DETERMI N A NTES D E H ÃBITOS A LI ME NTARES E M C R IANÇAS D E O A 4 A N OS*
Mai Saho*
RESUMO - E ste trabalho tem como objetivo p ri n c i p a l o estudo dos fatore s q u e in fluenciam no hábito alimentar das c rianças d e O a 4 anos d e idade, nas d i ve rsas f rações d e classes comparan.do-se com o e stado n utricional das mesmas. Com base nos d ados obtidos através d a apli cação d o s q u estionários e d a s entrevistas d i rigidas à s pessoas responsáveis pela a l im e ntação d a c riança, foi po s s rvel efe tuar algumas a n á l i s e s estaHsticas e a i nterpretação dos d i scu rsos apresentados
p e los i nformante s . .
ABSTRACT - T h i s paper has a m a i n o bjective, the study of facto rs influencing the eati ng h abits of c h i l d re n aged O to 4 years old, i n vari o u s class strate, as compared w ith t h e i r nutritional state . B a s ed on the data obtained from q uestion naires filled and interviews with the person re sponsible for feed i n g the c h i l d , it was pos s i ble to make some statistical a n a l y s e s and the i nterpretation of the mother' s d i s co u r s e s .
1 I NTRODUÇÃO
A compeenão do feômeno aódel doença tem sido obeto de estudo de poisons da
a
de ciên cis da aóde ela sua complexiade e vem evoluindo aravés dos emos. A tendência, atuene, é de e buscr ns ciêncis -s, lguns subídiosa a
melhor compeenão sobre o surgmento de eventos m6rbidos, o pcesso de determinação deses e a inte ração ente o biol6ico e o scl.Exsem vios enfques ciol6icos, lguns poém têm pdoinado sobre os ouos. Atuene a grande mioa dos tabalhos em saóde apeena uma ersctiva que ende a edu
� o fenÔDeno so
cil a um espço homogêneo, levndo sn, a um mento ds deteminaçes ou difeenciçes sciis báics na apeensão e explicação da idade.Com bse nesse enfoque, têm-se como instru mento dé tabho na
a
da saóde coleiva, o eiso e o diagn6sico da comunidade, através do esaelci mento do pdrão de saóde e dos rcursos dsoníveis. Tm-e tmém, pivileido a aividade de dagnósti co das nsiddes de saóde, decndo-e um com ento desvine das noms páicasis
da opção e estudano o oque do surmento dese comormento pa, a pir í, eem rça ds s aiidades de ducção i. na tentaiva de coir is comorentos ditos "erOnos"-em re lação à aóe.Os esultados de s pos etoiis sepra dos s medids outs de cáer cl ão iados e insasfatóios na sua nde io.
Surge,
sm
, a necessidade de e enr os poblemas de sa1de num contexto mplo da sciedade e não aenas coo, poblemas ldos no mbito . da a1de. Os estudos baseados em vávis indivi duis como tabus entes e comormentos es vntes em relção aos cuidados de saóde ioladente não expicam a totlidade do fen�eno aóde/dença e orientm as esratégs de intevenção
a
le raes comomens ndiiduis.O peene estudo fcza uma ds vávis
co-mumente coniderads "cultuis" - o hábito men tar da ciança de O a 4 nos de idade, tenndo com prender o hábito menr como o esuldo de um conjunto de elaos e epeenes ecionads às diferentes condiçes materiis de exsência s di vers cmads sciis.
Qustona-se a vidade do enfque que enfaza a educação imentar como ui cursos ól e eicz na melhoia do conhcimento nuicionl da cmada populcionl mis cente e seu conseqüente rau do estado nuticionl. O que se explia pelo fato dee enfoque r do pincípio de que se grupo lém de não er hábito de ngeir certos prdutos entes, possui conceios eOneos e distocidos sobe os vlo res nutiivos dos mentos. Além disso, não
s
ve zes ses fatos são considerdos como uma das causs pncipis o peno $ desnutição.2 H Á B I TOS A L I ME NTAR ES E DES NUTR i ÇÃO I N FA N T I L NA FAIXA DE O A. 4 A NOS DE IDADE
A situção entar da populção brsleira vm sendo agravada elo ápido crescimento urbano esul tante da indusaão, uma vez que, s opulçs econmiaene aivas cupam pincipente o etor scundáio e teco«ls aividades conÔmics, so frendo s inluênis da orgão conÔmica en geQdrda elo estáio do capimo brsileo. Este, asar do crecento do Pduto Ineno Bruto (PIB), é
c
teizado ela concenrção de renda m poder de ma minoria da opulção e elo bixo lá io pa cerca de 7�% dos bsleos7•O estudo sobe a queda gadaiva do io í nmo
l
elionda como a condição de vida da o pulação do pas tem sido objeto de discussão de vios autoes naa
de ciêncas scis,sm
como naa
da aóde.O rsultado da Invesigação Intemeicana de Midade Infanl, pojeto de invesigação corde nada ela Orgção Pnmeicna de Sa1de (OPS) em ecala coninenl (Aéica Laina, Cifóia _
* Rso a Dieão apentada
a
obAo do au de Meem
Sadde mniia da UFBa. ** ofeoa da Ecola de Enfenagem da Univesidae Fel da Bahia. .EUA e Quebec - Canad), egistou 35.095 6bitos re laivos a menores de 5 nos, destacando-e dos pro blemas, a deficiência nuticionl como o fator mis importante que intefere dretamente ou ssciado co mo outos fatores na mortlidade infanl5•
Uma série de estudos relizados no Brasil," 4. 8. 8 . vem demonstrando que a desnutrição protéico cl6ica é a deiciência nuticionl de mior disseminação e de mioes consequêncis para a saóde e que tem como causa básica um subconsumo de limentos.
O agavmento da desnutrição é um dos mis é ios problemas sociais não s6 devido as consequências que acreta ao indivíduo, como também por ter atin gido um vasto segmento de nossa opulação.
Na busca de lenaivas para a solução do pro blema nutricionl, as tendências de intervenção vêm sendo levanadas baseadas em vios enfoques: a) me didas igads à mudnça do hábito mentr ssociada à podução industil de suplementos vitfnicos; b)
medids que m a mudança de hábitos aimentaes com suplementação imentr; c) medidas que viam garnir, a cada indivíduo, o consumo de quantidades adequadas dos alimentos que consomem habitulmen te.
O objeto do pesente estudo, hábito imentar da criança de O a 4 anos de idade, tem a fmidade de le
vantr lguns fatores que inluencim ou determinam o consumo imentr da criança nas diverss frações de classe, assim como estudr o conhcimento da mãe ou essoa responsável ela imentação da criança.
Entende-se como estudo de hábitos alimenres de uma determinada população, a veriicção do tio de limentos habitumente utilizados, como mbém, os fatores que inluencim na escolha de limentos3•
Vários autores têm-se preocupado em deteinar os fatores que influenciam o consumo limentr, ado tando enfques diferentes.
AL VES' anlisando a importância relaiva ds varáveis que inluem no consumo alimentar da popu lação, levanta os eguintes fatores comumente consi derados: nível de instrução, hábitos e tabus limenta res, tamanho da fa e enda far. Este autor as socia a desnuição ao fator econÔmico, dando ênfse
à variável renda fr e considerando os outros co
mo fatores agravantes na determinação do consumo limentr e no aparcimento da desnutrição.
MONTEIR04, or sua vez, estudando os deter minntes da desnutrição infanil no Vle do Rieira, aponta como causa bsica o consumo enr e ese está fundmenlmente determinado ela capcidade da famia na obtenção de alimentos. Esta capacidade de obtenção de imentos está condicionada, em gn de parte, ela foma de inserção do chefe da fa na estrutura scil de prdução.
Os fatoes ligados à inserção de um grupo scil no pcesso de podução, s como mior ou menor estabidade de empego, tipo de ocupação, enda fa miar er capita, acesso à educação, ervem, or um lado, como lmite pra a ingestão de imentos e, por outro inluem na ecolha de imentos a seem ingeri dos.
3 OBJETI VOS
- Estudr os hábitos enres ds ciançs de O a 4 anos de idade, nas diversas clsses s�is e os possí veis fatores que as inluencim na escolha de imento,
- Tenar idenicar o fator determinnte que in luencia na ecolha e no consumo de mentos ds criançs.
- Comprr o conhcimento ds mães em relação à
limenação infanl, através de dois grupos dentro de ums mesma clase, endo um constituído or fis de crianças de esado nuticional nomal, e outo, or falis de cnçs desnutidas.
4 MATE R I A L E MÉTODO
A amostra io peente estudo foi rerada das classes e frações selcionadas no projeto "Deteni nntes scis e biol6gicos do estado nuticionl da população da cidade de Slvador".
As fs form escolhids pra o sorteio den tro de cada fação de clase de natureza esraiicada simples e de cada "stratum" previmente elecionado, a amostragem foi casul simples. As frações de cls ses:
- pequena burguesia, formada por equenos po prietáios e proissionis liberaris:
- trablhador de seriços epeentado pelos co merciários e funcionários póbicos;
- trablhador produivo, elos trabalhadores fa bis e de construção civil;
- exército industril de eserva CEIRt
Form selcionadas 72 fs. esta tentaiva de agrupmento de categoria teve como objeivo faciitar a anlise e, ao mesmo tempo, conervr sua esciici dade no que z reseito ao mdo de inerção no pro cesso podutivo.
Como insrumento de coleja de dados form uli zados questionários com erguntas dirigidas e ente-vistas aberas.
Para avição do estado nuticionl ds criançs de O a 4 nos foi udo o citério de Gomez, ape
sentado pela adequção ponderl, bseado nos padres adotdos por MrcOndes e colaboradores pra Snto Andé em São Paulo.
Com a fmaidade de se estar a assciação ente o estado nuticionl das crinçs de O a 4 anos de idade e
as frações de clses, uilizou-se o tese qui-quadrado pra mosrs ndependenes de acordo com a hióee nula Bo:
TT 1 TT 2 e cuja f6mula:
x" = � (lO-E' -05) 2 E
5 D ISCUSSÃO D E R ESULTADOS
Beado no pressuosto de que os hábitos li mentaes observados nos váios extratos sciis estão condicionados culturlmente e são inluenciadas quse que exclusivmente ela condição objetiva de existên cia da população e esta, ela forma de inerção da famia na estrutua do pocesso produivo, form le vantados alguns ontos elevantes:
- Quando s fis form estudadas em elção a categoia de ocupação, demos obervar que ns duas fr�es de · classe que epeentam a pequena burgueIa, 82,3% pertencem a ólima categoia, endo
que a clsse trablhadora ertence a categoias inter mediárias e a fção de EIR, 72,2% pertencem as duas prmeias categorias de ocupação (repoduzido de S INGER6.
- A pecentagem de gsto com aimentação em relação a enda fliar, na equena burguesia, 4,4% ds fafis gastam 25% da renda totl da fa e na fração EIR, 41,2% s fffias, o gsto amentar re preenta 75 a 10% da renda filiar.
- Em relação a consumo de aimentos em teros de fequência, os alimentos como frutas e leite, seu consumo varia de uma fração para outra. Já verduas, farináceos, cereis e laguminosas, apesentm uma va riação menor entre as frações quando é comprado com a vação dos alimentos anteriomente citados.
- O estado nuticionl das criançs estudads, e vela que as crianças que pertencem a fações de pe quena burguesia e trabalhador produtivo apreentam o estado nutricionável favorável, enquanto que a desnu trição aprece com maior frequência ns crianças das faffis pertencentes e trablhadores de serviços e EIR.
6 CONC LUSÕES
Pelo caráter da mostra escolhida para o estudo, as evidências aqui observads não odem ser extrapo lads para a população em geral, contudo, pode-se chegar a algumas concluses:
- O estudo indica que o consumo de certos ai mentos tanto qunto o não consumo de outros, menos do que uma ecolha livre, resulta sobretudo das res triçes de ordem conÔmica para as flis de deter minadas frações de clsses.
- A baixa escolaridade, o ingresso a bixa catego ria ocupcional, o bixo poder aquisitivo que caracte rizm a fração de clse do EIR reletem no estado nutricional da criança que é mis sensível à mudança no consumo imentr
Não é simplesmente a esfera psicológica de gosto e peferência que expica a recorência destas famias a certos limentos. ;; uma tenaiva pemanente de ajuste entre a atisfação das ncessidades (hábitos) e a capacidade rel de atendê-ls (rcursos).
- O conhcimento e a conduta em relação à li mentção que form considerados como duas entida des disintas or alguns autores são enendids como uma tentaiva de ajuste entre a satisfação das ncessi dades e a apacidade objetiva pra obtê-ls.
"Se eu tivese dinheiro suiciente, comprava bs tante verduras e frutas, comer cne, feijão, ar roz, bolacha, leite, macarrão, peixe, mas meus lhos são má-imentados e tenho que dá as vi inas, pois o saláio que meu marido gnha é pouco e não dá para . • • comprar todo tipo de alimento que eles ncessitam" (Mãe de uma fia da fração de EIR).
R EF E R Ê N C IAS B I B LIOG R Á FICAS
1 AL VES , E.L.G. Nível alimenar, renda e educação. Esudos
Econôicos, S .Paulo : 7 (2), 1977.
2 • Desnurição e pobea no Bsil: algums
evidêncis. Cadeos de pesqusa, S.Paulo: 29: 77-86,
jun. 1979
· 3 MALDONADO, G.I. & MON fE OONIO, J.M. fécnics de
inquéritos em alimenação. Arq. Bs. Nutr., 24 ( 112):
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4 MON fEIRO, C.A. A Epdooga da desnuçJ protco
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6 S INGER, P. aa por amentos a área eropoitaa
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7 SOARES , L.E. Vendendo saide. O INPS e a seguridade so l no Brsil. Sade em Debate, 1 (2): jalmr. 1977.
8 V A LEN f E, F .L.S . et alii -Reat6o Prear: Reações de Produção e Desnução na Mata-Sul Caavieia de Pebuco, Água Preta: 1978. mimeogr.
9 --Deteantes socas e boógcos do estado nu coal a popuação a cade de Salvaor. Projeto de Psquia. mimeogr.