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Capacitação e intervenções de técnicos de farmácia na dispensação de medicamentos em Atenção Primária à Saúde.

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TEMAS LIVRES FREE THEMES

1 Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, Universidade Federal de São Paulo. R. Professor Arthur Riedel 275, Eldorado. 09972-270 Diadema SP Brasil. melo.daniela@unifesp.br 2 Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo (USP). São Paulo SP Brasil. 3 Faculdade de Saúde Pública, USP. São Paulo SP Brasil.

Capacitação e intervenções de técnicos de farmácia

na dispensação de medicamentos em Atenção Primária à Saúde

Training of pharmacy technicians for dispensing drugs

in Primary Health Care

Resumo São escassos artigos científicos brasi-leiros que discutam a importância do trabalho do técnico em farmácia em assistência direta ao paciente. Este trabalho descreve uma experiên-cia de capacitação de técnicos de farmáexperiên-cia para dispensação de medicamentos. Trata-se de estudo descritivo, transversal, realizado na atenção pri-mária à saúde. Os técnicos foram capacitados pelo farmacêutico a orientar os pacientes no momento da dispensação e para triar casos que necessita-vam atendimento farmacêutico. A identificação dos problemas foi feita por meio da observação da prescrição, data de retorno para dispensação ou do questionamento direto ao paciente. Foram elabo-rados fluxos de identificação de problemas e de in-tervenção, após os quais os técnicos identificaram 3.944 problemas, sendo os mais comuns: uso de medicamento em quantidade inferior à prescrita (26%) e não adesão ao tratamento farmacológico (25%). Os resultados demonstram a importância da capacitação dos técnicos na dispensação de me-dicamentos, fazendo deles um aliado do farma-cêutico no processo de identificação e resolução de problemas relacionados a medicamentos, além de torná-los membros ativos do processo de cuidado

no sistema de saúde pública.

Palavras-chave Assistência farmacêutica, Aten-ção Primária a Saúde, Auxiliar de farmácia, Sis-tema Único de Saúde

Abstract Few Brazilian articles discuss the im-portance of pharmacy technicians who offer direct assistance to patients. This paper describes an ex-perience of the training of pharmacy technicians in drug dispensing. A descriptive, cross-sectional study was conducted in the primary healthcare setting. The technicians were trained by the phar-macist to advise patients at the time of drug dis-pensing and to screen cases that needed pharma-ceutical consultation. Problems were identified by verifying the prescription and return date for dis-pensing the medication as well as through direct questioning of the patients. Flowcharts for prob-lem identification and intervention were created for use by the technicians. After training, pharma-cy technicians identified 3944 problems, the most common of which were the use of a lower dosage than that prescribed (26%) and non-adherence to pharmacological treatment. The findings of the present study demonstrate the importance of training pharmacy technicians with regard to dis-pensing drugs so that they can assist pharmacists in the process of identifying and solving drug-re-lated problems, thereby making them active mem-bers of the care process in the public health system.

Key words Pharmaceutical services, Prima-ry Health Care; Pharmacy technician, Public Healthcare

Daniela Oliveira de Melo 1

Caroline Godoi Rezende da Costa Molino 2

Eliane Ribeiro 2

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Introdução

A dispensação de medicamentos é considerada um ato farmacêutico nas políticas públicas de saúde e classificada como um dos macrocompo-nentes da atenção farmacêutica na proposta do

Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica1,2.

A mudança no escopo da prática farmacêutica tem levado à necessidade de formar equipes de técnicos de farmácia bem capacitados no apoio aos farmacêuticos clínicos, visto que a falta de tempo desse profissional é apontada frequente-mente como uma das principais barreiras para um melhor desenvolvimento de suas atividades,

tanto no Brasil como em outros países3-6.

Há diferenças nos processos de formação, credenciamento e atuação do técnico de farmácia

entre os países7. No Reino Unido, os técnicos de

farmácia podem atuar como aprendizes do far-macêutico clínico, tendo uma participação mais efetiva na revisão da medicação, de acordo com seu grau de formação e com plano de carreira

estabelecido no sistema de saúde7,8. Nos Estados

Unidos, são definidos como profissionais que atuam apenas no suporte em atividades que não exijam o julgamento do farmacêutico. No entan-to, em ambos os países como também na Austrá-lia e Holanda, há diferentes níveis de atuação do técnico de farmácia de acordo com sua formação e, junto com a tecnologia robótica, fornecem su-porte de forma a permitir que farmacêuticos de-sempenhem um papel mais ampliado na atenção

ao paciente7,8. Em ambientes comunitários, tem

havido expansão de suas responsabilidades à me-dida que os técnicos estão entrando em contato com prescritores para esclarecimento de questões relacionadas à prescrição de medicamentos, bem como participando de atividades de garantia de qualidade ou de gerenciamento, realizando fun-ções de faturamento e contabilidade, além de participar da criação, implementação e

acompa-nhamento de políticas e procedimentos8,9.

Embora a contratação de profissionais com a certificação de curso técnico de farmácia pos-sa contribuir para a seleção de profissionais com melhor capacidade técnica, é importante que mesmo estes sejam capacitados, sobretudo para o desenvolvimento de habilidades de comunica-ção com o paciente e com os demais membros

da equipe multiprofissional10,11. Considerando a

importância do processo de dispensação nas uni-dades de atenção primária à saúde, este trabalho tem como objetivo descrever uma experiência de capacitação de técnicos de farmácia para dispen-sação de medicamentos, sob supervisão de

far-macêutico, para tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em uma unidade básica de saúde, apresentando os resultados das intervenções realizadas a partir da capacitação.

Materiais e Métodos

Estudo descritivo, transversal, realizado em uma AMA/UBS do Município de São Paulo. Trata-se de uma unidade de saúde da Secretaria Mu-nicipal de Saúde de São Paulo, que contempla Assistência Médica Ambulatorial (AMA), Uni-dade Básica de Saúde (UBS) e Estratégia Saúde da Família (ESF), sendo referência para 42.479 habitantes na sua área de abrangência. A AMA é um serviço de pronto atendimento que absorve a demanda de baixa e média complexidade, ligada a unidades de atenção primária com o objetivo de evitar sobrecarga nos serviços de

prontos-so-corros municipais e dos hospitais12.

A farmácia da AMA/UBS estudada atende prescrições da unidade e externas (de outras uni-dades de saúde pública ou do sistema privado), com média de 336 dispensações diárias, em 2011. A unidade recebeu seu primeiro farmacêutico em maio de 2007, quando se deu início à estru-turação e organização do serviço de farmácia. A contratação da equipe de quatro técnicos de far-mácia ocorreu gradualmente, de 2007 a 2010.

Com a equipe formada e o serviço de farmá-cia já estruturado, intensificou-se o programa de capacitação dos técnicos para que, além de atividades administrativas e gerenciais, assumis-sem também papel relevante na orientação aos pacientes no momento da dispensação e triagem de casos para os quais seria necessário atendi-mento farmacêutico. Cabe a ressalva de que antes do treinamento para essas intervenções, os técnicos haviam sido sensibilizados para a questão da necessidade de orientar os pacientes e dar um atendimento humanizado, ainda que as condições estruturais não fossem as ideais. Essa sensibilização ocorreu tanto com palestras e dinâmicas realizadas pelo farmacêutico (temas: comunicação verbal e não verbal; humanização; atenção farmacêutica; atenção primária) como também e, principalmente, por meio da execução dos grupos de educação em saúde junto com o farmacêutico (que proporcionaram trocas de ex-periências com os pacientes) e informes mensais sobre o progresso dos pacientes acompanhados.

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gica entre pacientes com doenças crônicas (fal-ta de retorno ou atraso na retirada mensal dos medicamentos); b) prescrição com doses acima da máxima de anti-hipertensivos e hipoglice-miantes (de acordo com Formulário Terapêutico Nacional e/ou banco de dados Micromedex®); e c) duplicidade terapêutica (ou seja, uso de dois medicamentos da mesma classe farmacológica). Esses foram os principais alvos da capacitação e atuação dos técnicos. Para estas situações, foram elaborados memorandos dirigidos aos médi-cos da unidade e impressos padronizados, para alertar prescritores externos e solicitar confirma-ção da prescriconfirma-ção. Esses impressos padrão eram anexados à prescrição médica externa, antes de se realizar a dispensação. Caso o prescritor man-tivesse a conduta e confirmasse a prescrição, a dispensação era realizada.

Os técnicos de farmácia foram gradualmente capacitados (medicamento a medicamento – um ou dois fármacos por mês, com a elaboração de uma tabela para consulta rápida em relação a dose acima da máxima), entre julho e dezembro de 2010. Foram realizados 15 encontros, com du-ração média de trinta minutos. Depois de uma breve aula, ministrada pelo farmacêutico sobre o fármaco (mecanismo de ação, classe farma-cológica, principais eventos adversos descritos na literatura, esquema posológico e orientações importantes na dispensação), os técnicos eram incentivados a comentar o que haviam percebi-do como potenciais problemas no uso daquele medicamento, durante sua atuação prévia na farmácia da unidade. Também eram discutidas alternativas para sensibilizar os prescritores para o problema e formas para melhor abordagem do paciente.

Devido ao grande fluxo de pacientes na uni-dade, as capacitações eram realizadas, geralmen-te, em duas etapas, com metade da equipe, para que não houvesse prejuízo do atendimento. Além disso, eram priorizados dias e períodos de menor movimento.

Para casos que envolviam suspeita de reações adversas, necessidade de reconciliação medica-mentosa, ou que demandassem maior conhe-cimento técnico ou, ainda, quando o paciente, mesmo sendo orientado, ainda tinha dúvidas ou não havia aderido ao tratamento, o técnico enca-minhava o paciente ao farmacêutico ou, na sua ausência, ao médico da unidade.

A identificação dos problemas foi realizada por meio da observação da prescrição, da data de retorno para dispensação dos medicamentos ou do questionamento direto ao paciente. Quando

os técnicos identificavam situações de uso inade-quado dos medicamentos, principalmente pela não compreensão do paciente sobre o regime po-sológico prescrito devido a: 1) grande número de medicamentos; 2) dificuldades com a leitura da prescrição médica; ou 3) limitação da acuidade visual, a orientação era realizada empregando-se sistema de identificação visual com cores e pic-togramas, previamente elaborado e padronizado para uso na unidade, como forma de facilitar e proporcionar maior segurança ao uso de medi-camentos pelo paciente.

Durante o ano de 2011, com a equipe de téc-nicos capacitada e o processo de trabalho defi-nido, os problemas identificados em prescrições de medicamentos para o tratamento de DCNT, as intervenções realizadas e os encaminhamentos dados aos pacientes foram registrados em plani-lha Excel®, no momento da dispensação.

As variáveis coletadas foram: identificação do paciente, idade, prescritor (da unidade ou exter-no), PRM identificado: a) Uso do medicamento em quantidade inferior à prescrita; b) Uso do medicamento em quantidade superior à prescri-ta; c) Não adere ao tratamento farmacológico; d) Confunde-se no uso os medicamentos; e) Pres-crições em conflito; f) Dose acima da máxima preconizada; g) Duplicidade terapêutica; inter-venção e resultado da interinter-venção. Os resultados foram analisados utilizando-se estatística descri-tiva (frequência).

No município de São Paulo, as receitas de medicamentos para o tratamento de condições crônicas que expressem o termo “uso contínuo”, têm validade por 180 dias, devendo o paciente realizar retiradas mensais dos medicamentos na farmácia da UBS. Desse modo, uma vez que é dispensada apenas quantidade suficiente de me-dicamentos para 30 dias, convencionou-se, para aquele serviço, que se a data de retorno fosse su-perior a esse período, o paciente não estava

ade-rindo ao tratamento farmacológico prescrito1. A

adesão foi mensurada por meio da observação da data de retorno para retirada mensal dos medi-camentos e questionamento do paciente sobre o esquema posológico adotado.

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constatadas duplicidade terapêutica ou prescri-ções do mesmo fármaco em doses diferentes.

Neste trabalho foi considerado técnico de farmácia o profissional com curso técnico com-pleto ou experiência de pelo menos dois anos em dispensação de medicamentos, visto que foram as exigências aplicadas no processo de seleção do cargo. Uma vez que os dados para pesquisa foram obtidos de prescrições e registros administrati-vos, o trabalho foi liberado da obrigatoriedade de aprovação pelo Comitê de Ética, embora tenham sido seguidas as recomendações da Resolução do CNS nº 466/2012.

Resultados

O fluxo de trabalho estabelecido após ampla dis-cussão durante o período de treinamento para que os técnicos identificassem os problemas relacionados à prescrição ou ao uso de medica-mentos para tratamento de DCNT está descrito na Figura 1.

Entre janeiro e dezembro de 2011, foram atendidas 23.279 prescrições que continham medicamentos para o tratamento de DCNT. A equipe era formada por um farmacêutico e qua-tro técnicos – cada um realizava, em média, 80 atendimentos diários. Durante a dispensação, os técnicos de farmácia identificaram 3.944 proble-mas, conforme descrito na Tabela 1.

A Figura 2 resume o processo de orientação ou encaminhamento dado ao paciente, de acordo com o problema identificado.

Nos casos em que foi identificada falta de adesão ao tratamento farmacológico, os técnicos faziam a orientação inicial, porém quando sus-peitavam de experiências prévias negativas com medicamento ou dificuldade de compreensão da orientação ou das consequências da falta de con-trole da DCNT, encaminhavam o paciente para atendimento farmacêutico (305; 31%) ou para grupos de educação em saúde disponíveis na unidade (593; 61%). Para alguns casos, quando o paciente estava inserido em áreas cobertas pela ESF, o técnico solicitou agendamento de consulta médica (80; 8%) diretamente à equipe.

Para a maioria dos pacientes que utilizava medicamento em quantidade inferior ou supe-rior à prescrita, a orientação do técnico parece ter sido bem recebida pelo paciente, sendo acei-tas 923 (92%) e 465 (95%) orientações, respec-tivamente. Entre os 819 pacientes que se con-fundiram no uso dos medicamentos, 712 (87%) aceitaram receber orientação padronizada com

cores e pictogramas e 581 (82%) destes retorna-ram para retirar seus medicamentos nos meses seguintes e a cumprir o regime posológico con-forme prescrição médica, segundo o relato do paciente. A maioria (494; 69%) desses pacientes era de idosos, ou seja, tinham idade superior a 60 anos. O número médio de medicamentos em uso foi 5 ± 2, nem sempre descritos em uma única prescrição. Não foi realizada distinção entre pres-crições da unidade e externas para esse cálculo por tratar-se de intervenção que envolveu apenas o paciente. Os 131(18%) casos para os quais a orientação do técnico não possibilitou a compre-ensão do esquema posológico ou em que se ob-servou outras dificuldades, foram encaminhados para consulta farmacêutica.

Das 281 prescrições contendo fármacos com dose acima da máxima, 106 (38%) eram de pres-critores da unidade e 175 (62%) de externos. En-tre os prescritores da unidade, em 98 (92%) das situações a dose do medicamento foi ajustada. Prescritores externos aceitaram a recomenda-ção de adequarecomenda-ção em 114 (65%) dos casos. Em 4 (8%) dos 48 casos em que se observou dupli-cidade terapêutica, os prescritores, quando con-sultados, não alteraram a conduta: duas prescri-ções contendo anlodipino e nifedipino, ambas de prescritores da rede privada, e duas prescrições da unidade, contendo glibenclamida e glicazida.

Embora não tenha sido realizada mensuração de resultados de forma sistemática sobre a efe-tividade da orientação realizada pelos técnicos, nas situações de adesão parcial, falta de adesão ou uso inadequado do medicamento, a equipe multidisciplinar referiu aumento expressivo da procura de pacientes para participação nos gru-pos de hipertensos e diabéticos, após o início do trabalho sistematizado dos técnicos. Esse aumen-to na procura pelos grupos fez com que fosse es-tabelecida uma rotina de divulgação de datas de grupos de educação em saúde pela equipe de far-mácia, com agendamento e elaboração de fila de espera, como no caso dos grupos para controle do tabagismo, por exemplo.

Discussão

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associado ao uso de medicamentos inapropria-dos em iinapropria-dosos, por exemplo –, fazendo com que o farmacêutico seja essencial na equipe multidisci-plinar. No entanto, diante do acúmulo de funções desse profissional, fazem-se necessárias medidas que possam otimizar sua atuação clínica. A capa-citação dos técnicos e a sistematização da dispen-sação dos medicamentos, de forma a contribuir na identificação, e até mesmo para a resolução de algumas situações, pode ser de grande relevância, sobretudo na atenção primária.

O uso inadequado de medicamentos e a di-ficuldade em compreender o regime posológico prescrito estiveram entre os problemas mais fre-quentemente identificados pelos técnicos, o que

Figura 1. Fluxo de trabalho estabelecido, após o período de treinamento, para que os técnicos identificassem os problemas

relacionados à prescrição ou ao uso de medicamentos para tratamento de doenças crônicas não transmissíveis em unidade de atenção primária.

Tabela 1. Problemas identificados, no momento da

dispensação de medicamentos para tratamento de DCNT, pelos técnicos de farmácia da AMA/UBS Vila Nova, Jaguaré, durante o ano de 2011.

PRM N (%)

Uso do medicamento em quantidade inferior à prescrita

1.006 (26%)

Uso do medicamento em quantidade superior à prescrita

487 (12%)

Não adere ao tratamento farmacológico 978 (25%)

Confunde-se no uso os medicamentos 819 (21%)

Prescrições em conflito 325 (8%)

Dose acima da máxima preconizada 281 (7%)

Duplicidade terapêutica 48 (1%)

TOTAL 3.944 (100%)

Paciente apresenta prescrição médica

Mais de uma prescrição?

Já em atendimento?

Prescrição contém dados necessários?

Está dentro do tempo de validade?

Apresenta medicamentos com

dose acima da máxima?

Apresenta duplicidade terapêutica?

Há conflito entre as prescrições?

Prescrição contém dados necessários?

Sim

Não

Problema: Prescrições em conflito

Não

Não

Data de retirada mensal está adequada? Sim

Anterior ao programado?

Posterior ao programado?

Dispensação dos medicamentos

Sim

Não

Não Sim

Problema: Uso em quantidade superior à prescrita

Problema: Confunde-se no uso

dos medicamentos Questionamento do

paciente

Questionamento do paciente Sim

Problema: Uso em quantidade

inferior à prescrita Problema: Confunde-se no uso dos

medicamentos Problema: Não adesão à terapia Sim

Sim

Não

Dispensação dos medicamentos

Não

Prescritor da Unidade?

Não

Impresso padronizado anexado à prescrição Intervenção junto ao prescritor solicitando

adequação

Sim

Não

Não

Não Questionamento do

paciente

Problema: Uso em quantidade

inferior à prescrita

Problema: Confunde-se no uso

dos medicamentos

Sim Problema: Dose Acima da Máxima

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é semelhante ao relatado em outros estudos

bra-sileiros13-17. Alguns dos fatores que contribuem

para confusão no uso dos medicamentos são a semelhança entre embalagens de medicamentos, redução da acuidade visual entre idosos, analfa-betismo, falta de compreensão da letra dos pres-critores ou de abreviaturas e regimes terapêuticos complexos, envolvendo vários horários de

admi-nistração18. Em estudo brasileiro, somente 18,7%

dos 450 pacientes entrevistados após consulta em UBS compreendiam integralmente a prescrição e

56,3% conseguiam ler a mesma18. A compreensão

da prescrição variou em estudos realizados em ou-tras cidades, e de acordo com a metodologia,

va-riando de 34% a 70%16,19,20. No entanto, um

siste-ma de identificação visual com o emprego de cores e impressos padronizados permitiu que a maioria dos pacientes pudesse cumprir adequadamente a prescrição medicamentosa – de acordo com os re-latos dos pacientes –, sem a necessidade de atuação direta do farmacêutico, mostrando a relevância da orientação dada pelos técnicos de farmácia.

A falta de adesão do tratamento farmacológi-co foi um problema farmacológi-comum, farmacológi-como já era espe-rado, uma vez que a OMS estima que 50% dos portadores de doenças crônicas nos países desen-volvidos sejam não aderentes à farmacoterapia, sendo essa proporção ainda maior nos países em

desenvolvimento21. A não adesão teria como

fato-res determinantes o envolvimento de planos

tera-pêuticos complexos, dificuldade em entender as prescrições, insatisfação com os serviços de saúde, ausência de sintomas, aspectos socioeconômicos

e crenças21,22. Os resultados sugerem que as

orien-tações dos técnicos contribuíram para aumentar a adesão ao tratamento medicamentoso.

A necessidade de conciliação medicamento-sa devido a prescrições em conflito mostrou-se como um dos problemas para os quais o técnico não apresenta resolutividade devido à complexi-dade dos casos, podendo apenas contribuir para a obtenção da lista completa dos medicamentos em

uso pelo paciente. Em 2003, Michels e Meisel23

discutiam o fato de que os técnicos de farmácia po-deriam ser empregados no processo inicial de revi-são da farmacoterapia de pacientes, obtendo a lista completa de medicamentos em uso para subsidiar o trabalho de reconciliação medicamentosa a ser realizado por farmacêuticos clínicos em hospitais. Na maioria dos estudos, discute-se a necessidade da conciliação medicamentosa na alta hospitalar, quando o paciente retorna para o tratamento na

atenção primária10,11,24. No entanto, a maioria dos

casos foi gerada por falhas no fluxo de informa-ção entre especialistas e clínicos gerais e também casos em que o paciente fazia o acompanhamento tanto no serviço público quanto no privado e aca-bava por confundir-se em relação a qual prescrição seguir. Problemas de comunicação estão entre as principais causas de incidentes e erros no uso dos

Figura 2. Fluxo de trabalho estabelecido, após o período de treinamento, para que os técnicos realizassem intervenções

ou encaminhassem os pacientes para quais tivessem sido identificados problemas relacionados à prescrição ou ao uso de medicamentos para tratamento de doenças crônicas não transmissíveis em unidade de atenção primária.

Problema: Não adesão ao

tratamento

Problema: Dose acima da

máxima

Problema: Dose acima da

máxima

Prescrição da Unidade? Paciente da

Unidade?

Paciente da Estratégia Saúda

da Família?

Encaminhamento para acolhimento pela equipe Encaminhamento

para grupos de educação em saúde

Sim

Sim Não

Não

Problema: Não adesão ao

tratamento

Paciente aceita orientação?

Problema: Uso em quantidade superior à prescrita

Problema: Uso em quantidade

inferior à prescrita

Orientação seguida pela dispensação dos

medicamentos

Paciente da Unidade? Sim

Paciente da Estratégia Saúda

da Família? Sim

Não

Encaminhamento para o farmacêutico

Problema: Prescrições em

conflito

Intervenção junto ao prescritor

Orientação ao paciente e impresso anexado à

prescrição Não

Sim

Intervenção foi aceita?

Dispensação mediante confirmação por escrito do prescritor e farmacêutico é informado Não

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medicamento10,11. Ainda assim, pode-se considerar

que o técnico foi importante para a identificação dessa necessidade e o devido encaminhamento do paciente para que recebesse o cuidado adequado.

Os resultados demonstram que a dispensação de medicamentos deve transpor a questão da dis-ponibilidade e entrega do medicamento, de for-ma a integrar-se ao processo de cuidado no siste-ma de saúde pública, provendo acesso a serviços farmacêuticos, de acordo com a necessidade do

paciente25.

É importante esclarecer que a boa aceitação de recomendações dos prescritores em relação à duplicidade terapêutica e dose acima da má-xima é consequência de um conjunto de ações que foram iniciadas nos anos anteriores ao ava-liado, com a divulgação de memorandos internos para a equipe médica, discussões nas reuniões da equipe multidisciplinar e uso de impressos padronizados para prescrições externas. O es-tabelecimento de uma relação de confiança en-tre a equipe da farmácia e os médicos demanda tempo e habilidades de comunicação, sendo que esse último fator deve ser explorado pelo

farma-cêutico nas capacitações10,11. De fato, prescritores

que confiam na atuação do farmacêutico tendem também a aceitar recomendações dos técnicos por compreenderem que ambos os profissionais

fazem parte da equipe da farmácia5.

Existe consenso de que técnicos bem capa-citados podem contribuir de forma a otimizar o tempo do farmacêutico para que esse possa dedi-car-se mais às atividades clínicas, em detrimento

das administrativas e gerenciais4,9,26,27. Apesar

dis-so, a supervisão e o envolvimento do farmacêuti-co são essenciais para dar suporte e legitimidade às suas ações. Cabe também destacar que, mes-mo sendo realizado pelos técnicos, a responsabil-idade sobre o serviço e as intervenções realizadas recai sobre o farmacêutico, que responde técnica e legalmente pelas ações realizadas.

A Sociedade Australiana de Farmacêuticos estabelece que a proporção do número de técni-cos de farmácia em relação aos farmacêutitécni-cos

não deve ser superior a dois28. Segundo o

Con-selho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, o número de assistentes de farmacêuticos deve ser suficiente para o atendimento de até 80 usuários/dia para cada assistente e deve haver um farmacêutico responsável por estabelecimento, sem que tenha sido estabelecida a proporção em relação ao número de prescrições ou ao

núme-ro de assistentes29. Nesse sentido, a proporção

de técnicos por pacientes atendidos mostrou-se dentro do recomendado por aquela instituição.

O Conselho Regional de Farmácia do Esta-do de São Paulo (CRF/SP), em publicação sobre Assistência Farmacêutica Municipal, denomina esse profissional de “Assistente do Farmacêuti-co”, descrevendo-o como o profissional que pode auxiliar o farmacêutico nas atividades adminis-trativas e de dispensação, de acordo com sua orientação, mediante comprovação de que tenha sido capacitado dentro de instituições

reconhe-cidas pelo Ministério da Educação29. A

Assistên-cia Farmacêutica da Prefeitura Municipal de São Paulo foi pioneira em descrever as atribuições desse profissional em um manual e também em instituir o cargo de técnico de farmácia no rol de profissões para as quais realiza concurso público, inclusive com a oferta de curso técnico de

forma-ção pela Escola Municipal de Saúde30.

O presente estudo tem como principal limi-tação o fato de ter sido realizado em uma única UBS, o que pode impede a generalização de seus resultados. Por outro lado, apresenta experiên-cia exitosa de trabalho de capacitação de técni-cos de farmácia na atenção primária à saúde e os resultados obtidos podem vir a ser aplicadas em outras unidades de saúde com características semelhantes. Além disso, diante da realidade da atuação do técnico, deve-se iniciar a discussão sobre maior inserção desse profissional de saú-de na equipe multidisciplinar, como suporte às ações do farmacêutico na atenção básica.

Colaboradores

DO Melo participou da concepção e do projeto, realizou a análise e a interpretação dos dados; re-digiu o artigo e aprovou a versão final a ser pu-blicada. CGRC Molino e E Ribeiro contribuíram na análise e interpretação dos dados, redação do artigo e aprovaram a versão final a ser publicada. NS Romano-Lieber realizou a revisão crítica do texto e aprovou versão final a ser publicada.

Agradecimentos

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Referências

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Artigo apresentado em 28/05/2015 Aprovado em 08/10/2015

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Figura 1. Fluxo de trabalho estabelecido, após o período de treinamento, para que os técnicos identificassem os problemas
Figura 2. Fluxo de trabalho estabelecido, após o período de treinamento, para que os técnicos realizassem intervenções

Referências

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