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Sobrecarga de familiares de pacientes psiquiátricos: comparação entre diferentes tipos de cuidadores.

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Academic year: 2017

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comparação entre diferentes tipos de cuidadores

Burden in family caregivers of psychiatric patients:

comparison between different types of caregivers

Ellen Pinheiro Tenório de Albuquerque

1

, Ana Maria de Oliveira Cintra

1

, Marina Bandeira

1

RESUMO

Objetivo: Investigar a sobrecarga objetiva e subjetiva em três diferentes tipos de

cuidado-res. Método: A Escala de Avaliação da Sobrecarga de Familiares (FBIS-BR) foi aplicada a 30

pais, 30 irmãos e 30 cônjuges de pacientes diagnosticados com transtornos do espectro de

esquizofrenia ou transtornos do humor. Resultados: Sete itens apresentaram diferenças

sig-nificativas entre os grupos. Os pais apresentaram maior sobrecarga do que os irmãos quanto à frequência com que preparavam as refeições dos pacientes e os aconselhavam a ocupar seu tempo livre. Sentiam também maior grau de incômodo por ter que fazer compras para eles e tinham impressão de maior peso financeiro. Comparativamente aos cônjuges, os pais tinham que lidar mais frequentemente com os comportamentos agressivos dos pacientes, tinham maiores gastos com eles e ainda eram mais preocupados com o seu futuro. Já a so-brecarga dos cônjuges foi maior do que a dos irmãos quanto à impressão de peso financeiro.

Conclusões: As diferenças encontradas apontam para a necessidade de planejamento de

intervenções que considerem as particularidades de cada tipo de cuidador.

ABSTRACT

Objective: To investigate the subjective and objective burden in three different types of family caregivers. Method: The Family Burden Interview Schedule (FBIS-BR) was administered to 30 pa-rents, 30 siblings and 30 spouses caregivers of psychiatric patients with diagnoses of schizophre-nia spectrum or mood disorders. Results: Significant differences between groups were found on seven items of the scale. Parents had higher burden scores than brothers, in regard to how often they prepared meals for patients and advised them on how to use their free time. They also felt a greater degree of discomfort from having to shop for them and had the impression of a greater financial burden. Compared to spouses, parents had to deal more often with patients’ aggressive behaviors, had higher expenses with them, and were, in addition, more worried about their future. Spouses had higher burden score than brothers, in regard to perceived financial weight. Conclu-sions: The differences observed in caregiver burden suggest the need for planning interventions that take into account the particularities of each type of caregiver.

1 Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Endereço para correspondência: Ellen Pinheiro Tenório de Albuquerque Rua Orlandino Pinto Ribeiro, 195 – 37200-000 – Lavras, MG Telefones: (35) 3822-8456/(32) 8871-5292

E-mail: ellenalbuquerque@gmail.com

Recebido em 15/8/2010 Aprovado em

27/10/2010

Palavras-chave Desinstitucionalização, sobrecarga familiar, parentesco.

Keywords

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INTRODUÇÃO

Durante décadas, o tratamento psiquiátrico foi caracteri-zado por longos períodos de internação e afastamento do

doente mental de sua família1. No Brasil, somente em 1980,

com a reforma psiquiátrica, esse quadro começou a mudar e a família voltou a fazer parte do cenário de assistência ao

paciente1-3. Essa mudança marcou uma alteração histórica,

na forma como a família vinha participando do cuidado ao doente mental, deixando de ser culpabilizada pela doença e passando a ser considerada uma importante aliada no

pro-cesso de reabilitação do paciente4,5.

No entanto, as pesquisas vêm apontando que as dificulda-des enfrentadas pelos familiares no dificulda-desempenho do papel de cuidador têm contribuído para um sentimento de sobrecarga

desses familiares6,7. No Brasil, ainda são escassas as pesquisas

de avaliação sistemática da sobrecarga, por meio de escalas de medida validadas. Na literatura internacional, são encon-trados diversos estudos sobre os fatores que contribuem para maior ou menor sobrecarga familiar e o impacto dessa

sobre-carga na saúde mental dos familiares8-10. Um fator apontado

nas pesquisas, relacionado ao grau de sobrecarga, se refere ao tipo de parentesco do familiar cuidador em relação ao pa-ciente. Embora o número de estudos sobre essa variável seja reduzido, há indicação de que o grau de sobrecarga pode variar em função do tipo de parentesco, sendo necessárias,

portanto, pesquisas que investiguem essa variável6,10-14.

Em uma busca nas bases de dados do Medline, Lilacs e SciELO, foram encontrados seis estudos que apontaram a existência de diferenças na sobrecarga sentida pelos fami-liares cuidadores, em função do tipo de parentesco. Dessas, somente duas tinham como objetivo específico avaliar a in-fluência dessa variável no grau de sobrecarga, comparando

grupos de cuidadores11,14, enquanto as demais investigaram,

em geral, os fatores associados à sobrecarga familiar e,

den-tre eles, o tipo de parentesco15-19.

A escassez de pesquisas relacionadas a essa temática tem impedido o avanço do conhecimento sobre a totalidade dos

efeitos da doença mental na família10. Visando contribuir

para suprir essa lacuna, o presente estudo foi realizado com o objetivo de comparar a sobrecarga sentida por pais, irmãos e cônjuges cuidadores de pacientes psiquiátricos e identi-ficar as dimensões da vida desses familiares mais afetadas pelo papel de cuidador.

MÉTODO

Delineamento

Trata-se de um estudo de corte transversal, correlacional, em que foi utilizado um delineamento de comparação com

gru-po estático20 para comparar grupos de pais, irmãos e

cônju-ges cuidadores de pacientes psiquiátricos. Para resguardar a validade interna da pesquisa, foi verificada a equivalência dos grupos de familiares quanto às variáveis sociodemográficas e condições de vida dos familiares e às variáveis sociodemo-gráficas e clínicas dos pacientes, visando evitar a interferên-cia dessas variáveis na interpretação dos resultados.

Participantes

Fizeram parte da pesquisa familiares cuidadores de pacien-tes psiquiátricos adultos, atendidos em duas instituições psi-quiátricas públicas de duas cidades de porte médio de Minas Gerais. Trata-se de uma amostra não probabilística, compos-ta por 90 familiares que atendiam aos critérios de inclusão/ exclusão, definidos para a população-alvo, sendo 30 partici-pantes para cada grupo.

Para os familiares, os critérios de inclusão consistiam em ter mais de 18 anos, conviver diariamente com o paciente e ser indicado como o principal cuidador pelos familiares. Para os pacientes, os critérios de elegibilidade foram: apresentar diagnóstico do espectro de esquizofrenia ou transtornos do humor, segundo critérios da CID-10, conforme indicado nos prontuários, e estar em tratamento regular em uma das insti-tuições psiquiátricas participantes da pesquisa. Foram elimi-nados os familiares cuidadores de pacientes que estavam in-ternados no período de realização das entrevistas e aqueles que não demonstraram entendimento das perguntas feitas.

Instrumentos de medida

Para avaliação da sobrecarga, foi utilizada a versão brasileira

da escala Family Burden Interview Schedule (FBIS),

desenvolvi-da, originalmente, por Tessler e Gamache21 e,

posteriormen-te, adaptada e validada para o Brasil por Bandeira et al.22 e

Bandeira et al.23, tendo recebido a sigla de FBIS-BR.

A escala FBIS-BR visa avaliar o grau de sobrecarga objetiva e subjetiva apresentado pelos familiares de pacientes psiquiá-tricos, em cinco dimensões de suas vidas, aferidas em cinco subescalas: A) assistência ao paciente na vida cotidiana, B) supervisão dos comportamentos problemáticos do paciente, C) gastos financeiros relacionados ao paciente, D) impacto na rotina diária da família e E) preocupações com o paciente.

A sobrecarga objetiva é avaliada em termos da frequên-cia de assistênfrequên-cias ao paciente na vida cotidiana, de supervi-sões aos seus comportamentos problemáticos e do impacto na rotina diária do familiar cuidador. A sobrecarga subjetiva é avaliada em termos do grau de incômodo sentido pelo fa-miliar ao realizar as atividades de assistência ao paciente e de supervisão aos comportamentos problemáticos, as frequên-cias de suas preocupações com o paciente, a percepção do familiar com relação às despesas com o paciente e o grau de alterações permanentes em sua vida. A escala FBIS-BR tem qualidades psicométricas adequadas de validade e

fidedig-nidade23 e encontra-se disponibilizada no endereço http://

www.ufsj.edu.br/lapsam, na internet.

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psiquiátri-cos, foi utilizado para colher os dados sociodemográficos e clínicos dos pacientes. O instrumento foi avaliado por dois especialistas da área de psiquiatria, que indicaram sua ade-quação ao tema estudado.

Coleta dos dados

As entrevistas eram individuais, feitas na casa do responden-te ou na instituição psiquiátrica. Os encontros eram agen-dados previamente por telefone, de acordo com a disponi-bilidade dos familiares. Para cada respondente, as questões eram lidas e as respostas, anotadas por um entrevistador previamente treinado.

Análise de dados

Para a análise dos dados, foi utilizado o pacoteestatístico

SPSS, versão 13.0. Inicialmente, os escores de sobrecarga foram submetidos ao teste Kolmogorov-Smirnov, para a ve-rificação de sua distribuição normal. Uma vez confirmada a distribuição normal dos escores de sobrecarga global subje-tiva e objesubje-tiva, em cada um dos grupos, prosseguiu-se à rea-lização da análise estatística, utilizando testes paramétricos.

Para a caracterização da amostra estudada, foi feita uma análise estatística descritiva, com cálculo das porcentagens, médias, desvios-padrão e valores mínimos e máximos das variáveis sociodemográficas e clínicas. Para evitar variáveis interferentes na comparação dos grupos, visando garantir a validade interna da pesquisa, foi verificada a equivalência dos grupos de cuidadores quanto às características sociode-mográficas e condições de vida dos familiares e as caracte-rísticas sociodemográficas e clínicas do pacientes, por meio da análise de variância (ANOVA) para variáveis contínuas e o teste qui-quadrado para variáveis categóricas.

Uma análise intragrupo foi feita para avaliar o grau de sobrecarga de cada grupo de cuidadores, separadamente. Utilizou-se o teste t de Student para amostras independen-tes, a fim de comparar a média dos escores de sobrecarga das subescalas subjetivas A e B. Foram utilizados a análise de

variância (ANOVA) e o teste post hoc de Tukey para comparar

os escores de sobrecarga objetiva das subescalas A, B e D. A análise estatística intergrupos, para avaliação das di-ferenças existentes na sobrecarga dos três grupos de cui-dadores, foi feita em três níveis: para os escores globais de sobrecarga objetiva e subjetiva, para cada dimensão da sobrecarga representada nas subescalas e para cada item da escala. Para isso, foram utilizados a análise de variância

(ANOVA) e o teste post hoc de Tukey.

Considerações éticas

A pesquisa foi realizada mediante aprovação pela Comissão de Ética da Universidade Federal de São João del-Rei, confor-me confor-memorando núconfor-mero 013/2009/CEPES/UFSJ, e pela coor-denação dos serviços participantes. No início das entrevistas, o familiar era informado sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa e de que sua participação era voluntária, os

da-dos coletada-dos eram de caráter confidencial e a forma de di-vulgação dos resultados garantiria o sigilo e o anonimato das respostas. Ao final das explicações e do esclarecimento de todas as dúvidas do familiar, era solicitado que o participante assinasse um Termo de Consentimento Livre e Informado.

RESULTADOS

Descrição da amostra

As características sociodemográficas da amostra de cuida-dores e do quadro clínico dos pacientes se encontram nas tabelas 1 e 2. No grupo de pais, a maioria dos cuidadores (86,7%) era do sexo feminino, com idade média de 59,93 anos. Com relação ao pacientes de quem cuidavam, a média de idade era de 31,97 anos e 50% deles eram do sexo femi-nino. A maioria (86,7%) dos pacientes era solteira e 83,3% ti-nham diagnóstico do espectro da esquizofrenia, transtornos esquizotípicos ou delirantes (F 20-29).

No grupo dos irmãos, a maioria dos cuidadores também era do sexo feminino (80%), com idade média de 45,03 anos. Os pacientes de quem cuidavam tinham a média de idade de 43,89 anos, a maioria era solteira (60%), do sexo feminino (80%), com diagnóstico de esquizofrenia, transtornos esqui-zotípicos ou delirantes (90%).

Quanto ao grupo de cônjuges, 43,3% eram do sexo fe-minino, com idade média de 47,97 anos. Com relação aos pacientes de quem cuidavam, a média de idade era de 45,50 anos, a maioria era do sexo feminino (56,7%) e também apre-sentava o diagnóstico de esquizofrenia, transtornos esquizo-típicos ou delirantes (73,3%).

Análise intragrupo da sobrecarga familiar

Esta análise visou identificar quais eram as dimensões de maior sobrecarga, para cada grupo de cuidadores, separada-mente. Os dados comparativos dos escores das subescalas da FBIS-BR se encontram na tabela 3.

No que se refere à sobrecarga objetiva, os cuidadores pais e cônjuges apresentaram maior sobrecarga referen-te à frequência das assistências prestadas aos pacienreferen-tes (subescala A objetiva) do que à frequência de supervisões dos seus comportamentos problemáticos (subescala B ob-jetiva). Já no grupo de irmãos, a diferença entre as médias dos escores dessas subescalas não foi estatisticamente significativa.

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fa-Tabela 1. Características sociodemográficas e condições de vida dos familiares, em termos de frequência absoluta e relativa (%) ou média e desvio-padrão, para cada grupo de cuidador e valores de p referentes à avaliação da equivalência dos grupos, obtidos pelo teste qui-quadrado para variáveis categóricas e análise de variância ANOVA, para variáveis contínuas

Variável Frequências absoluta e relativa (%)/Média e desvio-padrão (DP) p

Pais Irmãos Cônjuges

Idade 59,93 (10,04) 45,03 (10,17) 47,97 (12,93) 0,00*◘

Sexo Masculino 4 (13,3%) 6 (20,0%) 17 (56,7%) 0,00*▲

Feminino 26 (86,7%) 24 (80,0%) 13 (43,3%)

Estado civil Solteiro 1 (3,3%) 18 (60,0%) - 0,00*▲

Casado 13 (43,3%) 11 (36,7%) (100%)

Separado ou divorciado 5 (16,7%) -

-Viúvo 11 (36,7%) 1 (3,3%)

-Escolaridade Analfabeto 5 (16,7%) - 3 (10,0%) 0,25▲

1° grau incompleto 24 (80,0%) 22 (73,3%) 18 (60,0%)

1° grau completo 1 (3,3%) 4 (13,3%) 4 (13,3%)

2° grau incompleto - 2 (6,7%) 2 (6,7%)

2° grau completo - 1 (3,3%) 2 (6,7%)

3º grau completo - 1 (3,3%) 1 (3,3%)

Está trabalhando Sim 7 (23,3%) 17 (56,7%) 16 (53,3%) 0,02*▲

Não 23 (76,7%) 13 (43,3%) 14 (46,7%)

Valor da renda mensal Nenhum 6 (20,0%) 9 (31,0%) 10 (34,5%) 0,5▲

Menos de 1 salário-mínimo 4 (13,3%) 4 (13,8%) 2 (6,9%)

De 1 a 2 salários-mínimos 15 (50,0%) 14 (48,3%) 14 (48,3%)

De 2,1 a 3 salários-mínimos 3 (10,0%) 1 (3,4%) 1 (3,4%)

De 3,1 a 4 salários-mínimos - 1 (3,4%) 2 (6,9%)

Mais de 4 salários-mínimos 2 (6,7%) -

-Cuida de outro familiar doente Sim 16 (53,3%) 19 (63,3%) 13 (43,3%) 0,30▲

Não 14 (46,7%) 11 (36,7%) 17 (56,7%)

Tem problema de saúde Sim 15 (50,0%) 14 (58,3%) 12 (85,7%) 0,18▲

Não 5 (16,7%) 10 (41,7%) 2 (14,3%)

Não responderam 10 (33,3%)

Faz tratamento de saúde Sim 14 (70,0%) 12 (50,0%) 8 (57,1%) 0,40▲

Não 6 (30,0%) 12 (50,0%) 6 (42,9%)

Recebe ajuda para cuidar do paciente

Sempre 16 (53,3%) 20 (66,7%) 14 (46,7%) 0,37▲

Às vezes 6 (20,0%) 2 (6,7%) 4 (13,3%)

Nunca 8 (26,7%) 8 (26,7%) 12 (40,0%)

Tipo de ajuda Nas tarefas 8 (26,7%) 6 (20,0%) 12 (40,0%) 0,13▲

Financeira e em tarefas 9 (30,0%) 12 (40,0%) 6 (20,0%)

Financeira 5 (16,7%) 4 (13,3%)

-Nenhum tipo de ajuda 8 (26,7%) 8 (26,7%) 12 (40,0%)

Está satisfeito com tratamento Sim 26 (86,7%) 26 (86,7%) 24 (82,8%) 0,89▲

Não 4 (13,3%) 4 (13,3%) 5 (17,2%)

*: p < 0,05; ▲: teste qui-quadrado; ◘:ANOVA; DP: desvio-padrão.

miliar supervisionou os comportamentos problemáticos do paciente (subescala B).

Os resultados da sobrecarga subjetiva mostraram que, para cada grupo, os familiares sentiram maior grau de

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Tabela 2. Características sociodemográficas e clínicas dos pacientes, em termos de frequência absoluta e relativa (%) ou média e desvio-padrão (DP) para cada grupo de cuidador e valores de p referentes à avaliação da equivalência dos grupos, obtidos pelo teste qui-quadrado para variáveis categóricas e análise de variância ANOVA, para variáveis contínuas

Características sociodemográficas e clínicas do paciente Frequências absoluta e relativa (%)/Média e desvio-padrão (DP) p

Pais Irmãos Cônjuges

Idade 31,97 (9,20) 43,89 (10,29) 45,50 (11,81) 0,00*◘

Sexo Masculino 15 (50,0%) 14 (46,7%) 13 (43,3%) 0,87▲

Feminino 15 (50,0%) 16 (53,3%) 17 (56,7%)

Estado civil Solteiro 26 (86,7%) 26 (86,7%) 0,00*▲

Casado 1 (3,3%) 2 (6,7%) 30 (100%)

Separado ou divorciado 3 (10,0%) 2 (6,7%)

-Escolaridade Analfabeto 3 (10,0%) 2 (6,9%) 4 (13,3%) 0,30▲

1° grau incompleto 15 (50,0%) 23 (79,3%) 20 (66,7%)

1° grau completo 6 (20,0%) 2 (6,9%) 1 (3,3%)

2° grau incompleto 1 (3,3%) - 2 (6,7%)

2° grau completo 4 (13,3%) 1 (3,4%) 3 (10,0%)

3º grau incompleto 1 (3,3%) 1 (3,4%)

-Instituição 0,00*▲

CAPS – Lavras 15 (50,0%) 23 (76,7%) 6 (20,0%)

CAPS – São João del-Rei 15 (50,0%) 7 (23,3%) 24 (80,0%)

Grupo Diagnóstico CID 0,24▲

Transtornos do espectro esquizofrênico (F 20-29) 25 (83,3%) 27 (90,0%) 22 (73,3%)

Transtornos do humor (F 30-39) 5 (16,7%) 3 (10,0%) 8 (26,7%)

Outros transtornos Sim 8 (26,7%) 5 (16,7%) 4 (13,3%) 0,39▲

Não 22 (73,3%) 25 (83,3%) 26 (86,7%)

Doenças físicas Sim 10 (33,3%) 14 (46,7%) 19 (63,3%) 0,07▲

Não 20 (66,7%) 16 (53,3%) 11 (36,7%)

Presença de crise atual Sim 6 (20,0%)

24 (80,0%)

5 (16,7%) 25 (83,3%)

10 (33,3%) 20 (66,7%)

0,27▲

Não

Número de crises no último ano 14,10 (33,65) 6,41 (11,75) 4,65 (12,32) 0,29◘

Número total de internações 5,53 (18,69) 10,76 (13,48) 5,56 (23,95) 0,49◘

Tempo total de internação, em anos 1,01 (3,05) 4,43 (7,65) 1,22 (4,33) 0,03*◘

Duração, em anos, da doença 15,25 (10,08) 22,28 (14,24) 12,71 (10,29) 0,008*◘

Duração, em anos, do tratamento psiquiátrico 12,64 (9,06) 16,73 (12,07) 7,95 (8,15) 0,004*◘

Número de remédios 3,93 (1,26) 3,52 (1,43) 3,33 (1,09) 0,18◘

Aceitação da medicação Sim 23 (76,7%) 22 (73,3%) 27 (90%) 0,28▲

Não 1 (3,3%) 3 (10,0%) 0 (0%)

Às vezes 6 (20,0%) 5 (16,7%) 3 (10,0%)

Toma a medicação sozinho Sim 13 (43,3%) 14 (46,7%) 13 (43,3%) 0,96▲

Não 17 (56,7%) 16 (53,3%) 17 (56,7%)

*: p < 0,05; ▲: teste qui-quadrado; ◘: ANOVA; DP: desvio-padrão.

Tabela 3. Análise intragrupo das diferenças entre as médias das subescalas subjetivas A e B da FBIS-BR, pelo teste t de Student, e entre as médias das subescalas objetivas A, B e D, pela análise de variância (ANOVA) com teste post hoc de Tukey, desvios-padrão (DP) e valor de p, para os grupos de Pais, Irmãos e Cônjuges

Familiar Médias (DP) ANOVA

p

Post hoc de Tukey Médias (DP) T de Student

Subescalas objetivas p(AB) p(AD) p(BD) Subescalas subjetivas

A B D A B

Pais 3,14 (0,72) 2,35 (0,96) 1,79 (1,06) 0,00** 0,004* 0,00** 0,06 1,85 (0,77) 3,05 (0,99) 0,00**

Irmãos 2,61 (1,00) 2,12 (0,83) 1,61 (0,86) 0,00** 1,00 0,00** 0,08 1,66 (0,79) 3,03 (0,90) 0,00**

Cônjuges 2,79 (0,83) 2,10 (0,78) 1,47 (0,63) 0,00** 0,002* 0,00** 0,004* 1,75 (0,67) 3,28 (0,78) 0,00**

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Análise intergrupo da sobrecarga familiar

Equivalência dos grupos: os resultados mostraram que os três grupos de cuidadores eram equivalentes (p > 0,05) com relação às seguintes variáveis dos familiares: escolaridade, valor da renda, cuidar de outro familiar doente, ter problema de saúde, fazer tratamento de saúde, receber ajuda para cui-dar do paciente, tipo de ajuda recebida e satisfação com o tratamento recebido. Entretanto, os grupos não foram equi-valentes com relação às seguintes variáveis dos familiares que podem interferir com o grau de sobrecarga: idade, sexo, estado civil e situação de trabalho (Tabela 1).

Com relação às características sociodemográficas e clíni-cas dos pacientes, os grupos eram equivalentes (p > 0,05) quanto às seguintes variáveis: sexo, escolaridade, diagnósti-co, presença de comorbidade, presença de doenças físicas, estar em crise no período em que foi realizada a entrevista, número de crises no ano anterior à entrevista, número total de internações, número de remédios, aceitação da medica-ção e capacidade de tomar os remédios sozinho. Entretanto, os grupos não eram equivalentes com relação às seguintes variáveis dos pacientes que podem interferir com o grau de sobrecarga do cuidador: idade, estado civil, local de tra-tamento, tempo total de internação e duração da doença (Tabela 2).

Análise dos escores globais e das subescalas de sobrecar-ga: na tabela 4 são apresentados os resultados da compara-ção entre os três grupos de cuidadores, com relacompara-ção ao grau de sobrecarga global objetiva e global subjetiva. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias da sobrecarga global objetiva e subjetiva entre os grupos. Na tabela 4 também são apresentados os resultados da com-paração dos três grupos quanto aos escores das subescalas. Os dados indicam que os familiares também não diferiram quanto aos escores médios de sobrecarga nas dimensões avaliadas pelas subescalas.

Análise por itens: na tabela 5, são apresentados os resulta-dos da análise comparativa, por itens, da sobrecarga resulta-dos três grupos de cuidadores. Na subescala A, referente à assistência ao paciente na vida cotidiana, a sobrecarga objetiva dos pais foi mais elevada do que a dos irmãos, no que se refere a dois aspectos: a frequência com que o familiar preparou ou aju-dou o paciente a preparar as suas refeições (questão A5a) e a frequência com que o familiar teve que lembrar ou insistir com o paciente para que ele ocupasse seu tempo livre com alguma coisa (questão A8a). Ainda na subescala A, a avaliação da sobrecarga subjetiva mostrou que o grau de incômodo sentido pelos cuidadores ao terem que fazer compras de ali-mentos, roupas ou outros objetos (questão A4b) para o pa-ciente foi maior no grupo de pais do que no grupo de irmãos. Com relação à subescala B, referente à supervisão dos comportamentos problemáticos dos pacientes, um item apresentou diferença estatisticamente significativa entre o grupo de pais e cônjuges. No grupo dos pais, a sobrecarga objetiva foi mais elevada do que a dos cônjuges, em termos da frequência com que o familiar teve que lidar ou tentou evitar/impedir que o paciente fosse agressivo com outras pessoas (questão B4a).

Na subescala C, que indica o impacto financeiro na vida do cuidador, observa-se que os gastos dos pais com o pa-ciente foram significativamente superiores aos dos cônju-ges. Os pais gastaram, em média, R$ 181,10, enquanto a mé-dia dos gastos dos cônjuges cuidadores foi de R$ 80,95. Com relação ao sentimento de peso financeiro decorrente dos gastos com o paciente no último ano, o grupo de pais teve uma sobrecarga maior do que o grupo de irmãos e, compa-rativamente aos cônjuges, os irmãos também apresentaram menor sentimento de peso relacionado aos gastos.

Na subescala E, referente às preocupações do cuidador com o paciente, os pais apresentaram sobrecarga subjetiva significativamente mais elevada do que os cônjuges, ao se preocuparem com o futuro do paciente (questão E7).

Tabela 4. Médias dos escores globais e das subescalas de sobrecarga objetiva e subjetiva, medidos pela escala FBIS-BR, desvios-padrão (DP) e valor de p para os grupos de Pais, Irmãos e Cônjuges, avaliados pela análise de variância (ANOVA) e teste post hoc de Tukey

Escala/subescala Médias (DP) ANOVA

p

Post hoc de Tukey

Pais Irmãos Cônjuges p(PI) p(PC) p(IC)

Sobrecarga global objetiva 2,60 (0,70) 2,25 (0,78) 2,29 (0,58) 0,10 0,12 0,19 0,97

Sobrecarga global subjetiva 2,91 (0,49) 2,73 (0,66) 2,82 (0,53) 0,46 0,42 0,79 0,82

A – Assistência na vida cotidiana Sobrecarga objetiva 3,14 (0,72) 2,61 (0,99) 2,78 (0,83) 0,04 0,05 0,25 0,71

Sobrecarga subjetiva 1,85 (0,77) 1,66 (0,79) 1,75 (0,67) 0,69 0,59 0,85 0,90

B – Supervisão dos comportamentos problemáticos Sobrecarga objetiva 2,35 (0,96) 2,12 (0,83) 2,10 (0,78) 0,41 0,56 0,50 0,99

Sobrecarga subjetiva 3,05 (0,99) 3,03 (0,90) 3,28 (0,78) 0,13 0,99 0,60 0,56

D- Impacto na rotina Sobrecarga objetiva 1,79 (1,06) 1,61 (0,86) 1,47 (0,63) 0,05 0,69 0,32 0,80

E – Preocupações com o paciente Sobrecarga subjetiva 3,80 (0,65) 3,48 (0,90) 3,58 (0,92) 0,31 0,30 0,56 0,89

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Tabela 5. Médias dos escores de itens da FBIS-BR, desvios-padrão (DP) e valor de p para as diferenças entre os grupos de Pais, Irmãos e Cônjuges, avaliadas pela análise de variância (ANOVA) e teste post hoc de Tukey

Item Médias (DP) ANOVA

p

Post hoc de Tukey

Pais Irmãos Cônjuges p(PI) p(PC) p(IC)

Incômodo em fazer compras (A4b) 2,17 (1,27) 1,17 (0,71) 1,63 (0,46) 0,01* 0,008* 0,24 0,41

Frequência de preparo de refeições (A5a) 4,50 (1,14) 3,33 (1,92) 3,63 (1,67) 0,02* 0,02* 0,09 0,75

Ocupar tempo (A8a) 4,00 (1,39) 2,90 (1,56) 3,37 (1,77) 0,03* 0,02* 0,27 0,49

Comportamento agressivo (B4a) 2,30 (1,68) 1,60 (1,00) 1,27 (0,58) 0,004* 0,06 0,003* 0,52

Gastos com o paciente (C4) 181,10 (185,92) 169,69 (172,99) 80,95 (109,01) 0,03* 0,96 0,04* 0,09

Impressão do peso dos gastos com o paciente no último ano (C5) 3,17 (1,62) 1,67 (1,35) 2,80 (1,69) 0,001** 0,001** 0,63 0,02*

Preocupação com o futuro do paciente (E7) 4,90 (0,55) 4,33 (0,99) 4,27 (1,30) 0,03* 0,08 0,04* 0,96

*: p < 0,05; **: p ≤ 0,001; DP: desvio-padrão; PI: pais e irmãos; PC: pais e cônjuges; IC: irmãos e cônjuges.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo possibilitaram identificar seme-lhanças e diferenças entre pais, irmãos e cônjuges cuida-dores de pacientes psiquiátricos, com relação à sobrecarga resultante do papel de cuidador. Com relação às semelhan-ças encontradas entre os três grupos, constatou-se que as maiores médias de sobrecarga objetiva se concentravam na subescala A, referente à frequência de assistência ao pacien-te na vida cotidiana. Essa frequência foi superior à da supervi-são dos comportamentos problemáticos dos pacientes (su-bescala B), para cada grupo de cuidador. Apesar disso, os três grupos apresentaram escores mais elevados de sobrecarga subjetiva, com maior sentimento de incômodo, ao supervi-sionar os comportamentos problemáticos dos pacientes do que ao prestar assistência nas tarefas diárias. Esses resultados

foram similares aos dados das pesquisas de Barroso et al.24 e

de Albuquerque et al.14, nas quais os familiares se sentiram

muito incomodados por supervisionar os comportamentos problemáticos dos pacientes, apesar de serem menos fre-quentes, e se sentiram pouco incomodados ao auxiliar o pa-ciente em suas tarefas cotidianas.

Os grupos não diferiram com relação aos graus de so-brecarga global objetiva e subjetiva, nem quanto à sobre-carga por domínios da vida dos cuidadores. Esses resultados indicam que, de maneira geral, o papel de cuidador afetou os três grupos estudados de forma semelhante. Esses dados corroboram resultados encontrados por Jungbauer e

Anger-meyer11, que também encontraram algumas semelhanças

na sobrecarga sentida por cônjuges e pais cuidadores, por exemplo, a variação da sobrecarga de acordo com a fase da doença do paciente.

No entanto, a análise comparativa, por itens, dos três grupos de cuidadores colocou em destaque as diferenças entre eles, quanto a aspectos específicos da sobrecarga. Os resultados mostraram que os pais apresentavam maior grau de sobrecarga do que os irmãos e/ou os cônjuges, em um total de sete itens. Esses resultados corroboram dados

en-contrados na literatura, indicando que os pais, além de se-rem apontados como os principais cuidadores dos pacientes psiquiátricos, também são os que apresentam sobrecarga

mais elevada14,15,19,25. Segundo Jungbauer e Angermeyer11, os

cuidadores são confrontados com uma sobrecarga específi-ca, pautada pelo tipo de relacionamento que têm com o pa-ciente. Nesse sentido, o grau de parentesco que o cuidador tem com o paciente determina as especificidades do rela-cionamento entre eles, resultando em diferenças específicas na sobrecarga.

A comparação entre a sobrecarga de pais e de irmãos demonstrou que os pais apresentaram maior sobrecarga objetiva do que os irmãos quanto à frequência com que o familiar preparou ou ajudou o paciente a preparar as suas refeições e a frequência com que o familiar teve que lembrar ou insistir com o paciente para que ele ocupasse seu tempo livre com alguma coisa. No entanto, a sobrecarga subjetiva, ou o incômodo referente a esses itens, não apresentou dife-rença significativa entre os grupos.

Porém, com relação ao aspecto financeiro, os pais apre-sentaram maior sentimento de incômodo do que os irmãos, no item referente a fazer compras de alimentos, roupas ou outros objetos para o paciente. Uma possível explicação para esse incômodo pode estar relacionada a dificuldades finan-ceiras enfrentadas pelas famílias, uma vez que a sobrecarga dos pais também foi maior do que a dos irmãos, no item referente à impressão do peso dos gastos com o paciente no último ano. Essa diferença também pode ser observada na comparação entre irmãos e cônjuges, pois os cônjuges tiveram impressão de peso financeiro maior do que a dos

irmãos. Na pesquisa de Albuquerque et al.14, o grau de

so-brecarga subjetiva dos pais, ou seja, o incômodo sentido por eles, também foi mais acentuado do que o dos irmãos, ao fa-zerem compras para o paciente e ao relatarem o sentimento de sobrecarga financeira com relação aos gastos feitos com o paciente, no último ano.

(8)

às questões financeiras, tendo sido constatado que os pais ti-nham gastos significativamente superiores aos dos cônjuges. Esse resultado do aspecto financeiro da sobrecarga deve ser colocado em destaque, tendo em vista que, das oito áreas

identificadas por Tessler e Gamache7 que compõem a

di-mensão do cuidar, a administração do dinheiro do paciente foi aquela em que os familiares perceberam que precisavam

dar maior assistência aos pacientes. No estudo de Barroso19,

que analisou os fatores associados à sobrecarga, esse aspecto também foi destacado, pois foi um dos fatores que mais con-tribuíram para a sobrecarga objetiva dos familiares, em uma

análise de regressão múltipla. Na pesquisa de Martínez et al.15,

os gastos com o paciente e as preocupações geradas por di-ficuldades financeiras também foram maiores para os pais e irmãos, comparativamente aos cônjuges. Diante disso, a so-brecarga financeira parece ser uma questão que não deve ser negligenciada pelos profissionais, ao trabalharem com essa população de cuidadores de pacientes psiquiátricos.

Outras diferenças foram identificadas quanto à sobrecar-ga de pais e cônjuges cuidadores. A frequência com que os pais precisaram lidar ou tentaram impedir que o paciente insultasse, ameaçasse ou machucasse alguém foi mais ele-vada do que no grupo de cônjuges. No entanto, não foram observadas diferenças significativas entre esses dois grupos quanto ao sentimento de incômodo resultante desse com-portamento problemático do paciente.

A preocupação com o futuro do paciente também foi significativamente mais elevada no grupo de pais do que de cônjuges, embora essa diferença não tenha sido significati-va entre os demais grupos. Esses resultados corroboram os

achados do estudo de Albuquerque et al.14, que também não

observaram diferenças significativas entre pais e irmãos no que se refere, especificamente, a esse item da escala FBIS-BR. No entanto, essa parece ser uma questão que merece ser estudada com mais profundidade, uma vez que dados da literatura apontam os pais como os principais cuidadores e destacam a preocupação deles em relação ao futuro do filho doente. A idade mais avançada, as limitações no tipo de ta-refas para cuidar do paciente e o medo de não estarem pre-sentes por muito tempo ao lado do filho resultam em uma

grande fonte de preocupação para esses cuidadores11,15,16,26.

Os resultados deste estudo permitiram corroborar alguns dados da literatura, contribuindo para consolidar o conheci-mento sobre o tema. No entanto, destaca-se a dificuldade de comparar certas dimensões da sobrecarga sentida pelos cuidadores com os resultados apresentados por outras pes-quisas nacionais e internacionais, uma vez que elas não foca-lizaram a relação do parentesco do cuidador.

Outra dificuldade na discussão dos dados pode ser atri-buída à ausência de uma padronização dos instrumentos de avaliação utilizados pelas pesquisas, necessária para a

com-paração dos resultados27,28. Além disso, em muitos estudos,

os resultados foram registrados de forma descritiva, havendo

carência de dados estatísticos, tal como apontado por

Ban-deira e Barroso10.

Uma limitação do presente estudo foi o fato de a amostra não ter sido selecionada aleatoriamente da população-alvo, o que restringe a possibilidade de generalização dos resul-tados. Além disso, não foi computado o número de sujeitos eliminados em função dos critérios de exclusão, o que pode ter limitado a composição da amostra. Outra limitação foi a impossibilidade de igualar os grupos com relação a todas as variáveis analisadas. Algumas diferenças na composição dos grupos eram esperadas, por serem características inerentes a cada grupo de cuidadores como a idade e a situação de tra-balho dos familiares. Essas variáveis podem interagir com a variável do relacionamento com o paciente, modulando, as-sim, a experiência do papel de cuidador, típica de cada gru-po. Além disso, algumas diferenças entre os grupos que não foram estatisticamente significativas podem, no entanto, ter relevância clínica, podendo ter interferido nos resultados da sobrecarga. Estudos futuros poderão elucidar essas ques-tões, utilizando delineamentos de pesquisa que permitam maior equivalência dos grupos.

Por fim, destaca-se a importância de ampliar o estudo da sobrecarga de outros tipos de familiares cuidadores, tais como filhos e parentes por afinidade do paciente (ex.: genros e enteados), que não foram analisados no presente trabalho. Dados sobre esses grupos de cuidadores ainda são escassos, mesmo na literatura internacional. Também não foi analisa-da a influência do gênero na sobrecarga dos cuianalisa-dadores. Es-tudos futuros poderão investigar a influência dessas variáveis na sobrecarga dos cuidadores, permitindo, assim, o aprofun-damento do conhecimento sobre essa temática.

CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa permitiram constatar e con-trastar a sobrecarga de pais, irmãos e cônjuges cuidadores. Observou-se que a doença mental atinge não só o pacien-te, mas toda a sua família, que parece não estar superando as exigências e as dificuldades resultantes do papel de cui-dador. Essa situação, além de poder ter reflexos negativos no cuidado prestado ao próprio paciente, tem o potencial,

como afirmou Doornbos16, para criar um novo cliente para

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AGRADECIMENTO

Este artigo faz parte de um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq).

Agências financiadoras: Fapemig e CNPq. Conflito de interesses: nenhum.

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Imagem

Tabela 1. Características sociodemográficas e condições de vida dos familiares, em termos de frequência absoluta e relativa (%) ou média  e desvio-padrão, para cada grupo de cuidador e valores de p referentes à avaliação da equivalência dos grupos, obtidos
Tabela 2. Características sociodemográficas e clínicas dos pacientes, em termos de frequência absoluta e relativa (%) ou média e desvio- desvio-padrão (DP) para cada grupo de cuidador e valores de p referentes à avaliação da equivalência dos grupos, obtido
Tabela 4. Médias dos escores globais e das subescalas de sobrecarga objetiva e subjetiva, medidos pela escala FBIS-BR, desvios-padrão  (DP) e valor de p para os grupos de Pais, Irmãos e Cônjuges, avaliados pela análise de variância (ANOVA) e teste post hoc
Tabela 5. Médias dos escores de itens da FBIS-BR, desvios-padrão (DP) e valor de p para as diferenças entre os grupos de Pais, Irmãos e  Cônjuges, avaliadas pela análise de variância (ANOVA) e teste post hoc de Tukey

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