ã o
pr ofissional j á pont uada.
Qu an t o à h et er oim ag em , p od e- se d est acar
a su a su b d iv isão em 4 cat eg or ias d e sig n if icad os,
q u ais sej am , o d e ad m in ist r ad or, im ag em in v isív el
p ar a a eq u i p e d e saú d e, i m ag em p o si t i v a p ar a a
população e de sobr eposição a out r os pr ofissionais.
Os e n f e r m e i r o s r e l a t a m q u e o s o u t r o s
p r o f i s s i o n a i s d a e q u i p e d e s a ú d e n ã o e s t ã o
cap acit ad os ou n ão q u er em d esem p en h ar f u n ções
ad m in ist r at iv as. Nesses casos, os su j eit os r ef er em
r ealizar essas ações em pr ol do bem do client e. Em
out ros m om ent os, os suj eit os ressalt am a capacidade
adm in ist r at iv a e de or gan ização dos en f er m eir os e,
por isso, “ diversos m édicos gost am de t rabalhar” com
os m esm os, con f or m e af ir m ad o p elos su j eit os. Por
f im , ain da af ir m am qu e, em algu m as sit u ações, as
a t i v i d a d e s a d m i n i s t r a t i v a s e b u r o c r á t i c a s s ã o
d eleg ad as in f or m alm en t e, ou sej a, os en f er m eir os
e x e c u t a m , m a s o u t r o s p r o f i s s i o n a i s s e
r esponsabilizam pelas m esm as. Alguns ex em plos de
UCE ilust r am essa cat egor ia: A bur ocr acia é a at iv idade que a equipe delega para o enferm eiro. O enferm eiro é o et erno secret ário, burocrat a, que sent a, preenche o papel, gráfico e percent ual ( SUJ. 8) . O enferm eiro t em que cuidar do m at erial e preencher docum ent os do post o ( SUJ.9) .
A i m a g e m i n v i s ív e l é d e s t a c a d a p e l o s
e n t r e v i st a d o s à m e d i d a q u e o e n f e r m e i r o n ã o é
r epr esen t ado pela equ ipe de saú de com o elem en t o
de dest aque à ex ecução do t r abalho na unidade de
s a ú d e , e s p e c i a l m e n t e n o a t e n d i m e n t o d i r e t o à
caract eriza o enferm eiro. A equipe de saúde nem sabe a diferença do auxiliar de enferm agem , t écnico de enferm agem e enferm eiro, m ist ur am t udo e acham , às v ezes, que o enfer m eir o é um em pregado, principalm ent e a profissão m ilenar ( SUJ. 25) .
Os profissionais ident ificam um a im agem de
credibilidade do seu t rabalho j unt o à população. Esse
fat o, segundo os suj eit os, pode ser observado at ravés
da f or m a com o a popu lação se r elacion a com eles,
or a aceit an do o t r abalh o dos ou t r os pr of ission ais e
or a seg u in d o est r it am en t e o q u e é or ien t ad o p elo
en f er m eir o. As UCE ab aix o t r ad u zem essa id éia: A com unidade deposit a credibilidade nas ações do enferm eiro, t ant o que falei que o pessoal vem m e pergunt ar, conferir se é aquilo m esm o, se vai dar aquele rem édio, se é assim m esm o que t em que dar ( SUJ. 4) . A população deposit a credibilidade nas ações do enferm eiro, porque t udo que falo t odo m undo faz e faz direit o ( SUJ. 21) .
Além da credibilidade, os suj eit os ident ificam
na população um a im agem pr ofissional de bondosos,
a p r e s e n t a n d o - s e c o m o p r o f i s s i o n a i s a c e s s ív e i s ,
pr eocupados com t odas as dim ensões que afet am a
v ida h u m an a e dispost os a r esolv er as dif icu ldades
pr át icas de acesso aos ser viços de saúde. Em sum a,
os en f er m eir os são pr of ission ais v ist os com o bon s,
g en er osos e h u m an os. O en f er m eir o é u m p r of ission al bonzinho, j ust o e hum ano e é t r at ado pelo client e com o se m erecesse am izade ( ...) ( SUJ. 10) .
Out ra im agem relevant e é a de sobreposição
ao s d em ai s p r o f i ssi o n ai s d a eq u i p e d e saú d e. Os
en f er m eir os d est acar am a con f u são, p or p ar t e d a
popu lação, con sider an do o en fer m eir o, em algu m as
sit uações, com o m édico e, em out r as, com o aux iliar
ou t écnico de enfer m agem .
Qu an do o en f er m eir o r ealiza a con su lt a de
e n f e r m a g e m , p o ssu i a r e p r e se n t a çã o d e m é d i co ,
q u a n d o a d m i n i st r a i m u n o b i o l ó g i co , v er i f i ca si n a i s
v it ais ou out r os pr ocedim ent os é r epr esent ado com o
u m e l e m e n t o d e n ív e l m é d i o d a e q u i p e d e
e n f e r m a g e m . Es s a s r e p r e s e n t a ç õ e s e s t ã o
exem plificadas nas seguint es falas: A m inha população, a m inha com unidade confunde m uit o o enferm eiro com o m édico, sou cham ada de dout ora diret o ( SUJ. 15) . Eles [ os client es] m e ch am am e m e r espeit am com o dou t or , m as, às v ezes, m e con f u n d em m ais com o m éd ico d o q u e com o au x iliar d e enferm agem ( SUJ. 30) .
Com o pode ser per cebido, as het er oim agens
p r o f i ssi o n a i s d o e n f e r m e i r o e st a b e l e ce m t e n sõ e s
en t r e si, en t r e pólos n egat iv os e posit iv os, gir an do
em t or n o d as im ag en s e r ep r esen t ações at r ib u íd as
t ant o à equipe de saúde quant o à população.
Essas im agens são capt adas e cr iadas pelos
suj eit os em seus cot idianos inst it ucionais e relacionais,
no desenvolvim ent o da prát ica profissional. Ao m esm o
t e m p o , s u s t e n t a m a i d e n t i d a d e p r o f i s s i o n a l ,
e n f r a q u e ce n d o - a o u r e f o r ça n d o – a . A i d e n t i d a d e
p r of ission al com p or t a- se com o n ú cleo essen cial d a
pr ofissão que per m it e um r elacionam ent o fr ut ífer o e
específico da enfer m agem com a equipe de saúde e
a população( 1).
A en f er m a g em p o ssu i i m a g en s d ú b i a s a o
longo de sua const rução com o profissão. Exem plificam
co m a s i m a g e n s p r e se n t e s n o se n so co m u m , d o
p a s s a d o o u d o p r e s e n t e , c o m o a n j o s , s a n t a s ,
pr ost it ut as, br ux as, cur iosas ou sím bolos sex uais( 1 0 -11).
A c o n s t r u ç ã o d e s s e t i p o d e i m a g e m
p r o f i ssi o n a l p o ssu i r a i z e se n t i d o n a h i st ó r i a d a
profissão em que a m esm a era exercida pela vocação
e dedicação cr ist ãs ou com o penalidade aos desv ios
de car át er ou m or ais, além da m íst ica ex ist en t e ao
redor das m ulheres que det inham o poder de cura na
I d ad e Méd i a. Co n t u d o , essas i m ag en s, ap esar d a
ev olução do com por t am ent o e do per fil pr ofissional,
a i n d a a p r e s e n t a m r e s q u íc i o s n o i m a g i n á r i o
sociop r of ission al.
A l é m d i s s o , p a r e c e e x i s t i r u m a n ã o
d i f e r e n c i a ç ã o , p o r p a r t e d a s o c i e d a d e , e n t r e o
enfer m eir o e a equipe de enfer m agem . Por sua v ez,
o s e n t r e v i s t a d o s t a m b é m f a z e m r e f e r ê n c i a à
ex i st ên ci a d e u m a co n f u são acer ca d a i d en t i d ad e
pr ofission al e do papel do en fer m eir o e do m édico,
especialm en t e dev ido à u t ilização da con su lt a e do
con su lt ór io com o t ecn olog ia e esp aço d e t r ab alh o,
r esp ect iv am en t e.
A id en t id ad e é u m a con st r u ção q u e se d á
at ravés da seleção de um sist em a axiológico que t em
a pr opr iedade de definir det er m inado gr upo per ant e
a realidade subj et iva( 10). Assim , a enferm agem possui
dificuldades pr ópr ias à ex plicit ação desse ax iom a, o
q u e s e c o n s t i t u i t a m b é m e m d i f i c u l d a d e s n o
est abelecim en t o de u m espaço pr ópr io de ex er cício
de poder, que sej a inst ância geradora da form a com o
a p r o f i ssão se r el aci o n a co m a so ci ed ad e, co m a
equ ipe de saú de e com as in st it u ições, pú blicas ou
pr iv adas( 1 2 ).
A f r ag ilid ad e d a id en t id ad e p r of ission al d o
en f er m eir o é in dicada por div er sas au t or as( 6 , 1 0 - 1 1 , 1 3 )
d o p r o f i ssi o n a l . D e st a ca - se q u e , n a s u n i d a d e s e
i n s t i t u i ç õ e s d e s a ú d e , t u d o e s t á r e l a c i o n a d o à
capacit ação do enferm eiro, o que significa, na prát ica,
um a não especificidade desse pr ofissional em saber /
f azer e, con seqü en t em en t e, t en sões in t er n as à su a
i d e n t i d a d e p r o f i ssi o n a l( 1 0 ). O e n f e r m e i r o p r o cu r a
r eal i zar d i v er sas co i sas em v ár i as ár eas, co m o o
a sp ect o t écn i co , a d m i n i st r a t i v o e o u t r a s q u e n ã o
possuem relação diret a com o client e ou com a própria
e n f e r m a g e m , o q u e s i g n i f i c a q u e , a l é m d e n ã o
const ruir um cam po específico de ação ou ident idade,
ain da acr escen t a m ais est r esse ao seu cot idian o( 6 ).
Alg u n s au t or es( 1 2 ) são m ais in cisiv os ao con sid er ar
q u e o en f er m ei r o n ão con seg u e d el i m i t ar o p ap el
p r ó p r i o e m f u n ç ã o d e s u a a t i t u d e p e s s o a l e
p r of ission al, q u e se p r op õe a f azer t u d o o q u e d iz
respeit o ao client e ou à unidade de saúde. Já out r os
au t or es( 1 1 ) con sider am a in ex ist ên cia da iden t idade
profissional do enferm eiro ao dizer que essa ausência
se deve a um a per cepção conflit uosa de si m esm o e
de su a pr át ica, bem com o a u m a n ão cir cu n scr ição
de seu espaço e indefinição de papéis.
Ao m e sm o t e m p o , co m o d e st a ca d o p e l o s
su j eit os, a iden t idade do en f er m eir o e su a im agem
possuem aspect os que não são m er am ent e t écnicos
ou pr ofissionais, m as incluem , além dos sent im ent os
h u m an os com o solid ar ied ad e e em p at ia, a ét ica, a
n eg ociação p olít ica e a p ost u r a cr ít ica. A v isão d e
um a im agem profissional dos enferm eiros inclui, além
da com pet ência t écnica e cient ífica, ingredient es com o
a co m p et ên ci a p o l ít i ca e ét i ca , a p o st u r a cr ít i ca ,
reflexiva e t ransform adora, e o exercício da cidadania
e aut onom ia( 13).
Com r elação à ger ência, t or na- se necessár ia
a definição do t ipo de coor denação e adm inist r ação
q u e co m p e t e a o e n f e r m e i r o , e se e ssa f u n çã o é
i n e r e n t e a o c a r g o , v i s t a n ã o p e l o a s p e c t o
ap ar en t em en t e con t r ad it ór io d e assist ên cia d ir et
a-a d m i n i s t r a-a ç ã o , p o r é m a-a q u e l a-a p a-a r a-a o q u a-a l o
en f er m eir o é p r ep ar ad o, e essa u m a r ealid ad e d e
m er cado. Tal definição se t or na im por t ant e à m edida
qu e aj u da a ex por o n ú cleo essen cial da pr of issão,
su a f o r m a d e a p r e se n t a çã o e d e r e l a çã o co m a
sociedade, bem com o a explicit ação do poder inerent e
à m esm a.
D e t e r m i n a d o s a u t o r e s( 1 4 - 1 5 ) d e s t a c a m a
ident idade da enferm agem para além da biom edicina,
e m b o r a s e j a c o n s e n s o s u a n ã o e x c l u s ã o n a
con st it u ição pr of ission al. Esses au t or es cor r obor am
a het eroim agem const ruída pelos suj eit os em relação
à em pat ia e generosidade dos profissionais com seus
clien t es, com p r een d en d o- os com o ser es com p lex os
inser idos em um det er m inado cont ex t o sociocult ur al,
o qu e possu i in f lu ên cia dir et a em su a saú de ou n o
pr ocesso de r ecu per ação da m esm a.
CONCLUSÃO
O debat e acer ca da im agem pr ofissional do
enfer m eir o apr esent a- se com o per t inent e em função
d e su a con t r ib u ição à d elim it ação e con st r u ção d a
ident idade pr ofissional, fat o que possui r elação com
a exposição da essencialidade da profissão, definindo
c o n t r i b u i ç õ e s c a d a v e z m a i s p e r t i n e n t e s d o
pr ofissional à equipe de saúde e à sociedade.
Dest aca- se a pr esen ça de con t r adições n as
i m ag en s ex p l i ci t ad as p o r esses p r o f i ssi o n ai s, q u e
r ep r esen t am , ao m esm o t em p o, esp ecif icid ad es d o
gr u po est u dado, bem com o algu m as car act er íst icas
d a ev olu ção at u al d a en f er m ag em . Assim , a b u sca
pela iden t idade pr of ission al e pela especif icação do
p ap el p r óp r io é u m a q u est ão p er t in en t e e at u al à
r ealidade da en f er m agem .
D e s t a c a - s e q u e , t a n t o o s s i g n i f i c a d o s
conferidos à aut o e à het eroim agem dos enferm eiros
est ão int im am ent e ligados às vivências cot idianas dos
su j eit os, per passan do qu est ões legais em r elação à
eq u ip e, ao esp aço of icial e of icioso ocu p ad o n esse
dia- a- dia ( ar gam assa) e a for m a com o a população
r epr esent a os pr ofissionais, ao m enos na car t ogr afia
m en t al desses. Nesses sign if icados est ão im plícit os
os conflit os ent re as equipes profissionais, as quest ões
h eg em ôn icas d e p od er p r esen t es n as u n id ad es d e
sa ú d e e o a sp e ct o m u l t i f a ce t a d o d a i m a g e m d o
enfer m eir o, par a si m esm o, par a a equipe de saúde
e par a a sociedade.
A u t ilização d a Teor ia d as Rep r esen t ações
Sociais apresent a- se com o ferram ent a út il à evolução
d a p r of issão, p or p er m it ir, d en t r e ou t r as coisas, a
realização de um a cart ografia m ent al dos enferm eiros.
Dem o n st r a- se a i m p o r t ân ci a d a ár ea d a saú d e e,
especificam ent e, da enfer m agem no desenvolvim ent o
da t eoria no Brasil, em função da crescent e produção
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