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Redução dos custos de quantificação de benefícios na avaliação contingente.

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Academic year: 2017

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Antˆonio Aguirre**

Diomira M. C. P. Faria*** Em´ılio Suyama****

Gislaine Aparecida Santos*****

Sum´ario: 1. Introdu¸c˜ao; 2. O m´etodo de avalia¸c˜ao contingente:

uma s´ıntese; 3. Metodologia; 4. Dados utilizados; 5. Resultados; 6. Conclus˜oes.

Palavras-chave: avalia¸c˜ao contingente; quantifica¸c˜ao de benef´ıcios; an´alise de regress˜ao.

C´odigo JEL: I3.

O m´etodo denominado avalia¸c˜ao contingente ´e amplamente

utili-zado para quantificar os benef´ıcios decorrentes da implanta¸c˜ao de

projetos com impacto ambiental. Esta metodologia utiliza dados obtidos mediante pesquisas de campo realizadas entre os potenci-ais benefici´arios do projeto. A proposta deste artigo ´e mostrar que ´e poss´ıvel utilizar estudos j´a existentes para projetos semelhantes, com a finalidade de obter indicadores preliminares de dimensiona-mento do mesmo tipo de projeto em novas localidades, reduzindo,

assim, o custo total do processo de avalia¸c˜ao. O tipo de projeto

selecionado para an´alise ´e o de implanta¸c˜ao de redes de esgoto

sa-nit´ario em diversas cidades de porte m´edio no Brasil.

The so-called contingent valuation method is frequently used to

quantify the benefits brought about by the implementation of a project with environmental impacts. This method uses data collec-ted in field researches conduccollec-ted among the potential beneficiaries of the project. The objective of this paper is to show how to use information contained in existing studies for similar projects as a possible way to reduce the costs of the evaluation process. The

*Artigo recebido em nov. 1999 e aprovado em jul. 2001. Os autores agradecem a dois pa-receristas anˆonimos da RBE, pelos valiosos coment´arios, e ao economista Marco Antˆonio Mota Amorim, pelo cuidado na manipula¸c˜ao do banco de dados

**Professor do Departamento de Ciˆencias Econˆomicas da Face e pesquisador do Cede-plar/UFMG. Este autor agradece o apoio financeiro do CNPq.

***Economista e pesquisadora da Ampla An´alise de Projetos ****Professor do Departamento de Estat´ıstica do Icex/UFMG *****Estat´ıstica e pesquisadora da Ampla An´alise de Projetos

(2)

paper proposes that such information, which supplies preliminary indicators for some crucial parameters, allows to narrow the scope of choices among projects of the same type in new places. The type of project selected for analysis is the construction of a sewage system in several middle-size cities in Brazil.

1.

Introdu¸c˜

ao

At´e pouco tempo atr´as a mensura¸c˜ao de benef´ıcios e custos decorrentes de impactos ambientais constitu´ıa uma parte menor dentro da avalia¸c˜ao social de qualquer projeto de investimento que, geralmente, focalizava atividades produtivas e/ou de consumo. Com o advento da “era ambiental” ´e cada vez mais freq¨uente a necessidade de avaliar projetos relacionados com o meio ambiente. Nesses casos, a totalidade dos benef´ıcios pertence `a categoria dos “intang´ıveis”, significando que os “bens” a serem avaliados n˜ao tˆem um mercado onde s˜ao transacionados, o que dificulta consideravelmente a tarefa.

V´arios m´etodos foram propostos para solucionar este problema (Hausman, 1993, Aguirre & Faria, 1997). Um desses m´etodos ´e o de “avalia¸c˜ao contingente” (AC), que, como todos os outros, apresenta vantagens e desvantagens Aguirre & Faria (1996) Pessoa & Ramos (1998). Entre as desvantagens do m´etodo de AC, podem-se mencionar:

• esta metodologia trabalha cominten¸c˜oes dos agentes econˆomicos, e n˜ao com comportamento efetivo;

• na pesquisa de campo, o agente econˆomico entrevistado deve responder sobre uma escolha que n˜ao lhe ´e habitual, isto ´e, n˜ao faz parte de sua experiˆencia di´aria de tomada de decis˜oes;

• os custos das pesquisas de campo necess´arias para obter os dados para rea-lizar o estudo s˜ao elevados.

(3)

Levando em conta as considera¸c˜oes anteriores, ´e evidente que qualquer m´etodo que permita reduzir os custos da pesquisa necess´aria para o levantamento dos da-dos necess´arios `a estimativa da-dos benef´ıcios assume particular importˆancia.Portanto, o objetivo deste artigo ´e discutir a possibilidade de utilizar estudos j´a existentes sobre o tema, para estimar a disposi¸c˜ao a pagar por bens (servi¸cos) semelhantes, reduzindo significativamente os custos dessa tarefa. O bem em quest˜ao pode ser qualquer um, mas neste artigo trataremos do caso particular da implanta¸c˜ao do servi¸co de coleta de esgoto sanit´ario em cidades de porte m´edio no Brasil.

A pr´oxima se¸c˜ao deste artigo faz uma s´ıntese do m´etodo de AC. Para tanto, descreve o modelo estat´ıstico que ´e utilizado, assim como a interpreta¸c˜ao dos resultados obtidos. A se¸c˜ao 3 apresenta a metodologia utilizada no artigo. A se¸c˜ao seguinte discorre sobre os estudos que fornecem os dados utilizados nesta tentativa de reduzir custos nas pesquisas de avalia¸c˜ao contingente. A se¸c˜ao 5 apresenta os resultados obtidos, e a 6 oferece algumas conclus˜oes.

2.

O M´

etodo de Avalia¸c˜

ao Contingente: uma S´ıntese

O m´etodo de avalia¸c˜ao contingente consiste em perguntar aos benefici´arios potenciais de um projeto quanto estariam dispostos a pagar por um incremento de bem-estar decorrente da implanta¸c˜ao desse projeto. Este incremento de bem-estar ´e o benef´ıcio que a popula¸c˜ao usufruir´a devido `a realiza¸c˜ao do projeto. Para essa finalidade uma pesquisa de campo se faz necess´aria.

As principais cr´ıticas ao m´etodo de AC, surgidas n˜ao apenas dos debates man-tidos entre grupos de ambientalistas e grupos empresariais, mas tamb´em de aca-loradas discuss˜oes que tˆem lugar dentro da pr´opria profiss˜ao econˆomica, dizem respeito ao valor pr´atico das informa¸c˜oes obtidas mediante pesquisas de opini˜ao. A origem da controv´ersia ´e simples: muitos acreditam que as respostas `as pes-quisas nada tˆem a ver com a realidade. Por exemplo, uma pessoa que responde ao entrevistador que estaria disposta a pagar uma soma qualquer para ajudar a salvar um santu´ario ecol´ogico que necessita ser protegido pode opinar de forma diferente na hora de ter de efetuar o pagamento.

(4)

de amostragem existentes e amplamente usadas pelos cientistas sociais. Nenhum desses assuntos ser´a abordado neste artigo. O leitor interessado pode consultar os v´arios artigos sobre estes temas inclu´ıdos nos livros de Hausman (1993), Mitchell & Carson (1989) e Carson et al. (1996), bem como as referˆencias ali contidas.

A utiliza¸c˜ao, aqui, do m´etodo de avalia¸c˜ao contingente teve como objetivo maior determinar o pre¸co (valor) que a popula¸c˜ao-alvo de um projeto estaria dis-posta a pagar para usufruir dos benef´ıcios gerados pela implanta¸c˜ao do mesmo.

As perguntas feitas aos entrevistados para tentar estabelecer sua disposi¸c˜ao a pagar pelos benef´ıcios do projeto referem-se a situa¸c˜oes hipot´eticas alternativas. Neste particular existem trˆes enfoques diferentes.

No primeiro, a pergunta ´e aberta(open-ended), devendo o entrevistado atribuir um valor monet´ario m´aximo `a sua disposi¸c˜ao a pagar para ter o servi¸co em quest˜ao. O segundo enfoque, denominadopayment card, ´e utilizado quando se apresenta ao entrevistado um cart˜ao com uma lista de valores e solicita-se a este que indique o maior valor que estaria disposto a pagar. Nestes procedimentos, portanto, a vari´avel resposta ´e cont´ınua e deve ser analisada com t´ecnicas de regress˜ao.

O terceiro enfoque fornece ao entrevistado uma escolha simples, denominada dichotomous choice, entre duas possibilidades, `a qual deve responder com um sim ou n˜ao. Este procedimento ´e dito referendum, porque o entrevistado revela suas preferˆencias mediante um processo semelhante a uma vota¸c˜ao. Neste caso, a vari´avelresposta´e descont´ınua (e dicotˆomica) e sua an´alise requer o uso de t´ecnicas logit ou probit.1 Este procedimento apresenta duas variantes denominadas single-bounded referendum (SBR) edouble-bounded referendum (DBR), respectivamente. No caso da pesquisa de AC pelo SBR, pergunta-se a uma dada pessoa se estaria disposta a pagar uma certa soma,B, para obter um determinado benef´ıcio. A probabilidade de se obter uma resposta negativa (πn(B)) ou positiva (πy(B)) pode ser representada, respectivamente, pelas seguintes express˜oes:

πn(B) =G(B;θ)

πy(B) = 1−G(B;θ)

onde G(◦;θ) ´e uma fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao estat´ıstica com vetor de parˆametros θ. Este modelo estat´ıstico pode ser interpretado como uma resposta maximizadora de utilidade num contexto de utilidade estoc´astica na qual G(◦;θ) ´e a fun¸c˜ao de

(5)

distribui¸c˜ao acumulada da verdadeira disposi¸c˜ao a pagar do indiv´ıduo (Hanemann, 1984, 1991).

Considere-se, agora, o caso em que cada participante ´e confrontado com duas propostas. Al´em do mais, o n´ıvel da segunda proposta depende da resposta dada `a primeira. Se a resposta `a primeira proposta for afirmativa, a segunda envol-ver´a uma quantia (chamada Bu) maior que a quantia B anterior (Bu > B). A probabilidade de se obter uma resposta positiva `a primeira proposta e negativa (πyn(B, Bu)) ou positiva (πyy(B, Bu)) `a segunda pode ser representada, respecti-vamente, pelas seguintes express˜oes:

πyn(B, Bu) =G(Bu;θ)−G(B;θ)

πyy(B, Bu) = 1−G(Bu;θ)

Pelo contr´ario, se a resposta for negativa `a primeira proposta, a segunda de-fine uma quantia menor que a anterior (Bd < B). A probabilidade de se obter uma resposta negativa `a primeira proposta e negativa (πnn(B;Bd)) ou positiva (πny(B, Bd)) `a segunda pode ser representada, por sua vez, pelas seguintes igual-dades:

πnn(B, Bd) =G(Bd;θ)

πny(B, Bd) =G(B;θ)−G(Bd;θ)

Hanemann (1991) demonstra que o modelo DBR ´e assintoticamente mais efi-ciente que o SBR, ou seja, que para grandes amostras o modelo DBR apresenta menor erro-padr˜ao que o alternativo.

3.

Metodologia

(6)

• o valor estimado da disposi¸c˜ao a pagar, utilizando como estimadores modelos de outras localidades;

• o valor da disposi¸c˜ao a pagar estimado para as diferentes localidades envolvi-das, mediante o uso de um ´unico modelo de regress˜ao — baseado nos modelos originais — que expresse o valor da disposi¸c˜ao a pagar dos beneficiados em fun¸c˜ao de vari´aveis explicativas relevantes.

Estas compara¸c˜oes visam a determinar:

• se ´e poss´ıvel utilizar uma fun¸c˜ao de disposi¸c˜ao a pagar estimada em uma localidade ou projeto em outros projetos;

• se ´e poss´ıvel utilizar uma fun¸c˜ao baseada numpool de resultados de diversos projetos para estimar a disposi¸c˜ao a pagar de projetos espec´ıficos.

O crit´erio de compara¸c˜ao consistiu em analisar qu˜ao distantes do resultado original de uma localidade A (em termos de desvios quadr´aticos) se situam as estimativas realizadas com fun¸c˜oes de outras localidades (B, C etc.), ou utilizando o modelo ´unico(pooled model) que agrega resultados de v´arias fun¸c˜oes.

4.

Dados Utilizados

4.1

Premissa b´

asica

Para o desenvolvimento deste artigo, considerou-se a seguinte premissa: o bem (servi¸co) que origina os benef´ıcios a serem avaliados deve ser o mesmo, as-sim como as localidades devem possuir popula¸c˜oes com preferˆencias semelhantes; reconhece-se, contudo, que as preferˆencias variam n˜ao somente em fun¸c˜ao das caracter´ısticas socioeconˆomicas da popula¸c˜ao, mas tamb´em pelas diferen¸cas ge-ogr´aficas.

(7)

Em primeiro lugar, a sele¸c˜ao do servi¸co objeto do estudo levou-nos a seleci-onar trabalhos que mensurassem o incremento de bem-estar obtido mediante a implanta¸c˜ao de sistemas p´ublicos de redes coletoras de esgoto sanit´ario.

Dentro desse conjunto, procuramos estudos localizados em ´areas com carac-ter´ısticas regionais n˜ao muito d´ıspares, e cuja popula¸c˜ao estivesse sensibilizada pelos problemas derivados da falta de um sistema de esgotamento sanit´ario apro-priado.

Outro ponto importante que guiou a escolha dos estudos foi a existˆencia, neles, de modelos econom´etricos que relacionassem vari´aveis socioeconˆomicas, especial-mente o perfil de renda, e que fornecessem alguma informa¸c˜ao sobre as preferˆencias da popula¸c˜ao quanto a servi¸cos substitutos. Tamb´em foi levada em conta a con-sistˆencia das an´alises econom´etricas, assim como a ausˆencia de qualquer tipo de vi´es.2 Seguindo estes crit´erios, foram selecionados 10 estudos realizados para es-timar benef´ıcios (atrav´es da) AC para projetos que solicitavam financiamento ex-terno para sua realiza¸c˜ao.

4.2

Estudos usados como base

Os estudos selecionados foram realizados para estimar o valor da disposi¸c˜ao a pagar (V DAP) em projetos de implanta¸c˜ao de redes de esgotos sanit´arios nos estados do Cear´a, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Minas Gerais, e no Distrito Fe-deral. Correspondem a 10 cidades, constituindo a fonte principal de informa¸c˜oes para a realiza¸c˜ao das estimativas apresentadas neste artigo. Cada estudo cont´em os dados de uma pesquisa de campo com amostras de tamanhos diferentes. Uma observa¸c˜ao de cada uma destas pesquisas consiste num conjunto de medi¸c˜oes cor-respondentes a indiv´ıduos (fam´ılias) na amostra. Neste artigo estas informa¸c˜oes s˜ao denominadas “dados desagregados”.

O conjunto de dados desagregados permite estimar, para cada localidade, a dis-posi¸c˜ao a pagar pela melhoria de bem-estar resultante de projetos de implanta¸c˜ao de redes de esgotos sanit´arios na respectiva localidade. Os dados desagregados geram os resultados dos estudos originais.

Por outro lado, ao fazermos umpool com os dados originais, obtemos um ´unico banco de dados, com vari´aveis indicadoras que caracterizam a localidade `a qual se refere cada estudo. A este tipo de informa¸c˜ao denominamos “dados agregados”, que s˜ao depois utilizados para modelar as diferen¸cas entre as v´arias localidades.

(8)

A pr´oxima subse¸c˜ao cont´em uma breve descri¸c˜ao das cidades onde foram rea-lizados os estudos, assim como das caracter´ısticas dos dados levantados.

4.3

Descri¸c˜

ao dos dados

As pesquisas originais foram realizadas para diferentes programas regionais, todos enfocando a implanta¸c˜ao de redes de esgotos sanit´arios. As cidades em quest˜ao possuem de 8 mil a 133 mil habitantes (comunidades urbanas pequenas e m´edias) e pertencem `as regi˜oes Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste; nesta ´ultima, as duas cidades contempladas localizam-se no norte do estado de Minas Gerais.

Dentro do procedimento conhecido comoreferendum nas metodologias utiliza-das na ´area de avalia¸c˜ao contingente, existem duas variantes mais freq¨uentemente empregadas em trabalhos emp´ıricos: o m´etodo denominado single-bounded refe-rendum (SBR), e outro conhecido como double-bounded referendum (DBR), cujas defini¸c˜oes foram apresentadas na se¸c˜ao 2.

Em quatro das localidades selecionadas para servir de base a esta pesquisa foi poss´ıvel estimar o valor da disposi¸c˜ao a pagar (V DAP) mediante ambos os m´etodos de estima¸c˜ao (Itapipoca, Paracuru, S˜ao Gon¸calo do Amarante e Barra dos Coqueiros). Nas restantes, apenas um dos m´etodos foi utilizado (tabela 1). O problema criado por essa pr´atica — e a solu¸c˜ao proposta — ser˜ao discutidos na seq¨uˆencia. A tabela 1 indica quais estimativas foram feitas apenas por um m´etodo (SBR ou DBR) e quais adotaram ambos os m´etodos (nos quatro casos em que aparece o asterisco na coluna correspondente, existem estimativas feitas pelos dois m´etodos).

Al´em do uso de m´etodos diferentes, as pesquisas foram realizadas em distintas ´epocas e, por isto, foi necess´ario corrigir todas as informa¸c˜oes monet´arias para que os valores estivessem expressos em moeda de uma ´unica data. Assim, as in-forma¸c˜oes envolvendo vari´aveis monet´arias (pre¸co oferecido para o entrevistado e renda mensal familiar) foram expressas em moeda com poder aquisitivo constante de agosto de 1997, mediante o uso do INPC (´ındice nacional de pre¸cos ao consu-midor) estimado pelo IBGE.

(9)

Tabela 1

Resumo dos resultados das pesquisas de campo

Cidade Tamanho M´etodo VDAP Renda M´edia Satisf Qual esg Dfossa Rio da amostra(N) (R$/mˆes/fam.) (R$/mˆes) (%) (%) (%) Itapipoca(CE)1

603 SBR∗ 6,77 186,06 41,79 85,41 86,40 0

Paracuru(CE)1

200 SBR∗ 4,10 319,79 61,00 64,50 88,50 1

S˜ao Gon¸calo do 274 SBR∗ 4,46 202,55 64,96 73,36 79,93 1 Amarante (CE)1

Rio Formoso (CE)1

147 DBR 8,40 520,55 44,22 86,39 88,44 1

Barra dos 216 SBR∗ 6,81 335,21 54,63 80,56 78,24 1

Coqueiros (SE)1

Juazeiro (BA)2

293 SBR 27,76 545,26 8,53 95,22 87,71 1

Vale do 100 SBR 28,18 569,07 19,00 97,00 95,00 0

Amanhecer (DF)3

Recanto das 301 SBR 37,37 570,94 13,62 97,67 99,67 0

Emas (DF)3

Salinas (MG)4

326 DBR 5,65 473,23 56,44 69,63 26,69 1

Cora¸c˜ao de 307 DBR 9,26 331,99 40,39 93,81 90,23 0

Jesus (MG)4

Fontes:

1

PBLM Consultoria Empresarial (1994).

2

Ipea (1998).

3

TC/BR (1997).

4

Ampla Vis˜ao Assessoria e Servi¸cos (1998).

Verifica-se que quatro vari´aveis s˜ao comuns a todas as pesquisas seleciona-das, revelando o perfil de renda familiar, o uso do servi¸co em quest˜ao ou do seu substituto (no caso, a fossa), a satisfa¸c˜ao com o servi¸co atual e as preferˆencias dos indiv´ıduos em rela¸c˜ao `as alternativas de esgotamento sanit´ario. S˜ao elas:

Renda = renda mensal familiar em R$/mˆes;

DS = dummy que representa a satisfa¸c˜ao com o atual sistema de esgoto e que assume valor 1 quando a resposta ´e sim e zero quando ´en˜ao;

DF =dummy que registra a existˆencia de fossa no domic´ılio, sendosim= 1;

(10)

As vari´aveis comuns captam os comportamentos esperados (Carson et al., 1996), ou seja, a renda familiar indica que quanto maior o seu n´ıvel, maior a disposi¸c˜ao a pagar por incrementos de bem-estar. A presen¸ca de bens substitutos — uso de fossa no presente caso — e a maior satisfa¸c˜ao com rela¸c˜ao ao sistema existente diminuem o valor da disposi¸c˜ao a pagar. Quanto `a escolha entre diferen-tes tipos de sistemas, observa-se que quando o interesse recai sobre aquele que se est´a propondo, a disposi¸c˜ao a pagar aumenta.

Estas vari´aveis s˜ao as mais freq¨uentemente utilizadas em estudos de avalia¸c˜ao contingente para projetos de sistema de esgotos sanit´arios, revelando serem im-portantes na determina¸c˜ao do valor da disposi¸c˜ao a pagar (McConnell & Ducci, 1989, McConnell, 1992, Carrizosa, 1993).

Embora o objetivo dos dois m´etodos apresentados (single e double-bounded) seja o mesmo, isto ´e, estimar os parˆametros necess´arios para calcular o valor da disposi¸c˜ao a pagar, verificou-se que os resultados estimados pelo m´etodo DBR ten-dem a ser mais conservadores que os provenientes do SBR, n˜ao obstante tenha-se constatado que o m´etodo DBR fornece menor erro-padr˜ao de estimativa. Dado que estudos anteriores realizados por Hanemann (1991) e por Hanemann & Kanni-nen (1996) tamb´em demonstraram que os valores de disposi¸c˜ao a pagar estimados utilizando o DBR s˜ao menores que aqueles obtidos pelo m´etodo SBR, escolheu-se este ´ultimo (V DAPS) como vari´avel independente a ser utilizada nas an´alises comparativas.

A tabela 2 apresenta os resultados dos valores da disposi¸c˜ao a pagar, estima-dos pelos dois m´etoestima-dos, nas quatro cidades pesquisadas onde as pesquisas originais usaram ambos os procedimentos. Em todos os casos pode-se constatar que o valor da disposi¸c˜ao a pagar calculado pelo m´etodo SBR (V DAPS) ´e maior do que o valor calculado pelo m´etodo DBR (V DAPD).

Tabela 2

Valor da disposi¸c˜ao a pagar calculado pelos dois m´etodos (R$/mˆes/fam´ılia)

Cidade VDAPS

VDAPD

Itapipoca (CE) 6,77 5,67

Paracuru (CE) 4,10 3,81

S˜ao Gon¸calo do Amarante (CE) 4,46 4,25

Barra dos Coqueiros (SE) 6,81 5,55

Obs: Valores expressos em R$ de ago. 1997.

Considerando as cidades onde existiam ambas as estimativas (V DAPS e

(11)

o tamanho da amostra, e a equa¸c˜ao estimada ´e:

VDAPS =−1,94 (0,59)

+ 1,54 (0,12)

VDAPD (1)

onde os valores entre parˆenteses s˜ao os erros-padr˜ao das estimativas.

Usando esta rela¸c˜ao foram estimados osV DAPS das cidades de Rio Formoso (11,00), Salinas (6,78) e Cora¸c˜ao de Jesus (12,32), tal como apresentado na segunda coluna da tabela 3, apresentada na pr´oxima se¸c˜ao,3 onde se discutem os resultados obtidos com duas an´alises diferentes. A primeira an´alise realizada utiliza dados originais das pesquisas (dados desagregados) e consiste em estimar o valor da disposi¸c˜ao a pagar para cada uma das 10 localidades aqui selecionadas, mediante modelos econom´etricos da pr´opria e de outras localidades. Por exemplo, para estimar o valor da disposi¸c˜ao a pagar da localidade de Paracuru, utilizaram-se modelos encontrados para Paracuru, Juazeiro, Itapipoca e assim sucessivamente, analisando-se comparativamente os resultados encontrados.

A segunda ´e denominada an´alise de dados agregados. Nesse caso, aquelas vari´aveis que apresentam um valor diferente em cada question´ario e, portanto, um conjunto de dados para cada localidade, foram resumidas de alguma maneira e substitu´ıdas por um valor ´unico correspondente `a localidade em quest˜ao. Assim, por exemplo, o valor da disposi¸c˜ao a pagar (V DAP) de cada pesquisa resume a informa¸c˜ao referente a pre¸cos, e as diferentes vari´aveis dummy s˜ao condensadas numa ´unica percentagem (o percentual que as respostas afirmativas representam sobre o total). Especificamente, as vari´aveis dummy DS, DF e Pref esg foram transformadas, respectivamente, nas vari´aveis cont´ınuasSatisf,Dfossa eQual esg, que representam as percentagens de respostas positivas nas vari´aveis dummy das pesquisas originais.

Outra vari´avel que foi adicionada `a cross section de dados foi a dummy Rio (que indica se h´a algum rio na cidade ou n˜ao). A informa¸c˜ao relacionada com esta vari´avel foi retirada de trˆes fontes diferentes: o mapa geogr´afico do Brasil, informa¸c˜oes dos question´arios e dos relat´orios dos supervisores respons´aveis pelas pesquisas em cada localidade.

3O intercepto negativo desta regress˜ao indica que o modelo n˜ao ´e indicado para predizer o V DAPS

quando oV DAPD

(12)

Desta forma, o conjunto de dados agregados (no qual cada elemento da amostra ´e uma localidade) constitui-se de cinco vari´aveis independentes, cada uma com 10 observa¸c˜oes, e cada observa¸c˜ao se refere a uma pesquisa realizada. Finalmente, a vari´avel resposta´e o valor da disposi¸c˜ao a pagar (V DAPS) estimado independen-temente em cada projeto.

Neste contexto, o valor da disposi¸c˜ao a pagar representativo de cada locali-dade pode ser descrito mediante uma fun¸c˜ao das correspondentes caracter´ısticas socioeconˆomicas (Xi). Em nosso caso, consideramos apenas fun¸c˜oes lineares do tipo

VDAPs=α+X i

βiXi+ǫi (2)

ondeǫrepresenta uma especificidade de cada localidade, respons´avel pela variabi-lidade do V DAPS que n˜ao pode ser creditada `as vari´aveis explicativas (X

i).

5.

Resultados

5.1

An´

alise de dados desagregados

A estimativa do valor da disposi¸c˜ao a pagar de uma localidadeA, utilizando um modelo de outra localidade, B, foi realizada para cada uma das 10 localidades selecionadas. Consideraram-se tamb´em, para efeito de compara¸c˜ao, as estimati-vas realizadas para cada localidade, utilizando a fun¸c˜ao conjunta apresentada na subse¸c˜ao 5.2, aqui denominadapooled model.

O crit´erio usado para avaliar a qualidade dos resultados obtidos foi o do me-nor desvio quadr´atico entre as estimativas do valor da disposi¸c˜ao a pagar original de cada localidade e dos modelos alternativos. O corpo principal da tabela 3 mostra, em cada linha, as estimativas do V DAPS da localidade indicada na co-luna `a esquerda, estimada pela fun¸c˜ao da localidade que consta no cabe¸calho da correspondente coluna. Desta maneira, as estimativas da diagonal principal da tabela coincidem com aquelas apresentadas na segunda coluna.

(13)

C u st o s d e Q u a n tifi ca ¸c˜a o d e B en ef´ı cio s n a A va lia ¸c˜a o C o n tin g en te 3 8 9 Tabela 3

Valor da disposi¸c˜ao a pagar(single-bounded)

Estimativa correspondente `a cidade da linha, usando a fun¸c˜ao da cidade da coluna

Localidade VDAP por Itapipoca Paracuru S. G. do Rio Barra dos Juazeiro Vale do Recanto das Salinas Cora¸c˜ao dePooled

localidade Amarante Formoso Coqueiros I Amanhecer Emas Jesus model

Itapipoca 6,77 6,77 5,70 4,80 6,30 4,82 20,61 20,01 26,87 6,60 11,49 7,69

Paracuru 4,10 6,08 4,10 4,12 7,35 4,62 23,03 22,55 30,13 6,29 11,22 3,78

S. G. do 4,46 6,50 4,97 4,46 6,83 4,65 20,89 20,31 27,25 6,30 11,13 2,03

Amarante

Rio Formoso 11,00 20,36 9,15 12,67 11,00 10,38 27,20 26,98 35,80 7,38 12,74 12,55

Barra dos 6,81 11,52 5,99 7,31 8,54 6,81 23,32 22,87 29,01 6,79 11,84 5,60 Coqueiros 94

Juazeiro 27,76 21,29 9,74 13,66 10,75 11,13 27,76 27,58 36,56 7,72 13,18 28,39

Vale do 28,18 22,34 10,15 14,39 10,91 11,60 28,32 28,18 37,32 7,84 13,34 32,22 Amanhecer

Recanto 37,37 25,98 11,31 16,58 11,70 14,21 28,36 28,22 37,37 7,86 13,38 34,73 das Emas

Salinas 6,78 15,18 7,01 9,06 10,34 7,87 26,15 25,86 34,37 6,78 11,95 6,94

Cora¸c˜ao 12,32 15,07 7,60 9,88 9,12 8,72 23,26 22,80 30,45 7,18 12,32 13,52 de Jesus

Soma dos desvios quadr´aticos

Todas as 401,91 1.356,84 839,65 1.289,26 1.106,57 1.931,28 1.838,06 3.960,10 1.734,13 1.180,90 35,92 localidades

(14)

5.2

An´

alise de dados agregados

Modelos de regress˜

ao

Ao implementarmos a equa¸c˜ao (2) para estimar oV DAPS com modelos alter-nativos de regress˜ao, consideramos sete modelos diferentes (tabela 4). Estes mo-delos incluem, al´em da vari´avelRendae dasdummies antes mencionadas, algumas intera¸c˜oes entre vari´aveis que definimos da seguinte forma: Renda Q refere-se ao produto entre as vari´aveis Renda e Qual esg, ou seja, trata-se de uma intera¸c˜ao entre estas vari´aveis. O mesmo acontece para as vari´aveis Renda S (intera¸c˜ao entre as vari´aveis Renda e Satisf) e Renda R (intera¸c˜ao entre vari´aveis Renda e Rio). Estes modelos foram estimados usando regress˜ao ponderada, sendo cada peso dado pelo tamanho da amostra (N) da pesquisa correspondente.4

Tabela 4

Diferentes modelos ajustados `a equa¸c˜ao (2)

Vari´aveis Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5 Modelo 6 Modelo 7 Constante 22,013 -50,61 -5,009 -29,727 3,170 -1,116 0,727

(7,407) (13,17) (5,476) (9,091) (3,214) (3,604) (2,173)

Renda 0,02452 0,04150 0,06437 0,05994 0,062903 -0,09033 0,070254 (0,01158) (0,01206) (0,01374) (0,01245) (0,00694) (0,03001) (0,00494)

Satisfa¸c˜ao -43,109 — — — — — —

(9,348)

Qual esg — 57,88 — — — — —

(16,72)

Rio — — -10,109 — — — —

(4,093)

Dfossa — — — 26,085 — — —

(9,027)

Renda S — — — — -0,09651 — -0,07850

(0,01474) (0,01082)

Renda Q — — — — — 0,15120 —

(0,02950)

Renda R — — — — — — -0,012820

(0,00382)

R2

89,6% 84,6% 77,6% 80,9% 94,1% 91,2% 98,0%

(R2

ajustado) (86,7%) (80,1%) (71,2%) (75,4%) (92,4%) (88,7%) (96,9%)

(15)

Todos os modelos da tabela 4 apresentam um alto grau de ajuste aos dados (R2 ajustado≥71,2%) e tˆem a renda como vari´avel explicativa comum. Cada um dos quatro primeiros modelos ´e composto de uma vari´avel adicional, com os sinais dos coeficientes coerentes. Deve-se entender o sinal negativo da vari´avelRio como uma constata¸c˜ao de que o rio ´e utilizado como o “destino natural” dos efluentes sanit´arios.

Nos trˆes ´ultimos modelos da tabela 4, as vari´aveis adicionais implicam in-tera¸c˜oes (produto da Renda com outra vari´avel). A interpreta¸c˜ao dos coeficien-tes descoeficien-tes termos multiplicativos ´e que todos eles formam parte do “coeficiente vari´avel” da renda, isto ´e, do coeficiente β da equa¸c˜ao (4) da pr´oxima se¸c˜ao, que corresponde ao modelo 7. Outro exemplo: o parˆametro da renda no modelo 6 ´e [−0,09033 + 0,1512Qual esg], o que pode parecer estranho por causa do sinal negativo no primeiro parˆametro, mas comoQual esg´e≥0,6450 nos dados agrega-dos, o parˆametro da renda ser´a positivo (≥0,097524) para os casos considerados na amostra, implicando que os servi¸cos de esgotamento sanit´ario s˜ao um “bem su-perior”. Em geral, os modelos com parˆametro da renda vari´avel explicam melhor a variabilidade observada no valor da disposi¸c˜ao a pagar. O ´ultimo modelo da tabela 4 ´e o que apresenta melhor ajuste aos dados: o parˆametro da renda diminui tanto com a satisfa¸c˜ao quanto com a existˆencia de rio.

Como podemos observar pela an´alise das correla¸c˜oes da tabela 5, a vari´avel Qual esg tem correla¸c˜ao significativa com todas as outras vari´aveis e pode ser vista como um resumo de todas as vari´aveis explicativas. A preferˆencia pela rede p´ublica aumenta `a medida que a propor¸c˜ao de usu´arios de fossa aumenta, mas diminui com a existˆencia de rio, j´a que o uso do rio para despejar os efluentes ´e a op¸c˜ao preferida.

Tabela 5

Correla¸c˜oes entre vari´aveis explicativas

Vari´avel Satisf Dfossa Qual esg

Dfossa -0,472

(0,168)

Qual esg -0,884 0,579

(0,001) (0,079)

Rio 0,499 -0,452 -0,654

(0,142) (0,189) (0,040)

(16)

As outras correla¸c˜oes, mesmo n˜ao sendo significativas, s˜ao elucidativas: a sa-tisfa¸c˜ao diminui `a medida que aumenta a propor¸c˜ao de usu´arios de fossa, mas aumenta quando existe um rio, situa¸c˜ao em que a propor¸c˜ao de usu´arios de fossa diminui.

Modelo selecionado

Na escolha entre os v´arios modelos reportados na tabela 4, o modelo 7 ´e o considerado mais adequado para nosso problema. Esse modelo tem a seguinte forma:

V DAPS =α+β1 Renda−β2 Renda×Satisf −β3 Renda× Rio (3)

Note-se que os dois ´ultimos termos representam intera¸c˜oes entre a vari´avel Renda e as duas vari´aveis utilizadas na an´alise para representar a satisfa¸c˜ao com o atual sistema de esgoto e a presen¸ca de rio na malha urbana.

O sinal negativo do coeficiente da vari´avel Renda x Satisf indica que, man-tendo a renda constante, quanto maior o n´umero de pessoas satisfeitas com o atual sistema de esgoto sanit´ario, menor ´e a disposi¸c˜ao a pagar pelo projeto de implanta¸c˜ao de redes coletoras de esgotos.

O coeficiente da vari´avelRendaxRiopossui sinal negativo indicando que, para um dado n´ıvel de renda, quando houver a presen¸ca de rio na localidade, menor ser´a a disposi¸c˜ao a pagar pelo projeto de implanta¸c˜ao de redes coletoras de esgotos.

O modelo selecionado tamb´em pode ser escrito da seguinte forma:

DAP =α+βRenda (4)

ondeβ=β1−β2 Satisf−β3 Rioest´a ajustado ao n´ıvel de satisfa¸c˜ao com o atual sistema de esgotos e `a especificidade geogr´afica (presen¸ca ou n˜ao de rio) de cada localidade.

Apesar do sinal negativo dos parˆametros das vari´aveis Satisf e Rio, pode-se constatar que a rela¸c˜ao entre o “valor da disposi¸c˜ao a pagar” e “renda familiar” ´e sempre positiva no conjunto de dados analisado, ou seja, o “coeficiente vari´avel” estimado β tem o sinal esperado.

(17)

Assim, quando todos os habitantes de uma cidade est˜ao insatisfeitos (Satisf = 0%), os coeficientes s˜ao respectivamente iguais a 0,0574 e 0,0703. No outro extremo, quando todas as pessoas de uma certa localidade est˜ao satisfeitas, isto ´e, 100% de satisfeitos, ent˜ao, o coeficiente da renda seria dado respectivamente por

−0,021 e −0,0082, mudando de sinal5. Isto poderia ocorrer para as cidades com percentual de satisfa¸c˜ao acima de 73%. Entretanto, no conjunto de dados com os quais se estimou a fun¸c˜ao, a percentagem m´axima de satisfa¸c˜ao com o atual sistema de esgoto ´e de 65%. Pode-se, portanto, afirmar que quanto maior a renda mensal familiar, maior o valor da disposi¸c˜ao a pagar pelo projeto.

6.

Conclus˜

oes

Geralmente, um programa ´e formado por um grande elenco de projetos j´a que ´e conveniente ter, ap´os os estudos finais, um n´umero de projetos remanescentes que seja suficiente para a realiza¸c˜ao do programa. Entretanto, tal procedimento imp˜oe um alto custo, j´a que a avalia¸c˜ao de um conjunto numeroso de projetos requer uma quantia expressiva para sua realiza¸c˜ao.

Uma poss´ıvel sa´ıda ´e utilizar estimativas doV DAP, j´a existentes em algumas localidades, por bens (ou servi¸cos) similares, em estudos referentes a outras cida-des. Contudo, tal solu¸c˜ao deve ser aplicada com muito crit´erio, pois existe o risco de se escolher um modelo que forne¸ca estimativas inadequadas (vide tabela 4).

Por outro lado, quando ´e poss´ıvel utilizar estudos baseados em dados obtidos agregando informa¸c˜oes j´a existentes — como o que foi realizado na se¸c˜ao 5.2 —, os resultados apresentam-se pertinentes para serem utilizados em estudos prelimi-nares de avalia¸c˜ao econˆomica, de forma que os projetos passam por um processo de pr´e-sele¸c˜ao no in´ıcio dos trabalhos, sendo objeto de an´alises mais detalhadas aqueles previamente selecionados por este crit´erio.

Desta forma, os resultados da avalia¸c˜ao preliminar transformam-se em indica-dores de dimensionamento dos projetos, racionalizando as despesas no desenvol-vimento dos estudos.

Neste artigo tentamos responder `a seguinte pergunta: ´e poss´ıvel estimar mode-los para c´alculo de benef´ıcios, com base em estudos existentes de avalia¸c˜ao contin-gente, e utilizar as estimativas por eles produzidas na avalia¸c˜ao de projetos simila-res corsimila-respondentes a outras localidades? As simila-respostas oferecidas pelos simila-resultados

(18)

das simula¸c˜oes aqui apresentadas parecem indicar dois aspectos diferentes. Em pri-meiro lugar, ´e evidente que a escolha de um modelo espec´ıfico de uma cidade para uso numa outra localidade produz resultados inadequados e, em conseq¨uˆencia, n˜ao ´e um procedimento recomendado, dado que, segundo nossas simula¸c˜oes, os resultados obtidos s˜ao imprevis´ıveis.

Entretanto, quando se tem um modelo ´unico baseado em observa¸c˜oes obtidas para v´arias localidades, os resultados mostram certa coerˆencia e o m´etodo parece oferecer algumas vantagens muito valiosas na realiza¸c˜ao de trabalhos aplicados de avalia¸c˜ao contingente. A maior vantagem refere-se `a economia de recursos e de tempo na condu¸c˜ao da avalia¸c˜ao econˆomica dos projetos, enquanto sua uti-liza¸c˜ao for restrita a estudos preliminares. Outras vantagens do uso de modelos econom´etricos de dados agregados s˜ao:

• permitir a realiza¸c˜ao de an´alises de pr´e-viabilidade que comparam, dentro de um mesmo programa, v´arios projetos em fase inicial de avalia¸c˜ao; isto, por sua vez, permite selecionar, a priori, os mais rent´aveis para as demais fases de estudo;

• fornecer uma ferramenta para mensurar danos ou melhorias ambientais, ser-vindo como um parˆametro para a tomada de decis˜oes;

• possibilitar, mediante a complementa¸c˜ao de dados obtidos de uma pesquisa relativamente simples, a obten¸c˜ao do valor da disposi¸c˜ao a pagar por um determinado bem por meio da substitui¸c˜ao de valores no modelo b´asico.

Contudo, deve-se salientar que a decis˜ao de usar este tipo de procedimento deve ser muito criteriosa. A literatura existente (Carrizosa, 1993) aponta seis itens b´asicos aos quais se dever´a prestar especial aten¸c˜ao caso se implemente este procedimento — que o autor denomina “transferˆencia de benef´ıcios”. S˜ao eles:

• os estudos originais selecionados devem ser adequados — isto significa utili-zar trabalhos com m´etodos econom´etricos e estat´ısticos consistentes;

• o objetivo da an´alise e a natureza do benef´ıcio para a popula¸c˜ao devem ser estritamente os mesmos;

• a disposi¸c˜ao a pagar deve ser uma fun¸c˜ao das caracter´ısticas s´ocio-econˆomicas locais;

(19)

• as ´areas devem ter popula¸c˜oes similares quanto a suas preferˆencias;

• os mercados devem ser de tamanhos similares.

Mais uma vez, ´e recomend´avel uma avalia¸c˜ao criteriosa por parte do analista de projetos na escolha entre o emprego da metodologia aqui apresentada e a realiza¸c˜ao de pesquisas espec´ıficas, pois at´e mesmo o modelo ´unico com dados agregados apresenta uma certa margem de erro nos resultados.

Referˆ

encias

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Referências

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