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INTEGRAIS E APLICAÇÕES

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Academic year: 2017

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Integrais e aplicações

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SERVIÇO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ICMC-USP

Data de Depósito:

Assinatura: ______________________

Rafael de Freitas Manço

Integrais e aplicações

Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação – ICMC-USP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre – Programa de Mestrado Profissional em Matemática.VERSÃO REVISADA

Área de Concentração: Matemática

Orientadora: Profa. Dra. Katia Andreia Gonçalves de Azevedo

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com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Manço, Rafael de Freitas

Mi Integrais e aplicações / Rafael de Freitas Manço; orientadora Katia Andreia Gonçalves de Azevedo. – São Carlos – SP, 2016.

111 p.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-graduação em Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, 2016.

(5)

Rafael de Freitas Manço

Integral and aplications

Master dissertation submitted to the Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação – ICMC-USP, in partial fulfillment of the requirements for the degree of the Master – Program in Mathematics Professional Master.FINAL VERSION

Concentration Area: Mathematics

Advisor: Profa. Dra. Katia Andreia Gonçalves de Azevedo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus colegas de curso pela amizade, pelo companheirismo, pela troca de experiências e pela força que me deram durante todo o curso.

Aos meus professores de PROFMAT-USP, pelos ensinamentos.

À Profa. Dra. Katia Andreia Gonçalves de Azevedo pela orientação nessa dissertação, pela paciência, pelos momentos de aprendizado, por toda a dedicação e disponibilidade, sinto-me

lisonjeado em ter sido seu aluno.

Aos membros da banca, Sandra Maria Semensato de Godoy, Selma Helena de Jesus Nicola e Rafael Andres Rosales Mitrowsky pelas colaborações.

À CAPES pelo apoio financeiro.

A todos os colegas de trabalho, amigos e familiares que de alguma forma contribuíram

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“O teu futuro é duvidoso,

eu vejo grana eu vejo dor, no paraíso perigoso

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RESUMO

NOME PARA REFERÊNCIA.Integrais e aplicações. 2016. 111 f. Disserta-ção (Mestrado – Programa de Mestrado Profissional em Matemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP), São Carlos – SP.

O intuito deste trabalho é fazer uma análise sobre o processo de integração de funções. Existem muitas generalizações do conceito de integração abordado inicialmente por meio da integral de Riemann, como por exemplo, a integral de Riemann-Stieltjes, Lebesgue, Henstock-Kurzweil entre outras. Abordaremos especialmente a integral de Riemann-Stieltjes, e mostraremos a limitação da integral de Riemann no estudo de con-vergência de funções, indicando a necessidade de se generalizar o processo de integração. Faremos uma aplicação da integral de Riemann-Stieltjes no estudo de variáveis aleatórias e apresentamos uma proposta de abordagem, para a sala de aula, sobre o deslocamento e distância percorrida por um objeto em movimento retilíneo uniforme associado a área.

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ABSTRACT

NOME PARA REFERÊNCIA. Integrais e aplicações. 2016. 111 f. Disser-tação (Mestrado – Programa de Mestrado Profissional em Matemática) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP), São Carlos – SP.

The aim of this work is analizing the process of integration of functions. There are many generalizations of the integration concept originally addressed by Riemann integral such as the Riemann-Stieltjes integral, Lebesgue integral, Henstock-Kurzweil integral, among others. We will be specially concerned with the integral of Riemann-Stieltjes and we will show the limitations of Riemann integral about convergence of functions, leading to the need to generalize the integration process. We will apply Riemann-Stieltjes integral for the study of random variables and present an approach to the classroom, on the displacement and distance traveled by an object in uniform rectilinear motion associated to concept of area.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Construindo o conjunto de Cantor. . . 41

Figura 2 – Função de Distribuição para Número de Caras. . . 65

Figura 3 – Função de Distribuição para o Exemplo 3.5. . . 67

Figura 4 – Função de Distribuição Mista.. . . 68

Figura 5 – Função de Distribuição Mista.. . . 71

Figura 6 – Gráfico da função de distribuição.. . . 83

Figura 7 – Convergência simples ou pontual. . . 87

Figura 8 – A convergência é uniforme se fn:[3,3]❘, com fn(x) =x/n. . . 88

Figura 9 – Somas Superiores. . . 92

Figura 10 – Somas Inferiores. . . 93

Figura 11 – Soma inferior e superior com 10 retângulos. . . 94

Figura 12 – Soma inferior e superior com 15 retângulos. . . 95

Figura 13 – Soma inferior e superior com 50 retângulos. . . 95

Figura 14 – A área do retângulo é numericamente igual ao módulo do deslocamento∆S. 97 Figura 15 – Movimento uniforme. . . 98

Figura 16 – Movimento uniforme. . . 99

Figura 17 – Calculando o deslocamento de um móvel em MUV. . . 99

Figura 18 – Calculando o deslocamento de um móvel em MUV. . . 100

Figura 19 – Neste movimento há mudança de sentido. . . 101

Figura 20 – Movimento uniformemente variado. . . 103

Figura 21 – Movimento uniformemente variado. . . 104

Figura 22 – A área é numericamente igual ao deslocamento. . . 105

Figura 23 – Espaço percorrido e deslocamento. . . 105

Figura 24 – O deslocamento é dado porA1−A2e o espaço percorrido é dado porA1+A2.106 Figura 25 – Gráfico da funçãov(t) =t2+t com valor 20 para o controle deslizante. . . 107

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SUMÁRIO

1 Pré-Requisitos . . . 21

1.1 Os Números Reais . . . 21

1.1.1 Sequências . . . 22

1.1.2 Noções topológicas. . . 25

1.1.3 Conjuntos Compactos . . . 28

1.2 Funções Reais . . . 30

1.2.1 Limites de Funções . . . 30

1.2.2 Funções Contínuas . . . 34

1.2.3 Continuidade Uniforme . . . 37

1.2.4 Derivadas . . . 38

1.2.5 O conjunto e a função de Cantor . . . 40

2 A integral de Riemann . . . 45

2.1 Integral de Riemann . . . 46

2.2 Condições de Integrabilidade . . . 49

2.3 Propriedades da Integral . . . 52

2.4 O Teorema Fundamental do Cálculo . . . 57

2.5 A integral como limite de somas de Riemann . . . 58

3 A integral de Riemann-Stieltjes . . . 61

3.1 Probabilidade e Variáveis Aleatórias . . . 62

3.2 Valor Esperado de uma Variável Aleatória . . . 69

3.3 Somas de Riemann-Stieltjes . . . 73

3.4 Existência da integral de Riemann-Stieltjes . . . 73

3.5 Propriedades da integral de Riemann-Stieltjes . . . 80

3.6 Valor esperado e Integral de Riemann-Stieltjes . . . 82

(20)

4.1 Fazendo estimativas com somas Ąnitas . . . 92

4.2 Deslocamento e espaço percorrido . . . 96

(21)

19

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como proposta fazer um estudo sobre dois tipos de integral, a integral

de Riemann e a integral de Riemann-Stieltjes, mostrando uma aplicação de cada uma dessas integrais. Apresentamos a integral de Riemann e faremos uma aplicação desta integral no estudo

do espaço percorrido e do deslocamento de um móvel em movimento retilíneo uniforme. De maneira semelhante, apresentamos a integral de Riemann-Stieltjes, uma integral mais geral que

a de Riemann e que possui aplicações interessantes em teoria de probabilidades.

O primeiro capítulo é pré-requisito para os demais. Nele serão abordados alguns conceitos básicos de análise na reta.

No segundo capítulo, apresentamos a integral de Riemann, as condições para que uma

função seja Riemann integrável e suas propriedades.

No terceiro capítulo tratamos de probabilidade e variáveis aleatórias, com ênfase para o cálculo do valor esperado de uma variável aleatória. Também apresentamos a integral de

Riemann-Stieltjes, suas propriedades, condições de existência e como esta integral unifica as expressões para o cálculo do valor esperado.

O quarto capítulo é uma proposta para o estudo do deslocamento e do espaço percorrido

por um móvel em movimento retilíneo. Faremos um exemplo que mostra como os alunos podem calcular aproximações para a área de uma região com contorno curvo, a utilização do software

GeoGebra vai permiti-los uma visualização das aproximações por somas superiores e inferiores. O cálculo da área de uma região será utilizado para se determinar o deslocamento e o espaço

(22)
(23)

21

CAPÍTULO

1

PRÉ-REQUISITOS

Neste capítulo, serão apresentados alguns conceitos básicos de análise matemática que

são pré-requisitos para os capítulos seguintes. Nossas principais referências para o estudo de análise na reta são [5] e [1]. Na seção 1.1, o ponto de partida será o conjunto dos números

reais, com destaque para a propriedade do supremo. Serão apresentados alguns resultados sobre sequências de números reais e algumas noções topológicas. As noções de limite, continuidade

e derivada serão abordadas na seção 1.2. Finalizamos o capítulo com o conjunto e a função de Cantor.

1.1

Os Números Reais

Designaremos o conjunto dos números reais por❘.

Dentre as propriedades do módulo de um número real, destacamos a desigualdade

triangular: dados quaisquer reaisxey, temos que|x+y| ≤ |x|+|y|.

Um conjuntoX ❘diz-se limitado superiormente se existe algumb❘tal quexb para todoxX. Neste caso, diz-se quebé uma cota superior deX. Analogamente, diz-se que o

conjuntoX❘é limitado inferiormente quando existea❘tal queaxpara todoxX. O númeroachama-se então cota inferior deX. Um conjuntoX❘é limitado quando é limitado

superiormente e inferiormente.

(24)

conjuntoX quando cumpre as seguintes condições:

I:Para todoxX, tem-sexb;

II:Sec❘é tal quexcpara todoxX, entãobc.

Assim,bé a menor das cotas superiores e escrevemosb=sup X.

Analogamente, seX ❘é um conjunto não vazio limitado inferiormente, o número real achama-se ínfimo do conjuntoX, e escreve-sea=in f X seaé a maior das cotas inferiores. Isto

equivale às duas afirmações:

I:Para todoxX, tem-seax;

II:Secxpara todoxX, entãoca.

Admitiremos a seguinte importante propriedade dos números reais.

Propriedade do supremo:Todo conjunto de números reais, não vazio e limitado

superi-ormente, admite supremo. Analogamente, todo conjunto de números reais, não vazio e limitado

inferiormente, admite ínfimo.

Propriedade dos intervalos encaixantes: Dada uma sequência de intervalos tais que

I1⊃I2⊃...⊃In⊃...ondeIn= [an,bn], coman≤bn, existe pelo menos um número realctal

quecInpara todon∈◆. De fato, as inclusõesIn⊃In+1significam que

a1≤a2≤...≤an≤...≤bn≤...≤b2≤b1.

O conjuntoA={a1,a2, ...,an, ...}é, portanto, limitado superiormente. Sejac=sup A. É

claro quean≤c, para todon∈◆. Além disso, como cadabné cota superior deA, temosc≤bn

para todon◆. PortantocInqualquer que sejan∈◆.

1.1.1

Sequências

Definição 1.1. Uma sequência de números reais é uma função f :◆→❘, que associa a cada

número naturalnum número realxn, chamado o n-ésimo termo da sequência.

Para representar uma sequência, escrevemos(x1,x2,x3, ...,xn, ...)ou(xn)n∈◆ou(xn).

Uma sequência(xn)se diz limitada superiormente quando existeK∈❘tal quexn≤K e

(25)

1.1. Os Números Reais 23

É limitada se for limitada superiormente e inferiormente, isto é, se existir M tal que

|xn| ≤M,∀n∈◆.

Definição 1.2. Dada uma sequênciax= (xn)n∈◆, uma subsequência dexé a restrição da função

xa um subconjunto infinito◆′={n1<n2< ... <nk< ...}de. Escreve-sex= (xn)n∈◆ ou

(xn1,xn2, ...,xnk, ...)ou(xnk)k∈◆.

Definição 1.3. Diz-se que uma sequência(xn)converge para o númeroL, ou tem limiteLse,

dado qualquerε>0, é sempre possível encontrar um númeroNtal que

n>N⇒ |xn−L|<ε.

Escreve-se,

lim

n→∞xn=L, limxn=Louxn→L.

Uma sequência que não é convergente é dita divergente.

Definição 1.4. Uma sequência (xn)chama-se monótona não-decrescente quando se temxn≤

xn+1para todon∈◆e monotóna não-crescente sexn+1≤xnpara todon∈◆. No caso em que

xn+1>xnpara todon, a sequência é dita crescente e, no caso em quexn+1<xnpara todon, a

sequência é dita decrescente.

Teorema 1.1. Toda sequência convergente é limitada.

Demonstração. Dado qualquerε>0, existe um índiceNtal que

n>NLε<xn<L+ε.

Isto nos diz que, a partir do índicen=N+1, a sequência é limitada superiormente por

L+εe inferiormente porLε. SejaK=max{|x1|,|x2|, ...,|xN|,|L−ε|,|L+ε|}. Então|xn| ≤K,

para todon◆, o que prova que a sequência é limitada.

Teorema 1.2. Se uma sequência(xn)converge para um limiteL, e seA<L<B, então, a partir

de um índiceN,A<xn<B.

Demonstração. Dado qualquerε>0, existeNtal que, a partir desse índice,Lε<xn<L+ε.

Considereε <min{LA,BL}, desta forma temos Lε >L(LA) =Ae L+ε <L+

(26)

Teorema 1.3. Toda sequência monótona limitada é convergente.

Demonstração. Seja (xn) monótona não-decrescente e limitada. Considere X = {x1,x2, ..., xn, ...}ea=sup X. Podemos afirmar quea=limxn. De fato, dadoε>0, o númeroa−εnão

é cota superior deX ( poisaε<aea=sup X). Logo existen0∈◆tal quea−ε <xn0 ≤a. Como a sequência é não-decrescente, sen>n0⇒a−ε <xn0 ≤xn≤a<a+εe daí limxn=a.

Analogamente, se (xn)é não-crescente e limitada entãob=limxn, ondebé o ínfimo

do conjunto dos valoresxn. De fato, para todoε>0, o númerob+ε não é cota inferior deX

(poisb+ε>beb=in f X). Logo existen0∈◆tal queb≤xn0 <b+ε. Como a sequência é não-crescente, sen>n0, então,b−ε<b≤xn≤xn0 <b+ε.

Os casos em que a sequência é crescente ou decrescente são provados de modo análogo.

Teorema 1.4. Se lim(xn) =aentão toda subsequência de(xn)converge para o limitea.

Demonstração. Seja (xn1,xn2, ...,xnk, ...) uma subsequência de (xn). Dado qualquer intervalo abertoI de centroa, existen0∈◆tal que todos os termosxn, comn>n0, pertencem aI. Em particular, todos os termosxnk, comnk>n0também pertencem aI. Logo limxnk=a.

Teorema 1.5. Bolzano-Weierstrass: Toda sequência limitada de números reais possui uma

subsequência convergente.

Demonstração. Basta mostrar que toda sequência(xn)possui uma subsequência monótona. Para

isso vamos definir o conceito de termo destacado. Um termoxnda sequência dada é destacado

quandoxn≥xppara todo p>n. SejaD⊂◆o conjunto dos índicesntais quexné um termo

destacado. SeDfor um conjunto infinito,D={n1<n2< ... <nk< ...}, então a subsequência (xn)n∈D será monótona não-crescente. Se, entretanto,Dfor finito, consideren1∈◆maior do que todos os nD. Então xn1 não é destacado, logo existe n2 >n1 com xn1 <xn2. Por sua vez, xn2 não é destacado, logo existe n3 >n2 com xn1 <xn2 <xn3. Prosseguindo, obtemos uma subsequência crescente xn1 <xn2 < ... <xnk < ..., mostrando assim que toda sequência possui uma subsequência monótona que pelo Teorema 1.3, é convergente, já que a sequência é

(27)

1.1. Os Números Reais 25

1.1.2

Noções topológicas

Definição 1.5. Um pontoxé interior a um conjuntoA❘, se existe um intervalo(a,b)tal que

x(a,b)A.

Definição 1.6. Um conjuntoAé aberto se todos os seus pontos são interiores.

Por exemplo, o intervalo (1,2) é um conjunto aberto pois todos os seus pontos são interiores. Todo intervalo aberto(a,b)de números reais é um conjunto aberto. Por outro lado, o

intervalo[1,2)não é um conjunto aberto, pois 1 não é interior ao conjunto, uma vez que nenhum intervalo aberto com centro em 1 está contido em[1,2).

Definição 1.7. Chama-se vizinhança de um pontox, qualquer intervalo aberto que contenhax.

Dadoε>0, o intervaloVε(x) = (x−ε, x+ε)será chamado, vizinhança simétrica dexde raio

ε.

Assim, um pontoxA❘é interior aAse existe uma vizinhançaVε(x)⊂A.

Teorema 1.6. SeA1,A2, ...,Ansão subconjuntos abertos de❘, entãoA1∪A2∪...∪An=Snλ=1Aλ, λ ◆, também é um conjunto aberto.

Demonstração. Sejaxum elemento do conjuntoSn

λ=1Aλ, ou seja,xpertence a algumAλ,λ ∈◆. Sendo Aλ aberto, existe Vε(x)⊂Aλ e, é claro que, Aλ ⊂Snλ=1Aλ, desta forma temos que Vε(x)⊂Snλ=1Aλ, o que mostra quexé ponto interior ao conjuntoSnλ=1Aλ.

De modo geral podemos dizer que a reunião de uma família qualquer de conjuntos

abertos é um conjunto aberto. Para mostrar esta afirmação, considere (Aλ)λJ uma família

qualquer de conjuntos abertos e sejaA=S

λJAλ. Sex∈Aentão existeλ ∈Jtal quex∈Aλ , por hipóteseAλ é aberto, então existeVε(x)⊂Aλ eAλ ⊂A, o que mostra quexé ponto interior ao conjuntoA, logoAé aberto.

Teorema 1.7. SeA1,A2⊂❘são conjuntos abertos, entãoA1∩A2também é um conjunto aberto.

(28)

Do Teorema 1.7, resulta que a interseçãoA1∩A2∩...∩Ande um número finito de

conjun-tos aberconjun-tos é um conjunto aberto. De fato, sejamA1,A2, ...,An,An+1conjuntos abertos. Suponha queA1∩A2∩...∩Ané aberto, entãoA1∩A2∩...∩An∩An+1= (A1∩A2∩...∩An)∩(An+1)é aberto conforme o Teorema 1.7, e o resultado segue por indução.

Observação:Não é sempre verdade que a interseção qualquer de uma família de

con-juntos abertos é um conjunto aberto. Tomemos, por exemplo, o conjuntoT

n∈◆(−n1,1n) ={0}, a

interseção desses conjuntos é o conjunto formado apenas pelo elemento 0 e tal conjunto não é aberto.

Definição 1.8. SejaA❘. Um pontox❘diz-se aderente aAquandox=limxncomxn∈A.

De posse desta definição, fica claro que se xA entãox é aderente aA, pois basta considerar a sequência de elementos iguais axque, obviamente, tal sequência converge parax.

Definição 1.9. Chama-se fecho deAo conjuntoAformado pelos pontos aderentes ao conjunto

A.

Nem todo ponto deApertence ao conjuntoA, por exemplo, se considerarmos o intervalo

(a,b), os pontosaebsão aderentes a(a,b)poisa=lim(a+1n)comn> b1a e analogamente b=lim(b1n)comn>b1a.

Teorema 1.8. Um pontoxé aderente a um conjuntoA❘se, e somente se, qualquer vizinhança

dexcontém pontos deA.

Demonstração. Seja x aderente a A. Temos que x=limxn, xn ∈A, considere V(x) tal que

V(x)(xε,x+ε)para algumε >0. Considerando esteε, pela definição de limite, existen0 tal que, sen>n0então|x−xn|<ε, ou seja,xn∈(x−ε,x+ε)⊂V(x), paran>n0.

Se toda vizinhança dexcontém pontos deA, tomemos In= (x−1n,x+1n). Então para

cadan, existexn∈In. Logo,xn∈Ae limxn=x. Isto completa a demonstração.

Definição 1.10. Um conjuntoF ❘é fechado quandoF=F, isto é, quando contém todos os

pontos aderentes aF.

Exemplo 1.1. O conjunto

(29)

1.1. Os Números Reais 27

Teorema 1.9. F❘é fechado se, e somente se,❘\F é aberto.

Demonstração. SejaFfechado ex❘\F, entãox/F e desta formaxnão é aderente aF (pois se fosse aderente aFele deveria pertencer aF), logo existeVε(x)que não possui elementos

deF e concluímos queVε(x)⊂❘\F, e❘\F é aberto.

Por outro lado, suponha❘\F aberto e seja x aderente aF. Se x❘\F haveria uma vizinhançaV(x)\F, pois❘\F é aberto. LogoV(x)não conteria pontos deF e assimxnão

seria aderente aF. LogoxF eF é fechado.

Teorema 1.10. SeF1eF2são conjuntos fechados, entãoF1∪F2é fechado.

Demonstração. ComoF1é fechado então❘\F1é aberto, analogamente❘\F2é aberto. Pela lei de De Morgan temos,(❘\F1)∩(❘\F2) =❘\(F1∪F2),que pelo Teorema 1.7 é aberto, logo F1∪F2é fechado.

Do Teorema 1.10, resulta que a união de um número finito de conjuntos fechados é fechado. De fato, sejaF1,F2, ...,Fn,Fn+1conjuntos fechados. Suponha queF1∪F2∪...∪Fn é

fechado, então,F1∪F2∪...∪Fn∪Fn+1 = (F1∪F2∪...∪Fn)∪(Fn+1) é fechado conforme o Teorema 1.10 e o resultado segue por indução.

Observação:A união qualquer de conjuntos fechados pode não ser fechado. De fato,

como um conjunto formado por um único elemento é fechado, se a união qualquer de fechados fosse fechado, deveríamos ter(0,1) =S

x∈(0,1){x}fechado, o que é um absurdo, pois sabemos

que o intervalo(0,1)é aberto.

Teorema 1.11. SeF1eF2são conjuntos fechados, entãoF1∩F2é fechado.

Demonstração. Sendo ❘\F1 e ❘\F2 abertos, pela lei de De Morgan temos que (❘\F1)∪

(❘\F2) =❘\(F1∩F2)que é aberto pelo Teorema 1.6. Logo pelo Teorema 1.9F1∩F2é fechado.

Se (Fλ)λ∈J é uma família qualquer de conjuntos fechados, então a interseção F =

T

λ∈JFλ é um conjunto fechado.

De fato, sejaxum ponto aderente aF =T

λ∈JFλ. Sex∈❘\F , entãox∈/Tλ∈JFλ ⇒

∃ λ J tal que x/ Fλ x❘\Fλ que é aberto. Assim, Vδ(x)⊂❘\Fλ. Logo,Vδ(x)⊂

❘\T

(30)

Definição 1.11. Uma cisão de um conjuntoX ❘é uma decomposição X =ABtal que:

AB= /0 eAB= /0, isto é, nenhum ponto deAé aderente aBe nenhum ponto deBé aderente

aA. A decomposiçãoX =X/0 chama-se cisão trivial.

Exemplo 1.2. SeX =❘\{0},entãoX =❘+ é uma cisão. Se a<c<b, então[a,b] =

[a,c](c,b]não é uma cisão.

Teorema 1.12. Um intervalo da reta só admite a cisão trivial.

Demonstração. Suponhamos por absurdo, que um intervalo I admita uma cisão não trivial

I=AB. TomemosaA,bB, digamos coma<b, logo[a,b]I. Sejaco ponto médio do intervalo[a,b].EntãocAoucB. SecA, poremosa1=c,b1=b. Sec∈B, escreveremos a1=a,b1=c. Em qualquer caso, obteremos um intervalo[a1,b1]⊂[a,b], comb1−a1= b−2a ea1∈A,b1∈B. Por sua vez, o ponto médio de[a1,b1]o decompõe em dois intervalos fechados justapostos de comprimento b−a

4 . Um desses intervalos, que chamaremos[a2,b2], tema2∈A eb2∈B. Seguindo o raciocínio anterior, obteremos uma sequência de intervalos encaixados

[a,b][a1,b1]⊃...⊃[an,bn]⊃...combn−an= b2−na,an∈Aebn∈Bpara todon∈◆. Pela

propriedade dos intervalos encaixados, existed❘tal quean≤d≤bn, para todon∈◆. O

pontodI=ABnão pode estar emApoisd =limbn∈B, nem emBpois d=liman∈A.

Contradição.

Definição 1.12. Diz-se que a❘é ponto de acumulação do conjunto X ❘ quando toda

vizinhançaV deacontém algum ponto deX diferente do próprioa. SeaX não é ponto de

acumulação deX diz-se queaé um ponto isolado deX. Chama-se discreto todo conjunto cujos elementos são todos isolados.

Exemplo 1.3. O conjuntoA=1

2,23,34, ...,n+n1, ... é discreto, pois seus pontos são todos isola-dos, e seu único ponto de acumulação é o número 1. Considerando o intervalo(a,b)temos que, todos os pontos do intervalo são seus pontos de acumulação e também os extremosaeb.

1.1.3

Conjuntos Compactos

Definição 1.13. Um conjuntoX ❘chama-se compacto quando é limitado e fechado.

Todo conjunto finito é compacto. Um intervalo do tipo[a,b]é um conjunto compacto.

(31)

1.1. Os Números Reais 29

Teorema 1.13. Um conjuntoX❘é compacto se, e somente se, toda sequência de pontos em

X, possui uma subsequência que converge para um ponto deX.

Demonstração. SeX é compacto então toda sequência de pontosxn∈X é limitada, logo pelo

Teorema de Bolzano-Weierstrass (Teorema 1.5), a sequênciaxnpossui uma subsequência que

converge para um ponto deX, poisX é fechado.

Por outro lado, sejaX ❘um conjunto tal que toda sequência de pontosxn∈X possui

uma subsequência convergente para um ponto deX.

(I)X é limitado.

Se X não fosse limitado, para cada n◆, existiriaxn∈X tal que |xn|>n. Assim, a

sequência(xn)obtida não possuiria uma subsequência limitada e, desta forma, a subsequência

não seria convergente o que contraria a hipótese, logoX é limitado.

(II)X é fechado.

SeX não fosse fechado existiria um pontoa/X tal quea=limxn,xn∈X. A sequência

(xn) não possuiria então subsequência alguma convergindo para um ponto deX pois todas

suas subsequências teriam limites iguais ao número a, o que contraria a hipótese, logo X é fechado.

Definição 1.14. Chama-se cobertura de um conjuntoX a uma famíliaCde conjuntosCλL,

cuja reunião contémX. Quando todos os conjuntosCλ são abertos, diz-se queCé uma cobertura aberta. Quando L={λ1, ...,λn} é um conjunto finito, diz-se que X ⊂Cλ1∪...∪Cλn é uma

cobertura finita. SeL′Lé tal que, ainda se tem,X S

λ′L′Cλ′, diz-se queC′= (Cλ′)λ′L′ é

uma subcobertura deC.

Teorema 1.14. Borel-Lebesgue:Toda cobertura aberta de um conjunto compacto da reta possui

uma subcobertura finita.

Demonstração. Tomemos inicialmente uma cobertura[a,b]S

λ∈LAλ do intervalo compacto [a,b]. Suponhamos, por absurdo, queC= (Aλ)λ∈L não admita subcobertura finita. O ponto

médio do intervalo[a,b]o decompõe em dois intervalos de comprimento b−a

(32)

[a2,b2]...⊃...⊃[an,bn]⊃...de intervalos tais quebn−an= b2−na e nenhum[an,bn]pode estar

contido numa reunião finita dos abertosAλ.

Existe um número real c que pertence a todos os intervalos [an,bn]. Em particular,

c[a,b]. Pela definição de cobertura, existe λ Ltal quecAλ. ComoAλ é aberto, temos

[cε,c+ε]Aλ para um certo ε >0. Tomando n∈N tal que b2−na <ε temos, então, c∈ [an,bn]⊂[c−ε,c+ε], donde[an,bn]⊂Aλ, logo[an,bn]pode ser coberto por apenas um dos conjuntosAλ o que é uma contradição. No caso geral, temos uma coberturaX S

λ∈LAλ do compactoX. Tomamos um intervalo compacto[a,b]que contenhaX e, acrescentando aosAλ o novo abertoAλ0 =❘X, obtemos uma cobertura aberta de[a,b], da qual extraímos, pela parte

já provada, uma subcobertura finita[a,b]Aλ0∪Aλ1∪...∪Aλn. Como nenhum ponto deX pode

pertencer aAλ0, temosX Aλ1...Aλn e isto completa a demonstração.

1.2

Funções Reais

1.2.1

Limites de Funções

Nesta seção vamos definir o que é limite de uma função e demonstrar alguns teoremas importantes para uso posterior.

Definição 1.15. SejamX❘, f :X❘eaum ponto de acumulação do conjuntoX. Diz-se que

o número realLé limite de f(x)quandoxtende paraa, e escreve-se lim

x→af(x) =L, quando, para

todoε>0 dado, pode-se obterδ >0 tal que|f(x)L|<ε, sempre quexX e 0<|xa|<δ.

Em símbolos:

lim

x→af(x) =L⇔ ∀ε>0,∃δ >0;x∈X,0<|x−a|<δ ⇒ |f(x)−L|<ε.

A restrição 0<|xa|significa quex6=a. Portanto, o valor f(a)não tem importância alguma quando se quer determinarL, é essencial queaseja um ponto de acumulação do conjunto

X mas é irrelevante que f esteja ou não definida no pontoa.

Definição 1.16. Dizemos que f(x)tem um limite à direitaLem a e escrevemos lim

x→a+f(x) =Lse

para todoε>0, pode-se obterδ>0 tal que , para todoxX, coma<x<a+δ ⇒ |f(x)L|<ε.

Dizemos que f tem um limite à esquerdaLemae escrevemos lim

x→a− f(x) =Lse para todoε>0,

(33)

1.2. Funções Reais 31

Definição 1.17. Dizemos que f(x)tem limiteLparaxtendendo a+∞e escrevemos lim

x→+∞f(x) = Lse, para cadaε >0, existe um número N correspondente tal que, para todos os valores de

xX, comx>N⇒ |f(x)L|<ε. Dizemos que f(x)tem limite Lparax tendendo a∞e escrevemos lim

x→−∞f(x) =Lse, para cada ε>0, existe um númeroM correspondente tal que, para todos os valores dexX, comx<M⇒ |f(x)L|<ε.

Teorema 1.15. A unicidade do limite:Sejam f :X❘eaum ponto de acumulação deX. Se

lim

x→af(x) =L1e limx→af(x) =L2entãoL1=L2.

Demonstração. Suponha por absurdo queL16=L2, temos:

lim

x→af(x) =L1⇔ ∀ε >0,∃δ1>0;x∈X,0<|x−a|<δ1⇒ |f(x)−L1|<ε. (1)

lim

x→af(x) =L2⇔ ∀ε >0,∃δ2>0;x∈X,0<|x−a|<δ2⇒ |f(x)−L2|<ε. (2)

EscrevendoL1−L2comoL1− f(x) + f(x)−L2e aplicando a desigualdade triangular temos:

|L1−L2|=|L1−f(x) +f(x)−L2| ≤ |L1−f(x)|+|f(x)−L2|=|f(x)−L1|+|f(x)− L2|.

Considerandoδ =min{δ1,δ2}, temosδ ≤δ1eδ ≤δ2assim (1) e (2) estão satisfeitos e

∀ε>0, considerando esteδ exX, 0<|xa|⇒ |L1−L2|<2ε.

Se tomarmos ε = |L1−L2|

2 segue que paraε = |L1−2L2|, ∃δ >0;x∈X e 0<|x−a|<

δ ⇒ |L1−L2|<|L1−L2|que é uma contradição e, portanto, a nossa suposição é falsa. Logo L1=L2.

Teorema 1.16. Teorema do confronto:Sejam f,g,h:X❘,aum ponto de acumulação de

X e lim

x→af(x) =xlim→ag(x) =L. Se f(x)≤h(x)≤g(x)para todox∈X− {a}então limx→ah(x) =L.

Demonstração. ε >0,δ1>0 eδ2>0;x∈X 0<|x−a|<δ1⇒L−ε < f(x)<L+ε e 0<|xa|<δ2⇒L−ε<g(x)<L+ε. Sejaδ=min{δ1,δ2}. Entãox∈X,0<|x−a|<δ ⇒ Lε < f(x)h(x)g(x)<L+ε ⇒ |h(x)L|<ε. Logo lim

x→ah(x) =L.

Teorema 1.17. Seja f uma função monótona e limitada, definida num intervaloI, do qualx=a

é ponto de acumulação à direita ou à esquerda. Então f(x)tem limite comxa+ ouxa,

(34)

Demonstração. Suponhamos que f seja uma função não-decrescente e x=a seja ponto de acumulação à esquerda. Nesse caso, basta supor que f seja limitada à direita. SejaLo supremo

dos valores de f(x), para todo xI, x<a. Provaremos que lim

x→a−f(x) =L. De fato, dado

qualquer ε>0, existe δ >0 tal queLε < f(aδ)L. Mas f é não-decrescente, assim,

f(aδ) f(x)paraaδ <xexI; logo,

xI,aδ <x<aLε< f(x)L,

que prova o resultado.

As demonstrações dos outros casos são análogas.

Teorema 1.18. Sejam f :X❘eaum ponto de acumulação deX. A fim de que lim

x→af(x) =Lé

necessário e suficiente que, para toda sequência de pontosxn∈X− {a}com limxn=a, tenha-se

limf(xn) =L.

Demonstração. Suponhamos que lim

x→af(x) =Le considere uma sequênciaxn∈X− {a}com

lim

x→axn=a. Então ∀ε >0,∃ δ >0;x∈X, 0 <|x−a|<δ ⇒ |f(x)−L|<ε. Existe também

n0∈◆tal quen>n0⇒0<|xn−a|<δ uma vez quexn6=a,∀n∈◆e limxn=a. Logo se

n>n0então,|f(xn)−L|<ε⇒xlim

→af(xn) =L.

Por outro lado, suponhamos quexn∈X− {a}e limxn=aimpliquem limf(xn) =Le

provemos que lim

x→af(x) =L.

Negar esta igualdade implicaria afirmar a existência de um númeroε>0 com a seguinte propriedade: n ◆ podemos achar xn ∈X tal que 0< |xn−a|< 1n mas |f(xn)−L| ≥ ε.

Então, teríamosxn∈X− {a},limxn=asem que limf(xn) =L. Esta contradição completa a

demonstração.

Teorema 1.19. Operações com limites: Sejam f,g:X❘eaum ponto de acumulação de

X, com lim

x→af(x) =L1e limx→ag(x) =L2então:

(a) lim

x→a[f(x) +g(x)] =xlim→af(x) +xlim→ag(x) =L1+L2;

(b) lim

x→a[k.f(x)] =k.xlim→af(x) =k.L1;

(c) lim

x→a[f(x).g(x)] =xlim→af(x).xlim→ag(x) =L1.L2;

(d) lim

x→a

f(x)

g(x) = lim

xaf(x)

lim

xag(x) = L1

(35)

1.2. Funções Reais 33

Demonstração. lim

x→af(x) =L1⇔ ∀ε>0,∃δ1>0; 0<|x−a|<δ1⇒ |f(x)−L1|<

ε 2. lim

x→ag(x) =L2⇔ ∀ε>0,∃δ2>0; 0<|x−a|<δ2⇒ |g(x)−L2|<

ε 2. Sejaδ =min{δ1,δ2}. Assim:

∀ε>0 exXtemos, 0<|xa|⇒ |f(x)L1|+|g(x)−L2|<ε. Pela desigualdade triangular segue-se que:

|(f(x)L1)+(g(x)−L2)| ≤ |f(x)−L1|+|g(x)−L2|então,∀ε>0,∃δ=min{δ1,δ2}; 0<|xa|⇒ |(f(x) +g(x))(L1+L2)|<ε. Logo lim

x→a[f(x) +g(x)] =L1+L2, o que prova

(a).

Provemos que, lim

x→a[k.f(x)] =k.xlim→af(x).

Sek=0,k.f(x) =0xX, logo lim

x→ak.f(x) =0=k.xlim→af(x).

Sek6=0, ε>0,δ >0; 0<|xa|⇒ |f(x)L1|< ε

|k|.Daí, 0<|x−a|<δ ⇒

|k.f(x)k.L1|<|k|. ε

|k|=ε, logo limx→ak.f(x) =k.L1, o que prova (b).

Antes de provarmos que, lim

x→a[f(x).g(x)] =xlim→af(x).limxag(x), provemos o seguinte lema.

Lema 1. Sejam(an)e(bn)duas sequências convergentes com limitesaebrespectivamente.

Então lim(an.bn) = (liman).(limbn) =a.b.

Demonstração. De fato, suponhaa6=0,bné limitada porM>0 pois é convergente (Teorema

1.1). Podemos escrever |an.bn−ab|=|(an−a)bn+a(bn−b)| ≤ |an−a||bn|+|a||bn−b| ≤

M.|an−a|+|a||bn−b|.

Tanto |an−a|como|bn−b| podem ficar arbitrariamente pequenos, desde quenseja

suficientemente grande. Assim , dado qualquerε>0,podemos fazer|an−a|< 2εM a partir de

um índiceN1e|bn−b|< 2|εa| a partir de um índiceN2, então sendoNo maior desses índices , n>N satisfarán>N1en>N2simultaneamente, logo

n>N⇒ |an.bn−a.b|< ε22 =ε.

O casoa=0 é análogo.

(36)

Supondo que f(x) e g(x) tenham limites L1 e L2, respectivamente , comx→a, seja xn∈X− {a}uma sequência convergindo paraa. Então pela hipótese f(xn)→L1eg(xn)→L2 e pelo lema f(xn).g(xn)→L1.L2, logo limx

→af(x).g(x) =L1.L2.

SendoL26=0, vamos provar que limx →a

1 g(x)=

1 L2. Dadoε>0, sabemos que existeδ >0 tal que

xX, 0<|xa|⇒ |g(x)L2|<εL2 2 2 .

Se necessário, diminuímos oδ de maneira a termosxX, 0<|xa|⇒ |g(x)|>|L2| 2 . Então, sexX, 0<|xa|<δ teremos:

1 g(x)−

1 L2

= |g(x)−L2|

|L2.g(x)| <

εL22 2|L2g(x)| <

ε.L22 2 .

2 L22 =ε,

e isso mostra que lim

x→a

1 g(x) =

1 L2.

Pela propriedade (c), lim

x→a

f(x)

g(x) =xlim→af(x).limxa

1

g(x) =L1. 1 L2 =

L1

L2, o que prova (d).

1.2.2

Funções Contínuas

Definição 1.18. Uma função f :X❘, definida no conjuntoX ❘, diz-se contínua no ponto

aX se:

∀ε >0,δ >0;xX,|xa|⇒ |f(x)f(a)|<ε.

Suponha que f está definida ema, e que aseja um ponto de acumulação deX.

Com-parando as definições de limite e continuidade, resulta que f é contínua emase, e somente se, lim

x→af(x) = f(a).

Teorema 1.20. Sejam f,g:X❘contínuas no pontoaX, com f(a)<g(a). Existeδ >0

tal que f(x)<g(x)para todoxX(aδ,a+δ).

Demonstração. Tomemosc=[g(a) + f(a)]

2 eε=g(a)−c=c−f(a). Entãoε>0 e f(a)+ε= g(a)ε=c. Pela definição de continuidade existemδ1>0 eδ2>0 tais quex∈X,|x−a|<

(37)

1.2. Funções Reais 35

Corolário 1. Seja f :X ❘contínua no pontoaX. Se f(a)6=0, existeδ >0 tal que, para

todoxX(aδ,a+δ), f(x)tem o mesmo sinal de f(a).

Demonstração. De fato, suponhamos f(a)<0. Então, basta tomar g identicamente nula no Teorema 1.20.

Teorema 1.21. A função f :X❘é contínua no pontoaX se e somente sexn∈X,limxn=

alimf(xn) = f(a).

Demonstração. Suponha que f é contínua no ponto aX e quexn∈X com limxn=a. Daí,

∀ε>0,δ >0;xX,|xa|⇒ |f(x)f(a)|<ε.

Existe tambémn0 ∈◆ tal que se n>n0, então, 0<|xn−a|<δ. Assim, se n>n0, 0<|xn−a|<δ e|f(xn)−f(a)|<ε, logo, limf(xn) = f(a).

Por outro lado, se f não for contínua no pontoa, existe umε>0 tal queδ>0, pode-se

acharxδ ∈X de modo que,|xδ−a|<δ mas|f(xδ)−f(a)| ≥ε. Tomemos δ = 1n e façamos xn=xδ. Assim,|xn−a|< 1n mas|f(xn)−f(a)| ≥ε, o que contradiz a hipótese.

Corolário 2. Se f,g:X❘são contínuas no pontoaX eaum ponto de acumulação deX,

então são contínuas nesse mesmo ponto as funções f+g,f.g:X ❘e f

g desde queg(a)6=0. O domínio da função f/gé o subconjunto deX formado pelos pontosxtais queg(x)6=0.

Demonstração. De fato, das propriedades operatórias dos limites temos que:

lim

x→a[f(x) +g(x)] =xlim→af(x) +xlim→ag(x) = f(a) +g(a);

lim

x→a[f(x).g(x)] =xlim→af(x).xlim→ag(x) = f(a).g(a);

lim

x→a

f(x)

g(x) = lim

x→af(x)

lim

x→ag(x)

= f(a)

g(a) comg(a)6=0.

Teorema 1.22. Sejam f : X ❘ contínua no ponto a X,g:Y ❘ contínua no ponto

b= f(a)Y e f(X)Y,de modo que a compostagf :X❘está bem definida. Entãogf

é contínua no pontoa.

Demonstração. Pela continuidade degno pontobtemos:ε>0,η>0;yY,|yb|

|g(y)g(b)|<ε. Por sua vez , a continuidade de f no ponto a assegura que existe δ >0 tal que x X,|xa|⇒ |f(x)b| <η. Consequentemente, x X(aδ,a+δ)

(38)

Teorema 1.23. Teorema do valor intermediário:Seja f :[a,b]❘contínua. Se f(a)<d<

f(b)então existec(a,b)tal que f(c) =d.

Demonstração. Por absurdo suponha que não existac(a,b)tal que f(c) =d. Temos[a,b] =

ABondeA={x[a,b];f(x)<d}e B={x[a,b];f(x)>d}.AB é uma cisão pois se

xA,xnão pode ser aderente aB. Analogamente sexB,xnão pode ser aderente aA. Como um intervalo da reta só admite a cisão trivial entãoA= /0 ouB= /0, porémA6= /0 poisaAe

B6= /0 pois bB, logo a cisão não é trivial o que é um absurdo. Portanto, existec(a,b)tal que f(c) =d.

Teorema 1.24. Se f for contínua no intervalo fechado[a,b], então f será limitada em[a,b].

Demonstração. Suponhamos, por absurdo , que f não seja limitada em[a,b]. Façamosa=a1e b=b1, existe entãox1em[a1,b1]tal que|f(x1)|>1. Sejac1o ponto médio de[a1,b1],f não será limitada em um dos intervalos[a1,c1]ou [c1,b1], suponhamos que não seja limitada em

[c1,b1]e façamosa2=c1eb2=b1. Não sendo f limitada em[a2,b2], existiráx2∈[a2,b2]tal que|f(x2)|>2. Prosseguindo com este raciocínio, construiremos uma sequência de intervalos

[a1,b1]⊃[a2,b2]⊃[a3,b3]⊃...⊃[an,bn]⊃...tal que, para todo naturaln>0, existexn∈[an,bn]

com|f(xn)|>n. Segue que limn

→∞|f(xn)|= +∞. Seja agoraco único real tal que para todo natural n>0,c [an,bn], pelo teorema dos intervalos encaixados. Como a sequência xn converge

para c e f é contínua em c, resulta que lim

n→∞|f(xn)|=|f(c)| que está em contradição com lim

n→∞|f(xn)|= +∞. Portanto f é limitada em[a,b].

Teorema 1.25. Teorema de Weierstrass:Seja f contínua no conjunto compactoX ❘.

Exis-temx1ex2emX tais que f(x1)≤ f(x)≤ f(x2)para todox∈X.

Demonstração. 1 Sendo f contínua emX, pelo Teorema 1.24, f será limitada em X, daí o conjuntoImf =A={f(x);x∈X}admitirá supremo e ínfimo. SejamM=sup{f(x);x∈X}e

m=in f{f(x);xX}. Assim para todoxX ,m f(x)M. Provemos queM= f(x1)para algumx1emX. Se tivéssemos f(x)<Mpara todox∈X, a funçãog(x) =M1f(x),x∈X seria contínua emX mas não limitada emX, pois segfosse limitada emX, existiriaβ >0 tal que, 0< M1f(x) f(x).β+1<βM f(x)<Mβ1. LogoMnão seria supremo deAo que é um absurdo. Portanto, deve existir umx1∈X tal que f(x1) =M.

(39)

1.2. Funções Reais 37

Por outro lado, se f(x)>mpara todoxem[a,b], a funçãoh(x) = f(x1)m seria contínua emX mas não limitada emX, o que é uma contradição pois sehfosse limitada emX, existiria

α>0 tal que 0< f(x1)m1+mα <αf(x) α1+m< f(x)o que é um absurdo poism é ínfimo deA, logo deve existir umx2∈X tal que f(x2) =m.

1.2.3

Continuidade Uniforme

Definição 1.19. Seja f :X❘contínua. f diz-se uniformemente contínua se :

∀ε >0,δ >0;x,yX,|xy|⇒ |f(x)f(y)|<ε.

Nem sempre, dadoε >0,pode-se encontrar umδ >0 que sirva em todos os pontos

xX mesmo sendo f contínua em todos esses pontos.

A noção de função contínua é uma noção local e a noção de função uniformemente contínua é global, isto é, não depende do comportamento da função apenas nas vizinhanças de

um ponto, mas depende do comportamento da função em todo domínio onde ela está definida.

Teorema 1.26. A fim de que f :X ❘seja uniformemente contínua é necessário e suficiente

que, para todo par de sequências(xn),(yn) emX com lim(yn−xn) =0, tenha-se lim[f(yn)−

f(xn)] =0.

Demonstração. Se f é uniformemente contínua elim(yn−xn) =0 então∀ε>0,∃δ >0;x,y∈

X,|yx|⇒ |f(y)f(x)|<εe, existe, para esteδ>0,n0∈◆tal quen>n0⇒ |yn−xn|<δ.

Logon>n0⇒ |f(yn)−f(xn)|<εe daí lim[f(yn)−f(xn)] =0. Reciprocamente, suponhamos

válida a condição do enunciado. Se f não fosse uniformemente contínua, existiria umε >0 tal

que para todon◆poderíamos achar pontosxn,yn∈Xtais que|yn−xn|<δne|f(yn)−f(xn)| ≥

ε. Tomandoδn= 1n teríamos lim(yn−xn) =0 sem que lim[f(yn)−f(xn)] =0. Esta contradição

conclui a prova.

Exemplo 1.4. Do Teorema 1.26 podemos concluir que a função f :❘→❘,f(x) =x2 não é uniformemente contínua. Tomandoyn=n+1n exn=n, comyn,xn∈❘temos lim(yn−xn) =

(40)

Definição 1.20. Uma função f :X ❘chama-se lipschitziana quando existe uma constante

k>0 , chamada constante de Lipschitz da função f, tal que|f(x)f(y)| ≤k|xy|para todos

x,yX. Escrevendo esta condição na forma

f(x)−f(y)

x−y

≤k com x6=y percebemos que tal

quociente é limitado pork, isto significa que as secantes não ficam próximas da vertical.

Se uma função é lipschitziana então ela é uniformemente contínua. De fato para que uma

função f :X ❘seja uniformemente contínua, dado umε >0, deve existir umδ >0 tal que ,

x,yX,|xy|⇒ |f(x)f(y)|<ε. Suponha que uma função f seja lipschitziana, tomando-seδ= εk e substituindo na condição descrita acima temosε>0,δ =εk >0;x,yX,|xy|<

δ ⇒ |f(x)f(y)| ≤k|xy|<k.ε

k =ε. A recíproca desta implicação não é verdadeira , isto é,

existem funções que são uniformemente contínuas que não são lipschitzianas.

Exemplo 1.5. A função f :❘→❘dada por f(x) =2x+3 é lipschitziana com constantek=2

pois|f(y)f(x)|=|2||yx|. Seja f :[0,1]❘dada por f(x) =√x. Então, f(x)xyf(y)=

x −√y x−y .

Multiplicando o numerador e o denominador por√x+√yficamos com √x1

+√y. Tomandox6=y

suficientemente pequenos, podemos tornar √x+√y tão pequeno quanto se deseje, logo o

quociente √xxyy é ilimitado e a função não é lipschitziana. Porém, como a função é contínua em[0,1], ela é uniformemente contínua, pelo Teorema 1.27.

Teorema 1.27. Seja X ❘ compacto. Toda função contínua f :X ❘ é uniformemente

contínua.

Demonstração. Seja f contínua. Se f não fosse uniformemente contínua, existiriam ε >0 e

duas sequências(xn),(yn)emX satisfazendo lim(yn−xn) =0 e|f(yn)−f(xn)| ≥ε para todo

n◆. Passando a uma subsequência se necessário, podemos supor, em virtude da compacidade

de X que limxn=a . Como yn= (yn−xn) +xn vale também limyn=a. Sendo f contínua

no pontoa, temos lim[f(yn)−f(xn)] =limf(yn)−limf(xn) = f(a)−f(a) =0 contradizendo

|f(yn)−f(xn)| ≥ε para todon∈◆.

A principal referência para a próxima subseção será [11].

1.2.4

Derivadas

Definição 1.21. A derivada de uma função f em relação à variávelxé a função f′cujo valor em

(41)

1.2. Funções Reais 39

f′(x) = lim

h→0

f(x+h) f(x)

h

desde que o limite exista. O domínio de f′é o conjunto de pontos no domínio de f para o qual o

limite existe.

Exemplo 1.6. Exemplo 1: A derivada de uma função constante é zero. De fato, seja f uma

função real tal que f(x) =kpara todox, temos f(x+h) =kpara todoxe todoh, logo, f′(x) =

lim

h→0

k−k

h =hlim00=0.

Teorema 1.28. Se f :X❘possui um valor máximo ou mínimo em um pontocinterior de

seu domínio e se f′é definida emc, então f(c) =0.

Demonstração. Suponha que f tenha um valor máximo local emx=c, de modo que f(x)

f(c)0, para qualquerxpróximo dec. Então f′(c)é definida por

lim

x→c

f(x) f(c)

xc

o que significa que os limites à direita e à esquerda, existirão quandox=ce serão iguais a f′(c).

Examinando separadamente esses limites temos

f′(c) = lim

x→c+

f(x)f(c)

xc ≤0 , poisx−c>0 e f(x)≤ f(c).

Por outro lado

f′(c) = lim

x→c−

f(x)f(c)

xc ≥0, poisx−c<0 e f(x)≤ f(c).

Isto nos mostra que f′(c)não pode ser positiva nem negativa, logo f(c) =0.

O caso em que f tem um valor mínimo local emx=cé provado de modo análogo.

Teorema 1.29. Teorema de Rolle:Suponha que f :[a,b]❘é contínua em[a,b]e derivável

em todos os pontos de seu interior(a,b). Se f(a) = f(b), então, há pelo menos um númeroc em(a,b)tal que f′(c) =0.

Demonstração. Sendo f contínua em [a,b], pelo Teorema de Weierstrass (Teorema 1.25), f assume mínimome máximoMem[a,b]. Se o máximo e o mínimo ocorrem nas extremidadesa

(42)

tomado em qualquer lugar no interior(a,b). Se o máximo ou o mínimo ocorrem num pontoc entreaeb, então, pelo Teorema 1.28 temos f′(c) =0 .

Teorema 1.30. Teorema do valor médio:Se f :[a,b]❘é contínua em[a,b]e derivável em

(a.b), então há pelo menos um pontocem(a,b)tal que f(b)−f(a)

ba = f′(c).

Demonstração. Consideremos a funçãos:[a,b]❘dada pors(x) = f(a) + f(bb)−af(a)(xa). Seja t : [a,b] ❘ dada por t(x) = f(x)s(x) = f(x)f(a) f(bb)af(a)(xa). Como t é contínua em[a,b], derivável em(a,b)et(a) =t(b),té uma função que satisfaz o teorema de

Rolle (Teorema 1.29), logo existecem (a,b)tal quet′(c) =0. Assimt(x) = f(x)s(x)

t′(x) = f(x) f(b)−f(a)

b−a , daít′(c) = f′(c)− f

(b)−f(a)

b−a =0 e portanto f(b)−f(a) = f′(c)(b−

a).

Corolário 3. Se f′(x) =0 em todos os pontos de um intervalo (a,b), então f(x) =C isto é,

funções com derivadas nulas são constantes.

Demonstração. Seja f :[a,b]❘e f′(x) =0 em todos os pontos do intervalo(a,b). Considere

x1,x2ambos pertencentes ao intervalo(a,b)tais quex1<x2. Observe que f satisfaz a hipótese do teorema do valor médio no intervalo[x1,x2]. Dessa forma, f(x2)−f(x1)

x2−x1 = f

(c)em algum

pontocentrex1ex2. Como f′=0 ao longo de(a,b), temos f(xx2)−f(x1)

2−x1 =0, logo f(x1) = f(x2).

Corolário 4. Funções com a mesma derivada diferem por uma constante.

Demonstração. Seja f′(x) = g(x) em cada ponto x de um intervalo (a,b). Em cada ponto

x(a,b), a derivada da função diferençah= fgéh′(x) = f′(x)g′(x) =0. Pelo Corolário

3 temosh(x) =Cem(a,b), portanto f(x)g(x) =C.

1.2.5

O conjunto e a função de Cantor

Vamos descrever agora o conjunto de Cantor, um conjunto que possui propriedades

interessantes como veremos a seguir. Para a construção do conjunto, considere o intervalo[0,1]. Dividimos o intervalo em 3 partes iguais e retiramos o intervalo(1/3,2/3)isto é, retiramos seu

terço médio. Na próxima etapa, retiramos o terço médio de cada um dos intervalos restantes, isto é, retiramos os intervalos(1/9,2/9)e(7/9,8/9).Repetimos este processo indefinidamente. O

(43)

1.2. Funções Reais 41

Todo extremo de um intervalo omitido pertence ao conjunto de Cantor. O conjuntoE dos intervalos omitidos é enumerável, logo o conjunto formado pelos extremos dos intervalos é

enumerável. Uma pergunta natural que se pode fazer nesse momento é: “Sobra alguma coisa sem ser os extremos dos intervalos omitidos?". A resposta é , não só sobram mas a maioria dos

pontos do conjunto de Cantor não são os extremos dos intervalos omitidos. Para mostrar este fato, mostraremos adiante que o conjunto de Cantor não é enumerável.

Figura 1: Construindo o conjunto de Cantor.

A seguir listamos as propriedades do conjunto de Cantor.

1 - É compacto.

O conjunto de Cantor é um subconjunto do intervalo[0,1], portanto é limitado, e também é fechado pelos teoremas 1.9 e 1.11.

2 - Tem interior vazio.

Um conjunto da reta tem interior não vazio se contém intervalos, pois um pontoa é

interior ao conjuntoX ❘quando existeε>0 tal que(aε,a+ε)X. Porém o conjunto de Cantor não contém intervalos, pois, na primeira etapa de sua construção sobram dois intervalos

de comprimento 13, na segunda etapa de sua construção sobram quatro intervalos de comprimento 1

9, na terceira intervalos de comprimento 271, na n-ésima etapa intervalos de comprimento 31n.

Portanto, dado qualquer intervaloJ[0,1]de comprimentoc>0, se tomarmosntal que 31n <c,

o intervaloJserá dividido depois da n-ésima etapa da formação do conjunto de Cantor. Assim o

(44)

3 - Não possui pontos isolados.

Sexé extremo de um intervalo que foi omitido,xsobrevive a todas as etapas seguintes na construção do conjunto de Cantor. Cada ponto extremo desses intervalos é limite de uma

sequência de pontos formada pelos extremos dos intervalos omitidos, que por sua vez pertencem ao conjunto de Cantor , ou seja, são pontos de acumulação do conjunto, logoxnão é isolado.

Se x pertence ao conjunto de Cantor mas não é extremo de um intervalo omitido na

construção do conjunto, entãoxtambém não é ponto isolado do conjunto. A justificativa é quex pertence a um intervalo que sobreviveu a n-ésima etapa na construção do conjunto de Cantor. Na

etapa seguinte os intervalos que sobram tem comprimento 1

3n+1 e os extremos destes intervalos pertencem ao conjunto de Cantor, entãoxé limite de uma sequência de pontos que pertencem ao

conjunto de Cantor, logo,xé ponto de acumulação do conjunto e, portanto, não é isolado.

É interessante notar que as somas dos comprimentos dos intervalos removidos converge para 1, que é o mesmo comprimento do intervalo original.

De fato, a soma dos intervalos removidos é: 1

3+ 2 9+

4

27+...+ 2n−1

3n +...=

n=1

2n−1

3n . Esta série geométrica converge para

1 3

123 =1.

4 - É não-enumerável.

Os pontos do conjunto de Cantor têm uma caracterização interessante e útil em termos

de sua representação em base 3. Dado x[0,1], representar x na base 3 significa escrever

x=0,x1x2x3...,onde cada um dos dígitosxné igual a 0,1 ou 2 , ou seja:

x= ∞

n=1

xn

3n.

Na primeira etapa da construção do conjunto de Cantor, ao retirar-se o intervalo aberto

(13,23), ficam excluídos os númerosx[0,1]cuja representação na base 3 temx1=1, com exceção de 13 que permanece. Na segunda etapa, foram excluídos os números pertencentes aos intervalos (19,29)e(79,89)ou seja, aqueles da forma 0,01x3x4...ou da forma 0,21x3x4...com exceção de

1

9=0,01 e de 79=0,21, que permanecem. Desta forma, ao construírmos o conjunto de Cantor só restarão os números do intervalo[0,1]cuja representação na base 3 só contém os algarismos 0 e

2, com exceção daqueles que contêm um único algarismo 1 como significativo final, porém estes, podem ser escritos de tal forma que sempre podemos substituir o algarismo final 1 pela sequência

(45)

1.2. Funções Reais 43

conjunto de Cantor são os números do intervalo[0,1]cuja representação na base 3 só contém os algarismos 0 e 2. Daí resulta que o conjunto de Cantor é não-enumerável como mostraremos a

seguir:

SejaSo conjunto de todas as sequências infinitas, comos= (02220020202...), formadas com os símbolos 0 e 2. Afirmamos que nenhum subconjunto enumerávelX ={s1, ...,sn, ...}

⊂Sé igual aS. De fato, dadoX, indiquemos comsnm o n-ésimo termo da sequência sm∈X.

Formamos uma nova sequências∗Stomando o n-ésimo termo desigual a 0 se forsnn =2,

ou igual a 2 se forsnn=0. A sequências∗não pertence ao conjuntoX porque seu n-ésimo termo

é diferente do n-ésimo termo desn, portantoSnão é enumerável e concluímos que o conjunto de

Cantor não é enumerável.

Vamos construir agora a função de Cantor que será útil mais adiante.

A construção da função de Cantor será feita em etapas.

Etapa 0: SejaF(x) =0 parax<0 eF(x) =1 parax>1. Resta definirF em[0,1].

Etapa 1: Para o intervalo aberto(13,23), referente ao terço central de[0,1], definimos F(x) = 12. Restam sem definição, os valores deF nos intervalos[0,13]e[23,1], cujo comprimento total é de 2/3.

Etapa 2: DefinimosF(x) = 14 para(19,29)eF(x) = 34 para(79,89).

Etapan+1: No terço central de cada um dos 2n intervalos restantes após a etapa n, seja F(x) igual à média dos valores de F, nos dois intervalos vizinhos para os quais F foi

definida anteriormente. Restarão 2n+1intervalos, de comprimento total(2/3)n+1, em queF não está definida. Podemos então definirF, por indução para um número enumerável de intervalos

abertos, assim,Fsó não estará definida no complementar desses intervalos, esse complementar é justamente o conjunto de Cantor. Para estender o valor deF para o conjunto de Cantor, denotado

porK, impomos queF deva ser contínua. ConsiderexKe sejamanebnos valores deF, após

a etapan, nos intervalos vizinhos dex, à esquerda e à direita, respectivamente. Sabemos por

construção, que a diferença entre esses valores é de(1/2)n. Esse limite vai a zero quandon∞. Como a funçãoF é monótona não-decrescente no complementar deK, os limites dean ebn

existirão e serão iguais. Tomamos, então,F(x) = lim

(46)
(47)

45

CAPÍTULO

2

A INTEGRAL DE RIEMANN

Leibniz inventou os símbolos usados nos cálculos diferencial e integral, como os co-nhecemos hoje. Ele criou o símbolo da integração que era visto por ele como uma soma. O

termo integral foi usado pela primeira vez num artigo de um dos irmãos Bernoulli em 1690, e “Cálculo Integral"apareceu como um termo num artigo escrito por Johann Bernoulli juntamente

com Leibniz em 1698. A ideia de integral, como área de uma figura plana ou volume, surgiu e alcançou um razoável desenvolvimento com Arquimedes (285-212 a.C), porém naquela época,

a matemática era muito geométrica e faltava amadurecimento para o desenvolvimento de um “cálculo integral". No século XVI a simbologia se desenvolveu bastante, sobretudo com François

Viéte (1540 - 1603). Depois, com os trabalhos de René Descartes (1596 - 1650), Pierre de Fermat (1601 - 1665) e outros de seus contemporâneos, a moderna notação da Geometria Analítica se

difundia e tornava possível o surgimento de métodos sistemáticos e unificados de tratamento do cálculo de áreas e volumes.

A ideia básica de integração é que muitas quantidades podem ser calculadas se são

quebradas em pedaços pequenos e, depois, soma-se a contribuição que cada parte dá. Em relação ao cálculo de áreas, se preenchermos interiormente uma região irregular escolhendo retângulos,

quanto menor as dimensões das bases dos retângulos escolhidos e consequentemente maior a quantidade desses retângulos no interior da região, melhor será a aproximação por falta para a

área da região.

(48)

Fundamental do Cálculo que estabelece uma relação surpreendente entre as derivadas e as integrais.

2.1

Integral de Riemann

Definição 2.1. Uma partição do intervalo[a,b]é um subconjunto finito de pontosP={t0,t1, ...,tn}

⊂[a,b]tal queaPebP, esta notação será utlizada de modo quea=t0<t1< ... <tn=b.

O intervalo[ti−1,ti]cujo comprimento éti−ti−1, será chamado de i-ésimo intervalo da partição P.

SejamPeQpartições do intervalo[a,b]. Diz-se queQrefinaPquandoPQ, isto é, todos os pontos dePestão emQ.

Dada uma função limitada f :[a,b]❘, vamos denotar por mi e Mi o ínfimo e o

supremo, respectivamente, de f no i-ésimo intervalo deP, isto é,

mi=in f{f(x);ti−1≤x≤ti}eMi=sup{f(x);ti−1≤x≤ti};

e comωi=Mi−mia oscilação da função f nesse intervalo. Definimos a soma inferior da função

f, referente à partiçãoP, denotada pors(f;P)como sendo o número

s(f;P) =m1(t1−t0) +...+mn(tn−tn−1) =∑ni=1mi(ti−ti−1).

Definimos a soma superior de f, referente à partiçãoPcomo sendo o número

S(f;P) =M1(t1−t0) +...+Mn(tn−tn−1) =∑ni=1Mi(ti−ti−1).

Sejam m e M o ínfimo e o supremo de f, respectivamente no intervalo [a,b]. Como

mmi≤Mi≤M, então

m(ba)s(f;P)S(f;P)M(ba).

Quando f(x)0 para todox[a,b]e contínua neste intervalo, cada soma inferior é um valor aproximado por falta da área da região limitada pelo gráfico de f, pelo eixo das abscissas e

(49)

2.1. Integral de Riemann 47

da mesma área. Quando f(x)0 para todox[a,b]e contínua neste intervalo, essas somas são valores aproximados de tal área, com sinal trocado.

Vemos que o conjunto das somas inferiores é limitado superiormente por M(ba),

de forma que tem supremo finito. Este supremo é chamado de integral inferior da função f sendo denotada por Z b

a

f(x)dx. Analogamente, o conjunto das somas superiores é limitado

inferiormente porm(ba), logo, tem ínfimo finito, chamado de integral superior de f que será

denotado por

Z b

af(x)dx.

Teorema 2.1. SejaPuma partição qualquer do intervalo[a,b]eQum refinamento deP. Então,

s(f;P)s(f;Q)eS(f;Q)S(f;P),

isto é, refinando-se uma partição a soma inferior não diminui e a soma superior não aumenta.

Demonstração. Suponhamos que Q=P∪ {r}, isto é, Qcontém um só ponto a mais que P,

digamos comtj−1<r<tj. Sejam m′ em′′, respectivamente, os ínfimos de f nos intervalos [tj−1,r]e[r,tj].s(f;Q)contém todos os termos des(f;P)com exceção daquele que corresponde

ao j-ésimo intervalo que é substituido porm′(rtj

−1) +m′′(tj−r). Temosmj≤m′,mj≤m′′ e

tj−tj−1= (tj−r) + (r−tj−1). Portanto,

s(f;Q)s(f;P) =m′(rtj−1) +m′′(tj−r)−mj(tj−tj−1) = (m′−mj)(r−tj−1) +

(m′′mj)(tjr)0, ou seja,s(f;Q)s(f;P).

Analogamente, sejamM′eM′′os supremos de f nos intervalos[tj

−1,r]e[r,tj]. Temos

Mj≥M′eMj≥M′′. Logo,

S(f;P)S(f;Q) =Mj(tj−tj−1)−M′(r−tj−1)−M′′(tj−r) = (Mj−M′)(r−tj−1) +

(Mj−M′′)(tj−r)≥0 , ou seja ,S(f;P)≥S(f;Q).

O que foi provado faz referência às somas no caso em queQpossui um só ponto a mais queP. O caso em queQresulta dePpelo acréscimo de mais pontos é tratado com o mesmo

argumento, aplicado repetidamente, um ponto de cada vez.

Corolário 5. Para quaisquer partições P, Q do intervalo [a,b] e qualquer função limitada

Imagem

Figura 1: Construindo o conjunto de Cantor.
Figura 2: Função de Distribuição para Número de Caras.
Figura 3: Função de Distribuição para o Exemplo 3.5.
Figura 4: Função de Distribuição Mista.
+7

Referências

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